Os companheiros de Dom Obá: os zuavos baianos e outras companhias negras na
Guerra do Paraguai
Pouco depois de as tropas aliadas atravessarem o rio Paraná e invadirem o sul
do Paraguai em abril de 1866, Francisco Otaviano de Almeida Rosa escreveu
jubiloso, de Buenos Aires, ao ministro da guerra: "Um abraço pelos nossos
triunfos. Vivam os brasileiros, sejam brancos, negros, mulatos ou caboclos!
Vivam! Que gente brava!"1 O entusiasmo do diplomata brasileiro pelos feitos
militares dos seus patrícios não brancos coloca a questão do impacto da guerra
na política racial brasileira. Na época, o Brasil era a maior sociedade
escravista nas Américas, com um milhão e meio de homens e mulheres
escravizados. Mas pelo menos quatro milhões de afrodescendentes livres ou
libertos viviam no país e constituíam dois quintos da população total de dez
milhões de habitantes.2
O significado da grande mobilização militar para essa população afro-brasileira
ainda permanece uma questão controvertida, mas relativamente pouco estudada.
Decerto, homens negros dominavam as fileiras brasileiras, embora a propaganda
paraguaia, que retratava todos os soldados brasileiros como "macacos",
exagerasse no seu apelo ao preconceito racial. Para muitos, notadamente o
historiador Júlio José Chiavenato, o grande número de homens negros nas
fileiras brasileiras evidencia uma política genocida propositalmente executada
pelos comandantes que usavam esses soldados como bucha de canhão, especialmente
depois do começo do recrutamento sistemático de escravos em fins de 1866.3
Outros ecoam a declaração de Otaviano e vêem a guerra como uma experiência
racialmente compartilhada que forjou a nacionalidade nos campos de batalha.4 A
história de Cândido da Fonseca Galvão, mais conhecido como Dom Obá II (o título
iorubá por ele adotado no Rio de Janeiro na década de 1880), que serviu numa
das companhias de zuavos (compostas de homens negros) criadas na Bahia em 1865-
66, revela a complexidade da experiência de guerra para a população negra.
Profundamente monarquista, Dom Obá destacava seu serviço ao imperador como
evidência do seu pertencimento à nação brasileira, mas também publicava
críticas sofisticadas da discriminação racial que ele e o resto da população
negra enfrentavam.5
Em 1865, todavia, o futuro Dom Obá não passava de uma figura secundária na
mobilização dos homens negros na Bahia e em Pernambuco. Nas capitais das duas
províncias, muitas companhias de homens negros, denominadas zuavos, couraças e
sapadores, foram organizadas em 1865-67. Mais de mil homens marcharam para a
guerra usando fardas distintas, identificando-se como defensores negros do
Império. Essa ideologia remontava a uma longa tradição, que vinha do período
colonial, de serviço à monarquia e ao Estado por parte de homens de cor. A
mobilização deles também integrava as redes de clientelismo que os ligavam ao
sistema político. A experiência desses soldados, e principalmente a dos seus
oficiais, cuja atuação militar pode ser seguida em diversas fontes documentais,
revela a complexidade da política racial do Estado brasileiro, que recorreu à
mobilização de homens negros, mas não aceitou a identidade racial implícita no
ato de organizar companhias negras. A mobilização para a guerra invocou antigas
tradições de serviço ao Estado por parte de homens negros, mas o governo e o
Exército logo as rejeitaram, abolindo as companhias negras no decorrer do ano
de 1866. Depois da guerra, havia pouco espaço para os veteranos negros exigirem
a cidadania e, como a maioria dos ex-soldados, eles permaneceriam
marginalizados pela sociedade.
Embora seja bem conhecido que o Brasil mobilizou companhias negras no começo da
guerra, não há nenhum estudo sistemático da sua organização, composição social
ou participação na guerra. Este artigo é baseado em documentação baiana sobre a
mobilização e o recrutamento na província, e informações de diversas fontes
sobre a atuação militar dos quarenta homens que serviram como oficiais de
patente nessas companhias negras (ou que foram promovidos a oficiais depois de
terem começado seu serviço como cadetes ou sargentos nas unidades racialmente
segregadas). Além de corrigir os muitos equívocos sobre os zuavos repetidos com
frequência na literatura acadêmica e popular, este artigo reflete sobre a
complexidade da política racial na sociedade brasileira imperial e a visão
negra de serviço ao Estado (e de cidadania) estreitamente ligado ao serviço
militar.
A mobilização patriótica, 1865-66
A eclosão da guerra provocou uma onda de patriotismo em todo o país. Na véspera
de Natal de 1864, João Batista Calógeras, um funcionário público no Rio de
Janeiro, escreveu sobre a "efervescência patriótica" que já chegara a "36
graus". "Deus ajude o Brasil", acrescentou preocupado.6 Embora esse
"patriotismo militante" fosse, como lembra Richard Morse, compartilhado
principalmente por "uma elite europeizada", ele se estendeu mais profundamente
na sociedade do que muitos historiadores reconhecem, chegando a revelar uma
"fibra nova até então desconhecida da nacionalidade".7 Milhares de homens (e
mesmo algumas mulheres) se apresentaram voluntariamente para pegar em armas ou
para servir ao país de outras maneiras, enquanto os governos imperial e
provinciais foram inundados por doações em espécie e em mercadorias para o
esforço de guerra. A criação das companhias negras na Bahia e em Pernambuco fez
parte dessa mobilização patriótica maciça.
Para facilitar o recrutamento, o governo imperial criou os Voluntários da
Pátria na primeira semana de janeiro de 1865. Os soldados e oficiais dessas
novas unidades serviriam apenas enquanto durasse a guerra, receberiam uma
gratificação na hora de assentar praça e soldos mais elevados que os da tropa
de linha. Depois da guerra, seriam recompensados com terras em colônias
agrícolas e preferência na contratação para o funcionalismo público. Essas
condições foram logo estendidas aos guardas nacionais designados para o serviço
militar, e nada menos que 75% dos 91.000 homens alistados (segundo o Exército)
tinham direito ao status e aos benefícios dos Voluntários.8 Milhares assentaram
praça voluntariamente em 1865. Um amanuense da secretaria da tesouraria
provincial baiana ingenuamente solicitou três meses de licença com vencimento
para participar da guerra contra o "déspota do Paraguai"; o professor público
da cadeira primária da freguesia de São João do Paraguaçu demonstrou mais juízo
ao pedir uma licença por tempo indeterminado. Estudantes de medicina serviram
voluntariamente nos hospitais de sangue. Muitos dos que se apresentaram faziam
parte da pequena "classe média", cujos integrantes tinham ligações estreitas
com o Estado, e Calógeras se perguntou o que aconteceria com tais "homens que
nunca manejaram um fuzil".9
As redes de clientelismo logo produziram "voluntários", à medida que os
senhores de terras mobilizaram seus dependentes e marcharam com eles às
capitais provinciais, da mesma forma que os levavam às urnas nos dias de
eleição.10 Um historiador de Pernambuco observa que a maioria dos voluntários
daquela província se alistava em grupos, com frequência sob a orientação do
patrão. Os que organizavam esses grupos de recrutas esperavam comandá-los. Um
major da Guarda Nacional de Curralinho, João Evangelista de Castro Tanajura,
prometeu doar lotes de terra nas suas fazendas de gado e nos seus engenhos de
açúcar às famílias dos voluntários que se juntassem a ele. Insistiu, todavia,
que esses homens só marchariam para a guerra sob o seu próprio comando, o que
foi negado pelo presidente da província. Dionísio Cerqueira, na época um jovem
cadete, recordou que Tanajura, seu primo, faleceu pouco depois de uma "febre
cerebral, causada, decerto, pela decepção amarga de ver seu batalhão dado ao
comando de outro, [por] influência política do partido dominante". Um oficial e
alguns soldados de outro batalhão de voluntários desertaram ao invés de servir
sob as ordens dos oficiais indicados pelo presidente provincial.11 Não importa
como os Voluntários da Pátria tenham sido recrutados, todos sabiam que eram
diferentes dos recrutados para servir como soldado raso no Exército, e os
primeiros batalhões de voluntários embarcariam de Salvador no meio de muita
pompa e festa em março e abril de 1865.
Doações para o esforço de guerra também afluíram aos cofres provinciais desde
fins de 1864, quando o Brasil invadiu o Uruguai, e dispararam quando a notícia
da invasão paraguaia de Mato Grosso chegou à província. Funcionários públicos e
oficiais militares doaram uma parte de seus salários. Comerciantes e senhores
de engenho ofereceram quantias avultadas ao governo. Depois de uma reunião com
mais de cem negociantes da praça, em agosto de 1865, o presidente da Bahia
relatou que recebera mais de vinte contos para equipar os batalhões da cidade.
O dono de uma imprensa se ofereceu para imprimir gratuitamente as proclamações
e circulares relacionadas à guerra, e as estradas de ferro e companhias de
navegação não cobravam as passagens dos recrutas e soldados. Sociedades
filarmônicas e dramáticas promoveram espetáculos em benefício da mobilização.
Os diretores de escolas particulares abriram suas portas aos filhos dos
voluntários, sem cobrar-lhes as mensalidades.12
As mulheres também participaram da mobilização. Esposas e mães dos militares
costuraram camisas e preparam fios de linho para os hospitais de sangue. Mesmo
senhoras da alta sociedade pegaram na agulha. Calógeras, sempre crítico,
ofereceu "dois dedos de comédia" a seu filho e descreveu a maneira ostentosa
com que as "grandes damas" da Corte "entregaram-se ao piedoso trabalho de fazer
chumaço para os feridos". Para assegurar a máxima visibilidade, reuniram-se em
frente a janelas abertas entre 17h e 19h.13 As senhoras da elite também
participaram de uma campanha mais simbólica, lideradas pela viscondessa de
Tamandaré (esposa do comandante das forças navais), que convidou as "senhoras
brasileiras" a contribuírem com joias para enfeitar uma espada para o
imperador. Uma baiana doou "da melhor pulseira que possuo a melhor pedra que
ela tinha".14 Algumas senhoras se apresentaram para servir de enfermeiras, e
Jovita Alves Feitosa, uma jovem do Piauí, teve seu momento de celebridade por
ter escondido sua condição feminina e se alistado em um batalhão de voluntários
daquela província (no Rio de Janeiro, as autoridades militares negaram-lhe a
autorização para seguir para o Sul).15
Muitos dos que contribuíram para o esforço de guerra tinham uma conexão com o
Estado. Comerciantes e funcionários públicos poderiam ter sofrido reveses nos
seus negócios ou nas suas careiras se não tivessem feito doações; viam-nas como
serviços que deviam ser compensados. Portanto, como as senhoras da Corte,
procuravam dar maior publicidade a seus gestos. O primeiro baiano a se
apresentar voluntariamente em 1864, no começo da crise no Uruguai, era major
honorário do Exército, tenente-coronel da Guarda Nacional de Salvador e
empregado da alfândega. Ele explicitamente pediu que sua oferta fosse submetida
ao imperador e se declarou orgulhoso de ser o primeiro baiano a se apresentar
"para conter o vandalismo oriental" (isto é, uruguaio, referência ao partido
Blanco derrotado pelos brasileiros em 1864-65).16 Patriotas da classe média,
homens respeitáveis, suas aspirações eram pouco diferentes de seus equivalentes
na França ou na Prússia, como Morse sugere pensando no patriotismo de uma elite
europeizada.
Esse patriotismo contrastava com o que muitos percebiam como preocupante surdez
ao apelo da pátria. Da remota vila de Monte Santo, um comandante da Guarda
Nacional lamentou que "o povo desta terra não compreende o que é patriotismo, e
só marchará se for recrutado", a solução consagrada para conseguir mão de obra
militar.17 De fato, a primeira reação da maioria dos governos provinciais ao
saber da invasão paraguaia foi um novo esforço para recrutar soldados à força.
À medida que a notícia da criação dos Voluntários da Pátria chegava às
capitais, suspendia-se o temível recrutamento, mas ele não desapareceu
completamente em 1865.18 Em fins de 1866, quando a derrota na batalha de
Curupaiti (22 de setembro de 1866) anunciou a necessidade de mais soldados, o
recrutamento forçado recomeçaria a todo vapor.
