Fatores de risco para doenças cardiovasculares em profissionais de enfermagem:
estratégias de promoção da saúde
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (DCV) são alterações no funcionamento do sistema
cardíaco, sendo este responsável por transportar oxigênio e nutrientes
necessários às células para essas executarem suas tarefas(1).
Tais doenças são consideradas um grande problema de saúde pública. Por serem a
principal causa de morte em todo o mundo, em especial nas populações dos
grandes centros urbanos(2). Dentre as DCV de maior ocorrência podem-se destacar
doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca, angina, infarto
agudo do miocárdio (IAM), doenças valvares, arritmias, doenças hipertensivas,
dentre outras.
Vários são os fatores de risco associados ao desenvolvimento de DCV, os quais
podem ser modificáveis e não modificáveis. Os fatores de riscos modificáveis
incluem hiperlipidemia, tabagismo, etilismo, hiperglicemia, obesidade,
sedentarismo, má alimentação e uso de contraceptivos; e os não modificáveis
incluem história familiar de DCV, idade, sexo e raça(3).
No Brasil, as DCV figuram na lista das dez principais causas de morte, sendo
que em 2007 houve uma taxa de 48,9% de mortalidade específica por doenças do
aparelho circulatório, e no Ceará esta taxa foi de 39,3%(4). Ressalta-se que,
para a redução da incidência, prevalência e mortalidade destas doenças, faz-se
necessário a prevenção dos fatores de risco associados a estes agravos.
Diante deste contexto, as DCV têm se destacado no âmbito da saúde pública,
sendo propostos alguns programas de reabilitação cardiovascular e estratégias
de promoção da saúde para a redução e/ou remoção de seus fatores de risco;
assim como a possibilidade de minimizar a morbimortalidade, sobretudo da DAC e
do IAM, além da boa relação entre custos sociais e econômicos destes programas,
quando comparados ao tratamento medicamentoso e cirúrgico(2).
Assim, uma empresa para alcançar a saúde ocupacional dos seus trabalhadores,
precisa de um sistema de monitoramento dos programas da medicina preventiva(5).
As Normas Regulamentadoras (NR) da Segurança e Medicina do Trabalho viabilizam
para a empresa medidas de prevenção de doença e promoção da saúde dos
trabalhadores no local de trabalho, pois podem antecipar precocemente a
situação de risco e danos à saúde do trabalhador(6). Entre essas Normas, tem-se
a NR-4 e a NR-7: a primeira estabelece a implantação dos Serviços
Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) e apresenta como
finalidade a promoção da saúde e proteção a integridade do trabalhador no local
de trabalho; a segunda estabelece a elaboração e implementação do Programa de
Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) e tem caráter preventivo,
rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho
(6).
O PCMSO é elaborado e executado pela equipe de saúde ocupacional, no qual são
realizados os exames médicos ocupacionais, com base nos riscos à saúde. Além
disso, é feito o monitoramento dos fatores de risco para as doenças crônico-
degenerativas, como as DCV, e suas consequências na qualidade de vida do
trabalhador. Também, são gerados relatórios clínicos e epidemiológicos, para
que sejam planejadas e realizadas as ações de saúde, de acordo com a
prevalência das doenças diagnosticadas. Deste modo, o PCMSO oferece subsídios
que resultam em dados clínicos e epidemiológicos que fomentam as ações
corretivas para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores no ambiente de
trabalho.
Desta forma, prevenir, rastrear e diagnosticar fatores de risco das DCV nos
profissionais, sobretudo nos da Enfermagem, exige acompanhamento rigoroso de
equipe especializada, realização de estratégias educativas de modo a incentivá-
los à adesão ao estilo de vida saudável, na perspectiva de diminuir e evitar as
complicações dessas doenças. Especialmente nos hospitais de referência
cardiopulmonar e acreditados pela Organização Nacional de Acreditação
Hospitalar, espera-se possuir uma equipe de qualidade profissional e de maior
experiência teórico-prática sobre tais condições de saúde.
Diante desse contexto, surgiram os seguintes questionamentos: quais os fatores
de risco para DCV presentes em profissionais de enfermagem de um hospital
público de Fortaleza com referência em cardiologia? Quais as estratégias de
promoção da saúde desenvolvidas pelo SESMT para o controle e prevenção de DCV
nos profissionais de enfermagem?
Assim sendo, este estudo teve como objetivos: identificar os fatores de risco
modificáveis e não modificáveis para DCV presentes nos profissionais de
enfermagem de um hospital público de referência e doenças cardiopulmonares e
descrever as estratégias de promoção da saúde realizadas pelos profissionais do
SESMT para o controle e a prevenção desses fatores de risco.
