Pectus excavatum: abordagem terapêutica
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INTRODUÇÃO
Para um profissional não ligado a um centro universitário ou de referência no
tratamento das deformidades de parede torácica anterior, o pectus excavatum é
uma doença incomum. Habitualmente, o cirurgião torácico tem pouco interesse por
essa doença, com conseqüente dificuldade na sua identificação, classificação e
indicação de tratamento adequado. A literatura médica especializada dispõe de
inúmeras técnicas de tratamento, levando o cirurgião menos experiente a optar
pela que tem maior divulgação internacional ou nacional, influenciado pelo
prestígio do defensor da técnica, "facilidade aparente" e ainda, pela novidade
ou simplesmente modismo. Mas para a escolha da conduta terapêutica adequada é
fundamental o conhecimento dos seus tipos, doenças associadas, indicações e
técnicas cirúrgicas, assim como seus resultados.
DEFINIÇÃO
Pectus excavatum, conhecido entre os leigos como "peito de sapateiro", "peito
escavado", ou "tórax escavado", é uma deformidade por depressão do esterno e
das cartilagens costais inferiores, eventualmente acompanhada de deformidade da
extremidade anterior das costelas na sua articulação com as cartilagens
costais. É freqüente uma protusão das cartilagens costais anteriormente ao
rebordo costal que acentua a percepção do defeito, com a segunda costela, sua
respectiva cartilagem costal e manúbrio normais.
INCIDÊNCIA/ETIOLOGIA
Embora Hipócrates já tivesse feito referência às deformidades da parede
torácica anterior, atribui-se a Bauhinus, em 1494, o relato do primeiro caso. A
incidência do pectus excavatum varia de 0,58 a 3/10001,2, com história familiar
ocorrendo em 23 a 41%2,3,4 e com predominância do sexo masculino de 4 a 9:15,6.
A associação com várias doenças congênitas tem sido relatada: cardiopatias
congênitas (defeitos septais, prolapso de válvula mitral, ducto
arterioso)7,8,9; Síndrome de Marfan10,11; Síndrome de Pierre Robin7,11;
Síndrome de Prune Belly7; paralisia cerebral7; esclerose tuberosa; costela
cervical bilateral; hérnia diafragmática congênita6,12; neurofibromatose; fenda
palatina11; agenesia pulmonar13; enfisema lobar congênito11 e Síndrome de
Poland7. Oitenta e seis por cento dos casos são percebidos ao nascimento, sendo
sua evolução variável e, em alguns casos, a deformidade discreta pode se
acentuar na puberdade14, 15 Embora haja evidência de hereditariedade não se
tinha relatos de estudos específicos. Em estudo de 34 famílias demonstrou-se
sugestão de 14 com hereditariedade autossômica dominante, quatro com
hereditariedade recessiva autossômica, seis com hereditariedade recessivaligada
ao cromossoma X e 10 com padrões complexos de hereditariedade, portanto
evidências de que o pectus excavatum é uma doença hereditária e possivelmente
do tecido conectivo16.
Atualmente, a teoria mais aceita e mais utilizada, inclusive como base para o
tratamento cirúrgico, é a do crescimento exagerado das cartilagens costais,
causando um deslocamento posterior do esterno e conseqüente depressão. O
mecanismo do hiper-crescimento condral é inexplicado, mas sabe-se que os
centros de ossificação do esterno são normais, assim como o aspecto histológico
das cartilagens costais3,13,17. Haje faz referência a um pectus excavatum
iatrogênico após cirurgia cardíaca conseqüente à lesão dos centros de
ossificação esternal na esternotomia18.
CLASSIFICAÇÃO
O pectus excavatum pode ser classificado em: simétrico, no qual há depressão
esternal em maior ou menor grau, sendo os dois lados praticamente iguais, e
assimétrico, quando há diferença entre as duas metades do tórax e o esterno,
além de deprimido, apresenta-se rodado(14) (Figura_1). Estes dois tipos de
pectus podem ser subdivididos em: pectus excavatum agudo, quando há depressão
condro-esternal profunda, menor no sentido transversal e as extremidades
anteriores das costelas não são deprimidas e apresenta limites nítidos (Figura
2) e pectus excavatum amplo no qual a deformidade é acentuada no sentido
transversal, com limites imprecisos e com as costelas participando do defeito
juntamente com a depressão condro-esternal 15 (Figura_3). Salienta-se ainda que
a presença das protusões costais inferiores podem influenciar no tipo de
operação a ser indicada assim como tornar a correção cirúrgica mais trabalhosa.
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QUADRO CLÍNICO
O pectus excavatum está presente ao nascimento mesmo numa forma discreta e é
freqüente que se acentue no início da puberdade e tenha crescimento progressivo
até o adolescente atingir a forma do corpo próxima da definitiva. Isto explica
o porquê de alguns pais afirmarem que o defeito começou há apenas alguns dias,
semanas ou meses. Os pacientes são, na maioria das vezes, assintomáticos, mas
na adolescência queixam-se de dor retroesternal, cansaço fácil, dispnéia e
palpitações, que são de difícil diferenciação com sintomas de ordem emocional,
pois são arredios, introvertidos e, eventualmente, com complexo de
inferioridade, afastando-se do convívio social e de atividades físicas em que
tenham de expor o tórax. Além de depressão esternal, os pacientes comumente
apresentam-se com abdome protuberante e má postura, pelo deslocamento anterior
dos ombros e deformidades da coluna, como a cifose. Pode haver hipomastia e/ou
mamas com desvio medial dos mamilos nos pacientes do sexo feminino. Arritmias,
principalmente atriais, podem ser atribuídas à compressão do coração ou fatores
emocionais15.
A maioria dos autores considera o pectus excavatum como um defeito estético,
porque nos pacientes do sexo masculino, a forma normal do tórax está
relacionada a sua visão de força e virilidade, enquanto no sexo feminino a
forma grotesca do tórax e das mamas, cuja posição também está alterada pela
depressão esternal, compromete sobremaneira a percepção da feminilidade11.
RADIOGRAFIA DO TÓRAX
A radiografia do tórax póstero-anterior mostra, dependendo do grau da depressão
esternal, desvio do coração para a esquerda. A radiografia do tórax em perfil
mostra a depressão esternal em maior ou menor grau, com a articulação manúbrio-
esternal livre e, nas crianças e adolescentes as placas cartilaginosas de
crescimento esternais estão presentes e individualizadas15. Destaca-se que no
esterno não existem suturas e sim placas cartilaginosas de crescimento17.
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
A tomografia computadorizada, que pode ser acompanhada de reconstrução
tridimensional, mostra a depressão do esterno, o desvio do coração para a
esquerda e a deformidade ou compressão cardíaca19. O grau de depressão esternal
é variável, tendo havido várias tentativas, no passado, de graduação através de
índices (Índice de Welch3 e Índice de Wada10,19). Atualmente, o Índice de
Haller20, que é a relação entre o maior diâmetro transverso do tórax e a menor
distância entre a face posterior do esterno à face anterior do corpo vertebral,
tem sido utilizado como parâmetro para indicação cirúrgica, especialmente na
cirurgia de Nuss. Para alguns, Índice de Haller acima de 3,25 relaciona-se à
moderada ou severa mudança do coração e mediastino dentro do hemitórax
esquerdo. E baseado em medidas antropométricas, Rebeis publicou o Índice
Antropométrico, obtido pela divisão da medida transversal do tórax ao nível da
maior depressão esternal pela menor distância ântero-posterior do tórax ao
nível da depressão, encontrando correlação de 86% com o Índice de Haller21.
Como os pacientes com "tórax chato" e pectus excavatum não obtinham ganho na
área seccional do tórax no pós-operatório e os portadores de pectus excavatum
assimétrico não tinham o resultado pós-operatório esperado, introduziu-se o
conceito de Índice Assimétrico e do cálculo da área seccional do tórax para
avaliar-se o ganho na área calculada após o reparo cirúrgico22.
