Imagem de preço de produto: proposição de um modelo conceitual
1. INTRODUÇÃO
Vários esforços têm sido dirigidos para analisar a percepção do preço dos
produtos e sua influência na decisão de compra (ZEITHAML, 1988; BOLTON, WARLOP
e ALBA, 2003; ZIELKE, 2006, 2010). Neste estudo buscou-se entender o processo
de construção da imagem de preço de produto, identificando inicialmente as
dimensões-chave de sua formação e propondo um modelo conceitual que auxilia em
seu entendimento e em sua mensuração. Para tanto, é proposto um modelo
conceitual da imagem de preço de produto como uma ferramenta para melhor
compreender como pode ser configurada a imagem de preço junto aos consumidores
e servir de apoio na tomada de decisão das empresas no que tange ao
gerenciamento de estratégias de preço.
Dado que o processo de decisão de compra é bastante influenciado pela percepção
que o consumidor tem do preço do produto, desenvolver instrumentos de análise
que permitam mensurar a imagem do preço torna-se uma tarefa crucial para as
organizações. Sendo a percepção do preço um evento complexo e multidimensional,
a simples comparação de preço praticado pelo ofertante com relação ao dos
competidores pode não ser suficiente para garantir compra, adoção e fidelidade
(ZIELKE, 2006). Nesse contexto, entender como o consumidor avalia, codifica e
armazena as informações de preço revela-se como uma importante contribuição
nessa área (CHERNEV, 2006).
Neste estudo assume-se que a imagem do preço de um produto é um construto
complexo, multidimensional e que ainda não está devidamente definido na área de
conhecimento de marketing (ZIELKE, 2006, 2010). Essa multidimensionalidade está
refletida nas dimensões funcional, emocional, simbólica, de justiça, axiomática
e social da percepção do preço, como construtos antecedentes do valor percebido
do produto e da consequente intenção de compra (ZIELKE, 2011), e o grau de
envolvimento do consumidor é moderador da relação entre as dimensões da imagem
e o valor percebido.
Dentre as contribuições deste artigo destacam-se: primeiro, a identificação da
configuração da imagem de preço a partir do entendimento das principais
dimensões que a formam. Segundo, a proposição de um modelo teórico composto por
19 hipóteses de pesquisa, que servirá de base para a identificação da imagem de
preço de um produto. Assim, a partir do entendimento de como as imagens de
preço podem ser configuradas, as organizações poderão melhor direcionar suas
ações estratégicas de comunicação e apreçamento dos produtos. Após esta
introdução, na segunda parte do artigo apresenta-se a revisão da literatura
estruturada em quatro partes: preço e seus impactos nas decisões estratégicas;
imagem de preço, valor percebido e intenção de compra; multidimensionalidade da
imagem de preço; envolvimento do consumidor como variável moderadora da imagem
de preço. Por fim, são apresentadas as considerações finais deste estudo.
2. PREÇO E SEUS IMPACTOS NAS DECISÕES ESTRATÉGICAS
A partir da revisão da literatura, identificou-se que há uma relativa falta de
interesse acadêmico no campo de preço e poucas pessoas compreendem os desafios
que a questão preço envolve no direcionamento estratégico das empresas
(AVLONITIS e INDOUNAS, 2007). Entretanto, o estudo do preço não pode ser
negligenciado pela academia, pois, seja ele considerado de forma independente,
seja conjuntamente com uma política de produto, exerce forte influência no
comportamento de compra bem como no posicionamento da empresa (THEODORIDIS e
CHATZIPANAGIOTOU, 2009).
A área de conhecimento que primeiro estudou o papel do preço no consumo de bens
e serviços foi a Ciência Econômica, destacando-se aqui o trabalho pioneiro de
Adam Smith (SMITH, 1976) que efetuou uma revisão histórica de como o dinheiro
se transformou no instrumento universal de comércio, por meio do qual as
mercadorias são compradas e vendidas. Ele estabeleceu as normas que as pessoas
observam para trocar suas mercadorias por dinheiro (por um preço), e essas
regras determinam o que se pode denominar de valor. Valor, para Smith, tem dois
significados: valor de uso (utilidade do objeto) e valor de troca (poder de
compra que o objeto possui em relação a outras mercadorias). Smith exemplifica
esses conceitos a partir do seguinte argumento: a água tem alto valor de uso,
mas baixo valor de troca, enquanto o diamante tem baixo valor de uso, mas alto
valor de troca. Assim, o valor utilitário da água é marginal porque ela é
abundante, enquanto o valor do diamante é alto porque é raro; portanto, a
escassez do produto cria valor. O preço real de cada coisa para o homem é o
trabalho e o sacrifício que ele tem para sua aquisição. Logo, é caro o que é
difícil de conseguir, ou aquilo que custa muito trabalho para adquirir; e é
barato aquilo que pode ser conseguido facilmente ou com muito pouco trabalho.
Adam Smith apresentou contribuições importantes para a compreensão do sistema
de troca e criação de valor. No entanto, pode-se considerar hoje que sua ideia
de valor é puramente racional, funcional, situada numa visão econômica da ideia
do preço. De qualquer forma, suas contribuições são importantes para uma
reflexão de como o preço surgiu como sistema puro de troca até transformar-se
hoje num processo multidimensional e multidisciplinar.
Numa perspectiva de marketing, numerosos estudos têm sido feitos visando
avaliar o papel do preço no processo decisório de aquisição de bens e serviços,
não apenas no mercado consumidor (SHIPLEY e JOBBER, 2001; AVLONITIS e INDOUNAS,
2007), mas também no mercado industrial e revendedor (MONROE, 1990; NAGLE e
HOLDEN, 2003), dentro das estratégias de marketing B-C e B-B, respectivamente.
A complexidade e a multidimensionalidade que caracterizam as decisões de preço
do ponto de vista organizacional emergem ainda de diferentes situações
específicas, tais como níveis de demanda do mercado, níveis de controle do
preço pelo Estado e estágios de ciclo de vida dos diferentes produtos ou
serviços oferecidos pelas empresas (AVLONITIS, INDOUNAS e GOUNARIS, 2005). A
mensuração da imagem de preço de produto desponta como mais uma ferramenta que
os gestores podem utilizar para melhorar suas estratégias de precificação.
