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BrBRHUAp1413-99362006000300008

BrBRHUAp1413-99362006000300008

National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN1413-9936
Year2006
Issue0003
Article number00008

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Biblioterapia para crianças em idade pré-escolar: estudo de caso

1 Introdução O Brasil é um país que possui uma série de problemas ocasionados pela falta de investimentos na educação e na cultura do seu povo. As pessoas não têm acesso à leitura, pois o livro possui tem custo alto, não sendo acessível à maioria da população, os problemas se agravam com maior intensidade pela educação que resulta numa grande massa de decifradores de códigos, e não de leitores críticos capazes de mudar o seu contexto embasado nas leituras e no conhecimento dos seus direitos e deveres como cidadãos.

Para que o bibliotecário atue estreitamente na mudança dessa realidade, é preciso muito mais do que saber catalogar, indexar, organizar e disseminar informação. Faz-se extremamente necessário o engajamento deste profissional em equipes multidisciplinares que tenham por objetivo comum a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar sócio-cultural dos cidadãos.

O bibliotecário não deve assumir o papel de guardião de livros como acontecia alguns anos. A realidade dos campos de atuação desse profissional está ampliando-se cada vez mais e assumir esse momento é essencial para o fortalecimento e reconhecimento da profissão.

De maneira alguma diminui-se a importância da técnica da profissão do bibliotecário, afinal é a sua essência. Porém, exercer o papel social é, de certa maneira, o ápice, considerando à realidade atual do país, que tem sede de cidadãos leitores e de agentes fomentadores da leitura.

A biblioterapia é um exemplo desse novo momento da profissão. muito tempo ela vem sendo exercida por profissionais da saúde, psicólogos e terapeutas.

Embora ainda haja a predominância desses profissionais na aplicação da biblioterapia, existem casos em que esta vem sendo aplicada por bibliotecários e apresentando ótimos resultados.

Além da biblioterapia ser uma nova oportunidade de atuação no campo de trabalho do bibliotecário, as atividades relacionadas a ela são ótimas para o desenvolvimento da criatividade, incentivo ao gosto pela leitura e a pacificação das emoções.

Este artigo teve como objetivo geral identificar as contribuições da aplicação da biblioterapia nas crianças em idade pré-escolar matriculadas em período integral no Centro de Educação Nossa Senhora da Boa Viagem, e, como objetivos específicos, pretendeu estimular a criatividade, promover à leitura, proporcionar lazer e diversão, instigar o imaginário, proporcionar a catarse, possibilitar o contato com diferentes tipos de textos e desenvolver atividades lúdicas, objetivos estes voltados para as crianças com idade de quatro anos matriculadas em período integral na escola.

O trabalho teve como característica a realização de um estudo exploratório, que assumiu a forma de estudo de caso, ou seja, análise e observação da reação do grupo de crianças acerca da aplicabilidade da biblioterapia proposta visando à obtenção de resultados positivos e a compreensão do assunto investigado.

Optou-se pela abordagem qualitativa, pois o objetivo do trabalho foi analisar a reação das crianças individualmente e em grupo, não sendo necessários dados estatísticos. A coleta de dados foi obtida por meio da observação do comportamento.

A observação realizada foi participativa, com o pesquisador desenvolvendo as atividades biblioterapêuticas propostas no projeto. Foram realizadas diferentes sessões de biblioterapia em dias alternados, e toda atividade bem como a reação dos participantes foi registrada por meio de vídeo.

A população estudada foi composta por 22 crianças matriculadas na pré-escola em período integral no nível maternalIII (4 anos de idade), que passam a maior parte do seu dia longe do ambiente familiar.

2 BIblioterapia: conceito, método, objetivos, aplicabilidade e avaliação.

A primeira pergunta que surge é: o que é, afinal, a biblioterapia? De acordo com a etimologia da palavra, biblioterapia significa terapia por meio de livros. Surge, então, outra questão: o que é terapia? Terapia, do grego therapeia, tem o sentido de velar pelo próprio ser. Não se confunde, portanto, com medicina, do grego iatriké, que significa cuidar do próprio corpo.

A palavra terapia, tanto no grego como no hebraico, tem o sentido de atitude preventiva. O terapeuta significava aquele que cuida, e os primeiros terapeutas foram os filósofos ' cuidavam do corpo e do espírito. Ocupavam-se do corpo e do sopro da vida que anima o corpo (OUAKNIN,1996).

Os estudiosos da biblioterapia associam-na à saúde mental, ajustamento pessoal e social, resolução de conflitos internos, exteriorização dos problemas íntimos e consideram-na como coadjuvante terapêutico na medicina e na psiquiatria.

Partindo do princípio que terapia é velar pelo ser, cuidar do ser, tem um sentido holístico. Como bem disse Ouaknin (1996, p. 14): "O ser humano vivo é um corpo falante. O sopro da vida passa pelo sopro da palavra. O terapeuta cuida da palavra que anima e informa o corpo. Curar alguém é fazer falar e observar todos os obstáculos a essa palavra no corpo".

Assim, pode-se dizer que o papel do biblioterapeuta é cuidar do fôlego da vida.

Permitir que a pessoa respire, isto é, que desbloqueie suas tensões, que desabroche, que desate os nós que travam a livre circulação do sopro. O biblioterapeuta vale-se, portanto, da palavra, da conversa, do diálogo.

Em vista disso, Caldin (2001) considera biblioterapia uma atividade que une leitura dirigida com posterior discussão no grupo, de forma a favorecer a interação entre as pessoas, levando-as a expressarem seus sentimentos, angústias, receios. A troca de vozes, de experiência e de afetividade não é um detalhe na biblioterapia ' ela é o cerne de toda a atividade biblioterapêutica.

A biblioterapia vale-se, essencialmente, da palavra.

Mas... cuidado! A palavra pode causar alegria, tristeza, esperança, desespero, dor, alívio, angústia, contentamento, entusiasmo, desânimo. Pode conduzir ao amor ou ao ódio. Pode ferir e pode curar.

