Ciclo de vida organizacional pautado no modelo de Lester, Parnell e Carraher
(2003) e na lógica fuzzy: classificação de empresas de um segmento industrial
de Santa Catarina
1. INTRODUÇÃO
Além das mudanças externas que afetam o ambiente organizacional interno, as
empresas, ao longo de seu desenvolvimento, passam por períodos com
características similares quanto a estratégias, estruturas e processos. Esses
períodos são denominados pela literatura como estágios do ciclo de vida
organizacional. De acordo com O'Rang e Krecker (1990), a teoria do ciclo de
vida organizacional estuda as mudanças das características das empresas ao
longo do tempo e de suas capacidades de adaptação ao ambiente.
Na teoria do ciclo de vida, a mudança nas organizações é iminente e é
apresentada por Van de Ven e Poople (1995) como uma das explicações para o
desenvolvimento organizacional. As mudanças constantes no ambiente
organizacional levam as empresas à busca de soluções para melhor enfrentarem
esse processo. Os autores destacam ainda que a organização se desenvolve de uma
forma subjacente, por uma lógica programada ou código que regulamenta o
processo de mudança e movimentos da organização a partir de determinado ponto
de partida para uma extremidade posterior, que se prefigura no estado atual.
Progressivamente, a organização torna-se madura e diferenciada.
Ferreira, Azevedo e Cruz (2008, p.35) afirmam que
"o desenvolvimento de qualquer organização, independentemente de
sua dimensão, tende a seguir um modelo previsível que normalmente é
caracterizado por etapas sequenciais e progressivas".
O conhecimento desse modelo poderá auxiliar na elaboração de um mapa que ajuda
o gestor a identificar as transições organizacionais críticas, bem como as
armadilhas que a organização deve evitar para crescer em tamanho e complexidade
(HANKS et al., 1993). Destacam ainda que um modelo de ciclo de vida pode
fornecer um calendário para adição de níveis de gestão, formalização de
procedimentos e sistemas organizacionais e revisão de prioridades
organizacionais.
Com base no exposto, elaborou-se a seguinte pergunta de pesquisa:
Em qual estágio do ciclo de vida organizacional as empresas do
segmento industrial de máquinas, aparelhos e materiais elétricos de
empresas do estado de Santa Catarina se encontram, entre aqueles
propostos por Lester, Parnell e Carraher?
A partir da questão de pesquisa formulada, neste estudo objetiva-se identificar
os estágios do ciclo de vida organizacional pautados no modelo de Lester,
Parnell e Carraher (2003) das empresas do segmento industrial de máquinas,
aparelhos e materiais elétricos de empresas do estado de Santa Catarina.
Esse segmento de atividade econômica empresarial foi selecionado devido a sua
representatividade na economia do estado e ao que vem apresentando ' 76,5%, se
comparados os meses de dezembro de 2008 e dezembro de 2009 ', além de ser
determinante para a expansão global da indústria no estado (IBGE, 2009). Esse
número sugere que novas empresas surgiram e que houve desenvolvimento das já
existentes, o que motivou a escolha desse setor para a pesquisa.
Quase todos os modelos de ciclo de vida têm contado com alguma medida do
contexto organizacional, uma orientação estratégica, estilos de tomada de
decisões ou ainda características estruturais, para descrever cada estágio de
desenvolvimento, de acordo com Lester, Parnell e Carraher (2003). Inclusive o
estudo de Frezatti et al. (2010), com base no qual se classificaram as
variáveis para identificar os respectivos estágios do ciclo de vida das
empresas, utilizou como referência o modelo proposto por Lester, Parnell e
Carraher (2003) para analisar o perfil das empresas brasileiras no que se
refere à estruturação do processo de planejamento, associado aos estágios do
ciclo de vida.
Assim, este estudo justifica-se na perspectiva teórica por buscar-se validar o
modelo de ciclo de vida organizacional proposto por Lester, Parnell e Carraher
(2003) sem o associar a nenhuma medida de contexto organizacional, aplicando-
o numa amostra de empresas para identificar o estágio em que se encontram em
seu ciclo de vida. De forma prática, justifica-se pela relevância de conhecer-
se a fase do ciclo de vida em que a empresa se encontra. O gestor pode adotar
medidas preventivas para evitar problemas organizacionais futuros, por conhecer
características dos estágios seguintes.
2. MUDANÇAS E DESENVOLVIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES
O aumento na instabilidade ambiental e o acirramento da competição, segundo
Wood Jr., Curado e Campos (1995, p.221), "colocaram a questão da mudança como
central para a sobrevivência das organizações". Para os autores, é necessário
mudar para criar um desempenho competitivo. Mudar não é uma opção à disposição
das organizações, mas uma condição imposta por ambientes modificados e mais
dinâmicos que as obrigam a se adaptarem a esses novos cenários.
A mudança organizacional é acelerada pela dinâmica do ambiente, por isso nem
sempre previsível. Silveira Júnior e Vivacqua (1996, p.3-5) afirmam que "a
mudança organizacional, ao contrário de ser rotineira e previsível, é instável,
acelerada e até certo ponto revolucionária". Os autores afirmam que a mudança
nas organizações insere-se tanto no contexto conjuntural, respondendo a
situações momentâneas, como no contexto estrutural, num sentido mais profundo,
de um processo histórico que provoca alterações importantes na sociedade e seus
agentes.
Sobre os elementos da mudança organizacional, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel
(2006, p.153) destacam que ela
"inclui estratégia e estrutura, englobando desde o conceitual até o
concreto e de comportamentos altamente formais até aqueles muito
informais".
Os autores advertem que não faz sentido mudar estrutura sem mudar sistemas e
pessoas, ou mudar visão sem repensar posições estratégicas e sem reprojetar
programas e produtos.