A mistura de voluntariedade e recrutamento forçado criou muita confusão. O
comandante das armas da Bahia lamentou a "maneira antimilitar por que procedem
os organizadores de forças, levando o paisanismo a tal ponto" de excluí-lo, ele
que era "chefe da classe militar nesta província", da indicação de oficiais do
Exército (homens sujeitos ao seu comando) para postos nos batalhões de
Voluntários da Pátria. Depois da guerra, oficiais deploravam os "cidadãos
incompetentes" que tinham sido indicados para o comando de companhias ou
batalhões que haviam organizado, o que levou a muitas perdas desnecessárias nos
campos de batalha. Tudo isso confirma a observação de Gilberto Freyre de que os
brasileiros se ofereceram para defender a pátria "menos como soldados
propriamente ditos do que como guerreiros".19 Dada a importância das redes de
clientelismo no recrutamento, todavia, foi essencial adotar essa maneira de
mobilizar o país. Até março de 1866, os 10.189 homens mobilizados pela Bahia
haviam embarcado em 37 batalhões ou companhias avulsas, variando em tamanho de
doze a 598 homens.20 Apenas 593 deles eram recrutas ou voluntários enviados
para completar unidades já existentes. De fato, o presidente relutava em mandar
recrutas: "É feio", explicou.21
Embora as repetidas reorganizações do Exército em Operações apagassem muitas
das distinções entre os Voluntários da Pátria e os soldados do Exército, o tema
central da mobilização de 1865-66 seria sua feição voluntária. Era, decerto, um
mito, pois muitos talvez a maioria dos brasileiros que serviram contra o
Paraguai estavam nas fileiras contra sua vontade, mas tais mitos foram cruciais
para retratar a guerra de uma forma aceitável.22 Além disso, o mito tinha uma
base na realidade, como demonstra a mobilização de milhares de voluntários em
1865, uma mobilização que tinha raízes profundas na sociedade. O caso dos
zuavos, ademais, coloca a questão da origem e da natureza dessa identificação
com o Estado e com a nação.
Zuavos e couraças: o legado da guerra pela Independência
Por que o governo baiano resolveu recrutar companhias de zuavos e couraças em
1865 ainda é um mistério. Recrutar companhias de homens negros negava a bem-
estabelecida política militar de não levar em conta a cor dos soldados. As
últimas unidades segregadas nas forças armadas brasileiras (os batalhões
milicianos de homens pardos e pretos) tinham sido extintas em 1831, quando da
criação da Guarda Nacional. O último vestígio da preferência racial no
recrutamento, isto é, a exclusão de "homens pretos" das fileiras do Exército,
foi abolido em 1837, quando o governo do Regresso sentiu a necessidade de
aumentar o seu efetivo.23 Desde então, o Exército seria uma instituição
formalmente cega à cor da pele, e que levava essa política ao extremo: na fé-
de-ofício padrão não tinha lugar para indicar a cor do soldado e, portanto, o
Exército não podia fornecer essa informação básica às autoridades policiais
encarregadas da captura de desertores.24
A proposta para a criação de companhias negras na Bahia veio de fora do
Exército, como grande parte da mobilização patriótica de 1865-66. Quirino
Antônio do Espírito Santo (Figura_1) se ofereceu, no dia 26 de janeiro de 1865,
para organizar um "respeitável corpo de voluntários" de "cidadãos crioulos",
"que pelo seu denodo, coragem e amor à pátria recordar[iam] mais uma vez os
valorosos combatentes sob o comando do celebre Henrique Dias". Quirino invocou
o patriotismo que tinha sentido durante a guerra pela Independência (1822-23) e
proclamou que, "impelido por uma força sobrenatural venho oferecer-me ao
governo para ir combater em prol da honra, integridade e soberania do Império,
que vis gaúchos pretendem insanamente macular".25
![](/img/revistas/afro/n46/a04fig01.jpg)
A proposta foi logo aprovada e, no dia 1º de fevereiro, Quirino se instalou no
Forte do Barbalho e começou a organizar a companhia. Dentro de poucos dias,
tomou o nome de "zuavos baianos" e o presidente aprovou uma subscrição para
fardar os novos recrutas com o uniforme garboso das tropas coloniais franceses
na Argélia.26 Desconheço o porquê da decisão de adotar o nome e o uniforme das
tropas coloniais francesas. Na década de 1860, a moda zuava de bombachas
vermelhas, colete azul bordado e pequeno boné ou fez já havia sido amplamente
divulgada entre diversos exércitos, tais como as forças do Norte e do Sul na
guerra civil norte-americana e as tropas internacionais do papa.27 Marco
Antônio Cunha argumenta que a morte heróica de um zuavo francês nascido no Rio
de Janeiro durante a tomada da Torre Malakoff na Criméia inspirou a criação dos
zuavos baianos uma década depois, mas esse homem Eduardo de Villeneuve não foi
invocado na mobilização baiana.28 Além disso, companhias de zuavos foram
criadas apenas na Bahia, e a única outra companhia negra organizada em 1865-66
no Recife adotou o nome somente depois de se reunir aos zuavos baianos no
Uruguai.29
Onze companhias de zuavos, com um efetivo total de 638 homens, bem como uma
companhia de couraças, de 80 homens, embarcaram na Bahia para o Rio de Janeiro
e os campos de batalha antes de março de 1866 (há alguns indícios de uma
tentativa de criação de uma décima segunda companhia de zuavos, mas é provável
que seus integrantes fossem para o Sul na qualidade de recrutas) (Tabela_1).30
A retórica e as redes pessoais envolvidas na criação dos zuavos baianos
lembravam outras tradições nitidamente brasileiras, algumas das quais elas
compartilhavam com a mobilização no resto do país. Como sugere a liderança de
Quirino, os veteranos da guerra pela Independência tiveram um papel central na
primeira fase da mobilização. A luta contra os portugueses de 1822 a 1823
marcara profundamente a sociedade baiana.31 Na década de 1860, houve um surto
de interesse por essa época heróica. Os veteranos mais jovens já se tornavam
sexagenários e, em 1862, fundaram a Sociedade Veteranos da Independência, uma
sociedade de assistência mútua que também se encarregava de promover a
comemoração dos heróis da Independência ao mandar celebrar missas por suas
almas. A Sociedade conquistou um papel importante na comemoração anual do dia
Dois de Julho, a data em que as tropas portuguesas evacuaram a cidade do
Salvador.32 Ela teve um papel importante na mobilização contra o Paraguai;
veteranos da Independência formaram guardas de honra para as despedidas das
tropas baianas em 1865 e 1866. No final da guerra, a sociedade levantou fundos
para as festas da mui esperada vitória.33
[/img/revistas/afro/n46/a04tab01.jpg]
Muitos dos líderes da primeira fase da mobilização baiana haviam lutado na
guerra pela Independência. Quando Quirino embarcou como tenente comandante da
Primeira Companhia de Zuavos, seu comandante era o tenente-coronel José da
Rocha Galvão, outro veterano da Independência. José Elói Buri, capitão da
Companhia de Couraças (Figura_2), também foi veterano das lutas de 1822 e 1823.
Os couraças, aliás, lembravam os vaqueiros do sertão, vestidos de couro, que
haviam se juntado aos patriotas que sitiavam os portugueses em Salvador.34 A
essa lista de veteranos da Independência envolvidos na mobilização de 1865,
podemos acrescentar o tenente-coronel Domingos Mundim Pestana, comandante do
Terceiro Batalhão de Voluntários da Pátria, que havia assentado praça em 1821,
com a idade de 15 anos, bem como o coronel Joaquim Antônio da Silva Carvalhal,
o principal idealizador da Sociedade Veteranos da Independência e figura chave
na organização das companhias de zuavos.35 Os comandantes do corpo policial
(logo transformado num batalhão de Voluntários da Pátria) e do Batalhão de
Caçadores da Bahia também eram veteranos da Independência.36
[/img/revistas/afro/n46/a04fig02.jpg]
O serviço na luta pela Independência forneceu-lhes contatos que eram úteis.
Durante a sua curta escala no Rio de Janeiro em demanda ao Sul, Rocha Galvão e
Quirino receberam uma visita de Antônio Pereira Rebouças, o estadista mulato
que havia liderado a defesa de Cachoeira contra os portugueses em 1822,
juntamente com Rocha Galvão e seus irmãos.37 Poucos dos veteranos idosos
resistiram aos rigores da campanha. Quirino faleceu em novembro no hospital de
Montevidéu, e Pestana, doente e cego, já estava de volta a Salvador em
fevereiro de 1866; morreu dois anos mais tarde. Outros resistiram por mais
tempo. Rocha Galvão foi morto durante a primeira batalha de Tuiuti (24 de maio
de 1866), e Buri sucumbiu ao cólera três dias antes de sua licença médica ter
sido anunciada, em fins de 1867.38 Enquanto podiam servir, todavia, suas idades
lhes garantiram o respeito de seus soldados, a julgar por uma descrição da
Primeira Companhia de Zuavos durante uma curta escala em Desterro (hoje
Florianópolis): Quirino foi descrito como "um velho preto [que] parece um
verdadeiro homem de bem, a quem os seus soldados respeitam-no como a um pai".39
A liderança das companhias de zuavos e couraças não só remontava à época da
Independência, mas também lembrava uma tradição mais antiga, a da milícia negra
abolida em 1831. Na sua proposta, Quirino invocou Henrique Dias, o homem negro
que liderara uma tropa de negros livres nas lutas seiscentistas contra os
holandeses em Pernambuco. Depois dessa guerra, sua tropa foi transformada numa
unidade de milícia. Tais regimentos, denominados Henriques em homenagem ao seu
primeiro comandante, proliferaram no século XVIII e formavam um elo chave entre
homens de cor e o Estado colonial. Seu oficialato chegou a constituir uma elite
negra. Na Bahia, os Henriques distinguiram-se na luta pela Independência, mas
os reformadores liberais da década de 1820 solaparam seu status nas forças
armadas do novo país independente. Quando da criação da Guarda Nacional, em
1831, o governo aboliu a milícia de homens pretos e pardos. Oficiais e soldados
milicianos descontentes apoiaram a Sabinada (1837-38), cujo governo rebelde
restaurou seu status, mas muitos dos seus líderes foram mortos no massacre dos
derrotados no final da revolta.40
Em Pernambuco oitocentista, o patriotismo provincial, que via a expulsão dos
holandeses no século XVII como o momento fundador da identidade pernambucana,
mantinha viva a memória dos Henriques.41 Na Bahia, ao contrário, os Henriques
estavam completamente ausentes do discurso baiano entre 1838 e 1864. Todavia, a
criação das companhias de zuavos inspirou uma onda de retórica patriótica que
lembrava os heróis negros da luta pela Independência, uma invocação do que
Francis Albert Cotta qualifica como o "mito de Henrique Dias".42 Na sua
despedida da Segunda Companhia de Zuavos, Carvalhal conclamou-os a combater
"denodados contra os paraguaios como o intrépido e imortal Henrique Dias
combateu outrora os holandeses e na gloriosa época da Independência o denodado
tenente-coronel Manoel Gonçalves [da Silva], fazendo sobressair o valor e [a]
bravura da vossa cor".43 Para o embarque da Primeira Companhia de Zuavos,
Francisco Moniz Barreto, então o poeta baiano mais popular (e também um
veterano da Independência), escreveu às pressas o "Hino dos zuavos baianos",
cuja primeira estrofe e o estribilho são bem representativos da retórica
patriótica de 1865:
Sou crioulo: da guerra na crisma
Por zuavo o meu nome troquei
Tenho sede de sangue inimigo
Por bebê-lo o meu sangue darei
D'Henrique Dias
Neto esforçado
Voo ao teu brado
Pátria gentil!
