Financiamento de parques tecnológicos: um estudo comparativo de casos
brasileiros, portugueses e espanhóis
1. INTRODUÇÃO
A inovação tecnológica, fator central de uma economia baseada no conhecimento,
é ingrediente principal do desenvolvimento econômico. Em função de sua
importância, várias instituições governamentais, de ensino e pesquisa, de
desenvolvimento e empresas, entre outros, estão envolvidos na realização de
ações que permitam a catalisação da geração de inovações. Entre as diversas
iniciativas, está a criação de ambientes que permitam maior interação desses
agentes em nível local, os chamados habitats de inovação.
Um desses ambientes, caracterizado pela promoção da competitividade das
empresas inovadoras e que visa à disseminação do conhecimento por meio da maior
interação entre empresas e universidades/centros de pesquisa, são os parques
tecnológicos.
Dentre as várias definições desse tipo de empreendimento, neste estudo assumiu-
se o conceito de parques tecnológicos como empreendimentos imobiliários
planejados,com umaorganização gestora institucionalizada,a qual visa à promoção
da inovação por meio demecanismos de transferência de conhecimentoe da
articulação e/ou oferecimento deserviços tecnológicos de interesse das
empresas.As organizações gestoras de parques coordenam os interesses dos
diversos participantes do empreendimento ' universidades, empresas, meio
empresarial, entre outros ' e, além da gestão de ciência e tecnologia, podem
realizar a gestão imobiliária. Ainda, os parques são empreendimentos
localizados em uma área geográfica delimitada dentro, ou próximo, de
universidades ou institutos de pesquisas com os quais mantêm relações formais.
Geralmente, tais empreendimentos acomodam incubadoras tecnológicas, centros de
pesquisa e desenvolvimento (P&D), laboratórios, empresas de base
tecnológica e/ou inovadoras, podendo essas empresas relacionarem-se a um setor
específico ou mesmo a multissetores industriais, e diversos outros
empreendimentos de suporte e prestação de serviços, como bancos, correio,
restaurantes, áreas de esportes e lazer, etc.
Pela própria natureza dos empreendimentos, os parques possuem um longo prazo
para a maturação do investimento, portanto tendem a não ser atrativos à
participação de entidades privadas em seu financiamento, pelo menos na fase
inicial de implantação, fazendo com que os recursos públicos sejam os mais
procurados para seu financiamento. Em razão da escassez de recursos públicos,
principalmente em países em desenvolvimento, surge uma lacuna no financiamento
desse tipo de empreendimento. Esse cenário originou o seguinte questionamento:
quais as perspectivas de financiamento de que a organização gestora de um
parque tecnológico dispõe para realizar as fases de planejamento, implantação e
operação dos elementos constitutivos e serviços oferecidos por esse tipo de
empreendimento?
Para tanto, analisaram-se as fontes de financiamento utili- zadas nas fases de
planejamento, implantação e operacionalização dos seguintes empreendimentos:
Tecnopuc, Polo de In- formática de São Leopoldo e Sapiens Parque, instalados no
Brasil; Biocant Park e Taguspark, instalados em Portugal; Parque Tecnológico de
Cartuja 93, Parque Tecnológico de Andalucia, Parque Científico de Barcelona,
Parque Tecnológico de Bizkaia e Parque Tecnológico de Álava, instalados na
Espanha.
O artigo está estruturado em seis seções: a primeira corresponde à presente
introdução; na segunda e na terceira apresenta-se a discussão teórica sobre o
tema; na quarta discutem-se os aspectos metodológicos; na quinta seção
comparam-se os parques selecionados em termos de fontes de financiamento
utilizadas para viabilizar o empreendimento, o que foi financiado
individualmente pelas entidades públicas e privadas envolvidas nos
empreendimentos, as parcerias entre entidades públicas e a iniciativa privada
que contribuíram para o financiamento dos parques, e as ações realizadas pelas
organizações gestoras dos parques, que os tornaram atrativos para investimentos
das entidades públicas e da iniciativa privada. Por fim são apresentadas as
conclusões, que tratam da existência de similaridades e diferenças nas fontes
de financiamento utilizadas nos casos dos parques selecionados, as limitações
da pesquisa e as referências utilizadas.
2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS E FASES DE IMPLANTAÇÃO DE PARQUES TECNOLÓGICOS
A fim de proporcionar um local adequado para a instalação de empresas e
promover a catalisação de seu processo inovativo, os parques buscam
disponibilizar um conjunto de infraestruturas físicas e equipamentos que
demandam financiamento para seu planejamento, sua implantação e sua manutenção,
quais sejam (GOWER e HARRIS, 1996; BOLTON, 1997; HAUSER, 1997; SPOLIDORO, 1997;
RAGHAVAN, 2005):
infraestruturas básicas ' compostas por terrenos, rede de água,
energia, telecomunicações (telefonia, rede de fibra ótica, sistema
wi-fi etc.), esgoto, gás, rede viária e sinalização, áreas de
estacionamento, passeios, tratamento e controle de resíduos,
equipamentos de eliminação de resíduos, iluminação exterior, guaritas
de segurança, entre outros;
edifícios institucionais ' abrigam a organização gestora do parque,
associações representativas das empresas, bancos de fomento e
agências de desenvolvimento;
edifícios de negócios ' destinados à locação ou à venda para as
empresas que queiram instalar-se no parque; exemplos são incubadoras
de empresas e centros empresariais (business centers);
infraestruturas tecnológicas ' como centros tecnológicos de
P&D, laboratórios de pesquisa de uso conjunto, entre outros;
áreas verdes e sociais ' áreas destinadas ao convívio social e a
serviços prestados ao indivíduo, que podem ser compostas por áreas de
esporte e lazer, academias, creches, restaurantes, cafés, parques
ecológicos etc.
Além desses elementos inseridos no parque, a infraestrutura das universidades e
de intituições de pesquisa parceiras, que estão instaladas próximas à área do
parque e que mantenham relações formais com este, aumenta o conjunto de
infraestruturas tecnológicas disponíveis às empresas.
As organizações gestoras de parques, além de gerenciarem a disponibilização de
estruturas físicas, oferecem uma gama de serviços, tais como treinamento e
consultoria tecnológica e gerencial, acompanhamento do desenvolvimento de
projetos, serviços de proteção da propriedade intelectual e transferência de
tecnologia. Essas atividades requerem profissionais qualificados, portanto
demandam financiamento para sua implantação e manutenção.
