Ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas no cuidado de enfermagem complexo ao
idoso estomizado
INTRODUÇÃO
O cuidado de Enfermagem complexo direcionado ao idoso estomizado constitui-se
por um fazer hologramático, recursivo e dialógico em que o enfermeiro considera
alguns aspectos como a saúde, a funcionalidade e a incapacidade do ser humano
que é cuidado. Faz-se necessário conhecer as relações humanas/rede de apoio, as
percepções e as especificidades da pessoa idosa estomizada, considerando o
contexto ambiental e pessoal, o enfrentamento positivo/negativo e as limitações
após a cirurgia.
A Complexidade é um referencial pautado em conceitos que estão constantemente
em processo de construção, sem um ponto final, que tende a buscar a religação
de saberes, união e disjunção(1) na tentativa de compreender a
multidimensionalidade que envolve a acessibilidade e as tecnologias do cuidado.
O uso de elementos da Classificação Internacional da Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF) pode ser uma possibilidade de vislumbrar a pessoa
idosa estomizada em sua integralidade. É possível estabelecer um olhar sobre o
todo e as partes, à medida que permite a investigação clínica, pedagógica e
político-social. É importante a articulação de novas propostas teóricas com os
princípios essenciais da profissão, que vise à compreensão das possíveis
aplicações/implicações de elementos da CIF no diagnóstico, avaliação e
proposição de novas práticas de enfermagem(2).
Nesse sentido, a estratégia é aberta, evolutiva, enfrenta o imprevisto, o novo,
se desdobra em situações aleatórias, utiliza o risco, o obstáculo, a
diversidade, com o objetivo de desmistificar as incertezas(1). Para realizar um
cuidado de Enfermagem complexo é necessário compreender a condição humana e
suas relações, as quais, recursivamente, dependem do ambiente e da
especificidade do ser humano que é cuidado ou cuida-se. Educar, cuidar e
permitir o autocuidado são desafios colocados aos enfermeiros que acompanham
idosos portadores de estomias, já que uma diversidade de sentimentos,
percepções e conflitos fazem parte do enfrentamento da estomia nessa fase da
vida.
A complexidade que envolve o cuidado de Enfermagem direcionado ao idoso
estomizado, a partir de elementos dos componentes da CIF, pauta-se na tentativa
do olhar sobre o olhar que olha, que considera os encontros e desencontros
permitidos pela condição humana; as dimensões incertas e indeterminadas que se
desvelam ao longo da vida; as subjetividades que delineiam os processos
divergentes e convergentes acerca de si; os fenômenos de ordem/desordem/
organização, autonomia/dependência e os recursos autoecoorganizativos que
fundamentam o pensar ético e estético do ser humano(3). Elaborar um cuidado de
Enfermagem complexo por meio de ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas
possibilita redimensionar um holograma, no qual se vislumbra a compreensão do
ser humano como um todo a partir das partes.
A complexidade de uma organização ou organismo se processa por relações sociais
complexas e não há como produzir conhecimento correto isolando o objeto de
conhecimento de seu ambiente(4). O ser humano em processo de construção ao
longo da vida, em especial, o idoso que na velhice torna-se portador de
estomia, é um corpo que modifica a mente e a mente ao corpo e ainda há a
influência do ambiente social e cultural no organismo biológico.
O cuidado pode ser tudo que se agrega sob a forma de ações que colaboram para
gerar, organizar ou (re)estabelecer esperança, autonomia, a liberdade de
escolha, as relações humanas e o sentido da vida para o ser humano(5). Nesse
sentido, o enfermeiro necessita reconhecer o impacto da presença da estomia na
pessoa idosa, e realizar ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas de cuidado
como: adaptação dos ambientes para sua segurança e comodidade, realização de
orientações acerca do processo de adaptação e uso da bolsa coletora, por meio
de cartilhas ou manuais; cuidado com a estomia e com a alimentação adequada,
além de encaminhamento e estimulo para a participação de um grupo de apoio, que
possa ajudar os estomizados a conviverem com esta nova situação, que passa a
integrar o todo que compõe o processo de viver da pessoa idosa.
Há a necessidade de tornar mais acessível aos estomizados, em especial, aos
idosos, gerontotecnologias que visam o cuidado da estomia e a possibilidade da
autonomia, como alguns equipamentos entre eles, bolsa coletora, líquidos
limpadores, carvão ativado e outros que fazem parte dos materiais distribuídos
pelo Ministério da Saúde do Brasil. Órteses e próteses, como gerontotecnologias
do cuidado, ajudam o idoso estomizado a evitar as complicações relacionadas à
estomização e promovem qualidade de vida, que se inserem como função do
enfermeiro.
