Importância da relação interpessoal do enfermeiro com a família de crianças
hospitalizadas
INTRODUÇÃO
A criança, ao ser admitida em uma unidade hospitalar, é cuidada por uma equipe
multidisciplinar de acordo com as suas necessidades e dos recursos humanos
disponíveis. No mínimo, ela receberá a assistência de membros da equipe médica
e de enfermagem, por isso, ao refletir sobre as responsabilidades quanto à
recuperação da criança, seria injusto atribuir toda ela ao enfermeiro.
Ocorrem três tipos de abordagem que embasam a assistência à criança
hospitalizada, podendo ser centrada somente na patologia da criança; centrada
na criança; ou na criança e sua família. O modelo de assistência dos hospitais
pode ser identificado por meio da rotina de trabalho. Na abordagem centrada na
criança e sua família, a interação de diversos fatores resulta no estado de
saúde, por esse motivo, a criança é vista além de seu corpo biológico adoecido,
também levando em consideração suas dimensões psíquica, espiritual e social; a
família também é vista de forma holística e é considerada responsável pelos
cuidados de saúde, que podem ser executados por eles e por profissionais(1).
É indiscutível que o enfermeiro está mais próximo à criança e à família e que
possui uma visão mais ampla das necessidades de saúde da criança. Já a família
da criança, também ocupa uma posição fundamental na promoção da saúde e por
isso torna-se imprescindível que o profissional de saúde ouça suas dúvidas,
valorize sua opinião e incentive sua participação em todo o processo de cuidar
durante a hospitalização.
Para que um tratamento eficiente seja oferecido à criança, é necessário que a
sua visão sobre a experiência frente à doença seja explorada e desse modo seus
interesses possam ser descobertos(2).
Foi realizado um estudo com crianças na faixa etária entre 7 a 12 anos de
idade, com o objetivo de compreender qual o significado atribuído por elas à
saúde e à doença(3). Segundo esse estudo, as crianças acreditam que têm
responsabilidade sobre sua saúde, e que seu estado depende de suas ações.
A saúde é relacionada ao bem-estar e à liberdade e durante a experiência de
hospitalização, parece ser ainda mais valorizada. Por sua vez, para as crianças
hospitalizadas, a doença é vista como um problema que gera consequências
dolorosas, motivo pelo qual a saúde é algo que desejam recuperar o mais rápido
possível.
A doença e a hospitalização são situações que fazem a criança ficar
emocionalmente traumatizada e estressada por diversos motivos, porque envolvem
profundas adaptações às mudanças que ocorrem no seu cotidiano(4), impedindo-
a de realizar sua rotina normal como ir à escola, brincar com os amigos e comer
o que gosta(5-6).
Muitas vezes, as crianças acabam sofrendo o distanciamento das pessoas que
amam, sendo comprovado que quando se afastam da família, especialmente de suas
mães, respondem emocionalmente com protesto, desesperança e negação(7). Além
disso, trazem em si o sofrimento de deparar-se com um ambiente totalmente
desconhecido, com pessoas estranhas e procedimentos dolorosos(8). O apoio para
o enfrentamento destes sentimentos é bastante restrito, de tal forma que, uma
das únicas fontes de segurança é representada pela presença dos pais(9).
A criança na faixa etária parecida ao da nossa amostra, não é capaz de entender
a saúde e a doença como um processo, ou como algo multicausal, porém, consegue
contextualizá-las por uma causa e consequência(3), desta forma entendemos que a
criança tem uma forma muito própria e singular de dar um significado para a sua
doença.
Os membros da equipe de enfermagem realizam procedimentos rotineiros e
necessários, que podem ser traumatizantes para a criança durante sua internação
e em alguns casos, dependendo da gravidade de sua doença, o paciente pode ficar
internado por longo período.
Alguns procedimentos podem ser dolorosos causando medo e insegurança ao
pequeno, por não entender o que acontece em seu corpo e também porque o
ambiente hospitalar é desconhecido. Toda essa dificuldade faz com que os
sintomas clínicos se agravem ou se confundam com os sintomas da própria doença
que determinou a internação, dificultando o diagnóstico e o tratamento(10).
