Desempenho organizacional e suas relações com competências gerenciais, suporte
organizacional e treinamento
1. INTRODUÇÃO
Com a emergência e a difusão, nos últimos anos, da gestão por competências
(CARBONE et al., 2009), a competência e o desempenho passaram a constituir
temas sobre os quais parece haver crescente interesse de pesquisadores e
organizações (GONCZI, 1999). Apesar dos esforços realizados, sobretudo no campo
teórico, para explicar as relações entre esses construtos e a influência do
contexto sobre eles, muitas questões permanecem sem resposta. Há suposições e
construções teóricas que ainda carecem de sustentação empírica (BRANDÃO, 2008).
Apesar do pressuposto de que as competências dos indivíduos no trabalho
condicionam o desempenho da organização, muitas vezes essa relação não é
devidamente articulada em modelos teóricos nem evidenciada em estudos empíricos
(DENISI, 2000). As competências são desenvolvidas por processos de aprendizagem
(GONCZI, 1999) e gerenciadas na expectativa de que influenciem os resultados de
equipes e organizações (CARBONE et al., 2009), mas há relativamente pouca
orientação sobre como examinar tais relações (DENISI, 2000) e carência de
investigações empíricas dedicadas a testá-las.
Na presente pesquisa, teve-se o objetivo de verificar empiricamente a
existência de relações preditivas entre as competências expressas por gerentes
de agências bancárias, a percepção deles sobre o suporte oferecido pela
organização, o número de horas dedicadas por eles a atividades de treinamento e
o desempenho das agências em que atuam. Buscou-se identificar valores
preditivos das competências dos gestores sobre o desempenho das unidades que
gerenciam, bem como verificar se tais competências mediavam as relações entre,
de um lado, o número de horas de treinamento e a percepção dos gerentes sobre o
suporte organizacional e, de outro lado, o desempenho das agências.
O artigo está estruturado em quatro partes, além desta introdução. Na primeira,
expõe-se o referencial teórico que fundamentou a elaboração do modelo de
investigação. Na segunda, discorre-se sobre as características da empresa
estudada e os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa. Na terceira
parte descrevem-se os resultados das análises, enquanto na última são
discutidos tais resultados e apresentadas conclusões e sugestões para futuros
estudos.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Competências no trabalho
Embora a competência
(1)
constitua um conceito complexo e multifacetado (RUAS, 2005), é
tradicionalmente definida como a ação ou atuação do indivíduo em determinado
contexto profissional (GILBERT, 1978; GONCZI, 1999). É derivada de atributos
pessoais, em geral classificados como conhecimentos, habilidades e atitudes
(DURAND, 2000; DUTRA, 2004), que representam as dimensões cognitiva,
psicomotora e afetiva do trabalho. Tais atributos são, por sua vez,
evidenciados pela forma como o indivíduo se comporta no trabalho (CARBONE et
al., 2009).
A competência é revelada quando a pessoa age ante as situações profissionais
com as quais se depara. Agrega valor, seja econômico, seja social, tanto à
pessoa quanto à organização (ZARIFIAN, 1999), posto que contribui para o
alcance de objetivos organizacionais e expressa o reconhecimento social sobre a
capacidade de indivíduos e organizações (BRANDÃO e GUIMARÃES, 2001).
As competências geralmente são descritas em termos de padrões comportamentais,
que representam expectativas da organização em relação ao desempenho de seus
empregados (GONCZI, 1999). Comportamentos requeridos dos que exercem funções de
direção são comumente chamados competências gerenciais (COCKERILL, 1994).
Estudos sobre essa categoria de competências têm despertado interesse de
organizações e pesquisadores (SPENCER e SPENCER, 1993), talvez em razão do
pressuposto de que as competências do gestor exercem influência sobre o
desempenho de seus subordinados e sobre os resultados organizacionais
(FERNANDES, FLEURY e MILLS, 2006).
Alguns autores têm se dedicado à identificação de competências gerenciais
relevantes a determinados contextos, profissões e organizações (BOAK e
COOLICAN, 2001; WALKER e WEBSTER, 2006; entre outros). Brandão et al. (2010),
por exemplo, desenvolveram uma escala de medida de competências gerenciais
composta por seis dimensões: gestão estratégica, gestão financeira,
relacionamento com o cliente, gestão de pessoas, gestão de processos e gestão
socioambiental. Cockerill (1994), por sua vez, em pesquisa realizada em um
banco britânico, identificou e testou a validade de 11 competências gerenciais,
como flexibilidade conceitual, gestão de equipes, apresentação de ideias e
orientação para realizações, entre outras.
2.1.1. Aprendizagem e desenvolvimento de competências
O desenvolvimento de competências ocorre por meio da aprendizagem (SONNENTAG,
NIESSEN e OHLY, 2004), envolvendo a aquisição de conhecimentos, habilidades e
atitudes (DURAND, 2000; ILLERIS, 2004). A aprendizagem pode ser definida como
uma mudança relativamente duradoura na capacidade ou no comportamento da
pessoa, transferível para novas situações com as quais ela se depara (POZO,
2002). Constitui o processo pelo qual se desenvolve a competência (LE BOTERF,
1999), enquanto a expressão de competências representa uma manifestação daquilo
que a pessoa aprendeu (FREITAS e BRANDÃO, 2006).
No contexto organizacional, o processo de aprendizagem tem como finalidade
promover mudanças nos domínios cognitivo, psicomotor e atitudinal (DURAND,
2000; SONNENTAG, NIESSEN e OHLY, 2004), podendo ocorrer tanto para responder a
necessidades correntes do trabalho como para desenvolver competências
relevantes para atividades futuras (FREITAS e BRANDÃO, 2006).
Como o desenvolvimento de competências ocorre por meio da aprendizagem, criar
novas formas de prover oportunidades de aprendizagem constitui um desafio para
as organizações, sobretudo porque a complexidade do ambiente faz surgir
diversificadas demandas de competências, aumentando a distância entre o que as
pessoas sabem e o que elas precisam aprender (POZO, 2002). Em decorrência, as
organizações estão premidas a disponibilizar a seus empregados oportunidades
formais de aprendizagem, que são genericamente denominadas treinamento ou ações
de treinamento, desenvolvimento e educação (TD&E) (Borges-Andrade, Abbad e
Mourão, 2006).
Em geral, o treinamentopode ser entendido como um esforço deliberado e
planejado da organização para promover a aquisição de conhecimentos,
habilidades e atitudes relevantes para o trabalho (WEXLEY, 1984), ou seja, o
desenvolvimento de competências que o empregado necessita para o exercício de
suas funções (SONNENTAG, NIESSEN e OHLY, 2004). Já a educação, no contexto do
trabalho, diz respeito às oportunidades oferecidas pela empresa para que o
empregado tenha seu potencial ampliado, por meio da aprendizagem de
conhecimentos, habilidades e atitudes que o capacitem a exercer novos papéis
ocupacionais (ABBAD e BORGES-ANDRADE, 2004). Destina-se a preparar o indivíduo
para o desempenho de um trabalho determinado, distinto daquele que é exercido
atualmente (NADLER, 1984). O desenvolvimento, por sua vez, possui caráter mais
abrangente. Refere-se à ação de aprendizagem que proporciona o crescimento
pessoal do empregado, sem relação direta com um trabalho específico (ABBAD e
BORGES-ANDRADE, 2004).