Espera-se com esta pesquisa contribuir para a sensibilização dos profissionais
de enfermagem no controle e prevenção das DCV, minimizar as complicações a que
estes estão expostos e colaborar para promoção da saúde dos profissionais que
trabalham para promover a saúde da população.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, documental, de natureza quantitativa, desenvolvido em um
hospital público de nível terciário, referência no atendimento cardiovascular e
pulmonar, situado em Fortaleza-Ceará-Brasil.
A população foi composta por 175 prontuários de profissionais de enfermagem da
referida instituição, os quais foram convocados a realizar os exames para o
Atestado Médico Ocupacional (ASO) no SESMT, realizado pela equipe de saúde
ocupacional, composta por médico e enfermeira, no período de janeiro 2009 a
dezembro de 2010. A amostra foi de 165 prontuários, obedecendo aos seguintes
critérios de inclusão: ser profissional de enfermagem efetivo da instituição e
estar exercendo suas atividades laborais no período de janeiro 2009 a dezembro
de 2010. E como critérios de exclusão: prontuários com dados incompletos,
funcionário com mais de um prontuário, tendo sido o mais antigo excluído.
A coleta de dados ocorreu em abril de 2011 nos prontuários da equipe de
enfermagem arquivados no SESMT da instituição, nos quais há os dados
estruturados de identificação do profissional, sexo, idade, estado civil,
categoria e tempo de instituição sendo considerados como fatores de risco não
modificáveis. Quanto às informações dos fatores de risco modificáveis
investigou-se: sedentarismo, presença de diabetes mellitus (DM) e hipertensão
arterial sistêmica (HAS), história familiar de HAS, tabagismo, etilismo,
colesterol e triglicerídeos elevados, índice de massa corpórea (IMC),
circunferência abdominal (CA) e pressão arterial (PA), conforme pressupostos
das Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. A coleta de informações sobre as
estratégias de promoção da saúde foi realizada a partir dos documentos
arquivados pela equipe de saúde ocupacional que atua no SESMT.
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e da literatura
pertinente à temática sendo apresentados em quadro e tabelas. A pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da referida instituição, sob Parecer
nº 548/08.
RESULTADOS
Dentre os resultados encontrados, constatou-se um predomínio de profissionais
jovens (52,7%) com idades até 40 anos; a maioria do sexo feminino (85,4%);
quanto ao estado civil e número de filhos dos profissionais de enfermagem,
percebeu-se que a maioria está solteira (51,0%) e não tem nenhum filho (43,0%)
- Tabela_1.
Tabela 1 Fatores de risco cardiovascular não modificáveis nos profissionais de
enfermagem. Fortaleza-CE, maio de 2011
Características dos profissionaisn % Média
Faixa etária
24 a 29 anos 24 14,5
30 a 40 anos 63 38,2
41 a 50 anos 52 32,0 40,4 anos
51 a 60 anos 22 13,3
≥61 anos 4 2,42
Sexo
Masculino 24 14,5
Feminino 141 85,4
Estado civil
Solteira(o) 84 51,0
Casada(o) 68 41,2
União consensual 8 5,0
Divorciada(o) 5 3,1
Número de filhos
Nenhum 71 43,0
Um 30 18,2
Dois 44 26,6
Três 17 10,3
Quatro 3 1,81
Função ocupacional
Enfermeira (o) 15 9,1
Técnica (o) de Enfermagem 71 43,0
Auxiliar de Enfermagem 72 43,6
Atendente de Enfermagem 7 4,24
Tempo de serviço na Instituição
1 a 10 anos 131 79,3
11 a 20 anos 29 15,6 8,54 anos
≥a 21 anos 5 3,03
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
Ao analisar a função ocupacional destes profissionais percebe-se um predomínio
de 43,6% de auxiliares de enfermagem e apenas 9,1% de enfermeiras(os); tendo
sido identificado considerável número de profissionais de nível médio. Tais
profissionais possuem, em média, 8,54 anos de tempo de serviço na Instituição.
Na Tabela_2 estão expostas as variáveis relacionadas aos fatores de riscos
cardiovasculares modificáveis, cujos fatores mais presentes foram: sedentarismo
(64,9%), etilismo (40,0%) e presença de HAS (17,5%).
