Fatores condicionantes do nível de maturidade em gerenciamento de projetos: um
estudo empírico em empresas brasileiras
1. INTRODUÇÃO
No Brasil observa-se que, de maneira geral, o número de organizações que estão
fazendo uso do gerenciamento de projetos está aumentando. À medida que cresce a
procura por gerenciamento de projetos, maior é a necessidade de compreender sua
utilização, os benefícios e as possibilidades de aplicação na gestão dos
negócios, uma vez que as organizações diferem quanto ao estágio em que se
encontram.
Os modelos de maturidade em gerenciamento de projetos, com uma abordagem
quantitativa, permitem que as organizações efetuem a aferição de suas práticas
de forma estruturada e progressiva, rumo à institucionalização dos processos.
De fato, na maior parte das vezes, os desafios enfrentados pelas organizações
referentes ao gerenciamento de projetos estão associados a ambientes complexos
e dinâmicos, à necessidade de conciliar atrasos, a orçamentos que se mostram
inviáveis, a clientes insatisfeitos, à falta de capacitação dos recursos
humanos, à inadequação da cultura corporativa, a processos falhos, à ausência
de informações e ao baixo nível de previsibilidade, entre outros. Muitas vezes,
essas disfuncionalidades podem representar perda de market share, desgaste
associado à marca e à imagem, perda de motivação e frustração de funcionários,
entre outros aspectos que podem comprometer a sobrevivência das empresas no
médio e longo prazos.
As pesquisas de Kwaak (2002), Ibbs, Reginato e Kwak (2003), Sonnekus e
Labuschagne (2004), Kerzner (2005) e Sukhoo et al. (2007) revelam que há uma
correlação positiva entre maturidade e desempenho de projetos. Poucas
pesquisas, entretanto, analisam os fatores condicionantes da maturidade em
gerenciamento de projetos, constituindo-se numa lacuna do conhecimento nessa
área, passível de exploração. Do ponto de vista prático, esses fatores, desde
que devidamente alavancados, poderiam ajudar as empresas a melhorarem seus
níveis de maturidade e, por consequência, o desempenho final de seus projetos.
Assim, à luz desse contexto, o propósito neste estudo, mediante uma pesquisa de
campo, é identificar os fatores condicionantes do nível de maturidade em
gerenciamento de projetos em empresas brasileiras. Para tal, é inicialmente
apresentada uma revisão teórica dos conceitos atinentes à maturidade em
gerenciamento e dos possíveis fatores condicionantes, a partir de uma tentativa
de estruturação. A seguir é apresentada a metodologia do estudo, com ênfase na
descrição do modelo conceitual, na definição das variáveis e nos procedimentos
de coleta de dados. Depois são apresentados os dados coletados, tanto em sua
forma descritiva quanto associativa, procurando estabelecer como os diferentes
fatores podem impactar o nível de maturidade do gerenciamento de projetos.
Finalmente, as conclusões do estudo são apresentadas, bem como suas limitações
mais importantes.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A história registra grandes feitos da humanidade, desde o início das
civilizações, que podem ser classificados como projetos. O livro-base sobre o
gerenciamento de projetos, PMBOK® (PMI, 2008), reúne esses conhecimentos
divididos em nove áreas de conhecimento integradas: integração, escopo, prazo,
custo, qualidade, recursos humanos, comunicação, riscos e aquisições,
considerando-se não só os processos de iniciação, planejamento, execução,
monitoramento e controle e encerramento, como também os princípios e práticas
geralmente aceitos e aplicáveis.
Segundo o PMBOK® (PMI, 2008, p.5), projeto pode ser definido como "um
empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto, serviço ou
resultado único". "Temporário" significa que cada projeto tem um começo e um
fim bem definidos. "Produto, serviço ou resultado único" significam que são, de
alguma forma, diferentes dos outros produtos, serviços ou resultados
semelhantes. Dada a definição supracitada, projetos são diferentes na essência
e, portanto, gerenciados de formas distintas dentro das organizações. Dvir,
Sadeh e Malach-Pines (2006) tratam projetos como organizações temporárias, as
quais apresentam variações quando comparadas à organização-mãe. Para muitas
organizações, segundo os autores, projetos são o meio de responder a requisitos
que não podem ser atendidos dentro dos limites normais de operação.
Para Cooke-Davies (2004), numa visão estratégica, variando entre organizações,
dois tipos de necessidades de inovação são estabelecidos para as organizações:
melhorias dos produtos, processos ou serviços; introdução de novos produtos ou
serviços, processos ou tecnologias. Para o atendimento de quaisquer dessas
necessidades, projetos são meios essenciais. Jugdev e Thomas (2002) discorrem
sobre a importância do gerenciamento de projetos para as organizações, os quais
entendem como um ativo estratégico, base para o crescimento e a sobrevivência
no longo prazo. Isso significa que os projetos para as organizações estão
associados à sua sobrevivência e podem maximizar o valor para os negócios,
viabilizar o retorno sobre os investimentos, minimizar os riscos, permitir o
alcance de objetivos estratégicos e aumentar a satisfação dos clientes.
Assim, gerenciar projetos de forma eficiente e eficaz é um dos grandes desafios
para as organizações modernas. A própria arte de gerenciar projetos por meio de
seus profissionais, segundo Crawford (2007), é um fator importante da
maturidade em gerenciamento de projetos. O autor observa que as organizações
necessitam ter visão e mover-se para a melhoria da capacidade em gerenciamento
de projetos com esforços direcionados. Melhorando o gerenciamento de projetos
numa série de pequenos passos, as organizações poderão atingir a maturidade
nesse quesito. De fato, Kerzner (2001) reconhece que as organizações que se
dedicam a desenvolver com propriedade o gerenciamento de projetos podem atingir
melhores resultados em termos de resultados empresariais.
Nessa linha de raciocínio, apresenta-se a seguir uma re-visão conceitual
das principais variáveis envolvidas neste tra-balho, a fim de construir uma
base de referência necessária e útil para a modelagem do método do estudo.
Inicia-se pelos modelos de maturidade e completa-se com seus fatores
condicionantes.
2.1. Modelos de maturidade em gerenciamento de projetos
Os dicionários conceituam a maturidade como algo maduro, totalmente
desenvolvido. Outras definições são encontradas no senso comum: idade madura,
perfeição, primor, firmeza e exatidão. Schlichter (1999, p.13-14) destaca que a
"maturidade implica o estado de estar totalmente desenvolvido.
Maturidade também pode conotar o entendimento ou visibilidade como o
sucesso ocorre e as formas para prevenir os problemas comuns".
Assim, pode-se concluir que maturidade é sinônimo de perfeição, algo que esteja
totalmente desenvolvido e atingiu seu nível mais alto. O próprio vocábulo
maturidade é tratado hoje em várias áreas do conhecimento, dentre as quais se
destacam: qualidade do desenvolvimento de software, gestão do conhecimento,
inteligência de negócios e gerenciamento de projetos. Especificamente nessa
área, os modelos de maturidade em gerenciamento de projetos derivam do modelo
de qualidade no desenvolvimento de software - Capability Maturity Model (CMM®),
atualmente Capability Maturity Model Integration (CMMI®), baseado no movimento
do Total Quality Management (TQC).
Os níveis de maturidade permitem que as organizações possam priorizar e
aperfeiçoar os esforços. Níveis significam a
"extensão para a qual uma organização tem explícita e
consistentemente desenvolvido processos que são continuamente
aperfeiçoados, controlados, medidos, gerenciados e documentados"
(CMMI PRODUCT TEAM, 2002, p.582).
Portanto, os níveis de maturidade significam passos rumo ao aperfeiçoamento em
gerenciamento de projetos. Esses passos estão associados ao domínio da
aplicação de ferramentas, processos, metodologias, conhecimentos e habilidades
aplicadas em projetos para atingir os objetivos organizacionais. Basicamente
variam dos níveis mais baixos (não capaz) até os mais altos (sólido; em
aperfeiçoamento contínuo).