Estudo realizado por Avlonitis e Indounas (2007) sobre política de preço junto
a uma amostra de 170 empresas em seis diferentes setores de atividade econômica
ressalta que no processo de formação de preço há uma predominância da
utilização de uma lista de preço baseada nos custos de produção e
comercialização e nos preços dos concorrentes. Esse resultado reflete pobreza
teórica e falta de sofisticação na formação de estratégias de precificação.
Isso pode estar relacionado à falta de interesse e/ou habilidade no
entendimento de como o consumidor percebe o preço dos produtos ou serviços. Em
muitas organizações não há preocupação em conhecer a imagem de preço de seus
produtos junto aos consumidores antes de formatar seus preços. Assim, um melhor
entendimento do consumidor a partir de uma orientação para o cliente,
principalmente no que tange à identificação de suas necessidades e ao valor
percebido dos produtos, aperfeiçoando uma metodologia interna para o processo
de precificação, possibilitará às organizações melhor direcionar seus preços de
modo que tragam resultados mais positivos, tanto para elas quanto para os
consumidores (TELLIS, 1986; LANCIONI, 1988; SHIPLEY e JOBBER, 2001; AVLONITIS,
INDOUNAS e GOUNARIS, 2005; AVLONITIS e INDOUNAS, 2007). Entender o preço a
partir da percepção do consumidor pode exigir novas metodologias e uma
reavaliação das práticas atuais de formação de preço.
Observa-se que as reações do consumidor às diferentes estratégias da
organização não são puramente racionais, mas dirigidas por aspectos específicos
do comportamento, tais como a percepção (imagem) e as preferências. Entender a
percepção do consumidor com relação a preço pode ser o diferencial de uma
empresa em relação a seus competidores (KIM, NATTER e SPANN, 2009). Estratégias
de precificação que envolvem o consumidor possibilitam que ele tenha maior
percepção de justiça e satisfação do que quando a empresa ajusta seus preços
puramente por seus custos (HAWS e BEARDEN, 2006).
De acordo com Monroe (1990), o preço é um elemento fundamental do mix de
marketing e o único que produz receita; os demais elementos do mix conduzem ao
custo. Assim, as decisões sobre o preço contribuem fortemente para determinar o
valor do produto para o consumidor e têm um papel importante na construção da
imagem da companhia (URBANY, 2001). O preço não é simplesmente o custo do bem
somado com o lucro, mas é a soma de valores de um produto ou serviço, valores
que podem ser tanto tangíveis (por exemplo, durabilidade, desempenho, etc.),
quanto intangíveis (por exemplo, prestígio, status, etc.). Quanto maior o valor
que a empresa entrega para seus consumidores, maiores os níveis de preço que
ela pode operar (LANCIONI, 1988; THEODORIDIS e CHATZIPANAGIOTOU, 2009).
Vorhies e Morgan (2005) identificam cinco competências para a organização
orientada ao mercado: pesquisa em market-ing; gestão de preço;
desenvolvimento de novos produtos; gestão do canal de distribuição; e gestão de
marketing. Observa-se, assim, que o preço assume um papel importante nas
decisões estratégicas e na rentabilidade das organizações. Liu e Soman (2008)
identificam o preço como uma das mais importantes variáveis do mercado que
influenciam as decisões de compra dos consumidores. A literatura de marketing
reconhece o papel que a expectativa ou a percepção do preço tem na procura de
um produto ou serviço e na predição do comportamento de compra (YUAN e HAN,
2011). Sendo o preço um dos elementos mais flexíveis do mix de marketing,
podendo, portanto, ser rapidamente alterado (DOVALIENE e VIRVILAITE, 2008),
estratégias de preço mal elaboradas, que não levam em conta a percepção dos
consumidores com relação ao preço, podem impactar negativamente nos indicadores
de desempenho de marketing de uma organização.
Segundo Monroe (1990), há dois pré-requisitos para tornar o apreçamento
proativo um sucesso. O primeiro é a necessidade de entender como o preço
trabalha, quais seus impactos junto aos fornecedores, ao pessoal de venda, aos
distribuidores, aos competidores e aos clientes. O segundo é a identificação de
como o cliente percebe o preço e suas mudanças. Empresas proativas na formação
de preço devem aprender como seus clientes percebem o preço do produto ou
serviço ofertado e como essa imagem influencia sua percepção de valor e sua
intenção de compra. Para Monroe (1990), a relação entre preço e percepção de
valor do produto para o consumidor é que determina as decisões de compra.
3. IMAGEM DE PREÇO, VALOR PERCEBIDO E INTENÇÃO DE COMPRA
As imagens constituem um dos materiais intelectuais mais importantes do homem,
sendo capazes de influenciar e direcionar o comportamento das pessoas. Sendo
assim, a compreensão das imagens que os diversos públicos formam sobre preço
constitui um trunfo para o direcionamento de estratégias de posicionamento de
produtos e marcas no mercado, bem como do composto de comunicação para melhor
apoiar o desempenho do preço dos produtos (BOLTON, WARLOP e ALBA, 2003; ZIELKE,
2010).
O estudo da percepção de valor pode ser entendido de diferentes formas. Em
conformidade com Zeithaml (1988), Monroe e Lee (1999) e Sweeney e Soutar
(2001), o valor é configurado a partir da percepção do benefício (qualidade) e
do sacrifício (preço) no processo de compra e consumo de um bem ou serviço.
Geralmente, quando se fala de preço, ele representa nada mais do que a soma de
dinheiro que o comprador deve dar para o vendedor como parte de seu acordo de
compra. No entanto, a relação entre o preço de um produto - dimensão monetária
- e seu benefício para o cliente não deve e não pode ser considerada apenas sob
uma perspectiva puramente de racionalidade econômica. Há um forte componente
sociopsicológico, que depende de como o consumidor percebe a relação entre
custos e benefícios monetários e não monetários (NAGLE e HOLDEN, 2003;
MUNNUKKA, 2006).