Tabela 2 Caracterização dos profissionais de enfermagem quanto à presença de
fatores de risco cardiovascular modificáveis. Fortaleza-CE, maio/2011
Fatores de risco n %
Sedentarismo 107 64,9
Etilismo 66 40,0
HAS 29 17,5
Tabagismo 18 10,9
DM 13 7,9
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
Na Tabela_3, estão explicitadas as variáveis relacionadas ao IMC, CA,
colesterol total, triglicerídeo e PA. Com relação ao IMC, 21,8% dos
profissionais estavam obesos no dia da consulta, seguidos de 33,9% com
sobrepeso. A média do IMC foi de 27 Kg/m2. A CA de 49,7% dos profissionais de
enfermagem apresentou-se elevada.
Tabela 3 Caracterização dos profissionais de enfermagem quanto aos fatores de
risco cardiovascular modificáveis. Fortaleza-CE, maio/2011
Fatores de risco N % Média
IMC
Normal (≥ 20kg/m2) 15 9,1
Sobrepeso (≥ a 25 e < 30 kg/m2) 58 35,1
Obesidade (≥ a 30 e < 35 kg/m2) 56 33,9 27 kg/m2
Obesidade mórbida (≥ 35 kg/m2) 36 21,8
CA
Normal (<88 cm para mulheres e <102 cm para homens) 83 50,3
Elevado (>88 cm para mulheres e >102 cm para homens) 82 49,7 92 cm
Colesterol Total
Normal (≤ 200mg/dl) 119 72,2
Elevado (> 200mg/dl) 46 27,8
Triglicerídeo
Normal (≤ 150mg/dl) 123 74,5
Elevado (≥ 150mg/dl) 42 25,5
Pressão Arterial Sistêmica (PAS)
Ótima (≤ 120 x 80 mmHg) 109 66,0
Normal (≤ 130 x 85 mmHg) 24 14,5
Normal limítrofe (130-139 x 85- 89 mmHg) 18 11,0
Hipertensão estágio 1 (140-159 x 90-99 mmHg) 10 6,1
Hipertensão estágio 2 (160-179 x 100-109 mmHg) 3 1,8
Hipertensão estágio 3 (≥ 180 x 110 mmHg) 1 0,6
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
O colesterol total elevado estava presente em 27,8% dos profissionais de
enfermagem, o triglicerídeo encontrava-se elevado em 25,5%, e a pressão
arterial de 8,5% desses profissionais estava elevada no momento da aferição na
consulta no SESMT.
Dentre as principais estratégias de promoção da saúde para os fatores de risco
modificáveis, utilizada pela comissão do SESMT, na consulta ao profissional de
enfermagem teve-se: abordagem educativa individual e em grupo com
sensibilização para os efeitos nocivos do tabaco e etilismo incentivo à
eliminação de seu uso; encaminhamento para grupo específico e/ou especialista
como psicólogo, nutricionista e/ou cardiologista; sensibilização para a
realização de atividades físicas e alimentação saudável, bem como relaxamento
no ambiente laboral; acompanhamento periódico dos parâmetros clínicos e
bioquímicos pelos profissionais do SESMT; ações educativas coletivas com
entrega de material educativo como folders e verificação da pressão arterial,
mensuração do IMC, colesterol e triglicerídeos.
Verificou-se que dentre as estratégias educativas para as DCV, a maioria sugere
abordagens individuais e grupais. As abordagens individuais são realizadas no
momento do ASO e, dependendo das atividades laborais dos profissionais, são
feitas em periodicidade semestral ou anual, direcionadas para a prática do
autocuidado. As ações coletivas são desempenhadas de acordo com as datas
comemorativas da área da saúde, ou conforme a presença dos altos índices dos
fatores cardiovasculares.
Em todas essas abordagens são desenvolvidas estratégias de sensibilização para
adesão de estilo de vida saudável, incluindo atividades físicas e alimentação
saudável, bem como mudança de comportamento e, principalmente, praticar o
autocuidado para uma melhor qualidade de vida, além de encaminhamentos para
especialistas como cardiologista, nutricionista e, muitas vezes, psicólogo.
DISCUSSÃO
Descrever os indicadores de caracterização dos participantes da amostra é
fundamental para identificar os profissionais de Enfermagem que foram atendidos
pelo SESMT, além de saber a concordância dos dados com a literatura. Como
indicadores de caracterização dos profissionais de enfermagem foram
considerados os fatores de risco modificáveis e não modificáveis.
