Uma nova política exterior depois do apartheid? Reflexões sobre as relações
regionais da África do Sul, 1974 - 1998
I.
A partir de 1989, o subcontinente sul-africano, até então uma das principais
regiões mundiais de conflito, passou por um processo de mudanças que o
transformou em uma zona de paz entre os Estados. Com a exceção da guerra civil
em Angola, todas as principais ameaças à segurança regional haviam sido
eliminadas, e, conseqüentemente, a região começou a gozar de uma situação de
segurança interestatal desconhecida há mais de uma geração.
Esta transformação em um ambiente regional mais pacífico se deu passo a passo.
Começou com a retirada das tropas sul-africanas de Angola e a solução do
conflito sobre a Namíbia em 1988, seguida pelas eleições livres e pela
independência deste país em 1990. Ao mesmo tempo, a África do Sul iniciou um
processo de redefinição de sua política regional, despedindo-se efetivamente da
desestabilização e da política das guerras não-declaradas contra os seus
vizinhos, que tanto caracterizaram a Total National Strategy dos anos 80. A
partir de 1990, a própria África do Sul realizou um processo de reformas
internas, chegando a extinguir o regime do apartheid, acompanhado por um
profundo realinhamento da inserção regional e mundial do país. Já em 1993,
foram eliminadas quase todas as sanções contra o antigo paria da comunidade
internacional.
A próxima etapa do processo de normalização das relações regionais foi a
solução da guerra civil em Moçambique, que havia envolvido, direta ou
indiretamente, todos os Estados vizinhos. Em outubro de 1994, eleições foram
realizadas com êxito, colocando um ponto final na tradição do conflito armado
que havia dominado a realidade deste país desde o início da luta armada contra
o colonialismo português nos anos 60.
Os eventos em Angola destoam desta imagem geral de pacificação. No conflito
angolano, mediações levaram à conclusão do Acordo de Paz de Bicesse, em 1991,
entre o Governo angolano e a UNITA e às eleições multipartidárias em setembro
de 1992. Mas, a recusa, por parte da UNITA, em aceitar a derrota eleitoral, bem
como a sua decisão de reiniciar a guerra, reabriram este conflito, agora em uma
escala muito superior. A UNITA chegou a controlar uma grande parte do
território angolano, mas perdeu a iniciativa militar ao final de 1994. Com a
perda da maior parte do seu apoio externo, o movimento iniciou então uma
dramática retirada. O último golpe contra a capacidade militar deste movimento
se deu em maio de 1997, com a queda do regime de Mobuto no Zaire, o último
aliado da UNITA na África Austral. A UNITA sofreu uma série de derrotas
militares e, desde o final de 1994, as hostilidades se reduziram a uma pequena
escala. Ao mesmo tempo, negociações sobre uma solução pacífica do conflito
foram reiniciadas e perduram até hoje em dia.
Existem duas razões interligadas que explicam esta pacificação das relações
regionais na África Austral durante os últimos 10 anos:
a) o fim da Guerra Fria e, subseqüentemente, do engajamento conflituoso da duas
super-potências no sub-continente sul-africano e
b) o fim da política de desestabilização da África do Sul.
Este artigo pretende analisar a transformação das relações regionais através da
perspectiva de um dos atores principais, isto é, da África do Sul e sua
política regional. Pretende demonstrar que as mudanças principais no processo
de inserção regional da África do Sul aconteceram entre 1989 e 1992-3 e, assim,
antes da posse, em 1994, do novo Governo de National Union, liderado pelo
Congresso Nacional Africano (CNA). Em segundo lugar, será demonstrada a maneira
pela qual os dois fios condutores da política exterior da África do Sul, a
política oficial do Estado do apartheid e a "contra-política" do CNA se
fundiram entre 1991 e 1994. Durante esta fusão, conceitos e princípios
importantes do CNA foram abandonados. Apesar da garantia enfática dada por
parte do CNA de que a África do Sul abandonaria todas as ambições hegemônicas
sub-regionais, a política de "geo-economia" continuou a influenciar
profundamente a política regional do país depois de 1994. Nesta perspectiva
"geo-econômica", o sub-continente representa principalmente um mercado para a
África do Sul e, conseqüentemente, as relações entre os Estados chegam a ser
influenciadas, cada vez mais, por interesses econômicos conflituosos que, às
vezes, têm uma longa "pré-história"anterior à Segunda Guerra Mundial.
II.
As relações internacionais da África Austral não foram sempre tão conflituosas
como na década de 80. Desde a ocupação colonial da região, a subjugação da
população indígena e a repressão da resistência contra a dominação estrangeira
em torno do final do século XIX, a África do Sul gozou de um longo período de
paz (colonial), que só foi interrompido pela Guerra Sul-Africana de 1899-1902 e
pela ocupação por tropas sul-africanas da Deutsch-Südwest-Africa (Namíbia), no
início da Primeira Guerra Mundial.
Historicamente, a divisão colonial da África Austral reflete a competição entre
o imperialismo britânico e o "sub-imperialismo" dos boêres, mas é também
resultado das conquistas territoriais dos ingleses para conter as ambições
expansionistas da Alemanha e de Portugal durante a época da "Corrida pela
África". Depois da fundação da União da África do Sul em 1910, um aspecto
básico da política regional deste Estado, além da penetração econômica das
colônias vizinhas, foram as tentativas de incorporação do território ao norte
de Limpopo. Estes esquemas incluíram o desenho do General Smuts de uma União
Maior ("Greater Union"), reunindo partes da África Austral até o Norte de
Moçambique e de Angola à União, a tentativa frustada de incorporar a Rodésia do
Sul em 1923 e a igualmente frustrada política de anexação dos Territórios do
Alto Comissário (High Commissioner's Territories)1. O imperialismo inglês
conseguiu conter esta política expansionista da África do Sul, com a notável
exceção do caso da Namíbia.2 Apesar da suave política de containment por parte
da Grã-Bretanha, o ambiente regional da África do Sul foi amigável até a
Segunda Guerra Mundial, e não representava nenhuma ameaça ao que era
considerado segurança do Estado. Os vizinhos da África do Sul não só se
consistiam em Estados coloniais, com os mesmos problemas de legitimidade
perante a população negra, mas eles tinham também herdado muitas instituições
de hegemonia dos colonos brancos, inclusive a convicção da supremacia branca
como razão e justificativa principal do projeto colonial no continente negro.
Desde a chamada "revolução mineral", a África do Sul surgiu, pelo menos em
termos econômicos, como potência regional hegemônica. O desenvolvimento
significativo da indústria de minérios, desde o último quartel do século XIX,
transformou a economia daquele país. A África do Sul, que antes sobrevivia de
um setor agro-exportador atrasado, passou a ser um dos principais produtores de
ouro no mundo e, subseqüentemente, estabeleceu a indústria secundária mais
desenvolvida no continente africano. Atraiu, assim, expressivo investimento de
capital estrangeiro e muita imigração da Europa. Respondendo às necessidades e
aos interesses desta economia diversificada, a África do Sul reestruturou as
relações com os seus vizinhos e, em consequência, foi o ator mais dinâmico nas
relações regionais do sub-continente desde a época da fundação da União Sul-
africana em 1910 até os anos 60. Surgiu assim o que os pesquisadores chamaram
de um "subordinate state system"3. A África do Sul se tornou um "gigante
econômico" em relação aos seus vizinhos, bem como à África negra. Em 1980, o
produto nacional bruto da África do Sul foi três vezes superior ao total dos
outros países da SADCC (Southern African Development Coordination Conference)4.
Em 1995, embora tivesse apenas 8% da população total, a África do Sul
representava 48% do produto nacional bruto de toda a África ao sul do Saara.
A interação econômica entre a África do Sul e os seus vizinhos não aconteceu de
forma igualitária. Pelo contrário: histórica e atualmente, este país domina
esta relação. No discurso acadêmico, a África do Sul é caracterizada como
"hegemônica"5, "sub-imperial"6 ou "potência semi-periférica"7. Grundy
identifica um "imperialismo sul-africano" que visa exercer hegemonia no sub-
sistema da África Austral.8 O intercâmbio na região é caracterizado como
"colonial", destacando-se o fato de que a África do Sul considera os países
vizinhos como "mercado natural" para os produtos de sua indústria secundária.
Por outro lado, o termo amplamente usado para caracterizar a situação dos
Estados vizinhos em relação à África do Sul, é dependência.9 Nos anos 80, o
grau de dependência para com a África do Sul variava muito entre os Estados
individuais: de dependência e vulnerabilidade absoluta (no caso dos BSL-
states10 e Namíbia), dependência média (Zimbábue, Moçambique, Zâmbia) até
dependência relativamente baixa (Angola).11 É importante ressaltar que, embora
a hegemonia sul-africana seja substantiva, uma dependência absoluta não é, ou
era, a regra. "Much in the region works in favour of South Africa", argumenta
du Pisani, "but South Africa's regional hegemony is not without limitations."12
Este ambiente regional amigável para a África do Sul começou a mudar depois de
1945, primeiramente em nível mundial e, depois, na sub-região. Enquanto, depois
da Guerra, o mundo entrou no seu último ciclo de descolonização e também
guardou, de certa forma, o anti-racismo da guerra contra Hitler como patrimônio
ideológico, na África do Sul culminou a discriminação racial com a realização
do programa de apartheid do Partido Nacional, que chegou ao poder em 1948.
Entre 1948 e 1960, a África do Sul surgiu como "paria internacional".13 Durante
este período, a preservação e a defesa do sistema de apartheid representavam o
objetivo principal e quase único da política exterior da África do Sul. Na
arena internacional, a África do Sul tentou, inicialmente com grande sucesso,
vincular sua ordem interna às divisões da Guerra Fria e se projetou como
defensora não somente dos supostos valores da civilização branca no continente
negro, mas também como fiel bastião contra o comunismo e a suposta expansão
soviética. Em termos regionais, "...successive South African Governments made
the creation of a stable regional milieu favorable to South Africa's economic
and security interests a priority goal of foreign policy".14 Desde os anos 50,
a política regional da África do Sul é reativa e defensiva, apesar do seu
caráter ofensivo e dos seus, às vezes espetaculares, sucessos a curto prazo.
Ela reagiu a desafios que, na perspectiva do regime governante, tornavam-se
cada vez mais ameaçadores.15
A resposta inicial ao ambiente internacional crescentemente hostil e ao
nacionalismo africano cada vez mais forte consistiu internamente na
intensificação da política do apartheid. Regionalmente, a política da África do
Sul caracterizou-se pelas tentativas bem determinadas de incorporação dos
Territórios do Alto Comissário Britânico e da Namíbia. Todavia, embora somente
tenha obtido sucesso temporário no último caso, as independências de
Suazilândia, Lesoto e Botsuana, nos anos 60, não se transformaram numa ameaça à
segurança do regime do apartheid como era temido pelo etablissement branco. Do
início dos anos 60 até a metade dos anos 70, a África do Sul seguiu uma
política regional que du Pisani chamou de "assertive incorporation". A África
do Sul buscou um rapprochementcom os países africanos independentes, usando seu
potencial econômico para mantê-los dóceis e estabelecer relações mais próximas.
