Fatores contingenciais que contribuem para a decisão de modificação do sistema
de custeio: estudo de caso em uma indústria moageira
1. INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, para uma organização manter-se competitiva e próspera,
ela necessita estar atenta à dinâmica do mercado, bem como criar condições para
que, internamente, os vários atores organizacionais ajam de maneira sincrônica,
no sentido de conduzir a organização para a mesma direção.
Na visão de Morgan (1996), as empresas necessitam de atenção por parte dos
administradores, no sentido de que eles busquem constante equilíbrio entre o
atendimento das necessidades internas e a adaptação às circunstâncias
ambientais, externas. Para o autor, não existe melhor modo de equilibrar
necessidades internas e externas: o mais adequado depende do tipo de atividade
e do ambiente dentro do qual a empresa está interagindo. Nesse contexto, a
administração deve buscar o equilíbrio, a fim de maximizar o seu desempenho.
A maximização do desempenho, de acordo com a teoria contingencial, depende da
constante adaptação das empresas a seu ambiente; para tanto, na teoria, busca-
se compreender como as empresas se ajustam a fatores como taxa de mudança, grau
de complexidade do ambiente externo, variáveis indutoras do processo de
mudança, forças e fraquezas da organização, valores, objetivos, habilidades e
atitudes de seus administradores e trabalhadores, tipos de tarefas, recursos e
tecnologias utilizados. Essa teoria fornece fundamentos que possibilitam melhor
compreensão dos fatores que levam determinada empresa a reagir ao ambiente, a
implementar determinado sistema gerencial ou até mesmo a abandoná-lo
(Guerreiro, Pereira & Rezende, 2006).
A manutenção da competitividade passa pela necessidade de decisões
estratégicas, em que conhecer como e de que maneira os recursos organizacionais
são utilizados pode representar vantagem competitiva e perenidade da
organização. Sob esse aspecto, os sistemas de gestão e mensuração de custos
contribuem para a gestão organizacional ao disponibilizarem informações que
permitem diversas perspectivas de análise relacionadas a como, onde, por que e
para que os recursos são consumidos. À luz da teoria contingencial, maior
funcionalidade dos sistemas de informação de custos, a priori, não representa
necessariamente melhor desempenho, pois isso depende também do alinhamento
entre os sacrifícios necessários para obter as informações e a necessidade de
tais informações no contexto em que a organização está inserida (Pizzini,
2006).
A teoria contingencial parte da premissa básica de que as condições do ambiente
causam transformações no interior das organizações. Nessa perspectiva, práticas
contábeis, financeiras ou gerenciais implementadas em desacordo com seu
contexto podem ser descontinuadas ou não exercer o propósito para o qual foram
inicialmente concebidas (Guerreiro et al., 2006; Pereira, Sá & Jorge,
2010).
A entidade, ao deparar-se com contingências que geram desequilíbrio, pode
sentir-se motivada a modificar seu sistema de custeio, com o intuito de alinhar
o tipo de informação gerencial que possui com as características do ambiente em
que opera. De acordo com Guerra (2007), as empresas, ao ajustarem os atributos
do sistema de contabilidade gerencial a cada contexto ambiental e
organizacional, acabam por utilizar, de forma mais eficiente, os recursos
aplicados no sistema.
Entre os diferentes contextos organizacionais e segmentos de mercado, o setor
tritícola - em especial o dedicado ao processamento de trigo - vivenciou
mudanças significativas em seu ambiente, que podem ter-se refletido no tipo de
informação requerida para o gerenciamento dessas organizações. No período de
1967 a 1990, a cadeia produtiva de trigo brasileira foi regulada pelo Decreto-
Lei 210 (Brasil, 1967) que, embora tenha contribuído para ampliar a produção
nacional, desvinculou-a da internacional (Tomasini & Ambrosi, 1998).
Durante o período de vigência do Decreto-Lei, havia cotas de moagem de trigo
para as indústrias, fato que prejudicou o desenvolvimento do setor, pois, na
época, o volume de produção e comercialização era predeterminado pelo governo
federal.
Segundo Brum e Müller (2008), a excessiva regulamentação do governo causou
distorções no mercado produtor. Depois dessa vigência, a agroindústria
especializada na moagem de trigo migrou de um ambiente com preço e volume de
produção preestabelecidos pelo governo para um mercado de livre comércio,
embora, na atualidade, o governo ainda intervenha, geralmente por meio de
leilões, para garantir preços mínimos aos produtores.
Assim, é plausível supor que a alteração sofrida pela indústria moageira de
trigo tenha gerado impacto no modo de gerenciar as empresas e,
consequentemente, em seus sistemas de controle gerenciais, haja vista que, sob
o enfoque da teoria contingencial, as organizações são sistemas abertos em
constante mudança e movimento, redesenhando-se para manter-se competitivas. Tal
possibilidade motiva o presente estudo a buscar resposta à seguinte questão de
pesquisa: Como determinados fatores contingenciais contribuem para a decisão de
modificação do sistema de custeio?