De acordo com Freud (197-) as palavras são bons meios para provocar modificações psíquicas naquele a quem são dirigidas. E, muito antes de Freud a Bíblia dizia: "a língua dos sábios é uma cura". (Provérbios 12:18).

Então, na biblioterapia quem deve falar? De quem é a palavra? A palavra é, basicamente, do livro. É ele o ponto de partida para se entabular uma conversa.

O livro lança uma idéia ' o leitor/ouvinte a assimila e, valendo-se de sua liberdade de interpretação, infere novos sentidos ao lido.

Todo livro conta um segredo, mas não é qualquer gente que consegue decifrá-lo, não senhor. Os livros são tímidos e precisam confiar muito no leitor para revelar o segredo que guardam. O leitor tem que ser amigo dos livros, visitá-lo sempre, conversar com eles, até chegar o dia em que o livro, assim baixinho de repente, sussurre ligeiro o segredo de uma história que ele vai contar para sempre (VALADARES, 2001, p. 30-31).

Vê-se, portanto, que o livro fala. Conta um segredo. Cada um desvenda esse segredo do seu jeito, do jeito que mais gostar, do jeito que provoque suas emoções, que afaste a dor, que propicie a ilusão de ser outra pessoa, que permita atribuir à personagem seus medos e fraquezas, que admita a apropriação de qualidades desejáveis da personagem, que favoreça a reflexão.

Leitura/contação - Interpretação - Diálogo ' nesse tripé fundamenta-se o método biblioterapêutico.

Não basta ler/ouvir e guardar para si as palavras e as emoções que as palavras fizeram aflorar. A troca de interpretações é fundamental no diálogo biblioterapêutico. Palavras e gesto ' voz e corpo ' se unem para fornecer a garantia de que o sujeito não está sozinho ' ele pertence a um grupo e se apóia nele. A intercorporeidade, aliada à intersubjetividade transforma a leitura coletiva em um ato terapêutico.

quem defenda a biblioterapia como uma relação com o livro, a leitura e a interpretação - como sendo uma prática solipsista - encontro solitário de um homem consigo mesmo por intermédio de um livro. Isso é possível. No entanto, de maneira geral, a biblioterapia vale-se da leitura solidária, e não da leitura solitária.

Leitura, leitor, texto literário ' tudo isso nos remete ao livro. O que pode ser considerado como livro? Segundo os dicionários, livro é uma publicação não-periódica que reúne páginas impressas; qualquer coisa que pode ser estudada e interpretada como um livro.

Nessa segunda acepção, muita coisa pode ser enfocada como livro ' desde que seja passível de estudo ou interpretação. Dessa forma, diz-se: livro da natureza, livro da vida e utiliza-se a expressão: falar como um livro.

Como bem disse Freire (2000, p. 11) "a leitura do mundo precede a leitura da palavra". Isso significa que leitura não é apenas a decodificação de sinais gráficos. Mas, basicamente, quando se fala em livro, pensa-se em um texto escrito.

É nesse sentido que se pensa a biblioterapia: ela deve ter um texto de suporte.

O texto escrito permite, entretanto, certa flexibilidade na forma de aplicação das atividades biblioterapêuticas: pode ser lido, contado ou dramatizado.

A leitura destaca o estilo do autor, concede primazia a uma linguagem mais elaborada, diferente da linguagem do cotidiano, permite o distanciamento necessário para que o leitor sinta-se livre para inferir sentidos de acordo com a interpretação que lhe apraz.

O narrar, mesmo baseando-se em um texto escrito, privilegia a memorização, a gestualidade, a performance, a modulação da voz, o ritmo e a autoridade da voz.

O narrador manipula a recepção e conduz a narrativa a seu bel prazer.

O dramatizar, isto é, a arte de representar, não prescinde do texto literário.

O teatro traduz em palavras o que estava escrito. As personagens falam e agem conforme o texto que o autor montou, pois, para passarem a mensagem do poeta, necessitam do enredo ' que significa texto escrito.

Tanto o ler, como o contar e o dramatizar necessitam de alguns ingredientes para atingirem efeitos terapêuticos. De acordo com Caldin (2001, 2005) são componentes terapêuticos: a catarse (pacificação das emoções), o humor (rebelião do ego contra as circunstâncias adversas, transformando o objeto de dor em objeto de prazer), a identificação (assimilação de um aspecto ou atributo de outro ocasionando a transformação total ou parcial segundo o modelo desse outro), a introjeção (passar para dentro de si, de modo fantasístico, qualidades do outro), a projeção (transferência ao outro, de idéias, sentimentos, expectativas e desejos) e a introspecção (reflexão, percepção interior).

O que se pretende alcançar com todos esses componentes biblioterapêuticos? Quais são os objetivos da leitura com possibilidades terapêuticas? Pode-se listar, entre outros, os seguintes objetivos: proporcionar a catarse; favorecer a identificação com as personagens; possibilitar a introjeção e a projeção; conduzir ao riso; aliviar as tensões diárias; diminuir o stress; facilitar a socialização; estimular a criatividade; diminuir a timidez; ajudar no usufruto da experiência vicária; criar um universo independente da vida cotidiana; experimentar sentimentos e emoções em segurança; auxiliar a lidar com sentimentos como a raiva ou a frustração; mostrar que os problemas são universais e é preciso aprender a lidar com eles; facilitar a comunicação; auxiliar na adaptação à vida hospitalar, escolar, prisional, etc.; desenvolver a maturidade; manter a saúde mental; conhecer melhor a si mesmo; entender (e tolerar) as reações dos outros; verbalizar e exteriorizar os problemas; afastar a sensação de isolamento; estimular novos interesses; provocar a liberação dos processos inconscientes; clarificar as dificuldades individuais; aumentar a auto-estima.

A dúvida de muitos bibliotecários é a seguinte: que textos usar na biblioterapia? Aristóteles (1966) dizia que a poesia é universal, pois conta as coisas que poderiam suceder. Definiu poesia como imitação, mímesis. A capacidade de imitar, inerente ao homem e o prazer que sente na imitação são os fatores que geram a poesia.