Diversos estudos dedicaram-se a avaliar as contribuições de ações de TD&E
para o desenvolvimento de competências (BRANDÃO, 2008). É o caso de Felix
(2005) que, em uma amostra de 470 gestores públicos, procurou verificar se
havia diferenças no domínio de competências gerenciais em razão da quantidade
de cursos ou de horas-aula frequentados pelos gestores. Os resultados desse
estudo indicaram que os gestores que tinham realizado menos de 50 horas de
treinamento dominavam menos as competências gerenciais requeridas em seu
trabalho, comparativamente àqueles que tinham realizado mais de 50 horas de
treinamento. Existem ainda estudos que buscaram verificar a existência de
relações entre as competências desenvolvidas pelas pessoas e o desempenho da
empresa em que atuam, o que é discutido adiante.
2.2. Desempenho organizacional
O desempenho constitui conceito associado à consecução de resultados (SONNENTAG
e FRESE, 2002). Expressa a ideia de ação para alcance de objetivos, passível de
julgamento em termos de adequação, eficiência e eficácia (ABBAD, 1999). O
desempenho de uma organização (ou de suas unidades) refere-se aos resultados
por ela alcançados em certo período (FERNANDES, FLEURY e MILLS, 2006), o que
pode ser avaliado por meio de parâmetros quantificáveis denominados
indicadores.
Um indicador constitui uma variável mensurável, que tem como função indicar,
utilizando escalas referenciais específicas, um estágio de desenvolvimento
desejável para a organização ou parte dela (GUIMARÃES, 1998). Ao indicador é
associado o conceito de meta, que designa um padrão ou referência a ser
alcançada. Assim, um indicador definido como, por exemplo, a satisfação do
cliente poderia ter como padrão ou meta a ser alcançada, hipoteticamente,
"elevar de 57% para 65% o percentual de clientes muito satisfeitos"
(CARBONE et al., 2009, p.52). O desempenho organizacional é mensurado
comparando-se os resultados obtidos pela organização com as metas previamente
estipuladas para cada indicador (BRANDÃO e GUIMARÃES, 2001).
Diversos critérios de desempenho podem ser utilizados para a definição de
indicadores e metas, tendo em vista os múltiplos efeitos que a atuação de uma
organização pode gerar nos ambientes interno e externo. Lucratividade,
produtividade, qualidade e satisfação do cliente são critérios comumente
utilizados (CARBONE et al., 2009).
Buscando aprimorar os mecanismos de gestão do desempenho, alguns autores têm
proposto a utilização de instrumentos que procuram equilibrar a definição de
indicadores e metas em diferentes perspectivas ou dimensões. É o caso do
denominado Balanced Scorecard(BSC), sistema que propõe traduzir a estratégia
organizacional em objetivos, ações e medidas, organizados segundo quatro
perspectivas de desempenho (KAPLAN e NORTON, 1997):
financeira ' indica os resultados econômico-financeiros,
normalmente expressos por medidas de lucratividade, rentabilidade e
retorno sobre o patrimônio;
clientes ' direciona os esforços da organização para a conquista e
a manutenção de segmentos de clientes, a partir de indicadores como
satisfação do cliente, índice de reclamações, participação no
mercado, imagem e reputação da organização;
processos internos ' orienta o aperfeiçoamento de processos
críticos para o sucesso da organização, a partir de indicadores como
produtividade, qualidade de produtos e serviços, garantia (índices de
consertos e devolução de produtos) e outros;
aprendizado e crescimento ' age sobre fatores que a empresa deve
considerar para gerar crescimento e melhoria no longo prazo,
utilizando indicadores como clima organizacional, competências dos
funcionários e retenção de funcionários qualificados, entre outros.
Como a estratégia organizacional representa um conjunto de hipóteses sobre
relações de causa e efeito, o BSC assume o pressuposto de que os objetivos e
respectivos indicadores em cada perspectiva de desempenho exercem influência
uns sobre os outros, de tal forma que a consecução de metas na perspectiva
aprendizagem e crescimento, por exemplo, teria efeito positivo sobre os
resultados associados a processos internos, e assim por diante (KAPLAN e
NORTON, 1997).
Embora amplamente utilizado no Brasil e no exterior, inclusive pela empresa
objeto do presente estudo (BRANDÃO et al., 2008), o BSC possui algumas
limitações. Entre as críticas mais comuns está a de que essa metodologia não
pondera o horizonte temporal de cada indicador, desconsiderando o fato de que
os resultados em cada perspectiva de desempenho e os efeitos de um indicador
sobre outros podem ocorrer em diferentes intervalos de tempo, limitação que
poderia induzir a organização a interpretações e decisões equivocadas. Outra
crítica diz respeito à assunção de linearidade das relações causais indicadas
no mapa estratégico, negligenciando a possibilidade de o efeito de um indicador
sobre outros ocorrer de forma descontínua, eventual e ser moderado por diversas
outras variáveis presentes no ambiente organizacional (DENISI, 2000; COSTA,
2004).
A influência de competências sobre o desempenho organizacional nem sempre é
evidenciada em pesquisas empíricas, visto que resultados sobre essa relação
ainda não são consistentes. Estudo feito por Levenson,Van Der Stede e Cohen
(2006), em uma empresa norte-americana do setor industrial, por exemplo,
identificou pequena relação positiva (R2 ajustado = 0,05) entre as competências
dos gestores e o desempenho de suas unidades produtivas, mas outras
investigações não evidenciaram tal relação. É o caso da pesquisa realizada por
Fernandes, Fleury e Mills (2006) em uma empresa de saneamento, cujos resultados
não revelaram a existência de relações significativas entre competências dos
empregados e indicadores de desempenho das unidades de negócio em que atuavam.
Talvez essa relação nem sempre seja revelada em pesquisas empíricas porque o
desempenho da organização é influenciado não só por atributos de seus
empregados (como suas competências, por exemplo), mas também por diversos
outros fatores, entre os quais o próprio contexto de trabalho dos empregados,
que pode facilitar ou restringir a expressão de competências e seus efeitos
sobre o desempenho (SONNENTAG e FRESE, 2002; ABBAD, FREITAS e PILATI, 2006),
conforme discutido a seguir.