Wood Jr., Curado e Campos (1995, p.222) apontam que estudiosos tentam construir
um quadro de referências que traga racionalidade à discussão sobre mudança
organizacional. No entanto "a defasagem entre teoria e prática faz a regra". Em
alguns momentos, a teoria avança, agregando novos conhecimentos para a
compreensão das mudanças; em outros, a prática surpreende, abrindo novos
caminhos ainda não alcançados pela teoria. Apesar da dificuldade de criar um
quadro de referência, é relevante nesta discussão saber se o processo de
mudança conduz a organização a seu desenvolvimento.
2.1. Processo de mudança organizacional
Mudança, de modo geral, segundo Mello (1978, p.39),
"pode ser definida como modificação de um estado, condição ou
situação. É uma transformação de características, uma alteração de
dimensões ou aspectos mais ou menos significativos".
No contexto organizacional, o autor considera condição vital para as
organizações a capacidade de perceber e entender as mudanças e seus reflexos,
além de adaptarem-se às exigências de novos fatos.
No mesmo sentido, Nadler, Gerstein e Shaw (1993) consideram condição primordial
para o êxito das empresas a capacidade de reagir a novos desafios. Segundo os
autores, as empresas precisam prever a mudança e desenvolver antecipadamente
suas estratégias para administrar a mudança. A reação a fatos novos do ambiente
no qual as organizações estão inseridas, conforme Melo (1978, p.40), pode
acontecer de diferentes maneiras:
"a) negação da realidade ' desconhecer, negar, ignorar ou desprezar
o fato novo;
b) resistência (passiva ou ativa) ' resistir ao fato novo, opor-se a
mudanças antecipativas ou consequentes ao fato novo;
c) acomodação inercial ' acomodar-se, aceitar amorfamente, deixar-se
levar inercialmente, esperar passivamente que as coisas aconteçam;
d) mudança planejada ' perceber, entender e assimilar o fato novo,
integrando-o com o que já existe: desenvolver(-se), evoluir, inovar,
aperfeiçoar, criar, prever e planejar soluções e ações, mudar de modo
intencional, aproveitando toda a potencialidade de pessoal ou
organizacional;
e) subversão ou revolução ' atacar ou destruir o que já existe,
reconstruir só em função do fato novo, rejeitando e eliminando o
atual, por ter-se tornado totalmente obsoleto e ineficaz, ou por ter
o germe da resistência-à-mudança ou do retrocesso inercial".
De acordo com Mello (1978, p.41), o desenvolvimento organizacional depara-se
com todas essas maneiras de reagir a fatos novos do ambiente, mas o autor
aponta a mudança planejada "[...] como único modo de a organização e seus
responsáveis comandarem o processo de mudança". Nadler, Gerstein e Shaw (1993)
explicam que o processo de planejamento de mudanças requer que as organizações
aumentem sua flexibilidade e sua capacidade de previsão, desenvolvendo recursos
básicos eficientes e organizando seus esforços na busca de vantagem
competitiva.
O processo de mudança organizacional é normalmente abordado na literatura sob a
designação de desenvolvimento organizacional, embora este último termo possa
sugerir maior amplitude. De acordo com Gibson, Ivancevich e Donnelly Jr. (1988,
p.369), "a literatura e a prática que tratam do processo de mudança
organizacional não podem ser classificadas de modo conveniente". Destacam ainda
que, devido a controvérsias conceituais e teóricas, a tendência é usar o termo
desenvolvimento organizacional para expressar o processo de mudança e sua
administração.
2.2. Desenvolvimento organizacional
O desenvolvimento organizacional apresenta, conforme Oliveira (1979), um
conjunto de premissas e de pressupostos oriundos de fontes diversas: das
teorias dos cientistas do comportamento ligados à teoria da organização; das
mudanças econômicas, tecnológicas, políticas e sociais; ou ainda da teoria dos
sistemas, segundo a qual, a organização é visualizada como um sistema aberto de
transações com seu ambiente.
Para Wood Jr., Curado e Campos (1995, p.224), o desenvolvimento organizacional
é uma corrente substituta da abordagem sociotécnica. Para os autores,
"qualquer tipo de análise que se propuser a estudar tanto os
aspectos sociais quanto os aspectos técnicos de uma organização, pode
ser denominada sociotécnica".
Mello (1978, p.23) aduz que o desenvolvimento organizacional
"[...] é um processo de mudanças planejadas em sistemas
sociotécnicos abertos, visando aumentar a eficácia e a saúde da
organização, para assegurar o mútuo da empresa e seus empregados".
Gibson, Ivancevich e Donnelly Jr. (1988, p.371) explicam que o desenvolvimento
organizacional refere-se a um programa planejado, sistemático, iniciado pela
administração da organização, com a finalidade de torná-la mais efetiva
mediante o uso de vários métodos destinados a mudar o comportamento
organizacional. Os autores ressaltam que o programa deve estar
"baseado no pressuposto de que a eficácia organizacional aumenta à
medida que o programa facilita a integração dos objetivos individuais
e organizacionais".
Em relação à base científica do desenvolvimento organizacional, Oliveira (1979,
p.53) observa que há uma
"identificação com teorias e generalizações teóricas das ciências
comportamentais, sobretudo da psicologia social e da sociologia,
generalizações que, rigorosamente, não formam ainda uma teoria".
Wood Jr. (1995, p.15) sustenta que
"a dificuldade maior é construir um corpo coerente de ideias diante
de um universo teórico e prático multifacetado, que evolui de forma
turbulenta".
Pela característica de dinamicidade do tema, correntes domi- nantes logo se
tornam ultrapassadas e dão lugar a novas abordagens.
Conforme Van de Ven e Poople (1995), é a interação entre diferentes
perspectivas que ajuda na compreensão mais abrangente da vida organizacional,
pois qualquer perspectiva teórica, invariavelmente, oferece apenas uma
explicação parcial de um fenômeno complexo. A aplicação de diferentes
perspectivas teóricas no estudo do desenvolvimento das organizações põe em foco
pontos de vista contrários de mudança social e de- senvolvimento, tornando
oportuno o desenvolvimento de uma nova teoria.