PROVAS DE FUNÇÃO PULMONAR
A dispnéia, presente em alguns pacientes, relaciona-se à diminuição do volume
intratorácico com conseqüente diminuição dos volumes pulmonares. Os testes de
função pulmonar mostram poucas alterações devido a vários fatores, como grandes
variações do normal; vários métodos de aferição; tolerância aos exercícios e
utilização de tabelas de populações normais para comparação com o indivíduo
submetido aos testes. Kaguraoka encontrou média da capacidade vital de 86,1% e
do volume expiratório forçado em um segundo (VEF1) de 85,5%, e um decréscimo de
10% no pós-operatório de dois meses, com retorno aos níveis pré-operatórios em
um ano, sem melhora da capacidade vital até 42 meses de pós-operatório23. Dato
não encontrou diferença significativa pré e pós-operatória em relação à função
pulmonar5. Morshuis encontrou diminuição da capacidade vital e capacidade
pulmonar total para a idade, restritiva, com piora das características
restritivas no pós-operatório, apesar da melhora dos sintomas e do aumento do
diâmetro ântero-posterior do tórax após a cirurgia24. Wynn notou capacidade
pulmonar diminuída, decrescendo 8% no pós-operatório25. Haller não encontrou
diferença significativa entre as provas de função pulmonar no pré e pós-
operatório, porém encontrou melhora na oximetria após a cirurgia, o que foi
atribuída ao aumento do débito cardíaco por aliviar a compressão cardíaca pela
deformidade26. Malek, em estudo comparativo de dados pré e pós-operatórios de
pacientes com pectus excavatum submetidos à cirurgia de Nuss e após a retirada
da barra, demonstrou que, no pré-operatório, os pacientes apresentaram em média
capacidade vital forçada (CVF) e VEF1 13% abaixo do normal, ocorrendo aumento
pós-operatório de todos os parâmetros27. Sigalet encontrou melhora na
tolerância subjetiva ao exercício, melhora da função cardíaca e diminuição
significativa da função pulmonar após dois anos em pacientes submetidos à
cirurgia de Nuss28. Portanto, os estudos não demonstram com clareza a melhora
ou mesmo piora fisiológica após a cirurgia do pectus excavatum, pois a melhora
subjetiva pode estar relacionada à liberação emocional para a prática de
atividade física que os pacientes anteriormente não realizavam por vergonha de
expor o tórax.
EFEITOS CARDIOVASCULARES
Embora não haja consenso, alguns autores afirmam que não há comprometimento
cardiovascular no pectus excavatum, o que contrasta com a melhora no desempenho
nas atividades físicas após a cirurgia. Eventualmente nota-se um sopro
sistólico, que pode ser devido ao fluxo sanguíneo maior num ventrículo direito
comprimido ou ao prolapso mitral associado. Num estudo com pacientes
praticantes de exercícios aeróbicos sugeriu-se que o pectus excavatum está
associado à reduzida capacidade de exercício devido à queda da performance
cardiovascular e não à limitação da ventilação, mas a avaliação por
cintilografia miocárdica em repouso e em exercício não demonstrou qualquer
alteração na fração de ejeção do ventrículo esquerdo pós-operatório29. Mas
Malek, numa mata-análise sobre a função cardiovascular em portadores de pectus
excavatum demonstrou que a correção cirúrgica aumenta a função cardiovascular,
contrariando o argumento de que a indicação para a correção seja apenas
cosmética30.
ELETROCARDIOGRAMA
Alterações eletrocardiográficas são freqüentemente encontradas e atribuídas à
configuração anômala da caixa torácica e ao deslocamento e rotação do coração
dentro do hemitórax esquerdo. Podem ser encontradas arritmias como fibrilação
atrial, flutter atrial, taquicardia paroxística e extrassístoles; bloqueio do
ramo direito; depressão do segmento ST; desvio do eixo cardíaco; alterações de
repolarização ventricular e sinais de hipertrofia ventricular e atrial
esquerdas. Todo paciente com queixa de palpitações deve realizar Holter de 24
horas. Sintomas cardiovasculares na forma de palpitações e síncope por
taquicardia paroxística atribuída à deformidade podem ser curados com a
esternocondroplastia15.
ECOCARDIOGRAMA
Nos casos graves, a compressão do coração pode causar indentação do ventrículo
direito, embora as pressões intracardíacas sejam normais quando medidas em
repouso ou exercício e também deformar o anel mitral ou câmara ventricular,
produzindo prolapso da válvula mitral31, numa incidência de 8 a 15%6,32. Mas a
prevalência do prolapso da vávula mitral na população normal é de 4 a 18%,
sendo presente em 7,6 a 18% das mulheres e 2,5 a 12% dos homens, semelhante ao
encontrado nos portadores de pectus excavatum28, e pode ser causado por
crescimento desproporcional entre o coração e a cavidade torácica com distorção
do anel da válvula mitral e conseqüente prolapso33. Coln, em pacientes
submetidos a ecocardiograma em exercício no pré-operatório e no pós-operatório,
ainda com a barra da cirurgia de Nuss, demonstrou nítida melhora da compressão
cardíaca e do prolapso mitral34. Ravich notou que 43% das crianças com pectus
excavatum e prolapso da válvula mitral submetidas à esternocondroplastia
tiveram seu prolapso mitral corrigido pela cirurgia35. Portanto, os estudos têm
demonstrado tendência de melhora objetiva dos parâmetros cardiológicos após a
cirurgia.
TRATAMENTO NÃO CIRÚRGICO
Deformidades discretas e moderadas devem ser observadas e as crianças
orientadas a ter uma vida normal, sendo indicada natação como o exercício mais
adequado e completo. Eventualmente, a musculação em pacientes acima dos 16 anos
e, sob orientação adequada, pode atenuar pequenas deformidades. Mas o aumento
do volume dos músculos peitorais bilateralmente pode acentuar a percepção do
"afundamento" uma vez que os músculos peitorais não se unem na linha média
sobre a região esternal, onde existem apenas as aponeuroses peitorais direita e
esquerda. A fisioterapia auxilia na correção postural destes pacientes e no
tratamento da escoliose e/ou cifose encontrada num grande número de pacientes,
e a reeducação postural global (RPG) pode colaborar no pré e pós-operatório ou
nos pacientes com defeito mínimo, que não tenham indicação cirúrgica. No
tratamento de pectus excavatum, eventualmente tem sido utilizado o compressor
dinâmico do tórax modificado (CDTM) que coloca compressão sobre as cartilagens
e costelas na base anterior do tórax e é usado, juntamente com fisioterapia
respiratória intensiva, para aumentar a pressão intratorácica e, portanto,
"empurrar" o esterno para diante19. A campânula de sucção para ocasionar vácuo
na área do pectus excavatum foi utilizada como método de tratamento único ou
como coadjuvante na cirurgia de Nuss, para proporcionar, segundo os autores,
uma passagem mais segura da barra retroesternal36. A correção do pectus ocorreu
ao final de 12 meses em apenas 14,7% dos pacientes submetidos a tratamento
único com campânula de sucção37.
TRATAMENTO CIRÚRGICO: ESTERNOCONDROPLASTIAS
Meyer, em 1911, e Sauerbrush, em 1913, foram os pioneiros no reparo destas
deformidades, com Oschner e De Bakei relatando sua experiência inicial em
193931. Foi Ravitch, em 1949, que reportou a técnica na qual a maioria dos
cirurgiões se baseia para o desenvolvimento do tratamento cirúrgico do pectus
excavatum13,38. Os princípios da técnica de Ravitch são: ressecção
subpericondral das cartilagens envolvidas no defeito, habitualmente da terceira
a sétima; separação dos feixes musculares intercostais e pericondrais do
esterno bilateralmente; osteotomia esternal transversa posterior a qual é
fixada com fio inabsorvível; estabilização do esterno com sobreposição de
condrotomias oblíquas efetuadas nas segundas cartilagens costais bilateralmente
e separação do xifóide do esterno13. Welch recomendava a preservação total das
bainhas pericondrais e feixes musculares intercostais para não haver
desvascularização esternal e osteotomia esternal anterior com fixação com fio
de aço sem suporte esternal3. Posteriormente, Shamberger e Welch passaram a
utilizar fio de Steimann intraesternal nas crianças acima de dez anos e, em
portadores da síndrome de Marfan29,39. Haller realizava a condrectomia
subpericondral, osteotomia posterior e fixação tripodal do esterno e das
segundas cartilagens costais após condrotomias oblíquas38. Metazeau realizava
condrotomias frontais oblíquas de todas as cartilagens envolvidas no defeito,
sem osteotomia32,. Robicseck preconiza a condrectomia subpericondral,
osteotomia anterior transversa, secção do apêndice xifóide e colocação de tela
de polipropileno retroesternal, fixada nas costelas bilateralmente40,41.
