Entre martelos e lâminas: dinâmicas globais e políticas de produção na
indústria do caju em Moçambique
INTRODUÇÃO
Entre maio de 2001 e janeiro de 2004, fiz trabalho de campo em Moçambique para
minha tese de doutorado, que tratou das dinâmicas do capitalismo nesse país
(Ribeiro, 2004). Estudei um modo concreto de integração de um país da África
Austral no sistema global capitalista, tomando como objeto central a indústria
do caju. Esse trabalho de compreensão das dinâmicas do capitalismo, algumas de
amplitude secular e que se fazem sentir localmente, teve como lugar principal,
mas não exclusivo, Manjacaze (província de Gaza) e suas duas fábricas de caju.
Criadas em épocas históricas diferentes, não só refletem os modos de vida em
Moçambique, desde meados da segunda metade do século XX, como também são
alavancas para mudanças.
Os processos e os fenômenos sociais que envolvem os países periféricos -
naquilo que muitos designam como desenvolvimento - são um terreno de
investigação partilhado pela antropologia e pela sociologia. No entender de
Olivier de Sardan (1995:5 e ss., tradução do autor), trata-se de um domínio em
que essas disciplinas não podem ser colocadas em oposição nem distinguidas. Por
isso, o autor opta pelo conceito amplo de "socioantropologia da mudança social
e do desenvolvimento", procurando assim definir uma nova disciplina. Não
podendo existir separada da sociologia e da antropologia em geral, está marcada
pela transversalidade disciplinar. Ligada aos processos de mudança social
provocados pela industrialização na África (Bazin, 2001:112), essa
socioantropologia é simultaneamente uma antropologia política, uma sociologia
das organizações, uma antropologia econômica, uma sociologia das redes, uma
antropologia das representações e dos sistemas de sentido. Olivier de Sardan
(1995:10) define-a como o estudo empírico multidimensional de grupos sociais
contemporâneos e de suas interações em uma perspectiva diacrônica, combinando a
análise das práticas com a das representações. Isso implica uma análise
intensiva e in situ das dinâmicas de reprodução e transformação de aspectos
sociais de natureza diversa, levando-se em conta tanto os comportamentos de
seus autores como os significados que eles atribuem a esses comportamentos1.
Em face da problemática imaginada e do quadro teórico utilizado - ancorado nos
trabalhos seminais de Wallerstein (1990), Braudel (1992) e Wolf (1982) em torno
do sistema mundial moderno e da economia-mundo capitalista -, a etnografia
teria de escapar aos cânones clássicos - um lugar, uma comunidade, um espaço
sociogeográfico circunscrito e praticamente apartado dos demais - para assumir
uma multiplicidade de lugares, ainda que Manjacaze se afigure como central.
Sendo eleitas como principais referências as teorias do sistema mundial e
considerando as teses de Olivier de Sardan, optou-se por uma estratégia de
compreensão e análise que se opõe às velhas tradições antropológicas, como o
culturalismo, que nada nos diz sobre as forças que comandam as interações entre
as sociedades desde o final do século XV, como sublinha Wolf (ibidem:4-5) ao
nos propor uma antropologia diferente, capaz de apreender as conexões e as
dependências entre diferentes culturas no quadro do sistema mundial.
Este artigo tem início com a apresentação da estratégia metodológica que
organizou o trabalho no terreno, avançando depois para a discussão do trajeto
histórico da indústria do caju em Moçambique. Finalmente, são analisados o
desmantelamento da empresa estatal de produção de caju e a reorganização a que
o setor é sujeito no contexto do aprofundamento da integração do país no
sistema global capitalista. Tendo como pano de fundo a utilização flexível de
diversas técnicas - observação participante, inquérito por questionário e
pesquisa documental -, o presente texto se baseia na exploração de fontes
documentais e bibliográficas, e em entrevistas e diálogos informais com os mais
diversos informantes, sem os quais não teria sido possível construir a
narrativa e esclarecer muitos aspectos que, por diversas razões, não foram
fixados em documentos escritos2. Essa estratégia facilitou não só a organização
da reflexão sobre os principais fatos e atores sociais envolvidos como também a
própria análise sobre o modo como as dinâmicas e tendências estruturais de
dimensão sistêmica condicionam e interagem com os quadros político e
socioeconômico nacionais.
TRABALHO DE CAMPO E PRODUÇÃO DE ETNOGRAFIAS GLOBAIS
Perante a explosão da sociedade tradicional, como reconhece Geertz (1992), Wolf
(1982:390-391) argumenta que não podemos pensar mais nas sociedades como
sistemas auto-sustentados e isolados, tampouco imaginar culturas como
totalidades integradas e autônomas. Daqui decorrem várias conseqüências em
termos metodológicos. As abordagens clássicas, centradas no estudo intensivo e
praticamente exclusivo de um lugar e de uma comunidade, não são capazes de dar
conta da teia densa de relações sociais que se estabelece e da força que as
estruturas exercem sobre a vida cotidiana. Assim, buscou-se fazer uma
"etnografia global", de acordo com a definição de Burawoy et alii (2000): uma
etnografia simultaneamente atenta, por um lado, às estruturas e aos processos
de dimensão mundial; por outro, aos cotidianos de vida dos homens e das
mulheres, notadamente nos espaços de produção. Considerando os impactos nos
processos de mudança social provocados pela industrialização na África, foram
seguidas as propostas formuladas por Wolf (1982; 2001) em prol de uma
antropologia mais histórica. Trata-se de articular os modos de vida e de
trabalho dos atores sociais observados com as estruturas econômicas e políticas
que comandam os Estados e os mercados, como sustenta Wolf (2001:335).
