Congruências entre posicionamentos estratégicos e redes de negócios: estudo de
caso de uma subsidiária brasileira
1. INTRODUÇÃO
A economia mundial tem mudado em vários aspectos nas últimas décadas,
especialmente nas áreas de comércio internacional e organização industrial.
Desde os anos 1970, segundo Hobsbawn (1999), é comum a descentralização da
produção, inclusive para fora do estado de origem das empresas. A globalização
do processo produtivo e o comércio têm feito crescer as capacidades industriais
de grande número de países e promovido a desintegração vertical das empresas
multinacionais. Em virtude disso, as corporações globais vêm redesenhando suas
competências, para ter foco em inovação, desenvolvimento de produtos, marketing
e segmentos de alto valor agregado, enquanto terceirizam serviços genéricos e
produção em larga escala (GEREFFI, HUMPHREY e STURGEON, 2005).
Essa redefinição de competências e a mudança de foco das grandes empresas,
contextualizadas nos estudos de Duschek (2004), Voss (2005) e Dessyllas (2007),
por exemplo, implicitamente exigem que as organizações desenvolvam relações com
uma série de agentes, seja porque precisam transacionar bens e serviços, para
compor uma oferta, seja porque estão disponíveis ou sendo criadas novas
tecnologias, importantes para a construção de vantagens competitivas
sustentáveis. Em outras palavras, as multinacionais, cada vez mais, formam ou
integram, em diversas regiões do mundo, redes de alianças que, muitas vezes, se
caracterizam como redes de negócios, com o intuito de operacionalizar novos
posicionamentos estratégicos.
Entendendo, então,
* as redes de negócios como estruturas de relacionamentos de troca e
interdependência nas quais um processo de interação ocorre entre os
agentes (ANDERSON, HAKANSSON e JOHANSON, 1994; RITTER, 2000) e que, além
de possibilitar reduções de custos e incrementos de qualidade dos
produtos e de oferta de soluções para os clientes (LIKER e CHOI, 2004),
permitem que os integrantes busquem a expansão de canais de distribuição,
mais exposição de marcas e aumento de intensidade da inovação tecnológica
e do desenvolvimento de produtos, ainda que os agentes sejam concorrentes
(MOLLER e HALINEN, 1999; FRELS, SHERVANI e SRIVASTAVA, 2003);
* e os posicionamentos estratégicos por como as empresas competem e servem
os clientes num mercado relevante (HAX e WILDE II, 2001);
nesta pesquisa bibliográfica e de caso único propõe-se a verificar as
congruências existentes entre uma das opções de posicionamento estratégico
incluída no Modelo Delta de Hax e Wilde II (1999; 2001) e um tipo de rede de
negócios apresentado por Moller e Rajala (2007).
Portanto, a questão que conduz e orienta a presente pesquisa pode ser formulada
da seguinte maneira:
* Qual seria o tipo de rede de negócios adotado por uma empresa, conforme
classificação de Moller e Rajala (2007), para operacionalizar determinado
posicionamento estratégico de uma linha de produtos, dentre os propostos
por Hax e Wilde II (1999; 2001)?
Quanto ao objetivo desta investigação, pode-se dizer que ele se encontra
dividido em duas partes: a identificação do posicionamento estratégico da linha
de produtos objeto de estudo e a configuração da principal rede de negócios
integrada pela organização, da qual a linha de produtos faz parte. Mais
especificamente, neste artigo têm-se como objeto de estudo a linha de
Impressoras da Hewllet-Packard Brasil(IHP-Br).
No tocante à estrutura deste trabalho, o referido esforço de pesquisa divide-se
em cinco etapas. Na introdução, primeiramente, trata-se de apresentar a
questão, o objetivo e o objeto de pesquisa, além do contexto no qual estão
inseridos. Em seguida, encontra-se a fundamentação teórica do artigo. Na
terceira etapa, por sua vez, descrevem-se os métodos e técnicas científicas
utilizados, enquanto na quarta seção demonstram-se os resultados da pesquisa de
campo por meio do estudo de caso. Por fim, a quinta etapa compõe-se das
considerações finais, limitações deste estudo e sugestões para futuras
pesquisas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Estratégia, estrutura e alinhamento: em busca da coerência entre
propósitos e forma
Os estudos sobre estratégia empresarial ganharam intensidade após a Segunda
Guerra Mundial. Em meados dos anos 1960, principalmente, várias pesquisas que
relacionavam estratégia à estruturadas empresas foram realizadas. Dentre as
relevantes referências da época estão Chandler (1962), Lawrence e Lorsch (1967)
e Ansoff e Brandenburg (1971).
Mais importante, porém, do que mencionar as contribuições individuais dos
referidos trabalhos, faz-se necessário destacar o que as pesquisas citadas
pretendiam e que tem íntima relação com a presente investigação: os autores
buscavam identificar coerência entre os propósitos estratégicos das
organizações, a estrutura (forma) e o ambiente sob o qual operavam. Nota-se,
portanto, que, a partir da metade do século XX, se cristalizava a ideia do
alinhamento estratégico organizacional.
Com o passar das décadas, uma série de outras propostas foram feitas com o
mesmo intuito. Dois dos exemplos recentes são o Balanced Scorecard (BSC) de
Kaplan e Norton (1992; 2004; 2006; 2008) e o Modelo Delta (HAX e WILDE II,
1999; 2001).
Sobre o BSC, pode-se dizer que, originalmente, era uma ferramenta para a
mensuração de desempenho de empresas. Ao longo do tempo, porém, a proposta,
preocupada com o alinhamento de ações dentro das organizações, ganhou novos
elementos e passou a ser utilizada como guia na implementação e gestão de
estratégias.
Adotando um caminho distinto da proposta inicial do BSC, Hax e Wilde II (1999;
2001) desenvolveram o Modelo Delta, com o intuito de ajudar os gestores a
articularem e implementarem estratégias corporativas e de negócios de forma
efetiva, inclusive considerando agentes externos à organização. Em outras
palavras, desde o começo tal modelo pretendia contribuir para a definição e a
implementação do posicionamento estratégico das empresas que operam em rede.
Por essa razão, os autores recorrentemente fazem uso da expressão economia de
rede(networked economy).