Entretanto, a integração deve preservar a distinção das diferentes teorias
sobre mudança organizacional e desenvolvimento. De acordo com Van de Ven e
Poople (1995), isso pode ser conseguido por meio da identificação dos pontos de
vista de cada teoria, sua aplicação e circunstâncias que fazem com que essas
teorias sejam interligadas.
2.3. Teorias de desenvolvimento para explicar processos de mudanças
organizacionais
Van de Ven e Poople (1995) apresentam quatro teorias básicas de desenvolvimento
que podem servir como blocos de construção para explicar processos de mudanças
nas organizações: ciclo de vida, evolutiva, dialética e teleológica. O quadro_1
mostra as características dos quatro tipos básicos de teorias de
desenvolvimento organizacional.
O tipo básico da teoria do ciclo de vida institui que existe uma sequência
única de progressão entre os estágios de desenvolvimento, adotando a metáfora
do orgânico. O tipo básico da teoria evolutiva explica a mudança como uma
progressão periódica, cumulativa e probabilística de variação, seleção e
retenção entre organizações de uma mesma população. No tipo básico da teoria
dialética, a estabilidade e a mudança são explicadas pelo equilíbrio de poder
entre as organizações em conflito, com teses opostas. A mudança ocorre quando
esses valores opostos ganham poder suficiente para confrontar e envolver o
status quo. A teoria do tipo básico teleológica não prescreve uma sequência
necessária de eventos para explicar o desenvolvimento das organizações, baseia-
se na filosofia de que os objetivos e as metas causam as mudanças.
Diversas outras teorias organizacionais têm buscado explicar o desenvolvimento
organizacional, dentre elas pode-se citar a abordagem da ecologia
organizacional. De acordo com Cunha (1999, p.23), a teoria ecológica,
"ao realçar a escassez dos recursos e a competição
interorganizacional pela posse desses recursos, ajuda a compreender
fenômenos normalmente esquecidos ou ignorados, como o nascimento e a
morte das organizações".
O autor afirma que essa teoria "representa um passo significativo na aplicação
da metáfora biológica às organizações".
Por ser o foco deste estudo, deu-se ênfase à teoria do ciclo de vida que,
segundo Van de Ven e Poople (1995), talvez seja a explicação mais comum para o
desenvolvimento organizacional.
3. MODELOS DE CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL
As empresas, assim como os seres humanos, passam por processos de e
desenvolvimento. Essa área de conhecimento é denominada de ciclo de vida
organizacional. Investigar o ciclo de vida organizacional implica estudar
fenômenos que influenciam o desenvolvimento das organizações, as
características de estratégias, processos e estruturas em cada uma de suas
etapas. Para Oliveira e Escrivão Filho (2009, p.160),
"a teoria do ciclo de vida organizacional analisa os fenômenos
relacionados às mudanças das características das organizações ao
longo do tempo e das suas capacidades de adaptação ao ambiente".
Lester, Parnell e Carraher (2003) destacam que estudos anteriores, como os de
Kimberly e Miles (1980), Tichy (1980), Mintzberg (1989), associam conceitos do
ciclo de vida biológico ao ciclo de vida organizacional, ou seja, as
organizações nascem, crescem e morrem. Ressaltam também que, para esses
autores, a noção teórica do ciclo de vida é claramente determinista, uma
perspectiva de que as organizações passam inexoravelmente de uma fase para
outra ao longo do tempo.
Embora diversos pesquisadores concordem com a ideia de que as empresas
transpõem períodos e situações previsíveis ao longo de seu desenvolvimento,
Lester, Parnell e Carraher (2003) mencionam que há outra corrente de
pesquisadores, entre os quais eles se incluem, que tem questionado essa
perspectiva determinista, afirmando que o ciclo de vida vai além da
interpretação do ambiente organizacional pela alta administração. A maioria das
empresas não passa inexoravelmente de um estágio de desenvolvimento para outro,
no sentido tradicional biológico.
Ao longo do tempo, diversos modelos de ciclo de vida organizacional foram
desenvolvidos, testados e apresentados pela literatura. Levie e Hay (1999)
destacam que diversos estudos multiplicaram os modelos teóricos. No entanto,
identificaram premissas comuns a todos os modelos de ciclo de vida, quais
sejam: é possível identificar estágios organizacionais distintos; os estágios
ocorrem em determinada sequência, e que esta é comum às organizações no escopo
de cada modelo. Essas premissas estão baseadas na analogia do desenvolvimento
dos organismos vivos.
Adizes (2002, p.2) alerta que as organizações, ao ingressarem numa nova fase de
seu desenvolvimento, enfrentam problemas usuais de transição, embates e
dificuldades normais que existem em cada estágio do ciclo de vida
organizacional. O autor cita que
"o crescimento e o envelhecimento das organizações manifestam-se
primordialmente na inter-relação de dois fatores: flexibilidade e
controlabilidade".
Explica, ainda, que
"as organizações quando jovens são bastante flexíveis, mas nem
sempre são controláveis. À medida que as organizações envelhecem,
essa relação se altera. A controlabilidade aumenta e a flexibilidade
diminui".
Na literatura verificam-se percepções distintas sobre as fases ou estágios do
ciclo de vida organizacional. Diversos modelos de ciclo de vida organizacional
são encontrados, que divergem quanto às denominações das fases, suas
características e quantidade de estágios. No quadro_2, apresentam-se alguns
modelos de ciclo de vida organizacional e seus estágios, abordados por
pesquisadores como Borinelli (1998); Lucena e Vieira (2000); Frohlich (2005);
Novello (2006); Souza, Necyk e Frezatti (2008); Oliveira e Escrivão Filho
(2009); e Frezatti et al. (2010).
Cada um dos modelos listados no quadro_2 tem características e abordagens
específicas. Dentre os modelos de ciclo de vida encontrados na literatura,
optou-se pelo modelo de Lester, Parnell e Carraher (2003) para a realização
desta pesquisa, por apresentar características que mais se aproximam do
objetivo deste estudo.