Humpreys e Jaretzki realizavam condrotomias e osteotomia esternal42.
Devido à recidiva e à preocupação de se dar maior rigidez pós-operatória, os
autores utilizam suporte retroesternal com vários materiais: tela de
polipropileno40,41, placa metálica8, fio de aço de Kirchner13, fio de aço de
Steimann28, pericôndrio autólogo8, placa metálica com parafuso pré esternal,
enxerto vascular de Dacron11, enxerto vascularizado de costela43, prótese
metálica em "asa de gaivota44. Wooler, em 1969, publicou um método divulgado no
nosso meio pelo professor Jesse Teixeira, que consiste na ressecção
subpericondral das cartilagens envolvidas, dissecção retroesternal, separação
dos feixes musculares intercostais e do pericôndrio do esterno, osteotomia
esternal posterior e pericardioplastia do pericárdio redundante45,46. Judet e,
posteriormente outros autores preconizaram a cirurgia de inversão esternal a
qual foi difundida por Wada e consiste na secção bilateral das cartilagens com
secção e inversão esternal10,19,47,48,49. Tal técnica tem elevado índice de
infecção e necrose esternal por desvascularização do esterno40. Taguschi
recomenda a preservação das artérias mamárias internas por dissecção ampla ou
mesmo reimplante das mesmas50. Recentemente, Lida apresentou uma técnica de
"elevação esternocostal", na qual segmentos da terceira a sétima cartilagem
costal são ressecados bilateralmente, com as extremidades das cartilagens
costais suturadas ao esterno, elevando-o51.
Embora Ravitch tenha lançado os princípios para a cirurgia de correção do
pectus excavatum, os quais foram seguidos por vários cirurgiões a nível
mundial, não se denomina qualquer cirurgia com ressecção subpericondral e/ou
osteotomia esternal de Técnica de Ravitch. É mais apropriado denominar as
cirurgias abertas ou convencionais de correção de pectus excavatum e carinatum
de esternocondroplastias, as quais são executadas de acordo com os princípios
seguidos por cada autor. Não existe técnica única ideal para a
esternocondroplastia e o cirurgião que se dispuser a executar tal cirurgia deve
ter sempre em mente alcançar, além do questionável objetivo funcional, o melhor
resultado estético, com cuidados na dissecção da pele e tecido celular
subcutâneo para não comprometer a circulação e, conseqüentemente, a cicatriz.
Os músculos devem ser dissecados anatomicamente e re-inseridos adequadamente, o
que é fundamental na obtenção da harmonia da parede torácica anterior. A sutura
da pele deve ser primorosa. Coelho tem desenvolvido, desde 1976 uma técnica
única, com preocupação estética e funcional, para as várias formas de Pectus
Excavatum e Carinatum que variam apenas em relação à inclinação da (s)
osteotomia (s) quando necessária (s) e no suporte esternal por placa metálica
no pectus excavatum52,53.
ESTERNOCONDROPLASTIA - MODIFICAÇÃO DE COELHO
1. Ressecção subpericondral das cartilagens envolvidas no defeito. Como o
pericôndrio é o elemento germinativo da cartilagem, isto é, "produtor" da
cartilagem, em três meses, haverá a reconstituição da cartilagem costal, em
posição adequada, a partir do pericôndrio mantido;
2. Os feixes musculares intercostais e pericondrais longitudinais dissecados
bilateralmente não devem ser seccionados e/ou separados do esterno como
preconizam alguns autores para a realização da (s) ostetomia (s) ou como etapa
da técnica a ser empregada. Como alguns autores não re-inserem estes feixes
músculo-pericondrais, há flacidez da parede torácica anterior e uma "canaleta"
para-esternal visível e/ou palpável. É fundamental o pregueamento dos feixes
músculo-cartilaginosos resultantes da ressecção subpericondral das cartilagens
para dar estabilidade à parede anterior, o que também traciona o esterno
lateralmente e retifica estes feixes de modo que a "nova cartilagem" adquira a
posição correta;
3. A (s) osteotomia (s) são realizadas na face anterior do esterno após a
dissecção romba da gordura mediastinal, pericárdio e pleuras, evitando assim
grandes descolamentos retroesternais;
4. É colocada placa metálica para suporte esternal. As placas são pré-moldadas,
com depressão central na área do apoio esternal e ligeiramente retificadas nas
extremidades para apoio nas extremidades costais. Nas extremidades existem dois
furos para passagem de fios de aço que fixarão a placa nas costelas;
5. Se necessário, a placa é moldada utilizando-se um moldador de placa
ortopédica. A placa será colocada atrás do esterno de modo a permitir o suporte
esternal na altura adequada e o apoio nas extremidades distais das costelas que
servirão de sustentação;
6. Ter à disposição um conjunto de placas metálicas (placas suporte esternal )
com um furo em cada extremidade por onde passam os fios de aço que a fixarão
nas ponta da costela mais adequada em cada hemitórax. As placas têm medidas de
10 a 25 centímetros com intervalos de comprimento de 1centímetro;
7. Cuidados meticulosos na reconstituição da musculatura peitoral e abdominal e
na sutura intradérmica da pele.
IMPLANTE DE PRÓTESE DE SILICONE
Marks descreveu o implante de silicone abaixo do tecido celular subcutâneo para
preencher a depressão54,. Posteriormente, outros autores publicaram sua
experiência com a técnica, salientando a ocorrência de extrusão do molde,
recomendando que o implante seja feito no plano submuscular. Depois, utilizou
moldagem pré-operatória da depressão esternal do pectus excavatum com alginato
odontológico e modelagem de um implante de silicone sólido que é colocado por
incisão de 5cm na face antero-lateral do hemitórax direito. Evita-se, desta
maneira a incisão sobre a linha média, região onde a ocorrência de cicatriz
hipertrófica é maior55. Atualmente, tem sido utilizada a tomografia
computadorizada para auxílio na construção de um molde pré-operatório
tridimensional de papel marchê. A prótese moldada, além do silicone, apresenta
na sua face interna uma banda de Dacron para promover a sua fixação a parede
torácica. Rose relata caso de implante único de silicone para correção da
hipoplasia mamária bilateral e pectus excavatum56. Portanto, a técnica de
implante de silicone não aumenta o diâmetro da caixa torácica nem diminui a
compressão sobre o coração.
CIRURGIA POR VIDEOTORACOSCOPIA - TÉCNICA DE NUSS MODIFICADA
Nuss, baseado nas evidências de que crianças têm tórax mole e maleável; na
remodelação do tórax que ocorrem em adultos que desenvolvem enfisema; no
desenvolvimento de pectus carinatum nas crianças portadores de asma brônquica;
no uso de próteses pelos ortopedistas e ortodontistas para correção,
respectivamente de deformidades da coluna vertebral e dos dentes; e com o
desenvolvimento de cirurgia minimamente invasiva, desenvolveu uma técnica que
utiliza uma barra metálica arcada que é introduzida na face lateral de um
hemitórax através de uma incisão de 5cm e tracionada, através do mediastino
anterior e retroesternal, por uma pinça introduzida através de incisão no outro
hemitórax com a parte côncava para cima6. A placa é rodada de modo que a parte
convexa da barra fique para cima e aí fixada nas costelas. A placa permanece
por dois anos, quando é retirada em regime ambulatorial. Em 1998, Nuss publicou
a experiência com 10 anos de utilização da técnica, porém as complicações, como
a rotação e/ou deslocamento da placa (9,2%) e a dor torácica intensa no pós-
operatório causada pela eversão esterno-condral, desestimularam a difusão do
método6. Recentemente, a dor tem sido atenuada com a utilização de analgesia
peridural por 72 horas, após as quais a analgesia via oral, na maioria das
vezes, é suficiente. Posteriormente, Hebra utilizou a toracoscopia para
visualização da passagem da placa pelo mediastino o que facilitou em muito a
sua execução57,58. Apresentava como pontos positivos: incisões pequenas
laterais e mais estéticas; ausência de incisão na parede torácica anterior;
menor tempo cirúrgico com menor perda sanguínea e excelente resultado estético.