Mais que o da França
Ligeiro e bravo
Seja o zuavo
Cá do Brasil
As outras estrofes lembravam o serviço de Gonçalves na guerra pela
Independência e avisavam aos paraguaios e aos Blancos uruguaios que temessem a
ira dos zuavos.44
Essa retórica não era apenas simbólica, pois havia conexões diretas entre os
zuavos de 1865 e os Henriques da década de 1820. Por algumas semanas em
fevereiro e março de 1865, o capitão Joaquim José de Santana Gomes foi
encarregado da organização da Segunda Companhia de Zuavos; até 1831, ele havia
sido ajudante do batalhão dos Henriques.45 Entre os que embarcaram na Primeira
Companhia de Zuavos havia o primeiro cadete Constantino Luiz Xavier Bigode,
filho do último comandante do batalhão negro (morto no massacre pós-
Sabinada).46 Embora não existissem livros de registro do batalhão dos Henrique
para confirmá-lo, é de supor que alguns dos oficiais zuavos haviam servido nas
fileiras do batalhão negro na década de 1820. Da mesma forma, o organizador e
comandante da companhia negra pernambucana, Felipe José da Exaltação Maniva,
tinha assentado praça na milícia negra daquela província em 1817 e fora
promovido a alferes em 1821.47
Pouco se sabe das ocupações civis dos oficiais zuavos. Segundo o conde d'Eu,
que visitou o exército no Rio Grande do Sul em 1865, muitos haviam sido
sargentos na Guarda Nacional, o que sugere que gozavam de pelo menos uma
modesta posição social e econômica. Tanto Buri como o tenente da Companhia de
Couraças João Capistrano Fernandes haviam sido oficiais na Guarda antes de
1850. Na época, exigia-se uma renda anual mínima de 400 mil-réis para servir de
oficial nessa força, e metade dela para servir como simples guarda.48 Encontrei
apenas três referências às ocupações civis dos oficiais negros: Maniva era
carpinteiro, Bigode marceneiro e Capistrano administrador de uma tipografia. O
capitão André Fernandes Galiza possuía uma roça nos arredores de Salvador.49 O
sargento organizador 12ª Companhia de Zuavos alegou ter gasto "alguma fortuna
que havia herdado de seus pais, como o produto da venda, que se viu obrigado a
fazer, de um estabelecimento comercial que possuía", na sua tentativa frustrada
de criá-la.50 Essa evidência sugere que muitos dos oficiais zuavos e couraças
vinham da classe dos artesãos qualificados, um perfil bastante similar ao dos
oficiais Henriques antes de 1831.51 Também indica que os oficiais zuavos tinham
origens sociais mais baixas do que os funcionários públicos e os profissionais
que se apresentaram voluntariamente em 1865 e que dominavam a oficialidade dos
Voluntários da Pátria.
A retórica da mobilização dos zuavos, bem como a experiência de indivíduos
chaves que participaram da sua mobilização, sugere que as companhias
racialmente segregadas incorporavam uma viva tradição de serviço patriótico por
parte de homens negros. Os veteranos idosos da época da Independência lideraram
uma boa parte da mobilização inicial em 1865 e se viam como sucessores dos
heróis negros das lutas passadas contra invasores estrangeiros. Que esses
homens tivessem corrido às armas em 1865 não deve surpreender, pois eles, ou
seus pais, tinham feito o mesmo quatro décadas antes. Os mais jovens certamente
haviam sido criados com histórias dos heróis militares negros das guerras
passadas.
O recrutamento para as companhias negras: cor, política e clientelismo
Muito menos se sabe sobre os soldados dos zuavos do que sobre seus oficiais. As
poucas fontes sugerem que essas companhias incluíam uma mistura de voluntários
e de homens recrutados à força, semelhante ao perfil geral da mobilização
brasileira de 1865. O capitão Quirino declarou orgulhoso que apenas
"voluntários espontâneos" serviam na Primeira Companhia de Zuavos, mas essa
declaração foi motivada pela recusa de um desses "voluntários" a jurar
bandeira.52 O caso clássico de apresentação de voluntários veio de fora de
Salvador: Cândido da Fonseca Galvão (o futuro Dom Obá II), filho de um africano
liberto, levou trinta voluntários de Lençóis a Salvador, onde logo assentaram
praça na Terceira Companhia de Zuavos, com Galvão promovido a alferes na
véspera do embarque.53
Os que apresentavam voluntários, como Galvão, ganhavam muito prestígio. Muito
depois da guerra, um sargento lembrou que em 1865 circulavam editais "em que o
governo prometia conferir o posto de capitão ou de tenente comandante a quem
organizasse companhias de voluntários de 20 homens".54 Não encontrei nenhum
desses editais, e é pouco provável que o governo tivesse divulgado uma fórmula
tão matematicamente rígida para a promoção de organizadores dos voluntários,
mas a lembrança do sargento capta bem a importância de recompensar os que
haviam se esforçado para a mobilização. André Fernandes Galiza reclamou da
dificuldade em organizar uma companhia de zuavos enquanto João Francisco
Barbosa de Oliveira (Figura_1) estava encarregado da organização de outra.
Barbosa teve mais sucesso que Galiza e embarcou como tenente comandante da
Terceira Companhia de Zuavos, com 48 homens (mas a maioria deles eram os
voluntários de Lençóis trazidos por Candido Galvão). A Quarta Companhia de
Zuavos, do tenente Galiza, que em fins de julho tinha apenas sete soldados e
dois sargentos, além do próprio organizador, embarcou em agosto, segundo o
comandante das armas, com apenas doze homens (e um estoque completo de oitenta
uniformes).55 No ano seguinte, o presidente relatou que essa companhia havia
embarcado com 56 homens, e atribuiu a cifra de doze homens à Sétima Companhia,
o que é evidentemente um engano (ver Tabela_1).
Como já vimos, apresentar-se como voluntário raramente foi uma decisão
individual, e os voluntários normalmente apresentavam-se em grupos, com
frequência sob a liderança de um patrão. O papel de indivíduos proeminentes na
organização das companhias de zuavos e couraças, entre eles Carvalhal e também
Abílio Cesar Borges, o educador e futuro barão de Macaúbas, é outro indício de
clientelismo (Borges adquiriu oitenta espingardas para a Quinta Companhia da
Zuavos, cuja organização ele supervisionou).56 Outros recrutas aparentemente
sucumbiram à pressão de "amigos": em novembro, um zuavo voluntário se
arrependeu da sua decisão de assentar praça, alegando ter sido "iludido por
amigos que se banquetearam em certa ocasião".57
Assentar praça numa companhia de zuavos tinha significado social específico,
pois implicava servir numa companhia negra. É de supor que os "voluntários
espontâneos" de Quirino compartilhassem uma identidade racial que os levasse à
companhia negra em vez de aos outros batalhões que estavam sendo organizados na
mesma época. Alguns guardas nacionais recrutados solicitaram que fossem
mandados para uma companhia de zuavos em agosto de 1865, o que talvez indique
semelhante identidade racial. As autoridades militares e policiais
aparentemente se esforçavam para manter o perfil racial dos zuavos. O
comandante das armas selecionava os recrutas crioulos das levas do interior
para mandá-los aos zuavos, e excluiu um homem de uma das companhias zuavas "por
ser de cor parda".58 A polícia também colaborou nesse sentido e assegurou que
os dezesseis crioulos encontrados entre 464 recrutas fossem levados às
companhias de zuavos no final de 1865.59
Há indícios de um surto de recrutamento forçado para as companhias de zuavos em
meados de 1865. Em agosto, O Alabama recomendou que o governo desse baixa a
certo Veríssimo, que sofria de doença mental e provocou desordens com seus
gritos quando tentou fugir do quartel para evitar o serviço militar. No mesmo
mês, esse jornal relatou que as companhias de zuavos então sendo organizadas
tinham listas de guardas nacionais a serem designados para suas fileiras. O
chefe de polícia enviou outro guarda aos zuavos na qualidade de recruta depois
de prendê-lo numa casa de jogos. No dia 26 de agosto, soldados zuavos tentaram
recrutar a força um escravo pardo, Simão, que conseguiu escapar mergulhando no
mar, mas morreu afogado.60
Dois outros casos de recrutamento de escravos sugerem certa solidariedade entre
zuavos e escravos, que aparentemente apresentaram-se voluntariamente. Um
escravo jovem, João, foi mandado à rua para comprar folhas de banana; duas
horas mais tarde, estava fardado de zuavo e pronto para servir a seu país, e
não mais a seu dono, que logo solicitou a devolução da sua propriedade. Quando
o dono de outro escravo, João Gualberto da Silva, reclamou a sua devolução, foi
insultado pelos zuavos; no dia seguinte, ele descobriu que seu escravo já havia
assentado praça, o que implicava um processo mais complicado para conseguir sua
baixa do serviço militar. Ademais, João Gualberto era um liberto sob condição,
o que enfraquecia o direito de propriedade do seu dono, e o presidente ordenou
que este apresentasse mais documentos comprobatórios do seu direito de posse.
Um mês mais tarde, João Gualberto ainda estava na prisão militar, preso
enquanto durassem as averiguações sobre sua condição.61 Nesses dois casos, é
provável que os escravos fossem cúmplices no seu recrutamento e que os zuavos
os tivessem ajudado a fugir do cativeiro. Depois dessa conjuntura, não houve
mais reclamações sobre o recrutamento forçado para as companhias de zuavos, o
que sugere que tinham sido devidas aos excessos de um determinado oficial.
Algumas outras fontes sugerem que os soldados zuavos eram, às vezes,
desordeiros e que estavam bem integrados à cultura popular e à vida das ruas. O
Alabama reclamou, no início de junho de 1865, que as guardas da companhia de
zuavos "leva[va]m a noite a provocar desordens, a bulir com as negras e a
atirar foguetes e roletes [de cana] em cima de quem passava". "Uma porção de
moleques", meninos negros, portanto, se juntava aos divertimentos dos zuavos e
por isso ganharam o apelido de "zuavinhos".62 Haviam começado a festejar o São
João bem antes do seu dia, 24 de junho.
O papel da política partidária na mobilização de 1865-66 tem sido pouco
estudado, embora a política moldasse o recrutamento tanto em tempo de guerra
como em tempo de paz.63 Os governos progressistas, compostos de liberais e
conservadores moderados, detinham o poder entre 1862 e 1868, e tanto os
saquaremas (conservadores) como os liberais históricos não cansavam de
denunciar o que consideravam os excessos dos situacionistas. O correspondente
conservador baiano do Jornal do Commercio (do Rio de Janeiro), por exemplo,
condenou a indicação de Marcolino José Dias para comandar a Segunda Companhia
de Zuavos, pois o novo tenente era um liberto que "nada tem feito para
nobilitá-lo". O jornalista alegou que Marcolino vivia de ser espião da polícia
baiana e que havia sido promovido a sargento na Guarda Nacional "por causa do
terror que durante a eleição infundiam as suas cabeçadas a todo mundo". Durante
uma recente sessão da assembleia provincial, Marcolino liderava uma "porção de
capangas" que se reunia na galeria para intimidar o único deputado
oposicionista.64
A referência às cabeçadas de Marcolino é um indício da ligação entre a política
partidária e o mundo da rua, dominado pelos negros, entre eles capoeiras.
Embora as maltas de capoeiras fossem características da vida no Rio de Janeiro
oitocentista, há poucas referências à capoeira em Salvador. Na Corte, os
capoeiras enfrentavam a repressão policial, mas também se incorporavam às redes
clientelísticas dos partidos políticos, como havia feito o tenente Marcolino.65
Manoel Raimundo Querino, o cronista da história afro-baiana, escreveu, no
início do século XX, que o governo baiano havia mandado muitos capoeiras aos
campos de batalha no Paraguai, onde se distinguiram nos combates, como a tomada
de Curuzu em setembro de 1866.66 Embora não haja referências específicas ao
recrutamento de capoeiras baianos durante a guerra, Marcolino efetivamente se
distinguiu nessa batalha.
As acusações contra Marcolino, cuja veracidade não importa, demonstram a sua
inserção na política partidária. Outros o viam com bons olhos. De volta a
Salvador em 1867, era uma figura popular: "Aonde vai é acompanhado por uma
multidão de povo", relatou O Alabama.67 A queda do gabinete de Zacarias de Góis
e Vasconcelos e a ascensão dos saquaremas ao poder em julho de 1868 complicou a
vida do então capitão Marcolino. Por pouco escapou de uma tentativa de
assassinato em setembro. O correspondente do Jornal do Commercio duvidava que a
polícia se esforçasse para identificar o culpado, pois a pretendida vítima era
um "liberal e um dos que tem tomado aqui mais ativa parte em eleições pelo seu
partido. Há muito juraram os dominadores [da província] dar-lhe uma lição de
mestre".68
Enquanto estavam fora do poder, os saquaremas podiam apenas reclamar do que
consideravam indicações de homens não qualificados. Os progressistas
asseguraram que os zuavos tivessem um perfil de destaque: durante os festejos
do Dois de Julho de 1865, os zuavos, garbosamente vestidos, guardaram o
palanque onde se realizavam as principais comemorações públicas.69 O periódico
liberal Bahia Ilustrada abriu suas primeiras páginas aos oficiais zuavos e
couraças, e publicou os retratos de quatro deles, entre os de outros patriotas
homenageados em 1867-68 (Figuras_1, 2 e 3). As companhias de zuavos foram
sempre incluídas nas comemorações das primeiras vitórias das armas brasileiras,
entre elas a tomada de Montevidéu e a Batalha do Riachuelo.70
[/img/revistas/afro/n46/a04fig03.jpg]
A figura chave na organização das companhias de zuavos foi o coronel Joaquim
Antônio da Silva Carvalhal, que integrava muitas das redes já analisadas. Era
comandante superior reformado da Guarda Nacional e empregado aposentado da
alfândega, onde havia trabalhado por muitos anos. Lutou como cadete na guerra
pela Independência.71 Gozava de muito prestígio entre os que foram recrutados
para as companhias de zuavos, de cujo treinamento ele estava encarregado.