4. MODELO DE CICLO DE VIDA DE LESTER, PARNELL E CARRAHER (2003)
O estudo de Lester, Parnell e Carraher (2003) objetivou propor um modelo de
ciclo de vida de cinco fases e testá-lo em- piricamente. Os autores
desenvolveram uma escala para classificar as organizações e analisar as
relações entre o ciclo de vida organizacional, estratégia competitiva e
desempenho. O modelo de cinco estágios proposto por Lester, Parnell e Carraher
(2003) está baseado no estudo de Miller e Friesen (1984).
O estudo desenvolvido por Miller e Friesen (1984) apresenta um modelo com
profundidade conceitual e está embasado em diversos testes empíricos, o que o
tornou um modelo reconhecido e utilizado como base para novos estudos
empíricos, dentre eles os que o relacionam com a contabilidade gerencial.
Lester, Parnell e Carraher (2003) apontam as diferenças de seu modelo, que
também apresenta cinco fases, para os demais, explicando que ele não é
destinado somente a empresas de pequeno porte, como os de Churchill e Lewis
(1983) e Scott e Bruce (1987), nem é concebido apenas para organizações
maiores, como os de Miller e Friesen (1984), Smith, Mitchell e Summer (1985) e
Hanks et al. (1993). Segundo Lester, Parnell e Carraher (2003), o modelo
proposto é relevante para todas as organizações, pois incorpora as melhores
características de vários modelos de liderança.
O ponto fraco do modelo proposto por Lester, Parnell e Carraher (2003),
apontado pelos próprios autores, é que ele não consegue capturar as várias
subfases das pequenas empresas como outros modelos, colocando-as em uma das
duas primeiras fases: existência ou sobrevivência. Sobre as semelhanças,
Lester, Parnell e Carraher (2003) destacam que quase todos os modelos de ciclo
de vida utilizam alguma medida do contexto organizacional, uma situação ou
orientação estratégica, processo de tomada de decisões ou ainda características
estruturais para descrever cada estágio de desenvolvimento.
Ao estudar os estágios de ciclo de vida organizacional, Lester, Parnell e
Carraher (2003) levaram em conta quatro elementos organizacionais: tamanho da
empresa, estrutura organizacional, processamento de informações e tomada de
decisão. As cinco fases do modelo e suas características constam no quadro_3.
Da pesquisa realizada com 242 gestores de indústrias do sudeste dos Estados
Unidos e da análise da relação entre o ciclo de vida organizacional e a
estratégia competitiva das empresas, os autores concluíram que:
as organizações, na fase de existência ou nascimento, eram
pequenas, com estrutura simples e informal e dependentes do fundador,
sem preferência por alguma estratégia;
a maior parte das organizações estava nos estágios intermediários:
sobrevivência e renovação. Possuía vários proprietários com alguma
especialização, e sistemas de informação para monitorar o desempenho
e auxiliar na tomada de decisão;
as empresas na fase de renovação tinham estrutura divisional, o
processamento das informações era complexo;
as empresas na fase de sucesso eram maiores do que seus
concorrentes, possuíam estrutura formal e funcional e sofisticados
sistemas de processamento de informações;
as grandes organizações relataram possuir maior capacidade de
processamento das informações do que as mais novas e menores;
as pequenas e novas organizações dependiam fortemente do fundador,
enquanto empresas maiores e mais antigas tinham o poder
descentralizado.
Lester, Parnell e Carraher (2003) tinham como pressuposto que o ciclo de vida
influencia a escolha da estratégia e que as empresas de sucesso, integrantes da
pesquisa, estavam em determinadas fases do ciclo de vida por causa das
estratégias que adotaram. Concluíram que a estratégia e o desempenho podem ser
vistos como elementos-chave do ciclo de vida da organização.
5. MÉTODO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA
Neste estudo, pesquisa descritiva foi realizada por meio de levantamento, com
corte seccional e abordagem quantitativa. De acordo com Hair Jr. et al.(2005,
p.86),
"os planos de pesquisa descritiva em geral são estruturados e
especificamente criados para medir as características descritas em
uma questão de pesquisa".
A característica descritiva está presente ao se descreverem os estágios do
ciclo de vida organizacional em que se encontram as empresas pesquisadas.
Pesquisa de levantamento foi realizada com a utilização de um questionário,
técnica de coleta de dados adotada para responder à questão da pesquisa.
Segundo Raupp e Beuren (2006, p.85),
"os dados referentes a esse tipo de pesquisa podem ser coletados
com base em uma amostra retirada de determinada população ou universo
que se deseja conhecer".
A população do estudo compreende as empresas do estado de Santa Catarina, do
segmento de atividade econômica empresarial denominado de fabricação de
máquinas, aparelhos e materiais elétricos. O agrupamento das empresas no
segmento de atividades foi feito de acordo com a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), sob a seção C, Indústrias de Transformação, na divisão 27,
Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos.
Para identificar o tamanho da população, solicitou-se à Secretaria da Fazenda
do Estado de Santa Catarina uma listagem das empresas enquadradas no segmento
selecionado. Os dados solicitados foram os seguintes: razão social, endereço,
telefone e endereço eletrônico. Na listagem fornecida identificou-se um total
de 388 empresas, cuja população foi contatada para confirmar se a atividade
principal da empresa se enquadrava no segmento escolhido para esta pesquisa,
além de confirmar o endereço e o nome da pessoa para enviar o instrumento de
pesquisa.
A partir desse contato, foram identificadas algumas situações que alteraram o
número inicial de empresas porque as impediam de prosseguir na pesquisa. Das
388 empresas, subtraíram-se 57 pertencentes a um grupo empresarial, 7 inativas
e em processo de baixa, 15 sem unidade de negócios em Santa Catarina, 18 de
endereço inexistente ou desconhecido e 27 sem atividade industrial, resultando
264 empresas nesse segmento de atividade, as quais constituem a população do
estudo.