No que tange à realização de atividades e à implantação das estruturas físicas
e de serviços, pode-se, então, conside- rar as seguintes fases de
desenvolvimento do empreendimen- to (LUGER e GOLDSTEIN, 1991; TADEU, 2002;
FIPASE, 2006):
concepção do projeto ' envolve estudos preliminares de diagnóstico
de vocação da cidade e região, concepção do conceito do parque,
definição das organizações interessadas em participar do projeto;
planejamento ' definição das estruturas físicas e de serviços,
definição da área, estruturação jurídica do empreendimento,
constituição legal da organização gestora, estudos ambientais,
projeto urbanístico, com definição de faseamento, elaboração de
planejamento econômico detalhado e de plano de captação de recursos;
implantação ' negociação com investidores, formalização de
contratos de financiamento, construção da infraestrutura básica, de
edifícios institucionais e de negócios, infraestruturas tecnológicas,
áreas verdes e sociais; prospecção e divulgação do projeto para
atração de empresas; disponibilização de terrenos/salas para
implantação de empresas;
operação ' fase em que as empresas já estão instaladas no parque e
existe a criação e a manutenção dos serviços prestados pelo parque às
empresas residentes e manutenção / ampliação dos elementos
constitutivos.
3. FINANCIAMENTO DE PARQUES TECNOLÓGICOS
As organizações gestoras dos parques, devido à amplitude e às características
do projeto que conduzem, apresentam fontes de financiamento diferenciadas das
empresas e grandes empreendimentos tradicionais, e mesmo das empresas que se
instalam nos parques. Para a realização das atividades da fase de planejamento,
implantação e operacionalização existem diversas possibilidades de
financiamento ' tanto público quanto privado ', que variam em função do risco e
do retorno promovidos pelo elemento financiado.
Outro fator impactante no financiamento de parques é o longo prazo em que são
desenvolvidas as atividades de implantação, que podem alcançar mais de uma
década (LALKAKA e BISHOP JR., 1995).
Em função de apresentarem um grande componente imobiliário, o financiamento de
parques aproxima-se do modelo de financiamento de projetos imobiliários e
projetos de infraestrutura, portanto podem valer-se das modalidades disponíveis
para tais finalidades. Segundo Gower e Harris (1994, p.8), as operações
imobiliárias são uma das mais importantes, senão a mais importante, das fontes
de financiamento. Além disso, de acordo com Rosenblum (2004, p.336), os
recursos para o financiamento de parques tecnológicos podem originar-se de
várias fontes, dentre as quais "subvenções governamentais, universidades,
bancos, fundos filantrópicos e contribuições da indústria".
3.1. Influência do modelo de negócio
O tipo de financiamento a ser adotado pelos parques e a atratividade do
empreendimento aos investimentos, tanto públicos quanto privados, são
influenciados e limitados pela natureza jurídica da organização contratante, no
caso a organização gestora do empreendimento, pela característica do que vai
ser contratado e pelo modelo de negócio do empreendimento em questão, ou seja,
a perspectiva de renda futura, as garantias oferecidas, o fluxo de receitas,
entre outros.
O financiamento da implantação das infraestruturas físicas e de serviços do
parque, além de aportes diretos das diversas fontes, pode ocorrer também por
meio de uma estruturação mais complexa, na qual a organização gestora do parque
pode obter receitas por meio de:
venda de terrenos na área do parque ' a organização gestora do
parque pode obter tais áreas por meio de compra, doação de áreas
públicas, ou doação de áreas privadas. Uma das motivações para o
setor privado realizar a doação de terrenos para a organização
gestora do parque é que a implantação do parque pode gerar uma
valorização da área do entorno do empreendimento;
aluguéis, leasing ou venda de salas ou edifícios, se a organização
gestora for a proprietária de edifícios, condomínios de empresas ou
barracões;
royalties sobre produtos/processos cuja titularidade é
compartilhada em função da utilização de seus equipamentos e
profissionais;
prestação de serviços tecnológicos ou de gestão;
participação no capital de empresas residentes por meio de
investimento de venture capital;
participação em projetos imobiliários associados, promovidos pela
valorização do entorno da área do parque.
A estruturação do modelo do negócio em um arranjo que busque acelerar o
processo de instalação de empresas e o desenvolvimento do empreendimento por
meio de baixos valores de aluguel, venda de terrenos e serviços prestados, pode
tornar o empreendimento financeiramente deficitário e levá-lo a não alcançar
sua sustentabilidade financeira, ficando, então, dependente de dotações
públicas para manter-se, tornando-o não atrativo a investidores privados. Tal
estrutura é interessante se o objetivo de todos os atores participantes do
empreendimento não possuir como prioridade o retorno sobre o recurso investido
na forma de lucro imediato.
3.1.1. Parcerias entre entidades públicas e a iniciativa privada
Em suas pesquisas sobre os parques ingleses, Gower e Harris (1994) observaram
que a iniciativa privada era estimula- da a investir no empreendimento quando,
na região em que o parque está instalado, existe demanda de mercado para
empreendimentos imobiliários desse tipo, e onde é possível alcançar o retorno
sobre o investimento requerido no prazo determinado. Quando não havia demanda,
e o parque era desenvolvido para regenerar e dinamizar economicamente a região,
o governo realizava os investimentos iniciais, a fim de atrair fundos privados
num segundo momento. O desenvolvimento de um parque nesse último contexto pode
ir de encontro às forças de mercado, haja vista a falta de demanda e, portanto,
tem o poder público como seu principal financiador, pelo menos inicialmente.
Bolton (1997, p.145) afirma que
"embora existam exemplos ao redor do mundo de incubadoras e parques
tecnológicos que são lucrativos como investimentos, este não é o caso
geral onde eles são usados como instrumentos de desenvolvimento local
[...]".
Nesse contexto, a atração de recursos privados para investimentos em parques
tecnológicos ainda não acontece de maneira espontânea. Segundo Zouain (2003,
p.42), a
"formulação de estratégias para captação de interesse da iniciativa
privada para apoio aos projetos e participação direta no seu
desenvolvimento"
é uma das dificuldades a serem superadas para o desenvolvimento dos parques.
Para Gower e Harris (1994), alguns dos fatores críticos para investimento da
iniciativa privada em parques tecnológicos são: a natureza especializada das
infraestruturas; sua localização, principalmente em áreas de declínio econômico
e industrial; a falta de padronização nos arrendamentos (por exemplo, vários
ocupantes por curto prazo); e a necessidade de esse tipo de empreendimento
possuir uma administração hands-on, o que aumenta significativamente os custos
do empreendimento.
A respeito da atração da iniciativa privada para investimento nos parques,
Gower e Harris (1996, p.30) destacam que
"mesmo com todo o aparente sucesso no desenvolvimento de parques
tecnológicos, parece que a única maneira de atrair investimento do
setor privado é através de parcerias".
Segundo Rothschild (2001, p.274),
"as parcerias público-privadas [parceria entre entidades públicas e
a iniciativa privada] permitem a cada parte gerar o maior valor
adicionado dados seus respectivos recursos. Assim o(s) parceiro(s)
público(s) pode(m) frequentemente ser mais bem servido(s) em oferecer
pacotes de incentivos econômicos e fiscais (incluindo vários tipos de
financiamento via débito), concessões de terras ou aluguel de lotes,
buscando empresas residentes âncoras e facilitando o processo
governamental e burocrático. Enquanto isso, o(s) parceiro(s) privado
(s) pode(m) ser a melhor forma para rápido e flexível acesso ao
mercado de capitais, financiamento de equity com o menor custo e
ampla experiência com o tipo de produto particular e relações bem
desenvolvidas com usuários privados industriais (empresas residentes
potenciais)".