Simultaneamente, ela encontra nos familiares a força e segurança necessária
para encarar todo esse processo doloroso e desconhecido e por esse motivo, a
presença de um representante da família é fundamental. A criança também refere
que se percebe cuidada no hospital quando experiencia carinho e afeição da
equipe e quando é ajudada no momento que precisa(6).
Ao regulamentar o Estatuto da criança e do adolescente, a assistência à criança
passou a ser mais humanizada, ao preconizar que os estabelecimentos de saúde
deveriam proporcionar por tempo integral, condições para a permanência de um
dos pais ou responsável, nos casos de internação da criança ou adolescente(11).
O acompanhante é definido pelo Ministério da Saúde como uma pessoa
significativa para a criança, que representa sua rede social e que vai
acompanhá-lo durante a permanência no ambiente hospitalar(11). Desde então, a
assistência em pediatria significa envolver não só a criança no cuidado, mas
também considerar criança e família como um só cliente(12).
A inserção de um acompanhante e seu envolvimento no processo terapêutico torna
fundamental a compreensão da dinâmica da relação entre os agentes que prestam o
cuidado, no caso, o enfermeiro e o familiar da criança(13). Alguns estudos
ressaltam os conflitos entre a mãe e a equipe e as tentativas de mediação
desses. Enfocam que os mesmos surgem em função da diferença de expectativas e
de poder de decisão sobre o cuidado da criança, entre os pais e a equipe, assim
como em decorrência do estresse e do sofrimento determinados pela vivência que
os procedimentos causam tanto na criança e nos pais, como na própria equipe(14-
15). Porém, mesmo com esses conflitos, existe o empenho dos profissionais da
saúde em favor da presença do acompanhante na unidade pediátrica, numa
tentativa de minimizar os efeitos iatrogênicos da hospitalização para a
criança. Ao defender o sistema de internação conjunta, existem vantagens para a
criança, para a mãe e para a instituição hospitalar(16). Ao se conhecer a
família, principalmente seus pais, é possível conhecer melhor o mundo em que a
criança vive e ter a chance de interagir melhor com o paciente(17).
Por meio desse trabalho, pretendemos entender o processo de melhora da
qualidade de vida do paciente e de sua família, assim como da facilitação dos
procedimentos realizados pelos enfermeiros durante a internação.
Assim sendo, objetivou-se neste trabalho, analisar qual a repercussão do
relacionamento interpessoal entre o enfermeiro e o familiar da criança
internada sobre sua enfermidade, a realização de procedimentos hospitalares e a
recuperação da criança.
MÉTODOS
A método da pesquisa em questão é a qualitativa, especificamente o método
clínico-qualitativo, a fim de compreender a dinâmica das relações sociais e
identificar suas consequências para a facilitação da recuperação/tratamento do
paciente. O método de pesquisa clínico-qualitativa pode ser definido como o
estudo dos limites epistemiológicos de certo método qualitativo particularizado
no settings da saúde, adequados para descrever e compreender as relações de
sentidos e significados dos fenômenos humanos referidos(18).
A amostra da pesquisa foi composta por oito enfermeiros assistenciais,
responsáveis por crianças na faixa etária de 6 a 11 anos de idade, a mais de um
mês internadas em um hospital público universitário, que aceitaram participar
da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Foi utilizada a técnica de entrevista na coleta dos dados, por ser "um
instrumento precioso de conhecimento interpessoal, facilitando, no encontro
face a face, a apreensão de uma série de fenômenos, de elementos de
identificação e construção potencial do todo da pessoa do entrevistado e, de
certo modo, também do entrevistador"(19). Sendo assim, ambos os integrantes da
relação tiveram momentos para dar alguma direção, representando ganho para
reunir os dados segundo os objetivos propostos.
