Diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em unidade de alojamento
conjunto
INTRODUÇÃO
O leite materno é o alimento essencial e mais completo para a criança, pois é o
único que oferece substâncias e nutrientes que esta precisa para crescer e se
desenvolver com saúde. O tempo preconizado para o Aleitamento Materno Exclusivo
(AME) é de seis meses, podendo se prolongar até dois anos junto com outros
alimentos(1).
Essa prática possui importância fundamental para a saúde da criança, já que
apresenta valores nutricionais e imunológicos ao crescimento e desenvolvimento
infantil, oferecendo também benefícios psicológicos para o binômio mãe-filho,
auxiliando na formação do vínculo afetivo entre ambos(2).
Ademais, o aleitamento materno também apresenta vantagens para a mulher, pois
auxilia no fortalecimento do vínculo afetivo com o bebê, ajuda na involução
uterina, atua na diminuição do risco de hemorragia, contribui ainda para o
retorno ao peso anterior ao da gestação, além de auxiliar no intervalo entre as
gestações(1).
Para a criança, são muitas as vantagens da amamentação, pois recebe alimento
completo, sem necessidade de qualquer acréscimo até os seis meses de idade,
além de ajudar na excreção do mecônio e de conferir proteção contra infecções
(1). É válido ressaltar que o aleitamento materno tem fundamental importância
na promoção do contato entre mãe e filho, fortalecendo, assim, o vínculo entre
ambos(3).
Diante disso, os enfermeiros devem incentivar o aleitamento materno e apoiar as
mães para iniciá-lo o mais precocemente, auxiliando-as a adquirir autoconfiança
em seu potencial para amamentar o filho(4).
Tendo em vista que a Enfermagem presta assistência juntamente a uma equipe
multidisciplinar que se encontra capacitada para desenvolver a atenção
humanizada ao binômio mãe-filho, torna-se significante o incentivo ao
aleitamento materno, com vistas ao melhor desenvolvimento da criança e a
promoção do apego eficaz.
Devido ao número insuficiente de enfermeiros, ou ao excesso de atividades
administrativas, ocorrem lacunas na assistência ao binômio mãe-filho, que podem
resultar em uma atuação pouco expressiva ou ausente do enfermeiro na
assistência ao aleitamento materno durante o pós-parto(5). Contudo, as ações de
enfermagem relacionadas ao aleitamento materno devem ser direcionadas e
efetivas. Estas podem ser realizadas por intermédio da Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) ou do Processo de Enfermagem (PE).
A Sistematização da Assistência de Enfermagem é relevante para a coordenação
das atividades do enfermeiro, sendo útil tanto nas tarefas administrativas
quanto nas assistenciais, dinamizando as ações de enfermagem. O Processo de
Enfermagem (PE) auxilia o enfermeiro na organização e sistematização da prática
de enfermagem, intensificando a valorização e o reconhecimento da enfermagem
enquanto ciência(5-6).
Destaca-se que a insuficiente utilização de uma linguagem universal para
descrever a prática profissional tem comprometido o desenvolvimento da
Enfermagem como ciência(7). Neste sentido, observa-se a relevância da
padronização da assistência de enfermagem por meio do Processo de Enfermagem.
A responsabilidade de cuidar em enfermagem exige que as decisões sobre as
intervenções propostas sejam fundamentadas na avaliação do estado de saúde do
indivíduo. Para tanto, esta avaliação requer a adoção do diagnóstico de
enfermagem como referência para que ações de enfermagem sejam executadas(8). A
assistência sistematizada representa uma opção adequada, pois oportuniza um
cuidado mais individualizado, segundo as necessidades do cliente(9).
A NANDA Internacional (NANDA-I) define diagnóstico de enfermagem como o
"julgamento clínico das respostas do indivíduo, da família ou comunidade a
problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais, proporcionando base
para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir resultados pela quais
o enfermeiro é responsável"(10).
O diagnóstico de enfermagem é útil para estruturar o conhecimento da
Enfermagem, direcionar a necessidade de cuidados do paciente e definir o papel
do enfermeiro. A atividade diagnóstica aproxima o enfermeiro de seus clientes,
facilitando, assim, o desenvolvimento de sua assistência, ao mesmo tempo em que
se constitui em um instrumento facilitador das ações de enfermagem, uma vez que
apontam as devidas intervenções de acordo com a necessidade do paciente(8-11).