O que se observa na maioria das iniciativas é que o modelo de negócio dos
parques é variável caso a caso, mas a receita futura é invariavelmente
insuficiente para cobrir os dispêndios, em função de a maioria de tais
iniciativas terem uma dimensão de política pública voltada ao desenvolvimento
local/regional e de política nacional em geral, e, portanto, para cobri-los, as
estruturas de financiamento requerem o aporte de recursos públicos, o que torna
essas iniciativas, em sua maioria, parcerias entre investidores privados e
entidades públicas.
4. METODOLOGIA
Na pesquisa aqui apresentada utiliza-se abordagem qualitativa para explorar
como os parques financiam as fases de implantação do empreendimento. Esse
método é apropriado quando os que o aplicam lidam com questões que
"requerem um entendimento profundo dos processos, envolvem
fenômenos pouco entendidos, ou buscam entender variáveis não
especificadas, relações mal-estruturadas, ou variáveis que não podem
ou não devem ser estudadas via experimentação" (BARR, 2004).
Um estudo de caso múltiplo foi realizado para compreen- der em profundidade o
fenômeno, que está cercado por condi- ções contextuais. Para construir os casos
e promover um melhor entendimento de cada um deles, evidências qualitativas e
quantitativas foram coletadas (YIN, 2009).
Os parques analisados foram selecionados por meio de informações obtidas com
especialistas no assunto, a fim de identificar casos que já se encontram em
fase de implementação ou operação e que obtiveram recursos privados para seu
financiamento. Os casos estudados foram:
no Brasil ' Tecnopuc (Porto Alegre/RS), Sao Leopoldo Computer
Science Pole (São Leopoldo/RS) e Sapiens Park (Florianópolis/SC);
em Portugal ' Biocant Park (Catanhede) e Taguspark (Lisboa);
na Espanha ' Parque Científico e Tecnológico de Cartuja 93
(Sevilla), Parque Tecnológico da Andalucia (Málaga), Parque
Científico de Barcelona (Barcelona), Parque Tecnológico de Bizkaia
(Bilbao) e Parque Tecnológico de Álava (Álava).
Foram realizadas coletas de dados secundários em publicações, documentos tais
como relatórios anuais dos referidos projetos. Foram conduzidas entrevistas no
início de 2007 com representantes das organizações gestoras dos parques acima
citados ' no caso brasileiro, foi possível entrevistar representantes da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), bem como visitas in loco aos
parques estudados. No quadro_1 pode ser vista a relação dos entrevistados.
5. ANÁLISE COMPARATIVA DAS PERSPECTIVAS DE FINANCIAMENTO DOS PARQUES
TECNOLÓGICOS
Neste tópico, apresenta-se a comparação do financiamento dos parques
tecnológicos estudados para cada uma das fases, por meio da análise da
participação das fontes de recursos em cada fase de implantação; da
participação de organizações de naturezas distintas na organização gestora do
parque tecnológico; das parcerias entre o poder público e a iniciativa privada;
da atratividade do empreendimento aos investimentos da iniciativa pública e
privada; e das similaridades e diferenças nas fontes de financiamento dos casos
estudados.
Na figura_1, apresenta-se uma estimativa ' uma vez que, na maioria dos casos,
as informações solicitadas específi- cas ao financiamento, em termos dos
valores investidos ou da participação percentual entre os investidores, não
foram disponibilizadas ', sem a pretensão de realizar uma mensuração precisa,
das fontes de financiamento de: estudos realizados na fase de planejamento;
implantação dos elementos constitutivos; operacionalização de tais elementos e
serviços prestados.
5.1. Os parques
5.1.1. Tecnopuc
Verificou-se que no Tecnopuc, os estudos de planejamento da primeira fase foram
financiados pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-
RS), e os estudos para expansão do Parque pela Finep, por meio de concorrência
pública em 2004.
A implantação dos elementos constitutivos foi, em sua maioria, financiada pela
própria PUC-RS, mas também houve participação de recursos públicos, por meio da
Finep (concorrência), e investimentos de empresas na implantação de
infraestrutura de telefonia, Internet e comunicação, as quais elas mesmas
exploram.
Além disso, as empresas realizaram investimento (incluso na categoria Empresas
na figura_1) na reforma ou na construção de prédios que foram doados à PUC-RS,
garantindo-lhes uma carência no pagamento do arrendamento desses edifícios por
período calculado em função do valor investido por cada uma delas. Em outras
palavras, o financiamento de implantação desses edifícios funcionou como um
adiantamento do valor do arrendamento à PUC-RS, o qual permitiu a construção do
imóvel arrendado. Esse modelo não se apresenta interessante para uma empresa
que necessite alavancar capital no mercado financeiro e, nesse caso, não pode
utilizar o prédio como garantia; mas, em casos onde não existem recursos
disponíveis para a construção dos edifícios, é uma forma interessante de
apressar a instalação de empresas, visto que estas não necessitam esperar a
disponibilização de prédios construídos pela organização gestora do parque.
A operacionalização do empreendimento é financiada pela PUC-RS, que investe
recursos de duas formas distintas: pelas receitas geradas dos serviços
prestados pela administração do parque às empresas residentes, assim como pelo
arrendamento pago por tais empresas (categorizados na figura_1 como PUC-RS '
Receitas Operacionais Tecnopuc); e por meio de investimento direto, o que não
quer dizer que a PUC-RS esteja investindo em um empreendimento não sustentável,
visto que o parque alavanca recursos para suas pesquisas por meio dos projetos
entre os pesquisadores e as empresas, bolsas de mestrado e doutorado, expansão
no número de participação em patentes (aumento do valor recebido de royalties)
e aumento da visibilidade da universidade. As fontes de financiamento, com
intensa participação da universidade, são condizentes com o modelo de science
park adotado.
O financiamento público recebido, tanto no planejamento quanto na implantação,
atuou como indutor do desenvolvimento do empreendimento, e o investimento
privado promoveu a diminuição do período de implantação das próprias empresas
investidoras.
5.1.2. Polo de Informática de São Leopoldo
O planejamento do empreendimento ocorreu por meio de reuniões entre
representantes de associações de empresas (Acil/SL, Assespro/RS, Seprorgs e
Softsul), a Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos), a prefeitura municipal de
São Leopoldo e o governo estadual do Rio Grande do Sul, fazendo com que essa
fase demandasse um nível muito baixo de recursos. A participação significativa
das associações de empresas pode indicar que elas tinham a perspectiva de que
um empreendimento desse tipo pudesse agregar valor a sua imagem, além de
aproximá-las da universidade.
O financiamento dos elementos constitutivos do parque ocorreu por meio do
aporte de recursos da Unisinos, na construção do edifício da Unidade de
Desenvolvimento Tecnológico (incubadora de empresas) da Unisinos (Unitec), da
prefeitura municipal de São Leopoldo, na doação dos terrenos, e do governo do
estado do Rio Grande do Sul, na realização da infraestrutura. As empresas
financiaram os edifícios do condomínio empresarial, onde estão instaladas em
prédios individuais, de sua propriedade.