Para responder à questão de pesquisa, o objetivo no estudo é investigar os
fatores contingenciais que contribuíram para a decisão de alteração do sistema
de custeio em uma indústria moageira de trigo sediada no estado de Santa
Catarina, Brasil.
Como delimitação do foco, não é objetivo neste trabalho explicar como era o
sistema de custeio anterior e o que foi modificado, mas investigar as razões da
necessidade de modificação e sua relação com fatores contingenciais.
A motivação para a pesquisa advém da possibilidade de investigar um tema
considerado relevante por pesquisadores nacionais e internacionais. Nesse
sentido, Guerreiro, Frezatti, Lopes e Pereira (2005) relatam que os estudos
relacionados à estabilidade e às mudanças nos sistemas de controle gerencial
têm sido pouco explorados no Brasil.
Chenhall (2003) afirma que, dada a existência de muitas dimensões dos sistemas
de informações gerenciais (SIG) e a constante mudança no contexto do ambiente
organizacional, novos estudos à luz da teoria contingencial serão sempre
oportunos e necessários. Ainda segundo o autor, a confiabilidade das pesquisas
anteriores pode ser ratificada a partir de estudos de replicação que aumentem a
validade e a confiabilidade dos resultados, contribuindo para o avanço da
teoria. Outra razão apontada por Chenhall (2003), que remete à relevância da
pesquisa, é que existem poucos estudos centrados em pequenas e médias empresas
que exploram a questão da interligação entre a teoria contingencial e os SIG.
Complementarmente, no Brasil, entre os estudos apoiados na teoria
contingencial, existem: Guerra, Tesvarolo, Gonçalves e Barbosa (2005), que
investigaram a estratégia de custos e a política de preços; Beuren e Macohon
(2011), que analisaram a inter-relação entre indivíduos, organização e
ambiente; e Camacho (2010), que objetivou compreender os fatores que favorecem
ou inibem a prática de gestão de custos interorganizacionais. No entanto, não
foram localizados estudos dedicados a explicar, a partir de perspectivas
teóricas, os antecedentes e/ou os consequentes que motivam os gestores a adotar
novas ferramentas de gestão de custos, sendo essa a principal contribuição
deste estudo.
2. TEORIA CONTINGENCIAL
Donaldson (1999) relata que a teoria contingencial contraria a escola clássica
da Administração, uma vez que, sob a ótica dessa teoria, não há uma estrutura
organizacional única que seja altamente efetiva para todas as organizações. A
otimização da estrutura das organizações varia de acordo com diversos fatores
contingenciais, tais como porte, setor de atuação, intensidade da concorrência,
incerteza ambiental, tecnologia, postura estratégica etc. Complementarmente, na
teoria contingencial, percebem-se as organizações como sistemas abertos que
precisam readequar-se constantemente, a fim de manter ou melhorar seu
desempenho; não existe a melhor maneira de organizar-se, tudo depende das
tarefas e do ambiente com os quais se está lidando (Morgan, 1996; Lacombe &
Heilborn, 2003).
Os fatores contingenciais estratégia, porte, incerteza com relação às tarefas e
tecnologia, para Donaldson (1999), são características organizacionais que
refletem a influência do ambiente no qual a entidade está inserida. Para a
estratégia ser efetiva, é preciso adequar-se aos fatores contingenciais e ao
ambiente.
A aplicação da teoria contingencial em estudos relacionados à área de
Contabilidade Gerencial baseia-se na premissa de que não existe um modelo de
contabilidade gerencial que se adapte a todas as empresas em todas as
circunstâncias, pois as mudanças ocorrem nos sistemas de contabilidade em
função do impacto de determinados tipos de ocorrência (Molinari &
Guerreiro, 2004). Portanto, o objetivo da pesquisa contingencial é identificar
fatores particulares aos quais cada aspecto da estrutura organizacional precisa
adequar-se (Lacombe & Heilborn, 2003).
A contabilidade gerencial, analisada sob a luz da teoria contingencial, é
percebida como um sistema desenvolvido para atender às contingências
específicas, vivenciadas pelas organizações a partir de seu estágio evolutivo e
do contexto ambiental em que estão inseridas. Para a teoria contingencial, não
há uma maneira única de gestão; consequentemente, não há uma única estrutura de
contabilidade gerencial. Desse modo, deduz-se que as mudanças na contabilidade
gerencial, quando requeridas pelas organizações, o são em razão de fatores
contingenciais que, por sua vez, ao serem ajustados, geram novas contingências.
3. PROPOSIÇÕES RELACIONADAS AOS FATORES CONTINGENCIAIS
Para formular as proposições teóricas, tomam-se como referência diversos
estudos que avaliam os sistemas de contabilidade gerencial (SCGs) sob o enfoque
da teoria contingencial. Nesse sentido, Haldma e Lååts (2002) sugerem que a
abordagem contingencial assuma que os SCGs são adotados para auxiliar os
gestores na consecução de resultados e metas. Para os autores, se o SCG for
considerado apropriado, então provavelmente fornecerá informações úteis para os
gestores.
