Vivências paternas durante a hospitalização do recém-nascido prematuro na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, segundo dados do Ministério da Saúde, nascem anualmente vinte
milhões de crianças prematuras e com baixo peso, sendo que, dessas, um terço
morre antes de completar um ano de vida. No Brasil, a primeira causa de
mortalidade infantil são as afecções perinatais, mais comuns em crianças
prematuras e de baixo peso(1).
Dados da Organização Mundial de Saúde (2012) apontam que 15 milhões de neonatos
nascem muito cedo todos os anos. Mais de 1 em cada 10 bebês nascem prematuros,
afetando famílias em todo o mundo e mais de 1 milhão de crianças morrem a cada
ano devido a complicações de parto prematuro. Muitos sobreviventes enfrentam
uma vida inteira de deficiência, incluindo dificuldades de aprendizagem e
visuais e problemas auditivos(2).
São necessárias medidas urgentes para enfrentar este problema de saúde pública,
especialmente porque as taxas de nascimentos prematuros estão aumentando a cada
ano. Isto é essencial a fim de se obter progresso nos Objectivos para o
Desenvolvimento do Milênio (ODM) para sobrevivência infantil até 2015 e mais
além, uma vez que 40% das mortes em menores de cinco anos são em recém-
nascidos. Para recém-nasccidos que sobrevivem, existe um risco aumentado de
deficiência, que cobra uma pesada carga sobre as famílias e sistemas de saúde
(2).
Desta forma, nota-se que o nascimento prematuro é uma realidade mundial que vem
demandando a articulação de estratégias para o seu enfrentamento,
principalmente no que se refere à participação das famílias no contexto
hospitalar. Diante disso, o país, atualmente, vem trabalhando com a visão de um
novo paradigma, que é a da atenção humanizada à criança, e sua família no
contexto da hospitalização(1).
O grande número de nascimentos de recém-nascidos prematuros constitui-se em um
problema de saúde pública, e ainda, pode provocar graves consequências tanto
médicas quanto sociais. Além de ser um atendimento oneroso, manter o recém-
nascido prematuro na incubadora aumenta as chances da desvinculação emocional
no relacionamento com seus familiares.
Diante desta situação, destaca-se o Método Canguru, um novo modelo de cuidado
que amplia as ações do espaço hospitalar para o núcleo familiar, com o intuito
de humanizar a atenção ao prematuro e sua família. Esse modelo não anula ou
substitui as condutas tradicionais e os tratamentos terapêuticos, isso porque
todos os problemas de saúde necessitam de diagnóstico preciso e tratamento
apropriado. Entretanto, vale salientar que este método coopera na recuperação
gradativa da saúde e qualidade de vida do recém-nascido(3).
O Método Canguru, no tocante à segurança física-biológica-emocional do recém-
nascido prematuro, traz vantagens porque além de aumentar o vínculo entre mãe
e filho, favorece a produção do leite materno, que beneficia a lactação e a
amamentação. Tal método também ajuda no desenvolvimento físico-emocional da
criança estimulando os laços afetivos. Este modelo de cuidado ajuda a diminuir
tanto o estresse como o choro do recém-nascido, favorecendo a estabilidade
emocional da criança, fator preponderante na sua recuperação clínica(4).
Por isso, apesar das vantagens citadas, a atenção ao recém-nascido têm se
limitado à inserção de ações pontuais relacionadas à genitora, sendo excluídas
deste processo, a participação e as necessidades paternas. Por outro lado, o
atual panorama da produção do conhecimento em Enfermagem Neonatal, reforça a
cultura e histórica divisão social de papéis entre homens e mulheres, já que os
estudos focalizam em sua maioria a participação materna no cuidado ao
prematuro, tanto no âmbito hospitalar, quanto doméstico.
Assim, é preciso incorporar na prática clínica a visão ampliada de família como
um sistema complexo em mútua interação, que demanda a articulação de
estratégias por parte dos profissionais de saúde, já que a experiência da
doença e hospitalização de um de seus membros afeta a sua integridade e
funcionamento como um todo.
Desta forma, este estudo teve como objeto de investigação as vivências paternas
durante a hospitalização do recém-nascido prematuro na Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal (UTIN).
