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BrBRCVHe0034-71672013000200005

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National varietyBr
Year2013
SourceScielo

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Subconjunto de conceitos diagnósticos da CIPE® para portadores de doença renal crônica

INTRODUÇÃO A Doença Renal Crônica (DRC) caracteriza-se pela perda progressiva e irreversível da função renal. Sua definição se a partir de dois critérios, que podem aparecer em conjunto ou isoladamente. São eles: anormalidades estruturais e/ou funcionais do rim por um período maior ou igual a três meses, ou seja, lesões estruturais renais e/ou taxa de filtração glomerular menor que 60ml/min/1,73m2; neste último caso, com ou sem lesão do parênquima renal(1).

O caráter progressivo da patologia é dividido, do ponto de vista clínico e epidemiológico, em vários estágios. No último deles, o estágio cinco, se faz necessário utilizar uma terapia renal substitutiva (TRS), pois os rins perderam as suas funções glomerulares, tubulares e endócrinas e não são capazes de manter a filtração, reabsorção, excreção e produção hormonal, gerando diversas repercussões clínicas para o indivíduo(1).

A DRC é considerada um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Costuma- se fazer um paralelo entre a mesma e um iceberg, em cuja ponta estariam os pacientes com DRC diagnosticada e, na parte submersa, aqueles pacientes ainda não descobertos, ou seja, que se encontram nas fases assintomáticas da doença.

Na América Latina, sua prevalência é de 330 pacientes por milhão de habitantes, ao passo que nos EUA é de 1.100. A única razão que se pode atribuir a tamanha diferença é a subnotificação da patologia na América Latina(2).

O caráter irreversível da doença obriga o paciente a conviver constantemente com rigoroso regime terapêutico, que inclui, entre outras coisas, restrição hídrica e dietética, terapia medicamentosa, frequentes consultas médicas e a realização de uma TRS. Para tanto, se faz necessário uma mudança no estilo de vida do próprio paciente e de seus familiares, que acaba por culminar com modificações também sobre a vida social de todos.

A diversidade de necessidades humanas apresentadas pelo doente renal crônico requer da Enfermagem um atendimento integral e individualizado, que pode ser facilitado pela utilização deliberada do Processo de Enfermagem (PE), uma ferramenta de que o enfermeiro utiliza para aplicação dos seus conhecimentos. O PE encontra-se regulamentado pela Resolução 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem, que "dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem". Ainda de acordo com a referida Resolução, o PE deve ser pautado por uma Teoria de Enfermagem e liderado pelo enfermeiro, sendo privativo deste profissional o diagnóstico e a prescrição de enfermagem(3).

A Teoria de Enfermagem norteia o desvelar da natureza e da vida e embasa a construção do conhecimento da profissão. Seu uso auxilia no reconhecimento da realidade, ajuda a definir papéis e promove uma adequação e qualificação do desempenho profissional. O PE, quando fundamentado numa Teoria de Enfermagem, adquire um caráter científico que facilita a tomada de decisão do enfermeiro conferindo-lhe uma prática segura e resolutiva(4).

Para Wanda de Aguiar Horta, a Enfermagem traçava um caminhar do empirismo em direção à ciência ao desenvolver suas próprias teorias e sistematizar os seus conhecimentos. A referida teórica dizia que "a autonomia profissional será adquirida no momento em que toda a classe passar a utilizar a metodologia científica em suas ações, o que será alcançado pela aplicação sistemática do processo de enfermagem"(5).

A implementação do PE em todas as suas etapas requer o suporte conceitual de uma teoria e pode ser facilitado pela utilização de uma classificação dos termos empregados na prática profissional. A visibilidade da profissão e o reconhecimento dos resultados alcançados por sua prática estão diretamente associadas à aplicação de uma linguagem comum, que possibilite a comparação de dados entre diversos setores clínicos e populações em áreas geográficas e/ou tempos distintos, que permita também a correlação entre as ações implementadas e os resultados obtidos e com isso facilite a alocação correta se recursos financeiros para a saúde(6).

A Resolução que previa o desenvolvimento da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem - CIPE® foi aprovada pelo Conselho de Representantes Nacionais do CIE por ocasião do Congresso Quadrienal realizado em 1989, em Seul, Coréia. A partir de então, o CIE envidou esforços para a concepção de tal classificação, que ao longo dos anos foi sendo melhorada e aprimorada. Em 2008, a CIPE® foi reconhecida como parte da Família de Classificações Internacionais da Organização Mundial da Saúde (FCI-OMS)(7).