Pontos negativos e limitantes: extremamente dolorosa; necessidade de
imobilização e limitação pós-operatória; indicada para crianças e adolescentes
em fase de crescimento; alto custo da barra; alto índice de complicações (25%)
e alto índice de maus resultados (13,3%)57,58. Com a introdução de
estabilizador lateral e a fixação da placa com fios de aço o índice de
complicações passou a ser aceitável, mas seu uso aumenta a incidência de
complicações da ferida operatória. O aprimoramento da técnica, melhor seleção
dos pacientes e cuidados com a dor no pós-operatório, fez com que um maior
número de cirurgiões iniciassem a utilizá-la58. Esta cirurgia foi utilizada
inicialmente para crianças e estendida para adolescentes e atualmente, jovens e
adultos têm se beneficiado pela técnica. Mas o alto preço da barra tem
dificultado e mesmo impossibilitado a sua utilização em grande escala no
Brasil.
OUTRAS TÉCNICAS MINIMAMENTE INVASIVAS
Kobayashi realizou a correção de pectus excavatum e carinatum assistida por
videoendoscópio introduzido por meio de incisão de 4cm na altura da base do
processo xifóide que também é utilizada para dissecção do tecido celular
subcutâneo e exposição do esterno e cartilagens envolvidas59. É feita uma
incisão com 3mm em cada hemitórax para introdução de descoladores, tesoura e
cautério. Resseca-se parcialmente as cartilagens envolvidas, faz-se osteotomia
esternal transversal e colocação de placa metálica retroesternal. Em oito casos
operados o tempo cirúrgico variou de 5,4 a 10 horas com média de 6,7 horas59.
Kamei utilizou técnica semelhante a Ravicth, porém em forma vídeo-assistida
através de incisão única subxifóidea e procedeu a ressecção subpericondral da
terceira e quarta costela, condrotomia oblíqua da segunda e terceira costela
com elevação do esterno e porção proximal das cartilages, osteotomia esternal
e, eventualmente, suporte esternal com fio de aço de Kirchner, sendo esta
técnica não indicada para adultos60.
Onishi e Maruyama usaram, em 11 pacientes entre três a 28 anos, uma técnica que
utiliza um elevador esternal em forma de "H" que traciona o esterno através de
parafusos transesternais e apoio de ramos do elevador sobre a porção anterior
das costelas bilateralmente61. Os parafusos, a osteotomia esternal e as
condrotomias são efetuados de forma vídeo-assistida através de acesso infra
xifóideo. O elevador permaneceu por tempo entre 60 e 120 dias após os quais foi
retirado sob anestesia geral, exigindo internação por três dias. Este tipo de
cirurgia tem a desvantagem de limitar as atividades diárias e necessitar de
dois estágios cirúrgicos, mas possui bons resultados.
A maioria dos pacientes e seus familiares não são informados adequadamente
pelos médicos a respeito dos sintomas e respectiva base fisiológica, das
implicações psicológicas com má imagem do corpo, assim como, da possibilidade
de cirurgia segura e com altos índices de sucesso62,63. Parece óbvio que, na
presença de alterações cardíacas ou pulmonares atribuídas ao pectus excavatum,
a indicação cirúrgica é imperativa64. Alguns autores recomendam a cirurgia com
finalidade puramente estética na quase totalidade dos casos, principalmente em
crianças, adolescentes e adultos jovens65,66. Outros afirmam que tendo a
deformidade efeito deletério no equilíbrio psicológico, principalmente nos
adolescentes, para a função cardio-respiratória e desempenho nas atividades
físicas, a cirurgia deve ser indicada desde que o defeito seja evidente.
O diagnóstico é visual e a classificação, empírica e subjetiva como discreto,
médio e severo pode ser aceita. Índices ou grau numéricos como o os de Welch e
Wada tem pouca utilidade prática na indicação cirúrgica3,20. O índice
antropométrico também carece de utilidade na indicação cirúrgica até a presente
fase do seu estudo. Alguns autores, incluindo Nuss, utilizam o índice de Haller
para a indicação cirúrgica que pode ser útil em estudos comparativos da função
cardíaca e pulmonar pré e pós-óperatória, mas não tem utilidade específica na
indicação cirúrgica, uma vez que esta é feita pela constatação visual do
defeito associado às alterações psicológicas e posturais e à vontade do
paciente e/ou familiares6,67, e também, este índice não tem relação com a
presença de sintomas, avaliação por eletrocardiograma, arritmia ou achados
ecocardiográficos21.
Nuss indica a cirurgia minimamente invasiva na associação de duas situações
abaixo: índice de Haller maior que 3,25; provas de função pulmonar indicando
doença obstrutiva ou restritiva; avaliação por eletrocardiograma indicando
arritmia, anormalidade de condução ou desvio do eixo; ecocardiografia com
prolapso de válvula mitral; tomografia computadorizada demonstrando compressão
cardíaca; documentação da progressão da deformidade associada a sintomas
subjetivos outros além do conceito isolado de má imagem corpórea; falência de
cirurgia de Ravitch prévia e falência de cirurgia minimamente invasiva
prévia57,58. Coelho acrescenta que a indicação cirúrgica é feita pela própria
presença da deformidade associada ou não a alterações psicológicas, cardíacas,
pulmonares ou posturais que quando presentes a corroboram, e pela vontade dos
pacientes e/ou familiares15.
A correção cirúrgica do pectus excavatum é possível em qualquer idade,
inclusive na adulta, quando se utiliza a esternocondroplastia, embora a
cirurgia seja mais rápida e fácil nas crianças e adolescentes. Existe
discrepância em relação à idade ideal para a realização da cirurgia: entre três
e seis anos17,32, acima dos cinco anos35 e acima dos 10 anos5. Mas a maior
parte dos cirurgiões prefere operar na adolescência a não ser que haja sintomas
e/ou efeitos fisiológicos associados, e a cirurgia pode ser realizada no adulto
em qualquer idade15. Coelho prefere operar após os 10 anos porque 50% das
deformidades observadas na infância não progridem ou regridem até os 10 a12
anos68 e a maioria dos seus casos cirúrgicos (97,5%) foi operada após os 10
anos14,15. Abaixo dos 10 anos, a cirurgia é indicada quando a deformidade é
acentuada ou grotesca e quando há alteração pulmonar e, principalmente,
cardíaca, atribuídas à deformidade.
A cirurgia de Nuss foi utilizada preferencialmente em crianças ou adolescentes,
devido à elasticidade condro-esternal, mas há relatos em adultos, que são
devidamente orientados principalmente em relação a dor prolongada pós-
operatória, mobilização da barra e recidiva da deformidade que é dependente da
rigidez da parede torácica37,58. Na série inicial de Nuss, 77% dos pacientes
eram crianças abaixo dos sete anos, posteriormente, passou a utilizar a técnica
em crianças e adolescentes entre 7 e 15 anos6. Supõe-se que abaixo dos10 anos
haja maior índice de recidiva após a retirada da barra, que ocorrerá na
adolescência fase esta de crescimento da parede torácica. A idade ideal seria,
segundo Nuss e Hebra, entre 8 e 12 anos, época em que a parede torácica é mais
flexível, a barra pode ser estabilizada, o cateter peridural possa ser colocado
com tranqüilidade e o paciente possa entender e colaborar com as instruções
para o pós operatório. Coelho indica a técnica de Nuss para pacientes acima de
10 anos e a utilizou em dois pacientes acima de 25 anos com excelente
resultado. Schalamon em pacientes dos 18-39 anos obteve 91% de excelentes
resultados69.