Para serem efetivos, os modelos de maturidade precisam apresentar benefícios
para as empresas e retorno para os negócios. As organizações, hoje, são
favoravelmente sensíveis a modelos que possam trazer benefícios e retorno para
seus empreendimentos. Kwaak e Ibbs (2002) enfatizam que, avaliando o atual
estado das práticas nas organizações, os modelos de maturidade têm se tornado
sofisticados nos últimos anos, proporcionando às empresas mudanças na
disciplina organizacional de como executar projetos com alta probabilidade de
sucesso. Para Skulmoski (2001), a expansão da maturidade pela organização
permite que gerentes de projetos administrem com sucesso seus projetos. A
implementação, além de fomentar o desempenho organizacional, dará condições de
aumentar as oportunidades de mercado. White e Yosua (2001) observam que os
modelos de maturidade mostram um caminho lógico de desenvolvimento,
independentemente do nível em que se situam, para as organizações que desejam
tomar ações específicas para progredirem.
Os modelos mais conhecidos de maturidade em gerenciamento de projetos aplicados
às organizações e não a projetos individuais são: Project Management Maturity
Model (PMMM) da PM Solutions; Kerzner Project Management Maturity Model
(KPMMM); ESI International's Project Framework (ESI); Proj-ect Management
Maturity Model (PM3 - Berkeley); Proj-ect Management Process Maturity
(PM2); Project Management Process Maturity - Office of Government Commerce
(OGC); Integrated Management Systems Incorporated (IMSI); OGC Portfolio
Management Maturity Model (P3M3); e o Organizational Project Management
Maturity Model do PMI® (OPM3®).
A estrutura hierárquica do Project Management Maturity Model (PMMM) da PM
Solutions, adotado neste estudo, muito se assemelha aos conceitos, e não
propriamente à denominação dos níveis, do modelo definido pela SEI-CMMI®. Esse
modelo apresenta sua estrutura em cinco níveis de maturidade em gerenciamento
de projetos: processo inicial; processo estruturado e padrão; processos
institucionalizados e padrões organizacionais; processos gerenciados; processos
otimizados. O modelo explora, em cada nível, as nove áreas de conhecimento do
PMBOK® à luz de três especiais dimensões de influência na adoção das práticas
de gerenciamento de projetos: escritório de projetos, funções de gerenciamento
e desenvolvimento profissional.
Na primeira dimensão, o escritório de projetos, quando existente em algum grau,
torna mais simples a vida dos participantes da equipe de projetos, dando
suporte a suas necessidades. Esse suporte implica o apoio às atividades de
consultoria, mentoring, desenvolvimento de carreira, metodologias, treinamento,
entre outras, servindo como ponto de apoio à busca da maturidade em
gerenciamento de projetos pela organização. Na segunda dimensão, as funções de
gerenciamento passam a facilitar o envolvimento de líderes no papel de suporte
executivo aos projetos. Ainda nessa dimensão, a organização passa a orientar-se
por meio de indicadores de desempenho, dando sinais de quais ambientes
necessitam de mudanças. Na terceira dimensão, o desenvolvimento profissional
passa a requerer uma atenção especial da organização. O desenvolvimento das
habilidades técnicas, humanas e específicas passa a ser imperativo para o
desempenho dos projetos, cabendo à organização refinar e renovar o conhecimento
dos profissionais envolvidos nessas atividades.
O modelo, segundo Crawford (2007), pode ser avaliado em duas abordagens quanto
ao nível em que é empregado pelas empresas. A primeira abordagem é chamada de
avaliação independente. Profissionais experientes em sistemas de controle,
estrutura organizacional, competências gerenciais, desenvolvimento
profissional, gerenciamento de projetos e na própria metodologia PMMM podem
conduzir a avaliação e determinar o nível de maturidade em gerenciamento de
projetos de uma organização. Já a segunda abordagem é conhecida como avaliação
facilitadora. Em sua forma, uma pequena equipe de gerentes experientes pode
conduzir uma autoavaliação seguindo os mesmos procedimentos da avaliação
independente. Com base nos resultados, a equipe de avaliadores conduz, com a
participação da alta administração, um plano de implementação para atingir os
níveis de maturidade desejados.
Na Figura_1, apresenta-se a abordagem do modelo PMMM, o qual prima pelo
sincronismo na evolução dos processos organizacionais e na aferição periódica
do nível da maturidade em gerenciamento de projetos. Um ponto a destacar nesse
modelo, diferente dos demais citados, é a avaliação das dimensões: nível versus
áreas de conhecimento PMBOK® - sempre será considerado o menor valor avaliado
do nível de maturidade. Portanto, se uma organização atingiu o nível 4 em
gerenciamento de escopo, mas foi avaliada no nível 3 em tempo, a empresa estará
no nível 3. A racionalidade desse modelo reside no fato de que a organização
não conseguiu a perfeição em determinada área de conhecimento e necessita
aperfeiçoar seus processos - uma particularidade que, quanto ao nível mínimo, o
diferencia dos demais, que atribuem uma nota geral à maturidade organizacional.
É importante destacar que, na atualidade, os modelos de maturidade têm um papel
importante para as organizações no sentido de identificar e avaliar suas
melhores práticas em gerenciamento de projetos.
2.2. Fatores condicionantes para a maturidade
Inicialmente, alguns termos necessitam ser conceituados. As seguintes
definições do Dicionário Larousse Cultural serão adotadas para efeito deste
estudo:
* Fator = elemento que concorre ou contribui para um resultado.
* Condicionar = 1. Impor condições; 2. Submeter a determinadas condições.
Na bibliografia pesquisada no período de 1983 a 2005, Baker, Murphy e Fisher
(1983), Pinto e Slevin (1988, 1998), Shenhar e Wideman (1996), Shenhar, Ofer e
Dvir (1997), Cooke-Davies e Arzymanow (2003) e Kerzner (2005), entre outros,
apontam, individualmente, um número muito grande de fatores condicionantes do
sucesso ou fracasso de projetos, mas não proporcionam uma visão de sua
influência sobre a maturidade em gerenciamento de projetos, condição entendida
como intermediária e necessária para o alcance do sucesso dos projetos como
parte de uma visão prospectiva. Além disso, alguns desses fatores são tratados
como imperativos por certos autores, porém nem sequer são considerados ou
discutidos por outros. Tendo em mente essas restrições, tais fatores, para
efeito deste estudo, foram agrupados em seis dimensões básicas.
2.2.1. Fator pessoas
A prática mostra com propriedade a importância de pessoas em projetos e o
quanto esse fator pode contribuir para elevar seu desempenho. Verma (1995),
Skulmoski (2001), Rabechini Jr. e Carvalho (2003), Rad e Levin (2003), PMI
(2004), Ives (2005), entre outros pesquisadores, têm enfatizado a importância e
a criticidade do fator pessoas em projetos. Cooke-Davies (2004) é categórico em
afirmar a importância do lado humano em projetos e quão fundamental é seu
gerenciamento para as organizações progredirem e buscarem a excelência. Esse
fator, por sua vez, compreende um conjunto de subfatores inter-relacionados e
presentes durante o ciclo de vida de um projeto, aqui sintetizados em equipe,
liderança, competências e certificações.
No que tange à equipe, pode-se inicialmente considerar que ela é composta por
pessoas que têm papéis e responsabilidades para entregar um resultado (PMI,
2008). Segundo Verma (1995) e Cooke-Davies (2004) , o gerenciamento de projetos
compreende duas abordagens: técnica e humana. A dimensão técnica está associada
aos processos de gerenciamento de projetos. A abordagem humana inclui não
somente os recursos responsáveis pela entrega dos resultados, mas também o
conhecimento e a experiência que os participantes, como equipe, agregam. Verma
(1995) destaca que nos últimos anos projetos foram gerenciados com uma
abordagem técnica, a qual tem amadurecido, enquanto igual ou maior ganho
poderia ser atingido nas habilidades humanas. O autor reforça que muitas
organizações reconhecem a importância das equipes como fator-chave para o
alcance da maturidade no gerenciamento efetivo de projetos.