Para Webster Jr. (1994), o conceito de valor para o cliente está no coração da
filosofia de negócios de marketing (the new marketing concept). O conceito de
valor é algo percebido pelo cliente, mais do que algo determinado pelo
vendedor. Essa percepção envolve um trade-off entre o que o cliente recebe (por
exemplo, qualidade, benefício) e o que ele dá para adquirir e usar o produto
(por exemplo, valor monetário). Quando o cliente paga um preço justo pelo
benefício recebido, sua intenção de (re)compra tende a aumentar. Dessa forma,
entender a percepção de valor do produto para o cliente, fixando um preço
justo, leva a maior venda e maior margem de lucro (INGENBLEEK, 2007). Para
Zielke (2006), essa avaliação de valor pode ser colocada num continuum que vai
de uma percepção do preço como um simples valor monetário a um complexo
processo de escolha entre utilidades abstratas e componentes de sacrifício
percebidos pelo consumidor. A função do preço é mais complexa que um simples
indicador de custo monetário de compra para o consumidor. Como afirma
Diamantopoulos (2005, p.248), "o preço é uma declaração de valor e não uma
declaração de custo". A percepção de valor é, portanto, uma escolha mental
obtida pelo consumidor derivada de uma relação entre benefícios percebidos e
sacrifícios incorridos (MITTAL et al., 2007). Em outras palavras, o
processamento mental do consumidor avalia ser compensatório incorrer em um dado
sacrifício - inclusive monetário - para alcançar um dado conjunto de benefícios
percebidos. Ressalte-se que situações em que não há diferença perceptível na
qualidade ou benefício recebido de um produto ou serviço podem resultar no
aumento da percepção do sacrifício monetário incorrido (XIA, MONROE e COX,
2004).
Depreende-se, assim, que o valor percebido do produto é um fator que influencia
a decisão de compra dos consumidores, dado que eles usam a informação do preço
como unidade de mensuração de valor para fazer seus processamentos mentais de
escolha de um produto ou serviço (ZEITHAML, 1988; BOLTON e DREW, 1991; MITTAL
et al., 2007). A imagem de preço centrada nas expectativas do consumidor tende
a um aumento na intenção de compra e de rentabilidade dos produtos
comercializados (CROSS e DIXIT, 2005). Portanto, melhorias na imagem de preço
de um produto estão associadas a incrementos no valor desse produto para o
consumidor. Tomando-se por base esses pressupostos teóricos, pode-se propor a
primeira hipótese de pesquisa:
H1a - O valor percebido de um produto tem impacto direto e positivo nas
intenções de compra do consumidor.
4. MULTIDIMENSIONALIDADE DA IMAGEM DE PREÇO
Muitos dos estudos sobre imagem de preço não capturam o domínio completo desse
construto, porque predominantemente mensuram tão somente a dimensão cognitiva
da percepção de preço (ZIELKE, 2011). A imagem de preço pode ser definida como
uma variável latente e multidimensional que consiste numa convicção subjetiva e
emocional associada a fatores relacionados com o preço de um produto ou serviço
(ZIELKE, 2006, 2011). Ao tratar a imagem de preço como multidimensional, Zielke
(2010) identifica que ela é composta por cinco dimensões: preço de referência,
que é o padrão de preço armazenado na memória do consumidor para produtos
daquela classe; valor para o dinheiro, que é a relação entre o que é dado com o
que é recebido; facilidade com a qual o consumidor pode encontrar ou ver o
preço do produto no estabelecimento comercial; processabilidade do preço, que
se refere à facilidade de comparação com o preço de produtos alternativos;
segurança de avaliação, que descreve quão facilmente o cliente percebe o preço
a partir do ambiente em que adquiriu o produto relacionado à percepção do risco
de erro na decisão de compra. Para o autor, essas cinco dimensões não são
independentes, mas estão relacionadas entre si.
A literatura de comportamento de preço revela um viés cog-nitivo. Grande
parte das pesquisas está concentrada no preço como um fenômeno cognitivo.
Assim, preço de referência, inferência preço-qualidade, julgamento de valor
para o dinheiro, percepção de justiça de preço e conhecimento de preço, são
exemplos de direcionamentos cognitivos para o comportamento do preço (PEINE,
HEITMANN e HERMANN, 2009). No entanto, sentimentos de justiça e injustiça com
relação a um preço são manifestações não cognitivas dos consumidores que
refletem mudanças no comportamento de compra (XIA, MONROE e COX, 2004; PEINE,
HEITMANN e HERMANN, 2009). Assim, o consumidor julga o preço a partir de suas
normas internas, representadas por uma combinação de experiências do passado,
do presente e de expectativas futuras (TSIROS e HARDESTY, 2010).
A partir dos estudos de Sweeney e Soutar (2001), Zielke (2006, 2010, 2011),
Mittal et al. (2007) e Schuler et al. (2010), foram identificadas 11 dimensões
relacionadas com a percepção dos benefícios do produto e do sacrifício exigido
para sua aquisição. Essas dimensões referem-se aos aspectos de natureza físico/
material, emocional, autoestima, funcional, poder, social, justiça, simbólica,
visionária, axiomática e teleológica. Com base na análise dos conceitos
associados a cada dimensão, foi possível efetuar um refinamento delas de forma
a assegurar que cada dimensão fosse agrupada apropriadamente, eliminando-se
dimensões que não apresentaram relevância para o presente estudo. A partir
dessa análise fatorial exploratória, identificaram-se sete dimensões
determinantes da imagem de preço de produto: funcional, emocional positiva,
emocional negativa, simbólica, justiça, axiomática e social. Apresenta-se, em
seguida, o conceito associado a cada uma dessas dimensões, assim como as
hipóteses de pesquisa derivadas de cada uma delas.
4.1. Dimensão funcional
O aspecto de funcionalidade da percepção de preço está relacionado à percepção
da qualidade do produto ou serviço (LICHTENSTEIN, RIDGWAY e NETEMEYER, 1993;
YEUNG e SOMAN, 2007; ZIELKE, 2010). Para Zeithaml (1988), a percepção de
qualidade de um produto pode estar relacionada tanto a fatores intrínsecos
quanto a fatores extrínsecos. Dicas intrínsecas estão fortemente relacionadas
às propriedades físicas do produto, enquanto as extrínsecas são atributos
externos ao produto, não constituindo parte dele.
O preço como um atributo extrínseco da qualidade do produto apresenta maior
importância quando:
* numa compra inicial os atributos intrínsecos (atributos específicos do
produto, por exemplo, frescor, gosto de um suco) não estão disponíveis;
* a avaliação de uma sugestão intrínseca requer mais esforço e tempo e o
consumidor não tem interesse nisso;
* a qualidade é difícil de avaliar (experiência e crença no pro-duto)
(ZEITHAML, 1988).