Ajudou os parentes dos zuavos. Cedeu uma das suas casas à família do sargento
Inocêncio da Costa Lima (Figura_3), e depois do falecimento deste, a Bahia
Ilustrada relatou que Carvalhal pretendia doar a casa à viúva. Era tutor do
filho de Marcolino e, em 1869, cuidou do funeral do filho do capitão Barbosa.
Marcolino e Inocêncio agradeceram-lhe publicamente a ajuda.72 Carvalhal
apresentou a proposta de criação da Companhia de Couraças ao presidente da
província. Foi padrinho de casamento de um voluntário couraça na véspera do
embarque, e depois ajudou a mulher a requerer a consignação do salário do
soldado que ela não havia recebido por mais de um ano. A Bahia Ilustrada
relatou que ele pessoalmente agenciara o alistamento de muitos outros
soldados.73
Não se sabe de onde veio a influência de Carvalhal entre os oficiais e soldados
negros das companhias de zuavos e couraças, mas muitos deles haviam servido sob
suas ordens na Guarda Nacional. Era um militante do Partido Liberal, e O
Alabama o propôs como o "candidato popular" nas eleições municipais de 1868,
nas quais os saquaremas, que controlavam a máquina eleitoral, obtiveram uma
vitória esmagadora.74 As ligações entre Carvalhal e Marcolino destacam essa
conexão liberal. Ademais, como um líder na Sociedade Veteranos da
Independência, Carvalhal tinha conexões com muitos veteranos comandantes dos
batalhões baianos. Também era ligado a associações afro-baianas. Em 1859,
serviu como "sócio protetor" da Sociedade Protetora dos Desvalidos, uma
instituição de assistência mútua (alguns outros homens envolvidos na
organização das companhias de zuavos também haviam servido na mesa da SPD).75
Uma década depois, era um dos fundadores da Sociedade Humanitária
Abolicionista, que se reunia na sua espaçosa casa. Em 1870, Carvalhal fez uma
conexão direta entre os zuavos e o movimento abolicionista quando libertou uma
criança sua escrava no dia 7 de setembro. Quem teve a honra de entregar a carta
de alforria foi o capitão Barbosa.76
Carvalhal também tinha seu quinhão de inimigos. Sua independência da hierarquia
militar irritava o comandante das armas. Já em janeiro de 1865 foi censurado
por se corresponder diretamente com o presidente da província, em vez de enviar
seus ofícios através da hierarquia militar.77 Em 1866, depois do embarque da
última companhia de zuavos, Carvalhal se ofereceu para criar companhias ou
mesmo um batalhão "de africanos e crioulos, libertos", acrescentando que queria
fazê-lo como encarregado pelo presidente, sem sujeição ao comandante das armas,
que talvez lhe fizesse "advertências inca[bí]veis". O presidente negou-lhe a
autorização, mas, no início de 1867, Carvalhal organizou as companhias de
sapadores, compostas principalmente dos escravos libertos pelos donos depois de
receberem indenização do governo. O comandante das armas reclamou que Carvalhal
atuava fora da sua alçada quando fazia promoções, reconhecia cadetes e
autorizava licenças, tudo sem consultá-lo. Dessa forma, os novos sapadores
tiveram uma formação "mais própria para viciá-los do que para os tornar bons
soldados".78 Surpreendentemente, a essa altura as redes que convergiam para
Carvalhal ainda podiam gerir voluntários. Francisco Antônio de Carvalhal
Menezes e Vasconcelos, um ex-cadete demitido por "mau comportamento" em 1856,
que voltou ao serviço militar na qualidade de sargento da Primeira Companhia de
Sapadores (e talvez um parente de Carvalhal), apresentou 21 voluntários à
companhia.79
Apesar da capacidade de Carvalhal de organizar companhias e encontrar
voluntários, o presidente recusou-se a encarregá-lo do recrutamento provincial
em fins de 1867, para o qual Carvalhal havia se oferecido a servir
gratuitamente. Durante um mês, a Bahia Ilustrada condenou a decisão. Nos seus
editoriais, o periódico louvou Carvalhal e acusou o homem indicado para a
tarefa de covardia e de incompetência. Outros jornais se juntaram em vão ao
clamor em favor de Carvalhal.80
A organização das companhias de sapadores no início de 1867, bem como a
indicação de Felipe José da Exaltação Maniva para organizar uma companhia
"Henrique Dias" no Recife, em meados desse ano, foram as últimas tentativas de
recrutar companhias racialmente segregadas para a Guerra do Paraguai.81 A essa
altura, o Império precisava, não de mais companhias avulsas, mas de recrutas
para os batalhões existentes. Cada vez mais desesperado, o governo recrutava a
força, designava guardas nacionais e recorria à "compra" de escravos, que eram
libertos e logo alistados. A essa altura, também, as companhias de zuavos já
não existiam no Exército em Operações na República do Paraguai.
Os zuavos na guerra
Não é fácil seguir as companhias de zuavos depois do seu embarque na capital
baiana e muito do que se tem escrito recentemente sobre a atuação desses
soldados na guerra é cheio de lacunas e equívocos. A história institucional dos
zuavos apresentada pelo historiador militar Paulo de Queiroz Duarte é em geral
confiável, mas ele só trata das quatro primeiras companhias, e não menciona as
outras sete que embarcaram em fins de 1865 e no início de 1866.82 Eduardo
Silva, o biógrafo de Dom Obá, erra ao identificar o 24æ% Batalhão de
Voluntários da Pátria (designação dada ao Terceiro Batalhão baiano pelo governo
imperial) como um batalhão de zuavos, e também erra ao supor que a Terceira
Companhia de Zuavos (na qual Dom Obá serviu de alferes) estava anexa a esse
batalhão durante a campanha.83 O que a documentação jornalística, os
requerimentos e as ordens do dia revelam é uma história bem mais complicada e
muito mais interessante , que demonstra a ambivalência dos comandantes
militares para com as companhias negras, bem como o orgulho pelo serviço
militar por parte dos oficiais zuavos, muitos dos quais efetivamente se
distinguiram na guerra.
As companhias de zuavos, anexas aos batalhões de Voluntários de Pátria, saíram
de Salvador, uma por uma, e geralmente faziam escala no Rio de Janeiro a
caminho do Sul. Na Corte, às vezes, houve algumas mudanças nas companhias: na
Segunda Companhia, o tenente Marcolino José Dias, por exemplo, foi promovido a
capitão, e o alferes Firmino José das Dores passou a tenente.84 A Primeira
Companhia de Zuavos despertou muita curiosidade na capital, a julgar pela
charge publicada na Semana Ilustrada que sugeria que os homens de cor
fluminenses pretendiam emular o patriotismo baiano (Figura_4). Um
autoidentificado "crioulo da Corte" conclamou seus companheiros a exceder os
baianos e a criar um batalhão de zuavos.85 Durante uma curta escala em
Desterro, Santa Catarina, a Primeira Companhia de Zuavos destacou-se por sua
"robustez e disciplina".86 A certa altura, a Primeira e a Segunda Companhias de
Zuavos foram reunidas e mandadas rio acima de Montevidéu. Tiveram seu batismo
de fogo nos combates na frota improvisada encarregada de cortar a comunicação
entre as duas colunas paraguaias que avançavam nas margens do rio Uruguai.
Depois que a vitória aliada na Batalha de Yataí (17 de agosto) pôs fim à coluna
inimiga na margem direita do rio, as duas companhias foram mandadas a
Uruguaiana, aonde chegaram a tempo de presenciar a rendição paraguaia no dia 18
de setembro. Ali o Conde d'Eu julgou-as "a mais linda tropa [...] de todo o
Exército". Ele teve uma impressão muito favorável dos oficiais, que eram
atentos ao serviço e "orgulhosos do seu batalhão [sic]".87
[/img/revistas/afro/n46/a04fig04.jpg]
Durante os meses seguintes, a Primeira e a Segunda Companhias de Zuavos
continuavam anexas à Marinha; o capitão Quirino adoeceu e faleceu no hospital
de Montevidéu. Antes de dezembro, os zuavos voltaram ao Exército e no dia 1º de
dezembro de 1865, no acampamento de São Borja, o barão de Porto Alegre (Manoel
Marques de Souza) organizou um Corpo Provisório de Zuavos para integrar o
Segundo Corpo do Exército. Desse corpo provisório faziam parte a Primeira,
Segunda e Terceira Companhias de Zuavos da Bahia, bem como a companhia negra
pernambucana comandada por Maniva que, até então, não havia tomado o nome de
zuavos (é provável que soldados e oficiais da pequena Quarta Companhia de
Zuavos tenham se juntado a esse corpo provisório, pois seu comandante, André
Fernandes Galiza, estava lá em janeiro). O capitão Marcolino foi indicado como
comandante interino do Corpo Provisório de Zuavos, mas ele foi demitido no dia
1º de janeiro de 1866 e um capitão do Exército, promovido a major em comissão,
foi indicado para comandar os zuavos.88
A morte do respeitado Quirino e a reorganização das companhias de zuavos
provocaram, segundo Francisco Otaviano, o plenipotenciário brasileiro, "alguma
perturbação no batalhão [sic] dos zuavos e de São Borja recebo queixas
constantes".89 Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas no dia 12 de janeiro
de 1866, Porto Alegre anunciou a demissão do alferes Candido da Fonseca Galvão,
"por mau comportamento habitual e desordeiro", e a exoneração, "por haverem
requerido", do capitão Maniva e do tenente Galiza.90 Não se sabe se a
exoneração dos dois era uma manifestação de solidariedade com Galvão. O futuro
Dom Obá procurou Otaviano em Buenos Aires e explicou ao diplomata que havia
sido inocentado por dois conselhos de guerra. Otaviano, portanto, julgou a
exoneração uma injustiça e explicou que "o pobre homem me apareceu corrido de
vergonha"; o diplomata não tinha poder para reverter uma ordem do general, mas
recomendou que o ministro de guerra transferisse o alferes a outro corpo.91
Isso não aconteceu, e no início de março o governo imperial dispensou-o do
serviço do Exército "por seu mau estado de saúde".92 Apesar dessas
dificuldades, o Corpo Provisório de Zuavos ficou com o Segundo Corpo do
Exército, sob o comando de Porto Alegre. Numa reorganização do Segundo Corpo,
no dia 1º de maio de 1866, os zuavos passaram a integrar a Primeira Brigada da
Primeira Divisão.93
Um segundo contingente de zuavos, composto das últimas companhias organizadas
na Bahia, aos poucos se formava no Primeiro Corpo do Exército, sob o comando de
Manoel Luiz Osório (o futuro Marquês de Herval). Na véspera da invasão do
Paraguai em abril de 1866, ele os transferiu ao serviço de saúde e os soldados
zuavos foram mandados para trabalhar nos hospitais. O Alabama lamentou que
esses homens, "dignos de melhor sorte, est[avam] reduzidos a faxineiros nos
hospitais e outros misteres de igual jaez".94 Como os outros comandantes
brasileiros, Osório não precisava de pequenas unidades avulsas numa época em
que era mister manter o estado completo dos batalhões.95 Assim que chegou ao
seu acampamento em Laguna Brava, em janeiro, ele dissolveu a Companhia de
Couraças e transferiu seus oficiais e soldados a outros corpos.96 Esse foi
provavelmente o destino das últimas companhias de zuavos organizadas na Bahia,
que embarcaram no início de 1866. Transformar os soldados zuavos em faxineiros
e enfermeiros, todavia, cheira à atitude escravocrata sobre o papel adequado
para homens negros. Nem todos concordaram. Depois da guerra, Dionísio Cerqueira
lamentou que Osório não houvesse aproveitado a tradição guerreira de Henrique
Dias exemplificada pelos zuavos.97
Entretanto, o Corpo Provisório de Zuavos ainda fazia parte do Segundo Corpo do
Exército em Corrientes; esse corpo finalmente entrou em território inimigo no
dia 1º de setembro de 1866 para atacar as fortificações ribeirinhas paraguaias,
numa operação apoiada pela Marinha. No dia 25 de agosto, Porto Alegre ordenara
a dissolução do Corpo Provisório de Zuavos e a distribuição do seu pessoal
entre outras unidades (é possível que esse corpo tivesse recebido reforços de
algumas das últimas companhias de zuavos vindas da Bahia durante o inverno). Ao