Liderar é, por sua vez, a característica mais importante da habilidade
gerencial, segundo Yasin e Zimmerer (1998). Em seu estudo com aproximadamente
10.000 projetos nos Estados Unidos, 76% dos pesquisados reportaram que uma boa
liderança conduz ao sucesso em projetos, enquanto 67% acreditam que uma
liderança pobre possa gerar falhas. Em outro estudo desenvolvido por
Kloppenborg, Opfer e Shriberg (2002) sobre certas características
comportamentais e de liderança, os autores concluem que determinados ambientes
organizacionais fomentam a liderança em projetos e dão suporte a ela. Os
resultados desse estudo mostram que a razão principal de falhas em projetos
está ligada à falta de liderança, o que Norrie e Walker (2004) já haviam
confirmado. Do mesmo modo, Forsberg, Cotterman e Mooz (2000) observam que a
liderança é um dos mais importantes componentes dos projetos a ser trabalhado
pelo gerente de projetos. A liderança garante que os participantes do projeto
atuem juntos para atingir os objetivos e resultados, numa abordagem de
parceria. De fato, uma equipe bem formada é produto de uma boa liderança. O
líder precisa inspirar confiança na equipe, direcionando todos para os
objetivos e atuando como um agente de mudanças. Uma liderança efetiva e
reconhecida pode conduzir a equipe a um melhor nível de maturidade em
gerenciamento de projetos.
A competência é um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
necessárias de indivíduos para alcançarem resultados diferenciados, conforme
Skulmoski (2001), Rad e Levin (2003) e Rabechini Jr. e Pessoa (2005). Na visão
de Waller (1997), a competência pode ser definida como um conjunto de
conhecimentos, comportamentos requeridos e um mínimo de habilidades necessárias
para executar de forma satisfatória uma dada atividade. Segundo Kerzner (2000)
e Bolles e Hubbard (2007), uma organização que pretenda atingir significantes
objetivos estratégicos necessita desenvolver programas compreensivos de
educação e treinamentos que efetivamente proporcionem conhecimentos e
habilidades aos gerentes de projetos e equipe. Para Rabechini Jr. (2003), as
organizações rumo à maturidade em gerenciamento de projetos precisam considerar
o desenvolvimento de competências - indivíduo, equipes e organização - e
constituir uma perspectiva estruturada nesse sentido. Segundo Jugdev, Thomas e
Delisle (2001), desenvolver as competências essenciais em gerenciamento de
projetos, pode ser a atividade-chave para a sobrevivência e o crescimento das
organizações.
Finalmente, dentro do fator pessoas, cabe considerar a certificação. As
certificações mais importantes são reconhecidas globalmente e têm proliferado
nos últimos anos por vários institutos qualificados mundialmente em
gerenciamento de projetos, tais como: Project Management Institute (PMI®),
International Project Management Association (IPMA), Office Government Commerce
(OGC), Association for Proj-ect Manag-ement (APM) e Australian National
Competency Standards for Project Management. De acordo com o PMI®, os números
de certificações mundiais PMP® cresceram quase 700% de 2002 (53.000) até
fevereiro de 2011
(1*)
(420.602). As razões para esse crescimento estão associadas a dois fatores,
numa visão organizacional, segundo Frame (1994): a capacidade do gerenciamento
de projetos para ajudar as organizações a sobreviverem em tempo de mudanças e o
suporte das organizações no desenvolvimento das competências de gerenciamento
de projetos dos funcionários. É importante destacar que as certificações não se
restringem às instituições mundialmente credenciadas, as organizações têm
desenvolvido programas internos de certificações em suas metodologias,
conceitos e práticas de gerenciamento de projetos para capacitar seus
colaboradores. Entende-se que, incrementando o número de certificações em
gerenciamento de projetos, despertam-se e desenvolvem-se habilidades
específicas nos profissionais, que podem influenciar positivamente na busca
pela maturidade.
2.2.2. Fator processos
A natureza do trabalho em gerenciamento de projetos pode estar associada ao uso
constante de melhores práticas, de metodologias e de indicadores que permitam
avaliar o progresso dos processos associados. Entende-se que esses itens, uma
vez presentes e trabalhados, juntos ou isoladamente podem aumentar as
possibilidades de as organizações elevarem o nível de maturidade em
gerenciamento de projetos e, em decorrência, conseguirem melhores vantagens
competitivas (GRAHAM e ENGLUND, 1997; COHEN e GRAHAM, 2001; KENDALL e ROLLINS,
2003).
As melhores práticas estão associadas intrinsecamente ao uso constante de
processos de forma repetível. Esse uso constante permite que as organizações
aprendam e incorporem inovações a seus processos, produtos e/ou serviços por
meio do conhecimento e da experiência. Tais práticas, que fazem parte do
capital intelectual das organizações, são transformadas em valor para elas sob
a forma de receita, lucratividade, satisfação de clientes, produtos e/ou
serviços entregues. O OPM3® (PMI, 2003, p.13) define as melhores práticas como:
"a habilidade de entregar projetos de forma previsível, consistente e
com sucesso para implementar a estratégia organizacional. Além disso,
as melhores práticas são dinâmicas porque evoluem com o tempo".
Usando-se as melhores práticas, aumenta-se a probabilidade de um objetivo ou
meta divulgada serem atingidos.
Em vista da dinâmica de negócios e elevada complexidade em que os projetos
estão envolvidos, as organizações necessitam trabalhar de forma estruturada e
uniforme quanto a seus processos. Ao emprego de processos estruturados,
repetidos e contínuos atribui-se o nome de metodologia. Quando uma organização
utiliza uma metodologia, de forma gradual e segura para seus negócios, está
dando passos rumo à institucionalização de práticas e processos estruturados e
padronizados, num modelo que se repete, buscando a maturidade. A metodologia de
gerenciamento de projetos compreende as melhores práticas - internas e externas
- , as áreas de conhecimento, bem como templates, checklists, documentos,
ferramentas, técnicas e procedimentos das organizações, permitindo-lhes uma
flexibilidade adequada para serem adaptadas a cada projeto, consideradas suas
particularidades. O PMBOK® é utilizado por organizações como um guia básico
para a construção de suas metodologias de gerenciamento de projetos. Além
disso, as metodologias necessitam considerar a cultura, missão e valores das
organizações, devendo estar sempre orientadas para a satisfação do cliente.
Considerando-se a globalização e a governança corporativa, algumas metodologias
de gerenciamento de projetos podem estar integradas aos processos de qualidade,
riscos, engenharia (KERZNER, 2001, 2005), buscando a maior sinergia dos
esforços organizacionais. Entende-se, assim, que o uso de metodologias
constitui um importante fator para atingir a maturidade e a excelência no
gerenciamento de projetos, aumentando, assim, as possibilidades de sucesso nas
organizações.
Finalmente, deve-se reconhecer que os projetos entregam valor para as
organizações. Para muitas organizações, projetos representam diretamente uma
fonte de inovações e geração de novas receitas de produtos e/ou serviços para
sua sobrevivência, entre outros significantes benefícios. Como não é possível
gerenciar o que não pode ser medido, a necessidade de indicadores de desempenho
em pontos de controles nos projetos é imperativa para a avaliação e a definição
de rota. Os indicadores podem ser vistos como uma prática necessária aos
projetos e aos negócios, pois direcionam comportamentos e ajudam a organização
a responder prontamente a oportunidades e problemas, diante das pressões por
excelência no gerenciamento de projetos. Indicadores servem, também, como um
instrumento-base para a comunicação clara e objetiva à equipe, aos
patrocinadores e demais stakeholders, e não somente para a alta administração
(BARBER e MILEY, 2002). Os indicadores de desempenho são uma fonte de
comunicação concisa da visão e dos objetivos, a partir dos quais a organização
pode fomentar a criatividade e o espírito de equipe em direção ao alcance de
suas metas (LEBEL, 2005). Por sua vez, a aplicação de indicadores serve para
nortear a existência das organizações ao longo de seu ciclo de vida e não
apenas pontualmente, nos momentos de crise. Assim, a existência de indicadores
como um instrumento de gestão e seu uso constante podem redirecionar decisões e
ações na tentativa de obtenção de mais altos níveis de maturidade em gestão de
projetos para obter e sustentar vantagens competitivas.