Para os fatores de risco modificáveis teve-se: faixa etária, sexo, estado
civil, número de filhos, função ocupacional e tempo de serviço na instituição
que pode ser relacionado com o estresse e possíveis alterações na qualidade de
vida. A análise dos dados dos profissionais de enfermagem foi realizada
simultaneamente, já que a literatura traz os mesmos dados de forma associada.
Com relação à faixa etária dos profissionais constatou-se um predomínio de
idade entre 30 e 40 anos, tal fator não deve ser encarado como meramente
biológico ou não influenciador, pois o avançar da idade pode contribuir para o
aparecimento de fatores de risco não modificáveis e complicações a curto e
longo prazo para as DCV.
Considera-se a idade biológica e cronológica, o perfil de longevidade familiar,
a associação com outros fatores de risco comuns nessa faixa etária (hipertensão
arterial e diabetes), a presença de doença arterial, o estado físico geral, as
doenças crônicas associadas e as interações medicamentosas. Deve-se lembrar,
ainda, a importância do exercício físico, como medida associada de promoção da
saúde ao controle dos fatores de risco, respeitando as limitações próprias da
idade, uma vez que qualquer redução do risco tem importante repercussão na
morbimortalidade(7).
Corrobora-se com estudiosos(8) acerca da gravidade das DCV e do aumento de sua
incidência com o avanço da idade, pois grande parte dessas doenças poderia ser
evitada. Para as doenças crônicas não transmissíveis mais frequentes como
diabetes e câncer as quais compartilham vários fatores de risco com as DCV,
propõe-se uma abordagem de prevenção e controle integrados, em todas as idades,
baseada na redução dos seguintes fatores como: hipertensão arterial, tabagismo,
uso de bebidas alcoólicas, falta de atividade física, dieta inadequada,
obesidade e hipercolesterolemia.
Com relação ao sexo verificou-se um predomínio de mulheres, podendo considerar
a Enfermagem, historicamente, como uma profissão feminina, porque é exercida
majoritariamente por mulheres e porque o cuidado, objeto prioritário dessa
profissão, tem sido tradicionalmente de responsabilidade social também das
mulheres, assim como favorecem o aumento da inserção destas no mercado de
trabalho(9).
No entanto, o presente estudo limita-se ao predomínio de sexo feminino, talvez
devido sua prevalência na profissão de enfermagem. Porém, com relação aos
fatores de risco cardiovasculares, verifica-se um predomínio de estudos que
referem o sexo masculino como um achado esperado, tendo em vista que os homens
apresentam alterações cardíacas mais precocemente que as mulheres, o que
favorece o surgimento de complicações, como doença arterial coronariana(7).
Quanto à função ocupacional predominou profissionais de nível médio com mais de
oito anos de tempo de serviço, o que se remete a extensa experiência com a
apresentação dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Tais
achados podem ser decorrentes do maior quantitativo desse profissional na
equipe de enfermagem.
No entanto, remete-se a uma reflexão já que em outro estudo(10), realizado na
mesma instituição, constatou-se que tais profissionais tiveram predomínio de
fatores de risco para o desenvolvimento de HAS, já que seria esperado encontrar
menor prevalência da doença, em virtude da equipe de enfermagem ter
oportunidade de adquirir informações acerca da patologia, tratamento e
prevenção, e ainda tem o papel de disseminá-las. Especialmente, por se tratar
de profissionais que trabalham em um hospital e referencia nas áreas
cardiovascular, torácica e pulmonar, e atuar como centro de ensino e pesquisa.
Fatores de risco cardiovasculares modificáveis
Com relação ao tabagismo, 11% dos trabalhadores de enfermagem eram tabagistas.
Sabe-se que o fumo é considerado o único fator de risco totalmente evitável
para o surgimento de doenças e morte cardiovasculares(7-11).
De acordo com a ingestão de bebidas alcoólicas, verificou-se que, no presente
estudo, 40% dos profissionais de enfermagem faziam uso com freqüência e
ultrapassavam a quantidade de 30g de etanol ao dia, para homens, e metade desta
quantidade para mulheres. Estudos comprovam que o etilismo é considerado
importante fator de risco para elevação da PA; sendo referido que o consumo de
bebida alcoólica pode aumentar consideravelmente o risco de doenças
cardiovasculares(7).
No sistema cardiovascular, o consumo elevado e frequente de álcool está
associado ao aumento da pressão arterial, desrregulação de lipídios e
triglicerídeos e maior risco de infarto do miocárdio e doenças
cerebrovasculares. O álcool também eleva a frequência cardíaca de consumidores
eventuais, aumentando o desgaste cardíaco em repouso e o consumo energético
pelo miocárdio(12).
