Enfermagem e saúde ambiental: possibilidades de atuação para a promoção da
saúde
INTRODUÇÃO
A sensibilização global para as questões ambientais tem se apresentado como uma
das preocupações crescentes nas últimas décadas do Século XX e nos primeiros
anos do Século XXI.
Os problemas ambientais, marcados pela intervenção humana sobre a natureza,
pelo aumento populacional, destruição de ambientes silvestres e nível de
poluição que se origina da concentração e extensão das atividades de produção e
consumo, influenciam sobremaneira a qualidade de vida da humanidade, pois a
degradação ambiental significa uma ameaça aos sistemas de suporte a vida(1).
Dentre os problemas ambientais que entraram no cenário mundial, podemos
destacar a crescente poluição química e seus impactos sobre a qualidade da
água, do ar, do solo e dos alimentos, bem como o reconhecimento dos riscos
ecológicos globais resultantes dessa poluição, como é o caso do efeito estufa
ocasionando o aquecimento do planeta, a redução da camada de ozônio podendo
aumentar o número de casos de câncer de pele(2).
Podemos citar também como outros problemas ambientais a extinção de espécies, a
destruição de florestas, a redução da biodiversidade e a previsão de escassez
de recursos naturais básicos, como é o caso da água para consumo humano(1).
Assim, se faz necessário situarmos dentre a crise ambiental, a água para
consumo humano, posto que dentre os maiores problemas relacionados à água,
podemos citar a contaminação de mananciais, o que acarreta cada vez mais sua
diminuição para consumo humano no mundo.
Sendo assim, a água para consumo humano já se apresenta como um problema para a
humanidade, tanto em decorrência da falta de acesso, como pelo uso de água
contaminada, colocando esta temática na agenda das discussões mundiais, o que
preocupa cientistas do mundo inteiro, pois há estimativas de crise da água
prevista para o ano de 2020(3).
A água é considerada um elemento essencial à subsistência e às atividades
humanas, sendo imprescindível à vida. Também se constitui um fator
condicionante do desenvolvimento econômico e do bem-estar social, o que a
caracteriza como um elemento de inquestionável valor sanitário e social e sua
escassez ou uso inadequado representa séria ameaça para o desenvolvimento
sustentável e para a preservação do meio ambiente(4).
A gestão das águas se dá através do Comitê de Bacia Hidrográfica que tem como
função a gestão dos recursos hídricos de sua área territorial, trabalhando de
forma planejada e organizada com vistas à captação, abastecimento,
distribuição, despejo e tratamento da água consumida a partir das deliberações
do colegiado que deve participar de todas as decisões(5).
O Comitê de Bacia Hidrográfica tem em sua essência a participação das diversas
esferas públicas e privadas. Esta participação envolve usuários, sociedade
civil, organizada e representante de governos municipais, estaduais e federal
para discutir, refletir e buscar soluções para a problemática dos recursos
hídricos. Para tanto, é necessário o envolvimento dos profissionais de saúde,
dentre estes os enfermeiros, pois a participação de todos é decisiva para o
planejamento e execução de ações em torno da bacia, tratando os problemas sobre
meio ambiente e recursos hídricos de forma integrada, visando assegurar às
atuais e futuras gerações água em quantidade e qualidade, com a finalidade de
alcançar práticas conducentes com a promoção da saúde da população e com a
sustentabilidade ambiental.
Nesse sentido, este estudo objetivou compreender o significado de participação
para os integrantes do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado,
subsidiando a promoção da saúde para um ambiente sustentável no que se refere
aos recursos hídricos, bem como refletir sobre a interface entre a enfermagem e
a saúde ambiental a partir do componente hídrico.
MÉTODOS
Optou-se pela pesquisa qualitativa por oportunizar uma aproximação com as
experiências construídas pelas pessoas envolvidas, o que viabiliza o
investigador descrever, registrar, analisar e interpretar os fenômenos
investigados(6). A pesquisa foi desenvolvida no período de março a outubro de
2008, no contexto da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado, que é composta por
vinte e três municípios do sul - leste do Estado do Ceará, Brasil. Esta bacia
por apresentar uma extensa área de abrangência foi subdividida em cinco
microbacias. Selecionamos para este estudo a microbacia três, por esta
apresentar o maior número de delegados no comitê da sub-bacia hidrográfica, com
um total de vinte representantes, além disso, os representantes dos poderes
público federal e estadual concentram-se em sua maior parte nas cidades de
Crato e Juazeiro do Norte, municípios que fazem parte dessa microbacia, o que
justifica nossa escolha por este local de pesquisa.