Quando as dicas intrínsecas do produto estão acessíveis, juntamente com o nome
da marca que dá evidências da reputação da empresa, e também quando o nível de
comunicação induz à confiança na companhia da marca, o consumidor pode preferir
usar essas sugestões em vez de o preço (ZEITHAML, 1988; MONROE, 1990; NAGLE e
HOLDEN, 2003). Entretanto, quando informações intrínsecas são escassas ou não
suficientemente úteis, informações extrínsecas são mais prováveis de serem
úteis para avaliar a qualidade de um produto (MIYAZAKI, GREWAL e GOODSTEIN,
2005; CHERNEV, 2006). Assim, na ausência de elementos intrínsecos, o consumidor
tende a utilizar dicas extrínsecas, tais como preço, marca ou país de origem
como indicadores da qualidade do produto (TING, 2012). Assumindo que preço mais
alto justifica melhor qualidade e maior valor percebido do produto, o valor
funcional estará normalmente associado ao construto qualidade e sua relação com
a percepção de preço (SWEENEY e SOUTAR, 2001; COSTA, 2007).
Dessa forma, o uso do preço como um indicador funcional da qualidade de um
produto depende:
* da disponibilidade de outras indicações ou informações para poder avaliar
a qualidade do produto;
* da variação de preço entre marcas, dentro de uma classe de produtos;
* do nível de consciência de preço do consumidor;
* da habilidade do consumidor em perceber a variação de qualidade em um
grupo de produtos;
* da percepção de que a baixa qualidade implica o risco de perda.
Guiltinan (2000) observa que essa comparação de qualidade é mais intuitiva e
não é um fenômeno facilmente mensurável ao se compararem diferentes marcas.
Nesse sentido, apresenta o conceito de melhor valor (best value), em que o
consumidor combina dicas de preço e qualidade para chegar à escolha que melhor
atinge suas exigências (GUILTINAN, 2000). Portanto, a qualidade de um produto
pode ser inferida a partir do preço; isso implica que, quando aumenta o valor
dessa variável latente, significa que a qualidade percebida pelo consumidor é
maior. Nesse sentido, podem ser formuladas as seguintes hipóteses de pesquisa:
H1b - A dimensão funcional tem impacto direto e positivo nas intenções de
compra do consumidor.
H2a - A dimensão funcional tem impacto direto e positivo no valor percebido do
produto ou serviço.
4.2. Dimensão emocional
O fenômeno da emoção, fartamente estudado na Psicologia, tem recebido acentuada
atenção em pesquisas recentes sobre comportamento do consumidor (BAGOZZI e
DHOLAKIA, 1999; LAROS e STEENKAMP, 2003; COHEN, PHAM e ANDRADE, 2008; AAKER,
DROLET e GRIFFIN, 2011). Entretanto, são poucos os estudos que mencionam o
papel da emoção na percepção de preço (PEINE, HEITMANN e HERMANN, 2009; ZIELKE,
2011). O limitado número de estudos sobre preço e emoção é surpreendente, dado
que, da própria experiência dos pesquisadores, parece óbvio o quanto
sentimentos de prazer, angústia, raiva ou interesse estão presentes na
avaliação, tanto do valor dos produtos para um consumidor quanto do sacrifício
que deverá fazer para adquiri-los (ZIELKE, 2010).
Bagozzi e Dholakia (1999) definem emoção como um estado mental de prontidão que
surge de uma avaliação cognitiva de eventos e pensamentos que são relevantes
para o indivíduo. No caso desta pesquisa, a dimensão emocional deriva de um
sentimento ou estado afetivo que o preço de um produto pode gerar. A emoção é
uma experiência interna, um sentimento que motiva, organiza e guia as imagens e
consequentemente as ações (O'NEILL e LAMBERT, 2001). As emoções são reações ao
que acontece na vida das pessoas (LAZARUS, 1991). De acordo com os estudos de
Lazarus (1991), Richins (1997), Ledoux (2001), Goleman (2007) e Zielke (2010),
as principais categorias de emoções podem ser agrupadas em:
* ira - raiva, fúria, indignação, aborrecimento, hostilidade, ódio,
revolta, descontentamento;
* medo - ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, cautela,
inquietação, pavor, susto, fobia;
* tristeza - sofrimento, mágoa, desânimo, melancolia, solidão, desamparo,
desespero, desgosto, depressão;
* vergonha - culpa, mágoa, remorso, humilhação, arrependimento;
* inveja - ciúme, querer alguma coisa que outro tem;
* esperança - temer o pior, mas ansiar o melhor, acreditar no futuro,
otimismo;
* prazer - felicidade, alegria, alívio, diversão, emoção, satisfação,
humor, euforia, realização, entusiasmo, excitação;
* orgulho - amor próprio, valorização social, realização;
* amor - aceitação, altruísmo, amizade, confiança, afinidade, dedicação,
paixão, compaixão;
* surpresa - choque, espanto, maravilha;
* nojo - desprezo, desdém, antipatia, repugnância, aversão;
* paz - calma, tranquilidade.
Assim, emoções positivas (por exemplo, alegria, esperança) estão associadas a
um comportamento do consumidor proativo, de aproximação ou ativação. Já as
emoções negativas (por exemplo, medo, nojo) estão associadas a um comportamento
passivo, de evitar ou de inibição (PEINE, HEITMANN e HERRMANN, 2009; ZIELKE,
2011). O preço pode evocar ao mesmo tempo uma emoção tanto positiva quanto
negativa. Dessa forma, aumento nos valores da variável latente de intensidade
das emoções positivas e/ou negativas do consumidor está relacionado com o valor
percebido do produto ou serviço. Em decorrência, podem ser formuladas as
seguintes hipóteses de pesquisa:
H2b - A dimensão emocional positiva que o consumidor tem em relação a um
produto ou serviço tem impacto direto e positivo em seu valor percebido.
H2c - A dimensão emocional negativa que o consumidor tem em relação a um
produto ou serviço tem impacto direto e negativo em seu valor percebido.