A variante mais conceituada deste outward movement foi o conceito do Primeiro
Ministro Vorster de um mercado comum dos Estados da África Austral.16
O colapso do colonialismo português na África, seguindo a derrubada do regime
salazarista em abril de 1974, afetou dramaticamente o balanço de poder na
África Austral. A reação inicial da África do Sul à destruição do seu cordon
sanitaire contra a África negra foi "cooly statemanlike"17, pelo menos em
relação à indendência de Moçambique. A exposição das fronteiras da África do
Sul e da Namíbia a Estados que adotavam potencialmente políticas anti-
apartheid, e o quase encercamento da Rodésia do Sul por Estados da Linha de
Frente18, provocou Pretória a apresentar uma nova iniciativa na política
regional, a chamada détente, que governou as relações internacionais na África
Austral entre meados de abril de 1974 e o final de 1975.
O raciocínio central desta abordagem foi o de que a nova situação de segurança
da África do Sul necessitava uma resolução pacífica dos conflitos correntes na
África Austral (Namíbia e Rodésia do Sul), senão os conflitos iriam se escalar.
Conseqüentemente, os movimentos anti-coloniais poderiam se radicalizar e a
maioria dos africanos chegaria a apoiar estes movimentos radicais e
"comunistas". Iniciou-se, assim, uma intensa diplomacia em torno do impasse
constitucional na Rodésia, envolvendo principalmente a África do Sul e a
Zâmbia. Reagiram também positivamente ao rapprochement do regime do apartheid a
Costa do Marfim e a Libéria. Pretória exerceu certa pressão sob o regime branco
de Ian Smith para que um governo majoritário africano fosse aceito, mas mostrou
menos determinação no caso do Estado da Namíbia, ilegalmente por ela mesma
ocupado. O apogeu da diplomacia de détente foi o memorável encontro, no dia 25
de agosto de 1975, na ponte sob o rio Zambezi em Victoria Falls, entre Ian
Smith, os líderes dos movimentos guerrilheiros de Zimbábue, o Presidente
Vorster e o Presidente de Zâmbia, Kenneth Kaunda. A détente falhou
dramaticamente, sobretudo em função da recusa de Ian Smith em considerar a
participação africana no processo político na Rodésia, por causa das divisões
graves e das rivalidades entre os movimentos de libertação de Zimbábue, e
dentro deles, por causa da inflexibilidade da África do Sul na questão da
Namíbia e da discreção das potências ocidentais em assumir um papel mais
determinado nas negociações. Mas a détente recebeu o golpe mortal da própria
África do Sul, devido ao envolvimento do país na guerra civil em Angola, que
culminou com a invasão sul-africana maciça e aberta entre setembro/outubro de
1975 e janeiro de 1976.19
A intervenção militar na guerra civil em Angola provocou uma virada na política
regional da África do Sul.20 Embora, antes da invasão, a África do Sul houvesse
clandestinamente cooperado com Portugal no combate a movimentos guerrilheiros,
atravessado a fronteira com Angola na perseguição a combatentes da SWAPO21 e,
ainda, na Rodésia, tivesse também auxiliado Ian Smith com o envio de uma tropa
de polícia para-militar, até então nunca havia abertamente intervido com força
militar na política interna dos seus vizinhos. A intervenção em Angola fundou,
pois, uma tradição de interferência repressiva no sub-continente que, durante a
era de desestabilização da Total National Strategy nos anos 80, assumiu caráter
sistemático.
Observadores argumentam que a intervenção sul-africana, ao lado da FNLA e da
UNITA22, representava uma decisão ad-hoce não seguia um claro e estrito
planejamento político e estratégico.23 A decisão se baseou na percepção,
principalmente por parte da inteligência militar, de que um governo angolano do
MPLA ameaçaria os interesses de segurança da África do Sul na Namíbia, porque
certamente apoiaria o movimento de libertação daquele país, a SWAPO. Nesta
invasão, a África do Sul não utilizou o seu inteiro potencial militar,
obviamente em função de suposições equivocadas sobre a fragilidade do MPLA, e o
poderio da FNLA e da UNITA. Além disto, a África do Sul gravemente subestimou a
determinação por parte da União Soviética e de Cuba de ajudar o MPLA. Segundo
Grundy, o engajamento militar somente moderado refletia também uma disputa de
orientação na política regional no centro do poder na África do Sul e mostrava
"the compromise character of the decision and the conduct of the intervention,
by which the hawks [principalmente o SADF, W.D.] secured the decision to attack
provided the doves [os "políticos" e o DFA, W.D.] were mollified by a less
intensive and extensive SADF deployment."24
A África do Sul parecia esperar por um envolvimento maçico e solidário por
parte dos EUA, como muitos observadores alegam. Marte e outros argumentam
convincentemente que o objetivo principal teria sido "to forge a formal Cold
War alliance with the US, which was to serve as a smoke screen for maintaining
white dominance in southern Africa."25 Tudo indica que os EUA tinham
conhecimento anterior da invasão e talvez tenham até participado ativamente na
preparação, embora o então Secretário de Estado, Henry Kissinger, sempre, e
firmemente, tenha negado ser verdadeira esta alegação.26 Entretanto, ficou
demonstrado que a avaliação sul-africana sobre o relativo poder de cada lado na
guerra civil angolana, e sobre a disposição dos EUA de arriscar mais um aberto
engajamento num conflito no Terceiro Mundo, logo depois do desastre da Guerra
do Vietnam, era equivocada. Diante da possibilidade de ter que enfrentar uma
guerra semi-convencional prolongada, apenas com as enfraquecidas UNITA e FNLA
como aliadas, e, provavelmente, contra soldados cubanos equipados com
tecnologia militar soviética, a África do Sul optou por uma rápida retirada em
janeiro de 1976. A África do Sul sofreu uma experiência traumática em Angola,
lutando pela primeira vez numa guerra africana e não conseguindo alcançar
nenhum dos seus objetivos. Sentiu-se então profundamente traída pelo Ocidente,
cuja "batalha contra o comunismo" a África do Sul proclamava estar lutando.
Em 1980, o cordon sanitaire de colônias brancas, protegendo a África do Sul da
"onda negra", finalmente se despedaçou. Depois de Angola e Moçambique, a
Rodésia do Sul "caiu" e se tornou independente, com o governo do "marxista"
Robert Mugabe, sob o nome de Zimbábue. A vitória nas eleições de fevereiro-
março de 1980 de R. Mugabe, e do seu partido ZANU-PF27, mostrou, mais uma vez,
um erro de cálculo por parte da assessoria estratégica da África do Sul. A
guerra de libertação de Zimbábue ganhou enorme fôlego com a independência de
Moçambique em 1975, expondo, assim, a Rodésia do Sul à infiltração de
guerrilheiros ao longo de mais de 1.000 quilômetros de fronteira com
Moçambique. A África do Sul investiu pesadamente na chamada "solução interna" e
no seu candidato, Bishoph Abel Muzorewa, que foi inventado por Ian Smith como
último salvaguarda na tentativa de exclusão do poder no país dos dois
movimentos de libertação (ZANU e ZAPU). Quando as eleições "internas" em 1979
nem satisfizeram a comunidade internacional, nem pacificaram o país, e a
reunião da cúpula dos países do Commonwealth obrigou a Primeira Ministra da
Grã-Bretanha, M. Thatcher, a concordar com a convocação de uma conferência
constitucional, incluindo os dois movimentos, a África do Sul jogou o seu peso,
sobretudo financeiro (mais clandestina do que abertamente), novamente atrás de
Muzorewa. Nas eleições livres de 1980, finalmente, o Bishoph ganhou 3 das 100
cadeiras do parlamento e o encercamento da África do Sul, por Estados hostis à
política do apartheid e simpáticos aos objetivos do CNA, se completou na sua
fronteira ao norte.
Este colapso das colônias brancas em torno da África do Sul foi seguido por uma
explosão da resistência interna, iniciando-se com a revolta de SOWETO em 1976,
provocando assim uma severa crise no país e uma reação externa drástica na
forma de um embargo de armas, pronunciado pelas Nações Unidas. Esta dupla
crise, interna e externa, levou a uma profunda reformulação da política e ao
surgimento da chamada "Total National Strategy". O conceito de "estratégia
total" origina-se de um documento do Ministério da Defesa de 1977, mas somente
foi posto em prática pela primeira vez no início dos anos 80, quando a política
do "Constructive Engagement" do Presidente Reagan criou um ambiente mais
favorável à coerção militar e econômica na África Austral.28
A chegada ao poder nos EUA de R. Reagan em janeiro de 1981, e o seu
"Constructive Engagement" como "presente de casamento"29 para a África do Sul,
foi pré-condição necessária para o pleno desdobramento da política sul-africana
de guerras não-declaradas contra os seus vizinhos. Ao contrário do seu
predecessor, J. Carter que, durante boa parte do seu governo seguiu uma
abordagem regionalista em relação à África Austral, Ronald Reagan e seu
Assistant Secretary for African Affairs, Chester Crocker, não só minimizaram a
questão dos direitos humanos, mas também inseriram a política relativa ao sub-
continente numa visão globalista de combate mundial ao comunismo. Nesta
regressão ao fundamentalismo da Guerra Fria, as elites brancas da África do Sul
gozaram, assim, de uma nova apreciação como co-combatentes no confronto global
contra a União Soviética. O "Constructive Engagement", que, através de um
diálogo associado e construtivo com a minoria branca, deveria criar incentivos
para a abertura e mudança democrática da África do Sul, articulou de facto uma
postura passiva em relação ao apartheid e deu uma carte blanche para a política
sul-africana de desestabilização dos países vizinhos. Regionalmente, como de
facto permitiu a inserção coerciva sul-africana, inibiu assim uma solução dos
conflitos inter-estatais por quase uma década.30 Em Angola, pelo menos depois
da revogação da Emenda de Clark em 1985, que proibia ajuda americana à UNITA,
os Estados Unidos cooperaram no combate militar e terrorista do governo do MPLA
e, assim, prolongaram durante muitos anos o sofrimento da população.