Cumpre lembrar que os gregos desconheciam a prosa de ficção. O aparecimento desta deu-se na Idade Média. Assim, por extensão, o texto narrativo ficcional, permeado de metáforas, em que o autor procura deleitar e comover o leitor, configura-se como uma obra poética.

É isso que conta na seleção de uma história para ser lida, contada ou dramatizada: as obras nas quais é dominante a função estética ' um texto que admita múltiplos significados e sentidos, que seja um texto de prazer, que produza a fruição, que contemple, pelo menos, um dos componentes biblioterapêuticos.

Assim, na escolha de uma história para atividade de biblioterapia, deve-se evitar textos: moralizantes; didáticos; informativos; pobres em conteúdo; aborrecidos; muito longos; fragmentados.

Como bem disse Candido (1995) a literatura é necessária para a compreensão da realidade. Assim, ficção e real se interligam ' a fantasia participando da realidade. quem diga que a arte imita a vida. Entretanto, diz-se, com muita propriedade, que a vida imita a arte.

Outra dúvida que surge é: onde aplicar a biblioterapia? Responde-se sem titubear: em qualquer lugar em que haja ser humano. Creches, escolas, orfanatos, centros comunitários, prisões, hospitais, casas de repouso, asilos. Não restrições de idade. Nem de público-alvo. Crianças, jovens, adultos, idosos, portadores de necessidades especiais, doentes crônicos, dependentes químicos ' todos são merecedores dos efeitos benéficos da leitura.

A esse respeito pode-se listar algumas atividades biblioterapêuticas contempladas em dissertações de mestrado, abaixo citadas.

Pereira (1987) desenvolveu uma pesquisa prática de leitura para enfermos em um hospital psiquiátrico, envolvendo deficientes mentais apenados utilizando a técnica de leitura em grupo.

Fernández Vasquez (1989) realizou um estudo de caso com aplicação de biblioterapia em uma instituição de idosos valendo-se de sessões de leitura recreativa em grupo e sessões de leitura individuais.

Pereira (1989) apresentou um estudo sobre as possibilidades de aplicação da biblioterapia em instituições de deficientes visuais partindo de questionários que indicassem temas de interesse para os cegos a fim de utilizar leituras por eles indicadas.

Cruz (1995) investigou as condições de leitura e estudos de adolescentes carentes de escola pública de periferia, tendo como metodologia leitura oral seguida de redação.

Seitz (2000) experienciou a prática biblioterapêutica com pacientes adultos internados em clinica médica em hospital público universitário por meio de leitura de revistas como fonte de lazer e informação.

Caldin (2001) analisou vários projetos de leitura, com finalidade terapêutica, para crianças em hospitais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul como meio de humanizar os procedimentos hospitalares.

Silva (2005) verificou a produção documental sobre biblioterapia no Brasil concluindo que, apesar de a biblioterapia ser um objeto de investigação pouco divulgado, existe uma produção documental significativa consistindo a prática biblioterapêutica uma atividade prioritariamente nas áreas de biblioteconomia e da psicologia.

É bom lembrar que alguns cuidados devem ser tomados antes de iniciar as atividades de biblioterapia: é necessário obter o consentimento da instituição e dos interessados; realizar um diagnóstico sobre a instituição, do público a ser atendido; verificar as preferências de leitura; atentar para a diversidade de interesses, cultura, valores; respeitar as diferenças e, acima de tudo, realizar a atividade com amor.

Questiona-se como avaliar as atividades biblioterapêuticas, visto a biblioterapia ser considerada mais como arte e menos como ciência.

Como a ela constitui-se em atividade interdisciplinar, pode ser desenvolvida em parceria com profissionais de diversas áreas como a biblioteconomia, letras, pedagogia, psicologia, enfermagem, artes. Dessa maneira, cada profissional, na sua área de atuação e conhecimento, pode contribuir na avaliação da atividade.

Basicamente, utilizam-se como recursos de avaliação a observação, os depoimentos do público-alvo, os depoimentos dos encarregados das instituições e familiares e a intuição/percepção dos aplicadores.

Concluindo, considera-se pertinente registrar os dez direitos imprescritíveis do leitor, segundo Pennac (1998): O direito de não ler; O direito de pular páginas; O direito de não terminar um livro; O direito de reler; O direito a ler qualquer coisa; O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível); O direito de ler em qualquer lugar; O direito de ler uma frase aqui e outra ali; O direito de ler em voz alta; O direito de calar.

3 Atividades biblioterapêuticas : planejamento e descrição.

As atividades foram desenvolvidas duas vezes por semana com o mesmo grupo de 20 crianças do maternal III (4 anos) de creche pública. A equipe foi composta por duas professoras-pesquisadoras, sendo uma do curso de biblioteconomia da UDESC e outra do curso de Biblioteconomia da UFSC, ambas orientadoras do trabalho, uma pedagoga e uma formanda em biblioteconomia da UDESC, que desenvolveu as atividades de contação de história. Todas as atividades foram filmadas e fotografadas para registro da memória e para retirar destes documentos informações para o posterior relato das atividades desenvolvidas. O grupo de crianças contava ainda com uma professora (pedagoga) e uma auxiliar de sala (ensino médio) que participaram das atividades.

Em seguida faz-se o relato das atividades desenvolvidas ao longo das semanas de encontros com as crianças, bem como as impressões percebidas com a aplicação do método biblioterapêutico: Encontro No primeiro encontro formal iniciou-se o trabalho com uma conversa da contadora com as crianças para que acontecesse a apresentação do grupo. Nesse momento as crianças foram questionadas sobre os seus gostos de leituras, sobre os contatos que estas tinham com a leitura, procurando-se identificar quais os elementos da família que contribuíam de alguma forma no que diz respeito às questões do incentivo ao gosto de ler.