4.3. Dimensão justiça
A justiça de preço corresponde a um julgamento realizado pelo comprador sobre o
preço do vendedor. Refere-se, ainda, a uma comparação entre o preço julgado e
um padrão de mercado, sendo possível, nessa comparação, identificar a
igualdade, a vantagem ou desvantagem percebida pelo consumidor (XIA, MONROE e
COX, 2004; MUNNUKKA, 2006). Embora a justiça de preço seja um conceito difícil
de definir, a percepção de preço justo é parte de um amplo julgamento do mérito
geral de uma negociação, e a reputação da empresa, o grau de relacionamento e a
satisfação do consumidor afetam a percepção de justiça do comprador (HAWS e
BEARDEN, 2006).
Para Bolton, Warlop e Alba (2003), a justiça de preço é um julgamento sobre o
resultado de um processo, obtido pela avaliação ante um padrão razoável, justo
e aceitável. O aspecto cognitivo dessas definições indica que julgamentos sobre
a justiça no preço envolvem a comparação com um respectivo padrão, referência
ou norma vigente (FERNANDES e SLONGO, 2007). O comprador usa o preço passado de
diferentes períodos de tempo para formar suas expectativas e tomar suas
decisões de compra (YUAN e HAN, 2011). Dessa forma, a avaliação de (in)justiça
é feita pela comparação com uma referência, que pode ser tanto "uma outra
pessoa, um grupo de pessoas, uma organização, ou o próprio indivíduo em relação
a sua experiência no passado" (MONROE e LEE, 1999, p.214).
Xia, Monroe e Cox (2004) indicam quatro fatores que influenciam a percepção de
justiça no preço. O primeiro é a similaridade das transações, quando os
consumidores percebem duas transações comerciais como similares, mas em uma o
preço é maior do que em outra. Nesse caso, haverá uma percepção de que o preço
é injusto. O segundo é a atribuição de culpa ou a não compreensão do motivo
pelo qual a empresa realizou alguma alteração de preço, denotando também uma
situação de injustiça percebida. O terceiro fator é a confiança, derivada de
relacionamentos, entre o cliente e a empresa. Quanto maior a confiança, maior a
percepção de justiça no preço. O quarto fator corresponde às crenças do
consumidor sobre as normas de trocas comerciais. Quanto maior a percepção de
existência de regras comerciais adequadas, satisfatórias, maior a sensação de
justiça no preço. Kukar-Kinney, Xia e Monroe (2007) identificaram que, quanto
mais justo é um preço, maiores são as intenções de compra de um indivíduo, o
que reforça a suposição de que maiores níveis de injustiça no preço poderão
fazer com que o consumidor busque alternativas de compra, trocando de marca ou
de fornecedor. Portanto, a percepção de injustiça diminui a intenção de compra;
já a percepção de justiça no preço constitui uma dimensão-chave de influência
no comportamento de compra do consumidor e, consequentemente, na formação de
estratégias de negócio (CAMPBELL, 1999; HUANGFU e ZHU, 2012).
Conclui-se, assim, que a percepção de justiça com relação ao preço do produto
ou serviço significa que, quando aumenta o valor dessa variável latente,
aumentam também a intensidade no valor percebido deles e a intenção de compra
por parte do consumidor. Pode-se conjecturar assim que:
H1c - A percepção de justiça de preço por parte do consumidor tem impacto
direto e positivo na intenção de compra.
H2d - A dimensão de justiça tem impacto direto e positivo no valor percebido do
produto ou serviço pelo consumidor.
4.4. Dimensão axiomática
Vários campos de estudo do comportamento humano interessaram-se pelos
princípios e valores pessoais que regem a vida dos indivíduos. É um nível
ligado ao sentido da existência de uma pessoa (significado da vida) e a sua
percepção de propósito e princípios. Os valores funcionam como direcionamento
prescritivo ou prospectivo nas convicções sobre o modo de conduzir a vida
(KAHLE e KENNEDY, 1988). Vinson, Scott e Lamont (1977) sugerem, para o
entendimento dos valores pessoais dentro do contexto de marketing, que se
considerem três níveis de abstração, numa estrutura hierárquica axiomática. O
primeiro nível, mais inclusivo e genérico, é o nível global de valores,
considerado como o pilar central dos valores de um indivíduo, formado por
crenças duradouras que guiam seus julgamentos, decisões e atos nas mais
variadas situações de vida. O segundo é o nível de valores específicos por
área, que trata dos valores que as pessoas adquirem na experiência de situações
específicas de suas vidas, com referência a certos ambientes e domínio de
atividades. Os indivíduos adquirem valores especificamente ligados às
transações econômicas, pela vivência sequencial de trocas e consumo; adquirem
valores sociais pelas vivências familiares e grupais, e assim nos vários campos
de atividade com os quais ganham experiência. O terceiro nível de valores, para
esses autores, diz respeito às crenças descritivas e avaliativas por meio das
quais os indivíduos avaliam produtos e serviços, em seu processo de decisão de
compra e consumo, segundo o que eles consideram como atributos desejáveis para
determinado bem. Assim, quanto maior for a dimensão axiomática de um produto ou
serviço, maior deve ser a intensidade do valor percebido do produto pelo
consumidor. Portanto, pode ser proposta a seguinte hipótese de pesquisa:
H2e - A dimensão axiomática do consumidor tem impacto direto e positivo no
valor percebido do produto ou serviço.
4.5. Dimensão simbólica
Um indivíduo, ao comprar um bem, leva também em conta seus atributos
simbólicos, ou seja, aquilo que este representa para ele e para os outros
(LEVY, 1981; DICHTER, 1985). Dobni e Zinkhan (1990) e Stern, Zinkhan e Jaju
(2001) efetuaram uma importante revisão dos diferentes conceitos de imagem de
produto ou marca nos últimos 30 anos e concluíram que as pessoas compram
objetos não somente pelo que eles podem fazer, mas principalmente pelo que
significam. As coisas que as pessoas compram têm um significado pessoal e
social, além de suas funções utilitárias. Segundo Levy (1981), os atributos
simbólicos são tão importantes quanto os atributos funcionais. É preciso ainda
considerar que a imagem de preço é uma interpretação das informações recebidas,
um conjunto de inferências e reações sobre o produto e seus atributos
associados. Assim, a formação da imagem não depende apenas das mensagens
racionalmente emitidas na estratégia de comunicação das empresas, mas também da
forma como o comprador vai recriar o significado das mensagens que recebe dos
meios de comunicação, inclusive das redes sociais (MARTINEAU, 1958; LEVY, 1981;
DICHTER, 1985).