Entre os diversos fatores contingenciais descritos na literatura, os quais
podem influenciar a eficácia dos sistemas de controle, Chenhall (2003) destaca
como relevantes a incerteza ambiental percebida, o tamanho, a estrutura
organizacional, a tecnologia e o ambiente, razão pela qual utilizam-se tais
fatores contingenciais como base para a formulação de seis proposições teóricas
que nortearam o estudo de caso.
A primeira proposição teórica está centrada na incerteza ambiental percebida.
Chenhall e Morris (1986) e Gul e Chia (1994) relatam que, quando a incerteza
ambiental é percebida como baixa, os gestores são capazes de obter maior
precisão nas previsões relacionadas ao mercado, diferentemente do que ocorre em
ambientes percebidos como complexos, os quais exigem um volume maior de
informações para seu gerenciamento. Adicionalmente, Haldma e Lååts (2002)
compreendem ambiente como nível de concorrência, grau de hostilidade do
mercado, preço, produto e tecnologia disponível e afirmam que tais aspectos
influenciam a contabilidade, em razão da necessidade de informação com maior
detalhamento, de mudanças no processo produtivo, de análise comparativa de
custos, de alterações na estrutura do mercado e de programas de reciclagem.
Isso remete à primeira proposição:
P1 - A modificação do sistema de custeio da empresa foi influenciada
pela percepção dos gestores sobre a ocorrência de modificações no
ambiente.
Quanto ao fator contingencial tamanho, sua relevância no contexto do estudo é
que, segundo diversos pesquisadores, ele afeta o nível de sofisticação
requerido para o SCG (Merchant, 1981; 2007; Haldma & Lååts, 2002; Chenhall,
2003; Gerdin, 2005). Quando uma organização aumenta de tamanho, sua estrutura
organizacional geralmente se torna mais complexa; por conseguinte, pode
aumentar o número de funcionários, ocorrer maior formalização dos processos e o
nível de controle de gestão é ampliado. Adicionalmente, Chenhall (2003) relata
que empresas de pequeno e médio portes têm recebido pouca atenção na literatura
de sistemas de controle gerencial e que, provavelmente, nessas empresas, o
papel dos controles formais seria diferente, dependendo do tamanho e da taxa de
mudança. Daí decorre a segunda proposição:
P2 - A modificação do sistema de custeio foi influenciada por
alteração no porte da empresa.
Na sequência da formulação das proposições teóricas, tem-se a estrutura
organizacional que se constitui nos arranjos organizacionais que influenciam a
eficiência do trabalho, a motivação dos indivíduos, os fluxos de informação e o
sistema de controle (Chenhall, 2003). De acordo com o referido autor, a
prevalência de uma estrutura orgânica ou mecanicista influencia o SCG.
Nas estruturas mecanicistas, predominam a centralização do controle e da
autoridade e um alto grau de especialização das tarefas, existe uma
verticalização maior da hierarquia e a comunicação tende à formalização
(Kalagnanam & Lindsay, 1998). Já estruturas organizacionais orgânicas
caracterizam-se por maior descentralização do controle e da autoridade, e
participação das equipes no processo de gestão; nela os fluxos de comunicação
ocorrem em todas as direções e a hierarquia tende a ser mais horizontal
(Kalagnanam & Lindsay, 1998), logo, a teoria contingencial preconiza que
ambientes com maior grau de incerteza (dinâmicos) tendem a ter uma estrutura
mais orgânica (Burns & Stalker, 1961; Chenhall, 2003). Adicionalmente,
Thomas (1991), por meio de uma revisão da literatura, sugere que a incerteza
ambiental e a estrutura organizacional influenciam o design de sistemas de
gestão de contabilidade, o que leva à terceira proposição:
P3 - No período que antecedeu a modificação do sistema de custeio, os
gestores da empresa perceberam movimentação na estrutura (modificação
na posição continuum entre mecanicista e orgânica).
A próxima proposição teórica centra-se no fator contingencial tecnologia. Uma
de suas características, abordada no estudo de Haldma e Lååts (2002), diz
respeito ao processo produtivo, em que eles avaliaram a complexidade do
sistema, a tecnologia e a perecibilidade dos produtos. Segundo Major (2009), a
literatura que relaciona tecnologia a SCG é a que conta com maior
desenvolvimento na investigação baseada em contingência, em que tecnologias
padronizadas e automatizadas são mais bem apoiadas por meio de SCGs
tradicionais e formais e a incerteza nas atividades tende a reduzir a confiança
dos gestores nos SCGs (Merchant, 1984; Macintosh & Daft, 1987). Com base
nas características relacionadas ao processo produtivo, tem-se a seguinte
proposição de pesquisa:
P4 - Modificações tecnológicas no processo produtivo da empresa
resultaram na necessidade de informações gerenciais que não eram
disponibilizadas pelo sistema de custeio anterior.
