Ambiente favorável ao desenvolvimento de inovações: proposição de um modelo de
análise organizacional
1. INTRODUÇÃO
O estudo sobre competitividade das nações tem se tornado relevante nos meios
acadêmico, empresarial e governamental. Pesquisadores buscam compreender os
fatores que podem influenciar a competitividade dos países e organizações,
enquanto os governantes buscam informações precisas sobre os requisitos
necessários para inserir o país em cenário competitivo. Nesse sentido,
relatórios sobre competitividade têm sido gerados por institutos de pesquisas e
consultorias a fim de identificar as lacunas que necessitam de maior atenção
por parte dos governantes.
Dessa forma, tanto o World Economic Forum (WEF) como o Institute for Management
Development (IMD) têm publicado anualmente índices de competitividade das
nações que dão subsídios a tomadores de decisões na escolha do país que poderá
render melhores retornos aos investimentos. Esse diagnóstico, apresentado por
meio do Índice de Competitividade Global (WEF) e pelo Anuário de
Competitividade Mundial (IMD), ressalta as áreas da economia nacional que estão
carentes de investimentos e que, se forem atacadas, podem gerar um ambiente que
favoreça a inovação e a prosperidade das empresas. Verifica-se nos relatórios
publicados pelas instituições citadas que a inovação se constitui como pilar da
competitividade, e com essa consideração pondera-se que a competitividade de um
país é suportada pelos graus de inovação e desenvolvimento das empresas que
nele estão situadas, seguindo um princípio clássico da economia schumpeteriana
(SCHUMPETER, 1911, 1961).
Assim como é verificada a necessidade do ambiente favorável à inovação nos
países, que constitui o ambiente externo das organizações, faz-se necessária a
verificação de que fatores do ambiente interno organizacional podem contribuir
para o desenvolvimento de inovações. De acordo com Van de Ven e Chu (1989), o
ambiente externo tem influência sobre o ambiente interno organizacional, o qual
pode impactar diretamente nos resultados da inovação da empresa. Com essas
considerações, evidencia-se a necessidade de um instrumento que, assim como os
relatórios publicados pelo WEF e pelo IMD, possa diagnosticar o ambiente
inovador organizacional no intuito de direcionar atenção da gerência às falhas
empresariais.
Nesse sentido, uma metodologia foi desenvolvida pelo Minnesota Innovation
Research Program (MIRP) para a avaliação da relação dos processos internos e
externos à organização sobre os resultados da inovação, que foi denominada
Minnesota Innovation Survey (MIS). Essa metodologia foi validada
internacionalmente e aplicada no Brasil por Barbieri (2003), Machado (2004),
Vicenti (2006) e Barzotto (2008). No entanto, as aplicações em empresas
brasileiras apresentaram baixas percepções por parte dos funcionários de níveis
hierárquicos inferiores quanto às questões relacionadas ao ambiente externo
(demográfico, tecnológico, legal e econômico), o que gerou a necessidade de
adaptação. A adaptação feita por Carvalho e Machado (2010), além de mudar o
foco de análise da metodologia de processo para o ambiente, reduziu o número de
questões e dimensões de estudo, possibilitando análises mais acuradas do que as
que haviam sido feitas por Van de Ven e Chu (1989). O foco, voltando-se para o
ambiente, leva o respondente a visualizar seu entorno, trazendo a seu cotidiano
e a suas relações a análise sobre a inovação, deslocando-o, portanto, do
processo.
Apesar da adaptação, ao longo da aplicação da metodologia MIS no Brasil, têm-se
observado que questões e dimensões de análises têm se apresentado com
significantes correlações, configurando multicolinearidade entre construtos. No
entanto, sabe-se que a presença de multicolinearidade entre variáveis
independentes pode influenciar a confiabilidade dos resultados devido à
utilização de construtos redundantes. A análise de fatores comuns tem sido uma
alternativa para modelos estruturais, que são compostos por um conjunto de
regressões lineares múltiplas, permitindo a reaplicação parcimoniosa dos dados
multivariados (JOHNSON e WICHERN, 1988).
Dessa forma, a proposta neste estudo é a geração de um novo modelo de análise
que utilize como base os construtos que formam as dimensões da metodologia MIS
com foco no delineamento de ambiente propício ao desenvolvimento de inovações.
O modelo propõe uma lógica baseada nos conceitos da análise multivariada que
possa traduzir em melhores explicações o ambiente de inovação nas organizações
e suas influências nos resultados.