Logo que cada um fez a sua apresentação contando à equipe um pouco da sua história, deu-se início à preparação do clima para a contação da história. Com uma pequena bolsa nas mãos, fazendo um grande mistério, a pesquisadora/ contadora comentou que havia algo mágico naquela bolsa e que, de alguma forma, eles precisariam adivinhar qual seria o objeto para que a história pudesse acontecer. Logo em seguida percebeu-se um grande interesse por parte das crianças: será que é um pozinho? perguntou B. Continuando no clima da brincadeira, insinuou-se que o objeto que estava dentro da bolsa possuía poderes mágicos e todos que o tocassem poderiam ficar mágicos também. Os olhinhos encheram-se de curiosidade, e a alegria pareceu tomar conta do momento. Então, para divertimento das crianças, um chapéu de bobo da corte foi retirado da bolsa e passado de mão em mão, até retornar à contadora que, imediatamente, iniciou a história A Margarida Friorenta.

Logo após a contação, fez-se a seguinte pergunta: O que vocês fariam para que a margarida não sentisse mais frio? "Eu dava um cobertor bem grande pra ela" respondeu C parecendo muito preocupada com a situação da personagem, fato que comprova o seu envolvimento com a história narrada. As crianças também tiveram vontade de contar sobre suas plantas em casa, e faziam questão de dizer que cuidavam delas com carinho. "Eu tenho uma rosa bem grande" disse D,entusiasmado. Deu-se então o momento da atividade lúdica em que foram distribuídas máscaras de margarida sugerindo-se que todos brincassem de dar abraços e beijos uns nos outros imitando os personagens da história, e a maioria participou alegremente. Foi realizada também a brincadeira da ginástica da margarida, quando fizeram muita algazarra tremendo e trocando carinhos como acontecia com os personagens na história.

Para finalizar, as crianças pediram para ouvir outras histórias, e quando a contadora foi retirar o chapéu para despedir-se, F gritou preocupada: "Pura amor de Deus não tira que não fica mais mágica e não conta mais história"1, atitude esta que deixou claro o estado de encantamento que se encontra uma criança após a contação de histórias.

Neste primeiro contato pode-se observar que a turma em geral é muito participativa, e que demonstrou interesse e gosto pelas atividades desenvolvidas, exceto A e E que estavam com alguns problemas familiares, porém, no momento da contação, estavam atentos e demonstravam curiosidade.

Encontro No segundo encontro as crianças aparentavam estar muito mais interessadas e curiosas. A e E que estavam bem indiferentes no primeiro encontro, apresentaram uma melhora no entrosamento, porém, ainda um pouco arredios.

A história escolhida desta vez foi O Rei Bigodeira e sua Banheira, devido às belíssimas ilustrações do livro, que são ricas em ludicidade e beleza, proporcionando momentos de alegria a quem tem oportunidade de conhecê-la.

Durante toda a contação da história, os olhares curiosos e as expressões de risos denunciavam o encantamento em que se encontravam as crianças. Após a contação, quando questionadas sobre o que fariam para convencer o rei bigodeira a sair da banheira, as crianças responderam divertidamente: "Eu puxaria ele pelo braço" disseE."Eu dava um beijinho nele" completou H sorrindo. "Eu usava a batera (barco) do meu pai" concluiuJ. Nas diferentes respostas, se pode perceber os vários tipos de interpretação que a criança chega ao final da história, de acordo com o seu contexto social, quando J, por exemplo, cita o barco de seu pai, certamente é porque este tem uma ligação muito forte com o pai e com o mar, isto o deixou à vontade para comentar um final diferente e divertido para todos, pois, certamente como a contadora, as crianças passaram a imaginar um barco salvando alguém em uma banheira, todos sorriram de alegria.

Para continuar a metodologia de estímulo à criatividade e à imaginação, adotou- se a brincadeira do encontro anterior que utilizou a fantasia do objeto mágico, "Dessa vez não é um chapéu" disse H intrigada. "Aposto que é um pote mágico" afirmou I. Os objetos utilizados dessa vez foram narizes de palhaço.

Durante a atividade posterior à contação, as crianças puseram o nariz de palhaço e pintaram uns aos outros com ajuda da equipe, imitando um possível bobo da corte. Foi sugerido que imaginassem estar numa grande banheira, e que poderiam brincar nela do que quisessem. Brincaram de bolinhas de sabão, e com uma escova enorme fingiam estar tomando banho.

Ao final do encontro ficou claro que as crianças possuíam algum tipo de envolvimento com a equipe pois estavam mais falantes e carinhosas, atitude esta que acabou impressionando a todos, principalmente quanto ao modo rápido que demonstraram afeto.

Esta confiança das crianças na equipe ficou retratada quando estas comentaram que ficariam com saudades e que gostariam de ouvir mais histórias.

Encontro No terceiro encontro, com nítida aceitação da equipe pelo grupo, utilizou-se do método de contação com figurino e a personagem lagartixa interpretada pela contadora que entrou em cena para o divertimento das crianças. Com um sotaque de interior a personagem contou o conto popular A festa no céu. Antes de iniciar, a personagem teve uma longa conversa com as crianças. Nesse momento a criança A surpreendeu a todos, mostrando-se muito interessada e participando sorridente e com menos timidez que nos primeiros encontros, fato que aparentou uma melhora no seu relacionamento com a equipe e com os colegas.

Na brincadeira do objeto mágico, logo após a pergunta, a criança / matou a charada: É um livro, ficando muito alegre por acertar o mistério.

No decorrer da história pode-se perceber que o nível de concentração foi bem maior do que nas outras vezes, atitude que acabou por aparecer na conversa posterior à história. Todos queriam contar suas experiências com os bichos.

Quando feita à pergunta: Quais foram os bichos sem asa que ajudaram a tartaruga a colar o casco? A criançaE acabou surpreendendo e respondeu com entusiasmo: um pingüim. A gargalhada foi geral e a partir deste momentoE passou a participar mais. Assim, se constatava uma melhora no seu humor, o que deixou claro a importância das histórias na vida das crianças que apresentam algum tipo de problema físico ou psicológico. Em seguida,H disse: "Eu tenho um jacaré em casa" e arrancou mais risos dos colegas. / comentou: "Eu vou ganhar um cachorro com cara de leão", e E finalizou: "Eu montei no cachorro da minha mãe". Todos queriam contar suas experiências e a atividade pareceu divertir-lhes muito.