O principal elemento do simbolismo de um produto ou serviço relaciona-se com o
sentimento de poder, ou da falta dele. Essa percepção pode promover um maior
desejo de adquirir, por exemplo, produtos associados com status ou com
reconhecimento, levando à propensão de pagar mais por esses produtos (RUCKER e
GALINSKY, 2008). O preço pago pelo consumidor ao realizar uma compra pode
representar seu poder, sua posição, sua sofisticação; ou, em contraposição,
pode representar sua fraqueza, desleixo ou mau gosto. Pode representar
ideologias consumistas e de moda ou, ainda, ideologias imbuídas de valor
social. O símbolo de status de um produto pode não estar diretamente
relacionado a seu valor monetário. Mesmo um item barato (por exemplo, uma
gravata de seda, uma caneta de executivo) pode ter uma forte associação com
status. Similarmente, mesmo um item caro (por exemplo, um sofá, uma minivan)
pode não ter uma associação com status (RUCKER e GALINSKY, 2008). Depreende-se,
assim, que incrementos na dimensão simbólica estariam associados com melhoria
no valor percebido de um bem por parte do consumidor. Em decorrência, pode-se
formular a seguinte hipótese de pesquisa:
H2f - A dimensão simbólica associada a um produto ou serviço tem impacto direto
e positivo no valor percebido do produto.
4.6. Dimensão social
É bastante conhecida, em marketing, a "atitude de preço" (ZIELKE, 2006, 2010),
que representa uma forma de inserção ou participação em um grupo social. Faz
parte do processo de socialização do indivíduo desenvolver atitudes de compra
convenientes para o nicho social em que se coloca, sendo o nível de preço um
dos fatores mais salientes desse contexto (SWEENEY, SOUTAR e JOHNSON, 1999). O
consumidor percebe, antes mesmo de entrar no ponto de venda, qual o nível
esperado de preço os produtos ou serviços possuem e que postura de compra é
esperada dele dentro dessa loja (GALHANONE, 2008). Na dimensão social do preço,
o indivíduo preocupa-se principalmente com o que as outras pessoas pensam sobre
ele e naquilo que os outros usam e compram, aspectos que influenciam suas
decisões de aquisição de bens ou serviços (LENNOX e WOLFE, 1984; BEARDEN,
NETEMEYER e TEEL, 1989).
Segundo Sheth, Newman e Gross (1991) e Costa (2007), o valor social refere-se à
utilidade percebida de um produto ou serviço associado com um grupo social
específico. As alternativas de compra ou consumo passam a ter valor social a
partir da associação positiva ou negativa que o consumidor faz com alguns
aspectos socioeconômicos de um grupo, em que a imagem e a reputação da marca
para um grupo refletem seu valor social. Assim, quanto maior a dimensão social
associada a um bem ou serviço, maior seu valor percebido pelo consumidor. Para
tanto, propõe-se que:
H2g - A dimensão social relacionada com um produto ou serviço tem impacto
direto e positivo em seu valor percebido pelo consumidor.
4.7. Relação entre as dimensões da imagem de preço de um produto ou serviço
Os diferentes construtos da imagem não são independentes um do outro. Parece
ser comum, em eventos multidimensionais, construtos serem relacionados entre si
(SWEENEY e SOUTAR, 2001; ZIELKE, 2011). Sendo assim, procurou-se suporte
teórico que indicasse como os construtos determinantes da imagem de preço
estariam inter-relacionados.
A preocupação com a relação entre o preço e a qualidade percebida (ZEITHAML,
1988) reflete diretamente na percep-ção de justiça. Lichtenstein, Rigdway e
Netemeyer (1993) mostram que o preço é um importante indicador do nível de
qualidade de um produto. Nesse sentido, observa-se que o preço, como refletor
de qualidade, impacta positivamente na percepção de justiça do preço de um bem.
A expressão é caro, mas é bom denota claramente que, mesmo pagando mais caro
pelo produto, o consumidor identifica que tal preço pode ser justo, pelo fato
de ter um significado para ele e pelos benefícios que recebe. A crença de que o
melhor é mais caro é exemplo de uma manifestação simbólica que reflete a
relação com a dimensão funcional. No contexto da imagem de preço, parece
plausível identificar que o processo cognitivo e mesmo uma dica extrínseca
relacionada com a análise do produto, como a marca e o preço, são necessários
para manifestar qualquer percepção simbólica relacionada com o produto
(HAWKINS, MOTHERSBAUGH e BEST, 2007; RUCKER e GALINSKY, 2008). Assim, eventos e
situações específicas podem causar diferentes percepções de justiça e de
emoções, estimulando diferentes significados para o preço de um produto
(BAGOZZI e DHOLAKIA, 1999; ADAVAL e MONROE, 2002; ZIELKE, 2011). Com isso,
pode-se inferir que:
H3 - A dimensão funcional tem impacto positivo na dimensão de justiça de preço
de um produto ou serviço.
H4 - A dimensão funcional tem impacto positivo na dimensão simbólica de um
produto ou serviço.
A busca por prestígio ou status no comportamento de compra pode ser motivada em
função da necessidade do consumidor de criar uma imagem social positiva de si.
Por isso o preço, como uma dimensão simbólica de poder e de status, pode
provocar emoções positivas no consumidor (ZIELKE, 2011). Desse modo, a
percepção de preços altos pode estar associada a maior prestígio, status e,
consequentemente, a emoções positivas. As pessoas compram objetos não somente
pelo que eles podem fazer, mas também pelo que eles podem representar (LEVY,
1981; STERN, ZINKHAN e JAJU, 2001). Assim, a dimensão simbólica do preço do
produto também tem relação com a dimensão axiomática representada pelo quão
importante e necessário o produto é para o consumidor (VINSON, SCOTT e LAMONT,
1977). Segundo Nagle e Holden (2003), muitas vezes o consumidor adquire um
produto com um forte poder simbólico, pois quer comunicar aos outros que tem
condições de tê-lo. Assim, o produto, como símbolo, pode promover a dimensão
social do preço, a partir do momento em que se percebe nele maior poder de
inserção no grupo social (SWEENEY, SOUTAR e JOHNSON, 1999). A partir desses
pressupostos, podem ser propostas as seguintes hipóteses de pesquisa:
H5 - A dimensão simbólica tem impacto positivo na dimensão emocional positiva
de um produto ou serviço.