Observando o lugar ocupado pelas fábricas onde se realizou parte significativa
da pesquisa, é necessário mencionar a influência exercida pelos trabalhos de
antropologia e de sociologia da empresa e os estudos sobre os operários nas
fábricas (cf. Bazin, 2001; Selim, 2001; Burawoy, 1979; Estanque, 2000; Lazarus,
2001; Flamant e Jeudy-Ballini, 2002; Durão, 2003; Granjo, 2003; 2004),
sobretudo no que se relaciona com a identificação e a compreensão das dimensões
políticas da organização da produção e das relações sociais no interior das
empresas.
O trabalho de campo é feito sempre em uma situação histórica concreta, em um
espaço e tempo em que as vidas individuais e coletivas se consomem. Isso
implica que o ator social que investiga tenha de escolher um ou mais lugares
para levar a cabo o trabalho. A vinculação ao terreno não decorre somente de
uma exigência metodológica relacionada, no caso da antropologia social, com o
auto-reconhecimento de uma disciplina fluida e aberta em termos teóricos
(Clifford, 1999:79-81). É algo mais profundo: compreender o presente dos homens
e das mulheres, em particular o modo como enfrentam as rupturas que preenchem
seus cotidianos, exige que se vá para o terreno partilhar nossa vida com a vida
dos que colocamos sob escrutínio. Ao privilegiarem-se os pontos de vista e as
práticas dos atores sociais observados, suas lógicas e constrangimentos, como
defende Olivier de Sardan (2001:243-245), facilita-se o aparecimento da dúvida,
essencial para pôr em questão os discursos e os pontos de vista dominantes.
Quer dizer, é a brecha intelectual por meio da qual se torna possível a crítica
aos modelos hegemônicos que pretendem universalizar uma cultura e um modo de
vida particulares.
Essa relação com os outros constitui a marca perene do modo como o pesquisador
compreende a realidade social. A um ritmo lento, que muitas vezes pode ser
entendido como enfadonho, faz-se a imersão empática através da qual atingimos a
compreensão dos comportamentos e expectativas dos atores sociais observados.
Esse olhar sobre o trabalho de campo, que pode ser entendido como uma
declinação contemplativa das subjetividades do autor, é essencial para conduzir
"à objetivação do conhecimento do sujeito que busca compreender" (Bourdieu,
1992:151, tradução do autor) e à recolocação do trabalho de campo na posição
adequada: "a da construção da representação de uma realidade social", como
justamente exprime Bourdieu em sua crítica à "concepção positivista do trabalho
científico e de uma ciência sem sujeitos", cujo paradigma na antropologia
contemporânea é o "'positivismo renovado' de Clifford Geertz, baseado na
exaltação do particularismo e do 'conhecimento local'" (ibidem, tradução do
autor).
INDUSTRIALIZAÇÃO DA CASTANHA DE CAJU: TRAJETO HISTÓRICO
O caju foi um dos primeiros produtos agrícolas em Moçambique a conectar-se com
a economia-mundo capitalista. Datam do início do século XX as exportações para
a Índia de castanha de caju in natura (cf. Ohler, 1979). Com uma presença
secular nas zonas litorais do território moçambicano, o comércio da castanha
foi controlado por comerciantes de origem indiana. Apesar de muitos deles
pertencerem a famílias fixadas em Moçambique desde meados do século XIX, os
vínculos com suas terras de origem permaneceram sempre bem vivos, sobretudo no
que dizia respeito à língua e à religião. Sendo a Índia o único processador
mundial de caju, naturalmente esses comerciantes mobilizaram seus recursos
relacionais para assegurar, em Moçambique, o domínio sobre as rotas de
comercialização e de acesso ao mercado indiano (cf. Spence, 1963; Leite, 1995;
2000).
A partir dos anos 1950, o poder político e a burguesia colonial portuguesa
começaram a considerar desvantajosa a exportação da castanha in natura em
relação a seu processamento e posterior colocação no mercado internacional. O
que estava em causa, como observou Joana Pereira Leite (1995), era o corte com
a complementaridade entre Moçambique e Índia nesse setor econômico. A Índia
possuía mão-de-obra abundante, submetida a uma eficiente organização do
trabalho orientada para o descasque manual da castanha, a fase mais árdua e a
que mais força de trabalho exigia. Diante desse cenário, a saída possível para
a industrialização era enveredar, por meio da mobilização de quantidades
avultadas de capital, pelo desenvolvimento de equipamentos mecânicos, tal como
foi reconhecido e sugerido por agências da Organização das Nações Unidas - ONU
à administração colonial portuguesa e aos eventuais investidores (conforme
(L')Agriculture et les Industries de Transformation au Mozambique, relatório
produzido pela ONU).