Objetivou-se identificar as ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas com
vistas a um cuidado de enfermagem complexo ao idoso estomizado. A pesquisa pode
contribuir com o aprofundamento teórico acerca do tema, indicando ações de
cuidado a serem realizadas pelos enfermeiros aos idosos estomizados.
MÉTODO
Trata-se de pesquisa qualitativa e descritiva do tipo estudo de caso, método
que contribui para o conhecimento dos fenômenos individuais, grupais,
organizacionais, sociais, políticos e outros(6). Permite que o investigador
retenha características significativas dos eventos da vida real, descrevendo
ampla e profundamente o fenômeno social investigado.
Foram sujeitos do estudo cinco homens e cinco mulheres que atenderam aos
seguintes critérios de inclusão: serem idosos portadores de estomias
permanentes ou temporárias; estarem cadastrados no Serviço de Estomaterapia de
um hospital do Sul do país; e estarem orientados e em condições de interagir
com a pesquisadora. Foram excluídos idosos em fase terminal de doença ou que
não estavam lúcidos e orientados no momento da coleta dos dados.
O Serviço de Estomaterapia em que o estudo foi realizado tem 21 anos de
existência e atende cerca de 115 pessoas com estomias e seus familiares.
Procedeu-se o contato com os idosos por telefone, no período de maio a agosto
de 2012. Após, foi-se ao seu domicílio, onde se realizou a entrevista
semiestruturada, que foi gravada com a autorização dos sujeitos. Antes da
entrevista, os sujeitos foram informados do teor do estudo, do objetivo e da
garantia de sigilo e, de imediato, lhes foi apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, assinado por eles em duas vias.
Foram questionados sobre suas necessidades específicas de cuidado como idosos
com estomia. Preencheu-se o formulário da CIF(7). Esta é composta por
informações sobre as estruturas corporais, as atividades e a participação
social, o ambiente e os aspectos pessoais / individuais, com vista a
classificá-los quanto à funcionalidade, incapacidade e saúde. Após, realizou-se
o exame físico completo do idoso e a observação sistemática deste no seu
contexto.
A análise dos dados levou em consideração três estratégias: na primeira
procurou-se desenvolver uma estrutura teórica a partir dos casos estudados, na
segunda os dados foram comparados e contrastados com o que foi predito no
protocolo de estudo de caso, foram realizadas suposições sobre o alcance do
objetivo e na terceira respondeu-se ao objetivo do estudo(8), sendo
identificadas as ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas a serem utilizadas
para a prestação de um cuidado complexo ao idoso estomizado.
Em atendimento à Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa
foi submetida à apreciação e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa em Saúde
da Universidade Federal do Rio Grande -FURG obtendo aprovação sob nº 99/2011,
cujo processo 23116.006817/2011-51.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
É importante destacar as características dos dez participantes idosos como
forma de enfatizar que o cuidado não é transversal, mas multidimensional e
singular, embora as semelhanças os façam compartilhar das ideias e formas de
cuidado. O modelo teórico da pesquisa mostrou que o cuidado de enfermagem
complexo ao idoso estomizado perpassa pelas ações ecossistêmicas e
gerontotecnológicas.
Caracterização sociodemográfica dos participantes
Dos dez entrevistados, cinco eram mulheres e cinco homens. A idade foi de 60 a
93 anos. Predominou a religião católica; baixa escolaridade (1º grau
incompleto); aposentados; porém continuavam exercendo algum tipo de trabalho
doméstico; e vivia com companheiro. Alguns idosos apresentaram como diagnóstico
médico câncer de reto, com algum tipo de doença crônica não transmissível; em
tratamento medicamentoso; com dificuldades para aceitar a estomia, mas a partir
do contato com o Serviço de Estomaterapia e com o grupo de estomizados, foi
facilitada pelo processo de identificação. Possuem planos de saúde; moradia de
alvenaria; desconhecem as políticas públicas voltadas ao idoso e ao estomizado,
bem como o descarte correto do lixo proveniente do cuidado com a estomia.
Modelo teórico da pesquisa
O modelo teórico demonstra o cuidado complexo voltado ao idoso estomizado. Este
é pautado em ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas, sendo o idoso
estomizado o centro do circuito recursivo.
Figura 1 Modelo teórico da pesquisaFonte: Barros EJL. O cuidado de enfermagem
complexo, ecossistêmico e gerontotecnológico ao idoso estomizado. Rio Grande/
RS, Brasil, 2012. p. 56.