Utilizamos na seleção dos sujeitos os seguintes critérios de inclusão: ser
membro do comitê há pelo menos seis meses, terem participado das duas reuniões
do comitê anteriores a coleta de dados, aceitarem voluntariamente participar da
pesquisa mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. E
como critérios de exclusão ser membro do Comitê há menos de seis meses, ter
apresentado duas faltas consecutivas nas últimas reuniões do comitê que
antecederam a coleta de dados.
Logo, participaram de nosso estudo dezoito representantes do Comitê da Sub-
Bacia Hidrográfica do Rio Salgado, sendo oito representantes do poder público
estadual e federal, um represen-tante do poder público municipal, cinco
representantes da sociedade civil e quatro dos usuários.
A coleta de dados aconteceu através da entrevista, mediante a seguinte questão
norteadora: como o senhor(a) define participação? Poderia nos explicar o que
isso significa para o senhor(a)?
Cada entrevista durou em média 50 minutos, dezesseis delas foram gravadas, e
duas respostas anotadas em diário de campo, pois os sujeitos não permitiram a
gravação. Ao término, realizamos a escuta de cada fala para que os sujeitos
pudessem validar suas respostas, ampliando, suprimindo ou acrescentando
informações. Ressaltamos que escutar as entrevistas logo após sua realização
nos possibilitou esclarecer respostas que mereciam serem detalhadas.
As respostas das entrevistas foram transcritas imediatamente após sua
realização para que não perdêssemos informações importantes para a compreensão
do fenômeno investigado e para a organização e análise dos dados obtidos,
utilizamos como técnica o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), pois este busca
abranger a discursividade, característica própria e indissociável do pensamento
coletivo, apresenta também como forma de análise a extração das Idéias Centrais
(IC) e respectivas Expressões-chave (ECH) de cada depoimento para com estas
compormos um ou vários discursos-síntese, denominado DSC(6).
As expressões-chave são transcrições literais de parte dos depoimentos e
permitem o resgate do essencial do conteúdo discursivo e as IC são definidas
como um nome ou expressão lingüística que revela e descreve da maneira mais
sintética, precisa e fidedigna possível o sentido das afirmações específicas
presentes em cada um dos discursos analisados e em cada conjunto homogêneo de
ECH, conjunto esse que vai dar origem, posteriormente, ao DSC(6).
O DSC tem como finalidade, enquanto estratégia metodológica, visualizar com
maior clareza uma dada representação que surge a partir de uma forma concreta
do pensamento nos discursos dos sujeitos. Sua elaboração segue uma lapidação
analítica de decomposição e é caracterizado, inicialmente, pela seleção das
principais Idéias Centrais presentes nos discursos individuais e constituídos,
posteriormente, em um único discurso, dando a idéia de que todos estão
representados por uma única pessoa.
Ressaltamos que consideramos em todo o processo de investigação a abordagem
ecossistêmica em saúde. Esta abordagem considera a ecologia e a promoção da
saúde humana baseada na sustentabilidade ecológica, na democracia, nos direitos
humanos, na justiça social e na qualidade de vida(7).
Cumprindo as exigências formais dispostas na Resolução 196/ 96, do Conselho
Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, que dispõe sobre pesquisas envolvendo
seres humanos, submetemos este trabalho à apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa, da Universidade Federal do Ceará - COMEPE, sendo o mesmo aprovado sob
o número 19/08.
RESULTADOS
As respostas advindas dos entrevistados permitiram a construção do DSC
apresentado a seguir:
Discurso do Sujeito Coletivo
Tem várias formas de participação, pois participação é consciência social, é
poder opinar, dar sugestões, saber ouvir, refletir, dar sugestões, encaminhar
propostas, discernir o que é melhor e votar, estando nos lugares onde há o
processo de decisão coletiva. É a coisa mais importante que foi criada, porque
descentralizou os trabalhos, é democracia, busca do consenso de forma
trabalhada, é aglutinar forças para conseguir objetivos. Para haver
participação efetiva, é preciso que as pessoas estejam presentes, envolvidas,
informadas quanto às discussões para poder ter propostas de encaminhamentos.