As crianças até 12 anos, desde que não possuam alterações cardíacas ou
pulmonares atribuíveis ao pectus excavatum, devem ser estimuladas para a
prática de esportes, especialmente a natação, e exercícios posturais orientados
para correção postural e profilaxia da cifose. Os pais são orientados a não
demonstrar excesso de preocupação com a deformidade para que as crianças não
dêem valor demasiado a sua presença, mas quando as crianças manifestam retração
social, timidez excesiva, se afastam de freqüentar praia e piscina e se recusam
à prática de esportes coletivos pela possibilidade de expor o tórax, a cirurgia
deve ser indicada.
Os efeitos da esternocondroplastia ou da cirurgia de Nuss seriam: alívio da
compressão do tórax, permitindo o seu crescimento normal; prevenir disfunção
cardíaca e pulmonar; reverter e prevenir problemas psicológicos e posturais e,
principalmente, dar forma estética adequada ao contorno da parede torácica
anterior4.
ESTERNOCONDROPLASTIA MODIFICADA POR COELHO X CIRURGIA DE NUSS
Ao contrário do que se possa parecer, a esternocondroplastia e a cirurgia de
Nuss não são antagônicas, pois têm indicações específicas em relação à idade,
ao tipo e grau da deformidade e à presença de protusão costal inferior. Embora
Nuss e seus adeptos utilizem a cirurgia de Nuss modificada para todas as formas
de pectus excavatum, mesmo os assimétricos e com protusão costal inferior, sua
melhor indicação é para casos simétricos e na forma moderada ou leve. Portanto,
pacientes portadores da forma leve que não tinham anteriormente indicação para
esternocondroplastia, passaram a tê-la, por motivo estético, devido aos
resultados excelentes desta técnica.
Casos graves podem sofrer uma hiper-correção com a cirurgia de Nuss,
transformando-os num pectus carinatum60. A correção da forma assimétrica com
esta técnica não é esteticamente perfeita, embora funcionalmente aceitável
quando de grau leve. Existe o risco de pequenas assimetrias sejam acentuadas e
tenham aumento progressivo em virtude do hipercrescimento das cartilagens
costais do hemitórax maior.
A associação de protusão condrocostal uni ou bilateral associada ao pectus
excavatum fará com que, ao se elevar o esterno, acentua-se também a protusão,
podendo o resultado ser aceitável funcionalmente, mas deficiente do ponto de
vista estético.
Como se observa na queixa desses pacientes problemas em relação a sua auto-
imagem, o objetivo da correção deve ser o melhor resultado estético. O paciente
e seus familiares deverão ser exaustivamente informados sobre cada tipo de
deformidade e o que esperar do tratamento para que possam, além da indicação
cirúrgica, participar da decisão do tipo de cirurgia
. No pectus excavatum assimétrico, portanto, está indicada a
esternocondroplastia, por permitir uma modelagem homogênea da parede torácica
anterior. Em virtude do resultado estético deficiente com a cirurgia de Nuss,
porém esta pode ser colocada como opcional para o paciente e familiares que
deverão ser exaustivamente informados a respeito. O mesmo pode ocorrer em
relação à presença de protusão costal inferior, pois somente a
esternocondroplastia permite a modelagem perfeita do rebordo costal inferior,
com a cirurgia de Nuss colocada como opcional.
Embora a cirurgia de Nuss tenha sido proposta para recidiva ou falha de
cirurgia de Ravitch ou de Nuss, o índice elevado de complicações (5%) não
permite utilizá-la como rotina70, Como a base da cirurgia de Nuss é a
remodelação osteocondral e a cirurgia a de Ravith (que não sutura os
pericôndrios e músculos intercostais seccionados rente ao esterno) não
promoverá esta remodelação por falta de suporte cartilaginoso; o paciente não
poderá ter sua barra retirada, pois o esterno afundará sem o suporte das
cartilagens não reconstituídas e nem suturadas ao esterno.
Portanto, a melhor indicação para a cirurgia de Nuss é para o pectus excavatum
simétrico leve e moderado sem protusão costal inferior no adolescente e no
adulto jovem. A utilização do organograma proposto nas tabelas_1 e 2, para
pectus excavatum simétrico e pectus excavatum assimétrico, respectivamente, é
útil , principalmente para os iniciantes, no manejo terapêutico dos portadores
de pectus excavatum.
<formula/>
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
O paciente e familiares devem estar exaustivamente esclarecidos em relação à
cirurgia, pós-operatório e, principalmente em relação a analgesia peridural. Os
exames solicitados de rotina são: hemograma, glicemia, coagulograma,
radiografia de tórax de frente e perfil (se possível digital), tomografia
computadorizada do tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Os cuidados pós-operatórios são semelhantes para a esternocondroplastia
modificada e a cirurgia de Nuss:
1. Radiografia do tórax na sala de cirurgia (cirurgia de Nuss), no segundo dia
pós-operatório (cirurgia de Nuss e esternocondroplastia modificada) e no dia da
alta (cirurgia de Nuss);
2. Posição: deitado no primeiro dia. A partir do segundo dia, semi-sentado,
sentado, deitado ou caminhar segundo as características e possibilidades de
cada paciente (para levantar e sentar é necessário auxílio por intermédio de
apoio com mão na nuca até atingir a posição sentada para não forçar a
musculatura peitoral e abdominal por quinze dias);
3. Dormir em decúbito dorsal nos primeiros quinze dias;
4. Não flexionar nem rodar o tronco por quinze dias;
5. Analgesia peridural por 48 a 72 horas;
6. Os pacientes têm alta hospitalar habitualmente no quarto dia pós-operatório
com prescrição de analgésicos por via oral;
7. Revisões em sete, quinze, trinta e sessenta dias, em seis meses e um ano. A
seguir os controles são feitos anualmente, até completar cinco anos;
8. Os pacientes têm a recomendação de não erguer peso por três meses e de não
praticar atividades físicas por três meses após os quais podem levar vida
normal;
9. A barra de Nuss permanece por dois anos, sendo então retirada sob anestesia
geral em regime ambulatorial. Quando apenas um estabilizador está presente, a
retirada é feita com incisão na cicatriz prévia apenas no lado do
estabilizador. Quando existem dois estabilizadores há necessidade de incisão
bilateral. A fixação da barra à costela com fios de aço no lado em que não há
estabilizador, faz com que se tenha que executar duas incisões torácicas sobre
as cicatrizes da cirurgia anterior por ocasião da sua retirada;
10. Na esternocondroplastia a placa retro-esternal também permanece por dois
anos sendo então retirada, sob anestesia geral, em regime de hospital-dia. Para
a sua retirada faz-se radiografia do tórax com marca metálica nas extremidades
da cicatriz. Uma incisão de 4 cm é feita nas extremidades da cicatriz.
Localizam-se os fio de aço que prendem a placa às costelas e retira-se a placa
com ajuda de extrator ortopédico de placa. Embora alguns deixem definitivamente
a placa retroesternal, isto não é recomendável porque a sua presença impede uma
eventual massagem cardíaca externa65.
RESULTADOS COM A CIRURGIA DE NUSS
Têm-se demonstrado índices de excelentes e bons resultados tardios de 86,6% a
92,2%6,67. A melhora nos resultados parece refletir uma melhor seleção dos
pacientes no que diz respeito à média de idade e ao tipo de pectus excavatum.
Um estudo muticêntrico europeu com cirurgia de Nuss avaliou 172 pacientes com
média de idade de 15,1 anos e obteve 81,5% de resultados excelentes e bons e
18,5% de maus resultados, o que pode ser explicado pelo elevado número de
portadores de deformidades assimétricas e maior média de idade67 (Tabela_3).
COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA DE NUSS MODIFICADA
O índice de complicações, apesar da tendência de declínio, tem sido elevado,
mesmo no grupo pioneiro e com a maior experiência6,59,60,62,67,70-73.