Neste caso, a proposta de alinhamento está organizada em torno dos processos de
adaptação das opções de posicionamento, das métricas agregadas, das métricas
granulares e do feedback. Vale ressaltar que os referidos elementos contemplam
a participação de agentes externos e dão ao Modelo Delta a condição de abordar
o alinhamento estratégico além das fronteiras da organização.
2.1.1. Estratégias genéricas, posicionamento estratégico e o Modelo Delta
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) sistematizaram a teoria sobre a formação
de estratégias em dez escolas de pensamento e intitularam uma de escola de
posicionamento. Segundo os autores, pesquisadores desse grupo adotam a visão de
que a estratégia se reduz a posições gerais selecionadas a partir de análises
estruturais, tais como sugerem a matriz de crescimento e participação
(HENDERSON, 1973, apud HAX e MAJLUF, 1984), o modelo das cinco forças e as
estratégias genéricas de Porter (1980; 1989).
A ideia de restringir as bases da estratégia a caminhos genéricos também foi
seguida por Treacy e Wiersema (1995), quando afirmam que as empresas atingem
posições de liderança a partir de três "disciplinas de valor"
distintas: a excelência operacional, a intimidade com o cliente e a liderança
de produto.
Passíveis de inclusão no grupo de autores mencionados acima, Hax e Wilde II, no
final da década de 1990, avaliaram que a teoria sobre posicionamento
estratégico apresentava modelos ou propostas que não mais atendiam a todos os
casos verificados em diferentes indústrias e mercados. Em um artigo intitulado
The Delta model: adaptive management for a changing world, Hax e Wilde II
(1999) afirmaram não ser possível enquadrar as estratégias da Microsoft e da
MCI WorldCom, líderes de mercado naquele momento, em nenhuma das estratégias
genéricas propostas por Porter (1989), por exemplo.
Baseando-se, então, na estrutura analítica de Porter (1989), na visão baseada
em recursos e competências (RBV) e numa pesquisa aplicada a mais de cem
organizações, Hax e Wilde II (1999) propuseram o chamado triângulo estratégico
(figura_1), para ilustrar diferentes opções estratégicas a serem adotadas por
empresas. Os vértices, a saber, são Melhor Produto, Solução Total para o
Cliente e Aprisionamento no Sistema.
As principais características do vértice Melhor Produto relacionam-se
diretamente com as estratégias genéricas de custoe diferenciação. São elas:
foco em produtos padronizados, ainda que se promova algum elemento distintivo
aos produtos ofertados por concorrentes; permanente busca por aumento de
eficiência da cadeia interna de valor; clientes genéricos com quem a empresa
pouco se relaciona (customer bonding), atendidos por canais de distribuição em
massa; inovação e tecnologia da informação (TI) voltadas à renovação da linha
de produtos e ao suporte interno.
A opção Solução Total para o Cliente, por sua vez, é oposta à abordagem de
Melhor Produto, segundo Hax e Wilde II (2001). Dentre os aspectos mais
marcantes desse posicionamento, estão o conhecimento profundo e o estreito
relacionamento com os clientes, reforçados pela customização dos produtos,
aprendizado e inovação conjunta. Cabe destacar-se, ainda, a necessidade de
integração das cadeias de valor da empresa, de clientes e de fornecedores.
O terceiro vértice do triângulo, chamado de Aprisionamento no Sistema,
preocupa-se especialmente com a aproximação, a atração e a retenção de
complementares- provedores de produtos e serviços que elevam, direta ou
indiretamente, a oferta da empresa (HAX e WILDE II, 2001). Com isso, a
proposição de valor para o cliente passa a ter foco no sistema, assim como a
cadeia de valor relevante. Significa dizer que os processos de produção,
vendas, TI e de inovação cobrem toda a rede, composta por fornecedores,
empresa, clientes e complementares, com o intuito de afastar o concorrente da
disputa por mercado.
O Modelo Delta apresenta-se como uma alternativa de avanço diante das
proposições de Porter (1980; 1989), uma vez que oferece diferentes opções de
posicionamentos estratégicos e considera, na análise setorial, outro grupo de
agentes além dos concorrentes, clientes, substitutos, fornecedores e possíveis
entrantes, os chamados complementares. Além disso, traz à tona a discussão
sobre estratégias em redes de negócios, entendida pelos autores deste artigo
como um avanço em relação às ideias de Kaplan e Norton (1992; 2004; 2006; 2008)
e de outros trabalhos. Considera-se, assim, que tais argumentos sejam
suficientes para a adoção do referido modelo como principal referência teórica
utilizada na pesquisa de campo, no tocante ao posicionamento estratégico da
linha de produtos estudada.
2.2. Redes de negócios: economia global e tipologias
A formação e o desenvolvimento de redes de negócios estão cada vez mais
presentes na economia e nos estudos acadêmicos, constituindo-se em grandes
desafios para a implementação de estratégias organizacionais (ANDERSON,
HAKANSSON e JOHANSON, 1994; RITTER, 2000; WINDAHL e LAKEMOND, 2006). Há grupos
de pesquisadores que, por exemplo, propõem tipologias de redes com base em
características estruturais - estabilidade, tipo de dependência das empresas em
relação à rede e modo de coordenação dominante (governança) -, enquanto outros
optam por classificações distintas.
Man (2004), por exemplo, sugere que as tipologias sobre redes sejam orientadas
por objetivos e não por aspectos ligados à estrutura. A seguir, encontra-se uma
síntese das ideias desse autor:
* semi-integração- defender-se (aumento do poder de mercado, redução de
custos por meio de economia de escala e racionalização da indústria);
* fornecimento vertical - aumentar eficiência em toda a cadeia como
resultado do foco em competências e terceirização;
* soluções complementares - responder à completa especificação dos clientes
a partir da complementaridade de competências e tecnologia;
* pesquisa e desenvolvimento -dividir riscos, custos e competências, além
de manter a capacidade de inovação por meio do desenvolvimento de
tecnologia;
* padronização tecnológica - impor um padrão tecnológico em dada indústria
ou mercado com vistas ao licenciamento ou à obtenção de receitas oriundas
de produtos complementares.
Moller, Rajala e Svahn (2005), por sua vez, adotaram a essência da ideia
exposta por Man (2004), porém completaram-na com características estruturais, o
que levou à construção de um sistema contínuo de valor(SCV). Em virtude, porém,
da vasta amplitude de propostas e sem que se tenha a pretensão de exaurir a
discussão sobre o assunto, considera-se oportuno apresentar, em mais detalhes,
a tipologia sugerida por Moller e Rajala (2007), resultado da evolução do SCV
(figura_2) e principal referência sobre o tema utilizada na pesquisa de campo
deste estudo.