2.2.1. Suporte organizacional
Características da organização e do ambiente de trabalho podem facilitar ou
restringir o desenvolvimento de competências e sua aplicação no trabalho, com
prováveis efeitos sobre os resultados organizacionais (DENISI, 2000; ABBAD,
FREITAS e PILATI, 2006). Estudos indicam que a percepção do empregado sobre o
suporte que a organização lhe oferece ' como apoio prestado pelos gestores,
incentivos e oportunidades de desenvolvimento ' pode predizer a expressão de
competências no trabalho (ABBAD-OC, PILATI e BORGES-ANDRADE, 1999; RHOADES e
EISENBERGER, 2002).
A percepção de suporte organizacional refere-se a opiniões dos empregados
acerca do quanto a empresa valoriza suas contribuições e cuida de seu bem-estar
(ABBAD-OC, PILATI e BORGES-ANDRADE, 1999). Diz respeito a percepções do
trabalhador sobre o tratamento que ele recebe da organização em retribuição ao
esforço despendido no trabalho (EISENBERGERet al., 1986).
De acordo com Abbad-OC, Pilati e Borges-Andrade (1999), essas percepções
originam-se de avaliações formuladas pelo empregado acerca da qualidade e da
sinceridade do tratamento que a organização dispensa a ele e a seus colegas de
trabalho. São geradas a partir das interações e relações de troca estabelecidas
entre o trabalhador e a organização, as quais são marcadas por expectativas de
reciprocidade (EISENBERGER et al., 1986; ABBAD-OC, PILATI e BORGES-ANDRADE,
1999). A organização, de um lado, deseja o bom desempenho do trabalhador,
enquanto este, de outro lado, espera ter seu esforço valorizado e recompensado
pela organização (ABBAD, 1999; ABBAD-OC, PILATI e BORGES-ANDRADE, 1999).
Ainda segundo Abbad-OC, Pilati e Borges-Andrade (1999), tais opiniões sobre o
apoio da organização podem ser classificadas em quatro dimensões do contexto de
trabalho:
práticas de gestão de desempenho ' dizem respeito às ações
organizacionais relacionadas a melhoria dos processos de trabalho,
capacitação profissional, estímulo à participação dos empregados e
disponibilidade de orientações, entre outras;
carga de trabalho ' envolve metas e prazos estipulados, jornada e
volume de trabalho;
suporte material ' refere-se a disponibilidade, quantidade e
qualidade de materiais, equipamentos, ferramentas, móveis e outros
elementos necessários ao trabalho;
práticas de promoção e recompensa ' envolvem políticas
organizacionais de incentivo, ascensão profissional, retribuição e
valorização do empregado.
São descritos a seguir a organização em que foi realizada a pesquisa e o método
adotado, cujo modelo de investigação se fundamentou no referencial teórico aqui
apresentado.
3. MÉTODO
3.1. Organização estudada
A presente pesquisa foi realizada no Banco do Brasil, sociedade de economia
mista estruturada sob a forma de conglomerado financeiro. Quando esta pesquisa
foi realizada, em 2008, a empresa possuía mais de R$ 500 bilhões de ativos,
cerca de 30 milhões de clientes correntistas, 4.052 agências no País, 42
unidades no exterior, 11.301 postos de atendimento, 39 mil terminais de
autoatendimento, 81.855 funcionários e 9.119 estagiários (BANCO DO BRASIL,
2008).
As agências do Banco respondem pelo atendimento ao cliente e pela distribuição
de produtos e serviços. Para otimizar a gestão de recursos, o Banco classifica
suas agências em cinco níveis, em razão do porte e do potencial do mercado, do
número de funcionários, operações e clientes, entre outras variáveis. Cada
agência é administrada por funcionário que exerce o cargo de gerente-geral.
Dependendo de seu nível, uma agência pode possuir outros cargos gerenciais
(gerentes de negócios e de contas). Essas unidades de negócios estão
subordinadas a superintendentes regionais.
Baseando-se nas premissas do BSC, o Banco administra o desempenho de suas
agências por meio da definição de objetivos, indicadores e metas, alinhados a
sua estratégia organizacional, em seis diferentes perspectivas: resultado
econômico, estratégia e operações, sociedade, clientes, processos internos, e
comportamento organizacional (BRANDÃO et al., 2008).
A perspectiva resultado econômico agrega indicadores e metas relativos à
geração de resultados econômico-financeiros, visando fortalecer a
rentabilidade, a estrutura patrimonial e o valor da empresa, enquanto a
estratégia e operações avalia o alinhamento das ações gerenciais a estratégias,
planos e acordos de trabalho do Banco, focalizando a criação de valor no longo
prazo. A perspectiva sociedade está relacionada à promoção do desenvolvimento
regional sustentável, à responsabilidade socioambiental e ao desenvolvimento
econômico e social do País, enquanto a clientes concentra medidas referentes ao
atendimento das expectativas dos clientes a partir de atributos valorizados em
cada segmento do mercado, visando ampliar a base de clientes e sua satisfação.
Já a perspectiva processos internos possui indicadores e metas afetos à
melhoria dos processos produtivos e de mecanismos de segurança e controle,
visando obter maior confiabilidade e excelência no trabalho. A comportamento
organizacional, por fim, avalia o grau de contribuição para o desenvolvimento
profissional das pessoas, a adequação da jornada de trabalho e a melhoria da
saúde ocupacional e da qualidade de vida, visando fortalecer a relação entre o
Banco e os seus funcionários (BANCO DO BRASIL, 2008; BRANDÃO et al., 2008).
O desempenho de cada agência é avaliado em razão do alcance de metas nas
referidas perspectivas de desempenho. Na perspectiva resultado econômico, por
exemplo, indicadores comumente utilizados são a rentabilidade de negócios da
agência e a adequação de despesas a limites orçamentários, enquanto na
perspectiva clientes as metas estão associadas ao aumento da base de clientes e
à melhoria de índices de satisfação da clientela, entre outros. Ao final de
cada semestre, os resultados são aferidos pelo Banco, gerando um placar de
desempenho para cada unidade, o qual pondera pontuações que podem variar de 100
a 600 em cada perspectiva. O resultado obtido pelas agências em seu placar de
desempenho tem influência sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR)
distribuídos a seus gerentes.
3.2. Objetivo da pesquisa, modelo teórico de investigação e instrumentos
O objetivo principal na pesquisa foi testar um modelo teórico que tem a
expressão de competências gerenciais como variável mediadora da relação entre,
de um lado, a percepção de gerentes de agências bancárias sobre o suporte
oferecido pela organização e o número de horas dedicadas por eles a atividades
de treinamento e, de outro lado, o desempenho das agências em que atuam. Pelo
teste desse modelo, procurou-se identificar variáveis preditoras do desempenho
de agências do Banco do Brasil. As variáveis estudadas e as relações (diretas e
mediadoras) hipotetizadas entre elas encontram-se descritas na figura_1.
As medidas utilizadas e seus pontos de referência temporais estão descritos a
seguir.