Sem a tácita tolerância dos EUA, que desde a metade dos anos 70 substituíram a
Grã-Bretanha e Portugal como principal potência ocidental na região, e ainda
sem o anti-comunismo firme e a predileção pela dominação branca ou governos
africanos "moderados" da Primeira Ministra da Grã-Bretanha, M. Thatcher, a
política sul-africana de "Total Strategy" não teria condições de ser realizada
com tal amplitude. Dentro da percepção clássica de "zero-sum"31, o pensamento
de "Estratégia Total" atribuiu todas as principais ameaças à segurança da
África do Sul branca (o "encercamento" por Estados africanos radicais, as
campanhas políticas e armadas da SWAPO e do CNA e a resistência popular
interna) a um único fator: ao ataque total ("total onslaught") do marxismo e da
União Soviética. Este "ataque total" teria que ser combatido com uma
"estratégia total" (total strategy), interna e externamente. Na política
regional, a total strategy combinou os seguintes elementos:
a) Desestabilização_militar_direta, através de intervenção em larga escala,
combate às tropas regulares e ocupação de território sem formal declaração de
guerra, como no caso de Angola. A retirada precipitada de Angola em 1976 não
livrou o país da presença militar sul-africana. Desde 1976, a SADF e a força
aérea realizaram ataques ao sul de Angola, contra, segundo se diz, alvos da
SWAPO. Em novembro de 1979, escalaram os ataques terrestres, ocupando-se
território ao sul do país e estabelecendo-se uma presença militar permanente
nas Províncias de Cunene e Cuando Cubango. A partir destas áreas,
intensificaram-se os ataques terrestres e aéreos contra cidades, infraestrutura
e instalações militares angolanas. Por exemplo, entre janeiro e novembro de
1982, 53 ataques terrestres e mais do que 100 ataques aéreos foram
computados.32 Em agosto de 1981, deu-se a, então, maior invasão, a chamada
Operation Protea, usando mais do que 5.000 tropas terrestres. O exército
angolano conseguiu parar o avanço somente em 110 quilômetros dentro do país.
Como resultado, a maior parte da Província de Cunene ficou ocupada pelos sul-
africanos até 1988. De lá, a SADF forneceu assistência maciça de combate à
UNITA e realizou ataques aéreos ao norte.
b) Assistência_aberta_de_combate_a_grupos_anti-governamentais, como no caso da
FNLA (1975) e da UNITA (apartir 1975) em Angola.
c) Assistência financeira e logística, no armamento e no treinamento, bem como
a oferta do seu território nacional como área segura de retirada a
guerrilheiros_e_terroristas que lutavam contra os governos dos Estados da Linha
de Frente: UNITA em Angola, RENAMO33 em Moçambique, a milícia de Muzurewa e
Sithole e os dissidentes da ZAPU em Zimbábue, a chamada Lesotho Liberation
Army. Na maioria dos casos, as operações e até a existência destes grupos
dependiam inteiramente do engajamento sul-africano.
d) Sabotagem a alvos econômicos e militares nos Estados da Linha de Frente,
realizada por comandos sul-africanos. Estes atos de sabotagem eram inúmeros; a
destruição de armazéns petrolíferos em Beira (Moçambique), freqüentes ataques a
instalações militares e a destruição de grande quantidade de material,
inclusive de uma grande parte da força aérea de Zimbábue, além dos diversos
ataques às instalações petrolíferas de empresas norte-americanas em Cabinda
(Angola), foram os mais espetaculares.
e) Coerção_econômica contra aqueles Estados da Linha de Frente que eram
dependentes da África do Sul e da sua rede de transporte, especialmente
Zimbábue, Moçambique e Lesoto.
f) Envolvimento_em_golpes militares e tentativas de golpe, como no caso de
Lesoto e das Seychelles.
g) A chamada "forward_defense": ataques militares, assassinatos e atentados
contra o CNA e a SWAPO, suas bases, escritórios, representantes e militantes
comuns, e, também, contra campos de refugiados e membros da polícia e do
militar local, simpáticos aos dois movimentos, em quase todos os Estados da
Linha de Frente.34
Os objetivos principais da política sul-africana de desestabilização eram a
"neutralização" dos Estados da Linha de Frente (com respeito à política e
postura anti-apartheid) e a eliminação da ameaça à dominação branca,
representada pelas atividades do CNA, da SWAPO e, em menor grau, do CPA
(Congresso Pan-Africano). A implementação desta estratégia transformou a década
de 80 em um período de guerra não-declarada na África Austral e trouxe extrema
insegurança e grande hostilidade às relações sub-regionais. As perdas humanas e
materiais são estimadas em 1.500,000 mortos e US $ 60 bilhões. Complementando
as ofensivas militares, foi lançado um novo esquema de cooperação formal
regional, a chamada "Constelação de Estados da África Austral" (CONSAS). A
CONSAS representava mais uma tentativa por parte da África do Sul de explorar
sua hegemonia econômica na região, aproveitando-se também do suposto medo dos
governos africanos mais moderados perante o "comunismo", para construir um novo
tipo de cordon sanitaire, desta vez, reunindo os últimos Estados com governo
branco (Namíbia), Estados possivelmente moderados (o candidato à Presidência do
Zimbábue, Bishoph Abel Muzorewa aprovou o esquema) e conservadores (Malawi),
além dos BLS-states e os Bantutões. Mas, a recusa categórica mesmo daqueles
Estados que dependiam economicamente da África do Sul, como os BLS-states, e a
fundação da Southern African Development Coordination Conference (SADCC), em
1980, como contra-esquema de integração por parte dos Estados da Linha de
Frente, rapidamente frustou o novo regionalismo dominado pela África do Sul.
Com a SADCC, surgiu uma proposta de cooperação econômica que se dirigiu
explicitamente contra a dominação econômica do sub-continente pela África do
Sul, e cujos objetivos de cooperação e coordenação de desenvolvimento foram
vistos como parte integral da luta contra o regime do apartheid.
A implementação da Total National Strategy como orientação política coerente é
inseparável da ascensão de P.W. Botha ao poder como Primeiro-Ministro/
Presidente e da centralização das decisões estratégicas nas mãos de uma pequena
elite, predominantemente de militares, realizada sob seu governo. O próprio
Botha foi instrumental na formulação da "estratégia total", quando ainda era
Ministro de Defesa em 1977. Elementos-chave desta "militarização"35 da política
sul-africana são a elevação da South African Defence Force (SADF) da condição
de instrumento de implementação de decisão para a de participante ativo no
processo de formulação de política e, vinculado a isto, o surgimento dosecurity
establishment, dos "securocratas", no centro do poder no Estado. Claro vencedor
desta transposição de poder foi o State Security Council (SCC), no qual os
militares tinham controle, embora talvez não absoluto. Quem perdeu foi,
especialmente, o tradicional locus de afrikaaner poder, o Partido Nacional, o
Parlamento (branco) e aqueles ministérios que não estiveram tão estreitamente
associados à opção militar nas arenas doméstica e regional. A burocracia
diplomática, o Department of Foreign Affairs (DFA), foi um dos principais
perdedores e ficou crescentemente marginalizado pelos "securocratas" na
formulação e implementação da política exterior. Este processo já começou sob o
governo de Vorster, com o crescimento em importância da agência de segurança
(BOSS).36
Inicialmente, a política sul-africana de desestabilização obteve um sucesso
impressionante. "South Africa's position as the dominant power in all of
southern Africa increased dramatically", argumenta R. Rotberg. "By mid-decade,
South Africa had no local or global rivals for preeminence in the region south
of Zaire and Tanzania. Despite its own profoundly unstable core, the extend of
its newly accomplished hegemony had exceeded even the expectations of South
Africa's most optimistic strategic planners."37 Como consequência da
desestabilização, a África do Sul teve condições de forçar os seus vizinhos a
celebrar tratados de "não-agressão" com o regime de apartheid, nos quais os
governos africanos se comprometeram a negar bases e outros auxílios para os
movimentos de libertação (CNA e SWAPO), em troca da promessa sul-africana de
terminar com as guerras não-declaradas (Acordo com Suazilândia de 1982, Acordo
de Lusaka entre a África do Sul e Angola em 1984 e o mal-afamado Nkomati Accord
do mesmo ano com Moçambique, que estava virtualmente à beira de um colapso em
função do terrorismo de braço longo da África do Sul na forma da RENAMO. Mas
esta humilhação dos movimentos de libertação e dos seus Estados vizinhos não
inibiu a África do Sul a continuar com a desestabilização, mesmo contra
Moçambique, violando sem escrúpulos os próprios tratados que foram celebrados
com espetacular orgulho pela diplomacia sul-africana.
Foi, portanto, neste climax de hegemonia sul-africana na região na metade dos
anos 80, que o terreno estava preparado para o colapso interno do sistema do
apartheid e o fim da sua política regional agressiva. As razões complexas do
desmoronamento do apartheid não podem aqui ser discutidas.38 Basta ressaltar
que as repercussões da resistência interna (que ressurgiu depois de setembro de
1984 e que forçou o governo a declarar o Estado de Emergência em 1985), a
decepção em relação à recusa do governo a realizar mudanças significantes na
constituição (especialmente seguindo a famosa Rubicon Speech de Presidente P.W.
Botha), interagiram com as conseqüências da transformação do ambiente
internacional (fim da Guerra Fria), e com a postura mais determinada por parte
das maiores sociedades ocidentais (elemento chave neste contexto foi a
celebração do compreensivo Anti-Apartheid Act do Congresso Norte-Americano em
1986, que colocou os Estados Unidos no caminho de sanções, apesar da política
conciliatória da Administração americana).39 Os distúrbios, que chegaram à
beira de uma guerra civil, a retirada dos investimentos, especialmente por
empresas americanas; sanções cada vez mais severas, e a perda de confiança na
África do Sul por parte do mercado financeiro internacional, provocaram uma
profunda crise interna que representa o background da saída do poder de P.W.
Botha e da instalação de F.W. de Klerk como Presidente do Partido Nacional e do
Estado sul-africano no final de 1989. Foi de Klerk quem percebeu que reformas
fundamentais e até mesmo a abolição do regime do apartheid representavam a
única saída para a África do Sul.