Com relação ao sedentarismo, definido como a ausência de esforço físico no
trabalho ou no lazer(12), a amostra estudada relatou a não realização de
atividade física. Portanto, corrobora-se com estudiosos, que referem à
importância da prática de exercícios físicos com finalidade de evitar o
surgimento de DCV, pois além de melhorar a qualidade de vida do paciente,
aumenta as taxas do colesterol HDL e diminui o sobrepeso(11-13).
A morbidade por DM estava presente em 7,9% dos trabalhadores, sendo associado à
HAS com 17,5% dos profissionais de enfermagem. Um estudo desenvolvido no Rio
Grande do Sul investigou 93 portadores de HAS constatando que 23,9% dos
entrevistados eram portadores de DM. Além disso, relatos de estudiosos
enfatizam que a presença de morbidades associadas à HAS, principalmente, o DM
aumenta os riscos de um acidente vascular encefálico(14).
O fator não modificável, como a presença de HAS, foi bastante prevalente na
pesquisa, com 17,5% dos profissionais que possuem historia familiar de HAS, o
que está de acordo com um estudo realizado em 2008, em que se identificou que
32% dos pacientes entrevistados tinham história familiar de HAS(15).
No que diz respeito aos exames físicos e bioquímicos, verifica-se que o
colesterol total está alto em 27,8% dos profissionais no presente estudo. Já o
triglicerídeo estava alterado em 25,5%. As dislipidemias são consideradas como
um problema de saúde pública devido a sua estreita relação com o surgimento de
DCV, estando classificadas entre os mais importantes fatores de risco para
doença cardiovascular aterosclerótica(16).
A PA dos trabalhadores estava elevada no momento da consulta ao SESMET. Com
relação ao IMC a maioria estava com sobrepeso, seguidos de obesos no dia da
consulta de Enfermagem. Por isso, corrobora-se com autores(17) que referem que
as alterações do IMC podem estar diretamente relacionadas com a ocorrência de
HAS.
Dados provenientes de 48 diferentes países entre 1983 e 1986 mostraram que
entre 50% e 70% da população de adultos com idades entre 35 e 64 anos estavam
acima do peso ou eram obesos(18). No que diz respeito a CA, 49,7% dos
trabalhadores estavam com a CA acima da média permitida. A média da CA foi de
92 cm. O depósito de gordura no abdômen contribui com o aumento do risco de
doenças cardiovasculares. A associação do IMC e da circunferência abdominais
ambos alterados aumenta as chances de ocorrência de HAS(17).
Diante dos resultados da presente pesquisa, percebe-se que esses assinalam a
importância da identificação e quantificação dos diferentes fatores de risco
para DCV em desenvolver ações relevantes na intervenção preventiva para essa
doença. Percebe-se que há semelhanças na prevalência da doença em profissionais
de enfermagem. Tal fato demonstra que a auto-responsabilidade e o autocuidado
constituem habilidades essenciais para a superação de doenças em qualquer
profissão(19).
Estratégias de promoção da saúde para minimizar os fatores de DCV
Atualmente, as transformações no ambiente da atenção à saúde exigem o uso de
estratégias de educação em saúde, de forma que os indivíduos tenham a
capacidade de atender as suas necessidades. Uma educação para a saúde eficaz
volta-se para o bem estar das pessoas e das comunidades e transcorre por
processos de ensino e aprendizagem.
O ensino com ênfase na educação para saúde tem origem, em parte, do direito das
pessoas terem acesso a uma atenção a saúde compreensiva, possibilitando o
surgimento de um público informado que questiona mais significativamente sobre
saúde e sobre os serviços de atenção a saúde que recebem. Um dos maiores grupos
de pessoas que requerem educação para a saúde é aqueles com doenças crônicas e,
à medida que aumenta a longevidade da população, aumenta também as pessoas
portadoras dessas doenças. E, com o avanço das novas terapêuticas, as pessoas
necessitam adotar comportamentos mais conscientes(3).
No processo do cuidar, a equipe de enfermagem atua como cuidador do outro e, na
maioria das vezes, se esquece de praticar o autocuidado. Vários fatores
concorrem para essa problemática, dentre estes se tem a dupla jornada de
trabalho, a responsabilidade muitas vezes de garantir a manutenção da família,
e outros compromissos referentes às condições econômicas. Todas contribuem para
o surgimento de DCV, incluindo ainda o estresse advindo do ambiente de trabalho
e o constante desgaste emocional em face desse convívio(10).
