O processo decisório em grupo: uma análise temporal-ambiental
1. INTRODUÇÃO
Alguns autores em Administração têm chamado a atenção sobre como a variável
tempo afeta as suas teorias e métodos. Por exemplo, Kelly e McGrath (1988, p.
56) apontam: "existe um ciclo vicioso de se negligenciar o efeito do tempo nos
conceitos e nas metodologias de administração". Mitchell e James (2001, p. 545)
completam: "acreditamos que as disciplinas de gestão precisam considerar
seriamente as questões de tempo, especificamente quando os eventos ocorrem, em
ambos, na teoria e na prática".
Essa necessidade de considerar o tempo é especialmente importante quando se
estuda o trabalho em grupo. "Grupos de trabalho são indivíduos interdependentes
que dividem responsabilidades para gerar resultados específicos em suas
organizações" (Sundstrom, 1999, p. 7).
Gully (2000) enfatiza que para se compreender o trabalho em grupo, as pesquisas
devem investigar como a dinâmica dos grupos se desenvolve e muda com o tempo.
Além do elemento temporal como variável influenciadora do trabalho em grupo,
Bourgeois (1984) argumenta que ambientes diferentes podem possibilitar
distintos graus de influência dos gestores no desempenho de suas empresas. Na
mesma linha, Hambrick (2007) discute o papel dos gestores como agentes de
mudanças dos resultados organizacionais, mediado pela latitude de ação
proporcionada pelo ambiente no qual uma dada empresa encontra-se inserida.
A latitude de ação é a liberdade de escolha disponível para um gestor dentro de
sua organização (Hambrick & Finkelstein, 1987). Alta latitude de ação
fornece a ele maior gama de opções, tanto na seleção quanto na implementação de
estratégias. Já em um ambiente com baixa latitude de ação, menores são as
chances de que as estratégias traçadas por essas empresas variem entre si
(Walters, 1995).
Assim, o objetivo neste estudo é analisar as influências ambiental e temporal
na dinâmica do processo decisório em grupo e nos seus respectivos resultados.
Neste estudo, investiga-se a teoria pelo exame de grupos que são responsáveis
pela gestão de empresas em uma competição em ambiente simulado. Os grupos no
Jogo de Empresa são responsáveis por definir seus objetivos e estratégias e
interpretar os resultados em vários períodos da gestão. Nas hipóteses,
considera-se que os atributos dos grupos (como perfil de conhecimento e
propensão ao risco) e a qualidade do processo decisório (de planejamento,
execução e relações humanas) afetam os resultados organizacionais.
Como contribuições, este estudo avança na compreensão dos modelos de processo
decisório em grupo; articula como o perfil dos grupos e a qualidade dos
processos, ou seja, como a dinâmica do processo decisório influencia nos
resultados; e ilustra como estudos longitudinais podem ser desenhados em
ambientes com diferentes latitudes de ação, trazendo flexibilidade de análise
pela adoção de contingências temporais-ambientais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Inicialmente, são abordadas questões relacionadas ao processo decisório
estratégico em grupo, seguidas pela influência do tempo e do ambiente nesses
processos.
Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976), em seu artigo seminal sobre processo
decisório estratégico, abordaram como as empresas fazem decisões estratégicas
não estruturadas. Os autores definiram decisão estratégica como importante em
termos dos recursos comprometidos e envolvimento. Eles investigaram 25
situações complexas e chegaram a 7 tipos de processos decisórios estratégicos,
desde o mais simples ao mais complexo, para projetos dinâmicos.
Eisenhardt e Zbaracki (1992) revisaram a literatura relacionada a decisões
estratégicas e concluíram que os processos decisórios envolvem uma
racionalidade limitada. Os autores concluem com uma agenda de pesquisa que
inclui analisar os insights, a intuição, emoções e conflitos englobados nos
processos decisórios. Nesse sentido, este artigo preenche um pouco dessa lacuna
ao estudar o processo decisório realizado por grupos ao longo do tempo.
Nutt (2008) investigou o sucesso do processo decisório analisando 202 decisões
organizacionais e os seus resultados. O autor concluiu que as decisões que
contaram com participação dos gestores foram mais bem sucedidas do que as
tomadas de forma impositiva pelas organizações. Resgatando o conceito
mencionado, neste trabalho analisa-se o processo decisório realizado por grupos
com base na interação e no consenso entre as partes. A opção é justificada pela
carência de estudos brasileiros focados em processos decisórios estratégicos em
grupo.
A seguir, são apresentados alguns estudos sobre o processo decisório em grupo,
destacando-se os seus objetivos e principais achados. Além disso, procura-se
analisar o efeito temporal e a latitude de ação como elementos contingenciais
na condução e nos resultados do processo decisório realizado por grupos.
2.1. Processo decisório em grupo
O modelo dominante de análise de processos decisórios em grupo possui três
fases, entradas-processo-saídas, também conhecido como I-P-O ou Input-Process-
Output (Ilgen, Hollenbeck, Johnson, & Jundt, 2005; Salas, Stage, Burke,
& Goodwin, 2007). As entradas (inputs) geralmente envolvem as situações
interna e externa da empresa, como é o caso do seu ambiente. O processo inclui
as decisões tomadas e a escolha das estratégias. E as saídas (outputs), os
resultados econômicos obtidos no processo.