A CIPE® possui como objetivos estratégicos servir como base para a articulação entre a contribuição da Enfermagem e a saúde global, bem como promover a harmonização com outras classificações utilizadas. Os benefícios de sua utilização consistem no estabelecimento de uma linguagem internacional que facilite a descrição e a comparação das práticas de enfermagem; a representação dos conceitos de enfermagem utilizados nas diversas especialidades e culturas; a geração de informações sobre a prática que influenciem na tomada de decisão e na construção de políticas de saúde; a melhoria da comunicação entre os profissionais de saúde e, ainda, a possibilidade de propiciar um conjunto de dados que subsidiem pesquisas na área(8).

A partir da Versão 1.0, lançada em 2005, a CIPE® adotou uma nova estrutura de classificação dos termos nela contidos, o Modelo de Sete Eixos: Foco, Julgamento, Cliente, Ação, Meios, Localização e Tempo. Os termos constantes nestes eixos, seguindo as regras estabelecidas pela CIPE®, auxiliam a tomada de decisão clínica e a elaboração de afirmativas que contemplam os elementos do processo de cuidar/cuidado da Enfermagem: o que fazer (intervenções) em função de necessidades humanas identificadas (diagnósticos) para alcançar um resultado satisfatório (resultados)(6).

O Modelo dos Sete Eixos facilita a composição de afirmativas, que podem ser organizadas de modo a se ter acesso rápido a agrupamentos de "enunciados preestabelecidos de diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem" - os Subconjuntos de Conceitos da CIPE®, anteriormente denominados Catálogos CIPE® (9).

A elaboração de Subconjuntos de Conceitos da CIPE® tem sido uma estratégia do CIE para facilitar o uso dessa classificação durante a execução e registro do Processo de Enfermagem. Os Subconjuntos de Conceitos da CIPE® são compostos por enunciados preestabelecidos de diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem, que podem estar direcionados tanto a clientelas (indivíduo, família e comunidade), quanto a prioridades ou a condições específicas de saúde, ambientes ou especialidades de cuidado, bem como a fenômenos específicos de enfermagem. Podem originar dados a serem usados para apoiar e melhorar a prática clínica, o processo de tomada de decisão, a pesquisa e a formação profissional. Além disso, têm o potencial de contribuir para a expansão do uso da CIPE® no âmbito mundial, uma vez que permitem focalizar as variações culturais e linguísticas, locais, regionais e nacionais(9).

Portanto, muitos são os benefícios que podem advir da utilização destes Subconjuntos de Conceitos: o uso de uma linguagem unificada permite o mapeamento das ações de enfermagem, bem como a descrição consistente destas ações e dos resultados por elas gerados. Esta documentação sistemática aumenta a segurança do trabalho da Enfermagem e a qualidade dos cuidados prestados(9).

Em 2008, foi publicado o Guia para Desenvolvimento de Subconjuntos de Conceitos CIPE® e o primeiro desses Subconjuntos, Estabelecer parceria com indivíduos e família para promover aderência ao tratamento. Em 2009, houve a publicação do Subconjunto Cuidado paliativo para morte digna. A CIPE® não estabelece um modelo teórico ou conceitual específico para a construção dos Subconjuntos de Conceitos, ficando esta escolha livre aos seus desenvolvedores(9-10).

O estímulo à construção dos Subconjuntos de Conceitos CIPE®, por parte do CIE, aponta a possibilidade de relacionar os Diagnósticos de Enfermagem aplicáveis aos pacientes renais crônicos no estágio final da doença, quando carecem de terapia renal substitutiva e, assim, atendê-los em toda sua complexidade, desde os diagnósticos de enfermagem relacionados aos aspectos biológicos até àqueles relacionados às suas necessidades sociais e espirituais.