A maioria pareceu estar bastante envolvida no clima, exceto B,que estava muito doente, prestou atenção na história mais não pode brincar, permanecendo o tempo todo no colo da monitora escolar.

A despedida deste encontro teve algo de novo: pediam para que a equipe não fosse embora, e, quando se argumentou que a despedida era necessária pois estavam na hora do lanche, a criançaG gritou: "Hoje não tem lanche!".

Foi muito gratificante a atitude deGque estava abrindo mão do seu lanche para permanecer mais tempo com a equipe, comportamento este que retificou que a troca de afeto entre equipe e as crianças estava se tornando cada vez mais intensa, e que os resultados das histórias mostravam reações positivas das crianças, como interesses pelo mágico, pelo lúdico, por ouvir mais histórias e pela ânsia de estar em contato com o livro e seus personagens.

Encontro Este encontro foi atípico. Dessa vez as crianças não estavam quietinhas esperando a história como das outras vezes; muito pelo contrário, falavam o tempo inteiro querendo descobrir o que estava por acontecer, perguntavam sobre a história e os personagens. Neste mesmo dia uma criança tinha acabado de chegar à turma. Talvez este fato explique um pouco a euforia de todos, que pareciam estar o tempo inteiro se exibindo para a nova colega que aparentava estar um pouco tímida, mas muito interessada no que estava acontecendo. A criança G tentava chamar a atenção da contadora para ela, parecendo estar demarcando território e demonstrar que neste dia, especialmente, precisava de uma atenção maior.

No momento da contação pareceu que o grupo não estava prestando muita atenção à história escolhida, A Bela e a Fera. Porém, no momento da brincadeira do objeto mágico, a primeira impressão foi descartada, pois quando passado o espelho para cada um e questionados sobre com quem mais se pareciam, com Bela ou com Fera, as respostas foram as mais variadas.

O que chamou mais atenção foi àquelas crianças que fugiram das respostas comuns, como por exemplo: "Eu pareço com o príncipe" disseE, e Fcomentou: "Eu sou o pai da Bela",respostas estas que confirmaram a capacidade de identificação com os personagens.

Como proposta de atividade lúdica foi entregue a cada criança a cópia da capa do livro, sugerindo-se que poderiam fazer o que desejassem com o desenho: pintura, colagem ou recorte. G perguntou: "É nosso mesmo? Pra gente levar pra casa?",e sorridente, agradeceu. Durante a atividade as crianças solicitavam o livro para descobrirem quais cores utilizariam na pintura do desenho. G e K cantarolavam uma música enquanto pintavam. Constatou-se que o mais divertido para estas crianças foi a idéia de poderem estar livres para fazerem o que desejassem com o seu desenho. Este comportamento deixou clara a importância de se valorizar o lado criativo. Quando isso acontece as crianças ficam à vontade para projetar no papel o seu estado de contentamento.

Outro fato bastante inusitado deste encontro foi que, propositalmente, a contadora utilizou o chapéu de bobo da corte para observar quais as reações das crianças. Todos queriam tocá-lo, o que enfatizou a importância do lúdico e da fantasia, pois, para elas, aquele chapéu, de alguma forma, possuía poderes mágicos e precisava ser tocado mais uma vez.

Encontro Durante a contação de Cachinhos de Ouro as crianças grudaram na contadora para observar a ilustração, e os que o conheciam contavam junto à história.

Constatou-se que, quando utilizado o livro para a contação, as crianças ficavam mais dispersas, porém, isso não significou que o interesse foi menor. Quando não se utilizava o livro, elas permaneciam mais tempo concentradas tentando imaginar o fato narrado, e com o livro à mostra, elas preocupam-se em observar as ilustrações, para perceber o ocorrido no enredo.

Ficou visível que o fato de conhecerem a história tornou a contação mais divertida. Ficavam orgulhosos de contar um fato e, no meio da contação, associavam a eles as peripécias dos personagens.

A atividade realizada após a contação foi um jogo gigante, em que eles jogavam o dado, e, com o número sorteado, pulavam os quadrados do tabuleiro até chegarem à casinha da Cachinhos de ouro. Muitos não queriam esperar a sua vez, preferiram pular juntos. Corriam de um lado para outro, e o rumo da brincadeira acabou mudando. Fizeram um trenzinho e andavam em volta do tabuleiro demonstrando divertimento junto com a pedagoga. É importante ressaltar que, na atividade biblioterapêutica, é essencial fazer aquilo que a criança almeja para se sentir feliz naquele momento, mesmo que isso acarrete mudanças em todo o planejamento da atividade.

Encontro A contadora pintou o rosto com bichos e plantas para ver a reação das crianças.

Ficaram curiosos para descobrir qual a relação do rosto pintado com a história.

Fperguntou: "Porque você pintou o rosto hoje? Na história tem isso?". Esta reação revelou a reflexão das crianças sobre os acontecimentos do enredo, mesmo antes da história iniciar.

Na preparação do clima, a contadora pediu para que todos dessem as mãos e fechassem os olhos imaginando como seria o local da história e o que teria nela, as respostas foram diversas: "Um grilo!, Um castelo!, Um cachorrinho!, Ai... um príncipe bem lindo!, Um jacaré". A brincadeira de imaginar foi interessante, pois demonstrou a criatividade e o interesse deles. A criança K foi a que mais chamou a atenção durante a brincadeira, pelo nível de concentração que se encontrava; permaneceu por muito tempo com os olhos fechados enquanto os outros a observavam ela exclamava: "Ai que lindo! tudo tão lindo!". A imaginação da criança possibilita contato com o sonho, o fascinante, o inesperado, enfim, com o impossível.

A história contada foi A Bela adormecida.As crianças adoraram o seu final, suspiravam, e as expressões dos rostos eram de alegria e encantamento, comentando que gostaram porque tinha príncipe e fadas.