O Quadro_1 apresenta uma sequência de artigos sobre processos decisórios em
grupo. O primeiro deles, estudo empírico de Gladstein (1984), é desenvolvido de
forma mais estática e busca verificar quais variáveis de input e de processo
propiciaram melhores resultados organizacionais ao grupo.
Gersick (1988) criou um novo modelo a partir da grounded theory, analisando
similaridades na atuação dos grupos de trabalho ao longo do tempo e concluindo
que o prazo final para a entrega deles exerce forte poder sobre a rotina dos
grupos. Esse modelo incorpora a variável tempo para finalizar o trabalho, antes
da metade e depois da metade, como fases distintas na forma de operação dos
grupos.
Já Tannenbaum, Beard e Salas (1992) introduziram dois fatores dinâmicos em seu
modelo: a influência das características de situação, ambiente e organização ao
longo de todas as fases do modelo I-P-O; e um sistema de retroalimentação entre
o desempenho do grupo com as características individuais dos gestores e da
tarefa, ou seja, uma dinâmica cíclica de aprendizagem proveniente dos
resultados alcançados ao longo do tempo.
Marks, Mathieu e Zaccaro (2001) elaboraram uma nova taxonomia para a coleta de
dados sobre o processo, descrita por eles como episódico temporal, pois separa
o processo de trabalho em episódios ao longo do tempo, seguindo o conceito do
elemento tempo como contingência de análise, proposto por Gersick (1988). Um
mérito deste estudo é operacionalizar o conceito de diferentes relações de
trabalho ao longo do tempo, de forma dinâmica, por meio de construtos passíveis
de uso empírico por pesquisadores (Mathieu & Schulze, 2006). O estudo em
questão é considerado base para a parte empírica deste trabalho.
2.2. A influência do tempo no processo decisório em grupo
Marks et al. (2001) argumentam que os diferentes processos em grupo são
importantes em fases distintas da execução da tarefa e da sequência do modelo
I-P-O, destacando a relevância do tempo em estudos sobre processos decisórios
em grupo.
Os autores destacam a falta de estudos que incorporam o tempo de forma
explícita e dinâmica, apontando dez processos episódicos que se repetem ao
longo do tempo, sendo esses agrupados em três categorias: processos de
transição, processos de ação e processos interpessoais, como mostra a Figura_1.
Os processos de transição são períodos no tempo nos quais os grupos despendem
esforços na avaliação e/ou planejamento para atingir suas metas e objetivos
(Figura_1). Como exemplo têm-se os processos de análise da missão,
especificação de metas e formulação de estratégias, que buscam analisar,
avaliar e fornecer novas direções ao trabalho. Já os processos de ação referem-
se a períodos nos quais os grupos estão diretamente envolvidos em processos que
visem ao atendimento das metas, como o monitoramento do seu progresso, por meio
da observação periódica de relatórios, índices e pesquisas de mercado (Figura
1).
Por fim, os processos interpessoais desempenham seu papel tanto na fase de
transição (planejamento) quanto na de ação (execução), como também apresenta a
Figura_1. A gestão afetiva refere-se à ajuda emocional entre os membros do
grupo, em uma tentativa de manutenção da sua coesão interna, criando um
ambiente de trabalho aberto para as discussões sobre as reações interpessoais e
emocionais derivadas do trabalho em grupo. A gestão do conflito caracteriza-se
pelo mecanismo no qual o grupo trata de seus conflitos ao longo do trabalho em
grupo. O último item refere-se ao grau de motivação, bem como a confiança
estabelecida entre os integrantes.
Mathieu e Schulze (2006) utilizaram como base conceitual partes do estudo
desenvolvido por Marks et al.(2001) com o objetivo de determinar a influência
do conhecimento prévio dos grupos nos resultados e o grau de importância da
elaboração de planos estratégicos formais na condução de decisões estratégicas
e na melhoria do desempenho organizacional, bem como checar se a associação
entre os atributos do grupo (conhecimento prévio e qualidade dos planos
formais) com o desempenho é mediada pelos processos de transição e
interpessoais.
A coleta de dados foi feita com 29 grupos distribuídos em três turmas de um
curso de Administração Estratégica nos Estados Unidos, na disciplina Jogos de
Empresas, utilizando o simulador Capstone. O modelo desenvolvido e testado
empiricamente por Mathieu e Schulze (2006) é apresentado na Figura_2.
Os atributos dos grupos foram acessados antes do início da dinâmica do Jogo de
Empresas, e repetidos ao longo do tempo. Os processos episódicos e o desempenho
foram acessados em quatro momentos ao longo da gestão das empresas simuladas da
seguinte forma:
* Conhecimento do grupo ' pela média de notas de outros instrumentos de
avaliação diferentes do Jogo de Empresa sete testes, um exame e duas
análises de casos.
* Planos formais ' cada grupo teve de entregar, antes da simulação, um
plano formal estratégico para o futuro de sua empresa simulada. Os planos
foram avaliados pelos autores de acordo com a sua abrangência analítica e
integrativa.
Os processos de transição foram acessados por meio de três itens: análise da
missão, especificação das metas e elaboração/planejamento da estratégia. Os
processos interpessoais foram verificados, também, por três itens: gestão de
conflito, construção de confiança/motivação e gestão dos aspectos afetivos. Em
ambos os casos utilizou-se uma escala do tipo Behaviorally Anchored Response de
5 itens, variando de 1 (pobre) a 5 (excelente).