H6 - A dimensão simbólica tem impacto positivo na dimensão axiomática de um
produto ou serviço.
H7 - A dimensão simbólica tem impacto positivo na dimensão social de um produto
ou serviço.
O preço tem um impacto significativo nas emoções do consumidor. Sendo a
percepção de justiça uma dimensão predominantemente racional, observa-se,
então, que tal dimensão impacta os sentimentos do consumidor (ZIELKE, 2011).
Segundo Xia, Monroe e Cox (2004), a percepção de um preço injusto está
associada a emoções negativas. Nesse sentido, preços altos considerados
injustos causam sentimentos de angústia, raiva ou de indignação (ZIELKE, 2010,
2011). O contexto no qual os consumidores comparam preços pode levar a um
sentimento (emoção) positivo ou negativo (XIA, MONROE e COX, 2004). Quando o
consumidor percebe estar obtendo uma vantagem, pode manifestar satisfação ou,
até mesmo, culpa ou intranquilidade. Porém, quando ele percebe que obteve uma
desvantagem (percepção de injustiça) no preço, em relação a outro comprador ou
fornecedor, um sentimento de raiva ou irritação pode manifestar-se (XIA, MONROE
e COX, 2004; ZIELKE, 2011). A percepção de justiça conduz a diferentes
sentimentos e emoções (HUANGFU e ZHU, 2012). Dentre essas emoções, pesquisas
indicam que a raiva é uma das principais emoções negativas encontradas em
situações de injustiça no preço (CHEN, TSAI e CHUANG, 2010). Além das
alterações nos estados emocionais, a injustiça em preço também pode afetar a
dimensão axiomática do consumidor em relação ao bem adquirido (SERPA, 2006).
Portanto, podem-se propor as seguintes hipóteses de pesquisa:
H8 - A dimensão de justiça tem impacto favorável na dimensão emocional positiva
de um produto ou serviço.
H9 - A dimensão de justiça tem impacto desfavorável na dimensão emocional
negativa de um produto ou serviço.
H10 - A dimensão de justiça tem impacto positivo na dimensão axiomática de um
produto ou serviço.
5. O ENVOLVIMENTO COMO VARIÁVEL MODERADORA DA IMAGEM DE PREÇO
Em se tratando de imagem de preço, pesquisas indicam (YEUNG e SOMAN, 2007) que
o envolvimento tem um efeito de moderação entre as dimensões e a imagem de
preço como valor. Assim, o envolvimento pode interferir significativamente na
percepção de valor de um produto e nas intenções de compra. O envolvimento é
tratado como uma relevância percebida pelo comprador em relação a um objeto,
com base em suas necessidades, valores e interesses (ZAICHKOWSKY, 1985, 1986).
O envolvimento também se refere ao grau de importância ou pertinência que o
consumidor confere a um objeto, pessoa ou situação (HELGESON e BEATTY, 1987).
Quanto maior o envolvimento do consumidor com uma informação ou produto, maior
será sua capacidade para percebê-lo e lembrá-lo devido à maior atenção dada às
informações relativas a esse objeto (CARO et al., 2011; SOLOMON, 2011). O
envolvimento do consumidor com um produto ou serviço é uma função de seu desejo
ou necessidade, de seus objetivos e valores e do conhecimento que tem do bem,
identificando seus atributos e benefícios.
Nota-se, pois, que o envolvimento está muito relacionado com o significado que
o produto representa para a vida do consumidor. Quanto mais envolvido com uma
categoria de produto, maior tende a ser o sentimento de encanto, alegria e
felicidade, pois o envolvimento implica uma relevância pessoal do produto que,
em geral, tem um valor hedônico para o consumidor. Diferentes estudos mostram
distintas interfaces da participação do envolvimento como influenciador do
comportamento de compra e consumo. O estudo de Miniard, Bhatla e Rose (1990)
identifica que, quando o envolvimento do consumidor é baixo, os fatores
emocionais são mais importantes nas atitudes dos consumidores do que os fatores
cognitivos. No entanto, para produtos com alto envolvimento, tanto os fatores
emocionais quanto os cognitivos têm impacto significativo nas atitudes (PEINE,
HEITMANN e HERRMANN, 2009). Nesse sentido, os indivíduos com baixo envolvimento
tomam decisões de forma diferente em relação aos indivíduos com alto
envolvimento (STANLEY e LASONDE, 1996). Assim, maior envolvimento do consumidor
com o produto indica maior necessidade de busca e processamento de informações,
a qual modera a relação entre preço e valor percebido do produto (TING, 2012).
Esse difere de acordo com o grau de envolvimento que o consumidor tem com o
produto (ZIELKE, 2010). Assim, quando aumenta o envolvimento do consumidor com
um produto ou serviço, aumenta a intensidade da relação entre as dimensões da
imagem de preço e o valor percebido do produto pelo consumidor. Assim, propõe-
se a seguinte hipótese de pesquisa:
H11 - O envolvimento do consumidor com um produto ou serviço modera a relação
entre as dimensões funcional, emocional positiva, emocional negativa, justiça,
axiomática, simbólica e social com o valor percebido do produto para os
consumidores.
A partir da revisão da literatura e do refinamento das dimensões de imagem de
preço de um produto ou serviço, elaborou-se o Quadro_1 que apresenta, de forma
sintética, as características dessas dimensões segundo a visão de pesquisadores
que as abordaram.