2.2.3. Fator tecnologia
As tecnologias aplicadas a projetos têm mostrado significativos avanços desde a
década de 1970. Tais avanços têm sido determinantes para a posição competitiva
que muitas organizações buscam, especialmente para que possam dar respostas
ágeis a suas necessidades na era da informação. Esse fator pode ser organizado
em sistemas de informação e suporte à tomada de decisão.
Usualmente, as tecnologias aplicadas a projetos convergem para um conceito
definido pelo PMI® como Project Management Information System (PMIS), o qual
compreende
"um conjunto padronizado de ferramentas automatizadas disponíveis na
organização e integradas a um sistema. [...] é utilizado pela equipe
de gerenciamento de projetos para monitorar e controlar a execução de
atividades que são planejadas e programadas no plano de gerenciamento
de projeto" (PMI, 2004, p.95).
O conceito explorado pelo PMI® considera que aplicativos, sistemas e
equipamentos trabalhem juntos para dar suporte à equipe no planejamento e
controle de projetos. Kerzner (2005) discorre sobre os quatro sistemas de
informação de projetos que podem ser coletados para alimentar o PMIS, são eles:
desempenho físico-financeiro; falhas no desempenho; gerenciamento de riscos; e
lições aprendidas. Basicamente, o PMIS pode coletar e integrar os dados
provindos de vários sistemas corporativos, evitando a fragmentação e
proporcionando informações consistentes e estruturadas acerca dos projetos para
os stakeholders. Esses sistemas, para uma boa governança, precisam fornecer as
informações e indicadores-chave de desempenho durante o ciclo de vida e na
etapa de pós-morte de todos os projetos. Atualmente o conceito de PMIS começa a
ser explorado em ferramentas de mercado, conhecidas como Project and Portfolio
Management (PPM). Esses sistemas de informações específicos podem acelerar o
processo de maturidade no gerenciamento de projetos, fomentando o suporte
gerencial às atividades de planejamento e controle e intensificando a
comunicação e a colaboração entre os membros da equipe.
Um dos maiores benefícios que as tecnologias podem trazer aos projetos é
permitir que mais integrantes da equipe compartilhem mais informações com mais
facilidade e qualidade, melhorando a tomada de decisão. Em complemento, Kerzner
(2005) observa que o sucesso ou falha em projetos depende da habilidade de a
pessoa-chave ter os dados suficientes para tomada de decisão. A informação
dentro desse contexto é, sem dúvida, o combustível para mudanças estratégicas,
necessárias à evolução natural das organizações. Assim, quanto mais decisões
necessitem ser tomadas com qualidade e no tempo certo, maior a maturidade
exigida no gerenciamento de projetos.
2.2.4. Fator clientes
Os padrões de qualidade e exigência por parte de clientes vêm aumentando nos
últimos tempos em decorrência dos princípios impulsionados por seus expoentes:
Deming e Juran na década de 1950. No centro desses princípios da qualidade está
o cliente como um fator importante para as organizações. Para sustentar essa
filosofia e competir no mercado, as organizações precisam integrar seus
processos de qualidade para atender às expectativas de clientes. Para Kerzner
(2001), as organizações maduras admitem que não podem definir precisamente o
que é qualidade de um projeto, pois é o cliente quem determina se o produto e/
ou serviço foi entregue e aceito dentro das especificações contratuais.
Entende-se assim que, quanto maior a atenção dada ao cliente, mais maduro seria
o gerenciamento de projetos. Este fator pode ser organizado em relação a
monitoramento da satisfação e relacionamento cliente-equipe.
A necessidade de atingir um índice maior de satisfação de clientes exige maior
empenho, dedicação e, principalmente, consciência organizacional e patrocínio
executivo. Em outras palavras, a organização inteira, do topo à base, precisa
mover-se para atingir os melhores índices de satisfação de clientes mediante
uma atmosfera adequada. O PMI (2004) advoga que a satisfação é um meio para
atingir as expectativas, permitindo que as organizações obtenham uma lealdade
maior de clientes ante os competidores. A satisfação de clientes precisa ser um
pro-cesso a considerar-se ao longo do ciclo de vida do projeto, medindo-se
continuamente os níveis de expectativa à luz dos objetivos. Essa medição
precisa contemplar os diferentes objetivos, necessidades, expectativas e
preocupações em relação aos entregáveis dos projetos, não apenas por parte dos
clientes, mas também por parte dos stakeholders, em face dos compromissos por
eles assumidos. Assume-se que uma pressão pelo correto tratamento desses
elementos alavanque a busca por uma maturidade melhor na área de gerenciamento
de projetos.
Numa abordagem orientada para a interação entre clientes e equipe, segundo
Kerzner (2001), ambas as partes precisam trabalhar em sintonia, totalmente
dedicadas; o que pode aumentar significativamente as probabilidades de sucesso
dos projetos. Para tanto, cada uma das partes necessita compreender exatamente
as necessidades fundamentais que estão em jogo. Essa compreensão permite que
todos tenham um claro entendimento do problema a ser resolvido, dos anseios,
das expectativas e benefícios que o projeto se propõe a entregar. O gerente de
projetos tem, nesse contexto, segundo Verma (1995), uma das mais nobres
funções: atuar no papel de liaison (elo) entre os clientes e equipe,
constituindo-se num ponto focal. Compete ao gerente de projetos influenciar o
ambiente, intensificando o relacionamento e fomentando a cooperação, a
confiança e o respeito de todos para garantir uma atmosfera propícia à execução
do projeto, buscando atender, em última instância, o compromisso com o cliente.
A participação do cliente ao longo do ciclo de vida do projeto precisa ser
vista também sob o ponto de vista de um patrocinador, não necessariamente nesse
papel, mas dando suporte e proporcionando a assistência constante para toda a
equipe. Esse envolvimento constante do cliente durante o projeto permitirá uma
aceitação final com maior nível de confiança e satisfação, além de criar
condições para o surgimento de novas oportunidades. Enfim, o cliente pode
exercer um papel de visitante constante aos objetivos, premissas, restrições,
riscos e resultados dos projetos. A quantidade e a qualidade dessa
participação, consubstanciada na interação entre as partes, estão ligadas
diretamente ao nível de maturidade em gestão de projetos. Quanto mais
reconhecida como importante, maior sua influencia pela busca de níveis mais
altos de maturidade.
2.2.5. Fator negócios
O aumento da população, os avanços tecnológicos, a industrialização dos países
emergentes e a globalização da economia mostram uma direção natural para a
evolução dos negócios nas organizações (IVES, 2005). Para efeito deste estudo,
esse fator será considerado sob três aspectos: entrega de resultados, vantagem
competitiva e agregação de valor.
Ives (2005) reconhece que o gerenciamento de projetos po-de proporcionar a
disciplina, o foco e a flexibilidade necessá-rios para entregar resultados
às organizações. Em vista dos desafios e da necessidade de se fazerem mais
negócios, as organizações têm explorado as práticas de gerenciamento de
projetos como meio de entrega de produtos e/ou serviços de qualidade, criando
valor para os stakeholders. Para Bolles e Hubbard (2007), isso indica que as
organizações estão aumentando a dependência do uso de projetos como parte de
estratégias vencedoras de negócios apoiadas numa vantagem competitiva maior.