Alguns resultados do estudo:
* grupos com maior conhecimento tendem a ter desempenhos superiores;
* grupos com melhores planos formais tendem a ter desempenhos superiores;
* não houve correlação significativa entre processos interpessoais e
desempenho.
Com relação ao último resultado, a interação interpessoal auxiliou nos
processos de transição, que se mostraram hábeis em contornar conhecimentos
iniciais menores em busca de melhor desempenho, ou seja, processos de transição
de alta qualidade foram capazes de diminuir a influência negativa de grupos com
menor conhecimento prévio.
2.3. A influência da latitude de ação no processo decisório em grupo
Managerial discretion é a latitude de ação e de escolha disponível para um
gestor dentro de sua organização (Hambrick & Finkelstein, 1987).
Discricionariedade é a liberdade de ação disponível para um indivíduo (March
& Simon, 1958; Williamson, 1963). A relevância do papel do gestor destaca-
se em meio às incertezas em ambientes com alta latitude de ação,
particularidades locais de um dado problema e contingências dentro do seu
escopo de atuação. No dia a dia, em ambientes com baixa latitude de ação, os
gestores utilizam-se da discricionariedade em suas ações (Caza, 2007).
A latitude de ação dos gestores pode servir como uma possível ponte entre a
perspectiva determinista e a perspectiva que enfatiza o papel da escolha dos
gestores para o resultado empresarial. A posição de Walters (1995) é bastante
similar à defendida por Hambrick (2007), ou seja, as perspectivas são passíveis
de junção por meio da latitude de ação dos gestores.
A latitude de ação dos gestores é regida, segundo Finkelstein (1988), por três
dimensões: ambiental, organizacional e individual. Neste estudo, trata-se a
latitude de ação sob o ponto de vista ambiental. Nela, a diferenciação de
produtos e serviços oferecidos por uma indústria gera maior latitude de ação
para os gestores do que indústrias baseadas no oferecimento de produtos mais
padronizados. Lieberson e O'Connor (1972) verificaram que a intensidade da
propaganda de uma indústria foi positivamente associada à influência dos
gestores na obtenção de resultados organizacionais, no caso, margens de lucro.
Outra forma de diferenciação de produtos está na intensidade de pesquisa e
desenvolvimento (P&D) de uma indústria. Segundo Hambrick e Abrahamson
(1995), esses dois indicadores de diferenciação de produtos são indicadores
complementares. Em ambos os casos, quanto maior a intensidade de propaganda e
P&D em uma indústria, maior a latitude de ação dos gestores e,
consequentemente, sua influência nos resultados organizacionais.
Avançando o trabalho de Finkelstein (1988), Finkelstein e Boyd (1998) discutem
a possibilidade de medição da dimensão ambiental tanto no nível da indústria
quanto no da empresa. Nesse raciocínio, a influência da dimensão ambiental
(diferenciação de produtos, crescimento de mercado, estrutura da indústria,
instabilidade da demanda, restrições legais, poder das forças externas e
intensidade de capital) na latitude de ação dos gestores pode ser exercida nos
níveis da indústria e da empresa, ou seja, com a visão agregada de uma
indústria ou seu impacto individual em cada empresa. A ideia envolvida nesse
argumento é que empresas diferentes dentro de uma mesma indústria podem ter
latitudes de ação distintas.
O argumento de Finkelstein e Boyd (1998) é de que mesmo em indústrias, por
exemplo, com alta latitude de ação, como no caso de computadores, suas empresas
podem ser separadas em grupos estratégicos em função da sua latitude de ação,
utilizando-se os seguintes fatores ambientais: a diferenciação de produtos, o
seu crescimento de mercado e a instabilidade da demanda.
Segundo Hambrick e Finkelstein (1987, p. 374): "a qualidade da gestão pode ser
definida, em parte, pela habilidade de perceber, criar e alinhar
discricionariedade dentro da empresa". Neste estudo, a latitude de ação foi
explorada como ponte entre o determinismo e o papel da escolha dos gestores,
sendo analisados na parte empírica grupos estratégicos de alta e baixa latitude
de ação.
3. HIPÓTESES
As hipóteses estão formuladas a partir das três principais dimensões: dinâmica
do processo decisório, representada pelo modelo I-P-O; latitude de ação (alta
ou baixa); e tempo (momento 1 ' parte inicial da gestão, e momento 2 ' parte
final da gestão), conforme a Figura_3.
Essas dimensões possibilitam a criação de hipóteses temporais-ambientais, bem
como a análise de diferenças e similaridades entre os quatro quadrantes,
criando uma análise da influência da latitude de ação no processo decisório em
grupo.
As hipóteses ainda verificam a intensidade das relações entre os perfis dos
gestores, o processo decisório em grupo e os resultados empresariais, sob
diferentes situações de latitude de ação e de tempo, como ilustrado pela Figura
3.
Os perfis dos gestores representam o nível de conhecimento prévio dos grupos em
assuntos relacionados à administração de empresas, bem como o grau de propensão
ao risco do grupo. Tanto o conhecimento prévio quanto a propensão ao risco são
variáveis de input no modelo, ou seja, antecedentes ao processo decisório.
O processo decisório em grupo inclui: processos de transição, processos de ação
e processos interpessoais, seguindo a taxonomia formulada por Marks et al.