O interesse por este objeto surgiu durante a graduação em enfermagem ao
observar que na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da maternidade onde este
estudo foi realizado, havia exclusivamente a participação materna. Notou-se uma
facilidade de acesso materno ao espaço da unidade neonatal. Assim, as mães
possuíam liberdade nos horários de visitas ao recém-nascido prematuro, mas ao
pai eram designados horários restritos. Diante de tais observações no campo de
estágio surgiram várias questões: Porque somente as mães recebiam tratamento
especial? Porque as visitas dos pais e demais familiares eram restritas? Porque
o pai não estava inserido no cuidado?
A equipe de enfermagem elaborava normas e rotinas institucionais que impediam
os pais do recém-nascido prematuro de visitá-los depois das dezoito horas. Esta
rotina era justificada pelo argumento de que era uma norma da instituição e que
ficava perigoso deixar homens circulando pelo corredor central da unidade
hospitalar. Isto posto, questionou-se: como os pais vivenciam a hospitalização
do recém-nascido prematuro na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?
Tendo em vista estes aspectos, este estudo teve como objetivo compreender as
vivências paternas durante a hospitalização do recém-nascido prematuro na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de um hospital público de Feira de
Santana-BA.
METODOLOGIA
Este estudo foi de natureza descritiva, exploratória e qualitativa. O estudo
foi realizado em uma cidade do estado da Bahia, pelas suas características
sócio-econômicas e importância geográfica. O hospital especializado na atenção
à mulher no ciclo gravídico e puerperal desta cidade foi o campo empírico deste
estudo. Esta é uma instituição pública de médio porte da esfera municipal,
configurando-se numa fundação hospitalar. O hospital atende mulheres
procedentes de todo o município e regiões circunvizinhas. Presta atendimento
hospitalar à mulher durante e trabalho de parto, parto e puerpério e ao recém-
nascido em condições normais ou com diversas patologias.
Participaram do estudo nove pais que acompanhavam seus filhos internados na
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do referido hospital, mediante assinatura
do Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Para a escolha dos participantes, utilizaram-se os seguintes critérios de
inclusão: ser pai de recém-nascido sem malformações congênitas; ser pai pela
primeira vez; ser pai de recém-nascido prematuro com mais de sete dias de
internação na UTIN; visitar o recém-nascido prematuro semanalmente; desejar
participar do estudo e aceitar assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Os dados foram coletados no período de fevereiro a abril de 2010, após a
aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa. Para a apreensão do material
empírico, foi utilizada a técnica da entrevista, acreditando-se ser a melhor
forma para atingir os objetivos propostos na pesquisa. Dentre as formas
existentes para se realizar a entrevista, utilizou-se a entrevista semi-
estruturada que combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem
respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador(5).
Utilizou-se um roteiro de entrevista para a coleta de dados com questões de
identificação pessoais e as seguintes questões norteadoras: Como está sendo
para o senhor ter um filho hospitalizado na Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal? Conte para mim como o senhor se sentiu ao saber que seu filho seria
hospitalizado nesta Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
Para a análise dos dados empíricos utilizou-se a Análise de Conteúdo que diz
respeito à descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além
das aparências do que está sendo comunicado(6). A Análise de Conteúdo é um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, que pode expresar uma análise
de significados (a análise temática), como também uma análise dos significantes
(análise léxica, análise dos procedimentos)(7).
Assim, após a realização de cada uma, as falas dos participantes foram
transcritas na íntegra. No primeiro contato com o material empírico, realizou-
se uma leitura superficial, com vistas a aproximação com o contéudo latente de
cada fala, seguida de leituras exaustivas do material, com intuito de
indentificação das unidades de análise, das unidades de significação e
construção das seguintes categorias: Um evento inesperado; Sentimentos
vivenciados e Um novo pai.
O estudo respeitou a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, sendo
emitido parecer favorável pelo Comitê de Ética na Pesquisa da Faculdade de
Tecnologia e Ciências, campus de Salvador-BA, através do Parecer nº 1.664-2009.
Os princípios éticos foram contemplados no desenvolvimento deste estudo para
proteger os direitos dos colaboradores durante o processo de coleta dos dados.