Com o propósito de mostrar as relações entre os construtos, elaborou-se o
modelo teórico constante na Figura_1, com as respectivas hipóteses de pesquisa
formuladas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo apresenta-se uma contribuição teórica ao tema de imagem de preço
de produto. Observou-se, ao longo da revisão da literatura, que o estudo da
imagem de preço é um tópico pouco abordado. Zielke (2006, 2010, 2011), um dos
poucos pesquisadores que abordam essa área de conhecimento, tem trabalhado com
a questão de imagem de preço de estabelecimentos comerciais, não se tendo
identificado pesquisas que tratem diretamente da imagem de preço de um produto
ou serviço. Sendo um assunto pouco abordado, nesta pesquisa buscou-se
compreender como a imagem de preço impacta o comportamento de compra, uma vez
que possui forte influência nas intenções de compra dos consumidores e,
consequentemente, no volume de vendas, no marketshare e na lucratividade das
organizações (MONROE, 1990; NAGLE e HOLDEN, 2003). Dada a importância do preço
nos indicadores de resultado das organizações, estudos relacionados à imagem de
preço são bastante úteis, uma vez que permitem um melhor entendimento de como o
preço pode impactar a percepção de valor e as intenções de compra do produto ou
serviço.
Estudos realizados com imagem (ZIELKE, 2006, 2011; DE TONI, 2009; SCHULER et
al., 2010) identificaram que ela é um construto latente e multidimensional,
formado a partir de diferentes dimensões. No caso da imagem de preço de
produto, verificou-se que ela está associada fortemente a sete dimensões:
funcional, emocional positiva, emocional negativa, simbólica, justiça,
axiomática e social. Algumas dessas dimensões da imagem do preço não são
independentes, mas estão inter-relacionadas entre si (ZIELKE, 2010). O
envolvimento do consumidor com o produto ou serviço exerce relevante papel ao
moderar a relação entre as dimensões da imagem de preço e o valor percebido do
produto. O modelo teórico proposto contempla essa visão integrativa dos
construtos formadores da imagem de preço e da relação com o valor percebido do
produto ou serviço, juntamente com as hipóteses de pesquisa.
Apesar da importância do preço nas decisões de compra, ele por si só não é
responsável pelas intenções de compra (ZIELKE, 2006), havendo outros fatores
que também são importantes nesse processo. A influência de fatores externos,
tais como estado da demanda, comunicação e distribuição, promoção de preços das
organizações ofertantes e fatores situacionais da compra, não foi levada em
conta neste estudo. Por exemplo, na compra de vestuário, o consumidor é
influenciado pela imagem da marca, pela imagem da loja, pela etiqueta da marca,
pelo design, pelos descontos oferecidos ou promoções, pela atmosfera da loja,
pela exclusividade do produto, pelo conforto, pela durabilidade, pela qualidade
do produto ou ambiente de compra, bem como pelo merchandising da loja (KRISHNA,
2011). Assim, essas e outras variáveis podem ser levadas em conta para futuros
estudos que queiram ampliar essa temática e agregar ao modelo proposto outros
antecedentes ou moderadores da imagem de preço que possam impactar a intenção
de compra.
O estudo da imagem de preço traz importantes implicações teóricas e gerenciais.
Destacam-se, neste estudo, duas implicações teóricas. A primeira é que o estudo
da imagem de preço é um tema pouco explorado na literatura de marketing e que,
devido a sua importância no comportamento de compra, merece um destaque maior
na literatura. Estudos de imagem de preço vêm sendo realizados por Zielke
(2006, 2010, 2011), mais especificamente em imagem de preço de lojas, não se
tendo identificado na literatura estudos relacionados à imagem de preço de
produto. Portanto, a proposição de um modelo conceitual para a mensuração da
imagem de preço de um produto ou serviço auxilia a melhor entender como as
imagens de preço de produto são configuradas e seus impactos sobre a intenção
de compra. A segunda implicação teórica indica que a imagem de preço é um
construto complexo e multidimensional. Nesse sentido, ao serem caracterizadas
sete dimensões que compõem a imagem de preço e suas inter-relações, quer-se
apresentar que a imagem de preço é um construto multi e interdimensional, ou
seja, além de ser composta de várias dimensões (multi), essas dimensões
relacionam-se entre si (inter). Essa condição reveste-se de importância teórica
e empírica, visto que a análise do comportamento do consumidor pode estar mais
fortemente fundamentada em uma visão de interdependências do que meramente em
uma abordagem multidisciplinar ou multidimensional (FOXAL, 2001).
Dentre as implicações gerenciais deste estudo, podem-se destacar duas. A
primeira é que esforços de pesquisa devem ser direcionados para identificar
como o consumidor percebe as informações de preço e como essas influenciam suas
escolhas (BOOM, 2011). A formação de qualquer estratégia de apreçamento pode
começar com uma análise das imagens de preço que os consumidores têm e as
diferentes formas de valor que representam para o indivíduo. Identificar e
mensurar as dimensões que compõem a imagem de preço de um produto ou serviço
auxiliam na definição de estratégias de preço, principalmente se focadas na
satisfação e na retenção do consumidor dentro de uma perspectiva de customer
lifetime value como forma de atingir a lucratividade da organização (KAMAKURA
et al., 2002). O entendimento da configuração da imagem de preço de um produto
ou serviço pode levar, assim, a melhorias no direcionamento das estratégias de
formação de seu preço. A segunda implicação gerencial é que as dimensões que
compõem a imagem de preço evidenciam um importante instrumento para direcionar
a estratégia de comunicação, possibilitando, de um lado, tornar o consumidor
menos sensível ao preço (menor percepção de sacrifício) e, de outro, aumentar o
valor percebido de benefícios derivados do preço de um produto ou serviço.
Dentre as várias competências da organização, a gestão de preço assume um papel
importante nas decisões estratégicas, na rentabilidade e na geração de renda
das organizações (VORHIES e MORGAN, 2005). A maximização dos preços na
tentativa de maximizar os lucros nem sempre é uma estratégia viável para muitos
produtos com baixa diferenciação, pois o consumidor pode perceber no preço
elementos de injustiça que geram emoções negativas e, portanto, baixo valor
percebido, o que afeta sua intenção de compra. Assim, uma visão mais externa no
apreçamento do produto se faz necessária, para que a empresa obtenha melhores
resultados. Empresas proativas na formação de preço devem aprender como seus
clientes o percebem, quais imagens formam o preço e como essa imagem influencia
sua percepção de valor e sua intenção de compra.
Como sugestão de direcionamento para futuras pesquisas, emerge a construção de
uma escala para mensuração da imagem de preço de produto. Tal escala pode ser
uma ferramenta importante para compreender como o consumidor configura suas
imagens de preço de produto e com isso melhor direcionar as estratégias de
comunicação e apreçamento de produtos por parte das empresas.