que parece, não houve tempo para executar a ordem de dissolução antes da
Batalha de Curuzu (3 de setembro), na qual os baianos e os pernambucanos
lideraram o ataque contra as trincheiras e fortificações inimigas. O
pernambucano de 66 anos, capitão Felipe José da Exaltação Maniva, foi "um dos
primeiros a transpor as referidas trincheiras debaixo de um mortífero fogo". O
capitão capoeira Marcolino subiu a muralha inimiga por sobre as costas de um de
seus soldados, retirou uma bandeira paraguaia, hasteou o pavilhão verde-amarelo
no seu lugar e, segundo Manoel Querino, anunciou: "Está aqui o negro zuavo
baiano!" A coragem de Marcolino foi louvada em ordens do dia, registrada na
imprensa do Rio de Janeiro e de Salvador, e posteriormente lembrada por
folcloristas, entre eles Querino.98 Candido López, o artista que chegou a
Curuzu com os reforços argentinos alguns dias depois da batalha, recordou a
presença dos zuavos com seus "uniformes garbosos", e os incluiu no seu quadro
do acampamento, pintado em 1891.99
No final de setembro ou no início de outubro de 1866, o Corpo Provisório de
Zuavos foi definitivamente dissolvido, além de muitas outras unidades, como
parte da reorganização constante do Exército por causa das perdas maciças por
doenças e na Batalha de Curupaiti (22 de setembro), na qual quatro oficiais
zuavos foram feridos (um faleceu depois); mais três foram louvados por atos de
bravura nessa batalha.100 No dia 30 de outubro, nove capitães, tenentes e
alferes das extintas companhias de zuavos foram oficialmente transferidos para
oito batalhões diferentes de Voluntários da Pátria, ordem que indica uma
política de separá-los.101 As fardas distintivas registradas pelo pintor
argentino cederam ao uniforme normal e, de fato, não há nenhum retrato
contemporâneo dos zuavos no traje peculiar de 1865.102
A carreira militar dos oficiais zuavos, agora melhor qualificados de ex-zuavos,
pode ser seguida durante o resto da guerra. Muitos ingressaram as longas listas
de baixas que se acumulavam nas trincheiras em frente da fortaleza de Humaitá e
nos insalubres acampamentos aliados. Além de José Elói Buri, o tenente Manoel
Teodoro de Jesus faleceu de cólera. Um "ferimento de estilhaço de bomba" foi a
causa da morte do tenente Augusto Francisco da Silva em março de 1867, e mais
dois oficiais dos ex-zuavos morreram de ferimentos ou de doenças não
especificadas nos meses seguintes.103 Outros, como os capitães Marcolino e
Maniva, deram baixa por incapacidade física não especificada, entre eles também
o alferes Bernardino de Sena Trindade e o tenente Balbino Nunes Pereira.104
Poucos serviram por toda a guerra. O capitão João Francisco Barbosa de
Oliveira, comandante da Terceira Companhia de Zuavos, fez toda a campanha, mas
não foi promovido (de fato, nenhum ex-zuavo chegou a major; capitão foi a
graduação mais alta alcançada por eles). Ferido duas vezes, Barbosa nunca pediu
licença, como explicou com orgulho num requerimento pós-guerra; ele estava
entre as tropas que mataram Francisco Solano López em Aquidabã.105 O cadete
Constantino Luiz Xavier Bigode foi capturado pelos paraguaios pouco depois da
Batalha de Curupaiti e passou mais de dois anos como prisioneiro de guerra,
trabalhando na fundição de Ybicuí. Liberado em 1869, ele voltou ao serviço e
foi promovido a alferes em março de 1870.106
José Soares Cupim Júnior teve menos sorte que Barbosa e Bigode. Um dos
primeiros voluntários zuavos (assentou praça na Primeira Companhia no dia 1º de
fevereiro de 1865), ele embarcou como sargento, e durante a guerra aos poucos
foi promovido até chegar a capitão. Louvado por atos de bravura na Batalha de
Curuzu, foi ferido na segunda Batalha de Tuiuti (24 de setembro 1867).
Restabeleceu-se e voltou ao serviço, mas foi ferido no primeiro dia das lutas
em Lomas Valentinas (21 de dezembro de 1868). Não resistiu e faleceu no dia 13
de janeiro de 1869, pouco depois da ocupação aliada de Assunção. Em 1871, sua
viúva, dona Panfília Luiza Tolentino Soares, passou a receber uma pensão anual
de 720 mil-réis.107 Aliás, o parlamento aprovou pensões às viúvas de mais
quatro oficiais zuavos falecidos: Sabina Joana do Espírito Santo (viúva de
Quirino), Francisca Maria da Conceição (viúva de Tolentino), Josefina das
Trevas Lima (viúva de Inocêncio) e Arcanja de São Miguel Silva Serra (viúva de
Augusto Francisco da Silva).108
Não se sabe quase nada da experiência militar dos soldados rasos das companhias
de zuavos, mas é de supor que não diferia muito da dos seus oficiais. Como a
maioria destes, lutaram, sofreram e morreram no anonimato. Alguns tiveram
baixas por motivo de saúde, "tuberculose pulmonar incurável", no caso do
soldado Quirino José dos Santos.109 Homens qualificados de soldados da
"companhia" ou do "corpo de zuavos da Bahia" aparecem nas longas listas de
veteranos incapazes que recebiam pensões em 1867.110
Conclusão
Em 1870, três batalhões de Voluntários da Pátria voltaram à Bahia. Foram
recebidos com muita festa e logo depois dissolvidos. Muitos soldados deram
baixa sem receber os soldos atrasados que o governo ainda lhes devia.111 Poucos
oficiais ou soldados das companhias de zuavos estavam entre os veteranos que
voltaram naquele ano. Carvalhal preparou uma coroa de louros para receber o
capitão Barbosa, o único oficial zuavo mencionado pela imprensa baiana na sua
cobertura das festas. Em versos dedicados a Carvalhal, um poeta saudoso
lamentou o falecimento dos "nossos velhos amigos", Rocha Galvão, Buri e
Quirino, os veteranos da Independência que haviam servido como exemplo à
juventude baiana, e logo passaram a bandeira à nova geração.112
Sem dúvida, os ex-zuavos acharam difícil a volta à vida civil, como os demais
veteranos. Bigode, recompensado com a patente de alferes honorário do Exército,
que não lhe dava direito a soldo, solicitou uma pensão em 1875 alegando que era
incapaz de sustentar sua família por causa de ferimentos recebidos na guerra. O
requerimento foi indeferido.113 Como Bigode, Marcolino ficou em Salvador.
Segundo um cronista posterior, ele foi reduzido a trabalhar como varredor de
rua até receber um emprego como porteiro da biblioteca pública. Até a sua
morte, em 1888, o capitão Marcolino era muito conhecido em Salvador. Costumava
liderar patriotas durante as festas do dia 2 de julho. Fez parte do movimento
abolicionista e também serviu na mesa da Sociedade Protetora dos Desvalidos em
1886.114
Outros se juntaram a Cândido da Fonseca Galvão na emigração baiana para o Rio
de Janeiro, analisada por Eduardo Silva. Como Galvão, Maniva e Barbosa passaram
tempo no Asilo dos Inválidos da Pátria na Corte; seus requerimentos no Arquivo
Histórico do Exército demonstram que não cansavam de solicitar promoções,
pensões e condecorações ao imperador e ao ministro da guerra, destacando o
patriotismo com que serviram, no Paraguai como voluntários, à pátria.
Infelizmente, nenhum desses homens deixou documentos que possam revelar sua
visão política de forma tão extensa como fez o alferes Candido da Fonseca
Galvão, melhor conhecido na década de 1880 no Rio de Janeiro como Dom Obá II,
numa longa série de artigos nos jornais fluminenses. Como a maioria dos
veteranos, eles se reintegraram à população livre e pobre de cor da qual tinham
sido recrutados. Em Salvador a memória dos zuavos perdurou. No início do século
XX, Manoel Querino registrou seus nomes e seus feitos militares a partir de
tradições orais.115 A essa altura, todavia, não havia lugar para soldados
negros no imaginário público de um regime republicano cujo ideal era uma
sociedade europeizada. Mesmo o Império oferecera pouco aos seus defensores
negros, como Silva deixa claro na sua biografia de Galvão/Obá. O imperador Dom
Pedro II recebia o "Príncipe do Povo" no palácio, mas pouco depois da Abolição,
o ato mais popular do governo imperial, o monarca seria deposto.116
É possível que os soldados negros tivessem voltado "com novo espírito, com
capacidade mais ampla de analisar a sociedade escravista brasileira", como
sugere Nelson Werneck Sodré,117 mas o Império (e menos ainda a República)
ofereceu-lhes poucos meios para se integrarem à nação pela qual lutaram. Como
Miguel Angel Centeno observou para América Latina, "um sentimento de
nacionalidade ativo e ardente demais", como aquele manifestado pelos zuavos em
1865, "podia criar condições ameaçadoras à dominação pela elite".118 O Brasil
precisava de tais patriotas em 1865, mas depois da guerra, a estreita cultura
política do país oferecia pouco espaço para homens como os zuavos apresentarem
suas reivindicações, e muito menos para exercerem a plena cidadania.
Post-scriptum: o problema da fé de ofício de Dom Obá II
O leitor atento já terá percebido que a história da participação de Cândido da
Fonseca Galvão na Guerra do Paraguai não corresponde à que o folclorista
Alexandre José de Melo Morais Filho registrou sobre ele no final do século XIX,
isto é, que os seus companheiros na Corte diziam que "a sua fé de ofício [era]
limpa e elogiosa". Essa avaliação foi repetida por muitos folcloristas e
cronistas posteriores.119 A demissão dele "por mau comportamento habitual e
desordeiro" em janeiro de 1866 não era, todavia, desconhecida. Logo depois da
sua manifestação monarquista no dia 2 de dezembro de 1889, o governo provisório
da República cassou o decreto que lhe concedera as honras do posto de alferes,
citando a demissão.120
A história do decreto cassado é curiosa. Uma vez demitido em 1866, Galvão não
tinha mais direito a ser tratado de alferes, pois, como todos os oficiais dos
Voluntários da Pátria, não tinha patente de oficial do Exército. Durante a
guerra, o governo geralmente concedia honras do posto aos oficiais voluntários
logo depois da sua demissão por motivos de saúde. Pelo menos oito dos oficiais
zuavos receberam essas patentes honorárias do Exército durante ou logo depois
da guerra, entre eles os capitães Maniva e Marcolino, ambos em junho de 1867,
"por serviços relevantes prestados na guerra atual".121 Através da concessão
dessas honras, eles recebiam o direito de usar a farda e de serem tratados como
oficiais. Eram apenas honras, pois a concessão delas não dava direito à
pensão.122 O orgulho da farda é bem patente nas fotografias existentes do
capitão Marcolino (e do alferes Galvão).123 Em 1870, com já vimos, logo depois
da conclusão da guerra, o capitão Barbosa e o alferes Bigode obtiveram as
honras dos seus respectivos postos.
Galvão não as recebeu em 1866 e, na qualidade de "ex-alferes", ele solicitou-as
através de um requerimento ao imperador datado de 31 de março de 1871. Nele,
não alegou ter feito a campanha e apenas mencionou que uma "moléstia" não
especificada "o impossibilitou de prosseguir". Isso foi confirmado pela
secretaria do comando das armas da Bahia, que localizou a ordem do dia na qual
foi anunciada a sua "dispensa do posto de comissão, que tinha no Exército, por
seu mau estado de saúde", no dia 5 de março de 1866.124 Instado a apresentar
sua fé de ofício, ele explicou que foi destruída quando sua casa em Lençóis
pegou fogo.125 Em março de 1872, ele apresentou um memorial ao imperador no
qual mais uma vez solicitou as "honras do posto" e acrescentou o pedido de "uma
pensão correspondente"; novamente lamentou a "cruel enfermidade" que pusera fim
a sua careira militar.126 No dia 25 de setembro de 1872, foram-lhe concedidas
as honras, "em atenção aos relevantes serviços prestados na guerra contra o
Paraguai".127 Talvez fosse uma recompensa pela sua atuação na mobilização de
1865, mas se as circunstâncias da sua demissão, em janeiro de 1866, fossem
conhecidas, duvido que ele tivesse sido assim tratado. Será que foi um erro da
burocracia civil e militar? Ou será que Dom Obá tinha protetores na Corte?