O instrumento de pesquisa foi enviado para as 264 empresas do segmento
industrial escolhido. Quarenta empresas responderam a pesquisa, representando
uma amostra aleatória, por acessibilidade. Para Colauto e Beuren (2006), nesse
tipo de amostragem, o pesquisador apenas obtém os elementos a que tem maior
facilidade de acesso, admitindo que eles possam efetivamente representar de
forma adequada a população.
Na elaboração do questionário, os estágios do ciclo de vida organizacional
foram pautados no modelo de Lester, Parnell e Carraher (2003), e as variáveis
classificadas por estágio, conforme a pesquisa de Frezatti et al. (2010), que
teve como referência o mesmo modelo. Características específicas de cada fase
do ciclo de vida foram consideradas como variáveis na elaboração do
questionário, a fim de identificar o estágio do ciclo de vida em que se
encontram as empresas pesquisadas, conforme demonstrado no quadro_4.
As variáveis de identificação dos estágios do ciclo de vida organizacional
expostas no quadro_4, extraídas de Lester, Parnell e Carraher (2003) e
classificadas por estágio conforme Frezatti et al. (2010), foram utilizadas
nesta pesquisa. Na classificação proposta por Frezatti et al. (2010) incluíram-
se duas variáveis, sinalizadas com (*) no quadro_4. Ainda, duas variáveis foram
excluídas nos respectivos estágios: no rejuvenescimento, a "estrutura
organizacional da empresa é formalizada"; e, no declínio, o "processamento de
informações é utilizado de maneira não plena".
O instrumento de coleta de dados compreendeu um questionário com perguntas
fechadas, em que o respondente da pesquisa possuía uma escala limitada de
opções, no intervalo inteiro de zero a quatro, para indicar o nível
característico do estágio do ciclo de vida de sua empresa, com as seguintes
correspondências: 0 = não sei, 1 = discordo totalmente, 2 = discordo, 3 =
concordo e 4 = concordo plenamente. O questionário foi enviado ao gestor da
empresa pelos correios eletrônico e convencional, nos meses de março a maio de
2010.
Como as perguntas se referiam a um determinado momento da empresa, a pesquisa
caracteriza-se como sendo de corte seccional ou transversal. Richardson (1989,
p.93) explica que nesse enfoque
"os dados são coletados em um ponto no tempo, com base em uma
amostra selecionada para descrever uma população nesse determinado
momento".
A abordagem desta pesquisa é de natureza quantitativa. Os dados coletados foram
quantificados e analisados utilizando-se técnicas estatísticas. Segundo
Richardson (1989, p.29), o método quantitativo de pesquisa
"é frequentemente aplicado nos estudos descritivos, naqueles que
procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como
nos que investigam a relação de causalidade entre fenômenos".
Os dados foram submetidos à técnica estatística denominada lógica fuzzy, além
da classificação das empresas com base na observação das respostas que
predominaram em determinado estágio do ciclo de vida organizacional. Hair Jr.
et al.(2005, p.306) afirmam que "a escolha de uma técnica específica depende do
número de variáveis e da escala de mensuração". Os graus de incerteza e
ambiguidade de informações, as chamadas imperfeições intrínsecas da informação,
foram tratados estatisticamente pela teoria dos conjuntos difusos ou lógica
fuzzy.
O artigo Fuzzy Sets publicado por Lotfi A. Zadeh, nos Estados Unidos, na década
de 1960, resumiu os conceitos dos chamados conjuntos fuzzy que, posteriormente,
evoluíram para a lógica fuzzy. A tese principal de Zadeh era a de que um
elemento, não necessariamente, pertence ou não pertence a um conjunto, sem que
haja um contínuo grau de pertinência, ou seja, em que a passagem da pertinência
para a não pertinência seja gradual e não abrupta (ZIMMERMANN, 1991).
O termo fuzzy significa confuso, vago, impreciso, motivo pelo qual essa teoria
é também conhecida como teoria nebulosa (HEIN e DADAM, 2009). Com a lógica
fuzzy é possível avaliar conceitos não quantificáveis, como discordo totalmen-
te, discordo, concordo, concordo plenamente. Neste estudo, o instrumento de
coleta de dados possui essa escala e foi transformado em um esquema
cromossômico com nível de ploidia 4 (tetraploide). As respostas obtidas foram
convertidas em alelos e sua fuzzyficação foi realizada de modo a distribuir
parte do valor latente da resposta entre os cromossomos.
6. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
O modelo do ciclo de vida organizacional considerado na pesquisa foi o proposto
por Lester, Parnell e Carraher (2003) para caracterizar cada estágio:
nascimento, crescimento, maturidade, rejuvenescimento e declínio. Para as
variáveis de cada estágio, extraídas de Frezatti et al. (2010), solicitou-se
aos respondentes da pesquisa que opinassem à luz do ciclo de vida
organizacional de sua empresa. As respostas ao instrumento de pesquisa foram
tabuladas e vislumbraram-se duas formas de análise: observação das respostas e
lógica fuzzy.
A classificação das empresas nos estágios do ciclo de vida organizacional foi
baseada inicialmente apenas na observação das respostas obtidas, considerando-
se o maior grau de concordância com as questões que caracterizam cada estágio,
conforme as variáveis de identificação expostas no quadro_4. Em seguida,
utilizou-se a técnica estatística da lógica fuzzy para mitigar os graus de
incerteza e ambiguidade de informações na classificação das empresas em seus
respectivos estágios, considerando-se que a passagem da pertinência para a não
pertinência é gradual e não abrupta.
6.1. Classificação das empresas nos estágios do ciclo de vida pela observação
A análise baseada apenas na observação das respostas, para classificação da
empresa em um ou outro estágio do ciclo de vida, considerou o maior grau de
concordância no conjunto das quatro questões de cada estágio em comparação com
os demais. Seguindo esses critérios, procedeu-se à classificação das empresas
da amostra da pesquisa em seus respectivos estágios do ciclo de vida, conforme
demonstrado na tabela_1.
