Uso de medicamentos por idosos de instituições de longa permanência, Brasília-
DF, Brasil
INTRODUÇÃO
O número crescente de idosos na população mundial e brasileira acarretou uma
alteração importante no perfil de morbimortalidade com predomínio das doenças
crônico-degenerativas(1). Doenças cardiovasculares, locomotoras e psiquiátricas
são as mais prevalentes(1-5) e exigem o uso continuo de medicamentos(2,4-5).
Estudos mostram que cada idoso toma em média de quatro a seis medicamentos(2-7)
e esse número é maior com o avanço da idade. Os medicamentos mais utilizados
são os agentes cardiovasculares e os psicofármacos seguidos pelos
antiinflamatórios, analgésicos e agentes gastrintestinais(2,4-5,8). O alto
consumo de medicamentos entre essa população implica em aumento do número de
problemas relacionados a medicamentos (PRM) e da incidência de reações adversas
ocasionando aumento das hospitalizações e dos custos com assistência à saúde(4-
5,7,9).
O envelhecimento populacional ocasionou ainda, mudanças socioeconômicas
relevantes como aumento da demanda por serviços sociais e de saúde, antes
características de países desenvolvidos(1). Assim, fez-se necessária a
reestruturação dos serviços de saúde aumentando a demanda por serviços
especializados de maior complexidade além de capacitação da equipe envolvida na
assistência a idosos. Nesse contexto, surgiram as Instituições de Longa
Permanência de Idosos mantidas pelo governo, por associações religiosas e
beneficentes ou pelos idosos e familiares, como opção para atender às
necessidades sociais da sociedade moderna(10). A crescente procura por esses
serviços é explicada em muitos casos, pelas dificuldades econômicas e
psicossociais encontradas pelas famílias para o cuidado do idoso; sobretudo
para aqueles que apresentam redução da capacidade funcional(10). Tais idosos
tornam-se cada vez mais dependentes para realização de atividades cotidianas e
requerem cuidados de maior complexidade e custo(10).
Em alguns casos, a institucionalização pode representar rompimento do convívio
familiar, abandono e isolamento social. Acredita-se que essa situação aliada às
condições de saúde, à carência de profissionais capacitados e à dificuldade de
acesso desse grupo aos serviços públicos de saúde(11), influenciam no acesso e
na adesão à farmacoterapia(6,12) bem como no surgimento e agravo dos PRM. Além
disso, a exclusão dos idosos institucionalizados das políticas públicas de
saúde existentes no Brasil(11) agravam a situação de saúde desse grupo e a
incidência desses problemas.
Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo descrever o perfil
socioeconômico, epidemiológico e padrão de consumo de medicamentos por idosos
de Instituições de Longa Permanência de Brasília no intuito de expandir o
conhecimento sobre as características e necessidades particulares dessa
população, em constante crescimento.
MÉTODOS
Estudo epidemiológico, transversal, descritivo e exploratório realizado com
idosos residentes em cinco instituições de longa permanência de Brasília. Os
dados foram coletados no período de janeiro a dezembro de 2007. A amostra,
obtida por conveniência, foi constituída por 154 indivíduos, de ambos os sexos,
com idade igual ou superior a 60 anos e que consumiam pelo menos um medicamento
de uso contínuo. Foram incluídas as instituições que, na fase de coleta de
dados; estavam ativas no cadastro do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito
Federal e que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa mediante
assinatura do Termo de Concordância. Todas as instituições participantes
possuíam caráter filantrópico e atendiam um total de 300 idosos. Os idosos
participantes foram classificados em dois grupos: com e sem discernimento,
baseado no seu estado cognitivo avaliado pela equipe de profissionais das
instituições. Foram considerados com discernimento, idosos que tinham
capacidade de fornecer e receber informações corretas e coerentes. Os dados
foram coletados através de um questionário adaptado do Método Dáder de
Acompanhamento Farmacoterapêutico(13)e respondido pelos idosos considerados com
discernimento e pelos cuidadores dos idosos considerados sem discernimento. As
informações obtidas nas entrevistas foram complementadas com análise dos
prontuários e prescrições médicas.