Ações Ecossistêmicas voltadas ao Cuidado de Enfermagem complexo ao idoso
estomizado
Ambiente, em um sentido amplo e multidimensional, tem significado relacionado
aos limites do espaço das relações humanas, sejam essas produzidas na
abrangência familiar ou até mesmo no contexto da comunidade em geral, com a
intenção de produzir e reproduzir situações favoráveis à construção de
interações saudáveis entre os seres humanos. Consideram-se, os possíveis
distanciamentos aos diferentes sentidos e expressões produzidas por esses seres
humanos. É a espacialização da auto-organização, um conteúdo que se expressa de
inúmeras formas, mas de tal modo que mantém sempre sua identidade e unidade(9-
10), contextualizando como ação ecossistêmica a construção de um ambiente
terapêutico a fim de que haja o processo de aceitação/adaptação, evidenciado no
depoimento:
Eu tenho que me cuidar, eu me cuido muito disso aí [quedas]. (...).
Eu vou colocar umas barras. (idoso 9, 74 anos)
O cuidado de Enfermagem complexo perpassa pela interface entre saúde, ser
humano e os fatores que ligam saúde/ incapacidade/funcionalidade, mediados
pelos componentes da CIF (funções/estruturas do corpo; atividades/participação;
ambiental/pessoal), permitem a reforma do pensamento, ou melhor, a reforma do
cuidado ao idoso portador de uma deficiência - a estomia na velhice. Busca-se o
cuidado que valorize esse ser humano na sua totalidade biopsicossocial
integrando as diferentes perspectivas de saúde: biológica, individual, social/
ambiental e espiritual.
A relação do ser humano com o ambiente não pode ser concebida de forma
reducionista, nem disjuntiva. Ele emerge e distingue-se pela cultura,
pensamento e consciência, o que pode interferir na concepção de tecnologia do
cuidado. É necessário um resgate acerca do ser humano em cuja condição permeiam
características biológicas e, ao mesmo tempo, culturais, como nascimento ou
morte, comer, beber, entre outros que estão estritamente ligadas a normas,
proibições, valores, mitos e ritos, portanto ligado ao cérebro, como em um
holograma(11). Constitui-se de forma hologramática, esse reolhar complexo e
multidimensional que afeta o ambiente do idoso após a estomia, evidenciado no
depoimento:
Ai eu dou um jeito na estrada, agora, se eu chegar num lugar público
para esvazia minha bolsa, não, é que lugar público é meio complicado
também, banheiro sujo, não, mas eu olho para o chão assim, como é que
eu vou me ajoelhar ali naquela coisa, as pessoas urinam no chão, na
tampa do vaso, eu prefiro o banheiro da minha casa (...). (idoso 2,
65 anos)
Para que ocorra a promoção da acessibilidade e inclusão social, é fundamental
que as unidades de saúde disponham de acesso físico e adaptações ambientais,
com banheiro adaptado à pessoa com deficiência, estomia(12). Há evidências da
incessante busca por um ambiente saudável, impulsionada pelas insatisfações com
as condições de vida oferecidas pelo processo civilizatório, e que motivam o
ser humano a estabelecer vínculos e desenvolver conceitos - arraigados em
valores individuais, culturais e históricos - estabelecendo íntima relação
entre o ser e o ambiente e os processos tecnológicos(13).
Foi verificado que boa parte dos idosos estomizados desconhece sobre as
políticas públicas voltadas ao idoso, ao portador de estomia como um deficiente
físico e as relações de cuidado com o ambiente como o descarte dos resíduos
oriundos da estomia, o que acarreta um déficit na busca por melhorias e na
formulação de novas práticas de cuidado, evidenciado no depoimento:
Eu enrolo ela [bolsa de karaya] em saco plástico e boto no lixo ao
natural (...). Eu achava que deveria botar no lixo, que eles chamam
de lixo limpo, porque aquilo ali é um plástico e outra coisa, a minha
bolsa ela é lavadinha, ela não vai com (fezes,)(...) mas não sei se é
bem assim.
O ser humano para manter a autonomia, como uma organização, necessita estar
aberto ao ecossistema do qual se nutre e implica em processos de transformação.
Não há possibilidade de autonomia sem dependência, advinda da informação
cultural, vivências e da educação ao longo da vida, as quais permitem a
construção de uma organização viva autônoma(14).