Na operacionalização do empreendimento, as empresas apenas têm participação no
financiamento da manutenção do condomínio no qual estão instaladas (categoria
Empresas). A operacionalização da Unitec é financiada pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), por
meio de convênios específicos com a incubadora, e pela Unisinos, que investe
recursos de duas formas distintas: pelas receitas dos arrendamentos pagos pelas
empresas instaladas na Unitec (categorizado na figura_1 como Unisinos '
Receitas Operacionais Unitec); e por meio de investimento direto ' o retorno do
valor investido vai ser dado pela atração de novos alunos para a universidade e
em projetos dos pesquisadores da universidade realizados em conjunto com as
empresas.
Observa-se que o financiamento do Polo de Informática de São Leopoldo poderia
ser desmembrado em Unitec e condomínio de empresas; portanto, como não há uma
organização, com equipe dedicada, que promova a interação entre empresas e
universidades e disponibilize serviços de gestão e tecnológicos, a
operacionalização do parque como um todo requer um nível de financiamento muito
baixo se comparado a outros parques. Além disso, o desenvolvimento do
condomínio de empresas parece estar vinculado somente à atração de empresas
pelo aspecto imobiliário, inexistindo atividades que promovam a catalisação dos
processos de inovação de produtos ou processos das empresas, que é a essência
de um parque tecnológico.
5.1.3. Sapiens Park
Os estudos de planejamento (plano de investimento, auditoria mercadológica,
jurídica e financeira, Master Plan, EIA-RIMA) foram financiados em grande parte
pela Fundação Certi (Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras), que
lançou tal investimento como diferido ' investimentos a serem convertidos em
receitas futuras ' em seu balanço. A Certi possui 6% do capital da Sapiens Park
S.A., o que lhe permitirá receber dividendos de tal empreendimento.
A implantação da fase inicial do Sapiens já foi realizada por meio de
integralização na Sapiens S.A. de 5 milhões de reais da Companhia de
Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (Codesc). A Sapiens S.A. será uma
das financiadoras da implantação ' investindo em infraestrutura, edifícios e
equipamentos do módulo Experientia ' com recursos obtidos por meio das vendas
de terrenos ou permuta destes por área construída. O investimento de recursos
públicos também está previsto para a infraestrutura básica e edifícios dos
Módulos Scientia e Experientia, módulos centrais do empreendimento. Os gestores
acreditam que outras entidades financiem a implantação do parque, quais sejam:
parceiros públicos e privados (incluídos na categoria Empresas), bancos, por
meio de empréstimos e financiamentos, e instituições de ensino, por meio da
construção de seus edifícios no módulo Scientia, em terreno cedido pela Sapiens
S.A.
A expectativa em relação aos investimentos na implantação dos edifícios dos
outros quatro módulos ' que visam abrigar empreendimentos de turismo
sustentável, base tecnológica, socioambientais e serviços intensivos em
conhecimento ' é de que eles sejam integralmente realizados pelas próprias
empresas, que deverão comprar os terrenos e construir os empreendimentos
segundo sua natureza, seguindo o projeto de planejamento do parque administrado
pela Sapiens S.A. O valor que se espera de investimento das empresas na compra
de terrenos e construção de seus edifícios deve alcançar a cifra de 1,5 a 2
bilhões de reais, segundo os entrevistados.
A operacionalização do Sapiens Park será financiada em parte por meio de
recursos públicos estaduais, no que tange à manutenção dos elementos públicos
instalados no módulo Scientia e Experientia. Para a manutenção de suas
atividades e construção de edifícios em terrenos próprios para comercialização,
a Sapiens S.A. poderá utilizar as receitas de venda de terrenos ou edifícios,
ou de dividendos de participação em empreendimentos no parque.
Para o Sapiens Park, os investimentos públicos nos módulos centrais são
estrategicamente relevantes, em função de estarem relacionados à determinação
da atratividade das empresas para o financiamento da implantação dos outros
quatro módulos do parque. Esta vinculação da atratividade do parque ao
financiamento público gera alguns questionamentos sobre a viabilidade do
empreendimento em função do risco político envolvido.
5.1.4. Biocant Park
Seu planejamento foi realizado com recursos da Câmara de Catanhede e do Centro
de Neurociências da Universidade de Coimbra. Para sua implantação, os fundos
comunitários europeus foram fundamentais, pois permitiram o financiamento de
73% de todo o investimento realizado em infraestrutura de urbanização, no
edifício sede e no Centro de Inovação em Biotecnologia, que deverá gerar a
maior parte das receitas (serviços tecnológicos, projetos com empresas e
participação em propriedade intelectual) para operacionalização do
empreendimento. Os 27% restantes para a implantação foram provenientes de
empréstimos bancários, obtidos em função da garantia que o Biocant tinha do
recebimento dos fundos comunitários. O que se verifica é que o financiamento de
planejamento e implantação do Biocant é proveniente, em sua maioria, de
recursos públicos, seja da Câmara de Catanhede, seja do Centro vinculado à
Universidade de Coimbra e dos fundos comunitários; mesmo o financiamento
privado obtido em instituições financeiras foi em consequência do investimento
público realizado.
Já a operacionalização será financiada, quase que em sua totalidade, pela
Associação Beira Atlântico Park, por meio das receitas obtidas via serviços de
gestão do condomínio, serviços de gestão e marketing, vendas ou cessão de uso
dos terrenos, arrendamento de salas e laboratórios, participação nas empresas e
em propriedade intelectual geradas por meio de projetos em parceria com o
Centro de Inovação em Biotecnologia e participações em projetos realizados em
conjunto com as empresas. Também está prevista a possibilidade de utilização de
fundos comunitários europeus no financiamento desta fase, mas numa menor
intensidade, visto que tais fundos sofreram uma redefinição estratégica de
investimento em projetos de pesquisa, abandonando a conotação de investimentos
em infraestrutura e sua exploração. Nesse empreendimento emerge a questão sobre
a existência de um retorno para a sociedade local do investimento público
realizado, em função de o parque possuir um componente imobiliário restrito,
com poucos terrenos destinados à implantação de empresas, ou seja, não se
propõe a reorientar radicalmente a instalação de empresas de alto valor
agregado na região, portanto não causará impacto relevante no setor industrial
tradicional, comércio e serviços da região.
5.1.5. Taguspark
O financiamento dos estudos de planejamento originou-se, em sua maior parte, de
órgãos públicos de naturezas distin- tas: entidades de apoio e fomento
vinculadas ao governo federal ' Junta Nacional de Investigação Cientifica e
Tecnológica (JNICT), Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao
Investimento (IAPMEI) e Investimento e Participação do Estado S.A. (IPE);
institutos de ensino e pesquisa ' Universidade Técnica de Lisboa (UTL),
Instituto de Engenharia e Sistemas e Computadores (Inesc) e Instituto Superior
Técnico (IST), os quais receberam recurso para investir no parque por repasse
do Ministério do Planejamento e Administração do Território de Portugal, por
meio do Programa Ciência; e por repasse aos municípios Oeiras, Cascais e
Sintra, executores de estudos do plano diretor da área, de recursos do poder
público federal do Ministério do Planejamento e Administração do Território de
Portugal. Os outros investidores foram a Companhia Portuguesa Rádio Marconi
S.A. (CPRM), o Banco Comercial Português S.A. (BCP) e a Fundação Luso-Americana
para o Desenvolvimento (FLAD).