A partir da reconhecida demanda por um atendimento integral ao doente renal e todas as necessidades por ele apresentadas, a questão que norteou este estudo foi: que afirmativas de diagnósticos de enfermagem pertinentes ao doente renal crônico no estágio cinco da doença podem ser construídas, tendo como base a CIPE® Versão 2, a literatura da área e as Necessidades Humanas Básicas? A realização desta pesquisa se justificou pela necessidade de uma abordagem integral aos pacientes renais crônicos, bem como pela emergência de padronização da linguagem prática da Enfermagem. A construção de um subconjunto de diagnósticos de enfermagem para pacientes renais crônicos em estágio terminal permite, ao mesmo tempo, a individualização do cuidado e a documentação da prática profissional, dando visibilidade ao trabalho da Enfermagem e promovendo a melhoria assistencial.

Os objetivos deste estudo foram: propor um subconjunto de diagnósticos de enfermagem para pacientes renais crônicos, no estágio cinco da doença, elaborando-os segundo as orientações da CIPE® e organizando-os de acordo com a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta; e validar o subconjunto de diagnósticos de enfermagem proposto, submetendo-os a especialistas para julgamento de sua pertinência a pacientes renais crônicos, no estágio cinco da doença.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo que, em sua realização, foi dividido em duas etapas: 1) elaboração das afirmativas de diagnósticos de enfermagem com base nos termos constantes no Modelo dos Sete Eixos, da CIPE® Versão 2; e 2) validação das afirmativas de diagnósticos de enfermagem, submetendo-os a especialistas que julgaram sua pertinência a pacientes renais crônicos, no estágio cinco da doença.

A primeira etapa consistiu em levantamento de artigos científicos na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando-se o descritor Insuficiência Renal Crônica, publicados no período de 2006 a setembro de 2011, que tratassem de temas pertinentes à doença renal crônica comum à maioria dos doentes renais no estágio cinco da patologia. Foram definidos como critérios de exclusão: artigos que tratavam de grupos humanos específicos como gestantes, portadores de HIV, crianças e usuários de drogas; bem como artigos referentes ao tratamento conservador e aos pacientes transplantados. Foram incluídos os artigos disponíveis na íntegra e nos idiomas português, inglês e espanhol.

Esses artigos foram categorizados em temas centrais que fundamentaram a construção dos diagnósticos de enfermagem. São eles: Uremia e Neuropatia; Desequilíbrio Hidroeletrolítico; Osteodistrofia Renal; Diabetes Mellitus; Hipertensão Arterial Sistêmica; Doença Cardiovascular; Anemia; Infecções na DRC; Nutrição na DRC; Família e Cotidiano; Sentimentos Conflitantes e Adesão ao Tratamento e Aspectos Espirituais. A partir da discussão destes temas centrais, foi realizado um mapeamento cruzado entre as evidências clínicas neles encontradas e os termos do eixo Foco, do qual foram extraídos os componentes das afirmativas diagnósticas, a que se adicionou um termo do eixo Julgamento, seguindo a orientação da CIPE® para construção das afirmações diagnósticas. Em seguida, estas afirmativas foram distribuídas de acordo com as Necessidades Humanas Básicas.

Na segunda etapa, as afirmativas dos diagnósticos de enfermagem foram apresentadas a um grupo de oito especialistas, sendo dois enfermeiros professores de nefrologia e seis enfermeiros assistenciais, lotados em um centro de diálise de um hospital escola localizado na cidade de Niterói-RJ, todos com mais de cinco anos de atuação em nefrologia. No instrumento proposto, o participante foi orientado a assinalar sim, quando considerasse que o diagnóstico era concernente ao doente renal no estágio cinco da doença; e não, quando julgasse que o mesmo não era pertinente. De maneira que, somente a pertinência da afirmativa de diagnóstico de enfermagem ao doente renal foi julgada. Foram consideradas válidas as afirmativas de diagnósticos que apresentaram um Índice de Concordância (IC)≥0.80. Os especialistas participantes do estudo também receberam um guia com os conceitos dos diagnósticos de enfermagem. Estes foram extraídos das definições dos termos do eixo Foco e Julgamento contidas na CIPE® Versão 2.(10).

O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antonio Pedro tendo sido aprovado com o número de Protocolo 0332.0.258.000-11. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa na base de dados LILACS resultou em 68 artigos que foram analisados e distribuídos nos seguintes temas centrais, mencionados: Uremia e Neuropatia; Desequilíbrio Hidroeletrolítico; Osteodistrofia Renal; Diabetes Mellitus; Hipertensão Arterial Sistêmica; Doença Cardiovascular; Anemia; Infecções na DRC; Nutrição na DRC; Família e Cotidiano; Sentimentos Conflitantes e Adesão ao Tratamento e Aspectos Espirituais.