À extrema esquerda do SCV da figura_2 encontram-se os sistemas de valor
claramente especificados e relativamente estáveis. Nesses casos, os agentes
produzem e entregam produtos determinados com base em atividades e capacidades
conhecidas, alto nível de recursos e especificação de processos. São exemplos
as redes verticais de demanda e fornecimento e as redes horizontais de mercado.
As primeiras objetivam ganhos de eficiência em produção e logística,
oportunidades rápidas de crescimento e acesso à larga escala de consumidores,
enquanto as últimas buscam o fortalecimento de posições de mercado por meio da
união de concorrentes. Em ambos os casos, o compartilhamento de experiências,
recursos e competências conduz à criação de valor e a um elevado grau de
codificação do conhecimento.
No meio do contínuo de valor, encontram-se os sistemas de valor relativamente
bem determinados, nos quais se verificam modificações incrementais e atividades
de inovação locais, com o propósito de melhorar o sistema de valor vigente. Os
dois tipos de redes inseridos nesse momento do contínuo são as redes de
renovação de negóciose asredes de soluções para os clientes.
As redes de renovação de negócios têm, geralmente, a participação de uma
empresa-central, fornecedores, clientes, provedores de solução tecnológica,
consultores e outros agentes, com a pretensão de aumentar eficiência de
produtos ou processos das redes verticais de demanda e fornecimento e das redes
horizontais de mercado. Por outro lado, as redes de soluções para os clientes
são constituídas por agentes que detêm recursos e competências complementares e
se unem, principalmente, para desenvolver projetos (por exemplo, indústria de
construção civil, engenharia e sistemas). Quanto à criação de valor, Moller e
Rajala (2007) afirmam que, nos dois tipos, deve haver equilíbrio entre uso e
exploração do valor e do conhecimento gerados.
Atendo-se à extrema direita do SCV, é possível notarem-se os sistemas de valor
emergente. Segundo Moller e Rajala (2007), é por meio das redes pertencentes a
esses sistemas que novas tecnologias, conceitos e, até mesmo, novos campos de
negócios são criados. Por esse caráter de ruptura e descontinuidade, os
resultados objetivados pelas redes de inovação, as redes de padrão dominante e
as redes de aplicação são marcados por alto grau de incerteza futura.
As redes de inovação, primeiramente, são muito ligadas à pesquisa científico-
tecnológica. Em virtude do envolvimento de entidades diversas nesse grupo
(universidades, institutos de pesquisa e centros de pesquisa e desenvolvimento
[P&D] de grandes corporações, por exemplo), cujas missões também são
diferentes, os laços sociais são bastante importantes.
As redes de padrão dominante, por sua vez, são marcadas pelas relações
diagonais entre empresas concorrentes e complementares, que têm visões
semelhantes de tecnologia e se dedicam à construção de mercados.
Por fim, o terceiro tipo são as redes de aplicação. O principal objetivo desses
conjuntos de organizações é viabilizar, comercialmente, as tecnologias criadas.
Normalmente, essas redes são dirigidas por uma empresa-líder e envolvem uma
gama de complementares e clientes. Moller e Rajala (2007) indicam os serviços
de telefonia móvel como criações de redes dessa natureza, por serem
desenvolvidos com a participação de uma operadora, produtores de software e de
conteúdo.
3. METODOLOGIA
A questão e o objetivo deste estudo indicam uma análise de cunho qualitativo e,
dentro do escopo qualitativo, é tida como uma pesquisa exploratória. Aaker,
Kumar e Day (2001, p.207) argumentam que esse tipo de investigação é utilizado
para "definir problemas com maiores detalhes" e "sugerir
hipóteses a serem testadas em pesquisas subsequentes".
A execução deste projeto foi feita, predominantemente, por meio do método de
estudo de caso. De acordo com Yin (2001, p.19), esse método
* "representa a estratégia preferida, quando o pesquisado tem pouco
controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos
contemporâneos".
Quanto à escolha do objeto de estudo, este trabalho alinha-se às ideias de
muitos autores sobre o papel de destaque assumido pelas corporações
multinacionais no contexto atual de negócios (KOGUT e ZANDER, 1993; DUPAS,
2001; ARVIDSSON, 2002; JANSSON, 2007; OLIVEIRA JR., BOEHE e BORINI, 2009;
DICKEN, 2010). A capacidade que essas organizações apresentam de gerir recursos
em regiões distintas, mesmo quando não proprietárias dos meios de operação e da
concentração, cada vez mais frequente, de esforços empreendidos por elas no
desenvolvimento de competências específicas, conduzem essa classe de empresas a
elevado grau de interação com diferentes agentes. Esse fator foi determinante
para que se optasse, nesta pesquisa, pela escolha da subsidiária de uma
multinacional estrangeira no Brasil. Acreditava-se, com isso, que as chances de
sucesso na identificação, sobretudo da configuração de uma rede de negócios,
fossem maiores.
Sendo assim, uma vez demonstrado o interesse por subsidiárias de
multinacionais, definiu-se o perfil dos respondentes, capaz de atender ao
objetivo da presente investigação. Os executivos participantes deveriam, de
acordo com estes pesquisadores, apresentar as seguintes características:
* ser ocupantes, há, pelo menos, seis meses, de cargos gerenciais elevados
na estrutura hierárquica da unidade de negócios;
* contribuir, diretamente, para o processo de formulação do posicionamento
estratégico da linha de produtos, ainda que as decisões finais sejam
tomadas em outro país - serve de exemplo a elaboração de planos regionais
que alimentam o processo finalizado na matriz;
* liderar, diretamente, a operacionalização das estratégias re-
gionais;
* ter disponibilidade de tempo para entrevistas de longa duração;
* disponibilizar outros canais de acesso para a troca de informações
complementares e esclarecimento de dúvidas, como o correio eletrônico.
Dentre as organizações que preenchiam, integralmente, o conjunto de condições,
a escolha da HP Brasilconfirmou-se pela receptividade da empresa ao projeto e
pela disposição em colaborar, demonstrada pelos executivos desde o primeiro
contato. Então, dois gerentes-seniores responsáveis pelas operações das
categorias de produtos impressoras a jato de tinta e impressoras a laser, no
Brasil e no Mercosul, foram destacados. Os contatos ocupavam, no último
trimestre de 2009, época da realização das entrevistas e aplicação de
questionário, os respectivos cargos, há, pelos menos, três anos.