Dos 70 milhões de euros investidos na implantação do Parque, 20 milhões de
euros (29%), para a compra dos terrenos e início da infraestrutura, foram
provenientes da integralização de capital pelos sócios na Taguspark S.A. '
entidades de apoio e fomento: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e
IAPMEI; universidades e centros de pesquisa: Instituto Superior Técnico,
Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Universidade Técnica de
Lisboa e Instituto de Soldadura e Qualidade; FLAD; municípios: Oeiras e
Cascais; instituições financeiras: Banco Português de Investimentos (BPI),
Caixa Geral de Depósitos (CGD), Banco Comercial Português S.A. (BCP) e
Sociedade Interbancária de Serviços; empresas: Por- tugal Telecom,
Electricidade de Portugal, Grupo Edifer; e As- sociação Industrial Portuguesa.
Na figura_2, página 302, em função de suas pequenas participações no total do
financiamento da implantação, a FLAD e a Associação Industrial Portuguesa são
de difícil visualização. Os fundos comunitários europeus financiaram os 25
milhões de euros (36%) necessários para o término das obras de infraestrutura,
construção do edifício núcleo do parque e de um dos edifícios do Centro de
Inovação Empresarial (CIE). Foram necessários 10 milhões de euros (14%) em
empréstimos bancários para construir os dois outros edifícios do CIE destinados
a empresas não incubadas; no total, as instituições bancárias representam 24%
das fontes de recursos para implantação dos elementos constituintes, 10% foram
recursos integralizados por instituições acionistas na Taguspark S.A. e os
restantes 14% por empréstimos bancários. O financiamento dos restantes 15
milhões de euros (21%), destinados ao término da construção dos edifícios do
CIE, foi proveniente das receitas de cessão de direito de uso de superfície de
terrenos aos sócios da organização gestora, negociados por 50% do valor
comercial futuro do terreno infraestruturado. Importa mencionar que houve uma
grande confiança dos sócios no empreendimento, pois adquiriram um terreno que
não estava infraestruturado, e em um local que ainda não se configurava como um
parque tecnológico. Tal confiança pode ter sido gerada pela forte inversão dos
fundos comunitários europeus, que reduziram o risco do empreendimento.
Embora o Taguspark ainda se encontre amortizando os empréstimos, já é
autossustentável. As receitas da organização gestora para sua operacionalização
são obtidas, basicamente, por meio de: cessão em regime de direito de
superfície de terrenos infraestruturados com opção de compra ao final de 20
anos; venda de edifícios construídos pela organização gestora do parque;
arrendamento de espaços para empresas incubadas e não incubadas. A forma de
constituição da sociedade, a formação das parcerias e a maneira como se deu a
operação imobiliária proporcionou ao empreendimento um modelo que lhe permite
realizar o financiamento de sua operacionalização de forma equilibrada.
5.1.6. Parque Tecnológico de Cartuja 93
A fase de planejamento foi financiada pelo Instituto de Fomento de Andalucia
(IFA), a qual fomentou um estudo que visava definir a destinação das
infraestruturas e edifícios remanescentes da Expo 92. A fase de implantação
desse empreendimento é singular, uma vez que não houve investimentos na compra
dos terrenos, realização de infraestrutura, ou construção dos edifícios para
locação ou venda às empresas; nessa fase, houve investimento do IFA e da
Empresa Pública de Solo da Andalucia (EPSA) de aproximadamente 600 mil euros,
na ampliação e adaptação do edifício Pabellon de Itália, para a criação do
Centro de Empresas de Tecnologia Avançada, cuja gestão é realizada pela Cartuja
93 S.A. A operacionalização do parque, em termos de conservação e manutenção
dos serviços públicos, é realizada pela Entidade de Conservação, cujo
financiamento tem origem nas próprias empresas. A organização gestora tem suas
atividades financiadas por convênios com a Junta de Andalucia, Diputacion
Provincial de Sevilla e Prefeitura de Sevilla, contrato de prestação de
serviços com a Sociedade Estatal de Gestão de Ativos (AGESA), vinculada ao
governo central, receitas da gestão do Centro de Empresas ' Pabellon de Itália
(categorizado na figura_1, página 295, como Organização Gestora) e vários
outros pro- jetos pontuais com o poder público, mas necessários para financiar
aproximadamente 30% de sua operacionalização ' o que demonstra uma grande
insegurança quanto ao financiamento das atividades da organização gestora pela
falta de definição clara do financiamento desse montante, um percentual muito
elevado.
5.1.7. Parque Tecnológico da Andalucia
O estudo de planejamento foi realizado com recursos da Junta de Andalucia e os
estudos urbanísticos pela Prefeitura de Málaga. No que tange à infraestrutura
básica, o financiamento ocorreu da seguinte maneira:
terrenos ' na primeira fase, 160 hectares de área foram
disponibilizados pela Prefeitura de Málaga, que era proprietária de
alguns e desapropriou outros. Para a expansão do parque, mais 90
hectares. O parque investiu recursos próprios;
galeria técnica ' investimentos da Junta de Andalucia, por
integralização de capital na organização gestora;
redes de água ' implantadas pela EMASA S.A. (Empresa Municipal de
Águas);
energia elétrica ' implantada pela Compañía Sevillana de
Electricidad, que está localizada no parque;
rede de telecomunicações ' rede de fibra ótica e cabeamento
telefônico disponibilizada pela Telefônica; rede wi-fi implantada com
recursos da organização gestora do parque;
heliporto ' financiado por integralização de capital na organização
gestora.
Os edifícios foram assim financiados:
edifício sede ' recursos da Junta de Andalucia, integralização de
capital;
nidos ' o Centro de Empresas e os Módulos Tecnológicos foram
financiados pelo governo regional, não por integralização de capital,
mas por investimento direto, não sendo, portanto, de propriedade da
organização gestora. Outros seis Nidos em operação e mais dois em
implantação foram financiados por empreendedores imobiliários;
contenedores ' foram financiados em parte pela organização gestora
do parque, com recursos obtidos com as vendas dos terrenos, e pela
Junta de Andalucia, por meio de integralização na organização gestora
do parque.
No que tange às infraestruturas tecnológicas, tem-se que:
as pré-incubadoras e a incubadora de empresas foram fi- nanciadas
pela Junta de Andalucia, por meio de investimen- to direto, não sendo
de propriedade da organização ges- tora;
o Centro de Ciência e Tecnologia foi financiado pela Junta de
Andalucia, por meio de integralização de capital e recursos do
próprio parque.
Ressalta-se que atualmente a organização gestora do parque somente é
proprietária dos terrenos ainda não comercializados, do edifício sede do parque
e do prédio do Centro de Ciência e Tecnologia.
