O Barão de Rothschild e a questão do Acre
Não somente no Paraguai e no Uruguai, o Brasil, no começo do século XX,
defrontou-se com problemas. Também com a Bolívia, um conflito de fronteiras,
que havia vários anos irrompera, atingiu o clímax, na região do Acre, onde
Plácido de Castro, um gaúcho de 28 anos, liderou outro levante armado, em
meados de 1902, contra os representantes do governo de La Paz. Este conflito,
porém, mais grave configurou-se, não porque a Argentina parecesse respaldar a
Bolívia1 a disputar com o Brasil a hegemonia da região, mas por envolver fortes
interesses dos E.U.A e arrastar-se desde 1899, quando a canhoneira norte-
americana Wilmington, comandada por Chapman Todd, aportou em Belém, em missão
aparente de amizade, e partiu rumo a Tabatinga e Iquitos, furtivamente, com os
faróis de navegação apagados durante a noite, sem esperar licença especial do
governo brasileiro, levando a bordo o cônsul dos E.U.A. Esse procedimento
irritara a população e as autoridades do Amazonas e do Pará, que hostilizaram o
comandante Todd quando ele regressou e, ao governo do Brasil, alternativa não
restou senão protestar junto ao Departamento de Estado contra aquele
desrespeito à soberania nacional. O secretário de Estado, John Hay, reconheceu
a incorreção do procedimento do comandante Todd, atribuindo-o a um
malentendido, mas não só se queixou da populaça que, segundo ele, maltratara a
tripulação do navio e agredira o cônsul norte-americano, como também da
imprensa brasileira e das autoridades, ou seja, do governador do Amazonas e do
capitão do porto de Manaus2. A resposta de Hay não agradou ao ministro
plenipotenciário do Brasil em Washington, Joaquim Francisco de Assis Brasil,
que a percebeu como o reflexo do estado de espírito dos E.U.A, depois "das
frescas e facílimas vitórias" contra a Espanha, na guerra pela independência de
Cuba (1898)3. O caso, porém, estaria encerrado, se o jornalista espanhol Luiz
Galvez Rodrigues de Arias não tomasse conhecimento do texto e não denunciasse,
através do jornal Província do Pará, na edição de 3 de junho de 1899, que a
canhoneira Wilmingtonlevara para o presidente dos E.U.A, William McKinley, as
bases de um acordo com a Bolívia, cujo ministro plenipotenciário no Rio de
Janeiro, José Paravicini, que se encontrava em Manaus, e o vicecônsul Luiz
Truco elaboraram com o cônsul norte-americano, K. K. Kennedy. Conforme o texto
integral do acordo, que apareceu na edição de 4 de junho de Província do Pará
e, cinco dias depois, no Jornal Commercio, de Manaus, os E.U.A auxiliariam a
Bolívia a defender seus direitos sobre os territórios do Acre, Purus e Iaco,
por via diplomática ou, no caso de guerra com o Brasil, fornecendo armas e
financiamento e recebendo em hipoteca as rendas das alfândegas bolivianas.
Também exigiriam que o Brasil nomeasse uma comissão, para demarcar, juntamente
com a Bolívia, as fronteiras definitivas entre o Purus e o Javari, e concedesse
livre trânsito pelas alfândegas de Belém e Manaus às mercadorias bolivianas. A
Bolívia, por sua vez, concederia abatimento de 50%. sobre os direitos de
importação a todas as mercadorias americanas e 25% sobre a borracha destinada
aos portos dos E.U.A, pelo prazo de 10 anos. Caso tivesse que apelar para a
guerra com o Brasil, a Bolívia denunciaria o tratado de 1867 e a linha de
fronteira passaria a correr pela boca do Acre, ficando com os E.U.A, em livre
posse, o território restante4.