Para tanto, todos os participantes deste estudo receberam informações sobre o
mesmo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Por razões éticas os pais não foram identificados pelos seus nomes, sendo
assegurado o anonimato dos entrevistados, através da utilização de códigos na
transcrição e divulgação da sua fala. Dessa forma, os participantes da pesquisa
foram tratados em sua dignidade, respeitando sua autonomia e sendo
identificados por códigos, a saber, E01, E02, E03, E04, E05, E06, E07, E08 e
E09.
RESULTADOS
A. Um evento inesperado
Os pais vivenciam a notícia de um parto prematuro e a necessidade de
hospitalização do filho na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal como um
momento de surpresa e de preocupação. Para eles, a interrupção do processo
gestacional antes da data prevista para o parto, ocorreu de forma abrupta e
inesperada para a família, conforme falas a seguir:
[...] Um pouco preocupante, entendeu? No sentido que a gente espera
uma criança de nove meses e foi de sete [...] De primeira viagem a
gente não imagina tanta coisa assim, foi um choque, tiveram que fazer
o parto nas pressas. (E02)
[...] isso aí foi de uma hora pra outra que aconteceu, de uma hora
pra outra. (E05)
[...] meu primeiro filho, tudo aconteceu tão rápido. Está sendo uma
barreira vê-lo na UTI. (E06)
[...] Senti que foi uma surpresa, eu acho que nunca imaginava, né?
isso ai me pegou de surpresa. (E07)
[...] Bom, no início, a gente não tinha idéia, nem eu, nem minha
mulher. Porque ela veio para aqui, deu uma dor e veio para aqui e a
gente não achava que era uma coisa tão grave, mas foi uma coisa
assim, de repente, precisou fazer a cesárea. (E03)
B. Sentimentos vivenciados
A percepção acerca da UTIN, de que este é um espaço hospitalar bastante
perigoso, devido ao risco iminente de morte do recém-nascido hospitalizado,
contribui para a vivência da ansiedade, angústia e insegurança por parte dos
pais. Para eles, a notícia da necessidade de internação do filho na referida
unidade foi uma vivência difícil e estressante, em decorrência da fragilidade
decorrente da prematuridade do filho.
[...] Minha sogra disse que o bebê ia precisar ir pra uma UTIN, que
era um berçário de alto risco, pra um lugar mais perigoso. No
momento, eu fiquei chocado com aquilo, aí o bebê foi, mas o médico
avaliou e disse que não precisava ele ficar ali na UTIN. (E04)
[...] quando eu soube que meu filho estava na UTIN, me senti muito
mal, muito triste, rapaz nem sei descrever, mas foi duro, muito,
muito, muito duro, foi duro de aceitar, mas são coisas da vida, né?
Tem que aceitar querendo ou não. (E05)
[...] No caso de uma criança recém-nascida, ela vem fraca, vem sem
[...] prematura, tudo em formação ainda. Foi um susto saber que meu
filho ia qualquer momento tá na UTI. (E09)
Ao visitar o filho pela primeira vez na UTIN, os pais relataram que diante do
estado de saúde do recém-nascido e dos equipamentos utilizados por ele,
apresentaram diversos sentimentos, tais como impotência, tristeza, solidão,
angústia e medo.
[...] era tão pequenininho, parecia tão fraco que eu tinha medo de
pegar no colo, assim como fiz quando meu primeiro filho nasceu. (E01)
[...] eu senti um aperto no coração, né? Nesse momento, a gente fica
sem chão, a gente perde a estabilidade, então, pra mim, foi uma a
coisa mais dolorosa [...] eu nunca tinha passado por isso. (E02)
[...] no momento da primeira visita a gente toma um susto, entendeu?é
muito aparelho ligado na criança. (E03)
[...] senti que foi uma surpresa, eu acho que nunca imaginava, né?
Nisso ai me pegou de surpresa [..]. chorei muito, fiquei triste,
sozinho [...] ele não conseguia respirar sozinho, era muito pequeno,
tive medo de tocar nele, eu nunca tinha um bebê nascido fora tempo,
não sabia que colocava tanto fio, tanto aparelho. (E07)
[...] eu vi que ele estava na UTI, eu me senti um inútil, sem poder
fazer nada porque é muito difícil a pessoa ter um filho assim e
passar por uma coisa dessa eu preferia tá no lugar dele hoje do que
ele tá ali.(E08)
Para os pais entrevistados, com o passar dos dias de hospitalização do
prematuro na UTIN, os sentimentos vão sendo intensificados, pois o prematuro é
um ser frágil e o risco de morte é eminente.