Na política regional, o início das mudanças ligeiramente antecede a posse de de
Klerk, embora muitos observadores associem a transformação fundamental, isto é,
o abandono por princípio da política de desestabilização, à de Klerk e à sua
nova administração. O ponto de virada teria sido, nesta perspectiva, o famoso
discurso no Parlamento no dia 2 de fevereiro de 1990, no qual de Klerk anunciou
o fim do banimento dos grupos principais de oposição e a libertação de Nelson
Mandela.40
A indicação mais visível das mudanças na política regional foram as negociações
bem sucedidas em torno da independência de Namíbia e da retirada das tropas
cubanas de Angola. Desde a formulação, em 1982, pela política americana, do
linkage entre a independência de Namíbia e a presença dos Cubanos em Angola,
estes dois conflitos eram ligados diplomática e politicamente (no campo de
batalha, esta ligação existia desde 1975, com a invasão sul-africana de
Angola). Durante os anos 80, este linkage servia para a África do Sul como mais
um pretexto conveniente para sabotar as negociações sobre a Namíbia e terminar
com a ilegal ocupação deste país, como foi prescrito pela Resolução 435 das
Nações Unidas. A etapa decisiva para a solução do conflito começou no dia 5 de
agosto de 1988, com a assinatura do Protocolo de Genebra, que estabeleceu um
cessar-fogo entre os sul-africanos e angolanos em Angola e previu a retirada
das tropas sul-africanas do território angolano. Já no dia 1 de setembro, este
acordo foi implementado. Depois de uma série de negociações, o Acordo de Nova
Iorque foi assinado entre Angola, África do Sul e Cuba (22.12.1988),
estipulando os prazos para a retirada das tropas cubanas de Angola e da maioria
das tropas sul-africanas da Namíbia, e, também, para a realização das eleições
e da independência deste país. Em novembro de 1989, as eleições foram
realizadas e, no dia 21 de março de 1990, a Namíbia conseguiu a sua
independência sob o governo da SWAPO, tendo assim um final que a África do Sul
durante tanto tempo havia considerado como um cenário inpensável.41
O que causou esta transformação dramática da política regional da África do
Sul? Scholars identificam, via de regra, um conjunto de razões, embora com
ênfase diferenciada acerca dos fatores individuais.42 No centro das
explicações, encontra-se a transformação do ambiente internacional (o fim da
Guerra Fria), e, como conseqüência, tanto o colapso da figura ideológica, que
servia como justificativa para as agressões sul-africanas (o anti-comunismo),
quanto as pressões das super-potências sobre os seus clientes no sentido de
resolverem os conflitos regionais pacificamente. A transposição do poder
militar no sul de Angola teria sido outro fator decisivo para a retirada sul-
africana. O impacto causado pelo número elevado de soldados brancos mortos na
guerra em Angola sob a sociedade branca sul-africana, as campanhas contra o
serviço militar obrigatório e os imensos custos da guerra, num momento em que a
África do Sul chegou a sofrer, crescentemente, sanções e vivia uma crise
econômica, igualmente exerceram grande peso. Contribuiu, também, a ampla
resistência de grande parte da sociedade namibiana contra a ocupação pela
África do Sul.43
De importância central parece ter sido a derrota militar e as perdas
significantes da África do Sul nas batalhas de Cuito Cuanavale em 1987-8 (o
"Stalingrado da África do Sul"), a perda de superioridade aérea no sul de
Angola e o avanço de tropas angolanas e cubanas até curta distância da
fronteira entre Angola e Namíbia. Enquanto as operações anteriores em Angola
foram de muito baixo risco, os confrontos que aconteceram entre a metade de
1987 e a primavera de 1988 mostraram uma guerra radicalmente transformada e os
limites do poder militar sul-africano. Perante o enfraquecimento da opção
militar, de um lado, o detente entre as super-potências, de outro, e com a
necessidade de mostrar boa vontade junto à comunidade internacional para evitar
sanções mais duras, a África do Sul optou trocar a independência da Namíbia
pela retirada das tropas cubanas da África. Com esta troca, a África do Sul não
perdeu a pose. Ao mesmo tempo, ela permitiu a Cuba celebrar o seu engajamento
militar como fator decisivo na derrota da agressão do regime do apartheid em
Angola e na proteção da "revolução angolana".44
A depreciação da opção militar em Angola (e, conseqüentemente, também na
Namíbia) tiveram repercussões importantes para o processo político e decisório
no governo da África do Sul. Os observadores perceberam um realinhamento de
poder e influência, fortalecendo, ainda no governo Botha, os "pombas" e
"diplomatas" em detrimento dos "securocratas". Tudo indica que, em termos de
formulação da política externa, o DFA, com sua abordagem mais diplomática em
relação às supostas ameaças de segurança, voltou à preeminência. Acompanhando a
solução do conflito da Namíbia, o Presidente Botha iniciou uma nova iniciativa
diplomática, com o fim de romper com o isolamento do seu país, visitando países
europeus e africanos. Quando F.W. de Klerk assumiu o poder em 1989, completou
esta tendência e depreciou o papel do State Security Council e do security
establishment no processo de decisão do governo.45
Alguns analistas acadêmicos vêem a solução do conflito Namíbia/Angola e a nova
ofensiva diplomática dentro de um contexto de uma mudança paradigmática mais
profunda da política exterior sul-africana, reagindo, principalmente, ao fim da
bipolaridade mundial e ao latente colapso da União Soviética. Esta "New
Diplomacy" nasceu no último ano do governo Botha, ganhou enorme folêgo nos anos
de transição entre 1990 e 1994 sob o comando de de Klerk, e se transformou, sem
graves modificações, na principal orientação da política externa do Government
of National Unity, liderado pelo CNA.46 Os princípios-chave da "New Diplomacy"
foram primeiramente formulados em 1989 por Neil van Herden, Diretor Geral do
MFA, o, então, mais senior diplomata sul-africano.47 Estes princípios destacam
que a África do Sul deve fazer parte da África (e que não é uma extensão da
Europa ao sul do globo), que problemas africanos devem ser resolvidos por
africanos, que a África do Sul deve ser uma potência na região mas que seu
poder tem limites, que ela depende de relações amigáveis com os seus vizinhos e
que a sua política regional deve ser implementada com instrumentos não-
coercivos. Ewans argumenta que a "New Diplomacy" não foi uma política regional
nova e que ela representava mais uma mudança de estilo do que de substância. A
noção da África do Sul como potência dominante permanecia intacta, só que a
definição desta hegemonia mudou de "geo-política" para "geo-econômica".48 D.
Venter, que identifica a mudança principal na política regional a partir do
famoso discurso de de Klerk do dia 2 de fevereiro de 1990, sublinha, também,
que esta nova diplomacia neo-realista se baseava no princípio de que a bandeira
seguia o comércio e que a nova diplomacia visa a região como alvo da expansão
econômica da África do Sul..49
De qualquer forma, a "nova diplomacia" colocou um fim efetivo à política de
desestabilização da "Total National Strategy". A partir de 1989, o Estado sul-
africano rapidamente se despediu dos instrumentos abertamente coercivos na
política regional. Contudo, a continuação de ajuda para a UNITA e a RENAMO por
parte do security establishment sul-africano sugere a pergunta, similar àquela
a respeito da situação interna, se o Estado tinha uma dupla agenda na política
regional ou se os militares conseguiram agir e realizar os seus próprios
objetivos, sem o controle do Estado.
A "nova diplomacia" ganhou força com o fim do banimento das organizações da
oposição e a libertação de Nelson Mandela e outros da prisão em fevereiro de
1990. O Presidente de Klerk e seu Ministro das Relações Exteriores, "Pik"
Botha, iniciaram uma ofensiva diplomática, cujo objetivo era o retorno da
África do Sul à comunidade internacional e o fim das sanções econômicas. Pelo
menos a partir de fevereiro de 1991, a diplomacia sul-africana readquiriu a
iniciativa em relação à questão das sanções. A "contra-política" exterior do
CNA, bem como da Organização da Unidade Africana (OAU) e dos Estados da Linha
de Frente, perdeu o controle sobre este importante pilar da política
internacional anti-apartheid.50 Ainda na arena africana, a dupla de Klerk/Botha
conquistou uma série de sucessos diplomáticos, na forma de tratados de
cooperação e da iniciação, e, depois, da intensificação, de contatos
econômicos, apesar da determinação de Nelson Mandela, em fazer valer, em vão,
todo o seu prestígio político e moral, a fim de permitir a normalização das
relações externas da África do Sul apenas depois da conclusão das negociações
constitucionais. Na arena regional, a severa estiagem de 1992, que forçou
muitos Estados do sub-continente a importar alimentos da África do Sul, ajudou
de Klerk a romper o isolamento, mesmo no caso do "linha dura" Zimbábue.
Perante a perda do controle da inserção internacional da África do Sul, um
assunto que a diplomacia do CNA conseguiu conquistar habilmente em torno dos
anos 70, e que permitiu ao movimento de libertação se projetar como um
government-in-waiting51, o CNA, finalmente, desembarcou numa maior revisão na
sua política exterior e "bowed to the inevitable.. and began the process of
policy convergence with the New Diplomacy".52
Numa série de documentos políticos, o CNA reconheceu a mudança dramática no
ambiente internacional, o colapso de seu velho aliado, a União Soviética, e o
surgimento de uma nova ordem internacional multipolar, crescentemente dominada
politicamente pelos Estados Unidos e que se baseia social e economicamente na
hegemonia indisputada do sistema capitalista. No programa básico de governo de
1992 ("Ready to govern"), o CNA, e depois de 1994 também o novo DFA, adotaram a
linguagem e os conceitos centrais da "New Diplomacy".53 Evans fala de um "pacto
de elites" durante os anos de transição entre o DFA do governo branco e o
Department of Foreign Affairs do CNA, e argumenta que "by the time of the
elections in April 1994, in foreign policy terms at least, South Africa had
become more or less a unitary state actor."54
Mas este "pacto de elites" e as afinidades reveladoras na política exterior
entre o governo de Klerk e do CNA não ficaram sem contestação. Na realidade, em
vez de uma suave transição houve, desde 1990, um debate intenso sobre a direção
da política externa, envolvendo acadêmicos, deputados e, também, o próprio CNA.
Neste debate, o DFA foi criticado por parte dos acadêmicos e de membros da
própria aliança do CNA, da COSATU, por não representar uma ruptura com o
passado, nem em termos da composição do Ministério, nem em termos da maneira
pela qual se deu a formulação da política exterior ("elitista, sem controle
público") e por aceitar, sem postura crítica, as regras do jogo internacional.