Outra questão investigada pela teoria contingencial relaciona-se ao fato de que
uma organização, no decorrer dos anos, vai alternando sua adequação às
contingências: conforme ela transita de um estágio de adequação para
inadequação, seu desempenho vai declinando, o que exige a adoção de nova
estrutura, de modo que seja possível encontrar novo estágio de adequação e
consequente desempenho ótimo (Donaldson, 1999). Em razão do exposto, Donaldson
(1999, p. 105) argumenta que a "contingência causa a estrutura: a organização
adota uma nova estrutura que se ajuste ao nível de contingência, de forma a
evitar a perda de desempenho em virtude da inadequação". A adequação é a
premissa subjacente, e as organizações buscam adequação, ajustando sua
estrutura à contingência (Donaldson, 1999; Chenhall, 2003; Aguiar &
Frezatti, 2007). Sendo assim, no que tange à estrutura e à adequação
contingencial, tem-se a quinta proposição:
P5 - A mudança na estrutura da empresa, entendida por alteração no
número de funcionários e na quantidade de gestores, contribuiu para a
modificação do sistema de custeio.
Por fim, a última proposição teórica centra-se na atenção ao ambiente. Em
conformidade com Chenhall e Chapman (2006), as pesquisas relacionadas a
sistemas de informação gerencial utilizam um quadro de contingências para
identificar como tais sistemas são projetados e implementados para uma
adequação às contingências naquele contexto específico. O fit é, portanto, uma
questão de alinhamento entre três peças principais de um quebra-cabeça da
organização: as características do SIG; o desempenho organizacional; e os
fatores contingenciais que podem afetar a relação entre os dois primeiros. Na
Figura_1, ilustra-se essa ideia.
![](/img/revistas/rausp/v49n2/05f01.jpg)
Pressupõe-se, então, que a modificação no sistema de custeio ocorreu em razão
de ajuste a novas contingências que passaram a impactar o desempenho da
organização. O desafio é identificar os fatores contingenciais particulares que
afetaram as necessidades de informação de custos a ponto de provocar mudanças
em seu processo de obtenção (Donaldson, 2001; Chenhall, 2003; Chenhall &
Chapman, 2006), o que leva à proposição:
P6 - Novos fatores contingenciais externos geraram inadequação e
consequente perda de desempenho da empresa; em resposta, ela
reorganizou-se, e a modificação no sistema de custeio ocorreu como
forma de adequação contingencial.
Estando formuladas as seis proposições da pesquisa, na sequência apresenta-se o
delineamento metodológico adotado para, depois, proceder-se à análise dos
resultados do caso.
4. METODOLOGIA
Quanto aos fins, a pesquisa é de natureza descritiva; quanto à estratégia, o
trabalho constitui-se em estudo de caso único (Yin, 2001; Martins, 2006), cuja
coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa documental e de entrevistas
semiestruturadas. De acordo com Yin (2001, p. 32), o estudo de caso "é uma
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu
contexto de vida real". Na área contábil, segundo Adams, Hoque e McNicholas
(2006), o estudo de caso tornou-se uma estratégia amplamente utilizada, que
pode ajudar a estudar a contabilidade em aspectos como o de obter uma descrição
detalhada da gestão e dos processos de controle.
No que concerne ao critério para seleção do caso, Moll, Major e Hoque (2006)
evidenciam que a escolha do caso em estudos organizacionais deve ser
justificada por sua relevância econômica, pela utilização de novas técnicas e
pelo porte, entre outros fatores. Neste estudo, adotou-se como critério de
seleção do caso a identificação de empresas que tinham modificado seu sistema
de custeio havia dois anos, no máximo.
Quanto aos questionamentos contidos na entrevista, por meio de um roteiro
baseado nos pressupostos teóricos, buscou-se conhecer como era operacionalizado
o cálculo do custo do produto e que tipo de informação era obtido antes e após
a modificação do sistema, além de quais fatores motivaram a mudança. A pesquisa
documental serviu, principalmente, para a triangulação de dados.
Para a interpretação dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, que visou
identificar a presença de variáveis contingenciais nos discursos e na validação
das proposições. As entrevistas, depois de transcritas, foram transferidas para
o software Atlas.ti, o qual favoreceu o processo de categorização que, de
acordo com Bogdan e Biklen (1994), consiste em agrupar as unidades de dados nas
categorias estabelecidas - no caso as seis proposições teóricas. Já as unidades
de dados são as partes das transcrições inseridas no quadro particular
estabelecido pelas categorias. "As unidades de dados são usualmente parágrafos
[...], mas por vezes podem ser frases ou uma sequência de parágrafos" (Bogdan
& Biklen, 1994, p. 233).
O software Atlas.ti gerou um relatório contendo os trechos das entrevistas que
foram codificados em cada uma das categorias utilizadas. Após o processo de
categorização, promoveu-se a análise propriamente dita, tendo como base os
conteúdos selecionados. O software também gerou figuras esquemáticas. Em cada
figura, ilustra-se a ligação estabelecida entre a categoria de análise e as
unidades de dados selecionadas. Todas as figuras contribuem para o processo de
análise e discussão dos resultados.