As variáveis analisadas foram: Perfil socioeconômico (sexo, idade,
escolaridade, renda mensal, estado civil, tempo de institucionalização,
percepção quanto à institucionalização e convívio familiar), Perfil
epidemiológico(doenças prevalentes), hábitos de vida(prática de atividades
físicas) e Perfil Farmacoterapêutico(medicamentos utilizados, número de
medicamentos por idoso, gasto mensal com medicamentos, nível de conhecimento do
idoso quanto a nome, indicação e posologia dos medicamentos utilizados, fatores
de não-adesão ao tratamento e acesso a medicamentos). Os medicamentos foram
classificados segundo a Anatomical-Therapeutical-Chemical Classification System
(ATC).
Os dados foram alocados em SPSS (Statistical Package for Social Sciences)
versão 15.0 e analisados utilizando os testes Qui-quadrado e t de student
considerando os resultados significativos para p ≤ 0,05. As associações entre
variáveis foram avaliadas através de seqüências de modelos log-lineares
aninhados: de associação homogênea, de independência condicional e de
independência conjunta. Para testar o efeito da ausência de associações entre
as variáveis para a seqüência de modelos, utilizou-se o teste condicional de
Qui-quadrado da razão de verossimilhança com nível de significância de 5%.
O protocolo da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Os participantes foram
incluídos na pesquisa após assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido por eles próprios ou seus responsáveis legais.
RESULTADOS
Na amostra (n=154), 51,3% dos idosos eram do sexo masculino e 53,9% foram
considerados com discernimento. Entre os idosos sem discernimento (46,1%), as
mulheres eram a maioria (p = 0,0164). Os idosos apresentaram idade média de
74,6 anos e foi observada maior prevalência de indivíduos com idade superior a
75 anos em relação aos demais grupos etários (Tabela_1), não havendo diferença
estatística significativa entre homens e mulheres. O grupo estudado vivia nas
instituições aproximadamente há cinco anos (p > 0,05).
![](/img/revistas/reben/v65n5/a04tab01.jpg)
Quanto ao nível de instrução, 46,6% não possuíam nenhuma instrução ou estudaram
menos de um ano e 43,9% dos idosos possuíam formação primária tendo estudado
até sete anos. A maioria possuía renda mensal média de até dois salários-
mínimos (R$ 830,00) e era constituído por solteiros e viúvos (p > 0,05) (Tabela
2).
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A maioria dos idosos com discernimento (83,2%) apresentou independência para
realizar atividades diárias como tomar banho, vestir-se e caminhar pela
instituição, ao contrário da maioria dos considerados sem discernimento (80,3%)
que dependia dos cuidadores para tais atividades (p < 0,0001). Quando indagados
sobre a percepção em relação à institucionalização, 66,3% dos idosos com
discernimento, disseram gostar da instituição sendo que 55,4% relataram não
sentir-se deprimidos e 67,5% não se queixaram de ansiedade; sem diferença
significativa entre os sexos para ambas as variáveis. Em relação ao convívio
familiar e à institucionalização, foi observado que apenas 51,0% (n = 78) dos
idosos recebiam visitas constantes de seus familiares sendo que não houve
diferença nesta proporção entre homens e mulheres (p = 0,4209). Quanto aos
hábitos de vida, a maioria dos idosos foi considerada sedentária (79,5%) não
havendo diferença significativa entre sexos (p = 0,2111).
O grupo é acometido, principalmente, por problemas de saúde do sistema
cardiovascular (82,5%) e nervoso (54,6%) sendo os mais prevalentes: hipertensão
arterial sistêmica (76,6%), problemas articulares (16,3%), diabetes mellitus
tipo II (16,2%), problemas respiratórios (13,0%), insuficiência cardíaca
(12,3%) e problemas gastrintestinais (11,7%). Os idosos com discernimento são
acometidos por um número maior de problemas de saúde que os sem discernimento
(p < 0,0001). Os com discernimento são mais acometidos por artrite (p =
0,0042), problemas gastrintestinais (p = 0,0002), problemas respiratórios (p =
0,0121), hipertensão arterial sistêmica (p = 0,0003), depressão (p = 0,0059),
osteoporose (p = 0,0122) e catarata (p < 0,0001 ) enquanto os sem discernimento
sofrem mais com doenças psiquiátricas (p = 0,0003), ansiedade (p = 0,0036),
arritmia (p = 0,0036) e insuficiência cardíaca (p = 0,0371).