Desempenho da agência 'seis variáveis critério, que representam
medidas do placar de desempenho de agências do Banco, variando de 100
a 600 pontos, em seis diferentes perspectivas de desempenho '
resultado econômico, estratégia e operações, sociedade, clientes,
processos internos, e comportamento organizacional ', conforme modelo
descrito na seção anterior. Tais dados foram obtidos por fonte
secundária (sistema de avaliação de desempenho do Banco). Para esta
pesquisa, foram considerados os resultados apurados em setembro de
2008, relativos ao desempenho das agências no primeiro semestre de
2008.
Expressão de competências gerenciais no trabalho ' variável
mediadora, mensurada por meio de escala de competências gerenciais,
desenvolvida por Brandão et al. (2010). Possui 29 itens, descritos
sob a forma de comportamentos observáveis (MAGER, 1990; CARBONE et
al., 2009), contemplando seis dimensões de competências: gestão
financeira de negócios (4 itens,α= 0,82), gestão estratégica (5
itens,α= 0,84), gestão socioambiental (6 itens,α= 0,86),
relacionamento com o cliente (5 itens,α= 0,86), gestão de processos
(4 itens,α= 0,80), e gestão de pessoas (5 itens,α= 0,83), associadas
a uma escala de avaliação de dez pontos, variando de 1 (não expressa
a competência) a 10 (expressa plenamente a competência). Foram
obtidas medidas de autoavaliação e heteroavaliação dos gerentes,
sendo esta última estimada pelos superintendentes aos quais estavam
subordinados os gerentes. Tais dados foram coletados em março e abril
de 2008 e indicam o quanto o gerente da agência, segundo sua própria
percepção (autoavaliação) e a de seu superior hierárquico
(heteroavaliação), manifesta as competências gerenciais no trabalho.
Essas duas medidas (auto e heteroavaliação) foram tratadas
isoladamente no teste do modelo, posto que não havia correlação
substancial entre elas.
Tamanho da agência ' variável de controle, constituída por dado
objetivo apurado em fonte secundária (base de dados da organização).
Representa o número de funcionários da agência, conforme informação
constante no cadastro da empresa em janeiro de 2008.
Nível da agência ' variável de controle, obtida por fonte
secundária (base de dados da empresa em janeiro de 2008). Representa
o nível a que pertence a agência, variando de 1 a 5, em razão de seu
porte e complexidade administrativa, conforme já comentado.
Participação nos lucros e resultados ' variável de controle, obtida
por fonte secundária (base de dados da organização estudada),
indicando o percentual de bônus de participação nos lucros e
resultados a que o gerente da agência fez jus. Referido bônus é
concedido semestralmente aos gestores de agências, em percentual (de
0% a 100%) definido em razão do alcance de metas da unidade. Como se
supõe que essa variável constitua consequência do desempenho passado
dos gestores e antecedente de seu desempenho futuro, foi considerada,
para inclusão no modelo, a informação de concessão de bônus em
fevereiro de 2008 (em retribuição ao desempenho das agências no
segundo semestre de 2007). Em outras palavras, no modelo teórico da
pesquisa, essa variável foi controlada para isolar seu potencial
efeito sobre a posterior expressão de competências pelos gestores e
sobre o desempenho da agência no semestre seguinte.
Horas de TD&E ' variável explicativa que indica o número de
horas que os gestores das agências dedicaram a atividades de
treinamento, desenvolvimento e educação (TD&E). Constitui dado
objetivo, apurado por fonte secundária (base de dados da organização
estudada), tendo sido considerados os treinamentos realizados no ano
de 2007.
Percepção de suporte organizacional ' variável explicativa que
constitui medida da percepção dos funcionários sobre o tratamento que
recebem da empresa em retribuição ao seu esforço no trabalho
(EISENBERGER et al., 1986). Para esta pesquisa, a escala desenvolvida
por Abbad-OC, Pilati e Borges-Andrade (1999) foi aprimorada e
revalidada. A medida possui 28 itens distribuídos em quatro
dimensões: suporte material (6 itens,α= 0,91), prαticas de gestão de
desempenho (7 itens,α= 0,87), carga de trabalho (7 itens,α= 0,85), e
prαticas de promoção e recompensa (8 itens,α= 0,85), associados a uma
escala de concordância de dez pontos, variando de 1 (discordo
totalmente) a 10 (concordo totalmente).
3.3. Procedimentos de coleta dos dados e amostra
Por ocasião da coleta de dados, o Banco possuía 3.876 agências de varejo (BANCO
DO BRASIL, 2008), subordinadas a 94 superintendentes, cada um deles responsável
pela rede de atendimento em uma microrregião do País. Para compor a amostra,
foram selecionadas aleatoriamente 330 agências localizadas nas diversas
regiões. Esse número foi definido considerando-se a necessidade de obter
razoável representatividade da amostra e de limitar a quatro a quantidade de
agências subordinadas a cada superintendente, posto que número superior poderia
inibir a participação deles em razão da quantidade de instrumentos e itens a
serem respondidos.
Os dados primários foram coletados por meio de questionários estruturados,
cujas escalas de medida foram previamente submetidas a validações semântica e
estatística. Os questionários foram distribuídos e recolhidos pelo malote
interno do Banco, nos meses de março e abril de 2008, em envelope lacrado e
endereçado diretamente aos participantes, sem contato direto com o pesquisador.
O questionário de autoavaliação foi destinado aos gerentes das 330 agências
selecionadas. Responderam ao instrumento 196 gerentes, o que equivale a cerca
de 60% de taxa de retorno. Os participantes eram, em sua maioria, do sexo
masculino (90,2%), possuíam graduação ou pós-graduação (96,4%), e tinham em
média 12 anos de experiência no exercício de funções gerenciais.
O questionário de heteroavaliação foi destinado aos 94 superintendentes, para
que eles avaliassem as competências expressas pelos gerentes de agências sob
sua supervisão. Foram obtidas respostas de 79 superintendentes, o que equivale
a 84% dessa população. Os respondentes avaliaram as competências expressas por
229 gerentes de agências, de forma que cada superintendente preencheu em média
três questionários de heteroavaliação, um para cada gerente a ele subordinado.
Os dados foram coletados por meio de cooperação voluntária dos respondentes,
sem desvantagem alguma para eles, respeitando seu direito de privacidade e
garantindo que as informações prestadas não seriam utilizadas para outra
finalidade.
3.4. Procedimentos de análise dos dados
Utilizou-se a estatística descritiva para extrair a média aritmética e o desvio
padrão dos itens dos questionários, visando descrever a percepção dos gestores
acerca do suporte organizacional oferecido pela empresa e a intensidade com que
expressam competências no trabalho. Para testar as relações hipotetizadas,
foram utilizadas análises de regressão padrão (ordinary least squares). Para
verificar a adequação dos dados à análise de regressão e ao teste de efeitos
mediadores, foram feitas inicialmente análises exploratórias e a verificação de
pressupostos para adoção dessa técnica.