A coleta de dados, objetivamente, ocorreu em duas etapas distintas: a inicial
correspondeu ao levantamento de dados secundários da empresa e da linha de
negócios de impressoras, enquanto a segunda etapa envolveu a coleta de dados
primários a partir de duas entrevistas, inclusive gravadas, em momentos
distintos com cada entrevistado. Aos encontros, seguiu-se a busca de
informações e confirmações das análises sobre o objeto de estudo, com os
executivos, por meio de correio eletrônico.
Com a finalidade de orientar o trabalho de campo, foi construído um roteiro
estruturado, composto por 55 perguntas, voltadas ao entendimento da estratégia
da empresa, com vistas à identificação do posicionamento estratégico e das
relações com os parceiros de negócios. Tal roteiro foi dividido em duas partes.
A primeira foi formada, predominantemente, por perguntas abertas sobre o
entrevistado, a empresa, a formulação e o acompanhamento da estratégia na
subsidiária e a participação da empresa em redes de negócios. A segunda
apresentava 13 perguntas fechadas, tendo cada uma três alternativas de
resposta, a fim de que se pudesse classificar o posicionamento estratégico da
subsidiária e a principal rede de negócios integrada pela empresa, de acordo
com as referências teóricas presentes no problema de pesquisa - Hax e Wilde II
(1999; 2001) e Moller e Rajala (2007), respectivamente. Dessa forma, eventuais
dúvidas ou incoerências surgidas entre os dois momentos dos encontros puderam
ser imediatamente dirimidas com cada entrevistado. As entrevistas foram
conduzidas por uma equipe de pesquisadores, assim como a análise dos
resultados.
Diante do exposto, faz-se necessário registrar o elevado grau de convergência
das respostas dos entrevistados em todos os aspectos trabalhados, seja no
tocante ao posicionamento estratégico, seja no que diz respeito à configuração
da rede de negócios. Apenas uma característica da primeira variável estudada e
uma da segunda mostraram-se ligeiramente diferentes sob a ótica dos
entrevistados. Tal fato justifica-se, em grande parte, pela ampla gama de itens
presentes no portfolio da linha de impressoras, que inclui equipamentos a jato
de tinta e aparelhos a laser, aos quais são adicionados serviços. Na próxima
seção, ambas as diferenças serão explicitadas.
Por fim, é prudente mencionar-se, como principal limitação desta pesquisa, o
fato de que, sendo uma pesquisa exploratória, baseada em um estudo de caso, não
pode ser considerada representativa para o universo em questão. Todavia, esta
investigação apresenta resultados que podem servir de base para novos
desdobramentos empíricos, bem como contribuir para no-
vas proposições teóricas. A matriz de posicionamentos estratégicos e redes de
negócios (figura_4), proposta aqui e apresentada no último tópico deste artigo,
serve de ilustração dessa última pretensão.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. Caso Impressoras Hewlett-Packard Brasil
A Hewllet-Packard, ou simplesmente HP, é uma empresa de origem norte-americana
de capital aberto, fundada em 1939, que em 2009 teve sua marca avaliada em US$
24 bilhões, segundo a publicação Best Global Brands 2009 (INTERBRAND, 2009). De
acordo com a HP (2009), a empresa atende a mais de um bilhão de clientes em
mais de 170 países, nos cinco continentes, com um corpo de colaboradores de
aproximadamente 321.000 pessoas. A receita bruta anual, por sua vez, é da ordem
de US$ 150 bilhões, oriundos de diversas linhas de produtos. São exemplos:
computadores pessoais, servidores, calculadoras, impressoras, tintas, serviços
de tecnologia, consultoria & integração, serviços gerenciados (outsourcing)
e serviços de impressão.
No Brasil, especificamente, a empresa deu início às operações em 1967 e conta,
hoje, com seis escritórios, cerca de 8.000 colaboradores diretos e indiretos,
25.000 canais e 2.000 pontos de vendas, além de dispor de uma área de pesquisa
e desenvolvimento (HP, 2009). A seguir, estão descritas as características da
estratégia dessa subsidiária, com o intuito de enquadrá-las em um dos pilares
do Modelo Delta (HAX e WILDE II, 1999; 2001) e em uma das classificações de
redes propostas por Moller e Rajala (2007).
4.1.1. Posicionamento estratégico da linha de negócios Impressoras
O primeiro aspecto abordado foi o benchmark,considerado relevante para a HP.
Objetivamente, os executivos responderam que a linha de negócios IHP-Br dedica
energia e atenção ao concorrente em primeiro lugar. O giro de inventário, o
retorno sobre o investimento(ROI) e o nível de serviço foram apontados como os
principais indicadores de análise da concorrência utilizados pela equipe
gerencial.
O segundo e o terceiro elementos investigados foram a proposição de valor para
o clientee o tipo de oferta. De acordo com os respondentes, a proposição é
formada a partir da rentabilidade dos produtos, uma vez que a oferta é de bens
padronizados e o perfil dos clientes não requer customizações. Sendo assim, a
margem de contribuição dos equipamentos e a participação de mercado são muito
importantes para a organização.
O quarto atributo investigado foi a cadeia de valor relevante. Os entrevistados
desenharam-na como sendo do tipo integrada- composta por fornecedores, empresa
e clientes. De acordo com Hax e Wilde II (2001), essa é uma característica do
posicionamento solução total para o cliente, diferindo-a do enquadramento das
três respostas anteriores - melhor produto. Contudo, a explicação, nesse caso,
é simples: a HP não detém os meios de produção, seja no Brasil, seja em outro
lugar do mundo. Por essa razão, a cadeia não é interna. Um olhar atento para a
rede de negócios que a empresa integra, descrita a seguir, elimina essa
incoerência.
O quinto elemento estudado compreende os canais de distribuição. Coincidindo
com o raciocínio exposto em Toledo, Quelopana e Pollero (2007), os executivos
entrevistados estabelecem estreita relação entre concorrência, padronização de
produtos e perfil de clientes, para afirmar que os canais de distribuição da
linha IHP-Br são, predominantemente, genéricos e de massa. Exemplos de canais
específicos - combinações de vendas de equipamentos e gerenciamento de serviços
de impressão corporativos - também foram mencionados, mas representam pequena
fração do total das vendas.