Segundo Eduardo Silva, Dom Obá era partidário dos conservadores, no poder entre
1868 e 1878, pois lhe deram um emprego; ademais, a mobilização de 1865 em
Lençóis foi liderada pelos conservadores, então oposicionistas, que dominavam o
município.128 Em 1871-72, os capitães Marcolino e Barbosa, que certamente
sabiam o que ocorrera em São Borja, estavam na Bahia e podiam ter esclarecido o
caso, mas Marcolino era partidário liberal, e quanto a Barbosa, dadas as suas
conexões com Carvalhal, é de supor que fosse também oposicionista. Sem mais
pesquisas, essas ponderações não passam de especulações, mas é importante
reconhecer a influência da política partidária, tanto na mobilização durante a
guerra como na vida pós-guerra dos veteranos.
Há também lacunas curiosas nos requerimentos enviados por Galvão ao imperador
através do Ministério da Guerra. De certa forma, constituem uma autobiografia
do alferes, e foram aproveitados por Eduardo Silva para reconstruir a sua vida
pós-guerra. No entanto, devem ter confundido as autoridades militares. Não só
desobedeciam ao padrão de requerimentos militares, como também não incluíam os
documentos comprobatórios (como os muitos anexados por Barbosa e Maniva, entre
outros citados neste artigo). No memorial de março de 1872, alegou que "tomou
parte bem ativa com esta companhia", isto é, a Terceira Companhia de Zuavos,
"de ruidosos combates", mas como vimos, apenas as Primeira e Segunda Companhias
chegaram no Sul a tempo de lutar contra a invasão paraguaia de 1865.129 É sua
primeira alegação de ter participado de combates. Em 1874, Galvão solicitou
novamente uma pensão, agora alegando que os ferimentos recebidos nos "diversos
combates" de que participou o haviam privado de "granjear o pão" para a
subsistência dele e de sua família.130 No despacho, foi instado a "instru[ir]
devidamente sua petição", isto é, apresentar documentos comprobatórios. Não o
fez, e entre seus requerimentos não há indício de que tivesse solicitado uma
segunda via da fé de ofício queimada antes de 1871. Também não apresentou
atestados de outros oficiais que soubessem do seu serviço, como o fizeram
muitos dos requerentes ex-zuavos. Que Galvão nunca apresentasse documentação
oficial comprobatória da sua participação nos combates de 1866, e que ele não
fosse mencionado nas ordens do dia (como tantos outros oficiais das companhias
de zuavos o foram), enfim, representam indícios muito fortes de que, depois da
sua demissão em janeiro de 1866, ele nunca mais voltou ao serviço militar.
Se isso tudo é verdade, restam dois grandes mistérios na história de Dom Obá
II: como conseguiu as honras do posto de alferes em 1872 e como criou a
reputação de herói da guerra com uma fé de ofício "limpa e elogiosa", aceita
pelos seus companheiros, quando havia muitos, como os capitães Barbosa e
Marcolino, que sabiam a verdade e que tinham fés de ofício muito mais elogiosas
do que a do alferes Galvão? Será que o respeito para com um companheiro que
eles julgavam injustiçado foi o que motivou o silêncio dos capitães?
Texto recebido em 11/10/2011 e aprovado em 26/1/2012
* Agradeço ao Social Sciences and Humanities Research Council do Canadá pelas
bolsas de pesquisa que permitiram a elaboração deste artigo. Trata-se de uma
versão consideravelmente ampliada e revisada de "Patriotic Mobilization in
Brazil: The Zuavos and Other Black Companies", in Hendrik Kraay e Thomas L.
Whigham (orgs.), I Die with My Country: Perspectives on the Paraguayan War,
1864-1870 (Lincoln: University of Nebraska Press, 2004), pp. 61-80. Agradeço os
comentários dos pareceristas de Afro-Ásia. As seguintes abreviaturas são usadas
nas notas: ACD (Anais da Câmara dos Deputados); AHEx/RQ (Arquivo Histórico do
Exército, Requerimentos); AN (Arquivo Nacional), SPE (Seção do Poder
Executivo); APEB (Arquivo Público do Estado da Bahia), SACP (Seção de Arquivo
Colonial e Provincial), SJ (Seção Judiciária); BN/SM (Biblioteca Nacional,
Seção de Manuscritos); CLB (Coleção das Leis do Brasil); OD (Ordem do Dia).
1 Francisco Otaviano de Almeida Rosa a José Antônio Saraiva, Buenos Aires, 24/
4/1866, in Francisco Otaviano [de Almeida Rosa], Cartas de Francisco Otaviano,
organizado por Wanderley Pinho, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977,
p. 159.
2 Richard Graham, "Free African Brazilians and the State in Slavery Times", in
Michael Hanchard (org.), Racial Politics in Contemporary Brazil, Durham: Duke
University Press, 1999, p. 31.
3 Júlio José Chiavenato, Os Voluntários da Pátria (e outros mitos), São Paulo:
Global, 1983; Júlio José Chiavenato, O negro no Brasil da
senzala à Guerra do Paraguai, São Paulo: Brasiliense, 1980.
4 Marco Antônio Cunha, A chama da nacionalidade: ecos da Guerra do Paraguai,
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2000, p. 63, 139, 143.
5 Eduardo Silva, Dom Obá II d'África, o príncipe do povo: vida, tempo e
pensamento de um homem livre de cor, São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
6 João Batista Calógeras a Pandiá George Calógeras, Rio de Janeiro, 24/12/1864,
in João Batista Calógeras, Um ministério visto por dentro: cartas inéditas de
João Batista Calógeras, alto funcionário do império, organizado por Antônio
Gontijo de Carvalho, Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, p. 175.
7 Richard M. Morse, From Community to Metropolis: A Biography of São Paulo,
Brazil, New York: Octagon Books, 1974, pp. 142-43; Eduardo
Silva, "O Príncipe Obá, um Voluntário da Pátria", in Maria Eduarda Castro
Magalhães Marques (org.), Guerra do Paraguai, 130 anos depois, Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 1995, p. 70.
8 Decreto 3371, 7/1/1865; Decreto 3508, 30/8/1865, CLB; "Mappa da força com que
cada uma das Provincias do Imperio concorreu para a guerra do Paraguay, segundo
os mappas remettidos a esta Secretaria de Estado", in Brasil, Ministro da
Guerra, Relatório (1872); Peter M. Beattie, The Tribute of Blood: Army, Honor,
Race, and Nation in Brazil, 1864-1945, Durham: Duke University Press, 2001, pp.
173-74.
9 Requerimentos de José Jorge Bisucheth e José Jorge Perrucho ao Presidente,
[Salvador], ca. 1865, APEB/SACP, maço 3670; Presidente ao Ministro da Guerra,
Salvador, 4/8/1865, ANRJ/SPE/IG1, maço 125, fl. 247; J. B. Calógeras a P. G.
Calógeras, Rio de Janeiro, 12/1/1865, in Calógeras, Ministério, p. 197.
10 Sobre as eleições e a mobilização de clientelas para votar, ver Richard
Graham, Patronage and Politics in Nineteenth-Century Brazil, Stanford: Stanford
University Press, 1990, cap. 5; sobre Pernambuco, ver Márcio
Lucena Filho, "Pernambuco e a Guerra do Paraguai: o recrutamento e os limites
da ordem" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 2000),
pp. 92-3.
11 João Evangelista de Castro Tanajura ao Presidente, Curralinho, 2/2/1865; e
Salvador, 21/4/1865, APEB/SACP, maço 3669; Dionísio Cerqueira, Reminiscências
da Campanha do Paraguai, 1865-1870, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
1980, p. 56; Tenente-Coronel Comandante, Segundo Batalhão,
Voluntários da Pátria, ao Comandante das Armas, Salvador, 16/5/1865 (cópia),
APEB/SACP, maço 3444; O Alabama, 25/5/1865.
12 Sobre essas ofertas, ver "Registro de Donativos", APEB/SACP, maço 3675-1,
fols. 86r-146r. A reunião com comerciantes é mencionada pelo Presidente ao
Ministro da Guerra, Salvador, 24/8/1865, ANRJ/SPE/IG1, maço 125, fols. 276r-
77r; e The Anglo-Brazilian Times, 7/9/1865. Muitos outros donativos são
mencionados em APEB/SACP, maço 3669; e "Relação dos donativos feitos ao Estado
para as despesas da guerra, bem como para aquisição de Voluntários da Pátria
...", 20/4/1866, apêndice ao Brasil, Ministro da Guerra, Relatório (1866).
Esses donativos foram analisados por Sílio Bocanera Júnior, "A Bahia na Guerra
do Paraguai", Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, n. 72
(1945), pp. 141-88; Ricardo Salles, Guerra do Paraguai:
escravidão e cidadania na formação do Exército, Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1990, pp. 98-105; Marcelo Santos Rodrigues, "Os
(in)voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai (a participação da Bahia no
conflito)" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia, 2001), pp.
55-6. A mesma história pode ser contada para outras
províncias; ver Daví Carneiro, Paraná na Guerra do Paraguai, Rio de Janeiro:
Americana, [1940], pp. 119-25; Zildete Inácio de Oliveira
Martins, A participação de Goiás na Guerra do Paraguai, Goiâna: UFG Editora,
1983, pp. 70-3; Lucena Filho, "Pernambuco", pp. 89-91; Adauto M. R. da Câmara, O Rio Grande do Norte na Guerra do
Paraguai, Natal: Tipografia Galhardo, 1951, pp. 24-7; Maria
Regina Santos de Souza, "Impactos da Guerra do Paraguai na província do Ceará
(1865-1870)" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Ceará, 2007),
pp. 71-89.
13 J. B. Calógeras a P. G. Calógeras, Rio de Janeiro, 22/1/1865, in Calógeras,
Ministério, p. 202.
14 Feliciana Maria de Brito Lopes Alves ao Presidente, Salvador, 31/10/1865,
APEB/SACP, maço 3669.
15 June Hahner, Emancipating the Female Sex: The Struggle for Women's Rights in
Brazil, 1850-1940, Durham: Duke University Press, 1990, p. 63; Francisco Augusto Pereira da Costa, Cronologia histórica do Estado do
Piauí, Rio de Janeiro: Artenova, 1974, v. 2, pp. 501-5.
16 Gustavo Adolpho de Menezes ao Comandante das Armas, Salvador, 3/5/1864,
ANRJ/SPE/IG1, maço 125, fl. 203.
17 Felisberto José Pinho ao Presidente, Monte Santo, 6/5/1865, APEB/SACP, maço
3669.
18 Para Salvador, essa trajetória pode facilmente ser seguida nos números de
janeiro de 1865 d'O Alabama; para outra província, ver Câmara, Rio Grande do
Norte, p. 21.
19 Commandante das Armas ao Presidente, Salvador, 19/10/1865, APEB/SACP, maço
3411; José Luiz Rodrigues da Silva, Recordações da campanha do Paraguay, São
Paulo: Melhoramentos, 1924, p. 23; Artur Silveira da Mota
Jaceguai, Reminiscências da Guerra do Paraguai, Rio de Janeiro: Officina
Graphica "A Noite", 1935, p. 154; Gilberto Freyre, Ordem e
progresso, Rio de Janeiro: José Olympio, v. 1, p. 308.
20 Bahia, Presidente, Relatório (1866), pp. 16-7.
21 Manoel Pinto de Souza Dantas a Saraiva, Salvador, 24/8/1865, Arquivo do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, lata 272, pasta 31, doc. 20.
22 Sobre esse ponto, ver também Salles, Guerra do Paraguai: escravidão, p. 61,
63.
23 Sobre essas mudanças na política de recrutamento, ver Hendrik Kraay,
Política racial, Estado e forças armadas na época da Independência: Bahia,
1790-1850, São Paulo: Hucitec, 2011, pp. 124-30, 290-91, 311-14, 326-28.
24 Apenas 23,1% dos 620 avisos sobre desertores, entre 1854 e 1887, tinham
informação sobre a cor do soldado, Hendrik Kraay, "O cotidiano dos soldados na
guarnição da Bahia (1850-89)", in Celso Castro, Vitor Izecksohn e Hendrik Kraay
(orgs.), Nova História Militar Brasileira, Rio de Janeiro: FGV Editora e Bom
Texto, 2004, p. 242.
25 Quirino Antônio do Espírito Santo ao Presidente, Salvador, 26/1/1865, O
Alabama, 6 de fevereiro de 1865.
26 Sobre a subscrição, ver as cartas da Bahia, 5/2/1865, Jornal do Commercio,
10/2/1865; 14/2/1865, Jornal do Commercio, 21/2/1865; Pedro Francelino ao Presidente, Salvador, 6/4/1865, APEB/
SACP, maço 3137.