Como o modelo de investigação possui seis variáveis critério (as perspectivas
de desempenho das agências do Banco), foram conduzidas seis análises de
regressão distintas, uma para cada perspectiva de desempenho. Em cada análise,
as variáveis foram introduzidas em três passos. No primeiro, foram inseridas as
variáveis de controle (participação nos lucros e resultados, tamanho e nível da
agência). No segundo, foram incluídas as variáveis explicativas (horas de
TD&E e fatores da percepção de suporte organizacional). Depois, no terceiro
passo, foram introduzidos os fatores da heteroavaliação de competências
gerenciais. Por fim, essa mesma sequência de passos foi repetida, utilizando-
se, no terceiro passo, os fatores da autoavaliação de competências gerenciais,
em substituição à heteroavaliação. Essas duas medidas (auto e heteroavaliação
de competências) foram tratadas isoladamente nos testes dos modelos, posto que
não havia correlação substancial entre elas. Para realizar as análises
estatísticas, foi utilizado o aplicativo SPSS, em sua versão 13.0.
Na análise exploratória dos dados, foram identificados dois casos na
autoavaliação de competências e três na heteroavaliação que possuíam mais de
10% de respostas ausentes ou que assinalaram a mesma resposta para todos os
itens (respostas invariadas), razão pela qual foram excluídos das análises
posteriores. Verificou-se também que dois superintendentes estavam há menos de
três meses em suas regionais. Foram excluídas as quatro heteroavaliações que
eles tinham feito, visto que se consideraram quatro meses no cargo como prazo
mínimo para que o superintendente pudesse produzir estimativas confiáveis sobre
as competências de seus subordinados.
Utilizando a distância de Mahalanobis (PASQUALI, 2006), foram identificados
oito casos extremos multivariados na autoavaliação de competências e dez na
heteroavaliação. Em análises posteriores, verificou-se que tais respondentes
produziam resíduos elevados e prejudicavam o ajuste dos modelos, razão pela
qual também foram excluídos das análises, como sugerem Abbad, Neiva e Tróccoli
(2007). Com essas exclusões, as amostras foram reduzidas para 186 sujeitos, no
banco de dados que continha a autoavaliação de competências, e para 212, no
banco que tinha a heteroavaliação.
Quanto ao atendimento de requisitos para teste dos modelos, verificou-se que as
duas amostras tinham o tamanho mínimo sugerido por Tabachnick e Fidell (1989)
para uso da regressão múltipla: pelo menos 50 sujeitos acrescidos de mais oito
respondentes para cada variável preditora.
No que se refere à normalidade das distribuições, verificou-se que a maioria
das variáveis possuía pequenos desvios de normalidade (assimetria e curtose
inferiores a um), os quais, segundo Miles e Shevlin (2001), causam pouco ou
nenhum efeito sobre a precisão dos parâmetros estimados. Duas variáveis
critério, no entanto, apresentavam índices de assimetria e curtose mais
substanciais, o que poderia afetar os parâmetros, prejudicando a estabilidade
dos resultados. Verificou-se que a severidade desses desvios era provocada pela
presença de dois casos extremos univariados (outliers) em cada uma dessas
variáveis. Como a exclusão desses casos não prejudicaria substancialmente o
tamanho das amostras
(2)
, optou-se por eliminá-los, o que reduziu a assimetria e a curtose dessas
variáveis para valores inferiores a um, permitindo seguir com as análises.
Tratando-se de modelo que investigava a existência de efeitos mediadores
exercidos pelas competências gerenciais, foi examinada também a necessidade de
haver relação significante entre as variáveis explicativas e mediadoras,
explicativas e critério, mediadoras e critério, o que constitui requisito para
caracterizar efeitos mediadores (VAN YPEREN, VAN DEN BERG e WILLERING, 1999;
ABBAD, NEIVA e TRÓCCOLI, 2007). A extração de correlações bivariadas entre tais
variáveis demonstrou que para nenhuma das seis variáveis critério esse
requisito tinha sido satisfeito, na maioria dos casos porque não havia relação
significante entre as variáveis hipotetizadas como explicativas e as variáveis
critério (perspectivas de desempenho das agências).
Em decorrência, ficou prejudicada a investigação de efeitos mediadores. Pôde-se
testar apenas a existência de efeitos diretos exercidos pelas variáveis que
revelaram relação significante com as perspectivas de desempenho das agências,
conforme indicado na figura_2.
Depois de testados os modelos de investigação, examinou-se ainda o atendimento
aos pressupostos de distribuição normal dos resíduos de regressão, linearidade,
homoscedasticidade e ausência de multicolinearidade, seguindo as orientações de
Pasquali (2006) e Abbad, Neiva e Tróccoli (2007). A multicolinearidade foi
examinada por meio das estatísticas VIF (fator de inflação da variância), que
se revelaram inferiores a 2,0 para todas as variáveis, e pelos valores de
tolerância (TOL), que se mostraram superiores a 0,5. Tais parâmetros, de acordo
com os critérios sugeridos por Hair Jr.et al. (2005), confirmaram a ausência de
multicolinearidade.
A verificação dos demais pressupostos foi feita por meio de dois gráficos: um
mostrando as probabilidades acumuladas dos resíduos padronizados e, outro, os
resíduos padronizados versus os valores preditos. O primeiro gráfico mostrou
que os resíduos padronizados, em cada modelo, se distribuíam quase linearmente
sobre uma reta que atravessava as coordenadas cartesianas num ângulo de 45
graus, sugerindo distribuição aproximada da normal (PASQUALI, 2006). O segundo
revelou a ausência de um padrão sistemático (em forma de U, reta ou espaçamento
ascendente) na plotagem dos resíduos de cada modelo, indicando que os
pressupostos de normalidade, linearidade e homoscedasticidade não foram
violados (PASQUALI, 2006; ABBAD, NEIVA e TRÓCCOLI, 2007).
Além de testados os seis modelos de investigação, um para cada perspectiva de
desempenho das agências, foram extraídos a média aritmética e o desvio padrão
das variáveis, visando identificar a intensidade com que se apresentavam na
amostra estudada, conforme exposto a seguir.
4. RESULTADOS
No que se refere aos resultados descritivos, pode-se verificar, na tabela_1,
que a maior média e o menor desvio padrão, tanto na auto quanto na
heteroavaliação, recaíram sobre as competências de relacionamento com cliente.
O fator competências de gestão socioambiental, por outro lado, obteve as
menores médias e maiores desvios padrão, o que sugere maior heterogeneidade
entre os participantes. É possível observar, também, que a avaliação realizada
pelos gerentes-gerais das agências (autoavaliação) parece ser mais leniente que
aquela feita por seus superiores hierárquicos (heteroavaliação), embora a
percepção dos dois grupos seja semelhante em termos de quais dimensões de
competências são mais e menos expressas pelos gestores em seu trabalho.
