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BrBRCVHe0034-71672014000100133

BrBRCVHe0034-71672014000100133

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
Year2014
Issue0001
Article number00133

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Estágio curricular supervisionado: análise da experiência discente INTRODUÇÃO O profissional enfermeiro vem ao longo dos tempos empenhando-se em ampliar seu campo de ação junto aos sistemas de saúde, seja na assistência direta ao paciente hospitalizado, seja na prevenção e/ou promoção da saúde. Neste contexto o Estágio Curricular Supervisionado (ECS) pode trazer importante contribuição para a formação deste profissional, tendo em vista tratar-se de uma atividade acadêmica bastante rica para este processo de formação. O ECS propicia que o estudante entre em contato direto com a realidade de saúde da população, o que pode ser considerado de grande importância para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, bem como, para a consolidação dos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso de graduação, por meio da relação teoria-prática(1).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem, instituídas em 2001, "definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros". Ao estabelecer os conteúdos curriculares considerados essenciais nesse processo, as Diretrizes determinam que além dos conteúdos teóricos e práticos desenvolvidos ao longo de sua formação, ficam os cursos obrigados a incluir no currículo o estágio supervisionado em hospitais gerais e especializados, ambulatórios, rede básica de serviços de saúde e comunidades nos dois últimos semestres do Curso de Graduação em Enfermagem e que, "na elaboração da programação e no processo de supervisão do aluno, em estágio curricular supervisionado, pelo professor, será assegurada efetiva participação dos enfermeiros do serviço de saúde onde se desenvolve o referido estágio"(2).

O ECS tem o intuito, de acordo com as diretrizes curriculares, de integrar a atenção individual e coletiva, teoria e prática, ensino e serviço, na perspectiva de formar um profissional apto a atender as demandas de saúde da população brasileira e contribuir ativamente com a construção do SUS, tanto na rede básica quanto na hospitalar(1).

Na academia, reconhece-se a dissociação entre o aprender e o fazer como uma questão determinante na concepção pedagógica, revelada pela dicotomia entre teoria e prática, entre ensinar e cuidar e pela organização da estrutura institucional muitas vezes fragmentada em departamentos. Esses fatos remetem à necessidade de ampliar a discussão em relação à formação do enfermeiro para além dos muros da universidade, incorporando novos espaços e novos sujeitos na formação deste profissional, o que pode ser favorecido pela integração entre aluno, docente e enfermeiros dos serviços durante o estágio curricular supervisionado. Essa proposição deve ter a finalidade de desenvolver, no estudante, uma consciência crítica e reflexiva, bem como estimular a capacidade de compreender e intervir na realidade social(3).

Na área da enfermagem o desafio do contexto social requer competências profissionais que implicam novos modos de saber, fazer e ser do enfermeiro e de sua equipe nos serviços de saúde em todos os níveis de atenção a fim, de assegurar que sua prática seja desenvolvida de maneira integral e perene com todas as instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de refletir criticamente, analisar as problemáticas sociais, procurando alternativas de enfrentamento e resolução para as mesmas(4-5).

Nesse contexto, o ECS traz uma colaboração essencial à formação do aluno como um momento específico de sua aprendizagem. Espera-se que o estudante possa identificar pontos favoráveis e desfavoráveis no campo da prática, exercendo a capacidade de reflexão sobre a ação profissional e de visão crítica sobre as relações existentes no campo institucional, apoiado na supervisão enquanto processo dinâmico e criativo, tendo em vista possibilitar a elaboração de novos conhecimentos(5). Este processo de reflexão deve traduzir-se de forma efetiva no exercício da prática diária assistencial e gerencial das atividades do enfermeiro que ele terá oportunidade de vivenciar durante o ECS.

Portanto, a vivência do ECS pelo acadêmico de enfermagem é considerada indispensável visto que seu processo de trabalho no campo de estágio permite que ele adquira uma identidade na sua atuação, fazendo com que isto flua naturalmente, levando-o a se mostrar cada dia mais preparado e competente, conforme vai lidando com situações em diversos cenários e, assim, enfrentar as exigências do mercado de trabalho(3).