A expansão industrial dar-se-ia em meados da década de 1960, impulsionada pela
entrada do grande capital português (Companhia União Fabril - CUF) e
internacional (Anglo American, com sede na África do Sul), fato que sinalizava
inequivocamente o interesse e as expectativas, nessa conjuntura, dos grandes
investidores na realização de mais-valias nesse setor industrial emergente3. Na
divisão internacional do trabalho, caberia a essa indústria o descasque da
castanha de caju, ficando a comercialização a cargo de empresas dos países
centrais. A consolidação desse setor não foi isenta de alguma turbulência.
Vivendo ainda a idade da infância, os equipamentos mecânicos de descasque - por
impacto ou corte por lâminas - impuseram dificuldades à indústria, demandando
esforços contínuos na pesquisa de novas soluções. Apesar das dificuldades
técnicas, o setor estava largamente consolidado em 1975, por ocasião da
independência moçambicana.
Uma das fábricas que faz parte desse trajeto é a de Manjacaze, localizada a
escassos 1.500 metros do centro dessa vila de grande importância na história do
nacionalismo e da formação do Estado moçambicano (cf. Ribeiro, 2005). Foi
construída por iniciativa de um colono português, Manuel Rodrigues Neto,
natural do Algarve, que chega a Moçambique em agosto de 1949. Em 1962,
Rodrigues Neto instala a fábrica com o apoio explícito do governador-geral, que
o incentivara a empenhar-se em um projeto industrial em uma zona rural:
O que me levou a ir para Manjacaze foi o Almirante Sarmento
Rodrigues. Não houve política nenhuma. Foram as necessidades do
governo. Sempre gostei de Manjacaze, nunca tive problemas, de forma
que gostava de estar ali. Quando a gente se convence que aquilo seria
um grande negócio, não só para mim como para muita gente de
Manjacaze... (Manuel Rodrigues Neto em entrevista ao autor, janeiro
de 2002).
Depois de começar por partir a castanha a martelo, Rodrigues Neto passou, no
início dos anos 1970, para o descasque mecânico por impacto, que procurou
desenvolver até outubro de 1975, quando partiu definitivamente para Portugal.
Com a saída dos colonos proprietários, as fábricas de castanha de caju passam a
ser geridas por comissões administrativas. Em 1977, essas experiências de
autogestão dão lugar a órgãos de direção nomeados pelo Estado. Finalmente, em
1979, é constituída uma única empresa - a Caju de Moçambique - para gerir,
praticamente de forma exclusiva, o setor industrial do caju. Para além das
dificuldades provocadas pela guerra e pela carência de técnicos qualificados
para supervisionar os complexos equipamentos de descasque mecânico, a Caju de
Moçambique esteve sempre sujeita às dinâmicas do sistema capitalista global.
Sendo uma empresa conectada com o mercado mundial, a oscilação dos preços e da
procura condicionava-a fortemente. Mantendo a dependência, já presente no
período colonial, em relação ao mercado norte-americano, principal consumidor
mundial de amêndoa de caju, a Caju de Moçambique sobreviveu ao longo dos anos
1980 explorando com algum engenho a luta que opunha os países capitalistas ao
bloco liderado pela União Soviética. Em um contexto de hostilidade exacerbada
da administração norte-americana liderada por Reagan, a empresa estatal
conseguiu manter abertos os canais e fluxos comerciais com os Estados Unidos,
para onde vendiam as amêndoas com valor comercial superior: brancas e inteiras,
de preferência de grades maiores. Ao mesmo tempo, servindo-se das relações
preferenciais e dos acordos comerciais e de cooperação estabelecidos, exportava
para os países europeus do bloco socialista as amêndoas de menor valor
comercial: amarelas e partidas, em suas múltiplas variedades. Designados por
sistema barter4,
[...] estes acordos fixavam apenas quantidades de amêndoa a exportar
sem especificar os preços e os grades. Grande parte das solicitações
destes países era de amêndoas partidas, para utilizações na
confeitaria. Esses países não eram muito "dados" à discussão do
preço, deixando isso ao critério do vendedor. Conseguia-se deste modo
vender amêndoas partidas com "prémio", diminuindo a diferença do seu
preço com relação às "inteiras", gerando a tendência natural de
destinar as "inteiras" ao ocidente e as "partidas" ao leste (Incaju,
1999:34).