Assim, ressalta-se que a promoção da qualidade da assistência de enfermagem,
através dos DE, compromete toda a equipe de enfermagem, que deverá empenhar-se
com o objetivo de atender às necessidades dos pacientes, possibilitando a
implementação de intervenções sistematizadas, contribuindo para melhoria da
assistência(12-13).
O interesse em desenvolver um estudo que permitisse a identificação de
diagnósticos de enfermagem relacionados ao aleitamento materno no alojamento
conjunto deu-se em razão importância da sistematização do cuidar durante o
processo de amamentação, uma vez que a amamentação constitui-se num processo
complexo de interação mãe e filho.
Os diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação, de acordo com a
taxonomia II da NANDA-I (2009-2011) são: amamentação eficaz, amamentação
ineficaz, amamentação interrompida. Na estrutura da taxonomia II da NANDA-I, os
diagnósticos supracitados são categorizados como Diagnósticos Reais
pertencentes ao Domínio 7: Papéis e relacionamentos; Classe 3: Desempenho de
papéis(10).
Amamentação eficaz é definida como a adequada proficiência e satisfação com o
processo de amamentação para o binômio mãe-filho. Amamentação ineficaz
representa a insatisfação ou dificuldade que a mãe, bebê ou criança experimenta
com o processo de amamentação. Amamentação interrompida consiste na quebra do
processo de amamentação como resultado de incapacidade ou inconveniência de
colocar a criança no peito para mamar(10).
Para o processo de julgamento clínico dos diagnósticos reais, faz-se necessário
a interpretação da definição do enunciado diagnóstico, características
definidoras e fatores relacionados, uma vez que o enfermeiro deve se preocupar
com a existência de riscos à exatidão das interpretações(10).
O enunciado e definição diagnóstica oferecem uma descrição clara e exata do
enunciado que ajuda ao enfermeiro distinguir de outros diagnósticos similares.
As características definidoras são indícios/inferências passíveis de
observação, agrupadas como manifestações clínicas de todos os Diagnósticos
Reais, ou seja, da situação diagnóstica (Ex: sucção no peito regular). Os
fatores relacionados mostram uma relação padronizada com o diagnóstico de
enfermagem, e estes geram a elaboração das intervenções de enfermagem
individualizadas (Ex: estrutura oral da criança normal) (10).
Diante do exposto, percebeu-se a necessidade da identificação dos DE
relacionados ao aleitamento materno na unidade de Alojamento Conjunto (AC), uma
vez que este estudo pode contribuir para a elaboração de uma assistência
individualizada de acordo com as necessidades da mãe e filho. Objetivou-se
identificar os diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação em recém-
nascidos de uma unidade de Alojamento Conjunto, de acordo com a taxonomia II da
NANDA-I(10).
METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem quantitativa,
desenvolvida em uma Unidade de Alojamento Conjunto (AC), de um hospital público
estadual, em Fortaleza-CE, credenciado pelo Sistema Único de Saúde, que tem o
título de Hospital Amigo da Criança.
A Unidade de Alojamento Conjunto é uma unidade com enfermarias com dois ou
quatro leitos, com pias, bancada para higienização dos recém-nascidos.
Atualmente, encontram-se credenciados 32 leitos. Prestam assistência por turno
um Enfermeiro e um Técnico de Enfermagem para cada 15 recém-nascidos. Sessões
de orientação sobre aleitamento materno são oferecidas diariamente pelos
membros da equipe de enfermagem.
A população foi composta por 240 mães com bebês admitidas no AC. A amostragem,
por conveniência, incluiu 83 mães, admitidas no AC, de acordo com a demanda do
serviço, no período de fevereiro a abril de 2011, e que se encontravam com os
filhos no processo de amamentação. Foram excluídas mães portadoras de HIV,
recém-nascidos com idade gestacional menor do que 35 semanas e mães portadoras
de distúrbios psiquiátricos.
As mães foram contatadas no AC pela pesquisadora e convidadas a participarem do
estudo. Utilizou-se para a coleta de dados formulário semiestruturado,
fundamentado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta(14), que
serviu de roteiro para realização da anamnese e do exame físico da puérpera e
do recém-nascido (RN). A partir dos dados coletados, realizou-se o julgamento
clínico para a identificação dos diagnósticos de enfermagem relacionados com a
Amamentação, bem como os fatores relacionados e características definidoras,
baseando-se na taxonomia II da NANDA-I(10).
Atualmente, o sistema de classificação de Diagnósticos de Enfermagem, da
Taxonomia II, da NANDA-I (10), tem sido o mais utilizado na prática clínica
hospitalar, uma vez que proporciona a base para seleção de intervenções de
enfermagem para alcançar resultados pelos quais a enfermeira é responsável.
