Identificação e tratamento da dor no recém-nascido prematuro na Unidade de
Terapia Intensiva
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a Neonatologia tem passado por profundas transformações,
tanto do ponto de vista tecnológico, quanto da veiculação de evidências
científicas que têm proporcionado melhorias significativas no cuidado ao Recém-
Nascido Prematuro (RNPT) e sua família.
A sobrevida orgânica do RNPT tem melhorado, fazendo com que neonatos com idades
gestacionais extremas e/ou de muito baixo peso ao nascimento sobrevivam. Apesar
dos avanços tecnológicos e desenvolvimento do país, infelizmente as taxas de
prematuridade permanecem elevadas. No Brasil, um país em desenvolvimento, a
prevalência de prematuros é de aproximadamente 7%(1).
Observa-se um crescente aumento no número de RNPT que recebem alta das
complexas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Este cenário pode
decorrer das evidências científicas disponíveis para os trabalhadores da saúde,
bem como da sua aplicação na prática clínica.
Com o nascimento de um RNPT, faz-se necessário um local que possua recursos
tecnológicos, humanos e terapêuticos especializados a fim de proporcioná-lo
cuidados mais complexos. Esses suportes são encontrados nas UTIN, onde a
assistência ocorre de maneira contínua, e cujo surgimento tem proporcionando um
aumento na sobrevida orgânica dos prematuros, principalmente os extremos e de
baixo peso.
Entretanto, a hospitalização do RNPT na UTIN está associada à sua submissão a
um número excessivo de procedimentos como as punções venosas, as sondagens
orogástricas e vesicais, as glicemias capilares, a realização de curativos, a
aspiração de vias aéreas e a entubação endotraqueal dentre outros, o que pode
gerar desconforto, estresse e dor.
Um recém-nascido prematuro na UTIN recebe cerca de 130 a 234 manipulações nas
24 horas, sendo que muitas dessas manipulações são dolorosas. Além disso, ao
ser internado em uma UTIN, o RNPT está entrando num ambiente totalmente
diferente do útero materno(2). Os ruídos sonoros são altos e as luzes fortes e
contínuas; a ação da gravidade impede seus movimentos e passa a ser excessiva,
além de ser imprevisivelmente manuseado, muitas vezes, sem o cuidado adequado
para diminuição do estresse e da dor(3).
Nesta direção, é preciso considerar que o RNPT é capaz de sentir dor e que a
tradicional cultura de que a falta de mielinização seja um indicador de
imaturidade do sistema nervoso central, para apoiar o argumento de que este não
é capaz de sentir o processo doloroso, necessita ser desconstruído, a fim de se
implementar cuidados para aliviar este desconforto.
Por conseguinte, diante do grande número de RNPT que são submetidos a diversos
eventos estressantes ou dolorosos e ao considerar a subjetividade da dor e a
inabilidade em relatá-la verbalmente, os enfermeiros das unidades neonatais
devem estar atentos a essa linguagem tão peculiar, expressa através de
alterações comportamentais e fisiológicas promovendo, assim, o cuidado integral
e seguro ao prematuro(4).
Na prevenção e controle da dor e do estresse no RNPT "os profissionais de saúde
devem fazer uso de intervenções ambientais não farmacológicas e farmacológicas
apropriadas para prevenir, reduzir ou eliminar o estresse e a dor nos neonatos"
(5).
Sendo assim, considera-se imperativo a avaliação e a intervenção no processo
doloroso na população de prematuros, tendo em vista o potencial para alterações
no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Desta forma, este processo precisa ser
uma constante na prática clínica dos trabalhadores da saúde em cuidados
intensivos, para que a atenção ao RNPT possa ser ofertada com excelência,
segurança e humanização. Neste contexto, este estudo tem como objeto a
avaliação e intervenção no processo doloroso em RNPT realizadas pela equipe de
enfermagem de um hospital público da Bahia.
O interesse por este estudo surgiu na prática diária no cuidado ao RNPT, ao
observar empiricamente que a equipe de enfermagem da UTIN do hospital geral de
uma cidade da Bahia realizava diversos procedimentos invasivos sem oferecer
suporte não farmacológico ou farmacológico para o alívio ou prevenção do
fenômeno da dor. Ademais, nesta unidade, a equipe de enfermagem registrava a
cada três horas os sinais vitais dos recém-nascidos internados, não
considerando a dor como o quinto sinal a ser avaliado.