A análise das experiências vividas pelos estudantes durante o ECS, sob a ótica destes, poderá subsidiar a compreensão dessas vivências na formação da identidade do profissional enfermeiro, como pessoa capaz de crítica, reflexão e efetiva transformação da realidade. Esta possibilidade motivou e justificou o desenvolvimento deste estudo.

OBJETIVO Analisar a experiência dos estudantes no desenvolvimento de atividades do ECS do curso de graduação em enfermagem de uma universidade pública do estado de São Paulo, numa unidade de internação de hospital universitário.

PERCURSO METODOLÓGICO Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório, no qual utilizamos a análise documental para compreender as experiências vivenciadas por um grupo de estudantes durante a disciplina de ECS do curso de graduação em enfermagem de uma universidade pública do estado de São Paulo. Esta disciplina ocorre nos dois últimos semestres do curso de graduação, sendo que em um deles o aluno desenvolve atividades em unidade hospitalar e no outro, em unidade básica de saúde. No caso em análise neste estudo, as atividades foram desenvolvidas sob a supervisão de enfermeiros assistenciais e orientação de docentes em uma unidade de internação de um hospital escola.

Compreendemos documentos como produções escritas que podem ser utilizadas como fonte de dados e informações, por meio das quais seja possível compreender comportamentos, significados e aspirações. Dentre estes podemos incluir: diários, cartas pessoais, memorandos, propostas, cartas ao editor, registros individuais de estudantes, artigos de jornal, dentre outras(6).

Documentos constituem uma fonte poderosa da qual podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador, não se conformando simplesmente numa fonte de informação descontextualizada, mas surgindo num contexto determinado e fornecendo informações sobre este mesmo contexto. O propósito da análise documental é fazer inferências sobre os valores, os sentimentos, as intenções e a ideologia das fontes ou autores dos documentos (7).

Os documentos utilizados especificamente para este estudo foram os relatos dos estudantes, referentes aos relatórios finais de estágio desenvolvido pelos mesmos durante o ECS, no período de março de 2007 a novembro de 2009. O período foi escolhido por se tratar das primeiras experiências com o ECS no curso de Graduação em Enfermagem em apreço. Tais relatórios são produzidos de forma livre pelos alunos, porém seguindo algumas diretrizes como o número de páginas (limitado a três) e os tópicos a serem desenvolvidos no conteúdo (aspectos gerenciais por exemplo) e constitui um dos requisitos para a aprovação no ECS.

Foram analisados seis documentos, equivalentes aos produzidos pelos alunos que realizaram estágio neste período na citada unidade, explicitando que a unidade recebia um aluno em ECS por semestre. Os autores convencionaram, por conta de codificação, atribuir aos alunos os nomes de diamante, pérola, ametista, safira, rubi e esmeralda.

Para análise deste material utilizou-se como referencial a análise de conteúdo temático(8), na tentativa de identificar significados e obter inferências sobre os documentos produzidos pelos alunos. Desta forma percorremos os seguintes passos: 1) Desenvolvimento de leituras exaustivas dos documentos; 2) Identificação, no corpus dos documentos, das unidades de registro, representadas por frases ou conjunto de frases que transmitiam pontos importantes para o estudo, devidamente codificadas; 3) Realização da categorização temática inicial por características quali-quantitativa (repetição de temática) e relevância implícita (valor unitário da temática); 4) Reagrupamento temático, categorização final e discussão das categorias temáticas.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de filiação dos autores, em 27 de abril de 2010, sob o número 278/2010, sendo autorizada a dispensa de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por se tratar de documentos de domínio público, que se encontravam disponíveis em um sítio eletrônico da universidade em questão.

RESULTADO E DISCUSSÃO Elencamos a seguir as categorias que emergiram do contexto de análise dos documentos produzidos pelos estudantes sobre a experiência de ECS e a consequente discussão a partir de referenciais que abordassem assuntos relacionados a estas categorias.

Descrição de atividades administrativas relativas à equipe de enfermagem Discutiremos nessa categoria a percepção registrada pelos estudantes a respeito do processo de trabalho do enfermeiro, especificamente no que se refere às atividades gerenciais.