Foi, portanto, a partir da discussão destes temas que foram identificadas evidências clínicas, submetidas a um processo de mapeamento cruzado com os termos constantes no eixo Foco da CIPE® Versão 2. Em seguida a este mapeamento, os diagnósticos foram formulados e distribuídos de acordo com os conceitos principais da Teoria das Necessidades Humanas Básicas - necessidades psicobiológicas, necessidades psicossociais e necessidades psicoespirituais - e suas respectivas subcategorias.

Os 47 diagnósticos de enfermagem que contemplam as Necessidades Psicobiológicas do doente renal crônico no estágio cinco da doença, validados pelos especialistas, estão apresentados no Quadro_1.

A perda progressiva de massa renal diminui a disponibilidade de néfrons funcionais e reduz progressivamente as funções glomerulares, tubulares e endócrinas do rim. No estágio cinco da doença, os rins perdem a capacidade de manutenção da homeostase do organismo(1).

A filtração glomerular é reduzida e a capacidade de excreção de água e produção de urina ficam prejudicadas, em consequência disso tem-se o acúmulo de líquidos no organismo. Isto requer uma severa restrição hídrica, que se não seguida, pode culminar com o edema agudo de pulmão. Além disso, a sobrecarga hídrica é danosa à pressão arterial e ao coração provocando um aumento constante do débito cardíaco(11).

A perda da capacidade de reabsorção e excreção tubulares ocasiona o acúmulo de diversos eletrólitos. A hipernatremia, que eleva a pressão arterial e contribui para a retenção hídrica; a hiperfosfatemia, que colabora para a redução do cálcio circulante a alimenta o processo de retirada de cálcio dos ossos; a hiperpotassemia, responsável por um risco iminente de morte em função da sua capacidade de provocar arritmia cardíaca e o excesso de íons H+ responsável pela acidose metabólica e o consequente desequilíbrio no sistema tampão(11).

Outro acúmulo importante é o da ureia, que se eleva no sangue e, por ser difusível no lúmen gastrointestinal, provoca náuseas e vômitos. Além disso, se não controlada, essa elevação acomete o sistema nervoso central causando a encefalopatia urêmica e diversos sintomas dela decorrentes(1).

A eritropoetina, hormônio produzido pelos rins, é responsável por estimular a produção de hemácias na medula óssea. Consequentemente, sua redução provoca anemia e diminui a disponibilidade de oxigênio circulante, causando fadiga, cansaço, dispneia, diminuição da libido, entre outros sintomas(12). A outra função endócrina do rim afetada pela redução da massa renal é a produção do metabólito ativo da vitamina D. Este metabólito é o responsável pela absorção de cálcio intestinal, logo, sua redução provoca uma hipocalcemia. Os níveis baixos de cálcio estimulam a produção de paratormônio pelas paratireoides para que seja retirado o cálcio dos ossos e restabelecido o nível satisfatório de cálcio no sangue. Assim, os ossos tornam-se quebradiços e um risco constante de quedas e fraturas. Além disso, o cálcio circulante acumula-se no interior dos vasos e nos tecidos moles, calcificando-os(12).

A doença cardiovascular é a primeira causa de morte entre os doentes renais, pois eles têm dez vezes mais chances de desenvolver uma doença arterial coronariana e trinta vezes mais chances de morrer por causas cardiovasculares (13). A segunda causa de morte são as infecções, uma vez que a necessidade permanente de acesso para diálise traduz uma constante exposição ao risco de infecção. Além disso, a manipulação sanguínea nos centros de diálise predispõe à hepatite B e C(14).

Os 21 diagnósticos de enfermagem que contemplam as Necessidades Psicossociais do doente renal crônico no estágio cinco da doença, validados pelos especialistas, estão apresentados no Quadro_2.

Estudos qualitativos, identificados na etapa de revisão da literatura, que focalizavam a percepção do doente renal no enfrentamento da doença, trazem constantemente questões relacionadas à descoberta da necessidade de diálise.