4.1. Seleção do caso
O processo de definição da empresa objeto de estudo de caso iniciou-se a partir
do contato com duas firmas de consultoria em contabilidade gerencial, a fim de
identificarem-se empresas que se enquadrassem no requisito fundamental da
pesquisa: a modificação recente do sistema de gestão e mensuração de custos.
Foram indicadas oito empresas, das quais três não aceitaram participar, duas
não responderam aos contatos realizados e três sinalizaram positivamente. Após
o contato inicial com as empresas qualificadas para o estudo, constatou-se que
uma delas havia migrado de sistema de custos havia mais de oito anos; logo,
entre as duas restantes, consideradas adequadas ao estudo, optou-se por eleger
a de maior porte e com mais tempo de exercício da atividade.
A coleta dos dados ocorreu durante o período de agosto a outubro de 2011 e
iniciou-se pela leitura e pela interpretação de informações disponibilizadas no
site da empresa. O processo de entrevistas foi deflagrado a partir do
agendamento por e-mail e operacionalizado por meio de visitas. As entrevistas
realizadas com o diretor-presidente, o diretor comercial e o contador, foram
gravadas e posteriormente transcritas. Depois, foram realizados contatos
adicionais, por telefone ou por e-mail, para complementação dos dados.
4.2. Caracterização da empresa objeto do estudo de caso
Trata-se de uma empresa de moagem de trigo fundada em 1951. A estrutura
organizacional atual é formada por quatro diretorias (comercial, industrial,
financeira e presidência) e 85 funcionários. A comercialização é realizada por
representantes comerciais nos estados de Santa Catarina, Paraná e interior de
São Paulo, este último em fase de expansão. A empresa possui uma linha de
produtos direcionada ao consumidor doméstico, que é vendida em supermercados e
similares; e outra destinada ao setor de panificação (padarias e similares),
composta de misturas prontas para pães e bolos. Para o futuro, planeja
desenvolver uma linha de produtos específica para o segmento industrial
(indústrias de alimentos, tais como massas e biscoitos). Sua receita bruta
anual é de aproximadamente R$ 28 milhões. A empresa está enquadrada, de acordo
com Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como de médio
porte (BNDES, 2011).
Como fato contextual logístico relevante, tem-se que a empresa foi instalada no
interior de Santa Catarina para estar próxima à região produtora de trigo.
Entre 1960 e 1990, aproximadamente, a atividade foi fortemente regulada pelo
governo federal em razão de o trigo ser um produto-base de consumo nacional. A
partir do ano 2000, o governo iniciou um processo gradativo de liberação do
mercado; no entanto, ainda hoje ele interfere, seja por meio da aquisição de
estoques reguladores, seja por concessão de subsídios aos produtores.
No tocante à modificação do sistema de custeio, os entrevistados informaram que
o sistema anteriormente utilizado não disponibilizava informações relacionadas
à necessidade de produção - "precisa moer trigo, mas quanto?" - e que as
modificações regulatórias interferiam nas necessidades de informações sobre
custos, pois "toda vez que o governo interfere no trigo, ele distorce o custo".
No tocante ao SCG, os entrevistados relataram que o sistema de custeio
anteriormente utilizado não mais servia para as necessidades de informações.
Tal afirmativa é corroborada por Guerreiro et al. (2006), ao relatarem que as
práticas de contabilidade financeira ou gerencial implementadas em desacordo
com o contexto de determinada organização podem ser descontinuadas ou não
atender ao propósito a que foram inicialmente concebidas.
5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Nesta seção realiza-se a análise das proposições teóricas no contexto da
organização investigada.
5.1. Ocorrência de modificações no ambiente
A primeira proposição a ser avaliada é a P1 - A modificação do sistema de
custeio da empresa foi influenciada pela percepção, pelos gestores, da
ocorrência de modificações no ambiente. Para auxiliar na análise da P1, na
Figura_2, criada pelo software Atlas.ti, mostram-se as unidades de dados
selecionadas, agrupadas em torno da categoria de análise denominada de
modificação do ambiente.
Nos depoimentos explicitados na Figura_2, é clara a percepção, pelos principais
gestores da empresa, de que houve modificações significativas no ambiente.
Em conformidade com Chenhall (2003), o ambiente é uma variável contextual
influente, que está na base da pesquisa contingencial; nesse contexto, a
incerteza ambiental é um dos aspectos mais amplamente pesquisados. Haldma e
Lååts (2002) descrevem as seguintes variáveis ambientais: nível de
concorrência, grau de hostilidade do mercado, preço, produto e tecnologia. Em
relação ao caso sob estudo, os relatos dos entrevistados sinalizaram a
interferência das seguintes variáveis: intensidade da concorrência, regulação
do governo, localização das instalações e commodities.
No que se refere à regulação do governo, esse foi um fator considerado pelos
entrevistados como significativo. O setor de moagem de trigo foi fortemente
regulado pelo governo federal durante 24 anos (1967-1990), período em que cada
moinho tinha uma cota de compra de trigo in natura predeterminada pelo governo.