Então, participação está ligada ao nível de esclarecimento da população, as
pessoas têm que entender porque estão ali. É um processo no qual o conhecimento
é fundamental, pois você só participa se tiver conhecimento do que vai
representar e discutir ter consciência da importância do seu papel para a
tomada de decisão, saber que representa uma coletividade e não você mesmo é
apresentar alternativas para atender a demanda da população.
Quando o DSC traz a questão da democracia, coloca o desafio histórico e teórico
para a discussão desse processo, pois a redemocratização em nosso país se
consolida com a Constituição de 1988, consagrando a participação popular nas
instâncias públicas a partir da inserção de diversos atores sociais nos debates
e decisões, antes somente discutidos por representantes governamentais. Assim,
a participação vem sendo construída como um dos princípios organizativos
centrais dos processos de deliberação democrática em diversas políticas
públicas, especificamente na política de recursos hídricos, a participação é
fundamental para que as decisões representem a coletividade.
A participação pode ser entendida como um meio natural para que o ser humano
possa se expressar, a partir de seu desejo e do interesse em criar e recriar,
pois suas práticas envolvem o prazer e a valorização de si e do outro em um
processo de interação. Participação é, portanto, vivências coletivas, processo
que se dá de forma crítica e reflexiva(8).
O DSC traz a concepção de participação associada à consciência social,
informação, comunicação, envolvendo soluções para a coletividade. Percebemos
que a participação por parte dos representantes do Comitê da Bacia, está
atrelada ao direito da população em participar nas decisões que afetam sua vida
cotidiana, o que se promove como espaço democrático para o controle social numa
perspectiva de empoderamento individual e coletivo. Nesse sentido, a
participação pode ser entendida como perspectiva de empowerment, pois
empoderamento significa um processo pelo qual pessoas, comunidade e
organizações obtêm controle sobre a realidade em que vivem, ou seja, ao passar
por um processo de empoderamento as pessoas conseguem adquirir habilidades para
agir, ocasionando mudanças e melhorias em sua realidade(9).
O empoderamento é definido como "o aumento do poder pessoal e coletivo de
indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais"(10).
Nessa perspectiva da participação como consciência social inferimos que esta
percepção se relaciona a envolvimento, fazer parte de um grupo em defesa de uma
causa, tomando parte dos processos decisórios contribuindo para o benefício de
um grupo ou coletividade. Portanto, a participação de diferentes atores
contribui para que se possa criar uma rede que informe, elabore, implemente e
avalie as decisões políticas.
Entendemos também que ao tratar a participação como consciência social e
soluções para a coletividade, estas pessoas passam pelo entendimento da
participação associada ao exercício de cidadania, cujos diversos atores sociais
e sujeitos de direitos intervém pelo bem-estar de todos, portanto participação
é processual, com atividades que permeiam a identificação de necessidades,
planejamento, avaliação para a tomada de decisões(11).
Estas definições de participação estão de acordo com o que trata a abordagem
ecossistêmica em saúde e ambiente, pois estamos abordando a participação com
envolvimento, autonomia para tomada de decisões, participação social que é
compreendida nessa abordagem como a integração de todas as pessoas interessadas
e responsáveis pela resolução dos problemas. Assim, esse conceito amplia o foco
da discussão na qual abrange a noção de "participação popular ou comunitária",
na medida em que inclui as pessoas do povo que estão sofrendo os problemas de
saúde e ambiente e também incluem autoridades públicas, empresários, gestores e
funcionários, todos colaborando com sua parte específica para criar uma
perspectiva saudável(7).
Entendemos que a partir das vivências coletivas, os sujeitos de nosso estudo,
ao compartilharem seu saber e suas práticas em processo dialógico, com
informação e comunicação, deliberando ações que favoreçam a coletividade, estão
em processo de construção de sua autonomia para a tomada de decisões que
favoreçam o coletivo, atingindo o grau de participação de co-gestão, um dos
graus mais elevados de participação(8).
Logo, a partir de várias formas de participar no comitê, buscando consenso,
induzindo ações, esclarecendo a população sobre a importância de participar do
comitê em busca de soluções para a coletividade, se consegue participar com
consciência social, gerando empoderamento a todos os envolvidos, assim, se
chega a promoção da saúde, posto que ao se empoderar, alcance o desenvolvimento
de habilidades pessoais e o reforço da ação comunitária, dois campos de ação
importantes dentre os cinco campos de ação da promoção da saúde.
O reforço da ação comunitária é definido como o processo de desenvolvimento, na
comunidade, da capacidade de controle e de habilidades para gerar mudanças nos
condicionantes sociais da saúde, através da mobilização coletiva(12).