As entrevistas foram baseadas em um roteiro de perguntas semi-estruturadas,
individuais e realizadas no próprio ambiente hospitalar. Foram gravadas com a
autorização dos entrevistados e posteriormente transcritas. O roteiro utilizado
constou, além dos dados de identificação, questões pertinentes a opinião do
enfermeiro sobre a presença do familiar no setting de assistência, a função da
família no tratamento da criança hospitalizada e a relação do enfermeiro com
este familiar.
Para a interpretação dos dados foi usada a técnica de Análise de Conteúdo
Temático. Esse método consiste em um conjunto de técnicas de análise das
comunicações que busca, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessa
mensagem(20). As respostas obtidas foram dividas em seis categorias, sendo que
cada uma delas engloba diferentes aspectos relacionados ao objetivo da
pesquisa. No texto, os recortes ou unidades temáticas, foram identificadas por
frequenciamento e codificadas pela letra S e P, significando, respectivamente,
sujeito e pergunta, seguidos do número de identificação dos mesmos.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de
origem, sob o no. 081/2009, encontrando-se de acordo com as disposições da
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O contato inicial com a
instituição foi feito por meio de conversa com a responsável pela direção da
unidade de pediatria do hospital, que deu o seu consentimento para o estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram oito sujeitos pertencentes predominantemente ao sexo feminino, com
idade variando entre 29 e 48 anos de idade, com média de 38,5 anos. Quanto ao
tempo de experiência na assistência às crianças, 62,5% dos sujeitos referiram
desempenhar esse tipo de atividade há 10 anos ou mais, seguindo-se o grupo que
trabalha há um período inferior a este (37,5%). A partir desses dados, é
possível identificar que além dos participantes estarem em idade adulta, também
possuem longo tempo de trabalho na pediatria. A experiência que adquiriram ao
longo dos anos é importante, pois os entrevistados apresentaram bastante
conhecimento sobre o relacionamento interpessoal entre o enfermeiro e o
familiar da criança internada.
Do resultado das entrevistas, foram destacadas as falas mais significativas
apresentadas pelas enfermeiras e divididas em seis categorias que podem ser
observadas no Quadro_1, que permitiram caracterizar a percepção dos sujeitos a
respeito da repercussão do relacionamento interpessoal entre o enfermeiro e o
familiar da criança internada sobre sua enfermidade, a realização de
procedimentos hospitalares e a recuperação da criança, por frequenciamento.
![](/img/revistas/reben/v64n2/a06qd01.jpg)
Verifica-se que os sujeitos, em sua maioria (75%), citaram a importância da
presença do familiar junto à criança na fase de hospitalização, oferecendo
apoio emocional, ao transmitir sensação de segurança e proteção. O conhecimento
empírico do familiar como elemento que deve ser considerado no tratamento da
criança internada, também foi observado como fator importante sendo dito por
50% dos participantes. O interesse do familiar como fator determinante no
prosseguimento do tratamento da criança internada e no pós-alta, também foi
bastante identificado, estando presente em 75% das opiniões. A troca de
informações e experiências entre o familiar e o enfermeiro como instrumento do
cuidado à criança hospitalizada foi o fator que apareceu com mais frequência,
sendo citado por 100% dos sujeitos. Outros dois fatores que não foram citados
pela maioria dos participantes, mas que são relevantes no aspecto do
relacionamento interpessoal entre o familiar e o enfermeiro foram: a ação da
enfermeira quando o familiar da criança hospitalizada atrapalha no tratamento,
sendo citada por 25% dos sujeitos; e o enfermeiro como importante auxiliador no
processo de internação, dando suporte emocional ao familiar da criança
hospitalizada, sendo citado por apenas 12,5% dos sujeitos entrevistados.