Esta descoberta, em geral abrupta, transforma a vida do doente e requer deste e de seus familiares um ressignificado de papéis e valores. Ao se deparar com o diagnóstico de uma doença crônica e irreversível, o paciente vivencia sentimentos variados, como angustia, sensação de incapacidade, diminuição do interesse e do prazer nas atividades, irritação, deterioração nas relações sociais e familiares e negação(15).

A necessidade de adaptação ao rigoroso regime terapêutico instituído requer do paciente e de seus familiares uma mudança no estilo de vida e na rotina familiar. A maneira de enfrentamento que cada família estabelece vai ser influenciada por suas crenças, valores, características e cultura. Cabe ressaltar, ainda, que, quando um indivíduo adoece, o papel que este ocupa no seio familiar também irá repercutir no modo de enfrentamento da doença. Se este ocupar um papel de provedor, também recairá sobre a família o desafio de readequar as finanças e encarar prováveis privações materiais(16).

Apesar de maneiras peculiares de reação, é fato que haverá, em algum momento, estresse e conflito no seio familiar, variando em intensidade e duração. A estabilidade psicológica se encontrará abalada podendo afetar a sustentabilidade da família. Neste momento, pode ser fundamental o apoio de uma rede social composta por amigos e também pelos profissionais de saúde(16).

A DRC traz consigo uma necessidade de modificação do estilo de vida que, na maioria das vezes, rompe com os paradigmas defendidos e vivenciados pelos doentes. A perda da autonomia se torna uma das maiores barreiras, suas vidas passam a ser direcionadas pela equipe de saúde, pela máquina, e pelas repercussões da patologia em si(17).

Outra questão apontada por estes doentes é o convívio com o tratamento em si, por vezes visto como salvação e, por vezes, como obrigação. Esta dualidade de sentimentos reflete diretamente na adesão ao tratamento. Além dos questionamentos pessoais, é pontuado por estes doentes o preconceito social retratado aqui não apenas como discriminatório, mas por um desconhecimento da sociedade em geral sobre a patologia, o tratamento e as possibilidades de vida do doente(17).

A não adesão ao regime terapêutico é uma realidade entre os doentes renais, que vem sendo objeto de investigação de muitos autores. Compreender as razões associadas ao fato permite à equipe de saúde traçar estratégias individuais e coletivas no sentido de melhorar esta adesão e reduzir a taxa de morbidade/ mortalidade. São considerados fatores que influenciam na adesão ao tratamento: as peculiaridades da terapia escolhida, as características individuais do cliente, os aspectos da relação com a equipe de saúde, as condições socioeconômicas e de acesso à atenção à saúde(18-19).

As redes de apoio são fundamentais para dar segurança ao paciente, o envolvimento e comprometimento de familiares e amigos dão esperança e confiança para seguir uma terapia rígida e que não tem perspectiva de término. Acredita- se que a aceitação do tratamento passa, na verdade, pela aceitação da doença e que esta depende de fatores internos da pessoa e externos a ela. Outras condições que interferem na adesão são o nível de escolaridade, os efeitos colaterais da terapia e sua complexidade, a falta de acesso aos medicamentos e a longevidade da terapia(18-19).

Os 2 diagnósticos de enfermagem que contemplam as Necessidades Psicoespirituais do doente renal crônico no estágio cinco da doença, validados pelos especialistas, estão apresentados no Quadro_3.

Outro aspecto importante a se considerar na abordagem holística do doente renal é a espiritualidade, aqui entendida como a necessidade de conexão com algo maior que si próprio e que transcende o tangível. Independente de religião, considerada como a formalização do culto e da doutrina, a espiritualidade parece apresentar importante papel em diversos momentos da vida(20).

A cronicidade da DRC parece despertar ou reascender em muitos doentes suas conexões espirituais. No entanto, o efeito destas sobre o enfrentamento da doença ainda é bastante obscuro. Os profissionais de saúde precisam estar sensíveis às necessidades espirituais dos seus pacientes, entendendo-as como parte de um todo e que precisam ser trabalhadas(20). Cabe ressaltar, no entanto, que muitas vezes os próprios profissionais não estão preparados para lidar com tais aspectos e que aceitar as práticas religiosas de outras pessoas, destituindo-se de qualquer influência pessoal, é um desafio.

Estamos cientes que os diagnósticos Crença espiritual alterada e Crença religiosa alterada são muito pouco específicos, mas a espiritualidade não pode deixar de ser abordada pela equipe de enfermagem, respeitando-se sempre as particularidades de cada indivíduo e de suas crenças.