Os dados utilizados neste trabalho são oriundos de pesquisas realizadas no ano
de 2010 com a utilização da metodologia MIS adaptada. As novas estruturas de
análise foram testadas primeiramente em uma empresa piloto do setor metal
mecânico, reconhecidamente inovadora no cenário brasileiro. Após a verificação,
os questionários foram reaplicados em uma organização hospitalar para validação
dos resultados. A diversidade de ramo da indústria e localidade geográfica
objetivou a robustez da análise dos dados.
O presente artigo, além desta introdução que apresenta o objetivo do estudo,
contém o referencial teórico no tópico dois. O tópico três contém a metodologia
utilizada no desenvolvimento do modelo proposto. Para a elucidação, a
metodologia está dividida em um histórico que ilustra a coleta dos dados, a
construção da problemática e das hipóteses que originaram o estudo, o design e
a perspectiva da pesquisa, a descrição da empresa piloto e como foram coletados
os dados nessa empresa, culminando com os procedimentos de análise dos dados.
No tópico quatro apresentam-se os resultados obtidos, indicando as questões que
se tornaram relevantes para a formação do modelo proposto, o teste qui-quadrado
e a aderência do modelo proposto ao modelo MIS e o teste de prova do modelo
proposto. O tópico cinco, em que se apresentam as considerações finais, é
seguido das referências utilizadas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A palavra inovação é frequentemente usada para descrever um objeto, que pode
ser um microcomputador, ou um novo modelo de carro. Embora ela se refira a algo
concreto, os teóricos do assunto concordam que inovação pode assumir outras
formas de definição (VAN DE VEN, 1980; KIMBERLY, 1981; BARBIERI, 2003). O
estudo da inovação diferencia algumas perspectivas teóricas sob três
abordagens. A primeira perspectiva fixa-se na visão pessoal da inovação,
levando em consideração o ser humano como agente inovador. A segunda foca as
abordagens mais estruturais da inovação, em que a estrutura organizacional é
que propicia as inovações. E a terceira é uma interação entre as duas
anteriores, recursos humanos e estrutura organizacional. Nessa abordagem, a
perspectiva de análise da inovação como um processo interativo parece responder
mais prontamente as questões acerca da inovação. Essa visão aborda inovação
como um processo e tem nos trabalhos de Van de Ven et al. (1999) uma particular
abordagem, que focaliza aspectos humanos e estruturais que envolvem a inovação.
O tipo de processo analisado pelo grupo de pesquisa de Van de Ven et al. (1999)
envolve a descrição e a análise de sequências temporais que ocorrem no
desenvolvimento e na implementação de inovações. Essa abordagem possibilita a
visualização dos eventos que propiciaram ou inibiram o processo de inovação,
fornecendo com isso a interação entre comportamentos humanos, pela análise de
grupos organizacionais, bem como da estrutura que possibilitou esses
agrupamentos. A análise desses eventos é feita por meio da triangulação entre
percepção dos agentes organizacionais, da interação entre eles e das formas de
agrupamento existentes na organização, envolvendo a estrutura e as comunicações
organizacionais.
As inovações tecnológicas e organizacionais ou administrativas têm sido
tratadas de modo diferente, constituindo campos distintos de estudo. Os textos
que tratam de um tipo geralmente não tratam do outro. Afuah (1998) distingue a
inovação administrativa da inovação técnica ou tecnológica. Para esse autor, a
inovação administrativa pode ou não afetar a técnica, assim como esta pode
requerer ou não inovações administrativas. Van de Ven et al. (1999) discordam
dos que creem que esses dois tipos de inovações não possam ser comparados e
discordam dos que as enxergam como distintas, pois tal distinção conduz a
classificações fragmentadas do processo de inovação, já que a maioria das
inovações envolve componentes de ambos os tipos. Ambos os tipos de inovação
requerem a gestão de pessoas, materiais, instalações, equipamentos e outros
recursos em diferentes níveis de decisão, do estratégico ao operacional.
Requerem também articulações externas com clientes, fornecedores, instituições
de ensino e pesquisa, órgãos públicos reguladores, fontes de financiamento,
etc. Uma ideia presente nessa abordagem é que existem certos elementos de
gestão recorrentes, em qualquer empresa inovadora, independentemente do setor
em que atuam. Tanto os aspectos internos quanto os externos são importantes
fatores que condicionam o modo de conduzir as atividades específicas de
inovação. Um processo contínuo de geração de inovações administrativas e
tecnológicas depende tanto de fatores internos quanto externos à organização.
Fatores condicionantes externos das inovações tecnológicas já haviam sido
reconhecidos desde há muito, dentre eles, a estrutura de mercado, tais como
tamanho da empresa, grau de concentração, barreiras à entrada e às saídas e
outros componentes dessa estrutura (VAN DE VEN et al., 1999).