Com a adesão de Moçambique às instituições de Bretton Woods em meados da década
de 1980, bem antes do colapso a leste, surgem novas dificuldades para a empresa
estatal. Entrando em cena, o Banco Mundial - BM não perdeu tempo em colocar
suas "cartas na mesa", exigindo que, entre outros aspectos, parte dos
financiamentos e dos empréstimos - mesmo quando concedidos por outras
instituições, como o Banco Africano de Desenvolvimento - fosse destinada ao
setor privado. Com a crise irreversível a leste, Moçambique reintroduziu o
sistema de mercado capitalista, fato que, inevitavelmente, repercutiria na Caju
de Moçambique. No início da última década do século XX, essa empresa estava já
em graves dificuldades. A guerra havia perturbado severamente o setor,
desarticulando a cadeia produtiva desde a apanha até o transporte da castanha
para as unidades de produção, passando por sua comercialização. Algumas
fábricas, como as de Manjacaze e de Namacurra (província da Zambézia), foram
alvo de ataques por parte da Resistência Nacional Moçambicana - Renamo. Em
quase todas foi necessário dar treino militar aos operários para organizá-los
em milícias de defesa das instalações fabris.
No âmbito econômico, anunciava-se a privatização do setor empresarial do
Estado5. Tal como todos os outros quadros dirigentes, os membros da direção
central da Caju de Moçambique e, em especial, seu responsável máximo anteviram
o que se passaria. Como referiu esse gestor, "a música que estava a tocar era
outra". Desaparecida a União Soviética e com a indústria de caju necessitando
de novos investimentos para a recuperação de edifícios e equipamentos, era
imperioso procurar alternativas. Fazendo uma retrospectiva desse doloroso
processo, Marcelino dos Santos afirmou:
Sentimos que ficávamos [sozinhos] a braços com as forças do
imperialismo. Os nossos ministros olham para as privatizações como a
coisa mais bela que o paraíso jamais fecundou. Por quê? Para imporem
as imposições do Fundo Monetário Nacional não é preciso cobri-las com
papel dourado. Quando as dificuldades caíram sobre os trabalhadores,
tivemos muitas dificuldades em lhes explicar. Porque nós já tínhamos
dito que era uma coisa bela (entrevista ao autor no Comitê Central da
Frente de Libertação de Moçambique - Frelimo, agosto de 2001).
Como "um pobre não pode escolher quem lhe dá esmola"6, deu-se a subordinação às
instituições de Bretton Woods, a que Moçambique pertencia desde 1984. Como bem
exprime Vasconcelos, em seu tom acre, a dependência manifestava-se também sob a
forma de obediência dos governantes, que nada mais faziam além de escutar as
instruções sobre o modo como Moçambique devia agir "com os bancos, o petróleo,
a terra, os caminhos-de-ferro, as linhas aéreas, as indústrias, a alfândega, o
orçamento, os impostos, a polícia, o exército, os tribunais..." (1999:25). Como
estaria claro para a direção política da Frelimo, apenas a guerra impediu que
as privatizações se iniciassem mais cedo, talvez mesmo uma década antes.
ENTRE MARTELOS E LÂMINAS: PRIVATIZAÇÃO E DEBATE TECNOLÓGICO
A destruição da empresa estatal Caju de Moçambique e a alienação a retalho de
suas fábricas, na segunda metade dos anos 1990, ocorreram em um contexto
dominado pela ingerência manifesta das instituições do Consenso de Washington
na política moçambicana7. A privatização da Caju de Moçambique se beneficiou da
colaboração de instituições internacionais aparentemente não comprometidas com
o neoliberalismo, como a Food and Agriculture Organization of the United
Nations - FAO. Em um relatório publicado em 1991 - Assistance to the
Rehabilitation of the Cashew Sector, Mozambique -, essa estrutura da ONU faz um
inventário detalhado da situação das fábricas de caju em Moçambique. Os
consultores da FAO apresentaram como problemas maiores as deficiências de
gestão (concentração excessiva de autoridade no delegado executivo, no âmbito
da unidade de produção, escassez de gestores e de chefias intermediárias),
pessoal técnico em número insuficiente e coexistência de diversos sistemas
tecnológicos, com exigências relevantes em termos de manutenção técnica e de
importação de peças de substituição. Se é verdade que o setor se confrontava
com uma grande diversidade de sistemas tecnológicos, tal não ocorria com as
fábricas da Caju de Moçambique, nas quais era utilizado exclusivamente o
sistema de descasque por impacto.
Essa orientação da FAO colocava em causa os sistemas produtivos assentes em
capital intensivo e em tecnologias complexas utilizados pela Caju de
Moçambique. Daí a proposta de um novo sistema de processamento: o Steam Heating
Cutting System - SHCS, vulgarmente designado como sistema indiano8, baseado no
cozimento da castanha por vapor de água em associação com o corte da casca por
meio de máquinas de lâminas de acionamento manual (cf. Figura_1). Em sua
fundamentação, não foram considerados de forma adequada diversos aspectos
relevantes para compreender as dificuldades que afetavam a indústria do caju: o
ambiente sociopolítico em que as fábricas haviam operado, dominado pela guerra,
pelo deslocamento das populações, pelas dificuldades na apanha e na
comercialização da castanha de caju; e a cultura técnica e de trabalho com mais
de três décadas de experiências e saberes acumulados. Enfim, ao indicar a falta
de viabilidade dos sistemas mecânicos de descasque, a FAO estava implicitamente
declarando que a Caju de Moçambique não tinha futuro9.