Srivannaboon (2006) realça que o gerenciamento de projetos é usado para atingir
uma série de metas de negócios, estratégias e atividades bem definidas quanto a
prazos e custos. Portanto, a essência do gerenciamento de projetos consiste em
dar suporte à estratégia competitiva da organização para entregar determinado
resultado. Quanto mais isso for necessário, maior o grau exigido de maturidade
em gestão de projetos.
Shenhar e Dvir (2007) em seu estudo identificam os projetos como um paradigma-
chave - um processo que contribui para os objetivos de negócios de longo prazo,
criando valor e otimizando a satisfação dos clientes. Portanto, o gerenciamento
de projetos é um processo de negócios que faz parte da organização,
interligando suas estratégias para conseguir maior vantagem competitiva. As
estratégias no contexto deste estudo estão associadas às seguintes dimensões
críticas: estabelecimento de um propósito para a organização, com objetivos de
longo prazo, planos de ação e priorização de alocação de recursos; resposta a
oportunidades e ameaças externas e às forças e deficiências internas;
contribuição econômica que a organização precisa apresentar a seus
stakeholders. Essas estratégias têm o objetivo de alcançar a vantagem
competitiva. Para Thompson Jr. e Strickland III (2004), uma organização tem
vantagem competitiva sempre que conseguir tirar proveito da concorrência para
atrair os clientes e defender-se contra as forças competitivas. Deve-se, então,
esperar que tal pressão influencie positivamente na obtenção de níveis mais
elevados de maturidade.
Finalmente, Bolles e Hubbard (2007) advogam que incorporar os processos de
gerenciamento de projetos requer uma análise sobre como as organizações atingem
os objetivos e desenvolvem as estratégias de negócios. Essa estratégia de
negócios é tipicamente operacionalizada em portfolio, programas e projetos. De
acordo com Morris e Jamelson (2005), para uma boa governança corporativa é
importante que as organizações entendam sua estratégia de negócios associada à
gestão de portfolio de projetos, de tal forma que possam identificar,
categorizar, avaliar, selecionar, priorizar, balancear e entregar valor para
seus acionistas. Portanto, a pressão pela entrega de valor requer os processos
de gerenciamento de projetos mais maduros.
2.2.6. Fator organização
O fator organização constitui a base sobre a qual se assenta o gerenciamento de
projetos. Entende-se que, quanto mais sólida é essa base, mais maduro tende a
ser o gerenciamento. Esse fator pode ser decomposto nos subfatores cultura,
estrutura organizacional, escritório de projetos e patrocínio executivo.
Inicialmente, o subfator cultura inclui os valores, princípios e padrões de
comportamento geralmente aceitos, tanto nos relacionamentos internos quanto nos
externos. Inclui os estilos gerenciais, educação, línguas, religião, aspectos
políticos e capacitações. De forma geral, os gerentes de projetos precisam
tratar as diferentes culturas para dar suporte, administrar e retirar os
obstáculos para que a equipe conduza o projeto em direção aos resultados.
Assim, podem servir como alicerce para um gerenciamento de projetos maduro nas
organizações.
No que diz respeito à estrutura organizacional, essa precisa fomentar a
composição das equipes e o trabalho de forma coesa. Como as estruturas
organizacionais influenciam a forma como os projetos são executados, cada
organização cria sua estrutura organizacional com suas vantagens e
desvantagens, em face de uma série de determinantes. Todavia o gerente de
projetos, atuando em organizações com melhor nível de estruturação e
considerando suas características pessoais, pode navegar na hierarquia e
explorar com maior propriedade a autoridade e o poder. Essa autoridade e esse
poder, de forma balanceada, podem auxiliar a equipe de projetos e seu gerente
no melhor desempenho das atividades e nas tomadas de decisões. Além disso, pode
dar melhores condições ao gerente de projetos na negociação de recursos, na
busca por um sincronismo com as áreas funcionais e atendimento aos clientes.
Portanto, é de se esperar que o uso de estruturas mais adequadas a determinadas
situações conduzam a um nível de maturidade maior no gerenciamento de projetos.
O desafio e a necessidade crescente das organizações em controlar e entregar
projetos com sucesso torna-se uma exigência competitiva. O crescimento da
importância, a quantidade e a complexidade dos projetos exigem a adoção de uma
estrutura formal que dê suporte e integre essas atividades. O escritório de
projetos (Project Management Office - PMO) mostra-se assim como um fator-chave
para tal, assegurando a efetiva aplicação em busca da excelência no
gerenciamento de projetos. A origem do PMO é uma prática que vem sendo adotada
desde a década de 1950 e tem sofrido mudanças na forma de atuação em
decorrência da tecnologia, de questões organizacionais e da própria evolução do
gerenciamento de projetos. No PMBOK® (PMI, 2008, p.11),
"o PMO é um corpo ou unidade organizacional à qual são atribuídas
várias responsabilidades relacionadas ao gerenciamento centralizado e
coordenado dos projetos sob seu domínio".
Para Kerzner (2001) e Cleland e Ireland (2002), o PMO é um conjunto de funções
que objetiva dar suporte aos gerentes de projetos no desempenho de suas
obrigações. Nesse contexto, o PMO passa a ser um centro de excelência na
propagação dos conhecimentos, metodologias, medidas de desempenho e melhores
práticas no gerenciamento de projetos, contribuindo, assim, para o aumento do
nível de maturidade nas organizações.
As organizações são estruturas complexas e dinâmicas, as quais exigem o
envolvimento de grupos de stakeholders com objetivos, critérios, necessidades,
visões e interesses distintos, que podem introduzir facilidades ou obstáculos
para o bom desempenho dos projetos. Na visão de Kassinis e Vafeas (2006), os
stakeholders podem influenciar diferentemente as organizações, exercendo
pressão e poder sobre o ambiente para buscarem maior competitividade. Os
projetos são executados dentro desse ambiente. Verzuh (1999) enfatiza o quão
crítica é a adoção de patrocinadores para o sucesso dos projetos. O
patrocinador terá as funções de prover, promover e proteger a autoridade formal
na organização ao gerente de projetos. Levin e Skulmoski (2000) complementam
que o compromisso e o patrocínio executivo são pré-requisitos para o sucesso de
uma organização que deseja atingir a maturidade em gerenciamento de projetos.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo pode ser visto como de natureza descritiva e correlacional.
Descritiva pela finalidade de levantar os níveis de maturidade em gerenciamento
de projetos existentes nas organizações e pela presença de determinados fatores
condicionantes. Correlacional porque procura estabelecer e analisar as relações
entre tais variáveis.
Quanto ao método de pesquisa, ele caracteriza-se como parte dos estudos de
campo, os quais tendem a ser mais profundos e complexos, porém não
necessariamente amplos. Nesse método, trabalha-se com amostras que permitem
maior entendimento acerca de relações entre variáveis, sujeitas a análises
estatísticas, sem necessariamente se preocupar com a causalidade. As
mensurações nos estudos de campo são geralmente imprecisas, sendo comum o uso
de medidas aproximadas ou indiretas, baseadas em percepções, segundo Selltiz,
Wrightsman e Cook (1987a, 1987b).
O modelo conceitual do estudo, à luz do objetivo central, conforme a Figura_2,
consiste na análise da variável independente (X) - intensidade da presença dos
fatores condicionantes - e da variável dependente (Y) - nível de maturidade em
gerenciamento de projetos - , bem como das relações entre elas, considerando-se
ou não determinadas variáveis moderadoras (W). No que tange a essas, dentre
muitas, foram definidas as seguintes: tipos de organizações, portes e segmentos
da economia em que estão inseridas. A lógica residiu no pressuposto de que as
organizações com características jurídicas distintas, com maior capacidade de
faturamento e em determinados segmentos da economia, de forma individual ou
combinada, poderiam apresentar relações distintas entre os fatores
condicionantes e os níveis de maturidade em gerenciamento de projetos. Todavia,
para efeito deste artigo, em face das restrições de espaço, as análises
correlacionais com a inclusão das variáveis moderadoras não serão aqui
apresentadas.