(2001) e explorada, parcialmente, por Mathieu e Schulze (2006).
O resultado organizacional é composto pelo valor das ações das empresas em cada
momento de gestão.
A ideia central é que o modelo (I-P-O)n proposto tem capacidade de explorar o
processo decisório, dependendo de aspectos temporais e ambientais, como mostra
a Figura_4.
Nela, o perfil afeta a qualidade dos processos episódicos e o resultado
empresarial nos dois momentos de gestão, de modo que a primeira hipótese
formulada é:
* H1 ' O perfil dos grupos influencia positivamente os processos episódicos
e o resultado organizacional nos dois momentos da gestão e em ambos os
grupos estratégicos (alta e baixa latitude de ação).
Segundo Hambrick (2007), um ambiente com alta latitude de ação é um catalisador
da influência do grupo de gestão. Quanto maior a latitude de ação, maior o
encadeamento esperado entre os processos de transição-ação-resultado, como
formulado na segunda hipótese:
* H2 ' A relação entre o processo de transição, ação e resultado é superior
nogrupo estratégico de alta latitude de ação nos dois momentos da gestão.
O processo interpessoal, segundo Marks et al. (2001), demora certo tempo para
fazer efeito dentro da dinâmica do processo decisório. Assim, é plausível
esperar que as relações interpessoais demandem tempo de convivência e trabalho
do grupo para influenciar nos resultados. Com isso, a terceira hipótese
elaborada é:
* H3 ' A relação entre o processo interpessoal e o resultado organizacional
é significativa apenas no segundo momento de gestão em ambos os grupos
estratégicos (alta e baixa latitude de ação).
O resultado organizacional, composto pelo valor das ações das empresas em cada
momento de gestão, possui hipóteses específicas, fazendo-se um fechamento
dentro da influência do binômio tempo/latitude de ação na dinâmica do processo
decisório, como mostram as hipóteses 4 e 5:
* H4 ' A variável resultado organizacional, em ambos os grupos estratégicos
(alta e baixa latitude de ação), é melhor explicada no segundo momento da
gestão.
* H5 ' A variável resultado organizacional é melhor explicada, nos dois
momentos de gestão, no modelo do grupo estratégico com alta latitude de
ação.
Essas hipóteses são testadas na parte empírica deste estudo.
4. METODOLOGIA
A metodologia utilizada na parte empírica deste estudo é quantitativa e
descritiva. A amostra foi obtida por conveniência, do tipo não probabilística,
constituída por gestores representados por alunos de graduação do curso de
Administração de Empresas no penúltimo semestre do curso, semelhante a Mathieu
e Schulze (2006).
No Quadro_2 apresenta-se um comparativo entre a amostra deste estudo e a de
Mathieu e Schulze (2006) que também utilizaram a taxonomia de processos
episódicos proposta por Marks et al. (2001).
As amostras foram constituídas pelo mesmo público-alvo estudantes
universitários de Administração de Empresas com o uso de Jogos de Empresas.
Mathieu e Schulze (2006) coletaram um terço da amostra deste estudo, com idade
e gênero similares.
Para este estudo, no primeiro semestre de 2008 foi coletada uma amostra de 29
empresas simuladas, distribuídas em 5 indústrias, com um total de 131 gestores.
No segundo semestre de 2008, a amostra coletada foi de 22 empresas,
distribuídas em 5 indústrias, totalizando 121 gestores. Já no primeiro semestre
de 2009, foram 38 empresas, distribuídas em 7 indústrias, e 190 gestores. O
total da amostra foi de 442 gestores, distribuídos em 17 indústrias e 89 grupos
de gestão, com média de 5,24 empresas simuladas por indústria (sala de aula) e
4,97 gestores por empresa simulada. Dos 442 gestores da pesquisa, 54,6% eram do
sexo masculino e 45,4% do feminino, com média de idade de 21,2 anos.
O simulador estratégico utilizado neste estudo, Markstrat, é um jogo
computadorizado com complexidade adequada para pesquisas acadêmicas
relacionadas à gestão (Larréché, 1987). O jogo possui a característica de um
oligopólio, com quatro a seis empresas disputando.
As equipes iniciaram sua gestão com duas marcas no mercado de produtos Sonite.
Ao longo do jogo, os times podiam lançar marcas em outro mercado: o de produtos
Vodite. Cada empresa tinha a opção de entrar, ou não, nesse novo mercado,
dependendo de suas estratégias e recursos. Ele possuía maior grau de incerteza
mercadológica com relação à previsão de vendas e custo de criação de marcas,
com projetos de pesquisa e desenvolvimento de cinco a dez vezes superior ao
mercado de produtos Sonite. Em termos de ciclo de vida, o mercado de produtos
Sonite encontra-se em fase de maturidade, enquanto o mercado Vodite está no
estágio inicial do ciclo.
Cada rodada de decisão no jogo representava um ano de operação da empresa
simulada. A dinâmica foi desenvolvida em oito anos de gestão. As decisões
tomadas pelos grupos envolveram decisões semanais sobre: marca (lançar, retirar
ou modificar uma marca), composto de marketing (produto, preço, praça e
propaganda), vendas (número de vendedores por marca), pesquisa de mercado e
P&D.
A amostra geral foi estratificada em dois grupos estratégicos: alta e baixa
latitude de ação, seguindo o raciocínio proposto por Finkelstein e Boyd (1998).