Na tabela_2, mostram-se as médias e os desvios padrão em cada dimensão da
percepção de suporte organizacional. As médias estão dispostas na mesma direção
do construto, ou seja, quanto maior a média, melhor a percepção dos gestores a
respeito do suporte. A percepção revelou-se razoavelmente positiva em relação a
três dimensões (suporte material, práticas de promoção e recompensa e práticas
de gestão do desempenho), embora haja certa heterogeneidade nas respostas. O
fator carga de trabalho, no entanto, apresentou média inferior a quatro,
sugerindo que parcela dos participantes percebe como inadequada sua carga de
trabalho. A média de horas de TD&E dos gerentes por agência, por sua vez,
revelou-se igual a 85,7, com desvio padrão de 41,5.
Quanto ao teste dos modelos, computou-se inicialmente o modelo apenas com as
variáveis de controle, utilizando o banco de dados que continha a
heteroavaliação de competências. Em relação à variável critério desempenho das
agências na perspectiva estratégia e operações, revelaram efeitos significantes
o nível da agência e a participação nos lucros e resultados, os quais, juntos,
explicam 11% (R2 ajustado) da variância do desempenho. Depois, foram inseridas
as variáveis horas de TD&E e os fatores da percepção de suporte
organizacional. Só o número de horas de TD&E apresentou efeito
significante, respondendo por pouco mais de 2% da variância. Em seguida, foram
introduzidos os fatores da heteroavaliação de competências. Revelaram efeitos
significantes as competências de gestão estratégica e gestão socioambiental, as
quais, juntas, explicam 4,7% da variância (R2 ajustado) do desempenho em
estratégia e operações.
Todas as variáveis apresentaram coeficientes de regressão positivos, à exceção
das competências de gestão socioambiental, que revelaram efeito negativo sobre
o desempenho na perspectiva em questão. Controlados os efeitos do nível da
agência e da participação nos lucros e resultados, as referidas variáveis
explicativas são responsáveis por aproximadamente 7% da variância explicada (R2
ajustado) pelo modelo, conforme mostra a tabela_3.
Esses mesmos três passos foram então repetidos em relação à variável critério
desempenho das agências na perspectiva resultado econômico. Quando inseridas as
variáveis de controle, apenas o nível da agência apresentou efeito
significante, explicando aproximadamente 21% (R2 ajustado) da variância do
desempenho. No segundo passo, apenas a percepção sobre as práticas de gestão de
desempenho da empresa, uma das dimensões do suporte organizacional, revelou
efeito significante, respondendo por cerca de 3% da variância explicada. Por
fim, quando introduzidos os fatores da heteroavaliação de competências
gerenciais, revelaram efeitos significantes as competências de gestão
financeira e de gestão socioambiental. Juntas, essas duas dimensões de
competências explicam aproximadamente 4% da variância (R2 ajustado) do
resultado econômico.
Todas as variáveis revelaram coeficientes de regressão positivos, exceto as
competências de gestão socioambiental, que apresentaram influência negativa
sobre o resultado econômico. Controlado o efeito do nível da agência, as
variáveis com efeitos significantes são responsáveis por cerca de 7% da
variância explicada (R2 ajustado) pelo modelo, conforme mostra a tabela_3.
No que se refere ao desempenho das agências nas demais perspectivas (sociedade,
clientes, processos internos e comportamento organizacional), nenhuma das
variáveis hipotetizadas como explicativas revelou efeito significante, quando
testados os modelos no banco de dados que continha a heteroavaliação de
competências.
Posteriormente, os mesmos três passos foram repetidos para todas as
perspectivas de desempenho das agências, desta vez utilizando o banco de dados
que continha a autoavaliação de competências. Em relação ao desempenho na
perspectiva estratégia e operações, revelaram efeitos positivos significantes
as variáveis horas de TD&E e competências de gestão financeira que, juntas,
respondem por pouco mais de 5% da variância explicada (R2 ajustado) pelo
modelo, depois de isolados os efeitos das variáveis de controle, conforme pode
ser visto na tabela_4.
No que diz respeito ao desempenho na perspectiva resultado econômico, revelaram
efeitos positivos significantes as variáveis práticas de gestão de desempenho e
competências de gestão financeira, que, depois de isolados os efeitos das
variáveis de controle, respondem por pouco mais de 4% da variância explicada
(R2 ajustado) pelo modelo.
Quanto à variável critério desempenho das agências na perspectiva clientes, as
horas de TD&E e os fatores da percepção de suporte organizacional não
apresentaram efeitos significantes (passo 2 do teste do modelo). Apenas as
competências de gestão de processos revelaram-se preditoras do desempenho da
agência nessa perspectiva. Controlado o efeito do nível da agência, essa
dimensão de competências explica pouco mais de 2% da variância explicada (R2
ajustado) pelo modelo, como consta na tabela_4.
Em relação à variável critério desempenho das agências na perspectiva
comportamento organizacional, nenhum fator da percepção de suporte
organizacional nem as horas de TD&E revelaram-se preditores do desempenho
(passo 2 do teste do modelo). Duas dimensões de competências gerenciais
revelaram efeitos significantes: competências de gestão estratégica e de gestão
financeira. Controlado o efeito do nível da agência, essas duas dimensões de
competências gerenciais explicam juntas aproximadamente 4% da variância
explicada (R2 ajustado) pelo modelo.
Finalmente, no que se refere ao desempenho das agências nas perspectivas
sociedade e processos internos, as seis dimensões de competências, os quatro
fatores da percepção de suporte organizacional e o número de horas de TD&E
não revelaram efeitos significantes.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Foram testados modelos que tinham as seis perspectivas de desempenho das
agências do Banco do Brasil como variáveis critério. Objetivou-se identificar
valores preditivos de variáveis explicativas (horas de TD&E, fatores da
percepção de suporte organizacional e expressão de competências gerenciais)
sobre o desempenho das agências nessas perspectivas.
Três variáveis (participação nos lucros e resultados, tamanho e nível da
agência) foram utilizadas como controle. Não foram identificados efeitos
significantes exercidos pelo tamanho da agência em nenhum dos modelos testados.
A participação nos lucros e resultados, por sua vez, revelou-se preditora do
desempenho das agências apenas na perspectiva estratégia e operações. O nível
da agência, por fim, revelou efeitos significantes sobre todas as perspectivas
de desempenho das agências. A influência exercida por essas variáveis foi,
então, isolada dos efeitos oriundos das variáveis explicativas, que constituíam
o objeto principal desta investigação.
Entre as variáveis explicativas, o número de horas de TD&E revelou efeito
significante somente sobre uma das perspectivas de desempenho: estratégia e
operações. Os coeficientes de regressão positivos indicam que, quanto maior o
número de horas dedicadas a atividades de TD&E, melhor o desempenho da
agência nessa perspectiva. Não foram identificados, no entanto, efeitos dessa
variável sobre as demais perspectivas de desempenho.