Eles dividem ainda quem ficará responsável naquele dia pelo expurgo, reposição dos sacos de hamper, farmácia, laboratório e exames/banco de sangue e arrumação da copa. A divisão dos quartos é feita pelo enfermeiro, que leva em consideração a gravidade do paciente, escala de banho do plantão (mensal) e grau de dependência do paciente.

(Diamante) Observamos pelos registros que as atividades são percebidas como uma sequência de passos que é executada de forma rotineira, sem permitir flexibilidade na sua realização. Ao final, esse conjunto de atividades resulta em um dia de trabalho do enfermeiro.

A prática clínica de enfermagem é realizada sob a orientação de rotinas em diferentes graus. Na literatura de enfermagem, essas são descritas como tendo aspectos negativos e positivos. Em pesquisas sobre rotinas organizacionais, é feita uma distinção entre a rotina como regra e como ação rotineira. Estas se tornam significativas quando a ação individual está em harmonia com o padrão cultural em que o trabalho de enfermagem é baseado. Em vez de deixar uma prática cotidiana se tornar uma rotina, devemos avaliá-la e procurar desenvolvê-la a partir de pesquisas e fundamentos teóricos, tornando-a o ponto de partida para a prática de enfermagem(9).

Considerando ainda as atividades gerenciais, observamos que o enfermeiro supervisor é visto como uma figura essencial no desenvolvimento do processo de trabalho da unidade.

...[Enfermeiro Apoiador] que é responsável por dar retaguarda aos funcionários de todos os plantões. Sua permanência na enfermaria é constante e sua atividade de supervisão pode ser vista durante o tempo todo e em todos os plantões. (Diamante) A análise desse registro nos sugere que o enfermeiro supervisor é percebido, ou idealizado, como um modelo a ser seguido na atuação prática. Esse modelo pode ser considerado um propósito a ser alcançado pelo aluno ao concluir a sua formação. O enfermeiro que acompanha o aluno neste momento de sua formação deve ter consciência da importância de seu papel enquanto referência profissional para o graduando e da responsabilidade de sua posição, o que deve gerar maior preocupação em rever e atualizar seus conhecimentos. Sua participação na elaboração do planejamento do estágio é indispensável, pois sua ausência nessa etapa e o consequente desconhecimento acerca do seu papel revelam grandes fragilidades na construção e desenvolvimento do ECS. Desta forma, ressaltamos que se espera do enfermeiro supervisor do ECS não apenas a sua competência técnica e experiência profissional, mas também sua competência didático- pedagógica(10).

A atuação do enfermeiro como supervisor do ECS pode propiciar esta oportunidade de atualização, contribuindo para o seu acesso a novos conhecimentos, bem como à troca de experiência com o graduando e à aproximação com os professores e com o ambiente acadêmico da universidade. Essas oportunidades podem viabilizar o fornecimento de subsídios para sua preparação, como a oferta de cursos e apoio à pesquisa, instrumentos tão necessários para o aperfeiçoamento do profissional (10).

O enfermeiro tem se caracterizado como um indivíduo que necessita, para sua formação, receber um aporte teórico científico que lhe permita trabalhar o processo de assistência de enfermagem em sua concepção mais abrangente, atendendo as necessidades de saúde do indivíduo e comunidade de forma organizada, sistematizada e teoricamente embasada. Para tanto, aos agentes e instituições formadoras destes profissionais cabe integrar, dentro do processo formativo, aspectos de natureza teórico-científica, técnica e administrativa.

Isso constitui missão bastante complexa dada à amplitude deste campo de atuação e a falta de um delineamento maior quanto às funções deste profissional e a interface com as atividades de outros profissionais da área de saúde(11).

Questões administrativas: "disputas de poder" e relacionamento interpessoal Analisamos nessa categoria a percepção dos alunos a respeito dos conflitos experienciados durante o período de estágio e sua proposta para minimizá-los.

Percebi, neste sentido, uma "briga" muito grande entre a enfermagem e os residentes do setor responsáveis pela internação. (Diamante) Quanto ao relacionamento, os componentes de cada equipe parecem se relacionar bem entre si, mas uma disputa "velada" entre os turnos.