Isto posto, questionou-se: Como a equipe de enfermagem de uma UTIN avalia o
processo doloroso em RNPT? Como esta equipe alivia este fenômeno? Desta
maneira, este estudo tem como objetivos os de analisar os parâmetros utilizados
pela equipe de enfermagem de um hospital público da Bahia para a avaliação da
dor no RNPT; e descrever as intervenções utilizadas pela equipe de enfermagem
para aliviar a dor no RNPT.
MÉTODOS
Este estudo foi do tipo descritivo e de natureza qualitativa, a qual permitiu
avaliar a compreensão da experiência humana como ela é vivida, coletando e
analisando materiais narrativos e subjetivos(6).
O campo empírico foi um hospital público de Feira de Santana, no estado da
Bahia. Hospital de médio porte que atende mulheres procedentes de todo o
município e regiões circunvizinhas e cujas unidades neonatais possuem 16 leitos
no total e contam com uma equipe multiprofissional. A UTIN conta com seis
médicos neonatologistas, uma enfermeira gerente, dez enfermeiras neonatais,
vinte profissionais de enfermagem de nível médio e duas técnicas
administrativas.
Para a escolha destes participantes foram utilizados os seguintes critérios de
inclusão: Ser funcionário da UTIN; Ter tempo de atuação na unidade superior a
um ano; Ser funcionário assistencial; Estar escalado para cuidar de RNPT com
necessidade de procedimentos invasivos; Aceitar participar do estudo mediante
leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram
excluídos os funcionários que estavam de férias ou licença e os que prestavam
ações burocráticas ou administrativas. Sendo assim, participaram deste estudo
dez profissionais da equipe de enfermagem da UTIN em estudo. Este número de
entrevistadas deu-se mediante a saturação teórica dos dados.
Para a garantia de que os direitos e o bem estar dos participantes da pesquisa
fossem respeitados, atendeu-se às exigências da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde(7), que recomenda a observação dos princípios éticos na
pesquisa. Assim, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa da
Faculdade de tecnologia e Ciências, campus de Salvador-BA, sob o Parecer Nº
0574-2008. Todas as entrevistadas selecionadas leram e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Ademais, cada uma delas foi identificada com
códigos conforme a ordem de realização das entrevistas, para preservar a
identidade das mesmas.
Os dados foram coletados no período dezembro de 2008 a fevereiro de 2009,
através de entrevistas semiestruturadas, sendo utilizado um roteiro que
continha informações relativas às entrevistadas e as seguintes questões
norteadoras: Como você percebe que um recém-nascido prematuro está sentindo dor
durante a realização de um procedimento invasivo? Quais intervenções você
utiliza para amenizar a dor no RNPT internado nessa unidade neonatal durante
estes procedimentos?
As entrevistas foram transcritas na íntegra, sendo analisadas por meio da
Análise de Conteúdo de Bardin. Inicialmente realizamos uma leitura flutuante
das entrevistas transcritas, com o intuito de conhecermos a natureza do
conteúdo das mesmas. Em seguida, foi feita uma leitura mais aprofundada a fim
de descobrirmos o conteúdo latente que se encontrava nos discursos coletados,
sendo identificadas duas categorias analíticas, a saber: Reconhecendo a dor
através de sinais do recém-nascido e As intervenções da equipe de enfermagem.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste estudo foram entrevistadas dez participantes, que faziam parte da equipe
de enfermagem da UTIN do hospital em estudo, assim distribuídas: cinco
enfermeiras e cinco técnicas de enfermagem. Na tabela_1 é possível visualizar o
perfil das dez entrevistadas.
Todas as participantes deste estudo eram do sexo feminino. A idade das
entrevistadas variou de 25 a 47 anos. O tempo de atuação na UTIN foi de 01 ano
e 05 meses a 14 anos.
RECONHECENDO A DOR ATRAVÉS DE SINAIS DO RECÉM-NASCIDO
Apesar de reconhecerem a importância de avaliação da dor nos recém-nascidos
prematuros internados na UTIN, a equipe de enfermagem ainda não utiliza escalas
para a avaliação deste processo, bem como não há uma política setorial, que
vislumbre a dor como um dos parâmetros vitais a serem avaliados segundo o
protocolo do serviço.