A quantidade de horas de TD&E constitui indicador de aprendizagem formal,
isto é, aquela decorrente de ações planejadas e estruturadas ' em geral de
iniciativa da organização ' para promover a aquisição de conhecimentos,
habilidades e atitudes (SONNENTAG, NIESSEN e OHLY, 2004). Pesquisa anterior
(FELIX, 2005) já havia identificado a influência dessa variável sobre o domínio
de competências gerenciais, mas os resultados aqui encontrados revelam que o
número de horas dedicadas a ações de TD&E pode influenciar também o
desempenho organizacional. A relação positiva entre essa variável e o
desempenho das agências representa um indicativo de impacto do treinamento na
eficiência ou na eficácia da empresa, ou seja, de mudanças no comportamento ou
nos resultados da organização em decorrência da realização de ações de TD&E
(HAMBLIN, 1978).
Esse impacto, no entanto, foi verificado apenas sobre o desempenho das agências
na perspectiva estratégia e operações, que inclui resultados relacionados à
captação de recursos, número de cartões de crédito ativados e volume de
operações de crédito, por exemplo. A influência dessa variável sobre os
resultados organizacionais geralmente se caracteriza como distal, isto é,
aquela que ocorre ocasionalmente, de modo descontínuo (ABBAD, FREITAS e PILATI,
2006). Isso porque as atividades de TD&E possuem como propósito principal o
desenvolvimento de competências individuais, as quais são evidenciadas pelo
comportamento que os empregados manifestam no trabalho. Aspectos relacionados
aos resultados organizacionais dependem, no entanto, não apenas das
competências de indivíduos, mas também de características do contexto (que
podem restringir ou anular essa relação), como explicam Sonnentag e Frese
(2002). Pode ocorrer, por exemplo, de o empregado de um banco realizar
treinamento sobre operações de crédito e, em decorrência, passar a apresentar
aos clientes, com segurança, as características de uma linha de crédito,
argumentando de maneira convincente sobre as vantagens desse produto, o que
hipoteticamente constituiria um dos objetivos instrucionais do treinamento
realizado. Não obstante o empregado manifestar esse comportamento desejado no
trabalho, pode ocorrer diminuição no volume de operações de crédito contratadas
' resultado contrário ao esperado ' por causa de variáveis conjunturais, como
uma retração na demanda por crédito. Isso talvez explique o fato de a variável
horas de TD&E ter revelado influência apenas sobre uma das seis
perspectivas de desempenho.
No que se refere à percepção de suporte organizacional, só o fator práticas de
gestão de desempenho revelou efeito significante sobre o desempenho das
agências. Esse efeito, no entanto, foi identificado apenas em relação à
perspectiva resultado econômico, que inclui indicadores relacionados à
inadimplência, rentabilidade da carteira de crédito e cobertura de despesas,
por exemplo. Os coeficientes de regressão positivos indicam que, quanto melhor
a percepção sobre essa dimensão do suporte, melhor o resultado econômico da
agência. Essa relação era esperada porque essa dimensão do suporte influencia a
expressão de competências (ABBAD, FREITAS e PILATI, 2006), o que, por sua vez,
geralmente tem efeitos sobre o desempenho de equipes (CARBONE et al., 2009).
As demais dimensões do suporte organizacional (suporte material, carga de
trabalho e práticas de recompensa), por outro lado, não se revelaram preditoras
de nenhuma das perspectivas de desempenho das agências. Pode ser que a
percepção de suporte organizacional exerça influência apenas distal (ocasional
e descontínua) sobre os resultados organizacionais, o que explicaria o fato de
três dimensões de suporte não terem evidenciado influência sobre o desempenho
das agências.
O suporte organizacional é definido como uma variável contextual, que exerce
influência sobre o comportamento do indivíduo no trabalho, ou seja, sobre a
expressão de suas competências (BRANDÃO e BORGES-ANDRADE, 2007). Segundo
Sonnentag e Frese (2002), no entanto, os resultados organizacionais são
condicionados não apenas pelas competências de indivíduos, mas também por
outras variáveis. Pode ser que um empregado, influenciado por sua percepção
acerca do tratamento que recebe da empresa (suporte organizacional), manifeste
de forma exemplar as competências requeridas no trabalho. Isso, no entanto, nem
sempre tem como efeito a melhoria do desempenho de sua unidade, pois outras
variáveis podem restringir ou anular essa relação.
No que diz respeito à influência da expressão de competências gerenciais sobre
o desempenho das agências, pôde-se verificar que a heteroavaliação de
competências de gestão estratégica apresentou efeito significante sobre o
desempenho na perspectiva estratégia e operações (β= 0,26). O coeficiente de
regressão indica relação positiva entre essas variáveis, o que era esperado,
pois essa dimensão da escala de competências foi construída para representar a
perspectiva estratégia e operações do modelo gerencial da organização (BRANDÃO
et al., 2010). Da mesma forma, a heteroavaliação de competências de gestão
financeira revelou-se preditora do resultado econômico das agências (β= 0,19),
exatamente como era esperado, posto que essa dimensão das competências descreve
comportamentos no trabalho que buscam maximizar a rentabilidade e a
lucratividade de negócios do Banco (BRANDÃO et al., 2010).
A heteroavaliação de competências de gestão socioambiental, por sua vez,
revelou efeito significante sobre o desempenho das agências em duas
perspectivas: estratégia e operações (β= -0,16) e resultado econômico (β= -
0,23). Os coeficientes de regressão, no entanto, indicam que essa dimensão da
escala de competências exerce influência negativa sobre o desempenho das
agências nessas perspectivas. Esse resultado deve ser analisado com cautela
porque, embora pareça contraditório, ele pode não o ser. O fator competências
de gestão socioambiental é composto por variáveis como: "ao realizar
operações de crédito, direciona a aplicação de recursos para empresas que
possuem maior responsabilidade socioambiental" e "toma decisões no
trabalho levando em consideração os impactos sobre o meio ambiente e a
comunidade em que vive" (BRANDÃO et al., 2010).
Tais comportamentos podem inibir a aplicação de recursos em operações que,
embora muito rentáveis, envolvem empresas ou práticas que desrespeitam questões
socioambientais. Ao abster-se de realizar tais operações, o Banco poderia então
restringir seus resultados financeiros de curto prazo, conforme parece
evidenciado neste estudo. No médio e longo prazos, no entanto, esse
comportamento ético ' de rejeitar operações que possam causar danos à sociedade
ou ao meio ambiente ' pode gerar ganhos de imagem e de reputação da empresa
perante a sociedade e sua clientela, com possíveis reflexos positivos sobre
seus negócios.
Esse resultado parece estar associado a uma crítica feita por alguns ao uso do
Balanced Scorecard, como já exposto: a de que o BSC não considera o horizonte
temporal de cada indicador, ignorando que resultados em cada perspectiva de
desempenho e efeitos de um indicador sobre outros podem ocorrer em diferentes
intervalos de tempo, limitação que poderia induzir a empresa a decisões e
interpretações equivocadas (COSTA, 2004). Pode ser que competências de gestão
socioambiental restrinjam o desempenho financeiro da empresa no curto prazo,
mas elevam a imagem e a reputação da organização, com consequências sobre o
próprio resultado financeiro no médio e longo prazos.