Para continuar no clima de fantasia foram distribuídas estrelinhas para as crianças e a contadora comentou que aquelas estrelinhas passariam a ser suas varinhas de condão.J comentou: "ai que bom, vou fazer mágica pra fazer viver meu passarinho que morreu", e os amigos sorriram. Depois de distribuídas as estrelas sentaram-se nas mesas e pintaram com cola e brilho imaginando que aquele pozinho fosse mágico, sorriam uns para os outros e comentavam as mágicas que poderiam fazer. Nesse encontro constatou-se a importância do sonho e da esperança no mundo infantil. Na finalização pareciam estar muito mais alegres do que quando a equipe chegou.

Encontro Este encontro teve um sabor especial para as crianças, pois foi explorada e valorizada a capacidade de criação de cada um.

Após a distribuição de folhas de papel A4 em branco, a equipe sugeriu que estes desenhassem as suas próprias histórias. Enquanto desenhavam, os integrantes da equipe passavam nas mesas perguntando para cada um o que estava acontecendo na sua história e enquanto eles contavam, a equipe registrava na mesma folha o significado dos desenhos. Depois de terminados os desenhos, a contadora juntou todos e comentou que eles haviam criado a sua própria história, cujo título seria A história maluca, e logo em seguida, iniciou a leitura dos desenhos.

No momento da contação se podia observar todas as reações quando as crianças reconheciam o momento em que sua parte na história estava sendo narrada, faziam caras e bocas e demonstravam satisfação pelo que haviam produzido. Essa atividade pareceu ser muito importante para o grupo. Comentavam o tempo inteiro que a equipe permaneceu na sala, a alegria de escrever uma história, e que havia ficado engraçada.

Quando ainda conversavam sobre as peripécias da história, a criançaE perguntou sobre a madeira que faltava para terminarem as varinhas de condão (iniciada no encontro anterior). Foi um tremendo alvoroço, todos queriam saber como ficaria a varinha mágica. A contadora distribuiu as madeiras e ajudou-os a construí-la.

Em minutos estavam todos com sua varinha na mão, dando saltos de alegria e contando uns para os outros as mágicas que fariam quando chegassem às suas casas. E pareceu o mais curioso sobre as mágicas que a varinha poderia fazer.

Ficou um bom tempo concentrado; decepcionado, olhou para a contadora e falou: "Mais não funciona". A contadora explicou que se ele se concentrasse funcionaria na sua imaginação.E fechou os olhos e bem baixinho falou: "Ah! Agora eu entendi" e deixou a sala sorrindo.

Outra criança que acabou surpreendendo foi D, que nos outros encontros quase não falava e, embora ainda muito tímido, conversou mais com os com os colegas, e, pela primeira vez, sorriu mais vezes.H demonstrou cada vez mais sua doçura e carinho.L aproximou-se da contadora e pediu um abraço.

Os laços de amizade ficavam cada vez mais estreitos e as crianças pareciam estar mais unidas no momento de compartilharem suas idéias de mágica. Todos ouviam atentamente o que os outros tinham a dizer mostrando interesse nos colegas e sugerindo novas idéias. As crianças, que antes resistiam às brincadeiras e eram um pouco arredias, demonstraram todo seu afeto pela equipe quando viram prontas suas varinhas de condão.

Encontro A história escolhida para a realização da contação foiMaria-vai-com-as-outras.

A contadora utilizou desenhos dos personagens para ilustrar a história.

Percebeu-se que a diversificação na maneira de apresentar a história é muito importante para as crianças. Elas gostam de coisas novas e têm diferentes interesses a cada narração.

No momento da contação estavam atentos ao que acontecia no enredo, e alguns olhavam para os colegas como que para descobrir qual a reação do outro perante um fato, revelando, assim qual o momento da história que mexera com os sentimentos de cada um.

Após a contação, as crianças foram instigadas a descobrir o motivo pelo qual a ovelha Maria sempre seguia as outras em tudo o que faziam. Grespondeu: "É porque elas são amigas ora!" "Nada disso! Ela não quer ficar sozinha"retrucou H. E assim todos queriam dar a sua opinião e começaram a refletir sobre o assunto. Ficaram um bom tempo conversando até que G perguntou: "E agora nós não vamos fazer mais nada?" A contadora respondeu que havia trazido uma ovelha Mariapara cada um deles e que poderiam levá-la para onde ela quisesse passear.

Foram distribuídos desenhos de ovelha para as crianças que queriam pintar da maneira como a contadora mostrou a personagem principal no momento da história.

Divertiram-se muito com a sua ovelha Maria e aparentavam estar cada vez mais alegres com a presença da equipe, demonstrando que o trabalho estava apresentando bons resultados, unindo mais as crianças entre si e elas com a equipe.

Essa demonstração de carinho parece aumentar a cada encontro, quanto mais as crianças percebem o afeto da contadora por elas, mais estas sentem-se à vontade para pedir algo que almejam, como novas histórias, novos objetos mágicos, e algumas formas de carinho: um abraço, um beijo, uma conversa em particular em algum canto da sala, quando ninguém está olhando. Elas parecem cada vez mais confiantes no trabalho desenvolvido pela equipe e possuem a certeza de que, quando a equipe chega na sala, algo de bom vai acontecer para a turma.

Encontro Neste encontro as crianças estavam muito eufóricas e conversadeiras. Faziam mil perguntas sobre tudo, contavam o que haviam feito na semana em casa, queriam contar sobre suas histórias. No início a contadora conversou com eles mostrando interesse pelas novidades que tinham para contar. Logo em seguida começou o clima para a contação. A professora ajudou a contadora a arrumar o cenário para a história: Os três porquinhos.

Uma casinha de caixas de leite que as crianças estavam construindo juntamente com a professora foi o cenário da história.

Na janela da casinha a contadora narrou a história utilizando como personagens fantoches de papel e varetas. Antes de iniciar, as crianças estavam curiosas, querendo saber e descobrir logo o que estava para acontecer.

Quando avistaram os primeiros personagens houve alguns minutos de silêncio.

