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BrBRCVHe0047-20852006000200005

BrBRCVHe0047-20852006000200005

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0047-2085
Year2006
Issue0002
Article number00005

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Produção brasileira em periódicos psiquiátricos de alto fator de impacto em 2005

Introdução A abrangência da circulação de uma publicação (local, nacional ou internacional) transformou-se num parâmetro indicativo de qualidade a partir do final do século XIX. Diante da crescente quantidade de artigos publicados em todo o mundo sobre um determinado assunto e da impossibilidade de acompanhar esse crescimento, pesquisadores começaram a desenvolver sistemas que racionalizassem e facilitassem o acesso a essas informações. Criaram então os primeiros abstracts, sistemas de indexação da literatura que, hoje, aliados aos recursos informacionais, apresentam-se como poderosas ferramentas de disseminação da informação científica. Ao longo do tempo, numa escala global, a inclusão de um título de periódico em alguns desses sistemas passou a ser vista como indicativo de prestígio à publicação (Miranda et al., 1996).

Em 1958 foi criado na Filadélfia, Estados Unidos, o Institute for Scientific Information (ISI), que passou a avaliar a produção científica mundial nas mais diversas áreas. Para que um periódico ingresse nessa base de dados ele deve reunir requisitos como pontualidade de publicação e cumprimento das normas internacionais de editoração (título informativo, correção das referências citadas, informações completas dos autores, pelo menos título, resumo e descritores em inglês, e processo de revisão dos artigos a serem publicados por pares ' peer review). O critério de seleção é rigoroso, uma vez que o Institute for Scientific Information (ISI) tem o compromisso de oferecer a cobertura completa dos periódicos mais importantes e influentes do mundo para atualização de informações e entende que tal cobertura deva ser feita não pela quantidade, mas pela qualidade (Garfield, 1995).

O ISI avalia o desempenho de cerca de 3.500 periódicos indexados através do Journal of Citation Reports(JCR). O principal parâmetro utilizado é o chamado fator de impacto (FI), o qual é calculado pela divisão do número de citações que um periódico recebe ao longo de dois anos pelo número de todos os artigos nele publicados nesse mesmo período. Assim, quanto maior tiver sido o FI de um periódico, mais vezes, na média, seus artigos foram citados em outros periódicos, o que nos uma medida, pelo menos indireta, da qualidade e da relevância dessas publicações (Garfield, 1995; Moed, 2002).

Em 2005, Bressan, Gerolin e Mari avaliaram a produção científica nacional das áreas de psiquiatria, psicobiologia e saúde mental, no período compreendido entre 1998 e 2002, em nove programas nacionais de pós-graduação stricto sensudas áreas citadas. Esses autores concluem que, segundo dados do JCRde 2004, o Brasil é o 28ººpaís no rankingde citações e número de artigos indexados no ISI na área de psiquiatria/psicologia. Além disso, o Brasil passa por fase de crescimento de publicações de psiquiatria e áreas afins em jornais indexados no ISI, demonstrada, entre outras coisas, pelo fato de entre 1998 e 2002 o número de publicações no ISI ter dobrado (Bressan et al., 2005).

No JCRde 2004 constam 90 periódicos de psiquiatria e seus respectivos FIs.

Observamos, entretanto, uma enorme variação entre eles. Entre o Archives of General Psychiatry(FI = 11,2), que se encontra em primeiro lugar no ranking, e o Zh Nevropatol Psik(FI = 0,13), em 90º, uma diferença de 86 vezes no FI. Ou seja, em média, um artigo publicado na primeira revista é 86 vezes mais citado do que um outro publicado na segunda revista (JCR, 2004).

Tendo em vista essa discrepância, objetivamos no presente estudo avaliar a produção brasileira, no ano de 2005, nas 20 revistas de psiquiatria com maior FI segundo o JCRde 2004, possibilitando perceber a verdadeira contribuição da pesquisa brasileira para os periódicos de maior influência.

Métodos Através do sitehttp://esi3.isiknowledge.com/rankdatapage.cgi, acessado em 1 de abril de 2006, obtivemos o JCRde 2004, onde constam 90 periódicos de psiquiatria com FI variando de 11,2 até 0,13 (2,2 ± 1,8). Para nosso estudo selecionamos todos os periódicos que se enquadram no percentil 75 (FI > 3.042), totalizando 20 periódicos.

Cada periódico tem formato diferente e publica artigos com diversas características, como editoriais, revisões, cartas, artigos completos, artigos breves, comentários, entre outros. Consideramos em nossa análise todos os tipos de artigo, excetuando-se apenas comentários sobre livros e erratas.