Para eles, o medo, a tristeza, a angústia e a impotência são acentuadas pela
percepção de que o filho não poderá ir para casa tão cedo, mediante suas
condições clínicas, o que provoca a sensação de vazio no domicílio e o choro
intenso. Nesta vivência, os pais informaram que se sentiram desesperados,
sozinhos e diariamente tristes, pelo fato de não possuir recursos para ajudar o
filho hospitalizado, conforme observado nas seguintes falas:
[...] Não tenho nem palavras pra explicar [..]. sinto bastante
tristeza, porque ele não está em casa com a família, sinto falta.
(E06)
[...] eu me senti muito mal, muito triste, chorei muito [...] muito
difícil, porque ele está aqui no hospital e não está na minha casa.
(E01)
[...] a sensação é de desespero, tristeza [..]. não dá nem vontade de
ficar em casa é só tristeza saber que tem um bebê ali tão pequeno
sofrendo, a gente chora, fica num cantinho ali, aí não tem como
segurar não. (E04)
[...] sinto bastante tristeza dele não estar em casa com família,
sinto falta. (E05)
[...] chorei muito, fiquei triste, sozinho, isso aí foi de uma hora
pra outra que aconteceu [...] eu estou sentindo que não estou muito
satisfeito porque que ele está ali queria que estivesse tudo em dias,
tudo ok. (E07)
C. Um novo pai
A doença e a hospitalização de um membro afetam o restante da família
provocando a expressão de diversos sentimentos. Por isso, os entrevistados,
referiram sofrer juntamente com a esposa que acompanha o prematuro na UTIN,
sendo este representado pelos episódios de choro e a necessidade de obter
informações sobre a verdadeira condição de saúde filho. Isso reforça o desejo
do pai de estar mais próximo da situação e elaborar estratégias para o seu
enfrentamento.
[...] quando vejo minha mulher chorando, vou num cantinho e choro
também, sei que ela sofre. (E04)
[...] Eu gostaria de saber o que realmente pode acontecer, de uma
hora pra outra as coisas podem mudar [...] eu mesmo, já começo a me
preparar para o que possa acontecer. (E05)
Entretanto, foi identificado em uma das entrevistas que a preocupação com a
situação clínica do prematuro seria uma obrigação materna e não do pai.
[...] no meu jeito de pensar, estou aceitando tranquilamente estou só
esperando a resposta, o desenvolver dela que acho que está sendo bom.
Mas em relação a preocupação eu creio que não, isso vai mais por
parte da mãe do que do próprio pai, o pai é mais na dele. (E09)
A situação de internamento do filho, muitas vezes dá a sensação de impotência
para os pais, geralmente, se sente culpado por pensar que não está cumprindo
seu papel de protetor e defensor do filho, daí surge o desejo de transferência,
de tomar para si a aquilo que o filho vive, como identificado nestas falas
seguintes:
[...] eu preferia tá no lugar dele hoje, do que ele tá ali.(E08)
[...] queria ta lá com ela, no lugar dela. (E03)
Ainda, a ideia de que o homem tem o papel de provedor da família, com a função
de providenciar o seu sustento e suprir suas necessidades básicas, pode ser
encarado pelo homem como uma obrigação, não sendo permitido falhar neste ponto.
Desta forma, durante a hospitalização do filho na UTIN, o pai vivencia uma
situação de estresse intenso, pois teme perder seu emprego por faltas, atrasos
ou licenças, e vê na continuação de suas atividades a segurança financeira que
precisa proporcionar à família.
Mas ao mesmo tempo em que tenta cumprir seu papel ele se sente culpado por não
passar mais tempo com seu filho hospitalizado.
[...] tenho que trabalhar [...] mas eu queria estar mais aqui com
ele, mas não posso estar aqui todo dia, moro em outra cidade e tenho
outros filhos também. (E04)
DISCUSSÃO
A experiência de ter um filho inaugura um momento importante no ciclo vital da
mulher e do homem, com grandes repercussões no meio familiar(1). Assim, o parto
prematuro significa interromper com o sonho de ter o filho em tempo normal,
livre de intercorrências uma vez que interfere no curso do processo gravídico e
desencadeia a hospitalização do recém-nascido em cuidados intensivos(8-9).