Para a obtenção de dados, foi elaborado um questionário composto, em sua parte
central, de 23 questões de múltipla escolha. Foi destinada uma questão para a
variável dependente, a fim de identificar, em cada empresa pesquisada, o nível
predominante de maturidade em gerenciamento de projetos (nível 1 ao nível 5)
existente na empresa, segundo a percepção do respondente, conforme modelo do
PMMM. Além disso, com base nos fatores e subfatores condicionantes da
maturidade - variáveis independentes - apresentados na fundamentação teórica,
foram elaboradas mais 22 questões para avaliação, também segundo a percepção do
respondente, do grau de presença de tais fatores, para as quais se utilizou a
escala de Likert de cinco pontos (1 = Baixa Presença e 5 = Alta Presença). Além
disso, foram obtidos dados sobre as características das organizações
pesquisadas e dos respectivos respondentes segundo escalas classificatórias.
O questionário foi pré-testado em campo com quatro organizações em três
diferentes segmentos da economia no sentido de desvendar contradições
aparentes, ou até mesmo discrepâncias, limitações e dúvidas sobre sua
compreensão. O questionário final foi então remetido por meio de correio
eletrônico - e-survey, ou seja, procedimento de coleta de dados administrado
pela Internet em site especializado - a 25.391 associados constantes nas bases
de dados dos 12 Chapters locais do PMI®: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Distrito
Federal, Goiás, Pernambuco, Ceará e Maranhão, de forma não probabilística,
representando 1,9% de seus associados.
O período de coleta de dados foi de 44 dias úteis, seis semanas, finalizando-se
o processo em novembro de 2007. Não houve critérios de seleção quanto à
inclusão de cada organização, atribuindo-se a ela a mesma probabilidade de
participação para fins de composição final da amostra. A amostra final foi
composta de 473 questionários preenchidos, 1,9% dos associados do PMI®. Os
respondentes representavam 360 organizações de diferentes tipos, portes e
segmentos da economia brasileira, conforme distribuição constante da Tabela_1,
evidenciando uma alta presença de empresas privadas com capital brasileiro, de
médio e grande portes, e pertencentes a setores considerados de alta
intensidade tecnológica, em sua maioria.
Participaram como respondentes deste estudo profissionais responsáveis pela
área de gerenciamento de projetos, em nível de coordenação ou superior,
tomadores ou influenciadores de decisões. No que tange às áreas de formação dos
respondentes, constatou-se que 381 (80,5%) deles eram das áreas de exatas e 88
(18,6%) de humanas, seguidas de biológicas com quatro (0,8%). No que concerne à
faixa etária, 335 (70,8%) dos respondentes estavam entre 31 e 50 anos de idade.
Analisando-se esses resultados por faixas, 212 (44,8%) estavam entre 31-40
anos, e 123 (26,0%) entre 41-50 anos de idade. Nas faixas superiores de idade,
acima de 50 anos, estavam 43 (9,1%) dos respondentes da amostra. Considerando-
se o tempo de experiência dos respondentes em gerenciamento de projetos,
observou-se que 396 (83,7%) estavam com até 14 anos. O maior grupo de
profissionais localizava-se na faixa inicial de experiência, de 0 a 5 anos,
representando 168 (35,5%) dos respondentes. O segundo grupo contou com
profissionais de 6 a 9 anos de experiência, 147 (31,1%) dos respondentes. O
terceiro grupo, de 10 a 14 anos, contou com 81 (17,1%) dos respondentes. Os
profissionais com experiência acima de 15 anos representavam o restante da
amostra, 77 (16,3%). Quanto à atual posição hierárquica nas organizações, 215
(45,5%) dos respondentes atuavam como gerentes, 162 (34,2%) desses
profissionais eram coordenadores, supervisores ou líderes - nível tático - ,
perfazendo 79,7%. No nível estratégico, o qual compreendia presidente, vice-
presidente e diretor, estavam 61 respondentes - 12,9% da amostra. Finalmente,
na categoria Outros - nível operacional - , que foram devidamente especificados
pelos respondentes e não se enquadravam nas categorias anteriores, se situaram
35 pessoas - 7,4% da amostra.
Em função da aplicação do questionário por meio de e-survey, desenvolveu-se um
procedimento estatístico de reteste do questionário para examinar o grau de
coincidência nas respostas dos participantes em dois momentos diferentes. Esse
procedimento estatístico permitiu observar se as respostas dos indivíduos
variavam nesses dois momentos e, por conseguinte, foi possível atribuir ao
instrumento determinado grau de confiabilidade. Foram enviados 141 correios
eletrônicos aos respondentes do questionário, em ordem descendente de
participação, de 40 a 72 dias após o período original de coleta de dados. Os
números mostraram que 54 (11,4%) deles participaram do teste-reteste,
representando 52 (14,4%) das organizações envolvidas na pesquisa. Os resultados
desse procedimento foram analisados por meio da aplicação da prova não
paramétrica de Wilcoxon, para a qual foi adotado o nível de significância deα=
0,05. Com essa prova estatística de reteste, observou-se que somente uma das 23
questões testadas se mostrou significativamente diferenciada em relação às
respostas do questionário aplicado inicialmente, o que evidenciou, como
resultado, um questionário bastante confiável, segundo o entendimento dos
autores.
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
A partir dos resultados do estudo de campo e das variáveis contidas no modelo
conceitual, apresentam-se a seguir as análises estatísticas uni e
multivariadas. Inicialmente, utiliza-se a análise descritiva da dependente
níveis de maturidade. Em seguida, para a variável independente - fatores
condicionantes - utiliza-se a análise fatorial para reduzir o número de itens
para uma quantidade menor de fatores, sem grande perda na explicação da
variação dos dados. Por fim, procede-se à regressão logística dos dados,
ordenando-se os condicionantes segundo sua contribuição para elevar o nível de
maturidade em gerenciamento de projetos nas empresas estudadas.
4.1. Análise descritiva dos níveis de maturidade
Na análise referente à distribuição das empresas pesquisadas quanto a seu nível
de maturidade percebida em gerenciamento de projetos, a partir do modelo PMMM,
observou-se, conforme o Gráfico_1, por ordem descendente de presença, que 186
(39,3%) das empresas se classificavam no nível 2 de maturidade em gerenciamento
de projetos - processos estruturados e padrões. O nível percebido 3 de
maturidade em gerenciamento de projetos - processos institucionalizados e
padrões organizacionais - apresentava a segunda maior incidência, com 110
(23,3%) empresas. O nível 1 - processo inicial - apresentava a terceira maior,
com 90 (19,0%) empresas. O nível percebido 4 de maturidade foi encontrado em 59
(12,5%) empresas, seguido do nível 5, com apenas 28 (5,9%) empresas.
Na pesquisa de Sonnekus e Labuschagne (2004) foi constatado que as empresas
tendem a superestimar seus níveis de maturidade percebidos em gerenciamento de
projetos quando comparados aos resultados efetivamente observados. Para fins de
análise deste estudo, os casos com níveis 1 e 2 de maturidade em gerenciamento
de projetos, os quais representavam 276 organizações (58,3%) da amostra, foram
classificados como empresas de baixa maturidade. Conceitualmente esses níveis
revelam, de acordo com o modelo PMMM, que as questões que envolvem processos
estruturados e padronizados necessitam ser mais repetíveis e
institucionalizadas pela organização. Chama a atenção o fato de as organizações
no nível 2 de maturidade apresentarem-se com maior representatividade da
amostra - 186 (39,3% dos casos). Organizações nesse nível possuem, em geral,
baixo suporte executivo, razoável nível de gestão de escopo, tempo, custo e
qualidade, e baixa taxa de sucesso. Todavia, já deram os primeiros passos rumo
à profissionalização em gerenciamento de projetos.