Entre esses artigos avaliamos inicialmente aqueles em que pelo menos um autor tem afiliação a instituição brasileira. A seguir analisamos os artigos em que pelo menos o primeiro autor e/ou o autor sênior têm afiliação a instituição brasileira e artigos em que todos os autores apresentam afiliação a instituição brasileira, ou seja, artigos produzidos por uma equipe trabalhando exclusivamente no Brasil.

A seguir avaliamos, entre os artigos selecionados, a respectiva distribuição das publicações por estados de acordo com a instituição de pesquisa à qual o pesquisador está afiliado.

A análise estatística foi realizada com o programa SPSS v. 14 para Windows.

Resultados Os 20 periódicos de psiquiatria indexados no ISI e citados no JCRde 2004 com maior FI (4,25 ± 1,97) estão listados na Tabela_1.

Para cada periódico obtivemos o número de artigos publicados em 2005 e, a seguir, avaliamos quantos desses artigos, para cada revista, tinham pelo menos um autor com afiliação numa instituição brasileira. No total obtivemos 4.859 artigos, sendo que em 54 deles (1,11%) havia pelo menos um autor com afiliação a instituição brasileira. Ao se analisarem os artigos que apresentam autor sênior brasileiro, excluindose aqueles compostos exclusivamente por pesquisadores brasileiros, obtiveram-se seis publicações num total de 22 artigos. Artigos produzidos por equipe exclusivamente brasileira representaram 32 publicações, mais da metade dos artigos publicados com pelo menos um autor brasileiro (59,25%) (Tabela_1).

Ao se analisarem os 54 artigos e determinar a distribuição por estados da instituição de pesquisa à qual está(ão) vinculado(s) o(s) autor(res) brasileiro (s), obteve-se um total de 61 citações, que instituições de estados diferentes, em alguns casos, estiveram presentes na mesma publicação devido ao trabalho conjunto entre várias delas. O estado de São Paulo, com 34 publicações (55,73%), ficou na primeira posição, seguido pelo Rio Grande do Sul com dez publicações (16,39%). predominância absoluta do eixo Sudeste-Sul, com 96,72% dos artigos (Tabela_2)

Discussão A produção científica brasileira medida por número de artigos em periódicos científicos internacionais indexados pelo ISI mais que quintuplicou de 1981 a 2002, ocupando, em outubro de 2002, o 22º lugar no número de publicações, o 25º em relação à quantidade de citações e o 92ºlugar no quesito citações/publicação (In-Cities, 2004). Conseqüentemente houve crescimento das publicações brasileiras de 0,44% da produção científica mundial, em 1981, para 1,53%, entre 2000 e 2004. Nesse mesmo período, o Brasil foi responsável por 0,41% dos artigos publicados em periódicos ligados à pesquisa da área psiquiatria/ psicologia, com 3,01 citações/artigo, o melhor índice ao se compararem as inúmeras áreas científicas, apenas 12% abaixo do índice mundial de 3,43 citações/artigo (In-Cities, 2005). Em nosso estudo, 1,11% dos artigos publicados nas 20 revistas de maior FI apresentam pelo menos um autor brasileiro, enquanto quase 60% dos artigos são exclusivamente compostos por membros de instituições nacionais. Como nenhum dos 90 periódicos de psiquiatria do JCRde 2004 foi avaliado, não podemos afirmar que houve crescimento do número de artigos com autores brasileiros, mas observa-se, entre os periódicos psiquiátricos de maior relevância, uma importante participação do Brasil.

Devemos ainda lembrar que matérias das áreas de psiquiatria, psicobiologia e saúde mental podem ser publicadas em revistas de outras áreas que não a psiquiatria, como genética, neurociência e farmacologia, que não foram avaliadas aqui.

Merece destaque o fato de que, dos 22 artigos em que houve contribuição de brasileiros, 72,72% tinham o pesquisador nacional como co-autor. O Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE) define que a co-autoria também é autoria (autorship) e que todos os autores devem assumir responsabilidade pública pelo conteúdo publicado. Embora até hoje trabalhos mostrem que é difícil definir com clareza a natureza e o papel da contribuição de co-autores e publicações com diversos autores, o comitê afirma que a ordem de autoria deve ser uma decisão tomada coletivamente. Do ponto de vista da importância, geralmente são considerados principais contribuintes os três primeiros e o último, geralmente o mentor do grupo. Os autores que se situam entre esses extremos são menos importantes. No entanto, quando um autor é citado, os co-autores acabam sendo também automaticamente citados, pois a citação refere-se à obra produzida pelo conjunto dos autores (Almeida, 1998; Shapiro et al., 1994).

Em nosso estudo observamos predominância absoluta dos estados das regiões Sudeste e Sul como origem das instituições a que são afiliados os autores. é sabido que a produção científica na área médica está restrita fundamentalmente às grandes escolas, localizadas nessas regiões, e compreende trabalhos não médicos, mas também de áreas básicas tradicionalmente ligadas à medicina.