As atividades da organização gestora são financiadas pela venda e cessão de
terrenos e salas de edifícios semiacabados e por projetos realizados pela
subdireção de transferência de tecnologia do parque.
5.1.8. Parque Científico de Barcelona
Todo o financiamento do projeto, nas fases de planejamento, implantação e
operacionalização é majoritariamente advindo da Universidade de Barcelona, em
função da própria natureza do empreendimento: um parque científico com
objetivos fortemente vinculados à transferência de conhecimento e tecnologia, e
valorização da imagem da universidade.
A fase de concepção e planejamento do empreendimento foi realizada por docentes
da universidade, a qual cedeu a propriedade da área e das construções que nela
estavam.
A Fundação Bosh i Gimpera ' que realiza as atividades referentes à
transferência de tecnologia na Universidade de Barcelona ' e a Caixa Catalunya
participaram na implantação do parque, sendo o investimento desta última
realizado mais em função do forte apoio do governo catalão do que propriamente
por enxergar no parque uma possibilidade de retorno. Para realizar sua
operação, o parque utiliza as receitas que gera por meio da prestação de
serviços e do aluguel de espaços e também recebe repasses de recursos da
Universidade de Barcelona.
5.1.9. Parques do País Basco
No Parque Tecnológico de Bizkaia e no Parque Tecnológico de Álava, pode-se
verificar uma mesma conformação na estrutura dos atores participantes do
investimento. A Sociedad para la Promoción e Reconversión Industrial S.A (SPRI)
financiou o planejamento dos dois empreendimentos e teve grande participação em
sua implantação, permanecendo ainda como investidora na operacionalização do
parque de Álava, em função de este ainda não ter atingido sua sustentabilidade
financeira. Participam também do financiamento da implantação nos dois
empreendimentos órgãos do governo provincial e das prefeituras.
Os parques financiam sua operacionalização por meio das receitas das vendas de
terrenos, aluguéis de salas, receitas do condomínio, prestação de serviços e
projetos em parceria com empresas. O Parque de Álava ainda não se tornou
autossustentável, uma vez que possui áreas para serem vendidas e locais para a
construção de edifícios para alugar, dependendo, portanto, de subvenções
governamentais realizadas por meio da SPRI. O parque de Bizkaia, mesmo se
considerando autossustentável, ainda é dependente da realização de projetos com
empresas e centros tecnológicos para obter subvenções governamentais.
Pode-se dizer que, na maior parte dos casos analisados, principalmente nos
europeus, na etapa de planejamento, os recursos que viabilizaram os projetos
foram de natureza pública, sejam eles provindos de universidades ou dos
governos federais, estaduais, provinciais (no caso da Espanha) e municipais,
direta ou indiretamente. Somente no Taguspark verificou-se, nessa fase,
investimento de empresas: do Banco Comercial Português e da Companhia
Portuguesa de Rádio Marconi. Tais investimentos, realizados na fase de maior
risco do empreendimento, parecem ter sido efetuados mais em função de uma
questão política do que propriamente de uma perspectiva de real de retorno com
o empreendimento.
Na fase de implantação, pode-se verificar que os fundos públicos foram os
grandes financiadores dos parques europeus, ou porque havia grande
disponibilidade de tais fundos ou mesmo pela opção estratégica da administração
pública em desenvolvê-los: nos Parque de Cartuja 93, Parque Tecnológico de
Andalucia, Parque Tecnológico de Bizkaia e Parque Tecnológico de Álava, em
100%; no Biocant, em 73%, mas importa mencionar que nesse caso o investimento
público permitiu que o empreendimento obtivesse os 27% complementares por meio
de empréstimos bancários; e no Taguspark, em menor escala, mas há que ressaltar
que a iniciativa privada, bancos e empresas investiram nessa fase em função,
principalmente, da oportunidade de obtenção de um terreno com desconto
significativo.
Nos parques brasileiros, verifica-se nessa fase uma grande participação de
universidades privadas, em função da natureza dos empreendimentos, quase como
extensões da própria universidade. Os recursos públicos aparecem em menor
volume nos parques brasileiros, com exceção do Sapiens, para o qual seus
administradores preveem um grande aporte público. O investimento privado
efetivamente realizado nesta fase, nos casos brasileiros, limitou-se à
experiência do Tecnopuc, onde o financiamento realizado pelas empresas permitiu
a construção de edifícios sem o aporte de recursos pela PUC-RS.
Nos parques onde as universidades têm uma atuação bastante relevante '
Tecnopuc, Polo de Informática de São Leopoldo e Parque Científico de Barcelona
', o investimento realizado por elas também se apresenta elevado, até em função
dos benefícios indiretos que o empreendimento gera em termos de imagem, atração
de alunos, bolsas etc. Somente em três parques é possível observar a ausência
do setor público no financiamento de sua operacionalização: no Tecnopuc, em que
a PUC-RS se responsabiliza pelo financiamento dessa fase, por motivos já
comentados; no Taguspark, que possui imóveis que lhe permitem o custeio da
organização gestora e a expansão do parque; e no Parque Tecnológico de Bizkaia,
mas ressalta-se que ele ainda depende de subvenções do governo espanhol em
projetos desenvolvidos com empresas. Nos outros empreendimentos, o
financiamento público varia de intensidade: de um convênio com o Sebrae-RS para
manutenção de parte das atividades da incubadora do Polo de Informática, da
possibilidade de candidaturas a fundos comunitários europeus pelo Biocant, a
uma dependência mais significativa, como no caso do Sapiens ' que dependerá
desse financiamento para a manutenção de âncoras públicas, estratégicas para o
desenvolvimento do empreendimento ', e do Parque Tecnológico de Álava, em que
recursos públicos são utilizados em sua operacionalização (pelo menos enquanto
o parque não atinge sua sustentabilidade), até um nível mais radical, em que
quase toda a operacionalização é financiada por recursos públicos, como no caso
de Cartuja 93. Ressalta-se que a necessidade de financiamentos públicos para
operacionalização dos parques pode constituir uma ameaça a longo prazo, pois há
sempre um risco de mudanças no cenário político que possam vir a abalar o
empreendimento.
Como visto, o financiamento público foi utilizado por todos os parques
estudados, seja num primeiro investimento para seu planejamento, seja para
gerar o movimento inercial de implantação do parque, ou mesmo participando no
financiamento de operacionalização do empreendimento. Dessa forma, ao se pensar
em conceber um empreendimento do porte de um parque tecnológico, dever-se-á
buscar a articulação com entidades públicas dispostas a investir nos estudos
necessários para conceber e detalhar o projeto, uma vez que dificilmente a
iniciativa privada estará disposta a investir nesse tipo de projeto em sua fase
de maior risco.
Ressalta-se que a iniciativa privada participou do financiamento dos
empreendimentos, basicamente, por meio da implantação dos próprios edifícios.
Somente no Taguspark é que empresas privadas investiram na organização gestora,
mas elas também parecem ter sido atraídas pelo benefício garantido por tal
participação no pagamento de valores menores pelo direito de propriedade de
superfície dos terrenos.