Em decorrência do controle governamental, o setor manteve-se estático até a
promulgação da Lei 8.096/1990, que revogou o Decreto-Lei 210/67 e estabeleceu
que "são livres, em todo território nacional, a comercialização e a
industrialização do trigo de qualquer procedência" (Brasil, 1990).
A partir dos anos 1990, a empresa passa, gradativamente, a migrar para um
ambiente mais dinâmico (ou, talvez, menos estático), porém ainda com alguma
interferência do Estado. Já o acesso a novas tecnologias possibilitou que a
empresa adotasse uma estratégia de diferenciação e de agregação de valor,
incluindo em seu mix de produtos, além da farinha de trigo, produtos pré-
elaborados, como misturas prontas para bolos e pães, destinados especificamente
a atender a padarias e confeitarias.
Uma característica presente nos relatos foi a busca por diversificação de
produtos e clientes, com foco em melhoria da lucratividade. A partir das
entrevistas, infere-se que causas externas, em especial a intensidade da
concorrência e a pressão por baixos preços, forçaram a empresa a mudar sua
estratégia de comercialização; todavia, as informações fornecidas pelo sistema
de custos não mais atendiam às novas contingências, o que é validado por
Chenhall e Morris (1986) e Gul e Chia (1994) e, portanto, permitem confirmar a
proposição P1.
5.2. Modificação no porte da empresa
Na sequência, procede-se à análise da segunda proposição: P2 - A modificação no
sistema de custeio foi influenciada por alteração no porte da empresa. Para
tanto, agruparam-se, com auxílio do software Atlas.ti, unidades de dados que
contribuíram para o entendimento sobre a temática abordada na proposição
teórica. Na Figura_3, gerada pela ferramenta, segrega-se a categoria de análise
em crescimento físico e financeiro.
Nos depoimentos explicitados na Figura_3, torna-se clara a constatação de que
houve aumento relevante no porte da empresa, tanto na capacidade de produção
como no volume alcançado logo depois da ampliação.
Conforme identificado na revisão da literatura, o porte da empresa é um fator
que afeta o nível de sofisticação requerido para os SCGs, pois, quando uma
organização aumenta de tamanho, sua estrutura organizacional geralmente se
torna mais complexa; consequentemente, pode aumentar o número de funcionários,
ocorrer maior formalização dos processos e o nível de controle de gestão é
ampliado (Merchant, 1981; 2007; Haldma & Lååts, 2002; Chenhall, 2003;
Gerdin, 2005). Na empresa analisada, o tamanho impactou principalmente o volume
de produção, com investimentos para ampliar a capacidade de estocagem "de 6 mil
para 16 mil toneladas" e do crescimento das vendas em torno de 30% ao ano,
razão pela qual se aceita a proposição P2.
5.3. Alteração na posição mecanicista em direção à orgânica
A investigação sobre o fator contingencial estrutura está presente na
proposição P3 - No período que antecedeu a substituição do sistema de custeio,
os gestores da empresa perceberam movimentação na estrutura (modificação na
posição continuum entre mecanicista e orgânica). Conforme descrito na revisão
da literatura, as organizações podem posicionar-se como possuidoras de uma
estrutura tendendo a ser mecanicista ou orgânica; não há uma estrutura única,
adequada para atender às incertezas ambientais. Empresas que atuam em ambientes
dinâmicos, com maior grau de incerteza, tendem a ter uma estrutura orgânica; a
incerteza ambiental e a estrutura organizacional influenciam o design de
sistemas de gestão de contabilidade (Burns & Stalker, 1961; Thomas, 1991;
Chenhall, 2003).
Um dado relevante para a análise da P3 e evidenciado em documentos internos,
como catálogos de produtos e tabelas de preços, diz respeito ao fato de que,
embora a empresa tenha sido fundada há 60 anos, somente a partir da última
década houve um deslocamento da posição mecanicista em direção à orgânica. Tal
deslocamento foi gerado, principalmente, por variáveis externas: redução da
regulação do mercado pelo governo - "queda do Decreto 210" -, que promoveu um
aumento da incerteza ambiental; aumento da concorrência - "no Sul há muitos
moinhos pequenos; no Nordeste são poucos e de grande porte" -; e
disponibilização de tecnologias que permitiram a diversificação da produção -
"a partir dos anos [19]90, teve-se acesso a tecnologias que permitiram
diversificar a produção". Embora em decorrência das características do processo
produtivo a empresa continue a configurar-se como mecanicista, entende-se que,
por conta das variações sofridas, de fato houve modificação no continuum; dessa
maneira, valida-se a proposição P3 para o caso.
5.4. Necessidades de informações gerenciais
Na sequência da análise, a próxima proposição investiga o fator contingencial
tecnologia, a saber: P4 - Modificações tecnológicas no processo produtivo da
empresa resultaram na necessidade de informações gerenciais que não eram
disponibilizadas pelo sistema de custeio anterior. Na Figura_4, gerada pelo
software Atlas.ti, ilustra-se que a categoria de análise foi subdividida em
duas (inovação da tecnologia e tecnologia disponível) e apresentam-se as
unidades de dados que contribuíram para seu entendimento.