Quando perceberam que a história era conhecida, foi uma euforia; disputavam o lugar da frente, querendo ficar mais próximos dos personagens, faziam perguntas no meio da contação e tiravam suas conclusões. Quando terminou a história a contadora questionou qual era o motivo da disputa de lugares e se de onde eles estavam, não conseguiam enxergar os personagens. Perceberam que haviam aprontado e davam muitas risadas. A contadora, fingindo tristeza, disse que eles não haviam prestando atenção na história. Aconteceu então uma surpresa: todos começaram a contar a história com entusiasmo.

Logo em seguida fez-se uma roda com as crianças para a realização da brincadeira da batata quente, em que o objeto utilizado foi um livro. Quando a música iniciava, eles passavam o livro uns para os outros; quando a música pausava, a criança que estivesse com o livro na mão imitava o lobo mau.

Pareceu muito divertido para todos. Até os mais tímidos participaram da brincadeira, exceto A, que nunca gosta de ser o centro das atenções, porém se divertiu muito com a interpretação dos colegas. Esse avanço para a criança A é muito importante, visto que, anteriormente, parecia uma criança muito triste e a cada encontro tem mostrado um salto significativo e apresenta sinais de alegria e entrosamento com os colegas. Isso mostra que as atividades biblioterapêuticas, de alguma forma, estão auxiliando algumas crianças a socializarem-se com mais facilidade, mesmo em um curto período de tempo, ratificando a importância dessas atividades para recreação, ocupação e inclusão de algumas crianças no grupo.

10º Encontro Foi utilizada a técnica de contação com avental: conforme se narra a história, gruda-se os personagens para ilustração no avental. A história contada foi Medo do escuro.

Como se utilizou uma técnica diferente de contação, que ainda não haviam presenciado, as crianças permaneceram o tempo inteiro da contação em pleno silêncio. Os olhares curiosos demonstravam o gosto pela história.

Ao final, as crianças foram questionadas sobre seus medos. A maioria respondeu que não tinha medo de nada.E falou: "Eu saio do meu quarto sozinho à noite e no escuro pra fazer xixi". Todos gargalharam e falavam que a contadora parecia ser medrosa, se divertiram com a história e até pediram para contar outra vez.

Na atividade posterior à história as crianças aguçaram seu lado artístico e pintaram pedras de diferentes formatos e tamanhos com tinta guache. Pela maneira como se portaram durante as atividades pareciam estar muito satisfeitas com os seus trabalhos, que foram expostos em cima do armário da sala, para orgulho de todos.

11º Encontro Neste encontro foi utilizado o conto de fadas: Cinderela. As reações das crianças foram as esperadas: depois de um conto clássico, geralmente elas sentem necessidade de mostrar que ouviram a história, quem contou para elas, onde ouviram.

A atividade posterior à história pareceu agradar às crianças, porque permitiu um intenso contato físico com os integrantes da equipe. Foi esticado um pedaço de papel pardo no chão e, com tinta guache e pincel, a monitora escolar pintava os pezinhos de cada criança. Com a ajuda da contadora caminhavam sobre o papel, que ficou carimbado com todos os pezinhos e, logo em seguida, a professora lavava e secava os seus pés.

As crianças pareciam muito seguras para desenvolver a atividade depois de caminharem carimbando o papel. Pediam para caminhar mais uma vez e ficavam procurando quais eram os seus pés no meio dos carimbos. Além de ser agradável, por estarem em contato com as pessoas da equipe, a atividade proporcionou muita diversão, por deixá-los à vontade com a tinta, um material que, geralmente, as crianças gostam.

Posteriormente o trabalho foi exposto no corredor da escola, com intuito de valorizar a produção dos trabalhos, estimulando a criatividade.

12º Encontro O penúltimo encontro teve na programação uma atividade biblioterapêutica diferente: as crianças ganharam seus próprios livros e puderam contar suas histórias.

O que impressionou foi a maneira como contavam. Assim como a contadora desenvolveu as atividades, elas mostravam o livro e se portavam da mesma maneira, na tentativa de imitá-la.

Mesmo as crianças mais tímidas quiseram contar a sua história para os colegas com a diferença de que contavam mais baixo, porém muito concentrados nas ilustrações, para poderem extrair o máximo de informações.

Outro fato que cabe destacar foi que a primeira criança sentou-se no colo da contadora no momento de sua narração e todas as outras repetiram o mesmo gesto, comportamento que reforça a importância do contato físico.

Pareciam estar muito felizes por terem ganhado o livro e depois da contação mostravam-no uns para os outros, com a finalidade de descobrir como eram os personagens dos exemplares dos colegas. Quando, no momento da contação, alguma criança esquecia de mostrar a ilustração, os outros cobravam, exigentes.

Neste encontro pode-se perceber que as crianças estavam envolvidas com o trabalho. Pelo comportamento, demonstraram interesse nos livros que ganharam e achavam importante contar a sua história.

13º Encontro Este foi o encontro de despedida durante o qual foi realizada uma festa de encerramento.

A equipe despediu-se explicando para eles a importância do desenvolvimento do trabalho. Na conversa de despedida a contadora questionou sobre as atividades e histórias que mais gostaram, comentaram sobre um pouco de cada coisa e até a professora da turma deu a sua opinião dizendo: "gostei mais da história do rei bigodeira e aquela brincadeira com a escova grande".

Pelos comentários e respostas percebeu-se a satisfação de todos na realização do trabalho. Depois de lanchar, as crianças questionaram se haveria, ou não, uma contação. Sentiram falta das histórias, e o objetivo era este mesmo, despertar a curiosidade deles para a leitura e a resposta da equipe teve um sabor instigante: de agora em diante eles precisavam buscar as suas histórias, contarem uns para os outros e pedirem para que os membros de suas famílias e seus professores também pudessem contar historias para eles.

Então surgiram os seguintes comentários: "Nós vamos ser como vocês",disse G empolgada. "Eu vou contar as histórias"continuou F. "E também vou filmar". "E eu vou tirar fotos" completou H, e, em seguida, começaram a cochichar combinando quem faria o que nos papéis da equipe.