Ações Gerontotecnológicas voltadas ao Cuidado de Enfermagem complexo ao idoso
estomizado
O cuidado por meio das ações gerontotecnológicas pode ser tudo que se agrega
sob a forma de estratégias, que colaboram para gerar, organizar ou
(re)estabelecer esperança, autonomia, a liberdade de escolha, as relações
humanas e o sentido da vida para o ser humano(15), seja através de tecnologias
educativas e/ou de equipamentos. Em situações complexas, em um mesmo espaço e
tempo, não há apenas ordem, como desordem; determinismo, mas acasos. Surge,
assim, a incerteza, o que é preciso atitude estratégica do ser humano ante a
ignorância, desarmonia, perplexidade e lucidez(1).
O idoso estomizado apresenta medo, dúvida e anseio frente à sua condição. À
medida que há o contato com outros iguais, na troca de saberes quanto às novas
tecnologias inventivas, bem como experiências e percepções, é iniciado um novo
começo em que esse idoso estomizado se reinventa e produz novos modos de
cuidado, evidenciado no depoimento:
Eu vou nas reuniões, é muito bom, pois conheço outras pessoas na
minha mesma situação, com historias diferentes, só não vou quando
eles não telefonam avisando. É muito bom, pois sempre se aprende
coisas novas, sempre tem alguém com uma ideia nova e boa para ajudar
no cuidado e no tratamento. Lá no grupo eu via muitos lavando [a
bolsa] com uma garrafa plástica e vi que não ia dar certo, então
criei esta adaptação [mangueira ligada ao vaso sanitário]. (idoso 6,
72 anos)
O cuidado complexo em enfermagem/saúde são ações práticas que podem ser
facilitadas, todavia não poderá substituir a relação e a compreensão
intersubjetiva entre os seres humanos. A capacidade de empatia, de
identificação, de abertura, de projeção, de generosidade e de solidariedade é
expressa na relação de comunhão, de troca e de interação entre os seres,
visando, assim, atender as necessidades de cuidados de saúde do ser humano(15).
As partes como funcionalidade e incapacidade com seus respectivos componentes
como as estruturas do corpo, as atividades e a participação; bem como as
influências ambientais e pessoais sob demanda cultural e social necessitam ser
visualizadas a fim de que o cuidado seja equitativo e abranja os domínios da
saúde da pessoa idosa estomizada. Reconhecer que na velhice o ser humano pode
ser dotado de (in)capacidades, é possibilitar a construção de um método ou
religar os sentidos que compõem o cuidado de Enfermagem a esse ser humano
multidimensional.
A enfermeira ia lá [Serviço] e tentava acalmar as pessoas e dizia que
vai passar, mas eu até que aceitei bem. Eu escutava o pessoal falar
que isto incomodava e que dói. A minha [estomia] nunca doeu eu acho
que tem muita gente que se assou, mas eu nunca me assei, porque eu
cuido muito para que isto não aconteça. Eu gostei muito das reuniões,
eu aprendi muito. (idoso 8, 79 anos)
O enfermeiro necessita reconhecer o impacto da presença da estomia na pessoa
idosa, e oferecer-lhe algumas gerontotecnologias educativas/de equipamentos
como: realização de orientações acerca do processo de adaptação e uso da bolsa
coletora, por meio de cartilhas ou manuais; cuidado com a estomia e com a
alimentação adequada, além de encaminhamento e estimulo à participação em um
grupo de apoio, que possa ajudar os estomizados a conviverem com esta nova
situação, que passa a integrar o todo que compõe o processo de viver da pessoa
idosa(16).
As gerontotecnologias são importantes para que o ser humano idoso estomizado
possa manter a autonomia, ser construtor da prática e compreender o autocuidado
como a forma de traduzir a capacidade de vivenciar novos desafios a partir da
reelaboração de si. Assim, é necessário que as unidades de saúde forneçam
produtos, materiais e equipamentos, conhecidos como gerontotecnologias
adaptadas ou, especialmente, projetadas para melhorar a funcionalidade da
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia
pessoal, total ou assistida considerando o ambiente de cuidado.