Se é certo que a eficiência produtiva dos diferentes sistemas técnicos (cf.
Quadro_1) não pode ser ignorada, a escolha não é apenas por ela determinada.
Como justamente refere Geslin (1999:7-9), na esteira do argumento desenvolvido
por Martinelli (1987), a escolha técnica tem uma dimensão social à qual não
pode escapar e que importa examinar para melhor compreendê-la. Apoiando-se nos
contributos decisivos produzidos pelos teóricos da Escola de Frankfurt (cf.
Habermas, 1994), Ivonaldo Leite (2005:46) salienta que os interesses e
objetivos sociais, em especial os dos grupos dominantes, estão já inseridos nas
escolhas técnicas pelo que nelas se projeta o que dada sociedade, em um
contexto histórico concreto, pretende fazer com os indivíduos e os objetos
materiais. Nesse sentido, Harvey (1999:100) mostra-nos que as técnicas e as
tecnologias são a forma material do processo de trabalho por meio da qual as
forças produtivas e as relações de produção se exprimem. Longe de serem
socialmente neutras, sublinha Martinelli (1987:321-322), ambas têm um enorme
impacto na organização do trabalho e estão indissoluvelmente ligadas às lutas
sociais e às relações de força que opõem os trabalhadores ao capital e aos
conflitos que ocorrem nos espaços de produção (Burawoy, 1979). Quer dizer, as
escolhas técnicas não podem ser desconectadas das mudanças sociais e das
estruturas no interior das quais fazem sentir seus efeitos, nem sua crítica
pode ser separada da crítica das formas organizacionais engendradas nos espaços
de produção. Elas são inseparáveis das políticas de produção, notadamente do
modo como se regula o trabalho no espaço de produção e do papel que nele
desempenham os operários. Como os capitalistas não operam no vazio - antes,
confrontam-se cotidianamente com diversos constrangimentos, como a luta de
classes, os limites do conhecimento tecnocientífico e os custos com a
substituição dos equipamentos ou sua simples operação e manutenção -, as
escolhas técnicas constituem um recurso precioso para o capital em sua procura
permanente por melhores condições para a realização de mais-valias (Harvey,
1999:117-124).
<
As escolhas técnicas não implicam, de forma mecânica, a intensificação e a
complexificação dos processos produtivos. De fato, não se pode esquecer que é
"o carácter mercadoria do produto" (Palloix, 1974:208) o que interessa ao
capital, isto é, não interessa o modo como se produz, mas sim o que se produz.
Não sendo o modo como se produz um fim em si mesmo, mas simplesmente um meio
para a reprodução alargada do capital, no caso da indústria do caju, o que
realmente importa é a amêndoa de caju, e não as técnicas e os processos
utilizados para chegar até ela. Quer dizer, os sistemas produtivos complexos,
nas condições em que o processamento do caju em Moçambique se realiza
atualmente, não trazem qualquer vantagem para os detentores do capital. Em face
da desregulação das relações de trabalho, da abundância de mão-de-obra e da
lentidão da recuperação do capital investido em equipamentos, a forma mais
rápida para obtenção de mais-valias assenta na utilização intensiva da força de
trabalho - o capital variável da esfera produtiva que mais próximo se encontra
do capital-dinheiro, precisamente aquele que, na fórmula geral de Marx (1974)
[1867], significa "liquidez, flexibilidade e liberdade de escolha" (Arrighi,
1996:5). Tal como ocorria no século XIX com as mulheres inglesas que puxavam os
barcos nos canais, em determinadas circunstâncias o investimento em artefatos e
em outros meios de produção pode não se justificar ante o custo diminuto dos
salários pagos aos trabalhadores.
Privatizadas as fábricas, o golpe decisivo na indústria do caju foi dado pelo
BM, ao impor ao governo moçambicano, no âmbito do Country Assistance Strategy -
CAS10, a introdução de medidas liberalizadoras para exportação de castanha de
caju11 como contrapartida à disponibilização dos créditos de que o país carecia
para a reconstrução:
Nós percebemos que o governo estava entalado. Assinou coisas que
nunca deveria ter assinado. Assinou sem ter percebido as
conseqüências. O governo foi chantageado pelo BM, que fez depender a
libertação do crédito da liberalização da exportação de castanha.
Esperávamos que o governo encontrasse conosco uma solução, não
aceitando a eliminação da sobretaxa [sobre a castanha in natura
exportada]. Nós éramos o segundo maior exportador de amêndoa a seguir
à Índia, agora não contamos nada. Eles fizeram o favor de nos tirar
do mapa. Vejamos o açúcar. Faz-se a privatização, e o BM vem dizer
que pode haver sobretaxa [sobre a exportação de açúcar]. Como o
capital é estrangeiro, existem outras formas de pressão, os governos
da nacionalidade do capital defendem os interesses destes
(proprietário de uma fábrica da Caju de Moçambique, antigo membro da
burocracia estatal, em entrevista ao autor, junho de 2001)12.