As manifestações dos sujeitos entrevistados permitiram identificar várias
idéias centrais que deram origem a seis categorias:
Categoria I - A importância da presença do familiar junto à criança na fase de
hospitalização
Se a criança puder contar com a assistência do familiar, ela poderá ser mais
capaz de suportar os sofrimentos e ansiedades surgidos durante a doença e a
hospitalização(21). Cabe ao familiar da criança, oferecer suporte emocional a
ela no sentido de transmitir segurança e proteção, a fim de amenizar a
ansiedade da hospitalização e facilitar essa experiência. Foi identificado por
meio das entrevistas, que apesar de o enfermeiro prestar a assistência de forma
carinhosa, continua sendo seu papel, desconhecido para o pequeno paciente,
gerando insegurança. Podemos perceber estas considerações atentando-se paras as
falas dos próprios sujeitos da pesquisa:
"A família tem um papel muito importante no fator emocional do
paciente. Apesar de a enfermagem estar presente, prestando os
cuidados que são necessários de forma carinhosa, nunca vamos
conseguir suprir a necessidade de a criança sentir ser amada pela
família, por isso é essencial a presença dela durante a
internação".S2P1
"Muitas vezes o procedimento a ser realizado é facilitado quando o
acompanhante está presente porque a criança se sente mais segura por
ter a presença de alguém conhecido perto dela. Minimiza o medo que o
paciente sente por pessoas desconhecidas estarem mexendo nele".S6P4
O medo é acrescido pelo fato de serem realizados procedimentos que muitas vezes
são dolorosos e que podem ser traumáticos. Além disso, esses sentimentos
negativos, às vezes podem dificultar a realização de procedimentos por conta do
maior gasto de tempo e paciência necessária por parte dos enfermeiros. Por esse
motivo, foi identificada a necessidade da presença de uma pessoa conhecida da
criança no período de hospitalização, principalmente durante a realização de
procedimentos, podendo ser um integrante da família por quem o paciente tenha
afeto, para que este transmita a sensação de segurança e familiaridade.
Desse modo, a experiência de hospitalização deixa de ser tão traumática para a
criança e assim o enfermeiro pode executar as suas tarefas técnicas com mais
facilidade, inclusive permitindo à criança a percepção do papel de acolhimento
e de promoção de bem estar, que deve ser exercido por este.
Categoria II - O conhecimento empírico do familiar como elemento que deve ser
considerado no tratamento da criança
A enfermagem precisa abordar a família, pois a partir dela é possível ter o
conhecimento e compreensão sobre a criança na sua situação física, psíquica e
social, de forma a conhecer o seu comportamento(21). Para isso, é necessário
que o enfermeiro demonstre disponibilidade e atenção recíprocas e competências
relacionadas à comunicação, tornando-as instrumentos essenciais na prática do
cuidar.
"A mãe consegue captar pequenas alterações na saúde dele somente
olhando. A mãe é quem sabe qual é o melhor jeito de pegá-lo para que
não sinta dor, sabe quando ele começa a ter febre e nos alerta. É
claro que também o conhecemos, mas ela mais do que ninguém sabe
entender o que o filho sente, precisa e isso deve ser valorizado".
S2P2
Como foi identificado na fala da enfermeira, o familiar pode ser um grande
colaborador no tratamento do paciente oferecendo informações importantes que
auxiliam no cuidado e que devem ser valorizadas pelo enfermeiro.
Por meio das entrevistas, foi constatado que apesar de a equipe de enfermagem
ter conhecimentos científicos e baseados em outras experiências de cuidados em
internações, é o familiar da criança quem consegue captar as pequenas
alterações na saúde do paciente, que são importantes para o seu cuidado.
Por esse motivo, deve existir um clima de relacionamento cooperativo entre o
familiar da criança e o enfermeiro, de modo que o acompanhante se sinta à
vontade para relatar observações que julgar importantes sobre o estado de saúde
da criança. Essas observações devem ser escutadas e avaliadas pelo enfermeiro,
para que sejam prestados os cuidados pertinentes.
É comum nos depararmos com situações em que o enfermeiro sente-se como o único
que possui conhecimentos capazes de colaborar no cuidado ao paciente, motivo
pelo qual, esse profissional muitas vezes não ouve opiniões de acompanhantes.