Nós não utilizamos nenhuma escala de dor neste setor. Não temos
treinamento sobre este assunto. (E1)
Não utilizo nenhum tipo de escala para saber se o prematurinho está
sentido dor. (E5)
Eu faço a avaliação conforme sinais do recém-nascido. Eu não uso
nenhuma escala, pois aqui não tem implantado este instrumento. (E6)
Eu acredito que o recém-nascido sente a dor. Só que eu aqui não tem
escalas impressas no prontuário para ser utilizadas por nós. Eu acho
que ele (recém-nascido) está sentido dor quando chora e fica agitado.
(E9)
As escalas de dor são instrumentos que facilitam a interação e comunicação
entre os membros da equipe de saúde, permitindo avaliar a evolução da dor em
cada paciente e a verificar a resposta frente à terapia analgésica(8). Sendo
assim, a avaliação implementada por esta equipe, em relação ao reconhecimento
do processo doloroso no RNPT, realiza-se de forma empírica, não sistematizada e
sem evidências científicas, pautada apenas em um dos parâmetros do contexto
global das escalas de avaliação da dor. Essa avaliação precisa ser incorporada
na prática destes profissionais de saúde como outro sinal vital e que necessita
receber a devida atenção, com vistas à redução do impacto provocado pelo
fenômeno da dor no processo de crescimento e desenvolvimento do RNPT.
Assim, conforme análise das falas das entrevistadas evidenciou-se que, no
contexto de sua prática clínica na UTIN, a equipe de enfermagem reconhece a dor
por meio da avaliação do choro e de manifestações do recém-nascido, através de
sua expressão facial.
Através do choro, das faces de dor que ele apresenta, a gente observa
o franzir da testa, o choro muito alto e por aí vai. (E1)
Choro, agitação e características de sua expressão facial. (E3) O
choro é um dos sinais e o outro sinal é estar irritado. (E5)
[...] Eu acho que ele (recém-nascido) está sentido dor quando chora e
fica agitado. (E9)
O choro foi um dos sinais mais apontados como parâmetro clínico de avaliação do
processo doloroso no RNPT, pois o mesmo é uma forma de comunicação e
manifestação deste. Esta variável, apesar de ser um indicativo de que algo
errado acontece, pode ou não estar relacionado à dor. Nessa situação, possui
uma fase expiratória mais prolongada e tem durabilidade aumentada, sendo de
difícil controle(4).
É necessário que a equipe de enfermagem fique bastante atenta em relação à
qualidade do choro apresentado por um recém-nascido, já que nem sempre esse
pode ser considerado um indicador clínico de dor. Na maioria das vezes, pode
ocorrer devido a estímulos tais como a fome, a angústia, as cólicas abdominais,
a agitação, o sono, à presença de dispositivos do cuidado neonatal, como a
sonda orogástrica e vesical, e o desconforto. O choro é pouco específico, pois
pode ser desencadeado por outros estímulos não dolorosos. Assim, o choro
isoladamente é uma medida pouco efetiva na avaliação da dor(9).
Desta maneira, ao se realizar uma avaliação clínica de parâmetros sugestivos do
processo doloroso no RNPT, faz-se necessário a verificação do ambiente ao redor
do bebê, bem como a avaliação mais acurada da intensidade e do estado de saúde
do mesmo.
Diferente da criança e do adolescente, a dor no recém-nascido se manifesta de
forma não verbal através de alterações na dinâmica fisiológicas e de seu
comportamento. As entrevistadas reconhecem que o RNPT sente dor através de
manifestações comportamentais e variáveis fisiológicas.
[...] Expressão facial, agitação psicomotora, taquicardia e
alterações na saturação de oxigênio. (E2)
Eu observo se ele apresenta choro, sua expressão facial, que pode
demonstrar a testa franzida, os olhos fechados, a taquipnéia e a
taquicardia. (E4)
[... ] Expressão facial, na agitação do bebê, taquipnéia,
hiperatividade [...]. (E6)
[... ] Através da expressão facial, choro, agitação, taquicardia,
taquipnéia, quedas na saturação de oxigênio no monitor cardíaco e
dificuldades para dormir. (E7)
A equipe de enfermagem avalia a dor, principalmente, observando mudanças no
comportamento da criança, incluindo choro característico, alterações na mímica
facial, no humor e nos movimentos corporais(10).