Quando analisada a associação entre percepção em relação à instituição e
prevalência de depressão diagnosticada por profissional e relatada no
prontuário nos idosos com e sem discernimento, foi verificada que para qualquer
sexo há uma forte associação entre ambas as variáveis; sendo que os idosos que
disseram gostar da instituição são menos suscetíveis à depressão (p < 0,0001).
Tendência semelhante foi observada quando analisada associação entre
prevalencia de distúrbios psiquiátricos e satisfação com a institucionalização
(p < 0,0001).
No grupo estudado, o número de medicamentos de uso contínuo consumidos pelas
mulheres foi superior ao dos homens (p < 0,0001). Em média cada idoso (n=79)
tomava quatro medicamentos enquanto as idosas (n=75) tomavam nove medicamentos.
Os medicamentos mais utilizados pelo grupo foram os agentes cardiovasculares
(81,2%), os do sistema nervoso central (63,0%), do sistema endócrino (18,9%),
do sistema gastrintestinal (16,9%) e do sistema respiratório (7,8%) (Tabela_3).
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O estudo mostrou também que os idosos com discernimento consumiam mais
medicamentos que os sem discernimento (cinco e quatro medicamentos,
respectivamente) (p = 0,008), sendo que o consumo de medicamentos foi maior
entre as mulheres com discernimento (p < 0,0001).
Foi verificado ainda, que 98,2% dos idosos utilizavam pelo menos um
psicofármaco sendo os antipsicóticos (29,9%), hipnóticos, sedativos e
ansiolíticos (24,0%), antidepressivos (22,1%) e anticonvulsivantes (14,3%) os
mais consumidos. Apenas os antipsicóticos foram mais consumidos pelas mulheres
(p = 0,041) não havendo diferença significativa entre os sexos para as demais
classes de psicofármacos.
A análise estatística mostrou associação positiva entre número de medicamentos
utilizados e idade (p = 0,045). Os idosos entre 60 e 64 anos consumiam de um a
três medicamentos (p = 0,0091) e o consumo foi maior entre os indivíduos de
idades mais avançadas, tendência observada em ambos os sexos (Figura_1).
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A cerca do nível de informação do idoso com discernimento (n=83) sobre os
medicamentos utilizados no momento da pesquisa, foi observado que 69,9% tiveram
alguma recordação da prescrição médica e as mulheres souberam dar mais
informações sobre nome, indicação e posologia que os homens. No grupo, 40,0%
dos homens não souberam dar nenhuma informação sobre a terapia medicamentosa e
esse número foi menor entre as mulheres (15,2%).
Os dados mostraram que 92,8% dos idosos com discernimento tomavam seus
medicamentos sozinhos enquanto 56,3% entre os sem discernimento dependiam dos
cuidadores para administrá-los. 28,6% dos idosos com discernimento e 29,3% dos
sem discernimento apresentaram algum problema que comprometiam a adesão à
terapia medicamentosa. Os principais problemas identificados foram: dificuldade
de acesso aos medicamentos prescritos (61,7%), recusa em tomar o medicamento
(48,3%), sensação de desconforto gastrintestinal (18,9%), dificuldade de
deglutição (10,1%), queixa de gosto ou cheiro ruim e/ou administração incômoda
(2,3%).
O acesso a medicamentos foi avaliado pela disponibilidade dos medicamentos
prescritos nas próprias instituições e nos centros de saúde do Distrito Federal
próximos às mesmas, considerando a Relação de Medicamentos Essenciais do
Distrito Federal (REME).
Nas instituições pesquisadas, 96,5% dos medicamentos prescritos para os idosos
estavam disponíveis no momento da pesquisa e 80,0% dos mesmos medicamentos
estavam disponíveis na rede de Atenção Básica à Saúde do Distrito Federal. O
gasto com os medicamentos não disponíveis totalizava 12,3% da renda média
mensal de cada idoso (p=0,025).
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo corroboram dados mostrados por outros trabalhos
referentes ao perfil socioeconômico, epidemiológico e farmacoterapêutico da
população idosa brasileira(2-5,8,14-19).