A política exterior da "nova" África do Sul não constituía liderança moral no
palco internacional e não enfrentava o "apartheid global", isto é, a dominação
do Sul pelo capitalismo mundial.55 Neste debate, tradições de política exterior
bem distintas se confrontam dentro do CNA (por exemplo, entre os cadres que
foram politizados dentro do país e aqueles que viveram no exílio) e entre o CNA
e o tradicional foreign policy establishment.56 Em termos ideológicos, a
disputa aconteceu entre visões que propunham a aceitação das regras do sistema
internacional e argumentavam em favor de uma inserção oportunista, inspirada
por pura vantagem econômica, e aquelas que estavam dispostas a contestar as
regras e praticar uma política exterior, baseada em firmes princípios morais e
políticos.57
Mas, embora a execução da política exterior tenha sido claramente dominada pela
visão neo-realista, pragmática e instrumentalista do de facto Ministro das
Relações Exteriores e designado sucessor de Nelson Mandela como Presidente da
África do Sul, Thabo Mbeki, estas disputas e a tensão entre um idealismo
normativo de um lado, e Realpolitik de outro, causaram, junto com a fraqueza do
atual Ministro, Alfred Nzo, problemas de orientação política e a ausência de um
coerente perfil na política exterior, durante os primeiros três anos do novo
Governo.58
De um lado, o Governo de União Nacional começou, especialmente em relação à
região e ao continente africano, com uma cautelosa política de "baixo perfil",
que provocou severo ceticismo por parte daqueles africanos que esperavam da
África do Sul um papel de liderança no continente.59 A OUA e o ex-Presidente da
Tanzânia deram a advertência, que "if South Africa continues to hide behind the
rhetoric of not wanting to play a leadership role, Africa would indeed suspect
a hidden agenda."60 O DFA justificou esta abordagem cautelosa como uma reação
forte às políticas de dominação regional do passado: "Perhaps, initially,
because of our past experience and fear of being accused of maintaining a big
brother syndrome, we did not see ourselves as playing a leading role in the
region.... Our perceived reluctance to have a 'hands on' approach to our region
and to be pro-active in our continent has to some extent been viewed by our
neighbors and friends with some suspicion and a great deal of cautions."61
De outro lado, Nelson Mandela, repetidamente, surpreendeu o mundo com uma série
de súbitas tentativas de mediação (nos conflitos do Zaire, Sudão, Timor Leste),
sendo todas mal sucedidas, bem como com iniciativas de medidas relativas aos
direitos humanos (no caso da Nigéria). Especialmente, a maneira pela qual foi
conduzido o assunto nigeriano atrapalhou a comunidade internacional, em função
do seu fulminante radicalismo moral não-realista e por suas mudanças de
política abruptas.62 No palco mundial, parece que Mandela tenta balancear as
relações excelentes com os EUA, de um lado, e compromissos e ligações com
Estados amigos dos tempos da luta de libertação, que, atualmente, sofrem do
ostracismo por parte dos Estados Unidos, de outro (Cuba, Irã, Líbia).63
Observadores ficam perplexos com a aparente contradição entre o alto rigor
moral, articulado especialmente pelo próprio Mandela e, algumas vezes, o puro
oportunismo econômico nas decisões da política exterior (por exemplo, no caso
das exportações de armas ou no caso do reconhecimento da economicamente
poderosa, mas não-democrática China Vermelha em vez de Taiwan). Recentemente, a
disputa sobre a orientação na política exterior focaliza no significado de
African renaissance, um termo que, depois de anos de pobreza conceitual,
poderia emergir como uma nova palavra-chave nas relações internacionais sul-
africanas. O "renascimento africano" significa a luta contra a marginalização
internacional da África, para um novo poder político e econômico do continente,
acompanhado pela democratização, respeito aos direitos humanos e combate à
corrupção, uma luta na qual a África do Sul teria um papel chave.64 Mas,
enquanto os "pragmáticos", como Mbeki, vêem esta transformação do continente
africano e a nova preeminência em aliança com o capital estrangeiro e sob as
premissas de uma ordem mundial liberal e, ao final das contas, como uma
oportunidade de vender mais produtos sul-africanos no continente, os seus
críticos dentro do CNA falam do renascimento africano como um " sustained and
vigilant challenge against the strategic orientation of globalization" e como
um questionamento das "neo-colonial relations between Africa and the world's
economic powers."65
III.
Em relação à sub-região sul-africana, as declarações do CNA foram claras e
consistentes. Em quase todos os documentos políticos foi atribuída à África e,
especialmente, à SADCC e aos Estados vizinhos, alta prioridade nas relações
internacionais da nova África do Sul.66 O documento de discussão sobre política
exterior de 1993 enfaticamente destaca que "the region sustained us during the
struggle and our destiny is intertwined with the region; our peoples belong
with each other. Southern Africa is, therefore, a pillar upon which South
Africa's foreign policy rests."67
Consciente das relações econômicas desiguais e exploradoras entre a África do
Sul e o sub-continente, as declarações do CNA não deixaram dúvida de que o
Estado pós-apartheid iria quebrar com esta assimetria e também com a "geo-
política" da era de Klerk. Os documentos de discussão de 1993 e 1994 formularam
como objetivos básicos uma cooperação regional intensiva, a integração
econômica da região e a "reconstrução" da África Austral depois do apartheid. A
"nova ordem regional" se basearia em igualdade: "A democratic South Africa
should therefore explicitly renounce all hegemonic ambitions in the region. It
should resist all pressure to become the 'regional power' at the expense of the
rest of the subcontinent; instead, it should seek to become part of a movement
to create a new form of economic interaction in Southern Africa based on the
principles of mutual benefit and interdependence."68
Nelson Mandela fez grande esforço para acalmar o medo na região da
predominância sul-africana depois do fim do apartheid: "...democratic South
Africa will... resist any pressure or temptation to persue its own interests at
the expense of the subcontinent. (...)... any move towards a common market or
economic community must ensure that industrial development in the entire region
is not prejudicated. It is essential therefore that a program to restructure
regional economic relations after apartheid be carefully calibrated to avoid
exacerbating inequalities."69
Mas, em nenhum ramo da política exterior, a brecha entre princípios políticos e
morais de um lado, e a realidade de outro, se tornou tão grande como na
política regional. De fato, a nova África do Sul avançou em relação à "geo-
economia" da era de Klerk, sem muita consideração aos interesses econômicos dos
seus vizinhos. A ofensiva comercial da África do Sul na sub-região causou muita
consternação nos Estados da SADC, especialmente em Zimbábue, cujas indústrias
secundárias se sentiram expostas a uma concorrência desleal. Junto com a
competição entre os Presidentes Mandela e Mugabe pela liderança política
regional, o conflito comercial levou a tensões significantes entre os dois
países.
Conflitos comerciais têm uma longa história na região, especialmente entre os
dois países industrialmente mais avançados, a África do Sul e o Zimbábue. Desde
a virada do século, as economias da sub-região são interligadas. Mesmo durante
os anos de confrontação política e militar e de sanções contra a África do Sul,
os produtos sul-africanos não desapareceram das pratileiras dos Estados
vizinhos, embora os esforços da SADCC de diversificação tenham conseguido
reduzir a sua presença substancialmente. Desde 1981, a exportação sul-africana
para os mercados sub-regionais, fora da SACU70, diminuiu em volume e valor.71
Por exemplo, Zimbábue, o declarado "mercado natural" da África do Sul ao norte,
conseguiu reduzir as suas importações da África do Sul de 27% do total em 1981
para 19% em 1991 e as exportações para a África do Sul de 21% para 9%.72
Depois da libertação de Nelson Mandela e do início das negociações
constitucionais na África do Sul, isto é, bem antes das eleições de 1994, a
África reabriu os seus mercados para produtos sul-africanos. A economia sul-
africana, sofrendo da mais severa crise, com crescimento negativo como não se
via há muitos anos e uma taxa de desemprego de cerca de 35%, respondeu a esta
oportunidade com alto vigor.73 Entre 1987 e 1995, as exportações da África do
Sul para o resto da África subiram de 4% (1987), 9,1% (1992) para 13% (1995) no
total das exportações.74 A destinação principal deste comércio sul-africano é
Zimbábue, cujo mercado chegou a ter a mesma importância para a África do Sul do
que a Alemanha. Em Zimbábue, as importações sul-africanas pularam de 19% do
total em 1990 para 38% em 1996, computando-se apenas o comércio legal.75
A presença comercial sul-africana se tornou altamente visível na vida cotidiana
dos zimbabueanos: "Evidence of this new, skewed economic relationship with
South Africa is found in every supermaket and mall in the more affluent areas
of Zimbabwe's cities. First came the commodities which used to appear as
regulars on shopping lists for visits south by middle-class Zimbabweans: Cape
wines, imported whiskies, chocolate biscuits, VCRs and other 'luxury' items
rarely found in Zimbabwe. Then came the whole store. In recent years there has
been a proliferation of South African chains, like Nandos, Black Steer, Saddles
and even an offshoot of the keg chain, which now litter the suburban landscape
along with newly hatched local copycat enterprises offering big screen M-Net
sports and canned-Castles imported from South Africa. More recently Clicks
arrived on the scene, soon to be followed by Pick'n Pay."76
A África do Sul também retornou com muito êxito ao mercado moçambicano. Entre
1992 e 1994, as exportações sul-africanas para este país subiram em 42%,
fazendo de Moçambique o segundo mais importante parceiro comercial na África,
fora da SACU. Além de trazer mercadoria, empresas sul-africanas ganharam também
uma parcela significante da assistência financeira internacional, entrando no
país para ajudar a reconstrução depois do fim da guerra civil. Empresas sul-
africanas adquiriram amplos contratos para construção de estradas e pontes,
reforma de aeroporto e eliminação de minas de guerra.77 Num certo sentido, a
África do Sul aproveita-se agora dos efeitos das destruições que ela e seu
cliente, a RENAMO, causaram durante os anos da política de desestabilização. Em
outros países da África Austral, a mesma onda de mercadorias sul-africanas foi
presenciada.78
A ofensiva comercial sul-africana não parou nos limites tradicionais da sub-
região. Empresas mineiras da África do Sul estão ativas no Zaire/Congo, Burkina
Faso, Guinea, Mali e outros países da África Ocidental. Empresas hoteleiras
investem na África Oriental, e ferrovias e portos estão sendo construídos e
reformados por sul-africanos no Zaire/Congo e Moçambique.79
Não há reciprocidade nesta explosão do export sul-africano. Pelo contrário, a
África do Sul importa muito pouco dos seus parceiros comerciais africanos,
resultando num alto superávit comercial em relação ao resto da África. A África
do Sul exporta 50 vezes mais para Tanzânia, 39 vezes mais para Uganda e 20
vezes mais para o Quênia do que importa destes países.80 O déficit comercial de
Zimbábue junto à África do Sul somou em quase US$ 1 bilhão em 1995 (US$ 1,253
bilhão de importação contra US$ 266 milhões de exportação).81
Este déficit gigantesco entre os dois países não é resultado exclusivamente da
economia pura e da "mão invisível" das forças de mercado. Ele é também, em
parte, atribuível à política econômica regional da África do Sul, que combina a
promoção e o incentivo à exportação (principalmente através do General Export
Incentive Scheme) com certos elementos de proteção do mercado nacional.
Paralelamente a esta política sul-africana, muitos países africanos, sob
pressões do FMI e do Banco Mundial, estão liberalizando seus regimes de
comércio e abrindo os seus mercados. Desta constelação, surgiram os conflitos
comerciais, especialmente entre a África do Sul de um lado e os países
industrialmente mais avançados da região de outro, mas, também, entre estes
países. No caso da África do Sul e Zimbábue, este conflito chegou ser postulado
como verdadeira "guerra comercial".
A relação "sub-imperial" entre a África do Sul e o Zimbábue, e os resultantes
conflitos, têm a sua origem nos tempos coloniais. O conflito emergiu quando o
parceiro subalterno não mais aceitou inteiramente o seu "papel histórico" como
mercado dos produtos sul-africanos e manifestou interesse próprio no
desenvolvimento de uma indústria secundária, concretizada, no caso de Zimbábue,
pela primeira vez na Grande Depressão dos anos 30. O resultado foram longas e
polêmicas negociações que levaram à conclusão do Acordo Aduaneiro de 1935, que
concedeu o acesso preferencial ao mercado sul-africano, sob um sistema de
quotas, para certas categorias de produtos de Zimbábue (principalmente produtos
agrícolas) em troca da concessão de tarifas aduaneiras preferenciais para
produtos industrializados sul-africanos na entrada em Zimbábue.