Quanto ao papel da TI no negócio, sexto aspecto abordado, o que se constata é a
ênfase ao suporte interno. Um software proprietário foi desenvolvido pela HP e
um parceiro para a gestão de manufatura, mas não constitui uma ferramenta de
integração com terceiros. A função principal é armazenar informações de
produtos, materiais e dados de controle. Ofoco de inovação de produtos e
serviços de impressão, sétima característica observada, é muito assemelhado ao
papel da TI.
Por fim, a variação do customer bonding - grau de conhecimento e relacionamento
com os clientes - é pequena, uma vez que a linha de negócios investigada
conhece os agentes citados, mas relaciona-se pouco com eles. O que predomina,
de fato, é a dependência das características dos produtos e da larga escala de
vendas comparativamente aos concorrentes. Masterink (2009) e entrevistados
indicam mais de 60% de participação no mercado de impressoras e multifuncionais
HP a jato de tinta, por exemplo.
No quadro_1, resume-se a análise dos dados coletados e confirma-se a consecução
da primeira parte do objetivo definido neste artigo - a identificação do
posicionamento estratégico da linha de negócios IHP-Br.Nesse caso, o pilar
estratégico predominante é o demelhor produto.
4.1.2. Operacionalização de estratégias em rede
Ao longo da análise do posicionamento estratégico da linha de negócios IHP-Br,
é possível identificar claramente ao menos a participação de três tipos de
agentes externos na operação da empresa - os fornecedores, os distribuidores e
o parceiro em desenvolvimento de sistemas -, o que se traduz em forte indício
da existência de uma rede de negócios na qual a empresa está inserida.
A fim de que tal indício pudesse ser confirmado, algumas perguntas guiaram a
coleta de dados. São elas: Qual é o direcionamento das estratégias da empresa à
necessidade de desenvolverem-se relações com agentes externos? A empresa
empreende estratégias em rede? A linha de negócios de impressão participa de
redes de negócios? Qual é a configuração da principal rede por ela integrada?
De imediato, os executivos afirmaram que o direcionamento estratégico explicita
a necessidade de desenvolverem-se relações com outras organizações, pois a
decisão de terceirizar a produção, por exemplo, não está baseada em custo, mas
em competências que a HP pretende focalizar (marca e desenvolvimento de
produtos). Em outras palavras, os entrevistados deixaram claro que a empresa
precisa construir ou integrar uma rede confiável e competitiva, para, então,
obter o que não está disposta a desenvolver internamente.
Os estudos de Duschek (2004) e Dessyllas (2007) apontam para a difusão da
chamada visão baseada em recursos (RBV) e do conceito de core-competence, como
relevantes para a postura demonstrada por IHP, nesse caso. Sendo assim, fica
sob a responsabilidade dos gerentes de operações a identificação dos agentes
externos, a definição da estratégia de atuação em rede e os tipos de relações
que devem ser desenvolvidas.
Quanto à identificação dos principais agentes externos com os quais a linha de
impressão mantém relações diretas, destacam-se o governo, o operador logístico,
os fabricantes de componentes para montagem de produtos, as fábricas
contratadas ou contract manufacturers, os provedores de serviços de engenharia
(auditores das fábricas, por exemplo) e os varejistas e atacadistas de
eletroeletrônicos.
O governo, primeiro agente mencionado, relaciona-se com a HP de várias formas.
A Nova Lei de Informática, por exemplo, prevê incentivos fiscais às empresas
que investem em P&D, por meio de projetos com outras entidades, no país
(GARCIA e ROSELINO, 2004; GALINA, SBRAGIA e PLONSKI, 2005). Atualmente, a
empresa mantém laços com diversos parceiros tecnológicos (PTs), como o
Flextronics Instituto de Tecnologia e o Wernher Von Braun Centro de Pesquisas
Avançadas, além de universidades federais e estaduais. Para melhorar o
rastreamento de produtos ao longo da cadeia de suprimentos, a HP aderiu ao
programa de incentivos e investiu na tecnologia RFID (Radio-Frequency
IDentification). A etiqueta inteligente já é utilizada nas impressoras a jato
de tinta, antecipando-se a alguns movimentos do mercado brasileiro.
O impacto da Nova Lei de Informática é tão significativo nos negócios da
empresa, que, segundo um dos executivos entrevistados, a Ásia e o Brasil,
únicas regiões produtoras de equipamentos de impressão HP, têm custos fixos e
variáveis bastante similares, porém, ao considerar os incentivos fiscais, a
produção brasileira alcança patamares inferiores.
Outras formas de atuação do governo na rede de negócios liderada por IHP são: a
chamada engenharia tributária, que ajuda a melhorar a eficiência na cadeia; a
classificação aduaneira, que precisa refletir, exatamente, as especificações de
componentes e produtos criados pela área de desenvolvimento; os impostos e
programas de importação, aspectos bastante relevantes no negócio de impressoras
a laser, uma vez que 75% do valor dos referidos produtos são formados no
exterior.
Além das relações com entidades governamentais, as estabelecidas com o operador
logístico (OL), as fábricas contratadas (CMs) e a empresa de soluções em
engenharia (ESP - Engineering Solution Provider) merecem destaque.
O atual operador logístico de IHP é responsável por todo o movimento de cargas
e pela maior parte do estoque de produtos acabados in-house da empresa.
Significa dizer que a produção é retirada das CMs e levada para os centros de
distribuição contratados pela empresa. Desses pontos, os pedidos são
distribuídos ao atacado e grande varejo e, na sequência, ao pequeno varejo.
Cerca de 90% do volume vendido de impressoras a jato de tinta realiza-se dessa
forma.
Embora a maior parte da distribuição ocorra da maneira descrita anteriormente,
não se trata da única solução. Entregas do tipo Delivered Duty Unpaid (DDU) -
as CMs remetem lotes para grandes atacadistas, sobretudo de outros países, em
nome da empresa - e o centro de distribuição próprio da HP, em Buenos Aires,
são formas alternativas. Esses tipos de operação logística, porém, representam
cerca de 10% da distribuição da linha de negócios em questão. Quanto à
logística reversa das três frentes, cabe ao OL decidir pela subcontratação de
outros agentes (Operadores Subcontratados - OSC).