O que se percebe é que parques que tiveram aportes públicos na implantação de
infraestruturas, edifícios ou infraestruturas tecnológicas que ficaram sob a
propriedade da organização gestora, conseguiram financiar sua operacionalização
com baixa ou nenhuma, necessidade de aporte de recursos pelo poder público.
Esse fato torna-se relevante na medida em que o parque tecnológico, para manter
suas características, necessita de uma equipe dedicada que não deve depender
dos ânimos políticos para sua continuidade.
5.2. Participação na organização gestora do parque tecnológico
5.2.1. Detalhamento da composição das organizações gestoras dos parques
tecnológicos
As organizações gestoras dos parques apresentam tipos jurídicos e participantes
de naturezas variadas. Para possibilitar a análise, a porcentagem da
participação de cada entidade foi considerada da seguinte maneira:
organizações que não possuem pessoa jurídica própria ' considerada
sua vinculação do empreendimento à entidade principal ou, se
administrado por um conselho, por meio da relação entre o número de
entidades agrupadas por natureza em cada categoria e o total de
entidades participantes do con- selho;
organização configurada juridicamente como associação ou fundação '
por meio da relação entre o número de sócios agrupados em cada
categoria e o total de associados;
organizações configuradas juridicamente como sociedades privadas '
foi considerada a participação percentual no capital social da
organização gestora de cada uma das entidades participantes,
totalizada por categorias;
organização configurada juridicamente como sociedade pública ' foi
considerada a participação percentual no capital social da
organização gestora de cada uma das entidades participantes,
totalizada por categorias.
No quadro_2, apresenta-se a constituição dessas organizações.
A seguir, na figura_2, página 302, apresenta-se a participação das diversas
categorias de entidades na organização gestora dos parques tecnológicos, as
quais foram agrupadas de acordo com a natureza de cada entidade participante,
nos casos possíveis, a fim de facilitar a análise.
As universidades e os institutos de pesquisa aparecem como participantes em
cinco dos seis empreendimentos estudados e, mesmo aquelas que não participam na
organização gestora, possuem unidades implantadas no parque ou previstas no
projeto de sua implantação. Ressalta-se que em todos os casos foi mencionada a
importância de a universidade, por uma questão estratégica, participar do
empreendimento desde a fase de planejamento, a fim de caracterizá-lo como
parque tecnológico. No caso do Tecnopuc, a PUC-RS tem 100% de participação na
organização gestora em função de ela estar subordinada a um departamento da
universidade; no Biocant, em função de a organização gestora ser configurada
como uma associação, o grupo de entidades de ensino e pesquisa, composto por
cinco instituições, atinge 29% de representatividade; no Taguspark, tais
entidades possuem 26% do capital social, e detêm o poder de representatividade
nas decisões não menor do que 25%, mesmo com o aumento de capital dos outros
sócios; no Polo de Informática de São Leopoldo, a Unisinos alcança a
representatividade de 6,25%; e no Parque Científico de Barcelona, a
Universidade de Barcelona é um dos três membros fundadores, alcançando a
representatividade de 33,33%.
O conselho de gestão do Polo de Informática de São Leopoldo possui a maior
representatividade de empresas e entidades que congregam empresas em sua
composição, proporcionando-lhes maior potencial de influência no direcionamento
estratégico do empreendimento como um todo. Um ponto importante é que, nesse
caso, a organização gestora não possui entidade jurídica própria nem pessoal
dedicado exclusivamente à gestão do polo, não havendo, portanto, custos de
manutenção dessa organização. O Biocant não possui a representatividade direta
de empresas, mas de associações dessas, além disso as instituições financeiras
participantes da organização gestora são controladas pelo poder público. O
Taguspark foi o único parque estudado onde as empresas privadas participam da
organização gestora em função do capital que investiram; ressalta-se que tal
investimento parece ter sido realizado mais em função da oportunidade
imobiliária que se apresentava, pelo desconto na compra do terreno, do que pela
intenção de retorno dos recursos investidos.
Tal evidência levanta um questionamento sobre a intenção das empresas em
participar, sem receber benefícios em operações imobiliárias, de organizações
gestoras de parques tecnológicos, institucionalizadas como entidades
independentes e que necessitam de financiamento para a manutenção de sua
operacionalização, visto que os serviços que ela presta nem sempre são
percebidos pelas empresas como remuneráveis. São exemplos a geração de
sinergias entre as empresas e a academia, o apoio na busca por parceiros de
negócios e na confecção de projetos, em virtude de eles gerarem externalidades
nem sempre apropriáveis a uma ou a outra empresa.
Outra natureza de entidade, que pode ser observada em sete dos dez parques
estudados, é o poder público municipal, o que corrobora a ideia de que o
parque, como impactante no desenvolvimento local da região onde se instala,
deve ser articulado e promovido com a participação dos governos locais. Apesar
de não ter a participação do município em sua composição acionária, a Sapiens
S.A. tem grande participação da Codesc, empresa vinculada ao poder público
estadual, o que valida a ideia inicial.
5.3. Parcerias entre o poder público e a iniciativa privada
Em todos os casos estudados, a parceria entre entidades públicas e a iniciativa
privada esteve presente, não só nas discussões sobre o empreendimento e o seu
direcionamento estratégico, mas também no financiamento dos empreendimentos
estudados, não necessariamente na participação da organização gestora, como
visto no item anterior, mas no aporte de recursos não reembolsáveis nas várias
fases de seu desenvolvimento, conforme apresentado no quadro_3.
De modo geral, a parceria entre entidades públicas e pri- vadas serviu como um
fator catalisador à implantação do empreendimento, o que permitiu a aproximação
da iniciativa privada em momento posterior. Portanto, pode-se dizer que sem a
realização de parcerias entre entidades públicas e privadas provavelmente
nenhum desses parques teria sido desenvolvido.
5.4. Atratividade aos investimentos das iniciativas pública e privada
Em relação à atração de investimentos públicos, nos casos estudados ela
demonstra depender dos seguintes fatores: construção de um projeto bem
estruturado para o parque; convencimento das entidades públicas locais sobre o
impacto positivo da implantação do empreendimento, em seu potencial de
desenvolvimento econômico e tecnológico regional; construção de parcerias
fortes com os diversos níveis de governo; e, obviamente, disponibilidade de
tais fundos.
Em relação à atração de investimentos privados, os fatores atrativos
verificados nos casos estudados foram: oportunidade imobiliária ' boa
localização, terrenos doados ou a um valor reduzido; relacionamento e
envolvimento dos promotores do empreendimento com as empresas desde o início
(ou anteriormente) do projeto do parque; presença no parque de empresas
âncoras; existência de infraestruturas tecnológicas raras na região ou mesmo no
país; presença de universidades e institu- tos de pesquisa; investimento
público, o que diminui o risco no desenvolvimento do parque; e benefícios
fiscais e outros tipos de subvenção.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todos os parques analisados, ficou claro o envolvimento entre entidades
públicas e privadas, sendo os investimentos públicos utilizados,
principalmente, nas fases de planejamento e no início da implantação das
infraestruturas básicas, edifícios institucionais, edifícios de negócios e
infraestruturas tecnológicas, e funcionando como um mitigador de riscos na
perspectiva imobiliária dos empreendimentos, por meio da promoção do processo
inercial de instalação de organizações no parque.