Outro motivo seria a falta de tempo(22). Esses fatos não foram apontados em
nenhuma das entrevistas realizadas, identificando a diferença de postura desses
sujeitos, que se mostraram mais receptivos às informações trazidas pelos
familiares.
Visto que as informações compartilhadas pelos familiares são importantes para a
prestação de cuidados, poderia ser estabelecido um contrato de atenção e
colaboração entre o acompanhante e o enfermeiro, onde o profissional
dispensaria um momento do seu dia para atender e ouvir o familiar, não somente
estando atento às informações, mas também às queixas e dificuldades, apoiando o
familiar no que fosse necessário.
Categoria III - O interesse do familiar como fator determinante no tratamento
da criança internada e no pós-alta
A presença de um familiar interessado e comprometido pode determinar a evolução
do paciente, pois esse familiar pode se responsabilizar pelos cuidados básicos
necessários e também pelo suporte emocional e afetivo(23).
Do ponto de vista dos enfermeiros que foram entrevistados, o familiar também
precisa ser consciente do papel que tem na melhora do quadro clínico do
paciente, demonstrando interesse no seu estado de saúde e fazendo
questionamentos à equipe de enfermagem e médica, para que tenha condições de
desempenhar um bom cuidado domiciliar pós-alta. Ao colocar a família como foco
da assistência, ela deve ser estimulada a ser unidade básica dos cuidados à
saúde de seus membros(1).
"Tem conhecimento, é interessada pelo tratamento e sempre faz
questionamentos para a equipe, que sempre esclarece as suas dúvidas.
Por isso, nós podemos ficar tranquilos porque o tratamento dele fora
do hospital vai ser realizado da melhor forma".S6P7
"Se a mãe tivesse um pouco mais de interesse na doença e
principalmente no tratamento da filha, a paciente já teria recebido
alta do hospital há muito tempo".S7P7
Por entender que o cuidado domiciliar é geralmente prestado somente pelo
familiar, sem a supervisão de um enfermeiro, é durante o período de
hospitalização que o acompanhante deve estar atento, fazendo questionamentos
sobre alimentação ou qualquer outro assunto que seja de seu interesse para
poder continuar o tratamento domiciliar adequado. É fundamental que o
enfermeiro se mostre à disposição para qualquer esclarecimento, desse modo, o
hospital pode ser visto como um centro de educação(24).
Categoria IV - A troca de informações e experiências entre familiar e
enfermeiro como instrumento do cuidado
A troca de informações com a família significa compartilhar sem julgar as
reações, as idéias e os cuidados da criança e encontrar uma solução conjunta,
incorporando as observações dos familiares no plano de cuidado(25-26).
Foi identificado que o enfermeiro, além de realizar os cuidados técnicos, deve
manter o familiar informado sobre a condição de saúde da criança e acolhê-lo,
para que este seja colaborativo durante o tratamento no hospital, e dê
continuidade à recuperação em casa. Portanto, cabe ao profissional, também
orientá-lo sobre suas responsabilidades e ações frente ao tratamento.
"Um item muito importante que colocamos na prescrição de enfermagem,
é manter a mãe do paciente informada e acolhida. Acho isso
fundamental, porque se ela for orientada e acolhida, vai ser uma mãe
colaborativa, e isso é tudo".S2P4
Podem existir casos em que o familiar por algum motivo não se sinta à vontade
para expressar suas dúvidas, e por esse motivo, o enfermeiro deve ser sensível
detectando qualquer necessidade de informações referente ao tratamento da
criança.