(Diamante) O ambiente de trabalho, de acordo com esses registros, é percebido como não harmonioso e não impeditivo à disputa entre diferentes categorias e entre a própria equipe de enfermagem. Isso emerge como uma necessidade de trabalhar o individualismo, a desunião e a disputa de poder que podem estar presentes entre os profissionais. Trata-se de uma questão delicada para ser trabalhada junto à equipe, principalmente quando apontada por uma pessoa (aluno) que está neste ambiente pouco tempo, porém, necessária. Assim, observamos mais uma, dentre a variedade de experiências que compõem o processo de formação do graduando em ECS. Quanto mais possibilidades de vivenciar os diferentes espaços do cuidado, mais aumentam as possibilidades de o aluno vivenciar situações que demandam ações e reflexões para melhorar seu ambiente de trabalho, sempre se pautando pelo conhecimento científico e neste caso em especial, pelas questões éticas que devem subsidiar a todo o momento as práticas de enfermagem.

Essa necessidade de intervir nessa disputa ("de poder") é revelada nos registros de outro estudante, que identifica a necessidade de viabilizar oportunidades para o enfrentamento dos conflitos.

Desta forma, sugiro encontros mais frequentes de toda a equipe, como em colegiados, para realização de dinâmicas motivacionais, de trabalho em equipe... (Pérola) Seria uma proposta para manter a saúde mental do trabalhador.

(Pérola) Entendemos que a disputa de poder aparece como fator de estresse e sofrimento psíquico para as equipes e as reuniões são apontadas como a dinâmica que propiciaria a solução de conflitos.

O relacionamento no trabalho é um processo complexo, pois cada pessoa traz consigo ligações por laços profissionais, afetivos, amizades e afinidades, sendo condicionadas por uma série de atitudes recíprocas. Consequentemente, essas características possibilitam ao trabalhador conviver com maior ou menor habilidade com seus pares nos locais de trabalho. Na prática profissional percebem-se mal entendidos, desconfianças, sentimentos de coerção, egoísmo, desrespeito e irritação mostrando diferenças individuais manifestas no ambiente de trabalho, em decorrência de mau relacionamento(12). As habilidades humanas, tais como a gestão de pessoas, o gerenciamento de conflitos e capacidade de manter um ambiente de trabalho equilibrado e saudável, são importantes para a qualificação e competitividade do enfermeiro no mercado de trabalho. Os conflitos, inevitáveis no relacionamento humano, podem propiciar transformações quando são visualizados de forma positiva, pelo seu potencial de impulsionar o grupo em busca do alcance de objetivos comuns(12).

Críticas dos estudantes ao cuidado realizado (o cuidado burocratizado) Pretendemos apresentar a seguir a percepção dos alunos sobre o desenvolvimento da "Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)" na unidade de internação.

...ele [enfermeiro] realiza a SAE quase sempre sem realizar exame físico ou mesmo histórico de enfermagem, o que demonstra o quão muitas vezes a SAE é considerada um procedimento meramente burocrático, perdendo seu verdadeiro valor dentro do processo de cuidado. (Diamante) A teoria de enfermagem utilizada para o processo é o da Wanda A.

Horta (2001), mas, para que o processo seja aplicado na sua integra sem dificultar o andamento da enfermaria no dia a dia deve-se ter mais recursos humanos para operacionalizar todo o processo da SAE.

(Ametista) É fácil compreender que tal processo é imperfeito devido à recente implantação do raciocínio de diagnósticos baseado na NANDA. Essa é uma etapa de sistematização de enfermagem nova, tendo que ser incorporada por enfermeiros que sequer ouviram falar sobre o assunto durante a graduação. (Safira) As falas nos permitem remeter a uma sistematização realizada como mero processo burocrático, gerando no aluno um conflito entre o que é aprendido na universidade (o trabalho idealizado) e a realidade na prática. Contudo, entende-se que os estudantes aprendem, dentre outras formas, pela observação e análise crítica de seus instrutores, bem como pela adaptação aos contextos sociais nos quais se inserem, compartilhando experiências e saberes na busca pelo desenvolvimento de suas competências para o exercício profissional(13).