Apesar da existência de inúmeros trabalhos mostrando que a expectativa de vida
entre as mulheres é maior que nos homens e, por conseguinte, maior proporção
das mesmas na população idosa(3-4,6,8,18); devido a uma maior proteção
cardiovascular fornecida pelos hormônios femininos, menor consumo de álcool e
tabaco e maior procura por assistência médica(6); no grupo estudado não foi
encontrada diferença significativa de idade entre os sexos.
Resultados apontaram ainda um envelhecimento da própria população idosa (Tabela
1) devido à maior prevalência de idosos acima de 75 anos; também mostrado por
Chaimowicz(1) e Castellar(14) indicando aumento crescente da expectativa de
vida na população brasileira.
O aumento do número de idosos na população ocasionou mudanças socioeconômicas e
culturais relevantes(1). Na sociedade moderna, muitas famílias não apresentam
condições de cuidar de seus idosos, aumentando a procura pelas Instituições de
Longa Permanência(10). Sabe-se que a dependência crescente que os idosos
apresentam para realizar atividades rotineiras, o despreparo da maioria das
famílias para cuidar de seus idosos, o elevado número de doenças e de
medicamentos utilizados aliados à baixa renda familiar estão entre as causas de
institucionalização(10,16).
O presente estudo mostrou que tais fatores são causa da institucionalização do
grupo estudado constituído, sobretudo por idosos sozinhos (solteiros ou
viúvos), de baixo nível de instrução, baixa renda mensal, sem convívio
familiar, com um grau de dependência significativo, um número crescente de
problemas de saúde, usuários de polifarmácia e com gastos crescentes com
assistência à saúde. Corroborando tal hipótese, uma pesquisa realizada com
idosos longevos em Minas Gerais mostrou associação significativa entre idade,
polifarmácia, afastamento do convívio familiar e social e capacidade funcional.
Segundo os autores, quanto maior o consumo de medicamentos e menor o convívio
familiar, maior o comprometimento da capacidade funcional do idoso e tal
situação é agravada com o avanço da idade(20).
Mesmo com a possibilidade de que a institucionalização pode representar para o
idoso um rompimento dos laços familiares e isolamento social gerando solidão,
depressão, desânimo, descrença e transtornos psíquicos, a maior parte dos
idosos desse estudo declarou que gosta da instituição onde vive e não se queixa
de tristeza ou ansiedade patológicas. Apesar disso, análise das prescrições
médicas mostrou um alto consumo de psicofármacos entre os idosos sendo os
antidepressivos e os antipsicóticos os mais prescritos indicando uma
prevalência significativa de transtornos afetivos e psiquiátricos no grupo
estudado. Tais dados podem sugerir aceitação pelo idoso da própria situação,
desesperança em relação ao futuro e uma super medicalização do grupo avaliado.
Além disso, a elevada prescrição de psicofármacos para idosos pode refletir um
despreparo dos prescritores, dos serviços de saúde e da própria sociedade para
lidar com os idosos e as peculiaridades que acompanham o envelhecimento sendo
necessário medicá-los para tratar situações comuns da idade como insônia,
ansiedade e quadros depressivos.
Estudos mostram o uso crônico de psicofármacos por idosos, sobretudo os
hipnóticos, sedativos e ansiolíticos da classe dos benzodiazepínicos; devido à
constante insônia e ansiedade que acometem o grupo com graves conseqüências
como aumento das interações medicamentosas, reações adversas, desenvolvimento
de dependência e tolerância(21). Segundo Cruz et al.(21), a insônia acomete
mais as mulheres, pessoas divorciadas, viúvas e aquelas com menor grau de
escolaridade e baixa renda salarial, situações observadas no grupo estudado.
O perfil epidemiológico do grupo estudado já fora mostrado por outros estudos
que apontaram as doenças cardiovasculares, neurológicas, psiquiátricas e
ortopédicas como as mais prevalentes nessa faixa etária(2,4-5,8,14,17-19).
Acredita-se que tal perfil de morbidade aliado ao sedentarismo do grupo
estudado e ao elevado consumo de medicamentos, sobretudo de psicofármacos,
podem ser causas de redução da capacidade funcional e conseguinte, baixa
qualidade de vida desses idosos. Nogueira et al.(20) mostrou uma associação
positiva relevante entre número de medicamentos utilizados e capacidade
funcional em idosos longevos. Segundo os autores, quanto maior a utilização de
medicamentos, maior o comprometimento da capacidade funcional dos usuários(20),
provavelmente devido a interações medicamentosas e potencialização de seus
efeitos adversos.