A autoavaliação de competências de gestão financeira revelou efeito
significante positivo sobre o desempenho nas perspectivas resultado econômico
(β= 0,18) e estratégia e operações (β= 0,17) e negativo na perspectiva
comportamento organizacional (β= -0,29). Esse resultado parece sugerir certa
falta de equilíbrio entre ações gerenciais. Ao que parece, a busca por
maximizar a realização de negócios e sua rentabilidade ' o que caracteriza as
competências de gestão financeira ' pode influenciar a jornada e as relações de
trabalho, entre outros aspectos que caracterizam a perspectiva comportamento
organizacional.
O desempenho das agências na perspectiva clientes, por sua vez, revelou-se
predito pela autoavaliação de competências de gestão de processos (β= 0,16). O
coeficiente de regressão positivo indica que, quanto mais o gerente expressa
competências de gestão de processos, melhor é o desempenho da agência na
perspectiva clientes. Esse resultado também era esperado, visto que se
pressupõe que comportamentos como "implementa ações adequadas para
corrigir problemas nos processos de trabalho" e "organiza suas
atividades para realizá-las no prazo" (que caracterizam competências de
gestão de processos) influenciem a qualidade dos processos produtivos e, por
conseguinte, o atendimento, a satisfação e a fidelização de clientes (CARBONE
et al., 2009).
Por fim, a autoavaliação de competências de gestão estratégica revelou efeito
significante (β= 0,23) sobre o desempenho em comportamento organizacional, como
esperado. Essa dimensão de competências é constituída por itens como
"comunica à sua equipe as metas definidas no Acordo de Trabalho
[...]" e "formula planos e estratégias para cumprir o Acordo de
Trabalho [...]" (BRANDÃO et al., 2010), comportamentos que podem
influenciar resultados em diferentes perspectivas.
Diferente do que era esperado, nenhuma das seis dimensões de competências
gerenciais revelou-se preditora do desempenho das agências nas perspectivas
sociedade e processos internos. Também não foram identificados efeitos
mediadores, em geral porque não havia relação significante entre variáveis
hipotetizadas como explicativas (horas de TD&E e percepção de suporte
organizacional) e as variáveis critério (perspectivas de desempenho das
agências). Mesmo quando a associação entre tais variáveis revelou-se
significante, essa relação era de pequena magnitude, talvez porque as horas de
TD&E e a percepção de suporte organizacional exerçam influência apenas
distal (ocasional e descontínua) sobre o desempenho das agências, conforme já
mencionado.
Em síntese, foi possível identificar valores preditivos de atributos de
gestores bancários sobre os resultados de agências do Banco, o que constituía
objetivo da presente investigação. Isolados os efeitos das variáveis de
controle, as variâncias explicadas pelos modelos situaram-se entre 2,2% e 6,8%,
recaindo sobre o desempenho na perspectiva clientes o menor percentual de
explicação e, sobre as perspectivas resultado econômico e estratégia e
operações, a maior variância explicada (6,8% em ambos os modelos). Embora sejam
relativamente pequenos os percentuais de variância explicada, estes se revestem
de razoável importância prática. É que, em geral, recaiu sobre a expressão de
competências gerenciais a maior contribuição relativa para explicação dos
modelos. Em alguns deles, apenas dimensões da escala de competências revelaram-
se preditoras do desempenho das agências. Como o desempenho de empresas e
unidades constitui fenômeno complexo e multideterminado, ou seja, influenciado
por diferentes variáveis (DENISI, 2000), tem muita relevância prática a
evidência de que certas competências expressas por uma única pessoa (o gerente-
geral da agência) podem explicar até cerca de 5% dos resultados em determinadas
perspectivas de desempenho da agência.
Pesquisas anteriores que procuraram examinar a existência dessa relação entre
as competências e o desempenho organizacional também revelaram efeitos pouco
substanciais (LEVENSON, VAN DER STEDE e COHEN, 2006) ou a inexistência de
relação preditora significante entre essas variáveis (FERNANDES, FLEURY e
MILLS, 2006), conforme já comentado, o que sugere a necessidade de realização
de novos estudos a respeito. Pesquisadores e organizações poderiam dedicar-se
a, por exemplo:
verificar se os resultados obtidos nesta pesquisa são consistentes
em outras profissões, organizações e setores da economia;
investigar que outras características do contexto de trabalho, da
equipe e da organização podem facilitar ou restringir a aplicação de
competências e o desempenho organizacional;
verificar como a expressão de competências no trabalho, por parte
do indivíduo, pode introduzir mudanças em sua equipe e na
organização, ou seja, examinar como a competência se propaga da
pessoa para outros níveis organizacionais.
Do ponto de vista prático, os achados desta pesquisa sugerem a importância de o
Banco dedicar atenção ao desenvolvimento de determinadas competências
gerenciais, sobretudo aquelas relacionadas à gestão estratégica e à gestão
financeira, as quais se revelaram preditoras de duas ou mais perspectivas de
desempenho das agências. Indicam também a relevância da busca por equilíbrio
entre diferentes dimensões do comportamento gerencial, posto que os resultados
aqui apresentados sugerem que o foco excessivo sobre certas competências
gerenciais pode ter efeito positivo sobre uma perspectiva de desempenho e, ao
mesmo tempo, influência negativa sobre outras.
Sob o aspecto teórico, a investigação aqui relatada ' ao revelar relações
preditivas de competências gerenciais, horas de TD&E e práticas de gestão
de desempenho (suporte organizacional) sobre o desempenho de agências bancárias
' oferece evidências empíricas para pressupostos e relações hipotetizadas por
teorias psicológicas e administrativas, trazendo contribuições àqueles que
procuram explicar o desempenho de pessoas e organizações, bem como aos que
desejam aprofundar estudos sobre a natureza da competência humana no trabalho.
Tratando-se de estudo sobre um tema em evidência e que ainda carece de
investigações empíricas, espera-se ter contribuído para o debate teórico e
prático em torno do assunto, bem como ensejado a realização de novas pesquisas.
NOTAS
(1) Há, na literatura, grande diversidade de conceitos para definir a
competência no trabalho. Não se pretende aqui discutir as diversas correntes
teóricas e abordagens conceituais existentes, pois o assunto já foi
suficientemente tratado por muitos autores, como Gonczi (1999), Ruas (2005) e
Carbone et al. (2009), entre outros.
(2) A exclusão desses casos extremos univariados reduziu a amostra para 184
participantes no banco de dados com a autoavaliação de competências, e 210
participantes no banco que continha a heteroavaliação de competências. Isso, no
entanto, ocorreu apenas nos modelos que tinham como variáveis critério o
desempenho das agências nas perspectivas clientes e comportamento
organizacional.