A hospitalização do recém-nascido na UTIN, por si só, é um evento atribulador,
que provoca estresse e insegurança nos familiares devido à condição de
vulnerabilidade de sua saúde. O enfrentamento dessa situação é mais difícil
quando a internação é necessária logo após o nascimento, substituindo a
idealização da chegada de um bebê saudável pelo enfrentamento das adversidades
e dos sentimentos provocados pela hospitalização(10).
Por isso, o parto prematuro é considerado um evento inesperado na vida dos
pais, já que o mesmo ocorre de uma forma não planejada, impactando na família,
por meio de mudanças na dinâmica e rotina familiar, gerando novas demandas e
papéis sociais que precisam ser reconhecidos pelos trabalhadores da saúde.
O pai, da mesma forma que a mãe acompanhante do prematuro na UTIN, precisa se
adaptar de maneira repentina à nova situação vivenciada diante do nascimento
prematuro, sendo esta uma experiência nova e com intenso sofrimento para ele,
já que vivencia a imprevisibilidade da situação clínica do filho hospitalizado.
Desta forma, o nascimento de um recém-nascido em condição de risco e a
necessidade de internação em cuidados intensivos, pode trazer aos pais
sentimentos de insegurança e incerteza quanto à vida e ao prognóstico deste
filho. Depois do nascimento, o momento que antecipa a primeira visita ao recém-
nascido é mistificado pela imagem popular acerca da UTIN como um ambiente
complexo, destinado a pacientes graves e com poucas expectativas de vida(10),
pois a ideia que permeia o imaginário popular sobre a UTIN é de um ambiente
inóspito, frio, silencioso e para onde são levados os pacientes em estado grave
que, geralmente ficam conectados a tubos e aparelhos, onde só é permitida a
entrada de funcionários e membros da família em horários pré-definidos.
Por isso, a internação na UTIN está relacionada à dor da separação, uma
associação quase imediata com a ideia de finitude e ao sentimento de morte.
Esta unidade é uma unidade de alta complexidade, onde o viver e o morrer estão
mais presentes na imaginação das famílias. Sendo um setor no qual o paciente é
admitido em estado crítico de saúde, passa a representar para os pais algo
adverso ao esperado durante a gravidez(10-11).
A falta de informação e de conhecimento prévio em relação à UTIN e a incerteza
quanto ao verdadeiro estado de saúde do recém-nascido são aspectos que geram
insegurança e medo nos pais. Destra maneira, os familiares desconhecem esta
unidade de cuidados complexos e suas rotinas considerando-o como ambiente
assustador(12).
Os pais vivenciam sentimentos diversos ao visitar o filho prematuro como a
impotência, a tristeza, a solidão e a dor. Tais sentimentos podem estar
associados às características da própria UTIN, sua dinâmica de funcionamento e
dispositivos de apoio à vida, utilizados para garantir e manter a sobrevida do
prematuro.
A UTIN é um cenário familiar para os profissionais de saúde que ali atuam,
porém, para os pais, pode parecer um ambiente hostil e pouco acolhedor
desencadeando sentimentos e reações desagradáveis como tristeza, ansiedade,
angústia e principalmente medo. Esta unidade pode ser traumatizante, pois na
maioria das vezes a admissão do paciente ocorre de forma não planejada gerando
nos familiares oscilações psicológicas expressas por diversas emoções, por
sentirem-se impotentes diante da situação vivenciada(11).
Outrossim, dentro da ordem familiar, a figura paterna é muitas vezes, por
questões históricas e sociais, vista como a de provedor do sustento, e
mantenedor da família. Neste contexto, o pai é considerado como protetor e
responsável pela resolução dos problemas de sua família. O pai, porém, ante o
fato de não poder resolver o problema de seu filho e acompanhá-lo durante seu
momento de fragilidade que é a internação em cuidados intensivos, sente-se
impotente(13).
A internação do prematuro na UTIN é uma situação de crise para toda a família,
pois esse é um ambiente ao mesmo tempo, estranho e assustador. Para agravar
essa situação, cabe citar que o bebê real é distante daquele imaginado pelos
pais e o sentimento de culpa pelos problemas do filho atua como fator que inibe
o contato natural entre pais e filhos prematuros. Ao entrar na UTIN pela
primeira vez, o pai experimenta a perplexidade e o medo em face de uma
realidade diferente da que foi idealizada com a chegada do seu filho(14).