Estudos derivados dessa abordagem, em que os ambientes interno e externo
exercem influência sobre a geração de inovação, foram desenvolvidos no Brasil e
apresentam resultados semelhantes quanto à identificação de fatores
motivadores, pertencentes a esses ambientes, para o desenvolvimento de
inovações. Assim, Castro e Basques (2006) verificaram que o ambiente interno
constituído de uma gestão flexível com ênfase na gestão de pessoas e o processo
permanente de investimento em tecnologias podem conferir melhores resultados à
organização. De forma mais específica, Leite, Dutra e Antunes (2006) analisaram
os fatores habilitadores de geração de ideias presentes no ambiente interno e,
em consonância com os estudos de Castro e Basques (2006), constataram que os
processos de gestão associados ao fator humano e à cidadania organizacional
apresentam papéis relevantes no desenvolvimento de inovações. Coutinho e
Bomtempo (2007) identificaram que o investimento em pesquisa e desenvolvimento,
a estrutura organizacional e o estilo gerencial contribuem para a geração de
ideias e a implantação da inovação. Outros estudos ainda apontam que a
comunicação antiburocrática, a integração funcional entre as diversas áreas da
empresa, o encorajamento por parte da alta administração ao enfrentamento de
desafios e um processo decisório participativo podem contribuir como fatores
motivadores do ambiente interno à geração de inovações (MIGUEL e TEIXEIRA,
2009; VICK, NAGANO e SANTOS, 2009; PAROLIN e ALBUQUERQUE, 2010; VICENTI e
MACHADO, 2010).
Embora os estudos descritos buscassem identificar aspectos dos ambientes
interno e externo que favorecem o desenvolvimento de inovações, não se ativeram
à mensuração da influência desses aspectos sobre os resultados da inovação.
Nesse sentido, surge a perspectiva de estudo apresentada neste trabalho, no
qual se busca, por meio de uma metodologia adaptada do Minnesota Innovation
Research Program, preencher essa lacuna na literatura científica e fornecer
informações necessárias aos tomadores de decisões quanto às áreas
organizacionais que necessitam de investimentos para potencialização dos
resultados gerados pela inovação.
3. METODOLOGIA
A seguir apresentam-se os principais recursos metodológicos utilizados para a
definição de um novo modelo de análise do ambiente de inovação.
3.1. Breve histórico do instrumento de coleta de dados
De acordo com o objetivo proposto neste estudo, busca-se encontrar um modelo de
análise do ambiente de inovação que expresse de forma multidimensional as
características que se apresentam favoráveis ao desenvolvimento de inovações.
Para isso, o processo foi iniciado pela utilização da metodologia
Min-nesota Innovation Survey (MIS) desenvolvida pelo Minnesota Innovation
Research Program (MIRP). A metodologia MIS refere-se a um instrumento de coleta
de dados que engloba 29 dimensões que caracterizam os processos inovadores.
Essas dimensões encontram-se descritas nos estudos de Van de Ven e Chu (1989) e
foram testadas no Brasil por Barbieri (2003), Machado (2004), Vicenti (2006) e
Barzotto (2008).
O questionário MIS foi desenvolvido, originalmente, em língua inglesa e possui
duas partes: MIS I e MIS II. Elas englobam 41 questões objetivas e 10 questões
subjetivas, as quais tratam de fatores internos e externos à organização que
podem interferir nos processos de inovação. As questões objetivas desdobram-se
em 93 afirmativas com opções de respostas escalonadas em escala Likert de cinco
pontos.
Uma adaptação do MIS I e MIS II foi feita por Carvalho e Machado (2010), que
deixaram apenas as dimensões que poderiam ser perceptíveis aos funcionários da
organização e não apenas à alta administração. Outra modificação refere-se à
mudança de foco do instrumento, que deixou de ser uma análise de processos,
para tornar-se análise do ambiente inovador. Esse questionário adaptado
contemplou 21 dimensões agrupadas em três grandes grupos, conforme consta na
Figura_1. Esses grupos representam a influência de uma dimensão sobre a outra,
conforme representado pela modelagem de equações estruturais (MEE).
![](/img/revistas/rausp/v48n3/15f01.jpg)
A MEE é uma metodologia estatística que possui abordagem confirmatória na
análise da estrutura teórica sobre determinado fenômeno. A análise
confirmatória incide sobre os testes das hipóteses e a teoria representa
processos causais que geram observações sobre múltiplas variáveis (BENTLER,
1988).