No momento da despedida, de certa forma as crianças pareciam sentir falta das atividades, sabiam que o trabalho estava acabando e então demonstravam todo o seu carinho pela equipe, cada um à sua maneira, uns com beijos e abraços, outros com sorrisos e sinais de positivo e aprovação, e no olhar de cada criança pôde-se perceber a sua gratidão que deixou a equipe emocionada e satisfeita com o trabalho realizado.

4 Análise dos encontros Cada encontro possibilitou ao grupo de crianças contato com diferentes tipos de textos e atividades lúdicas, o que permitiu uma grande satisfação das crianças pelo fato de estarem presenciando atividades diferentes das realizadas em sala de aula com objetivos pedagógicos.

Por serem biblioterapêuticas, era permitido que eles desenvolvessem as atividades propostas como desejassem, não sendo cobrado quando alguma criança recusava-se a participar de qualquer solicitação da equipe. O objetivo foi justamente este, deixá-las cada vez mais à vontade para que confiassem na equipe e colocassem para fora seus anseios, inquietações e sentimentos, como também, permitir o desenvolvimento da criatividade e proporcionar a catarse, aliviando as tensões da rotina escolar.

Em cada encontro as crianças reagiram de diferentes maneiras em relação às histórias, porém, o que ficou muito claro, foi o fato de que, no momento da contação, de uma maneira ou de outra, procuravam sugar o que fosse possível do enredo, mesmo que, muitas vezes, não permanecessem em silêncio durante a narração, a mensagem das histórias foi captada pelas crianças, fato este comprovado nos relatos e comentários após cada contação.

O lúdico e o imaginário foram extremamente explorados, percebido pelas reações das crianças após as histórias que, geralmente, faziam um comentário fantasioso sobre o enredo e/ou os personagens, algo que gostariam que acontecesse em relação à sua própria realidade.

No decorrer dos encontros houve algumas mudanças no comportamento das crianças: alguns, que apresentavam muita timidez, ficavam mais à vontade a cada sessão; os que, de início não trocavam nenhuma palavra com a equipe, demonstravam um enorme carinho pela contadora, e mesmo falando pouco, monstraram todo o seu afeto e satisfação. Aqueles que gostavam de uma atenção especial, e tentavam chamar a atenção da contadora, nos últimos encontros estavam mais entrosados com o grupo, e procuravam prestar atenção nos colegas, o que possibilitou mais união entre eles. Alguns que apresentavam dificuldades no relacionamento com colegas acabaram por ficar mais entrosados com o grupo.

O fato marcante foi que, a cada encontro, as crianças demonstraram um afeto maior por toda a equipe, o que não levou muito tempo para acontecer, demonstrando que as atividades biblioterapêuticas permitem com mais facilidade a aproximação das pessoas.

Dentro deste contexto, pode-se constatar que as atividades biblioterapêuticas trouxeram como contribuição para as crianças do Centro de Educação Nossa Senhora da Boa Viagem o envolvimento com diferentes tipos de textos literários, ampliando a visão das crianças e fornecendo acesso à cultura geral. As crianças também puderam realizar atividades de recreação, que permitiram uma interpretação mais ampla dos textos utilizados, e ainda auxiliaram no estímulo a criatividade e leitura.

O contato físico e afetivo com toda a equipe proporcionou às crianças momentos de alegria, de descontração pois elas ficavam à vontade para falar dos seus problemas, de suas dificuldades e também partilharam suas alegrias com a equipe e com os colegas.

Durante todo o tempo em que a equipe permaneceu na sala de aula, pode-se constatar um envolvimento de amizade com as crianças, o que amenizou os efeitos causados pela rotina escolar e o afastamento familiar prolongado.

A atividades biblioterapêuticas contribuíram ainda na socialização do grupo e na aprendizagem das crianças.

5 Considerações finais A motivação desta pesquisa deu-se, primeiramente, pelo fato da biblioterapia, no Brasil, ser um campo de atuação recente para o profissional bibliotecário necessitando de estudos que visem fortalecer as atividades sócio-culturais da profissão, ampliando as possibilidades da biblioteconomia contribuir para a construção da cidadania.

Neste contexto, cabe ressaltar a importância de ações que busquem envolver atividades práticas de leitura com finalidades terapêuticas e recreacionais que possam subsidiar o desencadeamento de cidadãos instigados a melhorarem sua qualidade de vida a partir de conhecimentos adquiridos durante as atividades de leitura.

A biblioterapia aplicada com crianças é uma excelente forma de despertar o gosto pela leitura mesmo antes da alfabetização. As atividades biblioterapêuticas, além de serem estimuladoras da leitura, facilitam a socialização em grupo, propiciam momentos que desinibem as demonstrações de afeto e solicitações de ajuda para determinados males e anseios.

Essas atividades também permitem proporcionar às crianças momentos de descontração e lazer, oferecendo práticas que estimulem a criatividade, oferecendo meios que amenizam os efeitos causados pelo afastamento prolongado da família.

Os objetivos deste trabalho foram alcançados com êxito, como se pode comprovar pela análise dos resultados. o fato das atividades tornarem as crianças leitores no futuro dependerá de outras técnicas, estímulos e da continuação dada pelos responsáveis (família) e educadores, pois a proposta era a do acendimento da chama, o despertar da curiosidade pelo livro, o plantio da semente que precisa ser regada e cuidada para então dar frutos.

Por esse motivo, ressalta-se a importância da formação de equipes multidisciplinares envolvidas em programas de leitura com finalidades terapêuticas. O bibliotecário pode ser o profissional a subsidiar esses projetos e deve estar atuante nas questões sócio-culturais do país, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dos cidadãos.

A realização deste trabalho contribuiu de maneira significativa para o bem estar social das crianças estudadas. Elas pareciam muito felizes e gratas pela atenção, carinho e dedicação recebida, ratificando que atividades como as desenvolvidas em todo o trabalho podem auxiliar no amadurecimento afetivo, emocional e físico das crianças envolvidas.


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