A divulgação das bases desse acordo, negociado pelo comandante do Wilmington,
alarmou a população e as autoridades nos dois estados da Amazônia e a campanha
anti-norte-americana recresceu, apesar dos desmentidos do ministro Paravicini e
da notícia de que o presidente McKinley reprovara a excursão da canhoneira,
demitira o comandante Todd e censurara seus contatos com os peruanos, que se
insurgiram em Iquitos, quando ele chegou àquela localidade. Nada, porém,
dissipou as desconfianças que realmente tinham fundamento. Poucos meses antes
da viagem da canhoneira Wilmington, em janeiro de 1899, a Bolívia mandara uma
expedição para ocupar o Acre, até então povoado pelos brasileiros, e contaram
com o apoio do presidente Manuel Ferraz de Campos Sales e do chanceler Dionísio
Cerqueira, que lhe reconheceram a soberania sobre a região e lhe permitiram
instalar alfândegas nos vales dos rios Acre, Alto Purus e Iaco, localizados ao
sul do paralelo de 10° e 20'. A fim de cumprir tal missão, o que fez, em
janeiro de 1899, o ministro plenipotenciário da Bolívia no Rio de Janeiro, José
Paravicini, passara realmente por Manaus naquela ocasião e, após hastear no
Acre a bandeira do seu país, assinou decretos, não apenas dando ao povoado, à
margem esquerda do rio Acre, o nome de Puerto Alonso, em homenagem ao então
presidente Severo Fernandes Alonso, como também abrindo à navegação
internacional vários rios, cujo trechos navegáveis estavam quase todos em
território do Brasil.
Esta medida provocou veemente protesto do chanceler Olinto de Magalhães e um
pedido de explicações à Legação da Bolívia, acompanhado pela proibição do
trânsito de navios bolivianos através do território brasileiro, mas nunca o
Brasil realmente reivindicara o território do Acre. Reconheciao como da
Bolívia, com a qual estabelecera relações diplomáticas em 1831 e, após inúmeros
atritos mais ou menos graves que ocorreram em 1833, 1837, 1844, 1845, 1846,
1850, 1853, 1858, celebrara, em 27 de março de 1867, o Tratado de Ayacucho,
aceitando, provavelmente com o propósito de comprar-lhe a neutralidade na
guerra contra o Paraguai (1864-1870), que sua linha de fronteira seguisse
"deste rio (Beni na sua confluência com o Madeira) para o oeste ( ... ) por uma
paralela tirada da sua margem esquerda, na latitude 10°20', até encontrar as
nascentes do Javari". Tais limites transcreviam quase literalmente o que fora
estabelecido nos Tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), celebrados
ao tempo da colonização e cuja validade o governo imperial jamais reconhecera,
inclusive porque o último fora anulado pela guerra entre Portugal e Espanha,
sem que o acordo de paz em Badajoz o revalidasse. Além do mais, todos os
tratados firmados pelo Brasil, em 1851, 1874, 1859 e 1867, com Peru, Uruguai,
Venezuela e Bolívia, respectivamente, tomaram por base para a fixação das
fronteiras a efetiva ocupação anterior, i. e., o uti possidetis, um princípio
do direito romano, segundo o qual cada estado deveria ficar com o território
que possuía no momento da independência5.
A Bolívia jamais ocupara efetivamente a parte da Amazônia, situada no seu
território, devido às dificuldades de acesso e ao fato de que a maior parte de
sua população se concentrava no altiplano. Destarte, longe dos centros
políticos e administrativos, o Acre6 nunca fora habitado até 1869, quando os
brasileiros começaram a penetrar naquele vale. Seu povoamento, porém, só tomou
impulso após a grande seca que, em 1877, assolou o Nordeste brasileiro,
particularmente o Ceará, e os proprietários de seringais passaram a recrutar
mais e mais retirantes, como força de trabalho disponível, para os empregar na
extração da borracha, matéria-prima, cujo consumo pelas indústrias nos E.U.A e
na Europa, em virtude da técnica da vulcanização, aumentava rapidamente,
tornando-a uma das principais fontes de divisas do Brasil, dado que a Hevea
brasiliensis apenas existia nas selvas da Amazônia. Por volta de 1900, cerca de
60.000 brasileiros habitavam o Acre e as exportações de goma elástica para os
E.U.A somaram US$ 16.999,345 contra US$ 7.569.005, em 1889, e somente US$
3.296.766, em 18797, transformando Belém e Manaus em dois grandes centros do
comércio exterior do Brasil. Porém, a instalação da aduana boliviana em Puerto
Alonso, pelo ministro José Paravicini, quase ao mesmo tempo em que a canhoneira
Wilmingtonadentrara o rio Amazonas, causou enormes prejuízos à receita do
estado do Amazonas. Só entre janeiro e abril de 1899, a borracha oriunda do
vale do Acre, acima de Puerto Alonso, rendera à delegação boliviana o montante