As declarações dos principais executivos da empresa, explicitadas resumidamente
na Figura_4, deixam claro que houve relatos relacionados à tecnologia. No
entanto, segundo Merchant (1984), Macintosh e Daft (1987), Haldma e Lååts
(2002) e Major (2009), entende-se que os processos produtivos da empresa
caracterizam-se por possuir tecnologia padronizada e automatizada, o que,
conforme a teoria deveria indicar que a empresa utiliza SCGs tradicionais.
A partir dos dados coletados, infere-se que a empresa, ao modificar seu sistema
de custeio, somente ampliou o volume de informações obtidas; contudo, o tipo de
informação gerado ainda se configura como SCG tradicional, não sendo possível
validar a P4.
5.5. Modificações na estrutura
A proposição P5 relaciona-se com a mudança na estrutura da empresa e é
enunciada do seguinte modo: P5 - A mudança na estrutura da empresa, entendida
por alteração no número de funcionários e na quantidade de gestores, contribuiu
para a modificação do sistema de custeio.
Embora os entrevistados tenham relatado que a empresa tem obtido um crescimento
de receita, não houve indicativo de alterações na estrutura organizacional
durante o período que antecedeu a implementação do sistema de custeio, razão
pela qual não é possível validar a proposição P5.
5.6. Modificações do sistema de custeio em razão da necessidade de ajuste
Por fim, tem-se a proposição P6 - Novos fatores contingenciais externos geraram
inadequação e consequente perda de desempenho na empresa; em resposta, ela se
reorganizou, e a modificação no sistema de custeio ocorreu como forma de
adequação contingencial. Seguindo a mesma linha de análise, extraiu-se com
auxílio do Atlas.ti as unidades de dados que foram agrupadas nessa categoria
denominada de sistema de controle de custos. Na Figura_5, ilustra-se o tipo de
informação que os entrevistados declararam obter a partir da implementação do
novo sistema de custeio. Nos relatos, esteve presente a mensuração do
desempenho - "tirar uma fotografia do desempenho da empresa" -, assim como a
possibilidade de obter informações que permitam "recuar no tempo certo".
A partir de Donaldson (2001), Chenhall (2003) e Chenhall e Chapman (2006), na
Figura_5 ilustram-se a inter-relação entre as características do SCG, o
desempenho organizacional, os fatores contingenciais e alguns dos relatos que
possibilitaram analisar a P6. Infere-se que, para o caso, a implementação de um
novo sistema de custeio deu-se em razão da ocorrência principalmente de fatores
externos, que foram percebidos pelos gestores como impactantes no desempenho
atual e futuro, exigindo o realinhamento das estratégias, principalmente as
mercadológicas (diversificação e canal de distribuição), para garantir a
rentabilidade e a perenidade. Conforme os relatos, as informações fornecidas
pelos sistemas de custeio anterior não mais atendiam às necessidades de
informações para a gestão, culminando em sua modificação. Por exemplo: "Até
2008 o atendimento foi satisfatório, de 2009 para cá se descolou, tivemos uma
crise de informação" e "Com esse trabalho, a gente foi segregando, o volume
influencia a margem, ponto de equilíbrio, não se tinha essa metodologia em si
aqui".
Na Figura_6, agregam-se ao esquema proposto no início do estudo (Figura_1)
algumas das unidades de dados que contribuíram para o entendimento de como os
fatores contingenciais contribuíram para a modificação do sistema de custeio na
empresa.
Por meio da interpretação das respostas obtidas, parcialmente ilustradas nas
Figuras_5 e 6, infere-se que a P6 é válida. Esses achados são similares aos
descritos por Donaldson (1999), Chenhall (2003), Guerreiro et al. (2006),
Pizzini (2006) e Pereira et al. (2010), pois, de acordo com os relatos, embora
houvesse diversos fatores reportando variáveis contingenciais internas, eles
estavam, em sua maioria, associados à estratégia e ao desenho do sistema de
informação gerencial e indicavam que as informações obtidas não atendiam mais a
suas necessidades; no entanto, no caso investigado, conclui-se que foram as
contingências externas que impactaram a modificação do SCG.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As empresas geralmente estão em constante movimento, redesenhando-se para
manter-se competitivas, para adequar-se às contingências e encontrar formas de
diferenciação e crescimento. Tal fato motivou investigarem-se os fatores
contingenciais que estavam presentes e que contribuíram para a decisão de
modificação do sistema de custeio em um moinho de trigo sediado no estado de
Santa Catarina, Brasil.