Com bases nos discursos é possível dizer que essa burocratização do cuidado parece ser desencadeada por múltiplos fatores, tais como uma prática profissional descompromissada, ou a falta de recursos internos ou conjunturais para aproximar-se do ideal.

Em estudo conduzido para avaliar os fatores que, segundo um grupo de enfermeiros de um hospital universitário do sul do Brasil, interferem na adequada utilização do processo de enfermagem, os autores encontraram, com maior frequência, argumentos relativamente 'tradicionais': plantões agitados, número de pacientes por enfermeiro e o envolvimento com tarefas administrativas. Outros parâmetros implicados foram a ausência de um modelo padronizado, deficiências no conhecimento sobre o exame físico e a própria terminologia dos diagnósticos de enfermagem(14). Frente a tais dificuldades é sugerido o envolvimento de todos os enfermeiros de unidades de internação para a elaboração de um processo de enfermagem que implique em discussões dos conceitos básicos e revisão da prática adotada. Tal refinamento deverá permitir, ainda, a elaboração de uma sistematização da assistência de enfermagem mais adequada que permita o alcance de metas pré-estabelecidas(15).

Além disso, a SAE é considerada um importante instrumento de aprendizagem para os estudantes, sendo que os enfermeiros, preparados para ensinar o Diagnóstico de Enfermagem, estimulam os alunos a desenvolverem o raciocínio clínico para construção de um cuidado sistematizado e adequado as individualidades do sujeito, família e comunidade(13).

O cuidado como deve ser feito Esta categoria, em contrapartida à anterior, nos remete a experiências positivas vivenciadas pelos alunos, sugerindo que a construção de seu saber se faz a partir da reflexão crítica sobre os erros identificados, assim como por meio dos exemplos positivos do cuidado de boa qualidade.

... percebi que a única enfermeira que estava de plantão teve o cuidado de passar em todos os quartos para verificar os sinais vitais de todos os pacientes, realizando muitas vezes o exame físico focado nos pacientes em que terá de realizar a SAE. (Diamante) No dia a dia, o cuidado é feito de maneira integral. Ou seja, o profissional fica o tempo todo com os mesmos pacientes e realiza com ele todos os procedimentos e cuidados necessários durante todo o plantão; e isto é válido para todos os turnos. (Diamante) Identificamos a satisfação do aluno ao verificar que o cuidado pode ser desenvolvido de forma adequada, segura e livre de iatrogenias. Seus próprios anseios e sonhos como futuro profissional parecem projetar-se no fazer do enfermeiro que acompanha de perto o paciente. Expressa, dessa maneira, a satisfação em ver a teoria acontecendo na prática. Essa capacidade de observar, avaliar e sistematizar o processo de cuidado desenvolvido no campo de estágio é essencial e deve fazer parte de suas habilidades pessoais, potencializadas pelo suporte teórico oferecido na graduação. A observação direta das situações vivenciadas na prática constitui-se como elemento fundamental na construção de estratégias para os enfrentamentos do exercício profissional, uma vez que é pela reflexão e teorização, a partir de situações da prática, que se estabelece o processo de ensino-aprendizagem(16).

O trabalho de enfermagem visa à integralidade do sujeito, consequentemente o cuidado deve conjugar a arte e a técnica, por isso é possível determinar que a sua execução requer conhecimento do outro, sobre o outro e sobre nossas competências enquanto enfermeiros. O cuidado de enfermagem e a sua dimensão prática compõem o corpo de conhecimento da enfermagem, e importam não aos enfermeiros que os executam, mas também a população que é atendida por eles (17). O cuidado de boa qualidade traz satisfação a quem o realiza e é um direito de quem o recebe, traduzindo o exercício adequado das competências do enfermeiro. Portanto, durante sua formação, o aluno almeja aproximar-se do ideal, por meio da aquisição de habilidades que permitam a ele realizar o cuidado com perfeição.

Contribuindo para a construção da assistência Mantendo o raciocínio do cuidado idealizado, nesta categoria apresentamos a contribuição do estagiário para a construção de uma assistência mais adequada, propondo intervenções a serem implementadas no seu campo de estágio, assim como descrevemos por meio de suas falas o autodesenvolvimento percebido.