Corroborando essa posição, em 1997 o ministro responsável pela área industrial
referiu, no Parlamento, que o governo havia sido colocado "contra a parede"
pelo BM, pelo que foi preciso escolher entre, no seu entender, os interesses
gerais do país e os interesses relacionados à indústria de processamento de
castanha (cf. Metical, nº 114, 4/12/1997). Sendo certo que o governo
moçambicano foi sujeito a uma forte pressão, sob a ameaça da asfixia
financeira, importa salientar também que o BM contou com seus aliados locais,
não raro dependentes dele como consultores. Formados em universidades
americanas, nomeadamente no Departamento de Agricultura Econômica da
Universidade Estadual de Michigan, agem como "cavalos de Tróia" do
neoliberalismo, marcando presença em diversos ministérios, cabendo-lhes uma
parte substancial do trabalho de organização e preparação de relatórios e
outros documentos essenciais à tomada de decisões políticas por parte dos
titulares das pastas. Nas publicações acadêmicas, muitas delas baseadas em
investigações financiadas pela Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional - Usaid, e nas intervenções públicas, as teses
neoliberais são defendidas com veemência (cf., entre outros, Marrule et alii,
1999; Mole e Weber, 1999 e Low et alii, 2001). Assim, a dependência do aparelho
de Estado moçambicano não é apenas financeira; é também técnica e ideológica.
É necessário considerar ainda o papel desempenhado pelo direito na introdução e
na consolidação de mudanças políticas e sociais nas sociedades modernas13. A
produção de um vasto acervo legislativo deu enquadramento legal e legitimidade
política às práticas que conduziram não só à destruição da Caju de Moçambique
como também ao desmantelamento da organização industrial, cujas origens
remontam ao período colonial. A própria utilização intensiva da força de
trabalho baseada no trabalho à tarefa é inseparável de um novo ordenamento
jurídico e legislativo. Foi ele que permitiu tornar legal e, de certa forma,
"naturalizar" a hiperflexibilização, adotando designadamente um regulamento
ordenador do trabalho rural que possibilitou a remoção de todos os estorvos
legais ao trabalho à tarefa, flexível e conforme às necessidades da indústria,
esmagando-se assim os custos salariais de que dependia a viabilidade dos
sistemas produtivos simples. Trata-se de levar o salariato a seu limite
extremo, o da máxima flexibilidade, que admite a todo o tempo a dispensa do
trabalhador. Mas não só: como argumenta Meillassoux (1997:13 e ss.), esse
regime salarial, dominante nos países periféricos, configura uma situação de
sobreexploração do trabalho, isto é, de captação da substance vivante do
trabalhador por via da diminuição da saúde em virtude de doenças profissionais,
violação da integridade física, sob a forma de acidentes de trabalho, e redução
da esperança de vida, enfim, formas de extração do lucro, por meio da mutilação
da vida do operário, que escapam ao cálculo salarial da empresa.
Na transição do século, as fábricas privatizadas estavam todas paradas ou em
funcionamento parcial e intermitente. O grupo de investidores que as
controlava, saído da burocracia estatal, foi derrotado pelos que, no interior
do aparelho de Estado e vinculados a empresas comerciais, em sua maioria
controladas por famílias de origem indiana, tinham interesse na exportação de
castanha de caju in natura para o mercado indiano (cf. Savana, nº 597, 13/6/
1997).
É nesse novo contexto político e econômico que surgem as pequenas unidades de
processamento de castanha de caju. Seu triunfo é conseqüência direta das
condições que favorecem o esmagamento dos salários e o aumento desmesurado da
disponibilidade de força de trabalho em Moçambique, tornando supérfluo, ou não-
econômico, segundo a racionalidade liberal, o investimento em capital fixo.
Procurando tirar proveito dessa nova correlação de forças entre o capital e o
trabalho e do ambiente internacional favorável, outro segmento da burguesia
moçambicana - também ele saído, em boa parte, da burocracia estatal - decidiu
substituir a inovação técnica, enquanto mecanismo fundamental da acumulação,
pela compressão dos custos salariais e a redução brutal de investimentos em
máquinas e equipamentos de produção. É o caso da fábrica de Jongué, localizada
no distrito de Manjacaze, a cerca de 20 quilômetros de sua sede administrativa.
Entre outros aspectos, essa pequena unidade industrial em meio rural nos revela
um dos modos de atuação da elite político-burocrática moçambicana na luta pela
acumulação de propriedade e capital: a criação de uma empresa de raiz em um
setor considerado promissor pelos consultores ao serviço do BM. Assim, a origem
da fábrica está estreitamente ligada às opções políticas impostas pelas
instituições do Consenso de Washington e adotadas pelo governo moçambicano, ou
seja, disposições que, no quadro das estruturas dominantes, condicionam as
oportunidades e as escolhas dos atores sociais. Essa fábrica é um exemplo
paradigmático da resposta empresarial encontrada pela elite local para manobrar
em seu proveito as possibilidades oferecidas pelo novo quadro socioeconômico
produzido pelas políticas de "ajustamento estrutural".