Por sua vez, num processo natural de amadurecimento, as organizações situadas
nos níveis 3, 4 e 5, denominadas neste estudo como empresas de alta maturidade
em gerenciamento de projetos, representavam 197 (41,7%) da amostra. Na alta
maturidade, as organizações possuem o envolvimento regular da gerência, tanto
nas decisões e aprovações como em questões críticas que necessitem até de ações
proativas. Outra característica que merece destaque nesses níveis está
associada às estimativas e ferramentas. As estimativas deixam de ser baseadas
apenas em especialistas e voltam a ser avaliadas cada vez mais à luz dos
padrões da indústria. Com relação às ferramentas, a incorporação, o
aperfeiçoamento e a disponibilização das informações sobre projetos propiciam
melhores condições para as tomadas de decisão nas organizações. Finalmente, uma
característica importante desses níveis em relação aos anteriores é a
existência do PMO que, no nível 5, exerce um papel estratégico nas empresas,
sendo responsável pelo portfolio e pelo alinhamento estratégico de todos
projetos.
4.2. Análise descritiva dos fatores condicionantes da maturidade
Para definir os fatores condicionantes da maturidade em gerenciamento de
projetos nas organizações pesquisadas, a partir das 22 variáveis incluídas no
questionário, foi utilizada a análise fatorial, cuja aplicação permite
identificar um número relativamente pequeno de fatores que representam muitas
variáveis. Hair Jr. et al. (2005) sugerem, como regra geral para o emprego da
análise fatorial, que o tamanho da amostra tenha de cinco a dez vezes o número
de variáveis. Com base nesses números, este estudo deveria apresentar entre 110
e 220 respondentes; considerando que apresenta 473 respondentes, a relação
entre o tamanho da amostra e o número de variáveis foi de 21,5, ou seja, muito
superior ao valor sugerido.
A análise fatorial foi estruturada em quatro fases. Na primeira - suposições da
análise fatorial - foi avaliado o nível de qualidade ou adequação de ajuste da
estrutura de dados por meio da medida de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e do teste de
esfericidade de Bartlett (TEB). O valor do KMO foi de 0,954, ou seja, quanto
mais próximo esse valor for de 1, melhores serão os dados para uma solução
fatorial. O TEB, por sua vez, apresentou o resultado deχ² = 7086,297, com nível
descritivo p = 0,00. Para esta primeira fase, pode-se observar que existe
correlação significantemente diferente de zero entre as variáveis independentes
e dependente, suficiente para a aplicação da análise fatorial. Considerando-se
os resultados das análises de KMO e TEB, é possível afirmar que a estrutura de
dados se mostrou adequada para proceder-se à análise fatorial. Na segunda fase
- análise da comunalidade de cada variável independente - é avaliada a
variância que está sendo explicada pela análise fatorial. Quanto maior for a
comunalidade, maior será a força de explicação da variável pela solução
fatorial. Neste estudo, há evidencias de boas comunalidades, as quais estão
entre o mínimo de 0,558 e o máximo de 0,824, motivo pelo qual todas as
variáveis foram incluídas na análise. Na terceira fase - determinação do número
de fatores e interpretação do ajuste geral - foi identificada a estrutura
latente das relações quanto ao método de extração dos fatores e ao número de
fatores. O método de extração dos fatores explorou a estrutura dos dados para
obter a análise fatorial, por meio da rotação ortogonal varimax dos fatores,
simplificando, assim, sua interpretação. Para a determinação do número de
fatores, utilizou-se o teste de scree, o percentual de variância explicada
acumulada e o critério do autovalor maior do que 1. Corroborando outras
análises e com base na observação das cargas fatoriais, foi possível reduzir o
conjunto de 22 variáveis independentes para seis fatores, com razoável poder de
explicação. Segundo Hair Jr. et al. (2005, p.103), "o pesquisador sempre deve
empenhar-se em ter o conjunto de fatores mais representativo e parcimonioso
possível". Ainda segundo os autores, o valor mínimo de variância total, em
Ciências Sociais, deve estar em torno de 60% e, em alguns casos, pode até ser
menor. Na Tabela_2 são mostrados os seis fatores e as respectivas cargas
fatoriais e variáveis independentes associadas.
Na quarta e última fase - interpretação dos fatores - foi possível avaliar
ainda, após a rotação ortogonal dos eixos, que a variância total se mantinha
inalterada, porém o percentual de variância explicada era marginal após seu
sexto fator.
Como resultado desse procedimento, os seis grandes fatores condicionantes da
maturidade em gerenciamento de projetos, para efeito deste estudo, ficaram
assim resumidos e, de forma geral, compreendem:
* Fator 1 - Processos e Ferramentas
A utilização de metodologias formais de gerenciamento de projetos na
organização, a aplicação consistente das melhores práticas, o uso efetivo de
indicadores de controle e desempenho, o emprego de ferramentas e sistemas de
informações integrados para dar suporte às tomadas de decisão e outros aspectos
do tipo.
* Fator 2 - Pessoas e Equipe
A capacitação, a escolha, o envolvimento, o comprometimento, o treinamento e a
integração efetiva dos membros da equipe nos diferentes projetos.
* Fator 3 - Orientação a Negócios
A possibilidade de geração de negócios com maior lucratividade e com menor
exposição aos riscos, a busca de melhor retorno sobre os investimentos, o
desenvolvimento efetivo de produtos e/ou serviços de qualidade, de forma a
otimizar a competitividade e a liderança nos mercados-chave.
* Fator 4 - Qualidade dos Gerentes de Projetos
As competências adequadas e as certificações necessárias do gerente de
projetos, bem como sua liderança efetiva sobre a equipe.
* Fator 5 - Orientação a Clientes
O relacionamento dos clientes com a equipe do projeto, criando um ambiente
adequado para sua realização e, por fim, o monitoramento e a gestão efetiva de
sua satisfação e fidelidade com vistas a otimizar os níveis de qualidade.
* Fator 6 - Apoio Organizacional
A existência de uma estrutura organizacional que proporcione a autoridade e o
poder necessários aos gerentes de projeto, um clima maduro e propício que
fomente o desenvolvimento e o espírito de equipe, bem como o apoio executivo
que forneça o patrocínio efetivo durante o ciclo de vida dos projetos.
A partir dessa nova estrutura de fatores, no Gráfico_2 apresenta-se o grau
médio de presença dos fatores condicionantes nas organizações pesquisadas,
tanto em termos globais (linha horizontal) quanto por nível de maturidade
(barras verticais) partindo do nível 1 = baixa maturidade até o nível 5 = alta
maturidade.
Observa-se, inicialmente, que o grau médio de presença de todos os fatores é
alto, com destaque para o referente a pessoas e equipe (maior presença) e para
o referente a processos e ferramentas (menor presença). Contudo, é interessante
observar que esse último fator é o que apresenta o menor grau médio de presença
no grupo de empresas com mais baixa maturidade em gerenciamento de projetos
(nível 1) e, inversamente, o maior grau médio de presença no grupo com mais
alta maturidade (nível 5). Assim, a principio, esse fator é o que parece mais
discriminar entre as empresas com baixa e alta maturidades, uma vez que para os
demais fatores as diferenças entre os extremos não são tão expressivas, com
exceção para os referentes a apoio organizacional, qualidade dos gerentes de
projetos e orientação a clientes, mas não necessariamente nessa ordem, pois a
análise não é tecnicamente precisa. No item seguinte, a contribuição de cada um
desses fatores condicionantes para o aumento do nível de maturidade será mais
profundamente explorada a partir de instrumentos estatísticos específicos.
4.3. Análise das relações entre os níveis de maturidade e os fatores
condicionantes
Como visto anteriormente, em função da distribuição dos valores assumidos, a
variável dependente, nível de maturidade, mensurada por meio de uma escala tipo
Likert de 5 pontos, foi transformada em uma escala binária nominal, que assumiu
os valores "baixa maturidade" (níveis 1 e 2 de maturidade), representando 58,3%
das organizações, e "alta maturidade" (níveis 3, 4 e 5 de maturidade),
associado aos 41,7% restantes. Assim, para esta última e complementar análise,
foi aplicada a técnica estatística multivariada denominada regressão logística.