Em 1964, um novo Preferential Trade Agreement foi concluído e renovado em 1969.
A celebração deste acordo, junto com as repercussões das sanções internacionais
contra Zimbábue, quando em 1965 os colonos brancos unilateralmente declararam a
independência desta colônia britânica, sob o nome de Rodésia, fizeram com que o
comércio entre a África do Sul e Zimbábue se intensificasse dramaticamente.
Enquanto, em 1964, 23% de todas as importações da Rodésia vinham da África do
Sul, estas passaram a 55% em 1969.82 Quando o governo da África do Sul cancelou
o acordo em 1981, o que era legalmente possível, Zimbábue fez um grande esforço
político e conseguiu negociar mais uma prorrogação.
Um conflito comercial surgiu de novo, desta vez relativamente severo, quando o
acordo aduaneiro de 1964 finalmente expirou em 1992. O governo sul-africano
publicamente declarou a sua intenção de renegociar o acordo mas, na prática,
empregou uma tática sutil, prolongando a renegociação, inibindo, assim, a
conclusão de um novo acordo até o momento. Durante estes anos de utilização
desta tática, interesses econômicos particulares e setoriais, isto é, dos
empregadores e dos sindicatos sul-africanos, como por exemplo a Southern
African Clothing and Textile Workers' Union, chegaram a influenciar
substancialmente as negociações e, desta forma, a política regional da África
do Sul.83 O resultado prático, e, provavelmente, a intenção, da prorrogação
artificial das negociações por parte da África do Sul, foi um encarecimento do
export zimbabueano, de facto um protecionismo contra uma variedade de produtos
de Zimbábue, acima de tudo contra as exportações da indústria têxtil e de
vestuário. Este de facto-protecionismo de um lado, e a ofensiva exportadora
sul-africana de outro, provocaram bastante irritação e fizeram com que alguns
zimbabueanos proclamassem que "President Nelson Mandela is doing more to hurt
them now than apartheid ever did".84
Desde setembro de 1991, as negociações do acordo comercial se arrastaram,
chegando ao ponto de absoluto desânimo ao final de 1995. Anteriormente a esta
data, empresas zimbabueanas já publicamente exigiram um protecionismo
retaliatório contra as importações oriundas da África do Sul.85 O Presidente R.
Mugabe também declarou que "time has come to protect our industries. We must
act in defense."86 Zimbábue e Zâmbia levantaram o assunto na 12ª reunião da
cúpula da SADC em 1996, onde a África do Sul sofreu pesada crítica de vários
países.87 Neste ponto, mesmo a Comunidade Européia comentou criticamente as
políticas comerciais da África do Sul.88 Em julho de 1996, finalmente, o
governo do Zimbábue chegou a ceder às pressões de certas frações do capital
nacional e anunciou um novo regime de tarifas aduaneiras, que daria proteção
alfandegária àqueles setores que mais tinham sofrido com a ofensiva comercial
da África do Sul.89 Mas, embora oficialmente desmentida, a reação negativa por
parte da África do Sul, da SADC (cuja política de integração prevê a realização
de livre comércio entre os seus membros) e daquela parte da indústria do
Zimbábue que não tem interesse em se confrontar com a África do Sul, deveria
ter sido fulminante. Só alguns dias depois da publicação, o governo de Zimbábue
cedeu às pressões e anunciou a suspensão das novas tarifas.90 Em fevereiro de
1997, mais uma vez, uma revisão do regime aduaneiro foi publicada, levando um
certo grau de proteção para a indústria secundária nacional.91 Tudo leva a crer
que a linha dura de Zimbábue e a ameaça de protecionismo tiveram sucesso. Logo
depois do primeiro "tiro de aviso" em julho de 1996, as negociações sobre o
comércio dos produtos têxteis foram concluídas e a África do Sul assinalou a
sua disposição de apresentar uma solução para outras áreas sensíveis de
comércio bilateral.92 Foi também obtido progresso no setor agrícola e, em
agosto de 1997, o Memorandum of Understanding foi assinado neste sentido.93
A irritação dos Estados vizinhos em relação à política regional pós-apartheid
da África do Sul agravou-se em função das dúvidas sobre o compromisso deste
país com a integração regional. A postura da África do Sul frente a SADC,
durante os primeiros dois anos do novo governo, caraterizou-se pelo mesmo baixo
perfil que a sua política africana em geral. Em 1996, com a eleição de Nelson
Mandela à Presidência da SADC, a África do Sul assumiu mais responsabilidade na
Comunidade. Mesmo assim, ela se tornou um freio para a realização de mais
integração formalizada entre os países da região. Somente com muita hesitação,
este país assinou o Protocolo de Comércio de 1996, que prevê a realização de
uma zona de livre comércio entre os membros da SADC, dentro de um período de
oito a dez anos, e, até hoje, não o ratificou.94
Existe, também, um grande receio por parte dos países da SADC sobre as
possíveis conseqüências de um tratado de livre comércio que está sendo
negociado, aliás com muitas dificuldades, entre a Comunidade Européia (CE) e a
África da Sul. Estas negociações começaram depois que a CE negou à África do
Sul, obviamente sob fortes pressões dos agro-exportadores da Europa do Sul, a
sua admissão na Convenção de Lomé. Em abril de 1997, a CE concedeu à África do
Sul acesso qualificado na Convenção, o que traz certas vantagens, mas ainda lhe
nega um acesso mais fácil junto ao mercado europeu como aquele que têm os
outros países da ACP. Alguns países da SADC suspeitam que a África do Sul, em
vez de se comprometer com os interesses da SADC e a estes dar prioridade, se
aproveita da Comunidade para entrar na CE por esta "porta dos fundos".95 O
multilateralismo aberto e ofensivo da África do Sul, e as tentativas de se
aproximar de vários blocos econômicos (por exemplo, do Mercosul) reforçam a
impressão de que não teria limitado as suas opções à SADC. Estas tensões entre
a África do Sul e, especialmente, o Zimbábue sobre assuntos econômicos são
agravadas por conflitos entre os Presidentes Mandela e Mugabe acerca da
liderança política no sub-continente. Esta concorrência tem expressão mais
concreta na disputa sobre as prerrogativas e a presidência do presumível
poderoso órgão da SADC sobre política, defesa e segurança, que foi designado
como sucessor da organização dos Estados da Linha de Frente. Embora
oficialmente desmentido, tudo indica que Mandela, nesta disputa, teria ameaçado
renunciar à SADC.96
Neste artigo, foi demonstrado que as relações regionais na África Austral
sofreram uma mudança dramática que transformou esta região de conflito, a
partir de 1989, em uma zona de relativa paz e segurança entre os Estados. O
abandono da política sul-africana de desestabilização foi instrumental neste
processo. Dentro do novo clima de paz e consenso político, surgiram outras
fricções, principalmente de carácter econômico, que deixam a região pendular
entre um grande compromisso para integração e "guerras comerciais". De novo, a
política regional da África do Sul foi o fator mais decisivo para o surgimento
desta constelação. Ela oscila entre forte retórica moral e puro racionalismo
econômico, extremos entre os quais a África do Sul ainda não encontrou um
equilíbrio que pudesse satisfazer os seus vizinhos.
Notas
1 Territórios do Alto Comissário Britânico (British High Commissioner's
Territories): Betsuanalândia (Botsuana), Suazilândia, Lesoto.
2 Sobre o expansionismo sul-africano histórico veja: HYAM, R.. The Failure of
South African Expansion, 1908-1948. London: Macmillan, 1972,
mas, também, com enfoque e interpretação diferente: CHANOCK, M.. Unconsummated
Union: Britain, Rhodesia and South Africa, 1900-45. Manchester: Manchester UP,
1977.
3 Veja: HERBST, J.. "South Africa and Africa after Apartheid". em: HARBESON,
J.W. & ROTHCHILD, D. (orgs.). Africa in World Politics. Post-Cold War
Challenges. Boulder: Westview Press, 1995.
4 A Southern Africa Development Coordination Conference (SADCC) se transformou
em Southern Africa Development Community (SADC) em 1992, assumindo um
compromisso mais forte de integração regional. Atualmente 14 países fazem parte
da Comunidade: Angola, Botsuana, Moçambique, Namíbia, Mauritius, República
Democrática do Congo, Malawi, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue, Lesoto,
Suazilândia, África do Sul.
5 ROTBERG, R.I.. "Introduction: South Africa the Region ' Hegemony and
Vulnerability". em: ROTBERG, R.I. (et. al.). South Africa and its Neighbors.
Regional Security and Self-Interest. Lexinton: Mass. (Lexington Books). 1985.
pp. 1.
6 THOMPSON, C.B.. "Zimbabwe in Sadcc: a Question of Dominance?" em: STONEMAN,
C. (org.). Zimbabwe's Prospects. Issues of Race, State and Capital in Southern
Africa. London: MacMillan, 1988. SHAW, T.M.. "Dependence or
Interdependence in the Global Political Economy". em: DELANCEY, M.W. (org.).
Aspects of international relations in Africa. African Studies Programme, 1979,
pp. 66.
7 SHAW, T.M.. "South Africa, Southern Africa and the World System". em:
CALLAGHY, Th. M. (org.). South Africa in Southern Africa, The Intensifying
Vortex of Violence. New York: Praeger, 1983, pp. 45.
8 GRUNDY, K.W.. "Regional Relations in Southern Africa and the Global Economy".
em: DELANCEY, M.W.(org.). Aspects of international relations in Africa. African
Studies Programme, 1979, pp. 90.
9 Para um discussão crítica acerca da viabilidade deste termo no contexto da
África Austral como categoria analítica, veja: BLUMENFELD, J.. Economic
Interdependence in Southern Africa ' from Conflict to Cooperation. London and
New York: Pinter Publ. and St. Martin's Press for The Royal Institute of
International Affairs, London, 1991. BUTLER, J.. "South
Africa's Role in Southern Africa: An Historical Essay". CALLAGHY, Th. M. (ed.).
"South Africa in Southern Africa, The Intensifying Vortex of Violence". New
York: Praeger, 1983, pp. 21.
10 BSL-states= Botsuana, Lesoto, Suazilândia.
11 A literatura acerca das relações econômicas entre a África do Sul e os seus
países vizinhos, na dimensão histórica e atual, é muito ampla. Este artigo
baseia-se principalmente nas seguintes publicações: HANLON, J.. Beggar your
Neighbours: Apartheid Power in Southern Africa. Bloomington: Indiana Univ.
Press, 1986. LEISTNER, E. e ESTERHUYSEN, P.. South Africa in
Southern Africa: economic interaction. Pretoria: Africa Institute of South
Africa, 1988. BLUMENFELD, J.. Economic Interdependence in
Southern Africa ' from Conflict to Cooperation. London and New York: Pinter
Publ. and St. Martin's Press for The Royal Institute of International Affairs,
London, 1991. ROTBERG, R.I. (et. al.). South Africa and its
Neighbors. Regional Security and Self-Interest. Lexinton: Mass. (Lexington
Books) 1985. CHAN, St. (org.). Exporting Apartheid. Foreign
Policy in Southern Africa 1978-1988. London: Macmillan, 1990.