O responsável por essa iniciativa é um membro da segunda geração da elite
dirigente do país que paulatinamente tem ocupado lugares no aparelho de Estado
e afastado a velha elite formada na luta armada. Seu trajeto político e
profissional faz dele um caso ilustrativo do que é designado por Pitcher (2003:
813) como os "novos capitalistas": antigos membros do governo ou ex-gestores
das empresas estatais que, servindo-se de seus contatos privilegiados no
aparelho de Estado, adquiriram a propriedade de fábricas e outras unidades de
produção alienadas ou formaram novas empresas. Sua carreira política e
profissional é comum à dos jovens tecnocratas da Frelimo mais bem-sucedidos.
Licenciado em economia, foi gestor em uma empresa estatal, posteriormente
governador de província. Em meados da década de 1990, passa a ministro da
Agricultura. Conhecendo de perto os dossiês produzidos pelos consultores que
apontavam como alternativa às grandes fábricas mecanizadas a pequena indústria
baseada na utilização de mão-de-obra intensiva e de sistemas técnicos simples,
decidiu explorar em seu proveito as oportunidades proporcionadas pelo cargo
exercido para montar sua empresa. No entanto, a condição de ministro impunha
alguns obstáculos políticos, que pensou contornar por meio de uma manobra
jurídica hábil e relativamente freqüente: manter o controle da empresa sem
estar formalmente comprometido com ela. Assim, caberia à esposa e aos filhos a
responsabilidade jurídica na sociedade por cotas, constituída em setembro de
1996 e com sede em Maputo. Um burocrata empreendedor? Certamente. Com formação
acadêmica de nível superior, experiência feita na burocracia e nas empresas
estatais, soube mobilizar seus próprios recursos - algum capital e
conhecimentos empresariais - e os do Estado, jogando com habilidade as "cartas"
do poder político e as redes clientelares que gravitam em torno deste.
A fábrica foi construída em 1997 com base em um estudo de viabilidade econômica
elaborado por um consultor com larga experiência no setor, antigo dirigente da
Caju de Moçambique. Essa fábrica, cujo sistema produtivo conjuga mão-de-obra
intensiva com artefatos mecânicos simples do SHCS, é uma expressão concreta das
mudanças técnicas verificadas com a recomposição da indústria do caju na década
de 1990. Como aconteceu com outras fábricas instaladas nessa época em
Moçambique, o projeto seguiu de perto as propostas do BM, da FAO e de outras
instituições internacionais com trabalho feito na área do caju.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde suas origens que o capitalismo é feito não só de expansão e mudança mas
também de lutas entre Estados, entre o centro e as periferias, entre dominantes
e dominados. Suas reconfigurações, inseparáveis da mudança nos regimes de
acumulação, são produto desses conflitos intermináveis travados também no
âmbito estatal e nos mais diversos campos da vida social. É o caso da economia
do caju. Na configuração atual, ela exprime, por um lado, o triunfo dos
interesses da burguesia comercial e das elites políticas interessadas na
obtenção acelerada de rendimentos; por outro, as dinâmicas sistêmicas que
acentuaram as relações de dependência de Moçambique no interior da economia-
mundo capitalista. É nesse contexto que a posição da Índia - país periférico em
termos sistêmicos, mas central na economia mundial do caju - se reforçou,
recolocando Moçambique em uma situação muito semelhante à posição ocupada até
os anos 1950. As pequenas fábricas e as mudanças tecnológicas associadas a elas
são conseqüência direta das novas condições econômicas que favorecem o
esmagamento dos salários e o aumento desmesurado da disponibilidade de força de
trabalho em Moçambique. Explorando uma alteração profunda na correlação de
forças entre o capital e o trabalho - provocada por um incremento muito
substancial da quantidade de força de trabalho disponível, pelo crescimento da
produção facilitada pelo desenvolvimento das tecnociências em outros países
periféricos concorrentes, como Brasil e Índia, e, em menor importância, por uma
oferta crescente dos produtos de substituição criados pelas indústrias
alimentares -, o capital na indústria de caju em Moçambique trocou, como
mecanismo fundamental da acumulação e eventualmente de modo transitório, a
inovação técnica pela compressão dos custos salariais e a redução dos
investimentos em máquinas e equipamentos de produção.