Nas várias Declarações, que compõem os documentos direcionados à Promoção da
Saúde, tem-se abordado o tema do reforço comunitário e do empoderamento. Tanto
a Carta de Ottawa como a Declaração de Adelaide fazem referência a ação
comunitária como o ponto central da promoção de políticas públicas saudáveis,
em que a comunidade busca a posse e o controle de seus próprios esforços e
destinos. Nessa mesma direção, a Declaração de Sundsvall propõe reforçar a
criação de ambientes favoráveis a saúde, focalizando a interdependência entre
saúde e ambiente, trazendo as questões ambientais para as agendas da saúde. A
Declaração de Bogotá sugere que a ação comunitária poderia fortalecer a
participação da população nas decisões que afetam a sua vida para optar por
modos de vida saudáveis a partir do diálogo entre diversos saberes. A
Declaração de Jakarta reafirma a participação popular e o empoderamento das
pessoas através do acesso à educação e à informação, e destaca outros
determinantes da saúde que são os fatores transnacionais, estes incluem a
integração da economia global, os mercados financeiros e o comércio, o acesso
aos meios de comunicação de massa e a tecnologia em comunicação, assim como a
degradação ambiental devido ao uso irresponsável dos recursos(12).
DISCUSSÃO
A participação dos membros do Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado -
CSBS baseia-se na co-participação de seus membros, compartilhando saberes e
práticas através do diálogo e da colaboração de todos, dessa forma o grupo se
fortalece, empoderando-se na perspectiva de cuidar de si e do seu entorno,
culminando com a promoção da saúde.
A participação capacita o grupo, empoderando-os e, assim, apresenta total
relação com a promoção da saúde, principalmente, com relação ao desenvolvimento
de habilidades pessoais e reforço da ação comunitária, dois campos de ação da
promoção da saúde, que reforça a visão positiva do processo saúde-doença e
cuidado, cujas potencialidades individuais e socioculturais para se produzir
saúde, deixa de ser um objetivo a ser alcançado, tornando-se um recurso para a
vida(12).
Nessa perspectiva, a participação de todos é primordial para que as pessoas
conquistem melhorias em suas condições de vida, bem como contribuir com a
formulação de políticas públicas saudáveis e sustentáveis, o que faz revelar a
promoção da saúde como integradora e emancipadora por natureza, e a
participação no Comitê de Bacia Hidrográfica reforça esse caráter, fortalecendo
a cidadania ativa, em que os sujeitos se sentem responsáveis por si, pelos
outros e por seu entorno.
Quando os sujeitos do estudo se reportam à participação como consciência
social, discutindo os problemas em benefício da coletividade, buscando a
resolução de conflitos, estes se apresentam em processo de crescimento,
compreendendo a importância de tomada de decisões que vão além de seus
benefícios próprios, adquirindo a consciência de que seja necessária para a
integração com o outro para um viver saudável em harmonia com a natureza. Isto
nos incentiva à reflexão de que no estímulo à autonomia deve estar implícito um
incentivo ao viver com solidariedade e com tolerância. Entendendo o outro com
iguais direitos na sociedade e em suas diferenças enquanto sujeitos.
Para promover saúde através do Comitê de Bacia Hidrográfica, é necessário
agregar diversos setores e diferentes disciplinas, entre elas a Enfermagem, que
entre suas ações se encontra a educação em saúde que é primordial para o
empoderamento e desenvolvimento da consciência crítica. Desse modo,
visualizamos a inserção da enfermagem no Comitê de Bacia Hidrográfica, através
da Estratégia de Saúde da Família - ESF já que esses profissionais vêm
incorporando a promoção da saúde como elemento integrante de sua área de ação.
A incorporação da enfermagem e de outros profissionais da saúde no Comitê de
Bacia Hidrográfica pode contribuir com a política de recursos hídricos que além
de objetivar preservar e recuperar águas superficiais e subterrâneas, também
busca preservar e recuperar a saúde de indivíduos, famílias e comunidades, pois
a água influencia significativamente o nível de vida e saúde das populações.