Com esse entendimento, as dimensões externas, que atuam como preditoras no
modelo adaptado, impactam as características das dimensões internas que por sua
vez impactam a percepção de eficiência nos resultados, sendo este também
impactado diretamente pelas dimensões externas. Com a adaptação, o questionário
chegou a 71 itens para resposta que estavam alocados em 45 questões objetivas e
agrupadas em 21 dimensões, conforme descrição exposta no Quadro_1.
A aplicação do questionário parte do pressuposto de que uma empresa
reconhecidamente inovadora apresente percepção de presença das dimensões
internas e externas que influenciam os resultados. Após adaptação, esse
instrumento serviu de base para outros estudos, tais como Carvalho (2010),
Raduenz (2010) e Ropelato (2010).
3.2. Problemática e hipóteses
O questionário original proposto pelo MIRP contém 93 afirmativas que devem ser
assinaladas pelos respondentes. Com a adaptação, que consistiu na retirada das
dimensões, o número de afirmativas caiu para 71. Mesmo com a redução de 22
afirmativas, observou-se que o questionário demandava muito tempo dos
respondentes, os quais, ao longo do processo, poderiam perder o comprometimento
com a fidedignidade das respostas. Observou-se ainda que os estudos que
utilizaram a adaptação do questionário e o questionário original relataram
altas correlações entre as questões e entre as dimensões que caracterizam
constructos (MACHADO, 2004; VICENTI, 2006; BARZOTTO, 2008; CARVALHO, 2010;
RADUENZ, 2010; ROPELATTO, 2010).
Diante desse cenário, surge a proposta de um novo modelo que, com auxílio da
estatística multivariada, elimine questões e dimensões altamente
correlacionadas (multicolinearidade) e que possa gerar resultados semelhantes
ou melhores do que os modelos existentes. A redução do número de questões e
dimensões apresenta conveniências para a coleta de dados, garantindo maiores
fidedignidade e confiabilidade, além de eliminar a redundância de medição de
construtos e economia no tempo de coleta dos dados.
Com essas considerações, a proposta do novo modelo demanda as seguintes
hipóteses:
H0- O modelo proposto, com redução de questões e dimensões da metodologia MIS,
apresenta divergências significantes do modelo adaptado em relação à influência
dos ambientes internos e externos sobre a eficácia da inovação.
H1- O modelo proposto, com redução de questões e dimensões da metodologia MIS,
apresenta convergências com o modelo adaptado em relação à influência dos
ambientes internos e externos sobre a eficácia da inovação.
A proposta do novo modelo de análise mantém a estrutura das relações entre
grupos, conforme mostra a Figura_1, e apresenta dimensões que agrupam
construtos correlacionados.
3.3. Design e perspectiva da pesquisa
A pesquisa está dentro dos moldes de um estudo descritivo com método
quantitativo. Para Vieira (2002), as pesquisas descritivas podem apresentar
interesse pelas relações entre variáveis, podendo aproximar-se das pesquisas
experimentais. Para Hair Jr. et al. (2005), os planos da pesquisa descritiva
formam-se no intuito de medir características de determinado construto teórico.
No caso da presente pesquisa, essas características referem-se às dimensões de
ambiente de inovação, aquele que favorece o surgimento delas.
3.4. Empresa piloto e coleta de dados
A empresa Alpha, da indústria metal mecânica foi escolhida de forma
intencional, não probabilística, para constituir objeto de estudo desta
pesquisa pelo fato de ser uma das empresas mais inovadoras no Brasil e
ganhadora do prêmio Finep de inovação por dois anos consecutivos. Em 20 anos, a
empresa contabilizou centenas de milhares de sugestões e ideias, com grande
número de implantações bem-sucedidas, gerando novos produtos e, de forma
positiva, impactando o desenvolvimento e a melhoria dos processos produtivos,
na otimização dos sistemas administrativos e nas condições gerais do trabalho.
Em 2010, foram recebidas 205.536 ideias, o que representa uma média de 212,1
ideias enviadas por funcionário por ano; um número elevado até mesmo para o
padrão japonês. Diante do histórico de inovação, acredita-se que a empresa
Alpha tenha percepção da maioria das dimensões em estudo. O questionário
adaptado por Carvalho e Machado (2010) foi aplicado nessa organização a 349
funcionários de um total de 991, representando uma significância de 95,7%.
A técnica utilizada foi survey que, de acordo com Malhotra (2001), se baseia no
questionamento aos participantes com perguntas relacionadas a comportamento,
intenções, atitudes, percepção, motivações, características demográficas e de
estilo de vida. O período para a realização da pesquisa, incluindo a coleta de
dados, foi de setembro de 2009 a janeiro de 2010.