Cada profissional da equipe de enfermagem percebe a dor conforme vivência
profissional e científica, bem como pela influência cultural. Em suas
manifestações, a dor é percebida mediante alterações comportamentais e
fisiológicas dos recém-nascidos. Dentre as alterações comportamentais
destacaram o choro, expressão facial, resposta motora, irritabilidade e
alterações de sinais vitais(8,11)
Além disso, o fato de a dor ser um fenômeno subjetivo gera uma grande
dificuldade para a elaboração de um método único de avaliação e de fácil
aplicação na prática clínica dos profissionais das unidades neonatais(12).
As medidas fisiológicas são usadas para o reconhecimento da algia no neonato.
Dentre elas podemos citar o aumento da freqüência respiratória, da freqüência
cardíaca, da saturação do oxigênio, da pressão arterial, da pressão
intracraniana, a sudorese palmar e o tônus vagal. Em relação aos parâmetros
comportamentais, o RNPT pode apresentar movimentos corporais, o choro
característico, a expressão facial, o padrão de sono e vigília. Estes dados
foram semelhantes aos resultados de outros estudos nacionais(8,11,13-14).
Estímulos dolorosos agudos desencadeiam nos recém-nascidos uma resposta global
ao estresse, que inclui modificação a nível cardiovascular, respiratório,
imunológico, hormonal e comportamental, entre outros. Essas respostas
fisiológicas são acompanhadas de uma reação endócrino-metabólica de estresse,
com liberação, entre outros hormônios, de adrenalina, noradrenalina e cortisol,
podendo também resultar em hiperglicemia e catabolismo protéico lipídico,
interferindo no equilíbrio homeostático, que no RN já é precário(15).
Além disso, algumas doenças, bem como medicamentos sedativos e analgésicos
podem interferir nas respostas comportamentais de dor. O uso de drogas
vasoativas também pode promover alterações fisiológicas semelhantes às
resultantes de dor. Outro fator limitante para o uso de indicadores
comportamentais é a presença de cânula traqueal que dificulta constatar a
ocorrência de choro e mímica facial(13).
O grande desafio na avaliação da dor consiste em compreender a diferença do que
é dor ou desconforto, para estabelecer assim, um correto diagnóstico deste
processo. Esta é uma das principais dificuldades da equipe de enfermagem,
geralmente, devido a subjetividade da dor e pela falta de treinamento dos
profissionais04).
Desta maneira, ao avaliar a ocorrência da dor no RNPT utilizando parâmetros
pontuais isolados do contexto global da internação do recém-nascido na UTIN,
esta equipe de enfermagem poderá implementar medidas ineficazes no manejo
clinico deste fenômeno. Por outro lado, a ausência da aplicação das escalas de
avaliação da dor pode implicar na maior dificuldade de identificação da dor no
RNPT, retardando a implementação de cuidados efetivos e potencializando
alterações na sua condição orgânica.
AS INTERVENÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
Para prestar o cuidado ao recém-nascido com dor é importante que o profissional
esteja atento a sua comunicação não verbal, mas sim a linguagem corporal.
Quando se tem o relacionamento afetivo, a percepção da necessidade do cuidado
pode ser mais facilmente percebida. Ao compartilhar os momentos de emoções,
sofrimento e, até mesmo de vitória, saindo da visão tecnicista moderna, o
profissional pode refletir se o sucesso terapêutico não poderia ter sido
alcançado através, ou com a ajuda, dessa atenção, da sensibilidade e dos
sofrimentos demonstrados durante o cuidado(4). Na análise da fala das
entrevistadas percebeu-se que a equipe de enfermagem promove o conforto do
recém-nascido como forma de alívio da dor.
Normalmente, nós utilizamos as intervenções não farmacológicas:
contenção, diminuição do barulho, de luz, excesso de luz, o toque no
recém-nascido, tudo isso conforta mais o bebê no momento de um
procedimento invasivo. (E1)
[...] Faz uma chupetinha com o látex da luva e aí coloca as gotinhas,
aí ele vai sugar, vai sentir prazer sugando e aí vai amenizar a dor
[...] muda de decúbito, fazer massagem de conforto [...]. (E2)
Nas falas destas entrevistadas, nota-se que há uma preocupação com o conforto e
o bem-estar no prematuro, sendo implementadas algumas medidas, tais como a
contenção, a diminuição do barulho e do excesso de luz da UTIN, a mudança de
decúbito, o toque e a sucção não nutritiva. Estes dados foram encontrados em
dois estudos realizados no Brasil(11,14).