![](/img/revistas/rausp/v47n2/a04tab01.jpg)
A fase do ciclo de vida organizacional que predominou na maioria das empresas
pesquisadas (57,5%) é a do nascimento. Segundo Lester, Parnell e Carraher
(2003), essa fase marca o início do desenvolvimento organizacional e tem como
características principais: ser pequena comparativamente aos concorrentes;
centralização do poder decisório no fundador ou proprietário; estrutura
organizacional e processamento das informações considerados simples. As demais
fases não foram fortemente observadas entre as empresas pesquisadas.
6.2. Classificação das empresas nos estágios do ciclo de vida pela lógica fuzzy
A classificação das empresas por meio da lógica fuzzy ilustra-se com uma
empresa, a fim de melhor compreender os procedimentos adotados. Primeiramente
apresentam-se, no quadro_5, as opiniões (respostas assinaladas) de uma das
empresas participantes da pesquisa (Empresa 11), para cada uma das variáveis do
quadro_4, contidas no questionário.
Essa empresa foi classificada no estágio da maturidade, de acordo com os
critérios de classificação por observação definidos na seção 6.1. Vale lembrar
que, no instrumento de coleta de dados, essas afirmativas não estavam agrupadas
por estágio do ciclo de vida, mas dispostas em ordem aleatória. As opções de
respostas 1, 2, 3 e 4 do quadro_5 significam, respectivamente, discordo
totalmente, discordo, concordo e concordo plenamente. As afirmativas cuja opção
de resposta assinalada foi "não sei", foram descartadas para efeito de
enquadramento das empresas nos estágios do ciclo de vida pela lógica fuzzy.
Em seguida, formou-se um esquema cromossômico tetraploide, composto de quatro
cromossomos (C1, C2, C3 e C4), com comprimento de 20 locus. Esse esquema
cromossômico está demonstrado no quadro_6, cujos números de 1 a 20 da primeira
linha representam as 20 afirmativas listadas no quadro_5. Nesse caso, cada
cromossomo tem comprimento máximo de vinte locus, cada qual abrigando um gene,
cuja característica (valor ou alelo) dependerá da opção de resposta assinalada
pelo respondente da pesquisa para cada afirmativa.
Para efeito da lógica fuzzy, os valores das respostas podem variar de 1
(discordo totalmente) a 4 (concordo plenamente). A característica dos genes do
cromossomo C1 é a de terem valor igual a 1 sempre que a opção de resposta,
assinalada para cada afirmativa, for a "discordo totalmente". Do mesmo modo, a
característica dos genes dos cromossomos C2, C3 e C4 é a de terem,
respectivamente, valor igual a 2, 3 e 4 sempre que as respectivas opções de
resposta, assinaladas para cada afirmativa, forem: discordo, concordo e
concordo plenamente. Os valores máximos de cada gene dos cromossomos C1, C2, C3
e C4 serão, respectivamente, 1, 2, 3 e 4. Contudo os genes dos cromossomos C1 a
C4 poderão possuir valores inferiores ao máximo sempre que a opção de resposta
que lhes corresponda não for assinalada por meio do processo de fuzzyficação,
conforme demonstrado no exemplo do quadro_7.
[/img/revistas/rausp/v47n2/a04qdr07.jpg]
A fuzzyficação é elaborada de modo a distribuir verticalmente, para os genes de
outros cromossomos, o valor atribuído a determinado gene de um cromossomo
específico, em virtude da resposta assinalada pelo respondente. A variação da
distribuição vertical corresponde à redução de uma unidade entre um cromossomo
e outro em função da distância que separa o gene que recebeu o valor da
resposta dos demais.
No quadro_7, os valores em destaque (4, 3, 2 e 1) representam aqueles
atribuídos a cada gene dos cromossomos C4a C1 de acordo com a opção de resposta
escolhida pelo respondente para cada afirmativa. Poder-se-ia efetuar de outras
maneiras essa fuzzyficação, porém os resultados não seriam distintos do
apresentado.
Com base na metodologia de fuzzyficação apresentada, no quadro_8 demonstra-se o
sistema genético da Empresa 11, participante da pesquisa, antes da
fuzzyficação.
Os valores destacados no quadro_8 representam as opções de resposta dessa
empresa para as afirmativas do quadro_5. O sistema genético dessa empresa após
a fuzzyficação consta no quadro_9.
Os valores destacados no quadro_9 para cada gene em cada cromossomo representam
as opções de resposta dessa empresa para as afirmativas do quadro_5. Os valores
dos demais genes, abaixo e acima, estão diminuídos em uma unidade.
Para dar continuidade ao processo de classificação das empresas nos estágios do
ciclo de vida de acordo com a lógica fuzzy, foi necessário elaborar um esquema
genético difuso artificial (modelo) para cada estágio, também denominado de
matriz pura. A obtenção do modelo deu-se por meio da atribuição de valores
máximos de resposta para as quatro afirmativas que caracterizam cada estágio do
ciclo de vida. O esquema genético, já fuzzyficado, para cada estágio do ciclo
de vida é apresentado no quadro_10.
Nota-se que, no caso do estágio do nascimento, o valor má- ximo de resposta (4)
foi atribuído aos genes do cromossomo C4, denotando concordância plena com as
afirmativas de 1 a 4 do quadro_5, as quais objetivam caracterizar esse estágio.
Em contrapartida, os valores dos genes dos outros cromossomos, acima de C4,
nesse estágio, tiveram seus valores diminuídos em uma unidade por cromossomo,
pelo processo de fuzzyficação. Essa mesma situação ocorre nos demais esquemas
genéticos dos outros estágios do ciclo de vida, para as afirmativas que
caracterizam cada estágio.