A análise da latitude de ação de cada grupo foi realizada em três dimensões:
diferenciação de produtos, crescimento de mercado e instabilidade da demanda,
conforme o Quadro_3.
Elas apontam para uma maior latitude de ação do grupo estratégico Vodite ao
longo de toda a gestão (momentos 1 e 2). Com base nos trabalhos de Finkelstein
(1988) e Walters (1995), o grupo estratégico Vodite, composto por 40 empresas
simuladas, foi utilizado como de alta latitude de ação. Já o Sonite, com 49
empresas simuladas, foi utilizado como de baixa latitude de ação.
4.1. Instrumentos de coleta de dados
O conjunto de dados coletados abrange o perfil dos gestores, os processos
episódicos e os resultados das empresas simuladas.
4.1.1. Perfil dos gestores
* Conhecimento prévio dos gestores. Foi solicitada à Secretaria Acadêmica
da Instituição de Ensino Superior (IES), no início de cada semestre
letivo (2008'2009), uma planilha de notas, em formato Excel, dos alunos
matriculados na disciplina Jogos de Empresas, com a média de cada
estudante em todas as disciplinas cursadas até o sexto semestre letivo,
ou seja, até o semestre anterior à aplicação da dinâmica, por meio do
softwareMarkstrat. Os dados foram coletados e transformados em uma proxy
de conhecimento dos gestores, elaborada por meio da média simulada das
médias de conhecimento dos alunos de cada grupo.
* Propensão ao risco dos gestores. Os dados sobre a propensão ao risco dos
gestores foram levantados antes do início de cada semestre, nos meses de
fevereiro de 2008, agosto de 2008 e fevereiro de 2009. Para tanto, foi
utilizado o construto Job Preference Inventory (JPI) elaborado por
Williams (1965), ou seja, o inventário de preferência de trabalho,
formado por oito pares de perguntas dos quais os respondentes escolheram
uma das opções. Esse construto foi utilizado para a avaliação da
propensão ao risco também no estudo sobre o processo decisório de
aquisição de empresas de Hitt e Tyler (1991).
O índice JPI é uma medição indireta do grau de propensão ao risco de
indivíduos, com uma faixa de valores entre 0 (baixa propensão ao risco) e 8
(alta propensão ao risco). Como exemplo, uma questão proposta por Williams
(1965) é: Você prefere um trabalho com poucas mudanças ao longo do tempo ou
você prefere um trabalho com mudanças constantes?
4.1.2. Processos episódicos
Os dados referentes aos processos episódicos, ou seja, de transição, ação e
interpessoais, foram coletados em dois momentos:
* momento 1 (M1) ' durante o quarto ano de gestão, pois, assim, os grupos e
gestores já teriam a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre o
simulador, suas decisões e o cenário mercadológico;
* momento 2 (M2) ' durante o oitavo ano de gestão, um ano antes da última
rodada (nona), com o intuito de minimizar o efeito de fim de jogo nas
estratégias, decisões e comportamentos dos grupos.
Os processos episódicos foram acessados conforme os conceitos de Marks et al.
(2001) e o questionário criado por Mathieu e Schulze (2006), composto por dez
indicadores relacionados aos construtos de cada processo episódico, sendo três
destinados ao processo de transição (análise da missão, especificação de metas
e formulação de estratégias), quatro ao de ação (monitoramento do progresso das
metas, sistemas de monitoramento, monitoramento interno do grupo e atividades
de coordenação) e três ao interpessoal (gestão afetiva, gestão do conflito e
construção da confiança).
Os questionários estão no formato de uma escala do tipo Behaviorally Anchored
Response(BAR) de 5 pontos, em que 1 representa baixa qualidade no processo
episódico avaliado e 5, alta qualidade do grupo. As âncoras da escala foram
colocadas e especificadas em seus extremos, como mostra o Quadro_4.
4.1.3. Resultado
O resultado organizacional foi avaliado pelo valor das ações das 89 empresas
simuladas deste estudo, que iniciaram sua gestão com valor de ação igual a
1.000. A valorização ou desvalorização das ações ao longo dos anos (rodadas de
decisão) é dependente, no softwareMarkstrat, do acréscimo ou decréscimo anual
dos seguintes indicadores: participação de mercado, faturamento e lucro. O
valor das ações foi acessado pelo pesquisador na base de dados interna do
simulador de negócios Markstrat.
4.2. Modelagem de equações estruturais via partial least square (MEEPLS)
O modelo temporal-ambiental (Figura_3) foi transformado em um modelo
estrutural, conforme a Figura_4, para a aplicação da técnica estatística
multivariada MEEPLS com o uso do software SmartPLS (2010).
O uso da estimação via PLS justifica-se pelo objetivo exploratório e descritivo
deste artigo e pela flexibilidade relacionada ao tamanho da amostra, na qual a
razão entre o número de observações e o de variáveis independentes precisa ser
entre 5 e 30. No caso da técnica PLS, pode-se usar essa razão para a parte mais
complexa do modelo (Chin, 1998).
A técnica PLS conta com benefícios como geração de coeficientes de regressão
padronizados (coeficientes Beta) para os caminhos (paths) do modelo, premissas
de normalidade e de escala intervalar não necessárias (Chin, 1998) e a
estimativa da significância estatística dos coeficientes dos caminhos (path
coefficients) por meio da técnica de bootstrapping, conforme recomendação de
Chin (1998).