"Ela é uma acompanhante muito quieta. Quase não faz perguntas, então,
é preciso sentir quais são as demandas dela e ir atrás para fazer
orientações porque dificilmente ela procura por isso. É difícil saber
qual é a necessidade dessa mãe. Na verdade, nós sabemos quais são (as
necessidades), a partir do que ela não consegue cumprir, então
interpretamos como se essa fosse a necessidade dela. Ela tem
necessidade de informações, mas não procura por elas".S5P2
"Deixamos a avó participar de alguns cuidados, como o banho e
aspiração porque já foi treinada".S8P4
O enfermeiro precisa explicar os procedimentos antes de serem realizados, e
oferecer treinamento para que o acompanhante possa realizar alguns deles em
casa. Ao integrar o acompanhante nas atividades realizadas dentro do hospital,
o familiar poderá se sentir mais acolhido pela equipe de enfermagem, e
consequentemente, se sentir mais à vontade para interagir com os profissionais,
oferecendo informações que são importantes para o cuidado do paciente, como já
foi dito na Categoria II. Além disso, ao participar ativamente do cuidado da
criança, o acompanhante se sentirá mais útil durante o período de
hospitalização, deixando de ser somente um observador dos cuidados prestados.
Categoria V - A ação da enfermeira quando o familiar da criança hospitalizada
cria obstáculos no tratamento
De acordo com os sujeitos entrevistados, o enfermeiro deve saber impor limites
quando necessário sobre qualquer ação que não seja permitida devido à condição
de saúde do paciente, ou que esteja criando obstáculos no andamento das
obrigações da enfermagem.
"Quando sinto que ela começa a atrapalhar, falo que se ela não parar
de dar show eu boto ela para fora da sala. Às vezes ela tenta ajudar
enquanto eu faço alguns procedimentos e acaba atrapalhando. Tenho que
saber me impor".S1P4
Ao impor limites, o enfermeiro deve também explicar as razões pelas quais as
ações do acompanhante estão sendo reprovadas, para que ele não se sinta
discriminado, nem tenha uma visão de que o enfermeiro é um agente ditador.
"Por ser um trabalho de parceria, às vezes também precisamos pedir
para que ela de espaço para cumprirmos com as nossas obrigações,
fazendo o que tiver que ser feito, mas sempre explicando para ela. A
maior fonte de resolução do problema é o ato de conversar".S2P4
Considerando que a comunicação entre as pessoas é composta pela informação que
se deseja transmitir e também pelo sentimento que é demonstrado ao interagir
com o outro(27), o enfermeiro deve estar atento e evitar o uso de palavras
desrespeitosas, assim como não falar em voz alta com o familiar.
Se o enfermeiro conseguir ser coerente na sua argumentação, transmitindo a
mensagem de reprovação de maneira clara, objetiva e sem caráter autoritário, o
acompanhante deixará de criar obstáculos no tratamento da criança. Desde que o
familiar compreenda, esse ato possivelmente não se repetirá, facilitando o
trabalho da enfermagem, trazendo benefícios para o tratamento do paciente e
possibilitando um relacionamento de cooperação, com menos clima de tensão entre
enfermeiro e familiar.
Categoria VI - O enfermeiro como importante prestador de suporte emocional ao
familiar da criança hospitalizada
A carência de relações entre os profissionais e os familiares resulta no
sofrimento psíquico. A família da criança sofre por não receber orientações
sobre a doença, que são necessárias para a prestação de cuidados ao filho. Essa
falta de informações e de atenção por parte dos profissionais faz com que os
acompanhantes se sintam impotentes e desprezados, passando a manifestar seus
sentimentos de sofrimento por meio de atitudes agressivas, de revolta e
insatisfação(28).
O enfermeiro deve perceber o acompanhante da criança como um indivíduo que
também tem suas necessidades, sendo sensível às suas demandas, afinal o
familiar também precisa ser cuidado, pois, durante a hospitalização, é obrigado
a lidar tanto com o sofrimento da criança, como com seu próprio sofrimento,
como demonstram vários estudos(1,15,29-30).