A pesquisa foi desenvolvida em consonância com a Resolução 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde/Ministério da Saúde que discorre sobre a pesquisa envolvendo
seres humanos, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, conforme número
091202/10. Cada participante assinou um Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE), sendo informado acerca da garantia do sigilo que assegurava
a privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa.
Após identificação dos DE, os dados foram organizados e apresentados em tabelas
com frequência absoluta e percentual, e discutidos conforme literatura
pertinente ao tema.
RESULTADOS
Tabela 1 - Descrição das características das puérperas de uma unidade de
Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.
![](/img/revistas/reben/v66n2/06t01.jpg)
A amostra foi composta de 83 mães, com predominância na faixa etária de 20 a 34
anos, representando 47 (56,6%), seguido da faixa etária de 14 a 19 anos, com 25
(30,2%), a faixa etária acima de 35 anos esteve entre 11 (13,2 %) mães
participantes do estudo. A escolaridade foi diversificada, predominando o
Ensino Fundamental incompleto, 41 (49,4%), e Ensino Médio completo, com 23
(27,7%) mães. Em relação ao estado civil, 44 (52,4%) das mães encontravam-se em
união consensual, seguido do estado civil casada, com 21 (25,3%). A maioria das
mães realizou consulta de pré-natal na instituição de realização do estudo, 51
(60,7%). O total de mães que recebeu orientação sobre aleitamento materno foi
de 53 (63,9%), portanto, constituindo a maioria das mães.
Tabela 2 - Descrição das características dos recém-nascidos em uma unidade de
Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.
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Em relação ao sexo dos recém-nascidos, predominou o masculino, com 56 (67,5%).
O parto cesáreo ocorreu em 54 (65,1%) das mulheres, seguido do parto normal, 29
(34,9%). A idade gestacional predominante foi de 38 a 42 semanas de gestação 62
(74,7%). O nascimento de recém-nascido com peso acima de 2.500g foram 70
(84,3%).
Tabela 3 - Descrição dos Diagnósticos de Enfermagem em uma unidade de
Alojamento Conjunto. Fortaleza, CE, 2011.
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O diagnóstico de enfermagem prevalente foi Amamentação eficaz, identificado em
65(78,3%) dos casos, seguidos de Amamentação ineficaz 11(13,3%) e Amamentação
interrompida com 7(8,4%) dos casos.
Tabela 4 - Distribuição de frequência das características definidoras e dos
fatores relacionados segundo diagnósticos de enfermagem. Fortaleza-CE, 2011.
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O DE Amamentação eficaz a característica definidora (CD) mais frequente foi a
criança está satisfeita após a mamada 55(84,6%) e o fator relacionado (FR) foi
a estrutura oral da criança normal 65 (100%). O DE Amamentação ineficaz a CD
mais frequente foi a criança exibe agitação 11 (100%) e FR foi ansiedade
materna, 8(72,7%). A amamentação interrompida foi verificada em sete
participantes, da qual teve como CD separação mãe-filho e desejo da mãe de
oferecer o seu leite, 5(71,4%), e FR prematuridade, 6(85,7%).
DISCUSSÃO
Caracterizou-se a amostra como de puérperas jovens, ressaltando-se a presença
de adolescentes (30,2%) na amostra, o que representa um dado considerável, pois
requer do serviço de pré-natal a disponibilidade de estratégias e tempo para o
acompanhamento destas gestantes, a fim de melhorar os índices de AME(15). Vale
destacar que neste período, a mulher já vivenciou ajustamentos sociais e
psicológicos, o que provoca mudanças, que influenciam e melhoram o
autoconceito, pois se tratam de mães adultas, das quais possuem maturidade para
cuidar de seus filhos.
Ademais, destaca-se que a maioria das puérperas não concluiu o Ensino Médio.
Estudos apontam a escolaridade como fator para a dificuldade da amamentação(16-
17). As puérperas informaram que durante as consultas foram orientadas sobre a
realização da amamentação. Vale ressaltar que, as mães que realizaram o pré-
natal na instituição onde se realizou a pesquisa, participam de sessões
educativas na sala de espera ministradas por enfermeiros do Núcleo de
Aleitamento Materno (NUAM) e acadêmicos de enfermagem. Ao serem admitidas no
AC, foram incentivadas e recebiam apoio da equipe de multiprofissional, em
particular da enfermagem para amamentar.