O Quadro_5 demonstra uma síntese dos critérios de avaliação dentro da técnica
PLS.
A seguir é detalhado cada construto apresentado na Figura_5.
* Perfil ' perfil dos grupos de gestão, composto pelos indicadores
formativos conhecimento prévio dos grupos em administração de empresas
(CONH) e grau de propensão ao risco dos grupos de gestão (Risco). Esse
foi o único construto que permaneceu inalterado nos dois momentos da
gestão; os demais tiveram nova coleta de dados para o segundo momento.
* Process' construto do processo episódico de transição formado pelos
indicadores reflexivos: análise da missão (T1), especificação de metas
(T2) e formulação de estratégias (T3).
* Acao ' construto do processo episódico de ação formado pelos indicadores
reflexivos: monitoramento do progresso das metas (A1), sistemas de
monitoramento (A2), monitoramento interno do grupo (A3) e atividades de
coordenação (A4).
* Interp ' construto do processo episódico interpessoal formado pelos
indicadores reflexivos: gestão afetiva (I1), gestão de conflitos (I2) e
construção da confiança (I3).
* Result ' construto do resultado organizacional composto pelos valores das
ações em cada ano de gestão.
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste tópico são apresentadas as análises descritivas, a avaliação do modelo de
mensuração e a estrutural (para os ambientes de alta e baixa latitude de ação)
bem como a discussão dos resultados para as hipóteses formuladas.
5.1. Análises descritivas
A análise descritiva indica uma superioridade média nos indicadores referentes
ao ambiente de alta latitude de ação nas variáveis conhecimento e grau de
propensão ao risco, e nos processos episódicos. Até o valor médio das ações no
grupo estratégico de alta latitude possui maior valor e variações superiores,
como mostra a Tabela_1.
O grupo estratégico de Alta Latitude apresentou, no conjunto dos oito anos de
gestão, valor médio de ação (15,1%) superior ao grupo estratégico de Baixa
Latitude, demonstrando maior volatilidade em seus resultados pela amplitude dos
valores de ação (56,4% superior) e do seu coeficiente de variação (32,7%
superior). Esse mix é coerente com a proposição de Walters (1995), na qual tais
ambientes proporcionam mais opções de decisões, gerando consequências
positivas.
5.2. Avaliação do modelo de mensuração
A avaliação do modelo de mensuração foi feita por meio das análises
relacionadas a validade e confiabilidade dos construtos. Quanto à validade,
foram verificadas: cargas e pesos (validade convergente), cargas cruzadas
(validade convergente) e correlação entre as variáveis latentes (validade
discriminante). Levando em conta a confiabilidade dos construtos, observaram-
se: carga PLS dos indicadores reflexivos, confiabilidade composta, variância
média extraída (AVE), alpha de Cronbach, pesos e significância dos indicadores
formativos. O Quadro_6 sintetiza a avaliação do modelo de mensuração para os
dois grupos estratégicos.
5.3. Avaliação do modelo estrutural
O modelo estrutural apresenta os coeficientes de caminho, responsáveis pela
estimativa das relações entre os construtos: Perfil, Process, Acao e Result.
Cada construto foi mensurado ao longo da gestão em dois momentos: no ano 4
(momento 1, designado com M1) e ao término do ano 8 (momento 2, designado como
M2). O modelo estrutural repete-se em ambos os momentos de gestão, relacionados
entre si pelo link entre o processo de ação do primeiro e o processo de
transição do segundo (Marks et al., 2001).
Além dos coeficientes de caminho, foi calculado o valor do R2 de cada
construto. Ele representa o poder explicativo dos construtos independentes:
quanto maior, maior também o poder de explicação pelo relacionamento entre os
seus construtos constituintes.
5.3.1. Modelo estrutural grupo estratégico Alta Latitude
O grupo estratégico de Alta Latitude é composto por 40 grupos. A validade
convergente e discriminante e a confiabilidade dos construtos foram atingidas.
Na Tabela_2 apresentam-se os principais índices do seu modelo estrutural.
De acordo com a Tabela_2, o processo de ação obteve, novamente, o maior nível
de R2 em cada momento da gestão, com 0,61 e 0,65, respectivamente. Já o
processo interpessoal não registrou explicação significativa de sua variância a
partir do perfil dos grupos nos dois momentos da gestão (0,00 e 0,02).
O construto relativo ao processo de transição ganhou força no grupo estratégico
Vodite, com R2 acima de 0,50 nos dois momentos de gestão e R2 muito próximo ao
do processo de ação. Diferentemente do modelo geral, o R2 do processo de
transição aumentou com o tempo no grupo estratégico Vodite.
Quanto ao construto do resultado organizacional, no segundo momento (0,53) o R2
foi superior, como no modelo geral, em mais de 100% em relação ao R2 do
primeiro momento da gestão (0,27). Todavia, os patamares de R2 foram superiores
se comparados ao modelo geral, indicando melhor explicação da variância dos
resultados organizacionais no ambiente com maior latitude de ação.
No primeiro momento da gestão, o perfil dos grupos associou-se
significativamente apenas ao processo de ação e ao resultado organizacional.
Além disso, o processo interpessoal não demonstrou associação significativa com
o resultado organizacional. No segundo momento da gestão, o perfil do grupo
perdeu sua associação com o resultado organizacional e o processo interpessoal
continuou sem influência nesses resultados.