Para melhor entendimento do quadro_10, descreve-se como deveria ser o
comportamento das respostas de uma empresa para ser considerada geneticamente
pura no estágio do nascimento: a empresa classificada nesse estágio concordaria
plenamente (4) com todas as afirmativas (1 a 4) que o caracterizam; concordaria
(3) com todas as afirmativas do estágio do crescimento (5 a 8); discordaria (2)
de todas as afirmativas do estágio maturidade (9 a 12); discordaria totalmente
(1) de todas as afirmativas do es- tágio rejuvenescimento (13 a 16); e
discordaria (2) de todas as afirmativas do estágio do declínio (17 a 20).
O grau de concordância admitido entre as afirmativas dos cinco estágios do
ciclo de vida em uma mesma matriz pura considerou a proximidade de um estágio
com o outro em face de suas características. O enquadramento das empresas em
cada estágio do ciclo de vida, de acordo com a lógica fuzzy, levou em conta a
menor distância existente entre o esquema genético de cada empresa, elaborado
de acordo com as respostas para cada afirmativa do quadro_5, e a matriz pura de
cada estágio.
A medida utilizada no cálculo das distâncias cromossômicas, segundo Hein,
Beuren e Novello (2011), é dada pela expressão:
[/img/revistas/rausp/v47n2/a04img01.jpg]
A matriz ei será carregada com os alelos difusos das empresas pesquisadas. A
matriz ej será de referência, ou seja, ela assume, durante os testes, a posição
de alguma fase pura. A menor distância irá apontar a qual grupo pertence a
empresa pesquisada em maior grau.
Cada empresa pode ser escrita na forma de uma matriz de 4 linhas e 20 colunas,
assim (ei - ej) dará origem a uma nova matriz 4x20. Multiplicando-se essa
matriz por sua transposta (ei - ej)t, chega-se a uma matriz quadrada homogênea
4x4, cuja soma dos elementos de seu traço é igual à soma de seus autovalores
(eigenvalues), que no caso são 4 valores. A distância cromossômica entre duas
dadas empresas foi usada como sendo a raiz quadrada do maior autovalor
encontrado. A matriz de distâncias entre as fases (geneticamente puras) consta
na tabela_2.
Na tabela_2 constam as distâncias entre as fases geneticamente puras. Uma
empresa pura do nascimento, por exemplo, estará menos distante do crescimento
(7,6405) do que do rejuvenescimento (17,8073). Após submeter as 40 empresas
respondentes ao cálculo da distância entre seu esquema genético e a matriz pura
de cada um dos estágios do ciclo de vida, foi elaborada a tabela_3.
Para cada empresa respondente, mediu-se a distância de- la com cada uma das
fases geneticamente puras e a menor dis- tância apresentada classificou-
a naquela fase. Na tabela_4, demonstra-se a classificação difusa de todas as
empresas pes- quisadas, bem como o estágio em que cada empresa foi classificada
pela observação, segundo critérios estabalecidos.
Das 40 empresas pesquisadas, o sistema classificador concordou com 30 das
classificações feitas anteriormente por observação segundo critérios definidos,
ou seja, com 75%. Tomando o caso da Empresa 9, por exemplo, ela foi
classificada inicialmente como estando na maturidade e re-classificada pela
lógica fuzzy no crescimento. Contudo, fazendo uma análise difusa, sua
classificação geral poderia ser entendida como: nascimento (39,63%),
crescimento (40,99%), maturidade (40,27%), rejuvenescimento (28,91%) e declínio
(28,16%). Esses cálculos foram obtidos mediante uma função de pertinência dada
por
[/img/revistas/rausp/v47n2/a04img02.jpg]
em que 18,0913 é a maior distância verificada entre os cálculos apresentados
(tabela_3).
Nove das dez empresas que não foram classificadas conforme observação
preliminar foram classificadas em fases imediatamente laterais, ou seja, em
alguma fase imediatamente anterior ou posterior. Com base na literatura,
especialmente em Lester, Parnell e Carraher (2003), pode-se justificar essa
classificação em fases imediatamente anteriores ou posteriores.
As empresas do estágio do crescimento caracterizam-se, segundo Lester, Parnell
e Carraher (2003), como: busca pela sobrevivência, estrutura formalizada e
estabelecimento de competências próprias. Os autores constataram que, nesse
estágio, algumas organizações prosperam com sucesso para a fase da maturidade,
enquanto outras podem adotar estratégias frustradas. Pelas respostas desta
pesquisa, parece haver uma tendência de evolução das empresas classificadas no
estágio do crescimento para o estágio da maturidade em virtude da segunda menor
distância entre as fases geneticamente puras.
Segundo Lester, Parnell e Carraher (2003), o estágio da maturidade é
caracterizado como o do sucesso, em que a burocracia, a formalização e o
controle são as regras. Nessa fase, as organizações tendem a serem maiores do
que a maioria dos concorrentes, mas não tão grandes como deveriam ser. Para os
autores, nessa fase as empresas passam por uma espécie de teste de
sobrevivência, tendem a proteger o que já conquistaram em vez de investir em
novos projetos.
As respostas das empresas classificadas no estágio da Maturidade aproximaram-
se, pela menor distância entre as fases geneticamente puras, do estágio do
crescimento, fase anterior à maturidade. Tais resultados sugerem que, se as
empresas evoluíram do estágio do crescimento para a maturidade, sua posição
nesse último parece não estar consolidada. Essa situação pode estar relacionada
com o teste de sobrevivência, típico da fase, como mencionado por Lester,
Parnell e Carraher (2003), que permite levá-las ao rejuvenescimento e investir
em novos projetos, ou à fase anterior de crescimento.
O estágio do rejuvenescimento é marcado pelo trabalho em equipe, que fomenta a
inovação e a criatividade (LESTER, PARNELL e CARRAHER, 2003). Destaca-se que as
respostas das empresas classificadas nesse estágio as aproximam dos estágios de
crescimento e maturidade. Interpretando as características descritas por
Lester, Parnell e Carraher (2003), pode-se inferir que a proximidade do estágio
rejuvenescimento com o estágio crescimento está na inovação, na busca pela
conquista de novos mercados, características presentes nos dois estágios. Já a
proximidade com o estágio da maturidade encontra-se na formalização dos
procedimentos, na complexidade do processamento da informação e na formalização
da estrutura, características presentes nos estágios da maturidade e do
rejuvenescimento.