Diante da intensidade da luz nas Unidades Neonatais, as ações de enfermagem
devem ser dirigidas no sentido de reduzir a luminosidade ambiental, promovendo
estratégias tais como, cobrir a incubadora com mantas, evitando desta forma, o
excesso de estímulos, além de proporcionar o ciclo natural de sono e vigília do
RNPT(16). O toque e o contato físico também acalmam. A estimulação sensorial
poderá ser útil como, por exemplo, o uso da música, a fala suave, as massagens
e o estímulo visual(4).
Outra forma de acalmar o RNPT é a contenção do recém-nascido em um ninho,
denominado útero artificial, o qual pode ser improvisado para promover a sua
organização comportamental(4).
[...] Utiliza as intervenções não farmacológica, são aquelas: a
contenção [...] tudo isso conforta mais o bebê no momento de um
procedimento invasivo. (E3)
Na mudança de decúbito, alimentação, sucção, procura de todas as
formas manter confortável até que identifique a causa. (E4)
[...] Eu normalmente coloco o prematuro enroladinho, para contê-lo
durante a punção venosa periférica, trabalho em dupla e utilizo a
chupetinha com glicose. (E8)
[...] Para aliviar a dor quando eu acho que o bebê prematuro está
sentindo, eu normalmente procuro mantê-lo organizadinho através do
conforto no útero artificial que nós fazemos todos os dias com
rolinhos aqui da unidade, além de acalmá-lo, colocar a luvinha na
boca para ele sugar e falo com a enfermeira que vou dar um pouquinho
de glicose a 25%. (E10)
A equipe de enfermagem pode e deve utilizar as medidas não farmacológicas de
forma constante para o controle da dor nas unidades neonatais, já que são
estratégias de cuidado que não necessitam da interferência de outros
profissionais. As medidas de conforto e controle da dor como o toque, o contato
pele-pele, a nutrição não nutritiva, dentre outras, podem ser realizados
sistematicamente com vistas a prevenir a dor, limitá-la e restabelecer o bem-
estar do recém-nascido.
A literatura relata que os benefícios da estimulação da sucção não nutritiva
variam desde a adequação da musculatura oral, da regulação dos estados de
consciência do bebê, do ganho de peso, recebendo a mesma quantidade calórica,
da alta precoce, da facilidade de digestão, da transição para a alimentação por
via oral mais rápida e mais fácil, dentre outras. Entretanto, as indicações ou
parâmetros para início de uma sucção não nutritiva não são unânimes, não
havendo indicadores precisos sobre quando iniciá-lo, como deve ser e ainda como
proceder para levar o recém-nascido à prontidão para a alimentação oral(17).
A sucção não nutritiva e a solução glicosada utilizadas como medidas não
farmacológicas, para o alívio da dor no recém-nascido prematuro, amenizam a dor
no recém-nascido durante a realização de procedimentos. O emprego da sucção não
nutritiva através da chupeta em unidades neonatais está indicado nos
procedimentos dolorosos, pois inibe a hiperatividade e modula o desconforto,
ajudando na organização neurológica e emocional do neonato, diminuindo a
duração do choro, acalmando-o mais rapidamente, além de reduzir as frequências
cardíacas e respiratórias(4).
Nos discursos das entrevistadas ficou evidente que as mesmas utilizam da
solução glicosada nos diversos contextos de sua prática diária na unidade
neonatal para amenizar o processo doloroso no RNPT:
Eu faço a prevenção dessa dor utilizando a glicose, os bebês a termo
a gente utiliza 1 ml de glicose antes do procedimento doloroso e no
caso da glicose vai estimular a serotonina e o que vai dar o prazer
ao bebê então vai amenizar essa dor, é uma prevenção que a gente faz.