É interessante destacar que o link entre o processo de transição, o processo de
ação e o resultado foi ativado, ou seja, teve significância estatística em suas
relações nos dois momentos de gestão.
5.3.2. Modelo estrutural ' grupo estratégico Baixa Latitude
O grupo estratégico de Baixa Latitude é composto por 49 grupos. A validade
convergente e discriminante e a confiabilidade dos construtos foram atingidas.
Na Tabela_3 apresentam-se os principais índices do modelo estrutural de baixa
latitude, calculados sob o modelo estrutural.
De acordo com os dados, o processo de ação obteve o maior nível de R2 em cada
momento da gestão, com 0,60 e 0,57, respectivamente. Já o interpessoal não
obteve explicação significativa de sua variância a partir do perfil dos grupos
nos dois momentos da gestão (0,02 e 0,08).
O construto relativo ao processo de transição perdeu força no grupo com baixa
latitude, com R2 de 0,41 na primeira metade da gestão, e 0,31 na parte final.
Quanto ao construto do resultado organizacional, o R2 no primeiro momento da
gestão (0,18) foi inferior ao R2com alta latitude (0,28).
No primeiro momento da gestão, o perfil dos grupos associou-se
significativamente apenas ao processo de transição e ao resultado
organizacional. No segundo momento, o perfil do grupo perdeu sua associação com
o resultado organizacional. O processo interpessoal apresentou associação
positiva com o resultado ao longo de toda a gestão, diferente do grupo com alta
latitude.
O link entre o processo de transição, o processo de ação e o resultado foi
ativado, ou seja, teve significância estatística em suas relações, mas apenas
na parte final da gestão.
5.4. Hipóteses da pesquisa
Os resultados dos modelos estruturais (alta e baixa latitudes) fornecem suporte
para a verificação das hipóteses de pesquisa.
A hipótese 1 não se confirmou. A relação entre o perfil dos grupos e os
processos episódicos apresentou o seguinte comportamento no grupo de baixa
latitude: conhecimento prévio associado significativamente à qualidade do
processo de transição (com coeficiente de caminho de 0,2691), mas sem relação
significativa com o processo de ação na parte inicial da gestão, quando ocorreu
baixa associação negativa, porém significante no processo de transição e maior
associação positiva no de ação.
No grupo com alta latitude, o perfil dos grupos de gestão apresentou associação
positiva e significativa do ponto de vista estatístico com o processo de ação
nos dois momentos da gestão. Na relação entre o perfil dos grupos e o processo
de transição, o coeficiente de caminho na parte inicial da gestão não
apresentou significância estatística. A relação mostrou-se significante apenas
na parte final da gestão.
Já a relação direta entre o perfil dos grupos de gestão e o resultado
organizacional indicou associação positiva nos dois grupos estratégicos na
parte inicial da gestão. Na parte final da gestão a necessidade da relação
direta entre o perfil dos grupos e o resultado foi reduzida, perdendo sua
significância estatística nos dois ambientes.
Confirmando a hipótese 2, as empresas inseridas no grupo estratégico de alta
latitude apresentaram relação significativa nas relações entre o processo de
transição e o de ação, e entre o de ação e o resultado organizacional. No
segundo momento da gestão, as relações tornaram-se mais intensas e continuaram
significativas.
As empresas pertencentes no grupo de baixa latitude apresentaram relação
significativa apenas na parte final da gestão. No seu primeiro momento (ano 1
ao ano 4), registraram coeficiente significativo apenas na relação entre o
processo de transição e o de ação, mas não obtiveram relação significativa
entre o de ação e o resultado organizacional. A relação entre o processo de
transição e ação foi similar nos dois ambientes.
A hipótese 3, que trata da relação direta entre o processo interpessoal e o
resultado organizacional, não se confirmou. Ela previa uma ligação
significativa apenas no segundo momento da gestão, para ambos os grupos
estratégicos, pois com o decorrer do tempo eles teriam mais chances de
aproveitar os seus relacionamentos interpessoais para o atendimento de suas
metas. O grupo de alta latitude não apresentou significância estatística na
relação entre o processo interpessoal e o resultado organizacional nos dois
momentos da gestão. Por outro lado, o grupo com baixa latitude apresentou
coeficientes de caminho positivos e com significância estatística ao longo de
toda a dinâmica da gestão.
A hipótese 4 confirmou-se, pois nos dois grupos estratégicos o construto
resultado organizacional foi melhor explicado pelos construtos antecessores na
parte final da gestão. Esse resultado indica que ao longo do tempo a influência
dos grupos (perfil e processo decisório) de gestão nos resultados
organizacionais se intensificou.
A hipótese 5 também se confirmou. Com o passar do tempo, a influência dos
gestores e seus processos episódicos no resultado aumentou, mas de forma mais
expressiva no grupo de alta latitude. Esse fato é coerente com os argumentos de
Hambrick (2007), que destaca o maior poder influenciador dos grupos na obtenção
de resultados em ambientes que possibilitem mais flexibilidade ao seu conjunto
de ações. A inclusão dessa hipótese temporal-ambiental permite esse tipo de
análise.
5.5. Discussão dos resultados
O design flexível deste estudo propicia a análise de relações longitudinais sob
diferentes influências ambientais. O Quadro_7 mostra as principais relações
encontradas na dinâmica do processo decisório.