27 Henri Dutailly, "Les premiers Zouaves (1830-1841)", Revue Historique des
Armées, v. 5, n. 4 (1978), pp. 43-52; Lee A. Wallace,
"Coppens' Louisiana Zouaves", Civil War History, v. 8, n. 3 (1962), pp. 269-92; Gerald E. Wheeler, "D'Epineuil's Zouaves", Civil War History,
v. 2, n. 4 (1956), pp. 93-100; Jean Guenel, La dernière
guerre du pape: les Zouaves Pontificaux au secours du Saint-Siège, Rennes:
Presses Universitaires de Rennes, 1998.
28 Cunha, Chama, p. 73. Essa explicação foi proposta pela primeira vez pelo
historiador militar do início do século XX, Gustavo Barroso. Ver Paulo de
Queiroz Duarte, Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai, Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1981-89, v. 2, tomo 5, pp. 185-86.
29 Sobre a criação da companhia negra em Pernambuco, ver Lucena Filho,
"Pernambuco", pp. 66-7.
30 Bahia, Presidente, Relatório (1866), pp. 16-7; "Mappa
demonstrativo do pessoal das Companhias de Zuavos, Couraças e Sapadores
organizadas pelo Coronel Comandante Superior Joaquim Antonio da Silva
Carvalhal", 13/11/1871, APEB/SACP, maço 3675. A única referência à Décima-
Segunda Companhia de Zuavos que conheço se encontra na documentação anexa ao
requerimento do seu organizador para o melhoramento da sua reforma, resumido em
"Projecto n. 67 1888: Melhoramento de reforma ao sargento reformado do exército
Sotero Joaquim de Almeida", 20/8, ACD (1888), v. 4, pp. 178-79. Em fins de fevereiro de 1866, o sargento Sotero estava preso, acusado
de deserção, acusação que ele negava. Suterio [sic] Joaquim de Almeida ao
Presidente, Salvador, 23/2/1866, APEB/SACP, maço 3674.
31 Sobre a Independência na Bahia, ver Kraay, Política racial, cap. 5. Rodrigues também percebeu a importância retórica da Independência na
mobilização baiana, "(In)voluntários", p. 18, 43, 51.
32 "Estatutos da Sociedade Veteranos da Independencia", APEB/SACP, maço 3802.
33O Alabama, 24/1/1865; Carta da Bahia, 1/4/1868, Jornal do Commercio, 10/4/1868; O Alabama, 21/3/
1868.
34 Sobre a criação dos couraças, ver O Alabama, 3/8/1865, 12/8/1865 e 4/11/
1865.
35 Requerimento de Domingos Mundim Pestana ao Imperador, Salvador, 21/1/1841,
AHEx/RQ, D-26-709; fé de ofício de Joaquim Antônio da Silva Carvalhal, AHEx/RQ,
JJ-119-3115.
36 Respetivamente, Joaquim Maurício Ferreira e José Baltazar da Silveira; sobre
a atuação desses homens na luta pela Independência, ver Jornal do Commercio, 7/
1/1865; e Kraay, Política racial, p. 185, 258.
37 André Pinto Rebouças, Diário e notas autobiográficas: texto escolhido e
anotações, organizado por Ana Flora e Inácio José Veríssimo, Rio de Janeiro:
José Olympio, 1938, p. 65.
38 Sobre a morte de Quirino, ver o requerimento da sua viúva, Sabina Joanna do
Espirito Santo, ao Presidente, Salvador, ca. 1866, APEB/SACP, maço 3670. A
volta de Pestana e a sua morte foram noticiadas por O Alabama, 1/3/1866 e 7/5/
1868. A morte de Rocha Galvão é mencionada por O Alabama, 14/6/1866; a licença
e a morte de Buri foram anunciadas em ODs 163 e 164, Tuyu-cuê, 6/12/1867 e 7/
12/1867, Exército em operações na Republica do Paraguay sob o commando em chefe
de todas as forças, de S. Ex. Sr. Marechal do Exercito Luiz Alves de Lima e
Silva, Duque de Caxias, Rio de Janeiro: Typ. de Francisco Alves de Souza, 1877,
v. 2, p. 449, 455.
39 Citado em Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, p. 189.
40 Essa discussão resume a análise da milícia negra em Kraay, Política racial,
passim; é mais concisamente apresentada em Hendrik Kraay, "Identidade racial na
política, Bahia, 1790-1840: o caso dos Henriques", in István Jancsó (org.),
Brasil: formação do Estado e da nação, São Paulo: HUCITEC, Ed. UNIJUÍ, FAPESP,
2003, pp. 521-46.
41 Evaldo Cabral de Mello, Rubro veio: o imaginário da restauração
pernambucana, 2.ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, pp. 34, 50, 53-54, 195-
96, 220-24; Lucena Filho, "Pernambuco", pp. 66-7.
42 Francis Albert Cotta, Negros e mestiços nas milícias da América portuguesa,
Belo Horizonte: Crisálida, 2010, p. 26.
43 "Despedida do organisador da 2.ª Comp.ª de Zuavos Bahianos, Joaquim Antonio
da Silva Carvalhal", 1/5/1865, BNRJ/SM, II-34, 5, 47. Essa palestra foi também
reproduzida em "Embarque da 2.ª companhia de Zuavos Bahianos para o Rio de
Janeiro", Jornal do Commercio, 10/5/1865.
44 "Hymno dos Zuavo Bahianos", O Alabama, 1/3/1865. No início
do século XX, Manoel Raimundo Querino registrou uma versão um pouco diferente,
A Bahia de outrora, Salvador: Progresso, 1955, pp. 185-86.
45 Cartas da Bahia, 27/2/1865 e 24/3/1865, Jornal do Commercio, 7/3/1865 e 6/4/
1865. Sobre Gomes, ver Kraay, Política racial, pp. 162, 325,
338-46.
46 Manoel Querino, "Os homens de côr preta na história", Revista do Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia, v. 48 (1923), p. 363.
47 Requerimento de Felippe Jose da Exaltação Maniva ao Imperador, Rio de
Janeiro, 7/6/1874, AHEx/RQ, F-18-672.
48 Conde d'Eu, Viagem militar ao Rio Grande do Sul, São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1936, p. 135; Carvalhal ao Presidente,
Salvador, 13/9/1865, APEB/SACP, maço 3454. Sobre a
qualificação para servir na Guarda, ver Kraay, Política racial, pp. 327-28.
49 Requerimento de Maniva ao Imperador, 5/9/1837, AHEx/RQ, F-18-672;
Requerimento de Constantino Luiz Xavier Bigode ao Ministro do Império,
Salvador, 12/6/1875, AHEx/RQ, C-60-1707; O Alabama, 23/9/1865 e 19/11/1868.
50 "Projecto n. 67 1888", ACD (1888), v. 4, p. 178.
51 Kraay, Política racial, p. 144.
52 Quirino ao Comandante das Armas, Salvador, 24/2/1865, APEB/SACP, maço 6463.
53 Silva, Dom Obá II, pp. 41-3, 47-8. O número de voluntários
mobilizados por Galvão é alegado no seu "Memorial" ao imperador, Salvador, 27
de março de 1872, AHEx/RQ, C-17-539. Não conheço nenhum outro documento
comprobatório, mas a promoção de Galvão a alferes é um forte indício de que ele
realmente mobilizou um grupo de voluntários.
54 "Projecto n. 67 1888", ACD (1888), v. 4, p. 178.
55 Requerimento de Andre Fernandes Galliza ao Presidente, ca. junho de 1865,
APEB/SACP, maço 3438; Comandante das Armas ao Presidente, Salvador, 26/7/1865,
APEB/SACP, maço 3448; 21/8/1865, APEB/SACP, maço 3454.
56 Carta da Bahia, 13/9/1865, Jornal do Commercio, 22/9/1865;
Abílio Cesar Borges ao Presidente, Salvador, 21/12/1865, APEB/SACP, maço 3669.
57 Comandante das Armas ao Presidente, Salvador, 2/11/1865, APEB/SACP, maço
3424.
58 Comandante das Armas ao Presidente, Salvador, 10/8/1865, APEB/SACP, maço
3438; 26/7/1865, APEB/SACP, maço 3448; 24/10/1865, APEB/SACP, maço 3411.
59 Osvaldo Silva Felix Júnior, "Repensando a Guerra (a participação da Bahia na
Guerra do Paraguai), 1865-1870" (Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual
da Bahia, 2009), pp. 63-7.
60O Alabama, 1/8/1865, 22/8/1865 e 31/8/1865; João Francisco Barbosa de
Oliveira ao Comandante das Armas, Salvador, 5/6/1865, APEB/SACP, maço 3444;
Comandante das Armas ao Chefe de Polícia, 11/9/1865, APEB/SACP, maço 6463; O
Alabama, 11/9/1865.
61 Esses dois casos podem ser seguidos nos documentos seguintes: Requerimento
de Florencio da Silva e Oliveira ao Presidente, ca. 1865, APEB/SACP, maço 3696;
O Alabama, 2/9/1865, 4/9/1865 e 4/10/1865; Comandante das Armas Interino ao
Presidente, Salvador, 9/9/1865, APEB/SACP, maço 3432. Dois escravos tiveram
mais sucesso em escapar de seus donos através das companhias de Zuavos, pois
seus donos souberam do seu paradeiro após eles terem embarcado com,
respectivamente, a Primeira e a Segunda Companhia de Zuavos. Ver Felix Júnior,
"Repensando", pp. 84-5. Sobre os tramites para reclamação de
escravos foragidos encontrados no Exército, ver Hendrik Kraay, "'O abrigo da
farda': o Exército brasileiro e os escravos fugidos, 1800-1888", Afro Ásia, v.
17 (1996), pp. 29-56.
62O Alabama, 6/6/1865. Nesse sentido, os zuavos pouco diferiam dos outros
soldados brasileiros, Kraay, Política racial, caps. 3 e 7;
Beattie, Tribute, cap. 7; Kraay, "Cotidiano", pp. 237-68.
63 Hendrik Kraay, "Repensando o recrutamento militar no Brasil imperial",
Diálogos, v. 3, n. 3 (1999), pp. 113-51.
64 Cartas da Bahia, 26/3/1865 e 10/4/1865, Jornal do Commercio, 6/4/1865 e 15/
4/1865.
65 Thomas H. Holloway, "'A Healthy Terror': Police Repression of Capoeira in
Nineteenth-Century Rio de Janeiro", Hispanic American Historical Review, v. 69,
n. 4 (1989), pp. 637-76; Carlos Eugênio Líbano Soares, A
capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850),
Campinas: Editora da Unicamp, 2001; Carlos Eugênio Líbano
Soares, A negregada instituição: os capoeiras na Corte imperial, 1850-1890, Rio
de Janeiro: Access, 1999.
66 Querino, Bahia, pp. 78-80.
67O Alabama, 22/6/1867.
68 Carta da Bahia, 29/9/1869, Jornal do Commercio, 15/10/1869.
69 Carta da Bahia, 5/7/1865, Jornal do Commercio, 11/7/1865.
70O Alabama, 11/3/1865 e 14/9/1865.
71 Testamento de Carvalhal, 17/6/1878, APEB/SJ, Livros de Registro de
Testamentos, v. 55, fols. 10v-11r.
72 Carvalhal ao Presidente, Salvador, 14/3/1865, APEB/SACP, maço 3454; requerimento de Carvalhal ao Presidente, [Salvador], ca. 1866, APEB/
SACP, maço 3671; "Registro de donativos", APEB/SACP, maço 3675-1, fols. 93v-
94r; Bahia Illustrada, 1/12/1867; O Alabama, 17/7/1869; "Despedida", O Alabama, 4/5/1865;
"Despedidas", Jornal do Commercio, 10/5/1865.
73 Carvalhal ao Presidente, Salvador, 31/7/1865, APEB/SACP, maço 3454;
Requerimento de Silvana Porcina de S. José ao Presidente, Salvador, 18/9/1866
(com documentos anexos), APEB/SACP, maço 3674; "O Coronel Joaquim Antonio da
Silva Carvalhal", Bahia Illustrada, 5/5/1867.
74O Alabama, 17/7/1868 e 5/9/1868.
75 P. de S., Memorias da viagem de Suas Magestades Imperiaes á provincia da
Bahia, Rio de Janeiro: Typographia Industria Nacional de Cotrim & Campos,
1867, pp. 112-13; Júlio de Santana Braga, Sociedade Protetora
dos Desvalidos: uma irmandade de cor, Salvador: Ianamá, 1987, p. 73.