Estudo realizado com bebês em idade gestacional de 35 a 37 semanas,
considerados prematuros que se encontravam com suas mães no AC, identificou a
idade gestacional como fator definidor para ocorrência da amamentação materna,
pois bebês prematuros necessitam de maiores cuidados. Vale ressaltar a
importância do apoio ao abordar a mãe sobre amamentação, pois o bebê pode
apresentar dificuldades em relação à pega e coordenação de sucção, respiração e
deglutição. Faz-se necessário fornecer informação positiva sobre o bebê, pois
isto minimiza os sentimentos de ansiedade, frustração, incertezas e culpa
relacionados à amamentação, tornando as puérperas menos vulneráveis(18).
Convém referir que prematuros com funções vitais estabilizadas são encaminhados
ao AC. Dos sete casos com DE Amamentação interrompida, seis apresentaram a
prematuridade como fator relacionado.
Na unidade de Alojamento Conjunto, o aleitamento materno é incentivado e
estimulado pelas inúmeras vantagens apresentadas tanto para mãe quanto para o
filho. Este cuidado tem início nas primeiras horas de vida, o mais precocemente
possível, com orientações adequadas sobre o AM(19).
O peso foi um dos principais indicadores para avaliação do crescimento pós-
natal. O baixo peso ao nascer (peso inferior à 2500g) foi o fator de risco mais
comumente associado às mortes perinatais. Mais de 80% das crianças do estudo
apresentaram peso acima de 2500g, portanto o processo de amamentação sofreu
pouca ou nenhuma influência deste fator.
Quanto ao tipo de parto, identificou-se que a maioria das puérperas teve parto
cesariano. Apesar da separação imediata entre mãe e filho que este tipo de
parto oferece, além de outros fatores, como recuperação mais demorada e
dolorosa, o parto cesariano não impossibilitou o aleitamento materno.
A Amamentação eficaz pode ser percebida quando o binômio demonstra adequada
proficiência e satisfação com o processo de amamentação. Isto significa que mãe
e o filho estão em harmonia, bem adaptados ao ambiente do Alojamento Conjunto,
que tem como principal função promover esta interação. Este DE foi o mais
presente na unidade de AC investigada. Assim, reforça-se que o leite materno
nas primeiras semanas de vida é de grande importância, pois este representa
fator de proteção a crianças de zero a cinco anos contra o sobrepeso(20).
O segundo DE mais frequente foi Amamentação ineficaz relacionado,
principalmente, à ansiedade materna e ao déficit de conhecimento. Outro estudo
comprovou que amamentação ineficaz esteve relacionada ao conhecimento
deficiente(21).
A Amamentação interrompida esteve presente quando houve descontinuidade no
processo de amamentação. Esteve principalmente relacionada à prematuridade e
caracterizada pela separação entre mãe e filho, além do desejo da mãe em
oferecer o leite materno.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento desta pesquisa favoreceu a identificação de DE relativos à
amamentação em 83 mães e seus RN em uma unidade de alojamento conjunto de um
hospital público estadual. O diagnóstico mais encontrado foi Amamentação
Eficaz, seguido de Amamentação Ineficaz e Amamentação Interrompida.
O presente estudo ressaltou a importância do processo de elaboração e
julgamento clínico dos diagnósticos de enfermagem relacionados à amamentação,
uma vez que estes são a base para elaboração apropriada das intervenções e
alcance dos resultados positivos na assistência de enfermagem à mãe e seu RN.
Considera-se a amamentação um processo que envolve desafios na interação mãe e
filho, bem como exige dos profissionais de enfermagem qualificação para atuar
no AC. De acordo com os resultados encontrados, este estudo evidenciou o
sucesso da amamentação para a mãe e seu RN, uma vez que o DE que mais ocorreu
foi Amamentação Eficaz, e isso pode ter sido resultado de ações educativas
implementadas através de um programa específico para o incentivo ao aleitamento
materno existente na referida instituição do estudo.
A participação do enfermeiro se sobressai no desenvolvimento de habilidades
técnicas e, sobretudo, na orientação aos usuários dos serviços de saúde e à
equipe de enfermagem acerca das ações desempenhadas, de modo a ampliar o
conhecimento, os argumentos científicos, além da humanização da atenção
prestada, a fim de promover a qualidade da assistência.
Acredita-se que esta pesquisa poderá contribuir para direcionar ações de
cuidado individualizadas para responder às necessidades das mães e seus RN, uma
vez que os diagnósticos encontrados permitem o delineamento das ações de
cuidado e o envolvimento não apenas da mãe e filho, mas também da família.