O estágio do rejuvenescimento de Lester, Parnell e Carraher (2003) pode ser
equiparado ao estágio do ciclo de vida denominado por Adizes (2002) de
plenitude. Em seus estudos, esse autor considera que nesse estágio a
organização é ao mesmo tempo flexível e controlável, possui as vantagens da
juventude e da maturidade, a flexibilidade e a controlabilidade. Aparentemente,
os resultados obtidos por esta pesquisa para as empresas classificadas no
estágio do rejuvenescimento reforçam seu posicionamento nesse estágio,
principalmente por apresentarem menor distância entre as fases geneticamente
puras nos estágios do crescimento e da maturidade, imediatamente anteriores ao
rejuvenescimento.
Somente uma empresa foi classificada em grupos longínquos, é o caso da Empresa
27, classificada como declínio e reclassificada como nascimento. No entanto,
são estágios que também podem ser considerados próximos, tendo em vista que
existe uma linha tênue que separa o estágio do nascimento daquele do declínio.
Segundo Lester, Parnell e Carraher (2003), na fase do declínio as organizações
regridem, o poder vol- ta a ser centralizado, há poucos sistemas de controle e
o pro- cessamento da informação torna-se simplificado. Devido a esse
retrocesso, existe similaridade entre as características do estágio do
nascimento e do declínio.
Essa proximidade entre os dois grupos de características fica mais fácil de ser
entendida se for considerado o fato de que empresas na fase de nascimento podem
evoluir para qualquer outra fase ou simplesmente serem extintas, em função de
ser o estágio de nascimento aquele no qual as empresas estão mais suscetíveis
aos riscos que envolvem qualquer atividade empresarial.
Resumindo a classificação das empresas nos estágios do ciclo de vida
organizacional pela técnica fuzzy, a tabela_5 apre- senta o enquadramento
geral.
[/img/revistas/rausp/v47n2/a04tab05.jpg]
Da mesma forma como a classificação pelos critérios da observação, na análise
difusa a fase de nascimento também predominou entre as empresas (70%).
7. CONCLUSÕES
Neste estudo, objetivou-se identificar os estágios do ciclo de vida
organizacional pautados no modelo de Lester, Parnell e Carraher (2003) das
empresas do segmento industrial de máquinas, aparelhos e materiais elétricos do
estado de Santa Catarina. Pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, foi
realizada por meio de levantamento, com aplicação de questionário aos gestores
das 264 empresas desse segmento econômico listadas na Secretaria da Fazenda do
Estado de Santa Catarina. A amostra não aleatória constituiu-se das 40 empresas
que responderam o questionário.
O instrumento de coleta de dados permitiu, por meio das respostas e de sua
análise, a classificação das empresas por estágios do ciclo de vida. As
respostas foram tabuladas e depois analisadas sob duas formas: observação das
respostas e lógica fuzzy. A classificação das empresas nos estágios do ciclo de
vida organizacional, baseada apenas na observação das respostas obtidas,
considerou o maior grau de concordância com as questões que caracterizam cada
estágio, conforme as variáveis de identificação expostas no quadro_4. Os
resultados dessa classificação foram os seguintes: 57,5% das empresas estão no
estágio do nascimento; 15%, no do crescimento; 7,5%, no da maturidade; 10%, no
do rejuvenescimento; e 10%, no do declínio.
Além da classificação nos estágios do ciclo de vida organizacional a partir da
observação das respostas, utilizou-se a técnica estatística da lógica fuzzy
ante os graus de incerteza e ambiguidade de informações na classificação das
empresas em seus respectivos estágios. Assim, assumindo-se que a passagem da
pertinência para a não pertinência é gradual e não abrupta, a classificação em
um ou outro estágio seguiu os critérios expostos na seção específica da
aplicação da lógica fuzzy e chegou-se aos seguintes resultados: 70% das
empresas foram classificadas no estágio do nascimento; 5%, no do crescimento;
15% maturidade; 3%, no do rejuvenescimento; e 8%, no do declínio.
Concluiu-se que determinados estágios do ciclo de vida organizacional estão
muito próximos uns dos outros e que não se pode perceber claramente uma
progressão determinista nas fases do ciclo de vida, como uma sequência única,
definitiva e irreversível, no sentido tradicional biológico. Esse resultado
corrobora os estudos de Miller e Friesen (1984) e de Lester, Parnell e Carraher
(2003), que questionam a perspectiva determinista e afirmam que a maioria das
empresas não passa inexoravelmente de um estágio de desenvolvimento para outro,
no sentido tradicional biológico.
Outro aspecto a ser considerado é que a mudança organizacional tende a ser
acelerada pela dinâmica do ambiente, conforme Silveira Júnior e Vivacqua
(1996). Assim, é condição vital para as organizações a capacidade de perceber e
entender as mudanças e seus reflexos, além de se adaptarem às exigências de
novos fatos, como preconizado por Mello (1978). Ele aponta a mudança planejada
como único caminho para a organização e seus responsáveis comandarem o processo
de mudança, já que o desenvolvimento organizacional se depara com maneiras
diversas de reagir a fatos novos do ambiente, além de requerer aumento de
flexibilidade e capacidade de previsão.
Nesse sentido, recomenda-se que futuras pesquisas explorem outros quadros de
referência de mudança e desenvolvimento organizacional, por exemplo a abordagem
da ecologia organizacional que, ao enfatizar a escassez dos recursos e a
competição interorganizacional pela sua posse, pode ajudar a compreender os
fenômenos normalmente esquecidos ou ignorados, como o nascimento e a morte das
organizações, o que, segundo Cunha (1999), representa um passo importante na
aplicação da metáfora biológica às organizações.