A inserção da enfermagem é uma via de mão dupla - por um lado trará
contribuições por meio de seu saber referentes à promoção da saúde das pessoas
e por outro se apropriará de um novo saber que deve ser transversal a todas as
áreas do conhecimento - a interação saúde/ambiente através do componente
hídrico, pois o cenário mundial apresenta a água como um tema que exige a
incorporação de profissionais de saúde, no intuito de que esses profissionais
e, particularmente a enfermagem, adquira uma maior compreensão sobre o
gerenciamento desse recurso natural, trazendo para esse cenário suas
contribuições que culminem com melhoria na saúde e na qualidade de vida das
populações.
Ao se apropriar dos princípios da promoção da saúde, tais como, a concepção
holística de saúde, voltada para os múltiplos fatores causais do processo
saúde-doença e cuidado; a equidade; a intersetorialidade e a participação
social(13), a enfermagem pode contribuir com o modo como as famílias e
comunidades usuárias das águas se organizam em função de sua disponibilidade ou
a melhor maneira de consumi-la, o que nem sempre ocorre com racionalidade e
respeito ao tempo e à qualidade do seu ciclo hidrológico.
Assim, a enfermagem pode se apropriar de outros princípios que também se
relacionam com a promoção da saúde, princípios estes da abordagem ecossistêmica
em saúde, que rompe com o modelo unidisciplinar cartesiano hegemônico no qual
ocorre um processo de dominação humana sobre a natureza, aprofundando a
consciência ambiental, com vistas para o desenvolvimento sustentável e para os
ecossistemas saudáveis. Ao utilizar esta abordagem, a enfermagem passa a
valorizar a participação e a dialógica, bem como adota os preceitos da
interdisciplinaridade e intersetorialidade, envolvendo profissionais de saúde e
de outras áreas, usuários dos serviços e sociedade civil na discussão e
resolução dos problemas.
Esta abordagem está em consonância com o novo modelo assistencial - a
vigilância à saúde - que tem como principal estratégia o Programa de Saúde da
Família - PSF com ações de promoção, prevenção e reabilitação da saúde, em que
o enfermeiro se constitui profissional-chave na execução das ações e na
interlocução com todos os setores, posto que o PSF coloca a equipe
multiprofissional mais próxima dos domicílios, das famílias e das comunidades
(14).
Assim, a integração entre o Comitê de Bacia Hidrográfica e a enfermagem pode
ser executada pela enfermeira da Estratégia de Saúde da Família, pois este
profissional por estar mais próximo das famílias e da comunidade pode
apresentar um maior conhecimento sobre a realidade sanitária, socioeconômica e
cultural de sua área adscrita, contribuindo com as discussões e deliberações do
comitê que favoreçam a saúde e à qualidade de vida da população.
Vislumbramos a enfermagem da Estratégia de Saúde da Família (ESF), ampliando
seu cuidado, ao inserir em suas atividades de educação em saúde a problemática
ambiental, que se relaciona com diversos problemas de saúde das famílias, tais
como as doenças diarréicas, parasitoses entre outras, posto ser uma das
atribuições do enfermeiro da ESF a educação em saúde, como postula o Ministério
da Saúde(15).
Ao fazer a interface com a saúde ambiental através do componente hídrico, a
enfermagem constrói estratégias de gestão integrada do meio ambiente na
promoção da saúde, compreendendo as representações que todos os membros do
comitê têm sobre participação, para que a promoção da saúde se caracterize como
um processo em construção, em que as práticas e os saberes são constituídos, em
suas raízes, pela exigência de frutificar em ações interdisciplinares.
A promoção da saúde está representando não apenas o poder de ação para
problemas biossociais e ambientais, mas, sobretudo, o poder de transformação
social, contribuindo com a minimização das diferenças entre os diversos grupos
sociais, e entendendo a saúde nesse processo como condição e condicionante de
realidades concretas de vida, para a qual a ciência da enfermagem pode ser um
aliado na construção de ambientes saudáveis e sustentáveis(16).
As ações voltadas para a promoção da saúde envolve a atuação sobre os
determinantes sócio-ambientais da saúde voltadas à melhoria da qualidade de
vida das populações, implica no fortalecimento da capacidade individual e
coletiva para lidar com a multiplicidade dos determinantes e condicionantes do
processo saúde-doença-cuidado(12).
Dessa maneira, a enfermagem no comitê poderá contribuir para o cuidado integral
do ser humano, a partir da relação horizontal, de troca de saberes, cuja
aprendizagem é recíproca.