É comum a família se assustar ao ver o recém-nascido conectado a tubos e a
aparelhos, imersos na estranheza do mundo do cuidado intensivo neonatal. A
visão de um bebê extremamente doente, cercado de cuidados e aparelhos, pode ser
muito dolorosa para os pais e certamente influenciará na qualidade do contato
inicial. Assim, o medo da perda iminente e do desconhecido transformará,
provavelmente, um momento de alegria em dúvidas e incertezas sobre o futuro
próximo(13).
A tristeza ganha um sentido bem mais amplo para os pais e está correlacionada
com a preocupação do fato de seu filho ficar internado, evidenciando-se a
frustração do pai em não levá-lo para casa, como esperado nos nove meses de
gestação(13). Os sentimentos dos pais relacionados ao bebê real, prematuro,
compreendem fracasso, orgulho ferido, irrealidade, culpa, aparência física
decepcionante, bebê incompleto e sensação de vazio(15).
Entretanto, mediante a inserção do pai no contexto do cuidado intensivo
neonatal, nota-se uma nova figura paterna, que se preocupa com a manutenção da
integridade e unidade familiar. Este novo pai além de vivenciar novos
sentimentos, experimenta a dor, a amargura e o receio ao deparar-se com o filho
na UTIN e com a sensação de não saber se irá conseguir lidar com toda essa
situação.
Este novo pai acredita participar ativamente da gestação de sua esposa, através
do apoio emocional ou material. O novo pai está mais disponível para ouvir sua
esposa, procurando compreender seus medos e angústias. Além disso, procuram
informar-se, através de leituras e troca de experiências com outros pais, sobre
assuntos relacionados à gestação e cuidados com o filho. O apoio material é
representado pela realização de tarefas para a esposa, sendo esta uma forma de
expressar seu interesse pelo recém-nascido e agradar sua esposa(16).
Enfrentar esta experiência põe em questão emoções e sentimentos que se
confrontam com a postura que o pai assume perante a família e a sociedade. Esse
pai anseia dar continuidade ao cuidado do filho prematuro, tentando harmonizar
aquilo que sente com aquilo que pensa e tem que fazer. Este novo pai possui
expectativas em relação ao papel paterno, de ser um pai participativo e
presente na vida do filho.
Estes pais, devido ao trabalho, não conseguem permanecer o tempo que gostariam
com seus filhos. A participação se resume, então, ao tempo que estes estão
disponíveis e não à integralidade de tempo em que a criança precisa de
cuidados. O "ser pai" tem abrigado uma coexistência entre modelos provenientes
dos sistemas patriarcal, moderno e pós-moderno, mistura que torna ainda mais
singular a experiência de cada homem. Mesmo convivendo com estes modelos
históricos, percebe-se que há um esforço dos pais em envolver-se afetivamente
com os filhos, demonstrando o amor e carinho que sentem, sem rechaçar os seus
sentimentos ou valores associados à sua "masculinidade"(17).
Diante do exposto, é possível notar que surge uma nova configuração paterna,
onde o pai não é mais visto como coadjuvante do processo de hospitalização do
prematuro na UTIN e provedor da família. Este novo pai passa a ter um papel
fundamental, assim como o da figura materna, pois faz parte de um sistema maior
que precisa ser inserido como unidade de cuidado nos estabelecimentos de saúde,
e que se preocupa com a situação de sua esposa e do filho hospitalizado,
rompendo com a cristalizada imagem de um ser que não pode expressar sentimentos
diante de uma sociedade que o afasta das ações de cuidado para com a sua prole.
Sendo assim, percebe-se a necessidade de os profissionais de enfermagem aliarem
a técnica e cuidado humanitário ao conhecimento, oferecendo cuidado integral à
família inserida no contexto do cuidado intensivo neonatal (18). Compreender a
experiência de ser pai de um recém-nascido prematuro internado na UTIN, não é
uma tarefa simples, mas necessária ao profissional que exerce sua prática junto
a esta clientela, sendo imprescindível a valorizar a co-municação, o
relacionamento humano e olhar atento sobre a forma como os mesmos vivenciam a
paternidade desde o início da gestação(14,19).