3.5. Procedimento de análise dos dados
Para iniciar o procedimento de redução de questões e dimensões, foram
analisados os construtos teóricos que sustentam as dimensões propostas pelo
MIRP e o tangenciamento que estas poderiam ter. Foram analisados os estudos que
Van de Ven e Chu (1989) descrevem como fundamentais e em-basadores para a
constituição das dimensões formadoras da metodologia MIS.
Após esse procedimento, com os dados obtidos pela aplicação dos questionários
na empresa Alpha, a análise fatorial foi realizada no intuito de verificar
quais questões constantes nas dimensões correlacionadas são mais
representativas e possuem maior comunalidade, que indica o grau de associação
ou parte em comum existente entre as variáveis em análise (HAIR JR. et al.,
2005). Após identificadas as questões que melhor representam as novas
dimensões, foram feitas as médias das respostas das questões a fim de obter-se
uma medida única da dimensão. Em seguida foi realizada a comparação das
frequências das médias das dimensões dos ambientes interno e externo, antes e
depois da redução dos dados, por meio do teste qui-quadrado, lembrando que o
ambiente é externo ao grupo de inovação. Essa metodologia de avaliação de
construtos e redução de dados está de acordo com os descritos por Churchil Jr.
(1979) e Stratman e Roth (2002).
Na sequência, compararam-se as informações apontadas no grupo Resultados, antes
e depois da redução dos dados, por meio de modelagem de equações estruturais.
De acordo com a hipótese alternativa, para a validação do novo modelo, os
resultados devem apresentar-se similares em ambas as metodologias.
Para garantir a robustez da análise, foram realizados testes de prova (ou
testemunha) e aderência do modelo proposto à base de dados já coletada em
estudo anterior feita por Raduenz (2010), que utilizou empresa de indústria
diferente. A rejeição da hipótese nula, oriunda das similaridades de resultados
de ambas as organizações, confere validação e eficácia ao novo modelo de
análise. Em contrário, havendo a divergência entre os resultados entre as
organizações, aceita-se a hipótese nula, configurando a ineficácia do modelo
proposto.
4. RESULTADOS
Neste capítulo, apresentam-se os resultados oriundos dos testes da base de
dados da empresa Alpha, a fim de validar o instrumento proposto com resultados
similares ao questionário adaptado de Van de Ven e Chu (1989). O processo de
constituição do novo modelo partiu da análise do construto teórico sobre as
dimensões, a fim de verificar semelhanças ou tangenciamentos entre elas que
justificassem o agrupamento. Foram analisados os mesmos trabalhos descritos por
Van de Ven e Chu (1989) como norteadores das dimensões. Assim, essa análise
possibilitou o agrupamento conforme consta no Quadro_2.
A numeração das dimensões constantes no questionário adaptado de Carvalho e
Machado (2010) manteve a numeração original dos estudos de Van de Ven e Chu
(1989). Salienta-se que devido à adaptação do questionário, as dimensões
qualitativas e de ambiente externo relacionadas a demografia, economia,
tecnologia e legislação foram retiradas e, por esse motivo, as dimensões
apresentam lacuna numérica entre as dimensões 13 e 22.
4.1. Identificação das questões relevantes
O grupo Resultados não sofreu agrupamento de dimensões uma vez que é formado
por apenas uma dimensão (DIMENSÃO 1 - Eficácia percebida com a inovação) e
constituído por três questões que relatam o nível de satisfação geral (Q1D1),
individual (Q2D1) e da empresa (Q3D1) em relação ao resultado da inovação.
De acordo com o Quadro_2, as dimensões 2, 4 e 23 estão baseadas no mesmo
construto teórico e, assim, as questões pertencentes a essas dimensões foram
submetidas a análise fatorial para verificação daquelas que pudessem ser mais
representativas na definição da nova dimensão (Tabela_1).
[/img/revistas/rausp/v48n3/15t01.jpg]
Por meio do relatório fatorial expresso na Tabela_1, observa-se que a junção de
três dimensões da metodologia MIS pode ser representada por quatro questões.
Assim, a nova dimensão Processo passa a ser constituída por questões referentes
à percepção de certeza de que a inovação teria sucesso (Q40D2), tempo de
antecedência que o trabalho era conhecido pelos funcionários antes do
desenvolvimento da inovação (Q44D2), existência de regras e procedimentos que
indicam como o trabalho deve ser realizado (Q33aD4) e grau de apoio de pessoas-
chave no desenvolvimento de inovações (Q37fD23).