de 3 572:653$000 contra uma despesa de 748:600$000, dando-lhe um lucro líquido
de 2 824:053$000 e um prejuízo de aproximadamente 3 000:000$000 ao estado do
Amazonas8, cujo governador José Cardoso Ramalho Jr., Ramalho Júnior, aliado aos
comerciantes de Manaus, decidiu respaldar a reação dos brasileiros, que
habitavam o Acre, contra a sua ocupação pela Bolívia. Em 30 de abril de 1899,
alguns brasileiros, proprietários de seringais, liderados por José Carvalho,
expulsaram Moisés Santiváñez, que substituíra o ministro Paravicini como chefe
da delegação boliviana no Acre, bem como os demais membros da delegação
boliviana, que não resistiram, ao perceberem que não tinham condições de
enfrentar cerca de 15.000 brasileiros estabelecidos no Acre. Uma Junta
Revolucionária então se constituiu, sob a Presidência de Joaquim Domingos
Carneiro e, em 14 de julho de 1899, o espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias,
que denunciara as bases para o acordo entre a Bolívia e os E.U.A, proclamou o
Estado Independente do Acre, do qual se tornou seu primeiro presidente. O
Brasil, ainda a vacilar, não o reconheceu. Também se recusou a intervir, pois,
não considerava seu o território conflagrado, ainda que brasileiros fossem, em
maioria, seus habitantes, e o ministro das Relações Exteriores, Olinto de
Magalhães, entendia que, destarte, cabia à Bolívia subjugar a revolta. Três
expedições o governo de La Paz despachou mas, sozinho, não teve condições de
dominar a região e, uma vez que a luta prosseguiu através do ano de 1900,
enviou a Washington, conforme se noticiou, um ministro extraordinário e
plenipotenciário com a missão de pedir a intervenção dos E.U.A nas questões
pendentes com o Brasil. Este informe levou o chanceler Olinto de Magalhães a
instruir o ministro Joaquim Francisco de Assis Brasil, chefe da Legação
brasileira, no sentido de que procurasse impedir qualquer intervenção dos E.U.A
ou a punição e internação dos rebeldes, medidas estas consideradas
inadmissíveis pelo Brasil9.
Cerca de três meses depois, alguns jornais norte-americanos, entre os quais o
The Sun, noticiaram que os insurgentes haviam enviado a Washington um emissário
com o nome de H. W. Philips, mas o ministro Assis Brasil averiguou que quem o
enviara fora o governo da Bolívia e que se tratava de um agente da Casa Flint
de Nova Iorque, cujo chefe, "homem sinistros em relação a negócios com o
Brasil", era o cabeça do sindicato da borracha nos E.U.A10. De fato, fora o
governo da Bolívia que, ansioso por livrar-se das dificuldades com a
administração do Acre, recorrera a Charles R. Flint, da Export Lumber11 e,
quando a notícia chegou ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em 7
de março de 1901, o chanceler Olinto de Magalhães telegrafou imediatamente a
Eduardo Lisboa, ministro do Brasil em La Paz, solicitando-lhe que apurasse a
veracidade da informação. O governo da Bolívia declarou que se tratava de boato
e que repelira outras propostas para o arrendamento do Acre, mas o
representante diplomático dos E.U.A, George H. Bridgeman, procurou Eduardo
Lisboa, preocupado com o alarma que a notícia provocara no Brasil, e tentou
convencêlo a não se opor aos entendimentos sobre o Acre12. "É crença geral de
que o governo dos E.U.A não é alheio aos esforços da Bolivian Company, não
somente por ser representante dela neste país (Bolívia) o ministro
norteamericano; mas também e sobretudo porque o secretário de Estado, Mr. Hay,
recomendou esta empresa ao próprio General (José Manuel) Pando, como este mesmo
o declarou na mensagem de abertura das Câmaras" o chanceler Olinto de Magalhães
escreveu a Assis Brasil13. Com efeito, o governo dos E.U.A não estava alheio e
o fato foi que, em 11 de junho de 1901, Felix Avelino Aramayo, representante do
governo da Bolívia na Grã-Bretanha, e Frederick Willingford Withridge, em nome
do grupo angloamericano, assinaram, em Londres, o protocolo pelo qual o Acre
passaria, pelo prazo de 30 anos, à administração do Bolivian Syndicate, do qual
W. E. Roosevelt, primo de Theodore Roosevelt, vice-presidente dos E.U.A,
aparecia como um dos seus sócios. Esse protocolo afigurou-se ao Brasil
inquietante, na medida em que transferia para o Bolivian Syndicate, uma espécie
de companhia colonial privilegiada, umachartered company, como as existentes na
África14, a plenitude do governo civil do Acre, com direitos soberanos, entre
os quais o de manter polícia e equipar uma força armada ou barcos de guerra,
para a defesa dos rios ou conservação da ordem interna15.