Diante dessa realidade, a equipe de saúde ocupacional, no momento do ASO,
identifica os principais fatores de risco cardiovasculares e propõe algumas
estratégias de promoção, proteção e recuperação da saúde junto aos
profissionais de enfermagem, tais como acompanhamento individual e em grupo,
assim como ações de sensibilização para modificar hábitos considerados não
saudáveis como uso de tabaco e bebidas alcóolicas, alimentação hipercalórica e
a não adesão da prática de atividade física.
Corroboram-se com os autores(20) quando referem à importância de uma prática
profissional, em especial dos que atuam no SESMT, viabilizando a realização de
atividades educativas com base na comunicação, favorecendo a sensibilização e a
emancipação do trabalhador, uma vez que a educação em saúde possibilita a
criação do vínculo profissional-paciente, reafirmando condições para
modificações comportamentais e a redução ou extinção dos fatores de risco
cardiovasculares em profissionais de enfermagem atuantes em um hospital
referência em doenças cardiopulmonares.
CONCLUSÃO
As características sociodemográficas dos profissionais de enfermagem verificou-
se que a maioria era do sexo feminino, com média de idade 40,4 anos, solteira,
sem filhos, exerce atividade ocupacional de técnicas de enfermagem e com tempo
de atuação na instituição entre um a dez anos e 72,9% com antecedentes
familiares de HAS sendo considerados fatores de risco não modificáveis.
No que se refere à presença de fatores de risco cardiovasculares modificáveis
constatou-se o sedentarismo (64,9%), peso elevado (56,4%), 49,7% com CA acima
dos níveis de normalidade; ingestão de algum tipo de bebida alcoólica com
frequência (40%), o colesterol total elevado (27,8%), triglicerídeo elevado
(25,5%), diagnóstico de HAS (17,5%), tabagistas (11,0%), PA elevada (8,5%), e
diagnóstico de DM (7,9%).
Em relação às estratégias educativas para prevenção e controle dos fatores de
riscos das DCV, percebe-se que a equipe de saúde ocupacional realiza de forma
individual e coletiva, além de encaminhamentos para os especialistas,
especialmente os que apresentam maior risco, estes são acompanhados e
sensibilizados para aderir um estilo de vida saudável e praticar mudança de
comportamento para uma melhor qualidade de vida.
O presente estudo reflete a importância de pesquisas acerca de fatores de
riscos para DCV em profissionais de enfermagem, gerando informações importantes
para os gestores das instituições de saúde, além de favorecer a elaboração de
estratégias de promoção da saúde, que atendam às características específicas
desse grupo, promovendo assim a saúde do cuidador.
Apesar do empenho da equipe de saúde ocupacional, estes achados justificam a
necessidade de maior comprometimento das autoridades locais, assim como da
própria equipe de saúde ocupacional do SESMT da instituição, pois se percebe um
alto índice de fatores de risco para DCV presentes nos profissionais da
enfermagem.
Vale salientar, a importância de intensificar a implementação de ações
interventivas integradas e intersetoriais de promoção da saúde e prevenção de
DCV, de forma individual e coletiva, auxiliando as pessoas a modificarem os
comportamentos de risco, favorecendo, assim, a adoção de hábitos de vida mais
saudáveis.
Ao focalizar na Enfermagem, considerada uma profissão que se compromete com a
saúde do ser humano e sua qualidade de vida, percebe-se que estes necessitam de
maior autoestima e preocupação com a própria saúde; ressaltando que os
profissionais de enfermagem são vulneráveis aos fatores que predispõem às DCV.
Dentre as limitações do estudo, podem ser citados os registros incompletos da
consulta de enfermagem sobre os dados clínicos e sociodemográficos dos
profissionais, podendo este ser um aspecto contribuinte para mascarar os reais
fatores de risco para as doenças cardiovasculares.
Ressalta-se a importância de estratégias que promovam a saúde e favoreçam a
qualidade de vida desses profissionais, pois em geral são cuidadores,
entretanto, têm dificuldades de praticar o autocuidado. Faz necessário
acompanhamento e atenção especial para todos os profissionais da saúde, de
maneira especial os de enfermagem, uma vez que o processo de trabalho
desenvolvido pelos mesmos envolve riscos ocupacionais, longas jornadas e
excesso de estresse. Torna-se, portanto, prerrogativa das políticas de saúde
priorizar a atenção aos profissionais cuidadores no âmbito das Instituições de
saúde, com vistas a reduzir os riscos cardiovasculares e promover a saúde.