A dimensão 3 do modelo proposto, denominada Recursos, é formada pela dimensão 3
do modelo anterior (vide Quadro_2), que trata do grau de disputa da equipe de
inovação para conseguir recursos financeiros (Q29aD3), materiais, espaços e
equipamentos (Q29bD3), atenção da gerência (Q29cD3), pessoas (Q20dD3) e aumento
de carga de trabalho (Q43D3). Nessa dimensão, a questão referente ao aumento de
carga de trabalho durante a fase de desenvolvimento de inovações não apresentou
correlação com as demais e, dessa forma, na simplificação do modelo, foi
excluída da análise.
Em relação à nova dimensão 4, intitulada Liderança, as expectativas de prêmios
e sanções, liderança do grupo de inovação e a percepção dos funcionários sobre
o estimulo à aprendizagem constituem construtos da análise. Nesse sentido, as
questões que puderam ser significativas para análise são demonstradas por meio
da Tabela_2.
[/img/revistas/rausp/v48n3/15t02.jpg]
Verifica-se que os três construtos agrupados podem ser representados por três
questões, assim, o grau de cobrança sobre poucos indivíduos (Q5bD6), a
preocupação do líder com o bom relacionamento do grupo (Q9D7) e o grau de
valorização da empresa aos funcionários que tentam fazer coisas diferentes
mesmo ocorrendo erros ocasionais (Q15D9) são significativos para a análise da
dimensão Liderança.
Da mesma forma que foram analisadas as dimensões Processo e Liderança, as
demais dimensões seguiram o mesmo padrão de análise. Para evitar excesso de
tabelas na apresentação dos resultados, as análises seguem em textos
descritivos.
A próxima dimensão constante do novo modelo é chamada de Autonomia, visto que
engloba a liberdade para expressar dúvidas e a influência nas decisões por
parte dos funcionários. Para essa dimensão, verificou-se que a participação na
definição dos recursos financeiros necessários para o desenvolvimento de
inovações (Q30cD5) e a liberdade para expressar o que pensa sobre os processos
de inovação (Q13D5) foram relevantes.
A dimensão 6, que caracteriza o relacionamento entre os integrantes do grupo de
inovação, é medida pela frequência de comunicação de agentes externos quanto a
problemas encontrados na interação do grupo, conflitos e a forma de resolução
de conflitos dentro do grupo. Assim, verificou-se por análise fatorial que as
questões referentes à comunicação feita por consumidores (Q34eD22), grau de
envolvimento entre os desenvolvedores de inovação (Q38eD24) e a resolução de
conflitos de forma não superficial (Q38bD5) são indicadores de um
relacionamento satisfatório e propício ao desenvolvimento de inovações.
A dimensão 7 difere da dimensão 6 ao analisar o relacionamento entre grupos de
inovação pertencentes à mesma organização. Assim, a percepção de que o trabalho
realizado em parceria com outros grupos poderá ser realizado em outros projetos
(Q26D26) e a frequência de conflitos entre grupos (Q27D27) apresentaram cargas
fatoriais relevantes para a determinação do construto estudado.
A Dependência de recursos externos (dimensão 8) manteve as mesmas questões do
questionário adaptado por Carvalho e Machado (2010), já que ele apresenta
apenas duas questões que quantificam o nível de apoio e ajuda de grupos
externos à organização (Q18D10) e a carga de trabalho que deveria ser
desenvolvida pelo grupo de inovação e que precisou ser desenvolvida por grupos
externos (Q19D10).
De igual forma, a dimensão 9, Formalização, utilizou as mesmas questões do
questionário adaptado por Carvalho e Machado (2010) por não haver necessidade
de redução de dados. A dimensão Formalização pode ser medida pela existência de
conversas e discussões (Q20D11) e documentação delas (Q20D11) para a realização
da inovação.
A última dimensão da análise refere-se à percepção de efetividade do
relacionamento externo à organização. Esse tipo de relacionamento pode ser
avaliado pelo nível de satisfação dos funcionários em relação à parceria
(Q22D12), pelo comprometimento de ambas as partes (Q23D12) e pela flexibilidade
do relacionamento (Q24D13).
O questionário adaptado com a nova metodologia encontra-se no Quadro_3. Os
testes de sua aderência ao modelo existente e consequente modelo proposto serão
apresentados na sequência.
4.2. Teste qui-quadrado (χ2) e aderência do modelo proposto
Conforme descrito nos procedimentos metodológicos e no Quadro_2, três grandes
grupos de análise são constituídos a partir da natureza das dimensões. Dessa
forma, a dimensão 1 é pertencente ao grupo Resultados, as dimensões 2 até 7, ao
grupo das Dimensões Internas, e as três últimas dimensões ao grupo das
Dimensões Externas ao Grupo de Inovação.