As fábricas contratadas (CMs), por sua vez, são as unidades que respondem por
100% do volume produzido no Brasil, ainda que não se dediquem exclusivamente
aos produtos HP. A empresa cria, então, os projetos de produtos, desenvolve os
itens de cada equipamento com os fabricantes de componentes (FCs) e transmite
aos CMs apenas as especificações de fabricação. No futuro, espera-se que esses
parceiros contribuam também para o desenvolvimento de peças e componentes das
impressoras.
Outro constituinte da rede de negócios liderada por IHP é o provedor de
soluções de engenharia (ESP). Esse agente, além de desenvolver o sistema
proprietário T-Systems, mencionado anteriormente, atua como parceiro da empresa
na administração e auditoria dos CMs e dos FCs. A própria ferramenta criada
pela subsidiária brasileira é um meio de operacionalizar a gestão de
manufatura.
Nos elos subsequentes da cadeia de fornecimento da HP encontram-se os
atacadistas & grandes varejistas (A&GV) e os pequenos varejistas (PV),
cujo principal papel é disponibilizar produtos aos consumidores e clientes
corporativos. As agências, consultorias e assessorias, bem como os chamados
parceiros estratégicos (PE) - Microsoft, Cisco, Oracle, SAP, Siebel, BEA,
People Soft, Accenture, Deloitte Consulting e Bearing Point (HP, 2009) -,
embora não mencionados nas entrevistas, também são valorizados pela empresa. A
coleta de dados secundários mostrou que esses agentes contribuem com as
operações da HP, por meio do marketing de ponto de venda, monitoramento de
marca, assessoria de imprensa, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, além
de outros serviços.
Após a identificação dos agentes integrantes da principal rede capitaneada por
IHP-Br (figura_3), em razão, sobretudo, das perguntas abertas direcionadas aos
executivos, surgiram indícios de que essa fosse do tipo vertical de demanda e
fornecimento,de acordo com a classificação de Moller e Rajala (2007). Seguiu-
se, então, o processo de pesquisa descrito na metodologia, com a aplicação do
questionário de perguntas fechadas.
Os executivos consultados, primeiramente, apontaram para a resposta que
indicava uma rede, cujo sistema de valor era claramente especificado e
relativamente estável. Em outras palavras, a rede de negócios, integrada por
IHP, apresenta-se com diferentes agentes, determinados a produzir e a entregar
produtos ou serviços específicos, bem como caracteriza-se por atividades,
capacidades e tecnologias, utilizadas por cada um dos atores, conhecidas pelos
demais.
Num segundo momento, quanto aos objetivos perseguidos pela rede, a opção
escolhida foi a que enunciava os ganhos de eficiência em produção e logística,
a redução de prazos ou tempo de operação, a rápida oportunidade de crescimento
e o acesso à larga escala de consumidores.
Por fim, no que diz respeito à criação de valor e ao papel do conhecimento,
pode-se constatar que a rede de negócios liderada por IHP se mostra com elevado
grau de codificação do conhecimento, mas com oportunidades de melhoria na
comunicação entre os usuários, pois não há sistemas de informação avançados que
integrem os agentes. A soma das respostas confirmou os indícios anteriores
sobre o tipo de rede e enquadrou-se no grupo das chamadas redes verticais de
demanda e fornecimento.
Diante, portanto, dos resultados apresentados, a rede de negócios integrada
pela linha de produtos de impressão da subsidiária brasileira da HP, cuja
pretensão primeira são os ganhos de eficiência operacional (produção e
logística), parece suportar o posicionamento estratégico melhor produto,
marcado pela preocupação com a rentabilidade dos bens e serviços transacionados
e por distribuição em massa, por exemplo. Abaixo, na figura_4, a matriz de
posicionamentos estratégicos e redes de negócios, proposta neste artigo,
conforme anunciado no final da seção Metodologia, representa a relação
estabelecida, no caso de IHP-Br, entre a opção estratégica da linha de negócios
estudada e a rede adotada para operacionalizá-la.
5. CONCLUSÕES
A questão que orienta o presente trabalho diz respeito a qual seria o tipo de
rede de negócios adotado para a operacionalização de determinado posicionamento
estratégico de uma linha de produtos, tendo por base a proposta de
posicionamentos do Modelo Delta (HAX e WILDE II, 1999; 2001) e a tipologia de
redes de negócios de Moller e Rajala (2007).
Norteando-se, portanto, pelo problema de pesquisa acima exposto, o objetivo
desta investigação foi dividido em duas etapas: a identificação do
posicionamento estratégico da linha de produtos de impressão e a configuração
da principal rede de negócios da qual a empresa detentora da linha faz parte.
As conclusões estão descritas a seguir, tendo em mente cada uma dessas etapas.
Tratando-se do posicionamento, a linha de negócios IHP-Br está próxima do pilar
de melhor produto, de acordo com o triângulo estratégico do Modelo Delta
(figura_1). O alinhamento da referida linha de negócios em torno desse
posicionamento pode ser visto, de forma detalhada, no quadro_1, em que merecem
destaque os seguintes aspectos: a relevância dos concorrentes, como benchmark;
a proposição de valor para o cliente, baseada na rentabilidade do produto; a
oferta de produtos padronizados; os canais genéricos de distribuição em massa;
a participação de mercado, além do desenvolvimento de produtos internamente.
Quanto ao conhecimento e ao relacionamento com os clientes (customer bonding),
parece coerente com os outros aspectos avaliados, ou seja, são pouco
expressivos, uma vez que o negócio depende, exclusivamente, das características
dos bens e serviços comercializados.
No que tange à configuração da rede da linha de negócios IHP-Br, segundo a
classificação de Moller e Rajala (2007), é possível enquadrá-la no conjunto das
redes verticais de demanda e fornecimento, uma vez que apresenta um sistema de
valor relativamente estável e bem definido, tendo, por base, os seguintes
aspectos: atividades de valor são especificadas e conhecidas; atores,
tecnologias e processos de negócios são conhecidos; sistema de valor é estável.