A interface da enfermagem e gestão dos recursos hídricos via Comitê de Bacia
Hidrográfica fazem emergir a reflexão sobre promoção da saúde enquanto
qualidade de vida, para tanto se faz imperativo pessoas empoderadas e
autônomas, para que busquem um cuidado integral. Acreditamos que a inserção da
enfermagem no comitê é a ponte para vencer o desafio de integrar diversas áreas
do saber, sociedade civil e usuários na perspectiva de romper com medidas
meramente normatizadoras e prescritivas, pois as deliberações do comitê são
compartilhadas a partir da discussão, favorecendo a coletividade.
Cabem as instituições de saúde conhecerem o Comitê de Bacia, compreenderem a
sua dinâmica e assumirem o seu papel na condução para a atuação de seus
representantes no comitê, com direito à voz, ao voto e à representatividade,
especificamente da enfermagem, para a condução de discussões com o enfoque na
relação saúde e ambiente, pois os comitês de bacia hidrográfica ainda se
apresentam frágeis com relação às ações técnicas.
As ações da enfermagem no comitê podem contribuir com a vigilância à saúde, a
partir de seu conhecimento técnico e cientifico, representando um salto de
qualidade para o exercício técnico e institucional do comitê, apontando
diversos cenários, nos quais o comitê pode ofertar o conhecimento para a
comunidade, como escolas, locais de trabalho, comunidades rurais no sentido de
oferecer oportunidades práticas para o desenvolvimento de ações e conhecimento
das ações do comitê por parte de toda a população, bem como, oportunidade para
estratégias integrais de espaços/ ambientes saudáveis.
A interface da enfermagem no comitê se apresenta como uma possibilidade de
articulação do setor saúde com as ações do comitê de bacia hidrográfica, a
partir da responsabilização múltipla pelos problemas e soluções relacionados
aos recursos hídricos e que o Comitê tem poder de deliberar.
Assim, vislumbramos para a inserção da enfermagem no comitê a possibilidade de
inserção nas câmaras técnicas instituídas pelo comitê, especificamente a câmara
técnica de meio ambiente e educação ambiental, trazendo contribuições que
julgamos importantes para o desenvolvimento de ações voltadas para educação em
saúde ambiental, bem como trazendo os indicadores de saúde de forma a
contribuir com a avaliação da qualidade da água para consumo humano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar na participação como consciência social, representar a coletividade, ser
informado para poder encaminhar, trazer questões locais para discussão
coletiva, saber ouvir, discernir o melhor, processo democrático, representa a
maturidade alcançada e instituída no grupo, fortalecendo o processo
participativo, fundamental para a negociação através do diálogo, chegando a
atingir o estágio de co-gestão das águas via Comitê de Bacia Hidrográfica.
Adotando a abordagem ecossistêmica em saúde e buscando seu espaço no Comitê de
Bacia Hidrográfica, a integração da enfermagem com todos os envolvidos no
comitê se apresenta como uma possibilidade de transformação da realidade a
partir da relação saúde e ambiente, entendida como uma relação interdependente,
relevante para nortear as práticas de enfermagem na Estratégia Saúde da Família
em consonância com o novo modelo assistencial, no sentido de colocar nas
agendas da saúde coletiva e particularmente na saúde da família a inclusão dos
problemas ambientais como fundamentais para a melhoria da qualidade de vida e
saúde das famílias.
É fundamental que a enfermagem passe a assimilar o Comitê de Bacia Hidrográfica
como um fórum importante de representação, no qual o caráter nitidamente
ambiental e as ações antropogênicas que envolve a gestão dos recursos hídricos
possam ser incorporados no intuito de ampliar a visão e campo de atuação da
saúde, posto que tudo que se refere ao binômio saúde/ambiente necessita de
mudanças na percepção do contexto e na postura gerencial. Essa postura
gerencial para os membros do CSBHS se apresenta como compartilhada, integrada e
descentralizada.
Ao incorporar em suas atividades o campo ambiental, a enfermagem amplia seu
objeto - o cuidado - como mais abrangente e integrador, esse espaço passa a ser
fundamental para o desenvolvimento de suas práticas a partir da compreensão das
relações vitais do complexo ser humano/ambiente para a promoção da saúde das
humanidades, da produção de conhecimentos e da adequação das diferentes
atividades a partir de estratégias abrangentes que contribuam com a melhora da
qualidade de vida dos seres humanos e sustentabilidade de biotas naturais e
sociais. Cremos que a inserção no Comitê de Bacia Hidrográfica pode favorecer
esta interação enfermagem/saúde e ambiente a partir de um componente
imprescindível a vida - a água - gerenciada pelo comitê.