Cada grupo obteve uma média originada das dimensões que o compõem e, dessa
forma, foi possível a avaliação do novo modelo em relação ao modelo existente.
Nessa análise, foram utilizadas apenas as dimensões que puderam ser percebidas
no ambiente organizacional, as quais são evidenciadas por meio de altas
frequências nas escalas 4 e 5. O teste qui-quadrado (χ2) para os ambientes
internos e externos pode ser visto na Tabela_3.
Analisando o grupo de dimensões internas, constituídas pelas dimensões
percebidas, observa-se umχ2 de 1,027 que para dois graus de liberdade fica
abaixo do valor crítico de 5,991. Dessa forma, pode-se dizer que há igualdade
estatística entre ambos os modelos, ou seja, admite-se que os desvios não são
significativos em uma probabilidade de ocorrência de 95%.
Da mesma forma, o grupo de dimensões externas, apesar de ter sofrido menos
alterações, apresentouχ2 maior, mas que está abaixo do valor crítico para uma
probabilidade de ocorrência de 95% (HAIR JR. et al., 2005).
A operacionalização da relação entre as dimensões internas e externas sobre os
resultados, conforme apresentado na Figura_1, pode ser verificada por meio da
Figura_2 com o uso da modelagem de equações estruturais (MEE).
De acordo com a Figura_2, observa-se que nem todas as dimensões foram
percebidas pela empresa Alpha para ambos os modelos, já que as não percebidas
não constam entre as dimensões internas ou externas apresentadas na figura.
Verifica-se, ainda, que a correlação entre o grupo das dimensões externas sobre
o das internas apresentou queda de 15% (de 69,4% para 54,7%) do modelo original
para o proposto. Isso se deve à exclusão de dimensões internas que estavam
altamente correlacionadas (multicolinearidade) e que aumentavam a correlação
entre os grupos. Pelo mesmo motivo, observa-se que a relação entre o grupo das
dimensões internas sobre os resultados apresentou queda de 11% (de 39,9% para
28,8%).
Em contrapartida, evidencia-se que as relações do grupo das dimensões externas
sobre os resultados foram representadas com o aumento de 11,6% (de 15,1% para
26,7%). Embora tenham se apurado diferenças significativas de correlação entre
os grupos de dimensões, não se constataram diferenças significativas do poder
de explicação dos grupos de dimensões sobre os resultados. A variação do
coeficiente de determinação (R2), dos grupos de dimensões sobre os resultados
(- 3,4%), destacado com um círculo branco na Figura_2, não significa que houve
perda do poder de explicação. De acordo com as teorias e práticas estatísticas,
sabe-se que a inclusão ou a exclusão de variáveis (dimensões ou questões) de um
modelo, mesmo que elas apresentem correlação espúria sobre a variável latente
(resultados), pode alterar o coeficiente de determinação (PARDOE, 2006; TRIOLA,
2008).
Em suma, atendendo ao objetivo proposto, percebe-se que a redução das questões
e dimensões do modelo proposto não diminui significativamente o poder de
explicação da variável latente (Resultados).
Combinando essas informações com os resultados do teste qui-quadrado (χ2),
rejeita-se a hipótese nula em que se afirma que a redução de dimensões internas
e externas gera diferenças significativas sobre os resultados. Assim, aceita-se
H1: o modelo proposto, com redução de questões e dimensões da metodologia MIS,
apresenta convergências com o modelo adaptado em relação à influência dos
ambientes internos e externos sobre a eficácia da inovação.
Para garantir a robustez das análises, utilizou-se a base de dados dos estudos
de Raduenz (2010) para avaliar o ambiente inovador em uma organização
hospitalar. O objetivo dessa nova análise é dar confiabilidade aos processos
realizados quanto à proposição do novo modelo de análise.
4.3. Testes de prova do modelo proposto
Conforme já mencionado, os dados da organização-prova foram utilizados para
garantir a confiabilidade das análises. Dessa forma, realizou-se o teste qui-
quadrado e a modelagem de equações estruturais (MEE), conforme apresentado no
item 4.2. Ver Tabela_4.
Por meio da Tabela_4, observa-se que os dados apresentam similaridades, com
baixo valor, observa-se umχ2 de 0,211, principalmente se comparado ao valor
crítico (5,991) para dois graus de liberdade sob uma probabilidade de
ocorrência de 95%. Verifica-se, portanto, que ambos os grupos de dimensões não
apresentam desvios significativos em relação ao modelo adaptado do MIS,
apresentando assim igualdade estatística.