Complicações graves e que põem em risco a vida tem sido relatadas. Um paciente
no segundo mês pós-operatório foi admitido em choque por tamponamento cardíaco,
com a pericardiocentese evidenciando hemopericárdio, sendo realizada
esternotomia, que evidenciou laceração de 1,5 cm da aorta ascendente, que foi
suturada e o paciente teve recuperação satisfatória. Portanto, o cuidadoso
posicionamento retroesternal da barra deve sempre ser efetuado. Hoel descreveu,
durante a remoção da barra de uma adolescente de 14 anos, sangramento volumoso
pelas duas feridas operatórias, com a paciente submetida a esternotomia
mediana, evidenciou-se erosão da artéria do lobo inferior direito e a paciente
recebeu alta 21 dias após a cirurgia com pectus excavatum persistente74.
Leonhardt descreveu uma paciente de 13 anos que apresentou luxação esterno-
clavicular anterior bilateral após a cirurgia de Nuss, tratando-se de uma
paciente com flacidez ligamentar generalizada, com pós-operatório conturbado
com deslocamento da barra por duas vezes e infecção da inicisão cirúrgica 75
(Tabela_4).
EVITANDO/DIMINUINDO COMPLICAÇÕES COM CIRURGIA DE NUSS
A visualização videotoracoscópica da passagem da barra pelo mediastino, reduz a
chance de lesão pericárdica e cardíaca, bem como o número de complicações
pleurais. Nuss descreveu a incidência de pneumotórax residual em 52% dos casos,
o que pode ser diminuída, mantendo-se o trocarte com dreno tubular sob selo
d'água até o completo fechamento da ferida e concomitante insuflação pulmonar
manual até sua completa expansão. A visualização do hemitórax esquerdo através
do mediastino é possível com a videotoracoscopia, reduzindo o número de
complicações pleurais. Eventualmente a colocação de cateter no hemitórax
esquerdo durante as manobras de expansão pulmonar pode eliminar o pneumotórax
residual. A pericardite pode se apresentar com mal estar, febre, letargia, dor
torácica e atrito pericárdico. A etiologia não é clara mas parece assemelhar-se
à Síndrome pós pericardiotomia, portanto deve se tomar cuidado para não entrar
com o introdutor da barra ou com a própria barra no saco pericárdico, bem como
traumatizar o mínimo ao passar o introdutor e a barra retroesternal. A
pneumonia é evitada com antibioticoterapia profilática, mobilização precoce e
espirometria de incentivo para diminuir a incidência de atelectasia com
conseqüente pneumonia. O índice de infecção da barra (0,9%) é baixo, mas trata-
se de uma situação desastrosa, portanto, devem ser tomados cuidados com
assepsia, antissepsia, antibioticoterapia profilática e não operar pacientes
com febre ou infecções associadas, especialmente as de pele. Se a infecção da
barra ocorrer, ela deve ser tratada com antibióticos tentando-se manter a barra
o maior tempo possível para ela poder sustentar o esterno até o tempo previsto
para a sua permanência. Se a infecção não for controlada, retira-se a barra76.
Em 863 pacientes do grupo do Dr. Nuss, 13(1,5%) desenvolveram infecção pós-
operatória: 6 infecção da barra que foi definida como a infecção em contato com
a barra e que em 3 necessitou a sua retirada, quatro celulites e três abscessos
de parede 77.
O acréscimo de estabilizadores laterais tem reduzido o número de deslocamento
da barra, embora algumas séries relatam 5% a 8,8% de deslocamento e, em 67% das
cirurgias, a barra é fixada com fio de aço59. Shin, após a utilização do
estabilizador lateral, notou redução do deslocamento da barra de 15,7% para
5,4%78.
Acordar o paciente de uma maneira tranqüila, sem agitação e mobilização pós-
operatória cuidadosa sem manobras rudes de torção ou flexão do tórax nos
primeiros dias evita o deslocamento ou torção da barra. Restrição das
atividades físicas por três meses após os quais poderá executar a maioria dos
esporte diminui a possibilidade de deslocamento da barra. Esportes com muito
contato como futebol americano, boxe, patinação, etc. não devem ser
estimulados. O deslocamento da barra pode ser rotação de 90º, de 180º ou
migração lateral. Jovens e adultos são mais propícios a desenvolverem
complicações, especialmente o deslocamento da barra, provavelmente devido a
aumento da pressão esternal sobre a barra por um tórax maior e mais rígido. A
alergia ao níquel da barra pode ser evitada com uma boa história clínica.
COMPLICAÇÕES DA ESTERNOCONDROPLASTIA
Com índice de mortalidade entre 0 e 0,5%15 e índice global de complicações
entre 7,6 a 22,9%8,15, várias complicações têm sido relatadas: seroma8,61;
hematoma35; infecção da ferida5,31; pneumotórax5,8; hemoptise31;
hemopericárdio31; tamponamento cardíaco5; necrose de pele79; quelóide55;
necrose esternal12; atelectasia80; migração e fratura da placa81; e recidiva da
deformidade (Tabela_5).
Haller descreveu a constrição da parede torácica após esternocondroplastia
extensa e precoce a qual denominou de síndrome de Jeune adquirida, em que 12
pacientes, que foram operados abaixo de quatro anos, apresentavam dispnéia aos
esforços e impossibilidade de praticar esportes, devido a uma grande, complexa
e grotesca deformidade torácica, com o crescimento do tórax incompatível com o
crescimento de todo o corpo40,81. Esta síndrome pode ser atribuída à cirurgia
muito precoce, com possibilidade de lesão dos núcleos de crescimento esternal;
extensa ressecção condral; placa retroesternal não retirada dentro de dois
anos; suporte retroesternal pelas bandas de músculos intercostais e
pericôndrios; e colocação de enxertos ósseos ou telas de polipropileno
retroesternais. Como na criança qualquer suporte retroesternal fixo
bilateralmente nas costelas causará dificuldade ou impossibilidade de
crescimento das referidas costelas ou das adjacentes, causando deformidade e
restrição torácica, Haller propôs cirurgia de reparo desta síndrome, que
consiste na ressecção das cartilagens, liberação do esterno e elevação do mesmo
por pinos de Rebhein, com resultados satisfatórios81.
Prabhakaran relatou sete casos da entidade que denominou "esterno flutuante",
que é caracterizada por dor esternal, instabilidade da parede torácica,
dificuldade de dormir de bruços, dispnéia e intolerância aos exercícios causada
por ressecção condral excessiva, ausência de fixação esternal lateral, esterno
fixo somente pelo ponto(s) da (s) osteotomia82. O tratamento é cirúrgico com
colocação de barra retroesternal e, eventualmente, enxerto ósseo e/ou
cartilaginoso. Coelho observou cinco casos de paciente operados em outros
serviços que utilizam a separação completa das bandas pericôndrio-musculares do
esterno, não utilizando a sua reinserção e o seu pregueamento nem o suporte
esternal, corroborando no exposto acima14.
RESULTADOS DAS ESTERNOCONDROPLASTIAS
Há dificuldade em se analisar e comparar os resultados na literatura entre as
várias técnicas de esternocondroplastias no tratamento do pectus excavatum,
principalmente em relação ao aspecto estético, já que o resultado funcional
pode ser facilmente demonstrado,. É conhecida a melhora na atividade física e
no comportamento das crianças e adolescentes após a cirurgia o que pode ser
atribuído também a melhor auto-estima provocada pela sensação de ter o tórax
normal após a operação 83 (Tabela_6).
Fonkalsrud relatou melhora em 90% das crianças com sintomas respiratórios no
pré-operatório32. Posteriormente relatou 98% de bons e excelentes resultados em
450 pacientes, com 1% de incidência de recidiva discreta; 6,2%, de discreta
cicatriz hipertrófica e 2%, de protusão condral na área que procedeu as
condrotomias, com necessidade de revisão cirúrgica84.