Validação dos Diagnósticos de Enfermagem Foi elaborado um total de setenta e sete (77) afirmativas de diagnósticos de enfermagem, os quais foram submetidos à validação por especialistas. Deste total, setenta (70), equivalendo a 90%, obtiveram um índice de concordância≥0.80, sendo considerados válidos para o doente renal crônico no estágio cinco da patologia (Gráficos 1, 2 e 3).

A CIPE® Versão 2 apresenta uma série de afirmativas de diagnósticos de enfermagem, que podem ser aplicados na prática clínica do enfermeiro em seu ambiente de trabalho. O mapeamento cruzado das setenta (70) afirmativas aqui validadas com as que constam no sistema de classificação mostrou que vinte e cinco (25) afirmativas formuladas estavam descritas, tendo sido elaboradas, portanto, quarenta e cinco (45) novas afirmativas.

A CIPE® é um sistema de classificação versátil que permite adequar-se às diversas realidades e culturas respeitando suas singularidades e particularidades. Possui fácil utilização e a partir das afirmativas pré- coordenadas, como sugerem os subconjuntos de conceitos, torna-se mais adequada aos sistemas informatizados.

Apesar de apresentarem evidências clínicas bem descritas na literatura que conduziram ao mapeamento cruzado destas com os termos do eixo Foco, e consequente elaboração da afirmativa diagnóstica, sete (7) afirmativas diagnósticas não foram validadas. Atribui-se esse fato a uma provável discordância com os termos empregados ou à não vivência dos participantes da pesquisa com pacientes que apresentassem tais respostas humanas. Ressalte-se que outras sete (7) afirmativas diagnósticas foram propostas pelos especialistas, no espaço reservado para tal fim no instrumento apresentado; no entanto, as mesmas não foram submetidas à validação. Tanto os diagnósticos que não foram validados, quanto aqueles propostos pelos especialistas, estão dispostos no Quadro_4.

Quadro 4 - Afirmativas de Diagnósticos de enfermagem não validados e sugeridos pelos especialistas.

Ao final, o conjunto de diagnósticos de enfermagem construído ficou composto por setenta (70) afirmativas validadas. Das vinte e oito (28) subcategorias de Necessidades Humanas Básicas, dezenove (19) foram contempladas. Foi construído, portanto, um conjunto de afirmativas bastante abrangente, que poderá subsidiar uma assistência de enfermagem mais integral ao paciente renal crônico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O subconjunto de conceitos diagnósticos que resultou desta pesquisa foi construído a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica e da utilização das regras propostas pela CIPE® para composição dos diagnósticos, tendo como suporte teórico as Necessidades Humanas Básicas.

Utilizando-se a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta, foi possível distribuir os diagnósticos de enfermagem nas categorias psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais, abrangendo o indivíduo na sua totalidade, de forma que, não apenas as repercussões biológicas da patologia fossem identificadas, mas também as repercussões familiares e sociais. A utilização da CIPE® mostrou como este sistema de classificação é versátil, capaz de atender a uma multiplicidade de repostas humanas e facilmente adaptável à cultura de trabalho local. As afirmativas propostas foram bem aceitas e bem compreendidas pelos participantes do estudo.

A validação de conteúdo das afirmativas foi possível utilizando-se a metodologia definida, de maneira que 90% dos diagnósticos de enfermagem formulados obtiveram um índice de concordância≥0.80. Esta concordância demonstrou que, apesar de não registrarem formalmente o Processo de Enfermagem, os diagnósticos de enfermagem fazem parte do dia a dia profissional dos participantes da pesquisa. Estes, além de responderem ao questionário, também fizeram sugestões para a inclusão de sete novos diagnósticos não contemplados no conjunto inicial.

A padronização da linguagem utilizada nos diagnósticos de enfermagem deve ser estimulada na assistência, pois sua realização favorece o registro sistemático da prática clínica da Enfermagem, subsidia uma prática baseada em evidências, possibilita a mensuração e avaliação dos cuidados prestados e, consequentemente, contribui para uma melhoria na qualidade do serviço. Por outro lado, o paciente renal crônico, tão múltiplo e complexo, poderá se beneficiar de uma assistência integral, tendo suas necessidades atendidas de maneira mais ampla e estruturada.


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