Nos parques brasileiros, as entidades públicas, ou vinculadas ao poder público,
financiaram principalmente estudos da fase de planejamento e a parte de
implantação de infraestruturas básicas. Em Portugal e na Espanha, encontra-se
maior participação de recursos públicos, pela disponibilidade dos fundos
comunitários europeus, que financiaram a implantação dos empreendimentos '
dotando a organização gestora de infraestruturas e edifícios que possibilitaram
a obtenção de receitas para a operacionalização de suas atividades por meio da
venda de terrenos, aluguel de espaços e receitas proporcionadas pelas
infraestruturas tecnológicas, como serviços tecnológicos e projetos em
cooperação com empresas. As experiências estudadas sugerem que, sem o
investimento público, tais empreendimentos brasileiros e europeus não seriam
implementados.
Percebeu-se que, de maneira geral, a fase de operacionalização, que requer
financiamento para manutenção da organização gestora ' que presta serviços
ligados à interação entre as empresas, institutos de ensino e/ou pesquisa e o
mercado, e à promoção da transferência de tecnologia, os quais geralmente não
são apropriáveis por uma empresa específica ', não apresenta apelo para
investimentos da iniciativa privada e geralmente demanda aportes públicos.
Nesse caso, a dependência de fundos públicos pode levar, em função do risco
político, à descontinuidade de suas atividades. Visando minimizar tal incerteza
de continuidade, o financiamento da organização gestora poderia ocorrer por
meio de:
participação na operação imobiliária, diretamente, como
proprietária das áreas; ou indiretamente, por meio do recebimento de
valores contratados entre a gestora e o proprietário dos terrenos, em
função da valorização imobiliária que o serviço realizado pela
organização gestora vai gerar;
prestação de serviços tecnológicos e realização de cooperação com
empresas no desenvolvimento de projetos, por meios próprios ou em
parceria;
prestação de serviços de consultoria em gestão, finanças, marketing
e em outros pontos identificados como lacunas nas competências das
empresas residentes no parque.
Quando se trata do financiamento dos parques, as diferenças encontradas nos
casos estudados podem ser atribuídas, principalmente, a cinco fatores, cuja
ordem de apresentação não significa hierarquia entre eles, quais sejam:
Participantes da organização gestora ' definem as estratégias,
formas de retorno do investimento e objetivos do empreendimento que,
por sua vez, vão determinar as infraestruturas, elementos
constitutivos e serviços a serem disponibilizados às empresas do
parque. Por exemplo: a participação das universidades mantenedoras no
Tecnopuc, no Polo de Informática de São Leopoldo e no Parque
Tecnológico de Barcelona.
Modelo jurídico da organização gestora ' promove, ou não, maior
possibilidade de participação de empresas privadas como sócias nas
organizações gestoras, o que define também, além de um direcionamento
da gestão do parque com características mais empresariais, os
investimentos iniciais na formação de seu capital social, como no
caso do Taguspark.
Definição dos elementos constitutivos de propriedade da organização
gestora (participação da organização gestora na operação imobiliária)
'as infraestruturas básicas e edifícios de negócio, se de propriedade
da organização gestora, podem ser utilizados para financiar a
operacionalização do parque, por meio de receitas de arrendamentos e
também pela venda de terrenos, que pode proporcionar a expansão do
empreendimento, como acontece nos casos de Taguspark, Parque
Tecnológico da Andalucia, Parque Tecnológico de Bizkaia e de Parque
Tecnológico de Álava. Ainda, a propriedade de uma infraestrutura
tecnológica, como um centro de pesquisa, pode gerar receitas pela
prestação de serviços, projetos desenvolvidos em conjunto com
empresas e participação em propriedade intelectual, como no caso do
Biocant. Além disso, não possuir imóveis, como no caso de Cartuja 93,
pode levar a organização gestora do parque à dependência de fundos
públicos.
Atração de infraestruturas tecnológicas e empresas âncoras '
infraestruturas tecnológicas, públicas ou privadas, que não são de
propriedade da organização gestora, mas que prestam serviços
tecnológicos valorizados, ou que as empresas tenham a obrigatoriedade
de realizar, podem atrair demanda de localização das empresas para o
parque, o que pode levar não só ao desenvolvimento da área de
empresas de base tecnológica, mas também a todo um conjunto de
serviços complementares que o parque disponibiliza às pessoas que por
ele circulam, como no caso do Sapiens, que busca, a partir de seus
módulos centrais, que também abrigarão infraestruturas tecnológicas,
atrair empresas a outros setores do parque. Além disso, a instalação
de empresas âncoras no parque, de renome internacional, podem, além
de proporcionar credibilidade ao empreendimento, estimular a criação
de pequenas empresas que participem de sua cadeia de suprimento.
Disponibilidade de fundos públicos de fomento ao desenvolvimento
tecnológico e econômico ' em Portugal e Espanha, onde havia volume
alto de fundos da União Europeia ou fundos dos governos regionais,
verifica-se maior utilização de tais fundos, seja no planejamento,
seja na implantação dos empreendimentos Biocant e Taguspark, Cartuja
93, Parque Tecnológico da Andalucia, Parque Tecnológico de Bizkaia e
Parque Tecnológico de Álava.
Destaca-se que foi grande a dificuldade para obter dados financeiros mais
específicos, na expressiva maioria dos casos, por decisão da organização
gestora, nem valores aproximados foi possível obter, por serem informações
estratégicas de ca- ráter sigiloso, ou mesmo pelo desconhecimento da gestora
so- bre a existência sistematizada dos dados: os documentos que proporcionariam
tais dados e que seriam importantes para um melhor detalhamento dos modelos de
financiamento. Assim, as informações para a construção dos casos foram
basicamente obtidas por meio das entrevistas, materiais institucionais e
artigos científicos relacionados aos parques estudados, o que não forneceu
subsídios para a apresentação específica da engenharia financeira dos parques.
Esse cenário de falta de estudos voltados às questões financeiras dos parques
tecnológicos levanta questões muito relevantes que deverão ser alvo de
pesquisas futuras: Como empreendimentos que envolvem valores financeiros tão
elevados são concebidos com um planejamento financeiro tão frágil? Será que
essa limitação em relação às questões financeiras não estaria por trás de
alguns resultados menos expressivos em termos do sucesso dos projetos? Ou até
mesmo não seria um dos muitos motivos que tornam o empreendimento menos
atrativo para investidores privados dele participarem? Em razão da importância
dessas questões para o planejamento de futuros empreendimentos de parques
tecnológicos, espera-se em breve desenvolver estudos complementares cujo
direcionamento seja especifico ao planejamento financeiro e modelo de negócios
de parques tecnológicos.