CALLAGHY, Th. M. (org.). South Africa in Southern Africa, The Intensifying
Vortex of Violence. New York: Praeger, 1983.
12 DU PISANI, A.. "South Africa and the region". em: MILLS, G.(org.). From
pariah to participant: South Africa's evolving foreign policy, 1990-1994.
Johannesburg: SAIIA, 1994. p.52-69.
13 MILLS, G. & BAYNHAM, S.. South African Foreign Policy, 1945-1990, em:
MILLS, G. (org.). From pariah to participant: South Africa's evolving foreign
relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994, pp. 10.
14 Ibid, p.11.
15 Veja o compreensivo estudo de Barber e Barratt que interpreta a política
exterior da África do Sul como ciclos de desafio e reação. BARBER, J. &
BARRATT, J.. South Africa's Foreign Policy. The search for status and security
1945-1988. Cambridge: CUP, 1990.
16 Veja: MILLS, G. & BAYNHAM, S.. "South African Foreign Policy, 1945-
1990". em: MILLS, G. (org.). From pariah to participant: South Africa's
evolving foreign relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994. DU PISANI, A.. "South Africa and the region". em: MILLS, G. (org.).
From pariah to participant: South Africa's evolving foreign relations, 1990-
1994. Johannesburg: SAIIA, 1994. pp. 52-69. BARBER, J. &
BARRATT, J.. South Africa's Foreign Policy. The search for status and security
1945-1988. Cambridge: CUP, 1990.
17 LEGUM, C.. Southern Africa. The Secret Diplomacy. London: Rex Collings,
1975, p.5.
18 Os Estados da Linha de Frente (Frontline States) consistiam em: Zimbábue,
Angola, Botsuana, Moçambique, Tanzânia, Zâmbia. Em 1990, a Namíbia ingressou no
grupo e, em 1994, a própria África do Sul.
19 LEGUM, C.. Southern Africa. The Secret Diplomacy. London: Rex Collings,
1975. LEGUM, C.. "Southern Africa: How the Search for
Peaceful Change Failed". em: LEGUM, C. (org.). Africa Contemporary Record 1975/
76, London: Rex Collings, 1976.
20 STULTZ, N.H.. "South Africa in Angola and Namibia". em: BLIGHT, J. &
WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict
in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992, pp. 79.
21 SWAPO= South West Africa People's Organization. Movimento de libertação da
Namíbia.
22 FNLA= Frente Nacional de Libertação de Angola. UNITA= União Nacional para a
Independência Total de Angola. MPLA= Movimento Popular de Libertação de Angola.
Os três movimentos, que haviam lutado na guerra anti-colonial separadamente e
em mútua competição, comprometeram-se com um procedimento para uma transição
democrática e consensual no Acordo de Alvor de janeiro de 1995. Mas,
especialmente a UNITA e a FNLA, não consideraram seriamente esta solução
pacífica e buscaram o confronto militar contra o MPLA. Junto com a África do
Sul, conseguiram fazer recuar o MPLA para Luanda e seus arredores, onde este
movimento declarou a independência do país no dia 11 de novembro 1975. O
governo do MPLA foi salvo da derrota militar pela maciça ajuda de combate por
parte dos cubanos que, ao que parece, tomaram a iniciativa de responder
positivamente aos pedidos do MPLA, sem consulta anterior à União Soviética.
Veja: BLIGHT, J. & WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers
and regional conflict in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne
Rienner, 1992. LAÏDI, Z.. "The Superpowers and Africa. the
Constraints of a Rivalry, 1960-1990". Chicago & London: Chicago UP, 1990.
23 STULTZ, N.H.. "South Africa in Angola and Namibia" em: BLIGHT, J. &
WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict
in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992. GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African Politics. Oxford:
Oxford Univ. Press, 1988.
24 GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African Politics. Oxford: Oxford
Univ. Press, 1988, p. 90. SADF= South Africa Defence Force, o
exército da África do Sul.
25 MARTE, L. F.: Political cycles in international relations: the cold war and
Africa 1945-1990. Amsterdam: VU UP, 1994. p. 317.
26 MARTE, L. F.. Political cycles in international relations: the cold war and
Africa 1945-1990. Amsterdam: VU UP, 1994, p. 317. LEGUM, C..
"Foreign Internvention in Angola". em: LEGUM, C. (org.). Africa Contemporary
Record 1975/76. London: Rex Collings, 1976, p. A31.
27 ZANU-PF= Zimbabwe African National Union-Patriotic Front. ZAPU= Zimbabwe
African People's Union.
28 Este parte se baseia principalmente em: GRUNDY, K. W.. The Militarization of
South African Politics. Oxford: Oxford Univ. Press, 1988, p. 90. WARDROP, J.. "Continuity and change in South Africa and in South
Africa's relations with its neighbours". em: BRUCE, R. D. (org.). Prospects for
peace: changes in the Indian Ocean region. Perth: Indian Ocean Centre for Peace
Studies, 1992, p. 253-272. SOMERVILLE, Keith. Foreign
military intervention in Africa. London: Pinter, 1990, capítulo 6. STULTZ, N.H.. "South Africa in Angola and Namibia". em: BLIGHT, J.
& WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional
conflict in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992. VENTER, D.. South Africa and the African comity of nations:
from isolation to integration (= Africa Institute Research Paper Nº 56).
Pretoria: Africa Institute of South Africa, 1993. JOHNSON,
PH. & MARTIN, D. (orgs.). Destructive Engagement. Southern Africa at War.
Harare: Zim Publish. House, 1986. HANLON, J.. Apartheid's
Second Front: South Africa's War Against its Neighbours. Middlesex: Penguin
Books, 1986. MILLS, G. & BAYNHAM, S.. "South African
Foreign Policy, 1945-1990". em: MILLS, G. (org.). From pariah to participant:
South Africa's evolving foreign relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA,
1994.
29 BLIGHT, J. & WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and
regional conflict in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner,
1992, Conclusion, pp. 149.
30 WENZEL, Cl.. Die Südafrikapolitik der USA in der Ära Reagan. Konstruktives
oder destruktives Engagement. Hamburg: Institut fur Afrikakunde, 1990. MARTE, L. F.. Political cycles in international relations: the cold
war and Africa 1945-1990. Amsterdam: VU UP, 1994. LAÏDI, Z.
The Superpowers and Africa. the Constraints of a Rivalry, 1960-1990. Chicago
& London: Chicago UP, 1990. COKER, C.. The United States
and South Africa, 1968-1985: Constructive Engagement and its Critics. Durham:
Duke Univ. Press, 1986. Mas, veja também Martin, que
argumenta que a política norte-americana acerca da África Austral era mais
diferenciada e tolerante do que a tese da "cruzada contra o comunismo" implica.
MARTIN, B.. "American Policy Towards Southern Africa in the 1980s". em: Journal
of Modern African Studies, 27,1, pp. 23-46, 1989. Veja
também: CROCKER, Ch.. High noon in Southern Africa. Making Peace in a Rough
Neighborhood. New York & London: W.W. Norton & Co., 1992.
31 STULTZ, N.H. "South Africa in Angola and Namibia". em: BLIGHT, J. &
WEISS, Th. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional conflict
in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992.
32 HANLON, J.. Apartheid's Second Front: South Africa's War Against its
Neighbours. Middlesex: Penguin Books, 1986, p. 159.
33 RENAMO= Resistência Nacional Moçambicana. Este grupo foi fundado pelo
serviço secreto da Rodésia para ajudar o regime de Ian Smith na sua guerra
contra os guerrilheiros da ZANU em Moçambique e contra o Estado moçambicano
depois de 1975. Depois da independência da Rodésia/Zimbábue em 1980, a África
do Sul assumiu a tutela sob este grupo e o reorganizou como um movimento
terrorista eficaz e na sua arma principal para a desestabilização do governo
moçambicano. O terrorismo da RENAMO levou Moçambique à beira de um colapso.
Porém, esta oposição armada contra o Estado moçambicano não reflete só as
maquinações da África do Sul. A RENAMO conseguiu, também, se aproveitar das
divisões na sociedade moçambicana (étnicas, regionais, sociais), do neo-
tradicionalismo, da distância dos chefes tradicionais junto ao Estado e da
rejeição da política de modernização e do "jacobinismo" das elites urbanas e
socialistas pela sociedade rural. Todavia, entre os pesquisadores, bem como no
debate público em Moçambique, a relevância destas raízes locais e, com isso,
das razões locais da revolta, estão sujeitas a severas disputas. Nas eleições
de 1994, a RENAMO conseguiu 38% dos votos, o seu candidato à Presidência,
Dhlakama, 33,7%. A votação reflete uma clara polarização étnica/regional. Para
o debate sobre o caráter da RENAMO veja: MINTER, W.. "Apartheid's Contras: An
Inquiry into the Roots of War in Angola e Mozambique". Johannesburg &
London: Zed, 1996. VINES, A.. Renamo: Terrorism in
Mozambique. Centre for Southern African Studies, University of York, London/
Bloomington/Indianapolis: James Currey/Indiana University Press, 1991. YOUNG, Tom. "The MNR/RENAMO: External and Internal Dynamics". em:
African Affairs. 1990, pp. 490-509.
34 HANLON, J.. Apartheid's Second Front: South Africa's War Against its
Neighbours. Middlesex: Penguin Books, 1986. DAVIES, R. und
O'MEARA, D.. "Total Strategy in Southern Africa ' An Analysis of South African
Regional Policy since 1978". Em: CHAN, St. (org.). Exporting Apartheid. Foreign
Policy in Southern Africa 1978-1988. London: Macmillan, 1990. pp. 179.
35 GRUNDY, K. W.. The Militarization of South African Politics. Oxford: Oxford
Univ. Press, 1988.
36 ibid., p. 88.
37 ROTBERG, R.I.. "Introduction: South Africa in the Region ' Hegemony and
Vulnerability". em: ROTBERG, R.I. (et. al.). South Africa and its Neighbors.
Regional Security and Self-Interest. Lexinton: Mass. (Lexington Books), 1985.
pp. 1.
38 Como introdução veja: SPARKS, A.: "Tomorrow is Another Country. The Inside
Story of South Africa's Negociated Revolution". South Africa: Struik Book
Distributors, 1994. BEINART, W.. Twentieth Century South
Africa. Oxford: OUP, 1994.
39 WENZEL, Cl.. Die Südafrikapolitik der USA in der Ära Reagan. Konstruktives
oder destruktives Engagement. Hamburg: Institut fur Afrikakunde, 1990.
40 VENTER, D.. South Africa and the African comity of nations: from isolation
to integration (= Africa Institute Research Paper Nº 56). Pretoria: Africa
Institute of South Africa, 1993.