Willekes utilizando em 120 pacientes uma técnica que difere da de Coelho apenas
na secção longitudinal das bandas pericôndrio-musculares, na qual as separa do
esterno, obteve 89% de bons e 11% de maus resultados, com a colocação da barra
retroesternal como fator determinante nos 86% dos resultados excelentes, contra
52%, sem a barra retroesternal (p=0,004)80.
Ravitch relata apenas de 54% de resultados satisfatórios em 20 anos13. Humpreys
e Jaretzki relatam 64%42. Com seguimento médio de cinco anos obtiveram
resultados satisfatórios: Hawkins, em 81%12; Robiseck, em 87%15; Fonkalsrud, em
97%8 e Wada, em 98%19.
Lane e Smith citam como fatores preditivos de maus resultados, peso elevado por
ocasião da cirurgia, defeito severo e associação com Síndrome de Marfan11.
Lacquet relata apenas 83,6% de resultados satisfatórios, possivelmente devido
ao fato de utilizar os pericôndrios e músculos intercostais como suporte
esternal, os quais não promovem suporte rígido desde o pós-operatório
imediato85. Cerca de 95% dos pacientes de Coelho, submetidos a
esternocondroplastia modificada ficaram satisfeitos com o resultado estético
alcançado. Houve um caso (1,6%) de recidiva, provavelmente por tratar-se de um
pectus excavatum amplo no qual não foi colocada placa metálica retroesternal e
que recusou ser submetido a uma nova cirurgia. Apenas dois dos pacientes (3,2%)
não ficaram completamente satisfeitos com o resultado estético obtido14.
Os índices de recidiva após esternocondroplastia variam de 1,3 a 6,8%, podendo
ocorrer pela não utilização de suporte metálico retroesternal; secção das
barras pericondrais e de músculos intercostais da borda esternal sem ressutura
das mesmas; ressecção demasiada de cartilagens nas crianças, na quais as placas
de crescimento são ativas; excisão do xifóide e falha em aproximar os músculos
peitorais e abdominais sobre o reparo ósseo e cartilaginoso8,15,84,86,87.
A proposta de classificação a seguir leva em consideração os resultados
funcional e estético:
1. Bom: resultado funcional obtido e contorno torácico perfeito, sendo o
resultado cirúrgico considerado como atingido pela equipe cirúrgica e pelos
pacientes e/ou familiares;
2. Regular: quando os pacientes e/ou familiares não gostaram completamente do
resultado alcançado pela presença de cicatriz hipertrófica, contorno torácico
não satisfatório, presença de saliências esternais, ósseas ou condrais e
protusão costal inferior saliente, embora o resultado funcional tenha sido
alcançado;
3. Mau: quando a correção foi parcial ou quando houve recidiva da deformidade.
Entenda-se como resultado funcional o alívio da compressão cardíaca pelo
esterno, a melhora dos parâmetros espirométricos e a eliminação de arritmias,
bloqueio e do prolapso da válvula mitral.
COMPARAÇÃO DA CIRURGIA DE NUSS MODIFICADA E ESTERNOCONDROPLASTIAS
A Cirurgia de Nuss tem sido associada com tempo operatório curto; pequena perda
sanguínea; e bons resultados estéticos88. A esternocondroplastia, quando
realizada por cirurgião que tenha adquirido familiaridade com a técnica e que
seja meticuloso na sua execução, inclusive com os cuidados com a sutura da
pele, também alcança bons resultados. . A Cirurgia de Nuss tem menor incisão e
menor tempo operatório, mas maior índice de reoperações, maior índice de
complicações, maior necessidade de analgesia tanto epidural quanto após a alta
hospitalar, maior índice de reinternamento por dor e maior tempo de
internamento,73,89-92. Porém, esses não são, isoladamente, os fatores que levam
à escolha do tipo de cirurgia A diferença do tempo cirúrgico entre a cirurgia
de Nuss(em média 55 minutos) e a esternocondroplastia (média de 220 minutos)
não deve ser utilizado, isoladamente, para a escolha da técnica.
Devido a possibilidade de dor contínua pós-operatória e outras complicações com
a Cirurgia de Nuss amplo esclarecimento deve ser feito ao paciente e
familiares, inclusive com suporte psicológico91. Portanto, a utilização
criteriosa da esternocondroplastia ou Cirurgia de Nuss deve ser baseada no
organograma para se obter o melhor resultado estético (Tabelas_1 e 2).
REANIMAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA EM PACIENTES COM BARRA OU PLACA RETROESTERNAL
Os cuidados recomendados para a reanimação cardio-respiratória em pacientes com
barra de Nuss são: monitorização adequada, colocação dos eletrodos de
desfibrilação com direção ântero-posterior, exclusão de pneumotórax
hipertensivo e consideração de massagem cardíaca interna precoce em virtude da
impossibilidade da massagem cardíaca externa pela rigidez da parede torácica
causada pela presença da barra de Nuss65. Essas medidas devem ser estendidas a
pacientes que tenham placa metálica retroesternal colocada por
esternocondroplastia. Foi relatado o caso de um paciente com 21 anos submetido
a cirurgia de Nuss e que teve um parada cardíaca antes da retirada da barra,
sendo que os paramédicos que conduziram a ressuscitação cardiopulmonar não
conseguiram efetuar massagem cardíaca externa eficiente e, certamente, a
presença da barra contribuiu para isto, tendo o paciente falecido93. Por isso,
a barra ou placa retroesternal deve ser retirada em dois a três anos após a
cirurgia.
CORREÇÃO DE PECTUS ASSOCIADO À CIRURGIA CARDÍACA ABERTA
Deformidades de tórax associadas a doenças cardíacas ou aórticas congênitas ou
adquiridas podem exigir cirurgias simultâneas, em especial, quando associados à
síndrome de Marfan19,94. Tschirkov recomenda a cirurgia simultânea porque a
deformidade torna a exposição cardíaca difícil e mesmo impossível; a compressão
e desvio do coração podem piorar a função cardíaca no pós-operatório; a
correção num segundo tempo é prejudicada pela cicatriz e adesão da pleura e
pericárdio ao esterno, cartilagens e costelas91,94. A instabilidade torácica
pós-operatória pode gerar dispnéia, dor torácica e complicações como pneumonia,
motivo pelo qual o pregueamento firme das bandas pericôndriomusculares e a
colocação de barra retroesternal devem fazer parte de qualquer técnica
corretiva, especialmente quando associada a cirurgia cardíaca aberta.
Várias abordagens têm sido utilizadas concomitante e para proporcionar campo
para a cirurgia cardíaca: ressecção subpericondral das cartilagens envolvidas,
separação completa das bandas de pericôndrio e musculares das bordas do esterno
e osteotomia (s) transversal (ais) e barra retroesternal82; colocação de fio de
Kirchner perpendicular ao esterno95; colocação de fios de aço retroesternal e
abertura longitudinal do corpo e manúbrio esternal com osteotomia transversal
logo abaixo do manúbrio94.
COMENTÁRIOS SOBRE OUTRAS TÉCNICAS PARA ESTERNOCONDROPLASTIAS
Nas últimas três décadas, várias técnicas têm sido propostas, sendo algumas
mais aceitas e outras, apenas como caráter inovador. As mais utilizadas são
discutidas abaixo em relação a pontos discordantes, conflitantes ou limitantes:
Técnica de Ravitch: é uma técnica pioneira, que têm servido de base para várias
outras técnicas, embora estigmatizada pelos maus resultados estéticos, elevado
índice de recidiva e alguns pontos negativos ou deficientes, tais como:
necessidade de liberação completa dos feixes de músculos intercostais e
pericôndrios das bordas esternais sem reinserção dos mesmos, o que ocasiona uma
"canaleta para-esternal" palpável ou mesmo, visível no pós-operatório; a (s)
osteotomia (s) não são fixadas com fios de aço, favorecendo a flacidez
esternal; as condrotomias oblíquas nas segundas cartilagens costais com
sobreposição do segmento medial sobre o lateral não são suficientes para
suportar o esterno; falta de tratamento das cartilagens costais do rebordo
costal, não permitindo um contorno torácico perfeito; a flacidez do esterno e
as "canaletas para-esternais" são evidentes e contribuem para o resultado
estético deficiente1,13,35.