Os serviços de saúde devem ampliar o foco de observação e de cuidados para além
da dupla mãe-lactente, promovendo condições para participação do pai nos
diversos contextos do cuidado neonatal e pediátrico, e assim prevenir seu
distanciamento do exercício do papel de pai, em consonância com as modificações
no contexto familiar contemporâneo(20).
Por isso, ao vivenciar o processo de hospitalização do filho na UTIN, o pai
terá a oportunidade de expressar sentimentos remodelando o papel socialmente
designado para ele, inserindo-se como corresponsável no cuidado ao prematuro.
Ainda, a inserção da figura paterna no cuidado intensivo neonatal precisa ser
considerada como a extensão da atenção oferecida ao prematuro, ampliando a
visão dos profissionais de saúde para o Cuidado Centrado na Família.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados denotaram que ter um filho internado na UTIN é um evento visto
como assustador e uma surpresa na vida dos pais estudados, desencadeando
sentimentos de tristeza, angústia, dor e impotência. Além disso, foi percebido
que o ambiente desta unidade é desconhecido e estigmatizado por ser tido como
um lugar para morrer.
Os sentimentos dos pais são semelhantes aos das mães diante da hospitalização
de seus filhos prematuros, sendo o período de internamento um dos mais
turbulentos de sua vida, pois além das dificuldades diárias, o pai ainda tem de
conviver com a incerteza sobre o futuro do seu filho prematuro.
As informações obtidas sugerem que mesmo diante de difícil situação, o pai
deseja ser inserido no processo de hospitalização do filho, entretanto, muitos
deles não conseguem acompanhar de perto sua evolução por vários motivos, como
fatores financeiros, horários restritos de visitas, dentre outros.
Nesse estudo, a notícia da internação do recém-nascido prematuro na UTIN
proporcionou a vivência de sentimentos diversos, associados, geralmente, ao
medo e imprevisibilidade da morte do filho prematuro. Nessa perspectiva,
acredita-se que a imagem desta como um lugar sombrio, somente poderá ser
superada quando as pessoas tiverem informações claras e precisas sobre esta
unidade, sua dinâmica de funcionamento, pacientes que são indicados para o
cuidado neste setor e quais são os procedimentos realizados diariamente.
Percebeu-se que os pais participam do processo de hospitalização do prematuro
como um coadjuvante deste processo, sendo necessária sua inserção no cuidado ao
recém-nascido prematuro, entretanto não exclusivamente com um visitante diário,
mas como uma constante na vida do filho, que demanda atenção. Os pais poderiam
participar de alguns cuidados tais como o banho, a amamentação ou troca de
fraldas, como ocorre com a genitora.
Para a melhoria da participação paterna na UTIN sugere-se que a sua entrada
nessas unidades deva ser livre, sem limites, e visualizada como um direito do
mesmo e não como uma permissão concedida pela equipe de saúde ou visitante. É
preciso transferir para a prática as evidências do conhecimento relacionadas ao
sofrimento da família que vivencia a hospitalização do prematuro na UTIN e as
estratégias utilizadas para amenizar o impacto decorrente deste processo.
Assim, sugere-se a inclusão dos demais membros da família no contexto do
cuidado intensivo neonatal, para que desta forma a filosofia do Cuidado
Centrado na Família possa ser uma realidade da prática, transpondo o campo
teórico.
Por isso, a realização deste estudo foi relevante, pois os dados empíricos
poderão auxiliar os profissionais de saúde a repensar a forma como está sendo a
participação paterna durante a hospitalização do prematuro em cuidados
intensivos, bem como apontar mudanças em longo prazo na relação aí estabelecida
entre profissionais e a figura paterna.
Ainda, os dados empíricos poderão estimular a realização de novas
investigações, tendo em vista a reduzida produção do conhecimento relativa ao
objeto investigado. Outro ponto a ser investigado é a questão do gênero que
poderá ser discutida pelos profissionais envolvidos no cuidado ao neonato
prematuro com vista à reformulação das rotinas estabelecidas para a visita e
participação paterna no contexto da UTIN, no sentido de valorizar o potencial
desta nova figura no cuidado ao prematuro.