76O Alabama, 18/9/1869 e 7/9/1870.
77O Alabama, 18/1/1865.
78 Requerimento de Carvalhal ao Presidente, ca. 1866, APEB/SACP, maço 3671; O
Alabama, 11/9/1866 e 11/12/1866; Comandante das Armas ao Presidente, Salvador,
23/2/1867, APEB/SACP, maço 3414. A composição social das companhias de
sapadores pode ser inferida do Comandante das Armas ao Chefe de Polícia,
Salvador, 10/2/1867, APEB/SACP, maço 6464. Sobre o recrutamento de escravos,
ver Hendrik Kraay, "Escravidão, cidadania e recrutamento militar na Guerra do
Paraguai", Estudos Afro-Asiáticos, v. 33 (1998), pp. 17-51.
79 Requerimentos de Francisco Antônio de Carvalhal Menezes e Vasconcelos (e
documentos anexos, entre eles, uma lista desses voluntários), AHEx/RQ, F-48-
1617. A capacidade de Vasconcelos de incentivar voluntários não fez dele um bom
oficial inferior, e ele foi demitido em janeiro de 1869 "por incorrigível", OD
2, Assunção, 29/1/1869, Exercito em Operações na Republica do Paraguay sob o
commando em chefe interino de S. Ex. o Sr. Marechal de Campo Guilherme Xavier
de Souza, Rio de Janeiro: Typ. de Francisco Alves de Souza, 1877, p. 12.
80Bahia Illustrada, 3/11/1867, 10/11/1867 e 1/12/1867; O Alabama, 2/11/1867;
cartas da Bahia, 4/11/1867 e 24/11/1867, Jornal do Commercio, 12/11/1867 e 2/
12/1867.
81 Comandante das Armas ao Presidente, Recife, 29/7/1867, Arquivo Público do
Estado de Pernambuco, CA 81, fl. 207. É provável que Maniva não conseguisse
organizar essa companhia, pois nunca alegou esse serviço depois da guerra,
AHEx/RQ, F-18-672.
82 Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, pp. 184-204.
83 Silva, Dom Obá II, pp. 45-54. Esse equívoco é repetido por
Ricardo Salles, Guerra do Paraguai: memórias e imagens, Rio de Janeiro: Edições
Biblioteca Nacional, 2003, p. 38, 45.
84 "Gazetilha", Jornal do Commercio, 22/5/1865.
85 O Crioulo da Corte, "Zuavos", Correio Mercantil, 23/3/1865.
86 Citado por Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, p. 189.
87 Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, p. 190; Thomas L.
Whigham, The Paraguayan War, Lincoln: University of Nebraska Press, 2002, p.
346; Augusto Tasso Fragoso, História da guerra entre a
Tríplice Aliança e o Paraguai, Rio de Janeiro: Imprensa do Estado Maior do
Exército, 1956, v. 2, p. 225 (nota 115) e 269; Conde d'Eu,
Viagem, p. 135.
88 Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, pp. 189-95.
89 Otaviano a Ângelo Muniz da Silva Ferraz, Buenos Aires, 7/2/1866 (reservado),
in Otaviano, Cartas, pp. 150-51.
90 OD 54, São Borja, 13/1/1866, Exercito em Operações na Republica do Paraguay,
Segundo Corpo sob o comando em chefe do Exm. Sr. Tenente General Manoel Marques
de Souza, Conde de Porto Alegre, Rio de Janeiro: Typ. de Francisco Alves de
Souza, 1877, v. 2, pp. 30-1.
91 Otaviano para Ferraz, Buenos Aires, 7/2/1866 (reservado), in Otaviano,
Cartas, p. 151.
92 OD 79, São Thomaz, 15/5/1866, Exercito em Operações ... M. M. Souza, v. 2,
p. 224.
93 OD 78, São Thomaz, 1/5/1866, Exército em Operações ... M. M. Souza, v. 2, p.
208.
94 Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, pp. 195-94;
"Correspondencia encyclopedica de Alabama", Tuyutí, 2/8/1866, O Alabama, 4/9/
1866. A designação desses Zuavos para servir nos hospitais
foi mencionada por dois contemporâneos, Cerqueira, Reminiscências, 104; André
Rebouças, Diário: A Guerra do Paraguai (1866), organização de Maria Odila Silva
Dias, São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, 1973, p. 71, 113.
95 Cunha, Chama, pp. 76-7.
96 Duarte, Voluntários, v. 2, tomo 5, pp. 197-98, 203-4; OD
127, Lagoa Brava, 10/2/1866, Exército em Operações na Republica do Paraguay,
Primeiro Corpo, sob o comando em chefe do Exm. General Manoel Luiz Osorio,
Marques de Herval, Rio de Janeiro: Typ. de Francisco Alves de Souza, 1877, v.
2, p. 125.
97 Cerqueira, Reminiscências, p. 104.
98 Sobre a atuação de Maniva, ver Atestado, Antonio Martins d'Amorim Rangel,
Rio de Janeiro, 7/7/1873, AHEx/RQ, F-18-672 (citação). Sobre Marcolino, ver
Querino, "Homens", p. 362 (citação); OD 87, Curuzu, 14/9/1866, Exército em
Operações ... M. M. Souza, v. 2, p. 327, 335, 336; O Alabama, 29/9/1866;
Rozendo Moniz, "À victoria do Curuzu", 20/9/1866, Jornal do Commercio, 6/10/
1866; João Varella, Da Bahia que eu vi, Salvador: Tipografia
do Povo, 1935, p. 16.
99 "Vista de interior de Curuzú mirado de aguas arriba (norte a sur) el 20 de
setiembre de 1866", 1891, Museu Nacional de Bellas Artes (Buenos Aires),
reproduzida em Marta Gil Solá e Marta Dujovne, Cándido López, Buenos Aires:
Associación Amigos del Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, 1971,
pp. 25-6. Essa imagem é também reproduzida em Salles, Guerra
do Paraguai: memórias, pp. 44-5.
100 OD 88, Curuzu, 10/10/1866, Exercito em Operações ... M. M.Souza, v. 2, p.
486 (tenente Manoel Nascimento de Almeida, morto); v. 2, p. 487 (capitão
Militão de Jesus Pires, ferido), v. 2, p. 488 (tenente Nicolau Beraldo Ribeiro
Navarro, contuso); v. 2, p. 508 (alferes Innocencio da Costa Lima, ferido).
Para os elogios, ver Exercito em Operações ... M. M. Souza, v. 2, p. 425
(capitão Barbosa); v. 2, p. 439 (alferes Nicolau da Silveira); e procuração,
Nicolau Beraldo Ribeiro de Navarro, Curupayty, 9/12/1868, BN/SM, Documentos
Biográficos, C.988.38.
101 OD 89, Curuzu, 30/10/1866, Exército em Operações ... M. M. Souza, v. 2, p.
545.
102 As fotos existentes de Cândido da Fonseca Galvão e de Marcolino José Dias,
todas da época pós-guerra, retratam-nos no uniforme militar convencional,
George Ermakoff, O negro na fotografia brasileira do século XIX, Rio de
Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2004, p. 82; Varella, Da
Bahia, p. 13; Pedro e Bia Corrêa do Lago, Coleção Princesa
Isabel: fotografia do século XIX, Rio de Janeiro: Capivara, 2008, p. 158.
103 OD 255, Surubi-hy, 26/7/1868, Exército em Operações ... Caxias, v. 4, p.
234; OD 96, 15/3/1867, Exército em Operações ... M. M. Souza, v. 2, p. 611; ODs
70 e 72, Tuyuty, 29/4/1867 e 7/5/1867, Exército em Operações ... Caxias, v. 1,
p. 388, 401 (o alferes Nicolau Tolentino Alberto Pituba e o capitão Firmino
José das Dores).
104 ODs 10 e 82, Tuyuty, 7/12/1866 e 2/6/1867, Exército em Operações ...
Caxias, v. 1, p. 48, 475.
105 Requerimento de Barbosa ao Imperador, Rio de Janeiro, 27/9/1873, AHEx/RQ,
JZ-8-2233. Querino erra ao escrever que Barbosa faleceu no Paraguay, "Homens",
p. 363.
106 OD 44, Villa do Rosario, 14/3/1870, Exercito em Operações na Republica do
Paraguay sob o comando em chefe ... Conde d'Eu, Rio de Janeiro: Typ. de
Francisco Alves de Souza, 1877, p. 783; Querino, "Homens", p.
363.
107 A fé de ofício de Cupim foi resumida para o debate do Senado sobre a pensão
para sua viúva, 8/7/1871, Anais do Senado (1871), v. 3, pp. 46-7. Sua coragem e
seus ferimentos foram mencionados em OD 87, Curuzu, 14/9/1866, Exercito em
Operações ... M. M. Souza, v. 2, p. 316; OD 135, Tuyu-Cuê, 9/10/1867, Exercito
em Operações ... Caxias, v. 2, p. 229; OD 7, Luque, 3/5/1869, Exercito em
Operações ... Conde d'Eu,p. 114.
108ACD (1867), v. 2, p. 60; ACD (1869), v. 1, p. 72; ACD (1869), v. 1, p. 82;
ACD (1870), v. 1, p. 97.
109 OD 57, São Borja, 25/1/1866, Exercito em Operações ... M. M. Souza, v. 2,
p. 49. Para outro exemplo, ver OD 85, Itapirú, 3/8/1866, Exercito em Operações
... M. M. Souza, v. 2, p. 297.
110 "Pensões a diversos", ACD (1867), v. 2, p. 188, 203, 372, 374; v. 3, p.
415.
111O Alabama, 28/5/1870 e 1/6/1870.
112O Alabama, 29/3/1870 e 31/7/1870.
113 Requerimento de Bigode ao Ministro do Império, Salvador, 12/6/1875 (e
documentos comprobatórios), AHEx/RQ, C-60-1707.
114 Varella, Da Bahia, pp. 13, 14-5; Jailton Lima Brito, A
Abolição na Bahia, 1870-1888, Salvador: CEB, 2003, p. 66, 76, 266; Braga, Sociedade, p. 75.
115 Querino, "Homens".
116 Silva, Dom ObáII, cap. 7.
117 Nelson Werneck Sodré, A história militar do Brasil, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1979, p. 143.
118 Miguel Angel Centeno, Blood and Debt: War and the Nation-State in Latin
America, University Park: Pennsylvania State University Press, 2002, p. 31.
119 Alexandre José de Mello Moraes Filho, Festas e tradições populares do
Brasil, Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1946, p. 543;
[Francisco] Ferreira da Rosa, "Memorial de [sic] Rio de Janeiro: personagens
fatos narrativa de acontecimentos vida e progresso da cidade em meio século
(1878-1928)", Arquivo do Distrito Federal, v. 2 (1951), p. 53; R[aimundo] Magalhães Junior, O Império em chinelos, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1957, p. 260; Roberto Macedo, "Efemerides cariocas",
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 315 (1977), p. 44. Essa contradição também foi percebida por Felix Junior,
"Repensando", pp. 93, 174-75.
120 Decreto, 6/12/1889, publicado em "D. Obá II", Diario do Commercio, 7/12/
1889.
121 OD 116, Tuyu-cuê, 13/8/1867, Exercito em operações ... Caxias, v. 2, pp.
97-8.
122 Sobre o status legal do oficial honorário, ver Manoel Joaquim do Nascimento
e Silva, Synopsis de legislação militar brasileira até 1874 cujo conhecimento
mais interessa aos empregados do Ministério da Guerra, Rio de Janeiro: Typ. do
Diario do Rio de Janeiro, 1874, q.v. oficial honorário.
123 Ermakoff, Negro, p. 82; Varella, Da Bahia, p. 13; Lago e Lago, Coleção Princesa Isabel, p. 158.
124 Requerimento de Candido da Fonseca Galvão ao Imperador, Salvador, 31/3/
1871; e atestado, Secretaria do Comando das Armas, Salvador, 6/5/1871, AHEx/RQ,
C-17-539.
125 Requerimento de Galvão ao Presidente, [Salvador], 1/6/1871, AHEx/RQ, C-17-
539.
126 "Memorial", 27/3/1872, AHEx, C-17-539.
127 O texto desse decreto é citado por Silva, Dom Obá, p. 58.
128 Silva, Dom Obá, pp. 40, 133-37.
129 "Memorial", 27/3/1872, AHEx/RQ, C-17-539.
130 Requerimento de Candido da Fonseca Galvão ao Imperador, Rio de Janeiro, 16/
5/1872, AHEx/RQ, C-17-539.