Tratando-se da influência das dimensões internas e externas sobre os
resultados, ela pode ser avaliada por meio da MEE observada na Figura_3.
Verifica-se que a relação das dimensões externas com os resultados foi
acentuada e as demais minimizadas. De acordo com o objetivo do estudo, a
influência das dimensões internas e externas sobre os resultados foi superior,
no modelo proposto, em 1,5%. Assim, compreende-se que a exclusão de dimensões
redundantes teve impacto positivo na determinação dos resultados.
Sendo assim, o teste-prova realizado está em consonância com os argumentos
apresentados neste estudo e permite ampliação de uso em outros estudos que
objetivam analisar as relações entre os ambientes de inovação e os resultados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em observância aos objetivos deste estudo, buscou-se desenvolver uma
metodologia de análise do ambiente de inovação das empresas que, além de
diagnosticar as áreas de desenvolvimento organizacional para inovação,
obtivesse construtos baseados em literatura pertinente e com procedimentos de
análise estatísticas coerentes.
Dessa forma, o modelo proposto não objetiva a reestruturação de relações de
ambientes internos e externos sobre os resultados da inovação, mas, sim, o
agrupamento de construtos das dimensões formadoras de tais ambientes.
Verificou-se, então, por meio de teoria pertinente e estudos anteriores, que os
construtos da metodologia MIS são altamente correlacionados. Dado esse
contexto, originou-se uma nova metodologia de análise do ambiente inovador
organizacional com agrupamento das dimensões e eliminação de questões pelo
método de fatores comuns.
A redução de dados proveniente dos testes estatísticos impactou em
significantes alterações na metodologia de base, culminando no surgimento de
uma nova metodologia de análise caracterizada pela diminuição de 70% dos dados
multivariados.
A metodologia apresentada nos resultados deste estudo é compatível com todos os
níveis hierárquicos organizacionais por utilizar linguagem de fácil
entendimento e por contemplar questões que podem ser percebidas em todas as
áreas da empresa. Além dessa vantagem, verifica-se que o processo de coleta de
dados torna-se mais rápido e confiável devido ao menor tempo ocupado dos
respondentes para assinalar as questões de diagnóstico, evitando a dispersão do
respondente, minimizando erros de preenchimento e aumentando a confiabilidade/
fidedignidade dos dados.
A metodologia, ou modelo proposto, é composta por 28 questões alocadas em dez
dimensões, sendo uma dimensão de resultado, seis dimensões relacionadas ao
ambiente interno ao grupo de inovação e três ao ambiente externo a esse grupo.
O modelo ganha robustez ao ser reaplicado em uma organização de setor e tamanho
de amostra diferente da empresa piloto e por apresentar dados consistentes e
satisfatórios que possibilitaram a verificação de igualdade estatística ou
ausência de desvios significativos do modelo original. Com base nos testes
estatísticos deste estudo, rejeitou-se a hipótese nula, ou seja, pela
similaridade dos resultados entre as organizações e pela aderência do modelo
proposto aos resultados que se apresentaram na aplicação do modelo original,
valida-se o modelo proposto. Devido à formatação e à plástica da apresentação
dos dados, não foi possível apresentar todas as tabelas e testes que serviram
de guia para a validação do novo instrumento.
O novo modelo contribui com a comunidade científica por meio da minimização do
instrumento de medida de ambientes inovadores, possibilitando uma análise
simples, objetiva e multidimensional com resultados semelhantes a estudos que
utilizaram a metodologia original em sua totalidade. Sendo assim, pondera-se
que a nova metodologia, apesar de eliminar 65 questões do instrumento de coleta
de dados, não reduz seu poder de explicação e eficácia quanto às relações dos
ambientes organizacionais com os resultados da inovação propostas no modelo
original de Van de Ven e Chu (1989).
Para que possa dar robustez à capacidade explicativa do modelo proposto,
sugere-se a aplicação dessa ferramenta em outras indústrias com diferentes
tamanhos de amostras, bem como a incorporação de variáveis tangenciais aos
ambientes e à inovação.
As limitações deste estudo encontram-se no caráter psicométrico do
questionário, em que as divergências de percepções sobre o ambiente inovador
podem ser influenciadas por fatores relacionados a diferentes tempo de trabalho
na empresa, cargo e idade do funcionário. Assim, embora a empresa possua uma
cultura comum a todos os departamentos, esses podem desenvolver subculturas que
podem diferenciá-los da percepção geral da empresa.