Técnica de Robiseck - é uma das técnicas mais utilizadas na literatura,
apresenta alguns pontos negativos ou deficientes, tais como: necessidade de
liberação completa dos feixes de músculos intercostais e pericôndrios do
esterno, sem sua re-inserção, o que ocasiona uma "canaleta para-esternal"
palpável ou mesmo visível no pós-operatório; a (s) osteotomia (s) não são
fixadas, favorecendo a flacidez esternal; a tela de polipropileno
retroesternal, suturada às bordas das costelas envolvidas no defeito, não
permite adequado posicionamento do esterno, pois os limites de sustentação são
as pontas das costelas, causando remodelamento incompleto da parede torácica
anterior e ântero-lateral; como a tela não é absorvível e não é retirada, pode
conter o crescimento das costelas e cartilagens costais e, teoricamente, causar
a síndrome de Jeune Adquirida, ao se operar crianças ou adolescentes; como os
músculos peitorais são desinseridos e os músculos abdominais não são suturados
às bordas dos mesmos, permanece um espaço inferior sem prenchimendo ou
parcialmente preenchido pela tela, causando uma depressão pós-operatória e mau
resultado estético; a flacidez do esterno e as "canaletas para-esternais" são
evidentes e contribuem para o resultado estético deficiente15,40,41.
Técnica de Wada - (inversão esternal): embora idealizada inicialmente para
cirurgia cardíaca e da aorta ascendente associada ao pectus excavatum, passou a
ser utilizada para todos os tipos de pectus, tendo Wada operado mais de 2000
pacientes. Destacam-se os seguintes pontos negativos: desvascularização
completa do esterno com possibilidade de necrose e infecção esternal;
impossibilidade de dar um contorno estético adequado à parede torácica anterior
mesmo com osteotomias oblíquas e múltiplas; fixação precária do esterno,
cartilagens e músculos às margens costais e musculares; tempo cirúrgico
prolongado e resultado estético insatisfatório 10,12,19,47,48.
Técnica de Marks - (Implante de prótese de silicone sólido): como, na maioria
das vezes, a indicação cirúrgica é estética e raramente, funcional exclusiva,
Marks propôs esta técnica de "menor porte cirúrgico" para correção de pectus
excavatum de grau discreto e moderado, mas com algumas limitações: é feita uma
prótese de silicone sólido a partir de molde de alginato odontológico obtido no
pré-operatório; a fabricação de prótese de silicone sólido pode ser feita a
partir de dados obtidos com sistema de imagens tridimensionais de tomografia
computadorizada da parede torácica para dimensionamento da mesma, mas tal exame
não substitui completamente o molde pré-operatório; com o implante subcutâneo,
as margens da prótese ficam visíveis, salientes ou deprimidas e a porção
inferior fica em "forma de gota"; não é possível, como nas próteses mamárias,
sua colocação ser completamente sub-muscular, uma vez que as inserções dos
músculos peitorais, reto abdominal, oblíquos externo e interno e transverso,
são interrompidas na linha média, nas costelas e no apêndice xifóide54,55.
Técnica de Wooler - (Pericardioplastia): nesta técnica, que emprega a
pericardioplastia, o coração é "rodado" para o centro do tórax, proporcionando
suporte para o esterno após as ressecções condrais, separação dos feixes
músculo-cartilaginosos do esterno e osteotomia (s). Pontos negativos:
necessidade de liberação completa dos feixes de músculos intercostais e
pericôndrios das bordas do esterno sem re-inserção dos mesmos; a (s) osteotomia
(s) é (são) total (is) e não é (são) fixada (s); o "suporte esternal" seria o
coração; necessidade dissecção mediastinal ampla, com fixação do pericárdio a
borda costal direita (pericardioplastia); impossibilidade de contorno torácico
harmônico no pós- operatório imediato e tardio; "canaleta para-esternal" pela
não fixação e não pregueamento do pericôndrio e músculos intercostais;
especificamente nesta técnica, há um descuido do aspecto estético nos cuidados
cirúrgicos, ocasionando resultado estético insatisfatório46,47.
COMENTÁRIOS FINAIS
Não existe técnica única ideal para o tratamento cirúrgico do pectus excavatum
e o cirurgião que se dispuser a opera tal deformidade deve ter sempre em mente
alcançar, além do objetivo funcional, o melhor resultado estético.
Ao contrário do que possa parecer, a esternocondroplastia modificada e a
Cirurgia de Nuss não são antagônicas, tendo indicação específica em relação à
idade, tipo e grau da deformidade. Anteriormente eram indicadas em qualquer
idade mesmo em crianças, mas atualmente, a Cirurgia de Nuss é indicada para
adolescentes e jovens e, embora a esternocondroplastia modificada possa ser
utilizada em todas as idades, preferencialmente é utilizada para pacientes
acima dos dez anos. Os pacientes com idade inferior a dez anos, se não tiverem
indicação por alterações cardíacas ou pulmonares significativas, são
observados. Embora Nuss e seus adeptos tenham utilizado a Cirurgia de Nuss para
todas as formas de pectus excavatum, mesmo os assimétricos e com protusão
costal inferior, sua melhor indicação é para o pectus excavatum simétrico
moderado e para o pectus excavatum simétrico leve que não tinha anteriormente
indicação para esternocondroplastia e passaram a tê-la, por motivo estético,
devido aos resultados excelentes da Cirurgia de Nuss neste tipo de deformidade.
Nos portadores de pectus excavatum severo, é indicada a esternocondroplastia
modificada, pois nestes casos, com a Cirurgia de Nuss, pode ocorrer uma hiper-
correção, transformando-os em pectus carinatum.
No pectus excavatum assimétrico, mesmo leve ou moderado, no pós-operatório da
Cirurgia de Nuss, poderá ocorrer desenvolvimento de pectus carinatum
assimétrico, o que ocorreu em três dos nossos casos submetidos à Cirurgia de
Nuss, necessitando de complementação com esternocondroplastia modificada. Nuss
e outros centros mundiais não descrevem esta ocorrência nem como complicação,
nem como mau resultado, uma vez que tendo aliviado a compressão cardíaca, o
resultado tem sido considerado como bom. Portanto, no pectus excavatum
assimétrico, é indicado a esternocondroplastia modificada, que permite uma
modelagem homogênea da parede torácica anterior, tendo na Cirurgia de Nuss,
como técnica opcional eventual, com o paciente e seus familiares informados a
respeito do resultado estético limitado e a possibilidade de pectus carinatum
assimétrico pós-operatório.
Quando há protusão condrocostal uni ou bilateral associada ao pectus excavatum,
ao se elevar o esterno na Cirurgia de Nuss, elevar-se-á também a protusão
condrocostal, acentuando-a, tornando o resultado deficiente do ponto de vista
estético. Neste caso a indicação é de esternocondroplastia modificada, pois
esta permite a modelagem perfeita do rebordo costal inferior. No entanto a
Cirurgia de Nuss pode ser colocada como opcional para os pacientes e/ou
familiares desde que estes aceitem resultado estético aquém das expectativas.
A falha ou recidiva do pectus excavatum após cirurgia de Nuss e Cirurgia de
Ravitch foi tratada com Cirurgia de Nuss em 50 pacientes com índice de
complicações extremamente alto (50%). Após cirurgia de Ravitch uma vez que as
cartilagens não foram suturadas ao esterno não haverá modelagem esternal,
condral e costal não permitindo a retirada da barra. Portanto, nestes casos de
recidiva, está indicada a esternocondroplastia modificada.
Finalmente, a melhor indicação para a Cirurgia de Nuss, no tocante ao resultado
estético, é para pectus excavatum simétrico leve e moderado, sem protusão
costal inferior ou com protusão costal leve, no adolescente e no adulto jovem.
Todas as outras situações são tratadas pela esternocondroplastia. As crianças
que não tenham sintomas psicológicos ou cardíacos exuberantes devem ser
observadas até a adolescência de acordo com os organogramas já citados.
(Tabelas_1 e 2).