Como proposta de intervenção e partindo da necessidade do setor e interesse da estudante, optou-se por reelaborar o instrumento de adesão que vinha sendo aplicado na unidade... o instrumento foi bem aceito e está sendo aplicado rotineiramente. (Diamante) Na vivência em diversos plantões aprendi em cada um deles experiências diferentes... (Esmeralda) Durante o estágio houve maior interesse de participar de cursos, fóruns, etc., pela motivação de estar mais perto das questões e problemas do dia a dia do profissional de Enfermagem contemplando o desenvolvimento de visão crítica ao processo de trabalho. (Esmeralda) Bem como pude participar de algumas resoluções de conflitos... Fiz orientações para os pacientes e familiares e também para equipe de enfermagem... Sempre levando questionamentos a fim de proporcionar que a equipe refletisse sobre os procedimentos realizados. (Ametista) Percebemos o aluno ampliando seus horizontes com o aprendizado da prática, vivenciando o que é bom e o que é ruim na sua própria opinião. Nesse processo, coexistem a sua identidade como aluno em aprendizagem e a oportunidade de atuar como enfermeiro da unidade, o que garante a ele, aparentemente, tranquilidade no desenvolvimento de suas atividades e a satisfação pelo fazer, além da autonomia e responsabilidade frente ao paciente. A sensação percebida de ser "o enfermeiro da unidade" expressa pelos alunos reflete, para os supervisores e orientadores do estágio, o alcance dos objetivos propostos no seu inicio, que consistem, dentre outras competências, o desenvolvimento de habilidades que lhes permitam planejar, participar e implementar projetos de formação e qualificação dos trabalhadores de enfermagem, assim como programas de educação e promoção à saúde, considerando a especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento(18).

...realizar vários estudos sobre a área, os quais me fizeram crescer e semear conhecimentos às demais personagens da equipe de enfermagem e esses sujeitos demonstraram sua satisfação com os conhecimentos.

(Rubi) Com ajuda de minha supervisão, procurei aprender como ter uma visão global de todas as necessidades do PACIENTE... ...atuando na assistência... ...e em tantas outras situações que exigiam a presença de um enfermeiro, por se tratar de técnica com competência de nível superior. (Pérola) O desenvolvimento das competências deve ser oportunizado em situações que o graduando possa argumentar e expressar suas ideias, de forma que aprenda a analisar, refletir e se responsabilize por seu aprendizado contínuo(13).

Espera-se que o aluno do ECS busque o desenvolvimento não somente de competências e habilidades instrumentais da profissão, mas a sensibilização para a coerência entre teoria e prática buscando a construção de conhecimentos e valores a partir da articulação com a realidade e com a equipe de trabalho que esta a sua volta.

A vivência prática estimulando o crescimento profissional Para finalizar o conjunto de categorias identificadas, apresentamos a seguir as avaliações dos alunos sobre a contribuição do ECS para a construção de si próprio como um profissional melhor preparado para enfrentar o mercado de trabalho.

Em suma, acredito que os objetivos iniciais foram atingidos e que, mais importante que a experiência prática que este estágio nos oferece, juntamente com o interesse do estudante e da equipe em ensinar e aprender conjuntamente, estão o crescimento individual de cada um com tudo isso que somente a prática nos proporciona.

(Diamante) Creio que me preparou muito bem para o mercado de trabalho, pois me ajudou a ver as dificuldades e os problemas em que vou enfrentar na minha profissão e, desta forma, me ensinou a lidar com vários deles.

(Rubi) Em relação ao supervisor do estágio, este me acolheu de forma tranquila me incluindo na equipe e me ensinando tudo o que precisava aprender, estando do meu lado nos momentos de dúvidas e certezas, favorecendo-me a segurança durante procedimentos difíceis e resolução de problemas complexos. Estabelecendo-se, portanto, a confiança de ambas as partes. (Rubi) Partindo da premissa de que o desenvolvimento de competências para atuação do profissional enfermeiro é passível de ser aprendido e que as experiências são fundamentais na concretização desse aprendizado, identifica-se, com base no discurso dos sujeitos, que o ECS contribuiu de forma decisiva para aprendizagem de "como ser enfermeiro" em sua formação enquanto graduando em enfermagem(18).