41 Para o conflito de Namíbia e a sua solução veja: PYCROFT. "Angola ' 'The
Forgotten Tragedy'". em: Journal of Southern African Studies, vol. 20, Nº 2,
1994, pp. 241. WOOD, B.. "Preventing the Vacuum: Determinants
of the Namibian Settlement". em: Journal of Southern African Studies, vol. 17,
Nº 2, 1991. HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch (1987-1996).
Politik, Wirtschaft und Gesellschaft in Afrika südlich der Sahara. Opladen:
Leske & Budrich, 1988-1997.
42 Veja entre outros: HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft
und Gesellschaft in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich,
1988. MARTE, L. F.. Political cycles in international
relations: the cold war and Africa 1945-1990. Amsterdam: VU UP, 1994. TVEDTEN, I.. "US policy toward Angola since 1975". Journal of Modern
African studies, 30, 1, p.31-52, 1992. SOMERVILLE, Keith.
Foreign military intervention in Africa. London: Pinter, 1990. WARDROP, J.. "Continuity and change in South Africa and in South
Africa's relations with its neighbours". em: BRUCE, R. D. (org.). Prospects for
peace: changes in the Indian Ocean region. Perth: Indian Ocean Centre for Peace
Studies, pp. 253-272, 1992.
43 Esta análise se baseia principalmente em: WOOD, B.. "Preventing the Vacuum:
Determinants of the Namibian Settlement". em: Journal of Southern African
Studies, vol. 17, Nº 2, 1991.
44 Blight e Weiss citam uma entrevista com Jorge Risquet, membro do Politbureau
cubano e principal negociador dos acordos com a África do Sul: "Cuito Cuanavale
was decisive. the negociations came later. The battle of Stalingrad took place
three years before the fall of Berlin, but it was at Stalingrad that the
outcome of World War II was decided.... The South Africans realized that
putting up a frontal battle in southern Angola and northern Namibia would amond
to the swan song of apartheid. So they decided to concede Namibia." BLIGHT, J.
& WEISS, TH. G. (orgs.). The suffering grass: superpowers and regional
conflict in southern Africa and the Caribbean. Boulder: Lynne Rienner, 1992:
"Conclusions: Must the Grass Suffer?", p. 161. Veja também:
O'NEILL, K. & MUNSLOW, B.. "Angola: Ending the Cold War in Southern
Africa". em: FURLEY, O. (org.). Conflict in Africa. "London: Tauris, 1995, pp.
183. OHLSON, Th.. "The Cuito Cuanavale Syndrome: Revealing
SADF Vulnerabilities". em: MOSS, G. & OBERY, I. (orgs.). South African
Review 5. Johannesburg: Ravan, 1989, pp. 181.
45 WARDROP, J.. "Continuity and change in South Africa and in South Africa's
relations with its neighbours". em: BRUCE, R. D. (org.). Prospects for peace:
changes in the Indian Ocean region. Perth: Indian Ocean Centre for Peace
Studies, pp. 253-272, 1992.
46 Para o argumento da continuidade na política exterior da África do sul a
partir da "New Diplomacy" de van Heeren, veja: EVANS, G.. "South Africa in
Remission: the Foreign Policy of an Altered State". em: Journal of Modern
African Studies, 34,2, pp. 249-269, 1996. Veja também: VALE,
P.. "South Africa's "New Diplomacy"". em: MOSS, G. & OBERY, I. (orgs.).
South African Review 6. From "Red Friday" to Codesa. Johannesburg: Ravan, 1992,
pp. 424.
47 VAN HEERDEN, N.P.. "South Africa and Africa: The New Diplomacy". em: ISSUP
Bulletin, No. 4, pp. 1-11, 1989.
48 Ibid.
49 VENTER, D.. South Africa and the African comity of nations: from isolation
to integration (= Africa Institute Research Paper Nº 56). Pretoria: Africa
Institute of South Africa, 1993. DU PISANI, A.. "South Africa
and the region". em: MILLS, G. (org.). From pariah to participant: South
Africa's evolving foreign relations, 1990-1994. Johannesburg: SAIIA, 1994.
p.52-69.
50 Veja: HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und
Gesellschaft in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1990 e
1991. The Financial Times, 7.5.1991: "On the road to normalization". Die Welt (Hamburg), 17.4.1991: "Geteiltes Echo am Kap auf EG-
Entscheidung".
51 EVANS, G. "South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered
State". Journal of Modern African Studies, 34,2, pp. 249-269, 1996. THOMAS, S.. The Diplomacy of Liberation: the international relations
of the African National Congress of South Africa, 1960-1985. London: 1995. JOHNSTONE, A. und SHEZI, S.. "The ANC's foreign policy".
JOHNSTONE, et.al. (orgs.). Constitution-Making in the new South Africa. London:
Leicester UP, 1993.
52 EVANS, G.. "South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered
State". Journal of Modern African Studies, 34,2, 1996, p. 258.
53 AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Ready to Govern. ANC policy guidelines for a
democratic South Africa adopted at the National Conference (28-31.5.1992),
1992. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Foreign Policy in a New
Democratic South Africa. A Discussion Paper (Oct. 1993), 1993. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Discussion Paper: Foreign Policy
Perspective in a Democratic South Africa (Dec. 1994), 1994.
DEPARTMENT OF FOREIGN AFFAIRS (DFA).South African Foreign Policy, Discussion
Document, Julho, 1996. DFA. Parliamentary Briefing, Sept. 1997. DFA. Statement
on Nzo's Budget Speech, 7/5/98.
54 EVANS, G.. "South Africa in Remission: the Foreign Policy of an Altered
State"., Journal of Modern African Studies, 34,2, 1996, p. 259 & p. 266.
55 Mail and Guardian, 9.6.1995: "Foreign Affairs Department Under Fire". Mail
and Guardian, 8.9.1995: "The Realists in a Tussle with Radicals".
56 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft
in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995.
57 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft
in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995. EVANS, G.. "South Africa in Remission: the Foreign Policy of an
Altered State". Journal of Modern African Studies, 34,2, 1996. SHUBIN, Vladimir: Flinging the Doors Open: Foerign Policy of the New
South Africa. CASA. Uni of Western Cape, Working Paper. Bellville: CSAS, 1995. CALLAND, R. e WELD, D.. Multilateralism, southern Africa and
the postmodern world: an exploratory essay. Bellville: University of the
Western Cape, Centre for Southern African Studies, 1994.
58 HOFMEIER, R. (org.). Afrika Jahrbuch. Politik, Wirtschaft und Gesellschaft
in Afrika südlich der Sahara. Opladen: Leske & Budrich, 1995. The Star
(Johannesburg), 31.5.1995: "Foreign Policy: just a set of impulses?".
59 Le Monde (Paris), 6.11.1996: "La grande prudence de la diplomatique sud-
africaine". Das Parlament (Bonn), 21.2.1997: "Vom internationalen Paria zum
überforderten Hoffnungstråger".
60 The Star, Johannesburg, 1996, 25.9.: "African renaissance can't remain
romantic concept".
61 DFA. Background Document delivered by the MFA at the Parliamentary Media
Briefing Week, 11/2/1997
62 The East African (Nairobi), 4.8.97: "Big Shift as Mandela Warms up to
Abacha. Frankfurter Rundschau, 14.4.1996: "Ein Neuling, der in viele
Fettnapfchen tritt. "
63 Financial Times (London), 3.10.1996: "Tricky balancing act. Policy makers
are having to contend with the legacy of apartheid and old friendships". Frankfurter Rundschau, 22.10.1997: "Die USA suchten Mandela
zu besånftigen".
64 O Presidente Mandela, em um discurso no Parlamento do Zimbábue, explica,
assim, a "African renaissance": "The time has come for Africa to take full
responsibility for her woes and use the immense collective wisdom it possesses
to make reality of the idea of the African renaissance. It is a renaissance
that must mean that Africa refuses to be a passive onlooker in a chinging
world, hapless victim to modern machinations by the forces historically
responsible for her woes. Only this way can Africa assert her right to be an
equal partner in world affairs." Em: The Herald (Harare), 21.5.1997: "Africa
must take responsibility for its woes ' Mandela".
65 ANC Discussion Paper. Developing a Strategic Perspective on South Africa
Foreign Policy, July 1997. Veja também: Financial Times
(London), 22.10.1997: "Reborn Africa reaches out. Ideological battles between
the old left and the pragmatists persist in the ANC".
66 AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Ready to Govern. ANC policy guidelines for a
democratic South Africa adopted at the National Conference (28-31.5.1992),
1992. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Foreign Policy in a New
Democratic South Africa. A Discussion Paper (out. 1993), 1993. AFRICAN NATIONAL CONGRESS. Discussion Paper: Foreign Policy
Perspective in a Democratic South Africa (dec. 1994), 1994.
DFA. South African Foreign Policy. Discussion Document, julho 1996. DFA.
Parliamentary Briefing, set. 1997. ANC. Discussion Paper:
Developing a Strategic Perspective on South Africa Foreign Policy, julho 1997.
67 ANC. Foreign Policy in a New Democratic South Africa. A Discussion Paper
(out. 1993), 1993.
68 Ibid.
69 Nelson Mandela: "South Africa's Future Foreign Policy". em: Foreign Affairs
72, nov. ' dec. 1993, pp. 91-2.
70 SACU= Southern African Customs Union. União aduaneira entre a África do Sul,
Botsuana, Lesoto e Suazilândia que existe desde o início do século XX. Depois
da sua independência, a Namíbia se integrou a esta União.
71 MAASDORP, G.G.. "Squaring up to Economic Dominance: Regional Patterns". em:
ROTBERG, R.I., et. al.; South Africa and its Neighbors, pp. 91, 1985.
72 ENGEL, U.. The Foreign Policy of Zimbabwe. Hamburg: Institut für
Afrikakunde, 1994, p. 291.
73 KAPLINSKY, R.. "The Manufacturing Sector". em: MAASDORP, G. e WHITESIDE, A..
Towards a Post-Apartheid Future. Political and Economic Relations in Southern
Africa. London/Basingstoke: MacMillan, 1992, pp. 83. The
Star, Johannesburg, 1996, 19.6.: "Unemployment resists feeble assaults".
74 Financial Mail, Johannesburg, 1992, 28.8.: "Trade. New directions". The East
African, Nairobi, 1995, 24.7.: "S. African firms fill void as West turns
elsewhere". PIAZOLO, M.. "Südafrika ' Wachstumsmotor der südlichen Afrika?" em:
Afrika Spektrum, 31, Jg., 96/3, Hamburgo, 1996. INTERNATIONAL MONETARY FUND.
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75 Mail & Guardian, 1997, 23. ' 29.5.: "South Africa accused of bully-boy
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78 The Star, Johannesburg, 1994, 24.11.: "Trade boom for SA goods". Mail &
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policies".
85 Financial Gazette, Harare, 1995, 13.7.: "Retaliatory tariffs urged against
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Junho de 1998