A maior prevalência de doenças e, por conseguinte, o maior consumo de
medicamentos entre os idosos considerados com discernimento pode refletir uma
melhor capacidade desse grupo em se comunicar e se expressar quando comparados
aos idosos considerados sem discernimento. Os problemas de saúde entre idosos
com comprometimento cognitivo podem passar despercebidos aos profissionais de
saúde porque os pacientes não conseguem descrever seus sintomas adequadamente
(18). Além disso, os idosos com discernimento podem ser "poliqueixosos"
comparados ao sem discernimento.
A maior prevalência de distúrbios psiquiátricos entre os idosos considerados
sem discernimento pode ser explicada ao considerar que na maioria dos casos,
essas doenças são acompanhadas por perda de lucidez e autonomia comprometendo a
função cognitiva. Estudos mostram que os idosos com comprometimento da função
cognitiva com graus variados de dependência(16,22), por exigirem de suas
famílias cuidados mais complexos e melhor estrutura física, econômica e
psicossocial, tornam-se o principal grupo a ser institucionalizado(10,16,22).
Apesar dos resultados deste estudo contrariar tal hipótese, pois, a maioria dos
idosos apresenta bom estado cognitivo; observa-se uma proporção significativa
de idosos sem discernimento (46,1%) indicando que a prevalência de doenças
psiquiátricas pode ser um fator importante para institucionalização de alguns
idosos.
Apesar de a literatura afirmar que os idosos com disfunção cognitiva por
apresentar em geral, problemas crônicos de saúde e limitações funcionais; são
os maiores usuários de polifarmácia(20); Loyola Filho(18) mostrou um consumo
menor de todas as classes de medicamentos entre esses idosos, dados também
mostrados pelo presente estudo. Acredita-se que essa subutilização de
medicamentos se deve ao statuscognitivo dos pacientes e, por conseguinte, maior
suscetibilidade ao descumprimento do regime terapêutico implicando em
prescrição de um menor número de medicamentos(18).
As morbidades do grupo estudado justificam o perfil farmacoterapêutico e a
média de consumo de cinco medicamentos por idoso, mostrado por outros trabalhos
(2-6,8,14-15,17,19). As semelhanças no perfil epidemiológico e de utilização de
medicamentos mostrado por esses estudos parecem refletir problemas e
necessidades comuns do grupo.
O maior consumo de medicamentos pelas mulheres, achado de outros estudos(3-
4,7,18), pode ser explicado pela idade mais avançada desse grupo pois, entre
elas há uma maior proporção de indivíduos com idade superior a 70 anos. Essa
hipótese pode ser ratificada pela análise da relação positiva entre o número de
medicamentos consumidos e idade que mostrou aumento do consumo de medicamentos
com o avanço da idade(3) (Figura_1).
A polifarmácia e a carência de acompanhamento farmacoterapêutico, situações
encontradas no grupo estudado, podem aumentar a incidência de problemas
relacionados a medicamentos (PRM) como erros de medicação, interações
medicamentosas, prática de automedicação, dificuldade de adesão e surgimento de
reações adversas a medicamentos(3-4,6-7,9,14). Em idosos, tais problemas podem
ainda ser agravados pelas limitações comuns da idade como dificuldade motora,
visual, auditiva e de deglutição, pela redução da capacidade cognitiva e
funcional, pela elevada prevalência de distúrbios psiquiátricos, pelo estado
desmotivado e depressivo e ainda pelo baixo nível de instrução e de renda
familiar(6,15-16,19,22). No grupo estudado, acredita-se que a presença desses
fatores influencia fortemente o surgimento de PRM, sobretudo, comprometimento
da adesão ao esquema terapêutico.
A adesão constitui uma variável multifatorial sofrendo influência do estado de
saúde do paciente, do acesso a medicamentos, da renda familiar, do grau de
instrução, da presença e intensidade de reações adversas, do estado psicológico
e psíquico e do surgimento de resultados benéficos com o tratamento
(6,12,15,19).