Hair Jr. et al. (2005) observam que a regressão logística é uma técnica
apropriada quando as variáveis independentes (fatores condicionantes) são
métricas e a variável dependente (nível de maturidade) é nominal, não métrica.
Ao se aplicar a técnica de regressão logística aos dados obtidos, obteve-se uma
hierarquia de fatores classificados em ordem decrescente segundo seu
coeficiente de importância para alavancar o grau de maturidade em gerenciamento
de projetos nas organizações pesquisadas, como mostra a Tabela_3.
Verifica-se, assim, como resultado da regressão logística, que os fatores
condicionantes da maturidade e do gerenciamento de projetos nas organizações
pesquisadas podem ser vistos em três grandes grupos em termos de poder de
alavancagem, segundo sua presença. Num primeiro grupo, percebe-se que o aumento
propiciado pela presença do fator Processos e Ferramentas (coeficiente de
1,517) no nível de maturidade é comparativamente muito maior do que o acréscimo
que seria proporcionado pela presença de qualquer um dos demais fatores
condicionantes isoladamente. Num segundo grupo, aparecem os fatores Pessoas e
Equipe (0,637) e Apoio Organizacional (0,624) e, num terceiro, os demais
fatores - Orientação a Clientes (0,476), Qualidade dos Gerentes de Projetos
(0,447) e Orientação a Negócios (0,419) - , mas numa magnitude muito menor em
termos de contribuição para o incremento do nível de maturidade em
gerenciamento de projetos.
Em síntese, os resultados revelam que, na amostra pesquisada, as organizações
mais maduras em gerenciamento de projetos estão sendo movidas nessa direção, em
primeiro lugar pela utilização de metodologias formais de gerenciamento de
projetos, como processos estruturados, aplicação de melhores práticas, uso de
indicadores de controle e desempenho, e emprego de ferramentas e sistemas de
informações integrados, entre outros. Em segundo lugar, mas num nível bem
inferior, pelo esforço de capacitação, escolha, envolvimento, comprometimento,
treinamento, motivação e integração efetiva das pessoas nas equipes de
projetos, respondendo rapidamente à necessidade de contar com profissionais
devidamente qualificados nessa área.
5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O gerenciamento de projetos é a arte de planejar, obter recursos, capacitar,
treinar, dirigir, guiar, executar e controlar atividades orientadas para metas,
a fim de obter o máximo de desempenho com vistas a agregar valor para os
negócios e retorno aos acionistas. Os níveis de maturidade em gerenciamento de
projetos avaliam o estágio das práticas em gerenciamento de projetos nas
organizações e constroem uma cultura orientada para a excelência. Os fatores
condicionantes, dentro desse contexto, por sua vez, constituem as alavancas que
as empresas podem utilizar para elevar tal nível de maturidade.
O objetivo neste estudo foi identificar os condicionantes da maturidade em
gerenciamento de projetos em organizações brasileiras. Para tal, foi realizado
um estudo de campo de natureza descritiva e correlacional junto a 473
participantes, representando 360 organizações, 25% das quais situadas no
ranking das 100 M&M de 2007. Um questionário pré e pós-testado foi
aplicado, mediante um procedimento de e-survey junto a gerentes de projetos,
tomadores ou influenciadores de decisão nas organizações envolvidas, levando-se
em conta a base de dados dos 12 Chapters do PMI® Brasil.
As conclusões deste estudo permitem identificar, inicialmente, que 58,3% das
empresas pesquisadas foram classificadas, segundo a percepção dos respondentes,
como tendo baixa maturidade em gerenciamento de projetos, enquanto 41,7% foram
enquadradas com tendo alta maturidade. Esses percentuais mostram, sob a
percepção dos respondentes do estudo, que os níveis de maturidade em
gerenciamento de projetos das empresas brasileiras tendem a ser baixos,
guardadas as proporções do estudo, havendo, portanto, grande espaço e potencial
para crescimento.
Uma segunda conclusão diz respeito ao grau de presença dos fatores
condicionantes da maturidade nas empresas pesquisadas. A partir da análise
fatorial empreendida com os dados de campo, quando um conjunto de seis fatores
foi constituído - envolvendo processos e ferramentas, pessoas e equipes, apoio
organizacional, orientação a clientes, qualidade dos gerentes de projeto e,
finalmente, orientação a negócios - , observou-se que o grau médio de presença
de todos os fatores foi alto, com destaque para pessoas e equipe (maior
presença) e para processos e ferramentas (menor presença). De fato, isso pode
ser observado pelas práticas jovens de gerenciamento de projetos não
devidamente ancoradas na cultura das organizações brasileiras, revelando-se
demasiadamente empíricas, pouco planejadas e não estruturadas, dificultando,
por conseguinte, sua repetição e sistematização.
Finalmente, uma última conclusão diz respeito à contribuição dos condicionantes
para o nível de maturidade em gerenciamento de projetos. Pode-se dizer que os
seis fatores estudados pareceram impulsionar a maturidade em algum grau, porém
a partir da seguinte hierarquia de presença: processos e ferramentas; pessoas e
equipe; apoio organizacional; orientação a clientes; qualidade dos gerentes de
projetos; e orientação a negócios. Desses fatores todos, o primeiro, em face
dos números obtidos na regressão logística, foi aquele que mais pareceu
impulsionar a maturidade em gerenciamento de projetos na realidade brasileira
pesquisada. Assim, a maturidade em gerenciamento de projetos no Brasil, como
conclusão deste estudo, parece exigir que as organizações busquem primeiramente
a adoção de processos e ferramentas na busca de melhores e contínuos
resultados. Esse resultado pode até contrastar a tese, segundo a qual, as
pessoas são mais importantes que as ferramentas. Todavia, considerando a
cultura brasileira, dada sua informalidade e baixo apego às normas de conduta e
aos padrões, os resultados parecem estar em sintonia com a prática corrente,
sendo interessante entendê-los melhor por meio de novos estudos conduzidos
nessa direção.
Finalizando, é importante destacar que esses resultados e conclusões
dificilmente podem ser generalizados em função de várias limitações. Primeiro,
este estudo restringiu-se a uma amostra não probabilística, intencionalmente
constituída, principalmente pelos associados dos Chapters do PMI®, em âmbito
nacional. Segundo, o estudo restringiu-se à amostra de profissionais situados
em nível de coordenação ou superior, na posição de tomadores ou influenciadores
de decisões. Embora os respondentes tivessem assinalado suas posições nas
organizações, não foi possível fazer nenhuma constatação, em campo, desse
perfil profissional. Terceiro, as limitações impostas pelo formato do
instrumento de coleta de dados também devem ser consideradas, pois ele envolveu
a percepção dos respondentes sobre os fenômenos avaliados a partir da escala
adotada no questionário, convidando-os a expressar, quantitativamente, a
concordância ou não com determinada afirmação ou com o grau de presença de
determinado fator; portanto, trata-se de dados subjetivos, que podem
apresentar-se de forma diferente em outros contextos. Quarto, o estudo de campo
foi realizado por meio de e-survey, o qual se sujeita a inúmeros vieses. Embora
o procedimento estatístico de teste-reteste tenha identificado uma boa
estabilidade do instrumento, sempre há aspectos não esclarecidos totalmente em
levantamentos dessa natureza, tais como: quem foi de fato o respondente da
pesquisa; em que condições foi respondido o questionário; quanto tempo se
dedicou às respostas etc. Todas essas limitações devem ser levadas em
consideração para as devidas interpretação e generalização dos resultados
derivados deste estudo.
Por fim, espera-se que o tema estudado contribua para o avanço do conhecimento
em Administração e que os dados e resultados apresentados possam fornecer
subsídios a profissionais e pesquisadores para estudarem e compreenderem melhor
essa área, procurando formas e caminhos complementares para a busca da
maturidade em gerenciamento de projetos nas organizações brasileiras.