Tive oportunidade durante o estágio supervisionado de conhecer diferentes métodos de trabalho em diferentes turnos e cada enfermeiro desses períodos tem uma maneira de trabalho, e isso foi muito rico, pois, refleti muito sobre o modelo de profissional que pretendo ser.

(Ametista) Destreza em técnicas e agilidade em tomadas de ações são qualidades conquistadas com a prática em serviço. Pessoalmente, não me considero dotada plenamente de tais qualidades, mas vejo-me suficientemente preparada para superar obstáculos que virão e cada vez mais habilidosa nas ações gerenciais e assistenciais. (Safira) No decorrer do estágio o meu convívio com a equipe de enfermagem foi progressivo e senti-me integrada à equipe. (Esmeralda) As falas sustentam a proposição de que o ECS é uma oportunidade única da formação do graduando em enfermagem. Ao mesmo tempo em que o aluno aprende, ele também ensina, e o campo de estágio em questão favorece tal vivência.

Percebemos que uma transformação em curso ao longo do ECS: os alunos o iniciam como "uma pessoa" e finalizam "como outra". Sua identidade e perfil de "enfermeiro ideal" vão sendo formados a partir das experiências com os enfermeiros da unidade, fortalecendo a sua confiança para atuar como profissionais ao deixarem a universidade, o que parece ser a conquista maior que o ECS pode proporcionar.

O processo de formação do enfermeiro, na contemporaneidade, se constitui num grande desafio, que é o de formar profissionais com competência técnica e política, dotados de conhecimento, raciocínio, percepção e sensibilidade para as questões da vida e da sociedade, devendo estar capacitados para intervir em contextos de incertezas e complexidade. A educação formal é essencial à construção do ser humano como sujeito histórico, político e social e, portanto, a escola é local de compartilhamento de saberes. No entanto, a educação que acontece em outros espaços, é parte da atividade de outros profissionais indispensáveis a formação de enfermeiros capazes de refletir sobre sua realidade vivida e com pensamento crítico, aptos ao exercício profissional em suas áreas de conhecimento(19-20).

Dessa maneira, que se reconhecer a importância e necessidade deste processo vivencial pelo acadêmico, uma vez que o torna preparado para enfrentar uma realidade que não vem moldada, mas sim, aberta a adquirir um novo "molde ou forma", de acordo com a equipe de trabalho de saúde que se encontre atuando nesse momento, bem como do contexto no qual o acadêmico de enfermagem esta inserido(3).

CONCLUSÃO Os relatos dos graduandos em Enfermagem que vivenciaram o Estágio Curricular Supervisionado na unidade de internação analisada sugerem que a experiência foi positiva, contribuindo para a construção de um elo entre a teoria oferecida pela academia e a prática do serviço. O crescimento pessoal e profissional referido pelos estudantes parece ter reflexos na segurança com que deixarão o curso de graduação para atuarem como profissionais, minimizando a ruptura que pode significar essa mudança de papéis.

As atividades desenvolvidas durante o ECS contribuem para a percepção do futuro profissional sobre a relevância do trabalho do enfermeiro, assim como para a reflexão crítica sobre o processo de trabalho atual e real, calcada na vivência prática do cotidiano do profissional. Na perspectiva de um aprendizado dinâmico e progressivo, a vivência da prática pelo aluno, acompanhando e sendo acompanhado por profissionais atuantes e interagindo com a equipe de enfermagem, integrado a ela como um de seus membros contribui de forma decisiva na evolução do conhecimento teórico e na sua efetiva aplicação prática. A experiência vivida também tem potencial para propiciar a transformação de pensamentos, percepções e valores dos profissionais e das instituições de saúde e de ensino, o que poderia se constituir em semente para mudanças.

Limitações do estudo Os dados trabalhados não foram oriundos de entrevistas e sim de documentos.

Portanto as falas não foram coletadas especificamente a partir de relatos orais ou com condução específica, o que não permitiu uma exploração mais aprofundada das significações atribuídas pelos indivíduos em um momento de relação face a face. Utilizamos, porém, os pontos de vista expressos nos documentos produzidos pelos sujeitos da pesquisa como ponto de partida para a análise.


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