Para responder à questão de pesquisa, elaboraram-se seis proposições destinadas
a investigar se a modificação do sistema de custeio deu-se em razão de:
modificações ambientais (P1); alterações no porte da empresa (P2); modificação
na posição mecanicista em direção à orgânica (P3); modificações tecnológicas
(P4); mudança na estrutura da empresa (P5); novos fatores contingenciais
externos (P6). A partir dos relatos, somente as proposições P4 e P5 não puderam
ser validadas. De maneira resumida, conclui-se que os principais fatores
contingenciais que contribuíram para a modificação do sistema de custeio na
empresa foram: ambiente (com a migração de um ambiente estático para um
dinâmico), concorrência, mercado, produto, tecnologia, sistema de controle
gerencial e regulamentação (desregulamentação) do mercado.
Assim como descrito na revisão de literatura, as variáveis contingenciais
tecnologia e sistema de controle gerencial tiveram um número significativo de
relatos. A tecnologia parece ter afetado a empresa devido ao surgimento de
novos insumos e processos que possibilitaram quebrar o paradigma de ser uma
empresa produtora apenas de farinha de trigo e tornar-se multiprodutora, tendo
como resultado uma melhora em seu desempenho.
Quanto aos relatos que se reportaram ao sistema de custeio anterior, infere-se
que as informações geradas por tal sistema deixaram de atender às novas
necessidades estratégicas da empresa e que o novo sistema adotado, apesar de
também caracterizar-se como tradicional (Major, 2009), tem contribuído
satisfatoriamente para apoiar o nível de informação requerida pelos gestores.
Por essa razão, para o caso em questão, não é possível convergir com Merchant
(1981; 1984), que relatou que mecanismos formais de controle, tais como os
SCGs, são caros e desnecessários para controlar empresas de pequeno e médio
portes.
Por intermédio da análise e da interpretação das respostas obtidas nas
entrevistas, entende-se que foram as contingências externas que deflagraram as
modificações do SCG, forçando os gestores a investirem em um sistema de
custeio. Tal decisão notadamente propiciou aos gestores um conjunto de
informações que lhes permitiu readaptarem-se às novas contingências, por meio
da ampliação da capacidade de estocagem e da linha de produtos, modernização
tecnológica e conquista de um novo segmento de mercado em favor da melhora do
desempenho e da perenidade da empresa.
A regulação governamental como variável ambiental está descrita nos estudos de
Otley (1980), Thomas (1991), Henri (2006), Alrawi e Thomas (2007) e Porto,
Krakauer, Almeida e Fischmann (2011). A presente pesquisa contribui com a
literatura sobre sistemas de controle gerencial ao constatar que tal variável
teve impacto significativo no tipo de informação de custos requerido para o
apoio à tomada de decisão na empresa. Nesse sentido, Alrawi e Thomas (2007), em
sua conclusão, relataram que é necessário compreender como as ações requeridas
para equilibrar o uso diagnóstico e interativo dos SCGs variam de acordo com
mudanças nos contextos organizacionais.
Como os atributos do ambiente modificam-se constantemente, suas implicações
para os SCGs requerem constante avaliação (Chenhall, 2003). Diversos
pesquisadores da teoria contingencial reiteram a necessidade da continuidade do
desenvolvimento de estudos na área contábil (Chenhall, 2003; Gerdin, 2005;
Tillema, 2005; Abdel-Kader & Luther, 2008; Fagundes et al., 2010; Chawla,
Magaliso, Knipes & Gauthier, 2012), logo, o estudo ora descrito contribui
para a continuidade das pesquisas que abordam os SCGs sob a ótica da teoria
contingencial.
De acordo com Chenhall e Chapman (2006), as pesquisas que envolvem SCG e a
teoria contingencial centram-se em investigar o alinhamento entre as
características do SIG, o desempenho organizacional e os fatores contingenciais
que podem afetar a relação entre os dois primeiros. Nessa direção, uma
contribuição do estudo repousa na indicação de um conjunto de fatores
contingenciais atípicos em muitas pesquisas, que é a modificação no SCG,
notadamente o sistema de custeio, em decorrência de fatores como a transição de
um ambiente altamente regulamentado para outro de livre comércio e o
concomitante acesso a tecnologias que modificaram a natureza mercadológica da
organização.
Os achados, embora não possam ser extrapolados para além do caso em questão,
ratificam a existência da necessidade de ajuste nos SCGs para que a organização
disponha de informações que lhe permitam operar com eficácia e atingir as metas
de desempenho planejadas.
No caso investigado, as informações geradas pelo sistema de custeio, antes
projetado para uma empresa que produzia um único produto, cujo volume a ser
comercializado era preestabelecido pelo governo, necessitaram ser
estrategicamente reorganizadas para gerar informação que favorecesse o ajuste
às novas contingências, fato que contribuiu para o desempenho organizacional e
para a sobrevivência da organização, tal condição, segundo os entrevistados,
não foi atingida por diversos moinhos fazendo com que encerrassem suas
atividades ou fossem incorporados por outras empresas.
Futuras pesquisas podem explorar o tema em empresas de outros setores ou em
outras empresas do setor de moagem de trigo, a fim de comparar os resultados.
Na mesma linha, estudos longitudinais, que envolvam períodos antes, durante e
depois da implementação de sistemas de custeio, podem contribuir para o
aprofundamento do tema.