Independentemente do índice estudado, o eixo Sudeste-Sul é, na maioria dos casos, o mais privilegiado, onde estão os centros de excelência, o maior número de pesquisadores e de cursos de pós-graduação, as grandes editoras e empresas e os meios de comunicação mais poderosos, além, é claro, de ser o pólo da economia nacional (Miranda et al., 1996). Palavras textuais de Castro ditas em 1986 se encontram em plena ressonância com o panorama atual: "a polarização da ciência nos locais mais prósperos...", porque "as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (excluindo Brasília) produzem apenas 9,5% da ciência brasileira, o que equivale a dizer que quase toda a atividade científica está concentrada no Centro-Sul" (Castro, 1986).

Dentro dessa concentraçãoda produção científica nas regiões Sudeste e Sul, observam-se mais desigualdades. Segundo o último censo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizado em 2004, o Sudeste e o Sul apresentam, respectivamente, 52% e 21% das instituições de pesquisa do país (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [CAPES], 2004). Entre os nove programas de pós-graduação (PG) das áreas de psiquiatria, psicobiologia e saúde mental existentes no Brasil (ciências médicas: psiquiatria ' Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS]; medicina: saúde mental ' Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto [USP/RP]; neuropsiquiatria e ciências do comportamento ' Universidade Federal de Pernambuco [UFPE]; psicobiologia ' Universidade Federal do Rio Grande do Norte [UFRN]; psicobiologia ' USP/RP; psicobiologia ' Universidade Federal de São Paulo [UNIFESP]; psiquiatria ' USP; psiquiatria e psicologia médica ' UNIFESP; psiquiatria, psicanálise e saúde mental ' Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ]), seis (62,5%) se encontram na região Sudeste, estando cinco no estado de São Paulo e um no Rio de Janeiro.

Os dados obtidos em nosso trabalho apontam para a predominância do número de artigos nos estados que mantêm PG nas áreas citadas (Bressan et al., 2005).

Embora não seja o foco desse estudo, não deixa de ser sugestiva essa correlação entre a existência dos programas e a produção, o que pode indicar a importância e o vigor do sistema como catalisador da produção científica, qualificando um número cada vez maior de mestres e doutores, pessoas capacitadas a desenvolver e coordenar projetos de pesquisa. Deve-se ressaltar que não correlação direta entre essas áreas de pesquisa da PG estudadas e os periódicos de psiquiatria avaliados, que outras áreas, como, por exemplo, a neurociência e a neurologia, podem desenvolver trabalhos correlatos com o perfil de publicação dos periódicos.

É sabido que uma intrínseca relação entre o ISI e o Index Medicus.

Geralmente, periódicos indexados no ISI também o são no sistema norte-americano Index Medicus(National Library of Medicine, Washington), cuja versão informatizada se chama Medline. Contudo muitos jornais indexados no Medline não possuem cálculo de FI. Por exemplo, no Brasil, a Revista Brasileira de Psiquiatria, de qualidade científica indiscutível, é indexada no Medline, mas ainda não possui FI, embora, recentemente, em 2005, tenha sido indexada no ISI e, em breve, deva ter o seu FI divulgado (Bressan et al., 2005). Portanto, ao se tentar estudar a atual participação da pesquisa nacional tanto na área psiquiátrica como em outras, deve-se entender que o ISI não é o único destinodos resultados alcançados. Nossa ciência pode ser representada por um icebergque tem uma parte visível acima da água, que estaria representando a produção científica brasileira nas bases de dados internacionais, no caso do ISI, e que corresponde a aproximadamente 20% a 25% do total (Miranda et al., 1996). A produção nacional que não está indexada no ISI corresponde a cerca de 80% e se mantém submersa, pouco visível. Isso de imediato traz uma preocupação óbvia para todos nós, pesquisadores brasileiros: a de não podermos saber qual é a qualidade dessa produção, qual o impacto de sua circulação e a não- acessibilidade dessa produção por leitores internacionais (Bressan et al., 2005; Shapiro et al., 1994).

Conclusão Para resumir, verificamos que, apesar de as publicações brasileiras em psiquiatria terem apresentado aparente crescimento quantitativo e qualitativo, a produção científica da área é ainda insuficiente, principalmente se levarmos em conta a alta prevalência dos transtornos mentais no Brasil, o ônus de sofrimento e o custo a que estão sujeitos os pacientes e a sociedade (Almeida- Filho et al., 1997). Em estudo recente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que condições neuropsiquiátricas como a depressão unipolar, a dependência do álcool, o transtorno bipolar e a esquizofrenia estão entre as doenças que mais causam "anos vividos com incapacitação" (Murray e Lopez, 1996). O investimento na área de psiquiatria no Brasil é, portanto, crucial ante a prevalência, a morbidade e o impacto socioeconômico causados pelas doenças mentais.


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