"É nosso dever estar presente, ouvir as necessidades e angústias da
mãe, dando um suporte emocional e ajudando sempre que possível, mas
sem estabelecer uma relação de amizade. Não podemos tratar o
acompanhante como mero acompanhante, mas sim como nosso cliente. Não
é possível conseguir um bom resultado terapêutico tratando somente a
criança, mas sim a mãe e o filho".S2P2
Atitudes de empatia na relação entre a enfermagem e as mães poderão criar um
ambiente no qual elas se sintam mais seguras e fortalecidas para enfrentar a
hospitalização do filho(13). Ações como sorrir, ter contato dos olhos, tocar no
braço, ombro ou na mão demonstrando apoio, e usar adequadamente o silêncio e a
voz suave, são sinais que auxiliam nos relacionamentos interpessoais e na
comunicação efetiva com qualidade(31).
É impossível não se sensibilizar com a hospitalização de uma criança, porque
esta é uma experiência que pode proporcionar inúmeros danos em aspectos
emocionais, físicos e sociais tanto para os pequenos pacientes, quanto para os
adultos que a acompanham e vivenciam esse sofrimento.
O relacionamento existente entre o enfermeiro e o familiar da criança
hospitalizada não deve ser baseado em sentimento de pena, mas cabe ao
profissional oferecer apoio emocional, onde a família encontre forças para
superar a situação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na assistência à criança hospitalizada, existem algumas questões que são
relacionadas às atitudes dos profissionais quanto à participação dos
acompanhantes no cuidado, na relação que é estabelecida entre os agentes e na
qualidade da assistência.
Conforme a análise de dados, foi possível identificar que o enfermeiro não pode
ser apenas um realizador de cuidados técnicos ao paciente, mas deve passar a
exercer também seu papel de facilitador da vivência de hospitalização tanto
para a criança, quanto para seu acompanhante, que na maioria das vezes é a mãe.
Sendo assim, para proporcionar um tratamento menos traumático, minimizando o
sofrimento causado pela enfermidade e contribuindo para a recuperação da
criança, é preciso que a assistência de enfermagem tenha como enfoque principal
as reais necessidades da criança e do seu acompanhante e que não seja centrada
somente na patologia apresentada.
Para que essa assistência seja possível, é preciso que o enfermeiro tenha
sensibilidade para entender o indivíduo e perceber os múltiplos fatores que
envolvem o cuidado. Essa concepção não desconsidera toda a sistematização
construída até o momento, mas a amplia, incluindo a família na perspectiva do
cuidado, capacitando melhor os profissionais de enfermagem a entender o
indivíduo e a prestar assistência. Assim, além da competência técnico-
científica para atender às necessidades decorrentes do diagnóstico e
terapêutica, a enfermeira necessita de instrumentos que possibilitem nas
relações interpessoais, compreender pais e filhos como pessoas.
Os membros da equipe de profissionais devem encorajar os pais a ficarem com os
filhos durante o período de internação, para que além de oferecerem apoio
emocional e segurança à criança, sejam agentes ativos no processo de cuidado.
O acompanhante também precisa ser foco de assistência do enfermeiro, pois ele
também tem necessidade de cuidados, principalmente do ponto de vista emocional
durante a hospitalização, já que é obrigado a lidar com o sofrimento da criança
e com o seu próprio(1,16,30-31). Cabe aos profissionais envolvidos na
assistência à criança hospitalizada tentar compreender nos diversos contextos a
vivência da família, buscando intervir para auxiliá-la a lidar com as
necessidades que surgem a partir da internação(32).
Visto que no relacionamento de parceria entre o enfermeiro e o familiar da
criança internada, a transmissão de informações é um importante fator para a
sua recuperação, chama-se a atenção para a necessidade do estabelecimento de um
acordo de atenção e colaboração logo no início da internação, em que o
acompanhante da criança se compromete a compartilhar informações que auxiliem
no cuidado à criança e a fazer questionamentos.
Por sua vez, o enfermeiro deve se comprometer a disponibilizar um momento do
seu dia para atender e ouvir o familiar, não somente estando atento às
informações, mas também às queixas, dificuldades e oferecendo apoio emocional e
treinamento no que o familiar precisar para que o tratamento da criança seja
efetivo. Cabe ao enfermeiro engajar-se ativamente nesse processo.