Logo, é a inter-relação entre a ação do cuidar, o cuidado e a
gerontotecnologia, direcionando a um diálogo complexo, em que o idoso se
comunica utilizando a bolsa coletora como mediadora, evidenciado no depoimento:
Faz bem para os outros, então as vezes eu vou mais por causa dos
outros, porque eu vejo assim que tem gente que chega tão deprimida
(...) mulheres mais novas, que os maridos deixaram (...) eu digo,
dobra essa bolsa, bota dentro da calcinha, vais andar com esse treco
pendurado, está certo que tem que usar, mas não precisa anda
balançando (...) então eu acho que de uma certa maneira a gente
ajuda, dá opinião de uma coisa e recebe opiniões. (idoso 3, 61 anos)
O conhecimento objetivo necessita do ser humano, da interação subjetiva e
também de projeções das suas estruturas mentais. É tradução e reconstrução do
mundo exterior e permite um ponto de vista crítico sobre o próprio
conhecimento, em um processo recursivo e dialógico. Sem a integração, é
mutilado, pois há a necessidade de um reolhar de si mesmo, o autoexame e a
possibilidade de fazer sua autocrítica(4). As gerontotecnologias também
perpassam pelo acolher e inter-relacionar-se; atentar para a pessoa como ser
humano do cuidado; com isso, permitir/promover a regeneração das subjetividades
que permeiam o vazio deixado pela descrença/desesperança, após a estomia e o
processo de envelhecimento(17).
CONCLUSÃO
A partir desse estudo, foi possível identificar as ações ecossistêmicas e
gerontotecnológicas como possibilidades de um novo olhar acerca de si e do
outro, em que o idoso estomizado percebe as contradições entre capacidade/
incapacidade, ordem/desordem, motivação/frustação e, assim, consegue
estabelecer medidas de enfrentamento. Há, portanto, encontros e desencontros,
os quais os fortalecem, facilitando o processo de aceitação e o autocuidado.
O estudo desvelou como ações ecossistêmicas voltadas ao cuidado de enfermagem
complexo ao idoso estomizado a construção de um ambiente terapêutico, a
garantia de acesso físico e adaptações ambientais, como banheiros adaptados, a
oferta de informações acerca das políticas públicas voltadas ao idoso e ao
portador de estomia. Como ações gerontotecnológicas, o processo educativo, por
meio de cartilhas ou manuais acerca dos cuidados com a estomia e com a
alimentação adequada, o encaminhamento e estimulo à participação do idoso em um
grupo de apoio e o fornecimento de produtos, materiais e equipamentos
necessários ao seu autocuidado, a fim de que haja o processo de aceitação/
adaptação a sua condição de vida, melhorando sua funcionalidade e mobilidade,
favorecendo sua autonomia pessoal.
As ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas contêm suas particularidades,
refletindo o contexto de fragilidade e necessidade de cuidado do idoso com
estomia, em meio a um processo circular e recursivo. É necessário, assim, um
conhecimento técnico-científico adequado e humanizado/ampliado do enfermeiro;
além da compreensão da família como rede de apoio em seu contexto social
complexo. O apoio da família/ profissionais de Enfermagem é fundamental para o
enfrentamento das limitações, no sentido de desmistificar a deficiência/
incapacidade/saúde desses idosos estomizados, promovendo o autocuidado e a
autonomia a partir de experiências e ações planejadas considerando as questões
ecossistêmicas e gerontotecnológicas.
A pesquisa traz como contribuição social novas formas de compreender o
redimensionamento do cuidado ao ser humano idoso estomizado. Considera-se para
isso que as políticas sociais, as experiências e as motivações quanto à
reformulação da prática, favorecem as discussões acerca de ações específicas,
que abrigam a diversidade, a identidade e vincula múltiplos conceitos/
significados da relação entre as tecnologias voltadas ao idoso, o ambiente e a
elucidação de ordem/ desordem em meio ao contexto de saúde/doença.
Logo, na ciência em construção Enfermagem, os campos do ensino, pesquisa e
extensão/assistência podem conter o conhecimento da relação ser humano idoso
estomizado e a interface tecnologia/ambiente de cuidado sob o olhar complexo.
Assim poderá ser proporcionada uma reforma do pensamento, considerando a visão
da incerteza acerca da condição humana, bem como as(os) tecnologias/cuidados
construídos(as) e repensadas(os) por esses idosos em um ambiente próprio.
Concluiu-se que as ações ecossistêmicas e gerontotecnológicas podem servir como
estratégias para a acessibilidade do idoso aos serviços de saúde, desvelando
uma resposta aos desafios relacionados à velhice e à estomia de forma ética,
solidária e complexa em seu ambiente, momento em que essas ações se entrelaçam
e constituem o cuidado de enfermagem complexo.
Sugere-se a realização de novos estudos pelos enfermeiros que cuidam de idosos
estomizados à luz de outros referenciais teóricos de forma a ampliar seu
conhecimento acerca de formas diversas de cuidado.