Nos dois ambientes, o perfil dos grupos teve influência nos resultados
organizacionais apenas na parte inicial da gestão. Na segunda metade, o
processo de ação teve papel de destaque como elemento influenciador dos
resultados organizacionais no ambiente de alta latitude; no de baixa, este
papel foi exercido pelos processos interpessoais e de ação. Com as devidas
restrições, percebe-se que o papel dos atributos pessoais cedeu lugar aos
processos decisórios, ou seja, com menor ênfase nas características pessoais e
maior destaque para o processo em si. Mesmo não sendo objeto explícito deste
estudo, é razoável especular o papel da coesão intragrupo e da aprendizagem ao
longo da dinâmica de gestão.
O indicador formativo conhecimento prévio teve destaque na formação do
construto Perfil dos gestores no ambiente de baixa latitude de ação. No de alta
latitude, a propensão ao risco assumiu este papel. É interessante notar que
diferentes atributos pessoais foram ativados em ambientes com distintas
latitudes de ação. Esta hipótese não foi levantada à priori neste estudo, mas
permite refletir sobre o papel do ambiente como elemento catalisador do uso de
atributos pessoais.
No caso da associação entre o conhecimento prévio das equipes em administração
de empresas e o desempenho das equipes simuladas, Sauaia (2006) não encontrou
nenhuma relação significativa ao longo do tempo. Levando em conta este estudo,
com a elaboração do modelo temporal-ambiental, percebeu-se que o conhecimento
teve papel relevante dentro do contexto ambiental de baixa latitude de ação
tanto no primeiro quanto no segundo momento da gestão, mas sem associação
significativa no ambiente de alta latitude de ação, demonstrando que a natureza
multidimensional da dinâmica do processo decisório requer designs de pesquisa
que busquem a interligação dos fatores influenciadores do desempenho
organizacional.
Processos interpessoais, independente da latitude de ação do ambiente, tiveram
influência na qualidade dos processos de transição e ação. No ambiente de alta
latitude de ação deste estudo, como em Mathieu e Schulze (2006), não houve
associação com o resultado organizacional, mas efeitos indiretos por meio dos
outros processos episódicos. No ambiente de baixa latitude de ação, a
associação estabeleceu-se no presente estudo. Isso denota a relevância da
incorporação do contexto ambiental na análise das relações humanas dentro do
processo de tomada de decisões em grupo.
6. CONCLUSÃO
O estudo ofereceu elementos para a análise dos resultados de cada modelo alta
e baixa latitudes , dando suporte para o entendimento teórico dos achados e a
interpretação dos resultados específicos de cada hipótese de pesquisa,
culminando em contribuições teóricas, metodológicas e implicações práticas.
Este estudo inova ao analisar a influência da latitude de ação na dinâmica do
processo decisório conduzido por grupos ao longo do tempo. Foram utilizadas
hipóteses temporais-ambientais, investigando a dinâmica do processo decisório
em dois momentos de gestão e em dois grupos estratégicos. A modelagem flexível
permitiu a análise de diferenças e similaridades na relação entre o perfil dos
grupos de gestão, os processos episódicos (transição, ação e interpessoal) e o
resultado organizacional, avançando na literatura sobre processo decisório
conduzido por grupos, utilizando-se da taxonomia proposta por Marks et al.
(2001), e no estudo desenvolvido por Mathieu e Schulze (2006).
Verificou-se pelos resultados dos modelos estruturais prevalência da associação
entre o grau de propensão ao risco dos grupos na formação do construto de
perfil no ambiente com alta latitude de ação. Como contraponto, observou-se o
conhecimento prévio dos gestores como fator relevante na formação do perfil dos
grupos inseridos no ambiente com menor latitude de ação.
Esses resultados demonstram a utilidade da consideração do fator latitude de
ação, por exemplo em processos de recrutamento, seleção, composição dos grupos
e na definição de treinamentos específicos dentro de cada contexto ambiental, o
que pode ser bastante útil no campo da gestão estratégica de pessoas.
As contribuições metodológicas envolvem o design dinâmico e temporal da
pesquisa, o avanço do teste empírico do modelo de processos episódicos, o uso
da MEEPLS como técnica estatística multivariada para a análise do processo
decisório em grupos e a ampliação do uso do software Markstrat como ambiente
para pesquisa em gestão.
Como limitações, destacam-se a complexidade do design da pesquisa (modelo
temporal-ambiental), o que dificulta a exploração qualitativa das relações de
causa e efeito de forma mais aprofundada em um artigo, e a base amostral desta
pesquisa composta por estudantes universitários.
Este estudo aponta novas possibilidades de uso do modelo proposto para
investigação sobre o processo decisório praticado por grupos, como é o caso da
ampliação do número de episódios, ou seja, momentos no tempo no qual os
processos episódicos são avaliados esse aumento pode revelar outros padrões
de interação entre as variáveis do modelo; triangulação dos resultados
quantitativos provenientes da adoção do modelo temporal-ambiental com métodos
qualitativos; teste do modelo temporal-ambiental proposto com diferentes tipos
de grupos, como, por exemplo, grupos de projetos com outros testes
estatísticos; experimentos que manipulem, de forma mais expressiva, as
condições ambientais entre os momentos de gestão, bem como estimulem diferentes
intensidades em cada um dos processos episódicos (transição, ação e
interpessoal).