Em idosos institucionalizados a adesão é maior que em outros grupos de idosos
em virtude da administração de medicamentos estar sob responsabilidade dos
cuidadores e não do próprio idoso, tornando ausentes fatores como esquecimento
e suspensão do uso ou alteração do esquema terapêutico por conta própria;
comuns entre os idosos não supervisionados por familiar, cuidador ou
profissional de saúde. Estudo realizado por Cintra et al.(15)mostrou que os
problemas com utilização e administração de medicamentos são minimizados quando
os idosos são acompanhados por familiares e/ou cuidadores. Segundo os autores a
presença da família ou do cuidador é imprescindível para o cumprimento da
terapia medicamentosa, pois, o avanço da idade é acompanhado por aumento da
dependência para executar atividades rotineiras como administração dos
medicamentos(15).
Como nas instituições de longa permanência a responsabilidade de administração
e de garantia de acesso aos medicamentos é da instituição e não do idoso,
problemas de adesão e acesso a medicamentos, no grupo estudado, são
minimizados. Ao contrário, idosos não institucionalizados podem apresentar
problemas de acesso a medicamentos no serviço público de saúde(15,23).
Apesar da pequena prevalência de problemas que comprometem a adesão entre os
idosos participantes do presente estudo, resultados sugerem que a dificuldade
de acesso, o número elevado de medicamentos, a presença de efeitos adversos e
limitações comuns da idade; são fatores importantes que podem comprometer a
adesão à prescrição médica,corroborando dados da literatura(6,12,19).
Além desses fatores a elevada prevalência de doenças psiquiátricas, o freqüente
estado desmotivado e depressivo e o nível de escolaridade podem explicar o
desconhecimento de alguns idosos com discernimento a respeito do esquema
terapêutico utilizado, pois, sabe-se que o entendimento e o comprometimento do
idoso com a farmacoterapia representam importantes fatores para garantir a
adesão(6). Apesar da influência direta do nível de instrução na compreensão e
conseguinte, adesão ao tratamento(4,6,8,19); nesse estudo, o nível de
informação dos idosos não apresentou relação direta com os dados de
escolaridade em ambos os sexos. Acredita-se que como nas Instituições de Longa
Permanência para Idosos, a administração de medicamentos é responsabilidade dos
cuidadores, não há preocupação em orientar o idoso quanto à prescrição médica.
Outrossim, vários estudos têm mostrado forte influencia da disponibilidade de
medicamentos e do nível socioeconômico do usuário na adesão à farmacoterapia
(6,24). Dados da Organização Mundial de Saúde (citados por Rozenfeld(7))
mostram que 25% da população mundial estão sem assistência farmacêutica
completa, não tendo acesso a medicamentos essenciais ou o tendo de maneira
limitada(7). No entanto, esse estudo mostrou que o grupo estudado não
encontrava dificuldade de acesso a medicamentos, pois, além de serem
abastecidas pela rede de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS); as
Instituições de Longa Permanência para Idosos em sua maioria por serem de
caráter filantrópico têm o abastecimento de medicamentos garantido por meio de
doações da comunidade e de recursos obtidos através de eventos beneficentes,
sendo pequeno o gasto com medicamentos não disponibilizados dessas maneiras
(12,3%). Porém, a falta de medicamentos de distribuição gratuita, mesmo
pequena; aliada à baixa renda mensal dos idosos, em sua maioria aposentados com
um rendimento inferior a dois salários-mínimos; são fatores importantes que
limitam o acesso e, por conseguinte, para adesão ao tratamento prescrito(6,24).
Resultados permitem concluir que, o monitoramento dos PRM, por meio de um
acompanhamento farmacoterapêutico efetivo; a inserção de ações como incentivo à
prática de atividades físicas para manutenção da capacidade funcional e de
ações educativas que promovam o conhecimento sobre a farmacoterapia são
imprescindíveis como forma de estimular o auto-cuidado, a adesão ao esquema
terapêutico e, por conseguinte, melhoria da qualidade de vida dos idosos. Faz-
se necessário ainda, promover maior integração dos serviços do Sistema Único de
Saúde e das Instituições de Longa Permanência para Idosos a fim de otimizar o
atendimento aos idosos que ali vivem e o próprio funcionamento dessas
instituições sociais. Além disso, ações educativas no sentido de aumentar a
formação e capacitação de recursos humanos devem ser promovidas como forma de
melhorar a assistência à saúde dos idosos proporcionando-lhes assistência
integral e especializada.