As principais pretensões desse tipo de rede são os ganhos de eficiência
operacional (produção e logística), além de atendimento a consumidores em larga
escala. Quanto à coordenação, ela ocorre de forma hierarquizada, enquanto a
criação de valor e conhecimento depende, significativamente, do intenso
compartilhamento de experiências entre os agentes. Tais aspectos fazem com que
o grau de codificação do conhecimento seja elevado. Sendo assim, essas
características são bastante congruentes com a liderança de mercado da linha de
negócios em questão e indicamaimportância dos ganhos de produtividade e dos
aumentos de lucratividade dos produtos pela empresa.
Adicionalmente, a grande interdependência existente entre os agentes nas redes
verticais de demanda e fornecimento é também congruente com a cadeia de valor
liderada por IHP. Embora no Modelo Delta (HAX e WILDE II, 1999; 2001) os
autores indiquem a cadeia de valor interna como relevante no posicionamento
melhor produto, a terceirização da manufatura e logística é um elemento que
justifica a congruência entre o referido posicionamento e a rede analisada. Em
outras palavras, com a finalidade de alcançar o posicionamento estratégico
definido como melhor produto, a rede vertical de demanda e fornecimentofoi
adotada por IHP-Br.
Embora o objetivo desta investigação tenha sido alcançado, como demonstram os
parágrafos anteriores, faz-se necessário lembrar que se trata de uma pesquisa
exploratória, que se utiliza da pesquisa bibliográfica e do método de estudo de
caso, não sendo possível, portanto, afirmar que, para todas as empresas
posicionadas no referido pilar estratégico, as redes verticais de demanda e
fornecimento são adotadas na implementação de estratégias.
Outra limitação importante a ser retratada diz respeito ao próprio objetivo e
aos resultados desta pesquisa, mais especificamente ao que se relaciona com a
identificação e configuração da principal rede de negócios da linha de produtos
analisada. Desde a seção introdutória, momento em que a IHP-Br foi apresentada,
até este tópico, de conclusões e considerações finais, apenas a visão da
referida empresa se materializou em dados e informações utilizados neste
projeto.
O levantamento de dados secundários e a coleta de dados primários no campo
restringiram-se ao que a organização objeto de análise tinha disponível, sem
que se levassem em consideração as visões de outros agentes integrantes do
respectivo conjunto de laços interorganizacionais. Significa, então, dizer que
talvez emergissem divergências de percepção entre a subsidiária mencionada e
outros atores acerca dos aspectos estudados, se os demais fossem também
consultados. Isso sugere, portanto, que futuras pesquisas possam ser
desenvolvidas, com o intuito de captar o entendimento de um número maior de
participantes, tanto para se confirmarem as conclusões aqui expostas quanto
para se investigarem possíveis dissonâncias ligadas ao conteúdo da estratégia
em redes de negócios.
Não obstante as limitações acima, a principal contribuição deste estudo reside
no fato de ele ter identificado uma congruência aparentemente importante para a
materialização da estratégia organizacional, tendo por base o tipo de rede em
que a empresa atua. Dessa forma, seria interessante se as empresas pudessem
refletir a respeito da aplicabilidade desse resultado. Se, cada vez mais, as
organizações atuam em redes de negócios, de que forma o arranjo dessas redes
pode ajudá-las na realização dos objetivos estratégicos? Em outras palavras, se
houvesse uma matriz cujas linhas representassem o posicionamento estratégico e
as colunas as diferentes redes de negócios, considerando-se os modelos
escolhidos, como as empresas estariam operando e quais seriam as células
ideais? (Ver figura_4.)
Sugere-se, portanto, que novos estudos focados em empresas, com a mesma opção
estratégica da linha de negócios IHP-Br ou, até mesmo, investigações em
empresas posicionadas distintamente da analisada, neste caso, sejam realizadas,
para que se avance na busca de congruências entre posicionamentos estratégicos
e redes de negócios. Novas investigações poderiam confirmar ou não as
conclusões do presente trabalho, bem como aceitar ou não as seguintes
hipóteses:
H1 -Redes do tipo vertical de demanda e fornecimento ou horizontal de mercado
são mais adequadas à operacionalização do posicionamento estratégico melhor
produto.
H2 -Redes do tipo renovação de negócios ou solução para o cliente são mais
adequadas à operacionalização do posicionamento estratégico solução total para
o cliente.
H3 -Redes do tipo aplicação ou padrão dominante ou inovação são mais adequadas
à operacionalização do posicionamento estratégico aprisionamento no sistema.
Por fim, uma última proposta para futuras pesquisas poderia relacionar o
desempenho de uma organização comparativamente ao de concorrentes e, ainda,
estabelecer relação entre a estratégia de negócios e a estratégia em rede, ao
considerar diversos setores. A hipótese central H0tenta refletir a ideia
apresentada: empresas líderes de mercado, que adotam um mesmo posicionamento
estratégico, embora atuem em diferentes setores, integram o mesmo tipo de rede
de negócios.
REFERÊNCIA
AAKER, D.; KUMAR, D.; DAY, G. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001.
ANDERSON, J.C.; HAKANSSON, H.; JOHANSON, J. Dyadic business relationships
within a business network context.Journal of Marketing, Chicago, v.58, n.4,
p.1-15, Oct. 1994.
ANSOFF, H.I.; BRANDENBURG, R.G. A language for organization design: parts I and
II. Management Science, Hanover, v.17, n.12, p.705-731, Aug. 1971.
ARVIDSSON, N. Knowledge management in the multinational enterprise. In:
BIRKINSHAW, J.; HAGSTROM, P. (Org.). The flexible firm: capability management
in network organizations. New York: Oxford University Press, 2002. Cap. 9,
p.176-193.
CHANDLER, A.D. Strategy and structure: chapters in the history of American
industrial enterprise. Cambridge: MIT Press, 1962.
DESSYLLAS, P. Improving performance through vertical disintegration: evidence
from U.K. manufacturing firms. AIM Research Working Paper Series, Nov. 2007.
ISSN: 1744-0009.
DICKEN, P. Mudança global: mapeando a nova fronteira da economia mundial. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
DUPAS, G. Economia global e exclusão social: pobreza, emprego, Estado e o
futuro do capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
DUSCHEK, S. Inter-firm resources and sustained competitive advantage.
Management Revue, Mering, v.15, n.1, p.53-73, Jan. 2004.
FRELS, J.K.; SHERVANI, T.; SRIVASTAVA, R.K. The integrated networks model:
explaining resource allocations in network markets. Journal of Marketing,
Chicago, v.67, v.1, p.29-45, Jan. 2003.