O encerramento das velhas unidades de processamento de castanha de caju, não
compensado com o aparecimento das fábricas baseadas no SHCS, empurrou para o
desemprego milhares de trabalhadores. O impacto social foi particularmente
grave nos pequenos aglomerados urbanos, como Manjacaze, com poucas alternativas
de trabalho assalariado e muito dependente dos salários auferidos pelos
operários para a dinamização dos circuitos monetários locais. O salariato é
decisivo para o acesso regular, se bem que marginal, dos operários e de suas
famílias às trocas de mercado, atenuando a dependência extrema em relação à
terra e aos ganhos - sempre incertos - proporcionados pela venda dos pequenos
excedentes da produção agrícola. Viver nas atuais circunstâncias fora dos
circuitos monetários e das trocas de mercado implica um cotidiano ferido por
privações extremas e uma fruição muito limitada de determinados bens e
serviços, aos quais só é possível aceder por meio do poder de compra
proporcionado pela moeda. A situação é particularmente crítica no caso do caju
não só pelo colapso da indústria ter ocorrido em um contexto de definhamento
geral do trabalho assalariado como também por muitas das fábricas estarem
situadas em pequenas áreas urbanas fortemente ligadas às atividades agrícolas,
onde elas asseguravam a função crucial de dinamização da circulação monetária.
Em suma, nessa produção, destruição e reconfiguração permanente do espaço-tempo
mundial, quer intra, quer interpaíses, da qual depende a dinâmica do
capitalismo (Harvey, 1999:XXV), a posição de Moçambique é particularmente
difícil. Nessas circunstâncias, dificilmente se consegue escapar ao afro-
pessimismo, sobretudo quando se confronta o presente com o passado próximo
desse país, marcado pelo otimismo e por grandes esperanças, quiçá desmedidas e
pouco prudentes, da elite política que conduziu a luta contra o colonialismo
português e governou no período revolucionário pós-Independência.
NOTAS
1. Olivier de Sardan (1995:6) considera que essa vasta área transdisciplinar
pode contribuir para a renovação das ciências sociais. Tal argumento retoma a
tese de Lévi-Strauss (1996) sobre a contínua recriação dos velhos terrenos em
contraponto à idéia, que está longe de ser recente, do esgotamento das
temáticas coloniais e rurais (cf. Granjo, 1998).
2. Muitos dados foram fornecidos por informantes que solicitaram a máxima
confidencialidade. Assim, estes não são identificados para que sejam
resguardados de eventuais inconvenientes provocados por seus testemunhos.
3. Esse desenvolvimento industrial tardio é mais um exemplo da debilidade do
colonialismo português, que deve ser compreendida considerando a situação
semiperiférica de Portugal (cf. Santos, 1993). A escassez de recursos
demográficos, econômicos, militares e outros condicionou fortemente a
intervenção no território moçambicano.
4. Troca de bens por bens. Moçambique recebia bens e matérias-primas de seus
parceiros do leste europeu, nomeadamente petróleo e equipamentos industriais e
de transporte. Para a amêndoa de caju, o valor das exportações sob esse regime
nunca excedeu os 30% do volume de negócios da Caju de Moçambique (informação
verbal concedida ao autor pelo último diretor geral da empresa).
5. Para uma perspectiva geral, na ótica do BM, da privatização do aparelho
produtivo estatal nos países socialistas, ver Lee e Nellis (1990).
6. Esse ponto de vista foi enunciado por um antigo responsável da Caju de
Moçambique, em entrevista ao autor realizada na cidade de Maputo em setembro de
2001.
7. O Consenso de Washington visa ao estabelecimento de uma economia global
baseada no mercado livre e na iniciativa privada. Para a hegemonia dessa agenda
política, contribuiu o aturado e paciente trabalho levado a cabo pelos think
tanks liberais, que nunca dela desistiram, mesmo nas décadas pós-Segunda Guerra
Mundial, marcadas pelo domínio praticamente inquestionado das teses keynesianas
(cf. Dixon, 1999).
8. Esse foi o primeiro documento em que aparece inequivocamente formulada a
proposta de adoção do SHCS. Como se verá, esse sistema tecnológico assenta sua
competitividade nos baixos salários e na sujeição dos operários a ritmos de
trabalho brutais, penosos e, a médio prazo, incapacitantes.
9. Se a empresa estatal era o alvo, essa nova orientação questionava também as
empresas com sistemas tecnológicos complexos que permaneceram na posse do
capital privado durante o período revolucionário, como a fábrica da Anglo
American no Xai-Xai (capital da província de Gaza).
10. Documento em que o BM expõe sua estratégia para o país beneficiário.
11. Proibida desde 1975, a exportação de castanha in natura foi autorizada a
partir de 1991 (cf. Leite, 2000).
12. O entrevistado refere-se à açucareira da Companhia de Sena, de capitais
majoritariamente mauricianos. Antiga Sena Sugar Estates, foi até a década de
1980 a maior empresa produtora de açúcar de Moçambique. Localizada em uma zona
de intensa atividade da Renamo, encontrava-se, desde essa época, encerrada, até
que a chegada dos investidores das Maurícias permitiu sua reconstrução e o
reinício das operações industriais (Metical, nº 756, 19/6/2000).
13. Refletindo sobre os tribunais e a democratização da justiça em Portugal,
Santos (1994:141 e ss.) oferece elementos fundamentais para se compreender o
lugar do direito nas sociedades capitalistas.