(E1)
[... ] E quando o bebê prematuro, a gente coloca uma gotinha de
glicose antes do procedimento e faz uma chupetinha com o látex da
luva e ai coloca as gotinhas ai ele vai sugar, vai sentir prazer
sugando e ai vai amenizar a dor. (E2)
[... ] A fisioterapeuta ensinou a gente a fazer o bico com a luva e
botar glicose a 25%, três gotinhas. Geralmente isto acalma o bebê e a
gente faz o procedimento. (E3)
Procuro acalmar deixando confortável, coloco um bico artificial e
utilizo glicose. (E5) Nós utilizamos muito aqui a sucção não
nutritiva com chupetinha de luva e glicose [...] (E6)
Como pode ser visto que a equipe de enfermagem do hospital em estudo reconhece
e coloca em prática o uso da sucção-nutritiva e a glicose com o objetivo de
amenizar a dor no RNPT. Entretanto, nota-se que este cuidado acontece de forma
não sistematizada e indiscriminada, já que nesta UTIN não foi encontrado
protocolo assistencial de enfermagem que abordasse esta conduta no manejo
clínico da dor no prematuro.
A utilização da glicose, antes do procedimento doloroso, irá reduzir a duração
do choro, da freqüência cardíaca e a expressão facial(18). Por conseguinte, a
sucção não nutritiva é um ponto positivo e pode ser utilizado como auxílio na
terapêutica, pois foi comprovado que o mesmo trás benefícios a saúde e a
recuperação do neonato.
Apesar de a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Pediátrica Canadense
recomendarem o uso da solução de sacarose como rotina para alívio da dor em
UTIN durante procedimentos invasivos e dolorosos, os estudos sobre o uso da
substância em doses repetidas ainda não são conclusivos e merecem novas
investigações. Nestas, a avaliação da eficácia da administração em doses
repetidas da sacarose no alívio de dor em neonatos deve necessariamente ampliar
o estudo dos possíveis efeitos colaterais, tanto do ponto de vista da saúde
quanto do desenvolvimento, assim como controlar o número de procedimentos
invasivos(19).
Nota-se uma constante preocupação desta equipe de enfermagem na promoção de um
cuidado individualizado ao RNPT no controle de sua dor, através da
implementação baseada em evidências científicas. Entretanto, mesmo com a
aplicação das estratégias não farmacológicas, é fundamental o investimento em
educação permanente nesta instituição, com vistas à capacitação desta equipe,
para que o processo doloroso possa ser considerado na avaliação global do
prematuro como o quinto sinal vital.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebeu-se que a equipe de enfermagem identifica a dor no recém-nascido
prematuro de maneira não sistematizada e fragmentada. E ainda, não existe
nenhum tipo de impresso ou escala para auxiliá-las na identificação mais
precisa do processo doloroso. As escalas funcionam como um ponto chave tanto
para a identificação do processo doloroso, bem como para a adequação do
tratamento.
Com relação ao manejo da dor no RNPT pela equipe de enfermagem, observou-se que
as condutas adotadas são condizentes com a literatura. Esses profissionais
conhecem os métodos alternativos e sua importância e sabem identificar um
melhor método para melhorar a qualidade de vida do RNPT minimizando assim, as
sensações dolorosas.
Entretanto, em virtude do fato de as escalas não fazerem parte do contexto de
sua prática clínica diária, como ferramenta do cuidado para a avaliação da dor
no neonato prematuro, estas intervenções podem se configurar em iatrogenias,
potencialmente capazes de provocar danos ao recém-nascido, infringindo os
princípios da segurança do paciente.
A equipe de enfermagem deverá levar em consideração os aspectos inerentes ao
processo doloroso, bem como considerá-lo como um indicador potencial de
alterações na sobrevida orgânica do recém-nascido prematuro, tendo em vista as
suas repercussões nos sinais vitais e comportamento do mesmo.
Sugere-se a elaboração e implementação de protocolos assistenciais nesta
unidade, bem como a inclusão da avaliação do processo doloroso como sinal vital
de suma importância, a ser avaliado no conjunto da aferição dos outros dados
vitais, por meio de instrumentos do cuidado, tais como as escalas neonatais,
com vistas à padronização da identificação e como guia clínico para o
tratamento efetivo e imediato do mesmo.
Por outro lado, faz-se mister a inclusão da dor como sinal de adaptação
inadequada do prematuro ao espaço da Unidade Neonatal, bem a mudança de
filosofia institucional, com vistas à valorização do tratamento deste sinal
como um indicador de qualidade da atenção dispensada ao RNPT.
Desta maneira, este estudo poderá subsidiar a equipe de enfermagem na
organização de seu processo de trabalho, com o intuito e proporcionar uma
passagem tranqüila do neonato prematuro pela unidade neonatal, com vistas à
importância do cuidado de excelência, de qualidade e humanizado.