GALINA, S.V.R.; SBRAGIA, R.; PLONSKI, G.A.R&D in the telecom industry in
Brazil: some indicators involving large transnational companies. Innovation:
Management, Policy & Practice, Maleny, v.7, n.2-3, p.298-309,
Apr./Aug. 2005.
GARCIA, R.; ROSELINO, J.E. Uma avaliação da lei de informática e de seus
resultados como instrumento indutor de desenvolvimento tecnológico e
industrial. Gestão e Produção, São Carlos, v.11, n.2, p.177-185, maio/jun./
jul./ago. 2004.
GEREFFI, G.; HUMPHREY, J.; STURGEON, T. The governance of global value chains.
Review of International Political Economy, London, v.12, n.1, p.78-104, Feb.
2005. [DOI: http://dx.doi.org/10.1080/09692290500049805]
HAX, A.C.; MAJLUF, N.S. Strategic management:an integrative perspective. New
Jersey: Prentice Hall,
1984.
HAX, A.C.; WILDE II, D.L. The Delta model: adaptive management for a changing
world. Sloan Management Review, Cambridge, v.40, n.2, p.11-28,
Winter 1999.
HAX, A.C.; WILDE II, D.L. The Delta project: discovering new sources of
profitability in a networked economy. New York: Palgrave, 2001.
HENDERSON, B.D. The experience curve reviewed IV and the growth-share matrix of
the product portfolio.Boston:The Boston Consulting Group,1973.
HEWLLET-PACKARD BRASIL (HP). Homepage institucional. 2009. Disponível em:<http:
//welcome.hp.com/country/br/pt/welcome.html#Product>. Acesso em: 31 dez. 2009.
HOBSBAWN, E.J. O novo século. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
INTERBRAND CORPORATION (INTERBRAND). Homepage institucional. 2009. Disponível
em: <http://www.interbrand.com/
best_global_brands.aspx?year=2009&langid=1000>. Acesso em: 01 jan. 2010.
JANSSON, H. International business strategy in emerging country markets:the
institutional network approach. Cheltenham: Edward Elgar, 2007.
KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. The balanced scorecard: measures that drive
performance. Harvard Business Review, Boston, v.70, n.1, p.71-79, Jan./Feb.
1992.
KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. Strategy maps: converting intangible assets into
tangible outcomes. Boston: Harvard Business Press, 2004.
KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. Alignment: using the balanced scorecard to create
corporate synergies. Boston: Harvard Business Press, 2006.
KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. The execution premium: linking strategy to
operations for competitive advantage. Boston: Harvard Business Press, 2008.
KOGUT, B.; ZANDER, U. Knowledge of the firm and the evolutionary theory of the
multinational corporation. Journal of International Business Studies, London,
v.24, n.4, p.625-645, Oct./Dec. 1993. [DOI: http://dx.doi.org/10.1057/
palgrave.jibs.8490248]
Lawrence, P.; Lorsch, J.Differentiation and integration in complex
organizations. Administrative Science Quarterly, Ithaca, v.12, n.1, p.1-30,
June 1967. [DOI: http://dx.doi.org/10.2307/2391211]
LIKER, J.K.; CHOI, T.Y. Building deep supplier relationships. Harvard Business
Review, Boston, v.82, n.12, p.104-113, Dec. 2004.
MAN, A. de. The network economy: strategy, structure and management.
Cheltenham: Edward Elgar, 2004.
MASTERINK SOLUÇÕES EM MÁQUINAS (MASTERINK). Homepage institucional. 2009.
Disponível em: <http://www.masterink.com.br/8-mercado-de-impressoras-e-
multifuncionais-cresce-27-na-al-no-2%C2%BA-trimestre/>. Acesso em: 01 jan.
2010.
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela
selva do planejamento. Porto Alegre: Bookman, 2000.
MOLLER, K.K.; HALINEN, A. Business relationships and networks: managerial
challenge of network era. Industrial Marketing Management, New York, v.28, n.5,
p.413-427, Sept. 1999.
MOLLER, K.K.; RAJALA, A. Rise of strategic nets: new modes of value creation.
Industrial Marketing Management, New York, v.36, n.7, p.895-908, Oct. 2007.
[DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.indmarman.2007.05.016]
MOLLER, K.K.; RAJALA, A.; SVAHN, S. Strategic business nets: their type and
management. Journal of Business Research, New York, v.58, n.9, p.1274-1284,
Sept. 2005.
OLIVEIRA JR., M.M.; BOEHE, D.; BORINI, F. Estratégia e inovação em corporações
multinacionais: a transformação das subsidiárias brasileiras. São Paulo:
Saraiva, 2009.
PORTER, M.E. Competitive strategy: techniques for analyzing industries and
competitors.New York:The Free Press, 1980.
PORTER, M.E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho
superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
RITTER, T. A framework for analyzing interconnectedness of relationships.
Industrial Marketing Management, New York, v.29, n.4, p.317-326, July 2000.
[DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0019-8501(00)00108-5]
TOLEDO, G.L.; QUELOPANA, E.M.; POLLERO, Á.C. Posicionamento estratégico e
liderança em mercado globalizado sob o enfoque do Modelo Delta: o caso de uma
holdinglatino-americana líder em P&D. Organização e Sociedade, Salvador,
v.14, n.41, p.95-111, abr./jun. 2007.
TREACY, M.; WIERSEMA, F. A disciplina dos líderes de mercado: escolha seus
clientes, direcione seu foco,
domine seu mercado. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
VOSS, C.A. Paradigms for manufacturing strategy revisited. International
Journal of Operations & Production Management, Bingley, v.25, n.12, p.1223-
1227, Special Issue 2005.
WINDAHL, C.; LAKEMOND, N. Developing integrated solutions: the importance of
relationships within the network.Industrial Marketing Management, New York,
v.35, n.7, p.806-818, Oct. 2006. [DOI: ttp://dx.doi.org/10.1016/
j.indmarman.2006.05.010]
YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Endereço
Universidade de São Paulo
Faculdade de EconomiaAdministração e Contabilidade
Departamento de Administração
Programa de Pós-Graduação em Administração
Avenida Professor Luciano Gualberto, 908
05508-010 - São Paulo - SP
E-mail: marcio.moran@usp.br
Recebido em 01/maio/2010
Aprovado em 27/junho/2011