A concessão do Acre ao Bolivian Syndicate, que congregava as firmas Cary &
Withridge, United States Rubber Company e Export Lumber16, desencadeou uma
avalancha de protestos no Brasil, pois, entregava uma vastíssima área,
dominando grande parte do alto Amazonas, a "homens de negócios dos E.U.A, tão
suspeitos na época a todo o continente pelas tendências imperialistas de sua
política do big stick e do dólar", como José Maria Bello observou17.O Jornal do
Brasil acusou o governo de Campos Sales de não prestar qualquer socorro aos
brasileiros do Acre e não poupou os E.U.A, apresentando a figura de Tio Sam em
todas as caricaturas, uma das quais como professor que erguia a palmatória
contra a Bolívia e perguntava: "De quem é o Acre, menina? Diga isso bem alto
para ser ouvido até no Brasil". A Bolívia, representada por uma aluna,
respondia com terror: "Mas estou farta de dizer... O Acre é de Vossa Senhoria,
Sr. Mestre"18. Porém, ao contrário do que o Jornal do Brasil supunha, a
chancelaria brasileira não se descuidara do problema. O ministro das Relações
Exteriores, Olinto de Magalhães informou a Assis Brasil sobre o interesse do
ministro americano em La Paz, George H. Bridgeman, na consecução do contrato
com o Bolivian Syndicate e pediulhe que sondasse a posição do governo de
Washington. Hay, com quem Assis Brasil se entrevistara no dia 15 de maio de
1902, disse que os E.U.A jamais apoiariam qualquer ofensa à soberania do Brasil
e que ele recomendara o Bolivian Syndicate ao ministro americano em La Paz, de
modo genérico, sem qualquer caráter oficial, atendendo a uma solicitação dos
interessados no arrendamento19. O Subsecretário de Estado, David J. HilI,
também assegurou que os E.U.A não interviriam na questão. Contudo, Assis Brasil
percebera que, embora a situação, em Washington, ainda fosse favorável ao
Brasil, poderosos interesses estavam em ação e qualquer mudança desagradável
poderia ocorrer, pois, os homens do Bolivian Syndicate especulavam com a
linguagem agressiva de muitos jornais brasileiros para irritar o Departamento
de Estado20. Realmente, a mudança desagradável ocorreu. O governo da Bolívia
pediu a intervenção dos E.U.A, alegando que não tinha força para sustentar o
contrato com o Bolivian Syndicate. Hay decidiu apoiálo. Telegrafou a Bryan,
ministro no Rio de Janeiro, instruindoo para que defendesse os "interesses de
inocentes americanos"21 e justificou sua atitude, em audiência concedida a
Assis Brasil, argumentando que os americanos entraram no negócio "perfeitamente
inocentes" e contavam com o cumprimento do contrato pela Bolívia, mas o Brasil,
por meio de sérias ameaças, tentava impedilo, o que "agradável" não era para os
E.U.A22. Hay também declarou que não via perigo no estabelecimento de chartered
companies na América do Sul e que o Brasil não devia recear que os E.U.A a
invadissem, através do Acre, pois, esse não era o seu propósito. Contudo, ao
reiterar que o governo de Washington nada tinha com o Bolivian Syndicate, não
apenas ressalvou que ao Departamento de Estado cumpria examinar se o
procedimento do Brasil não atentava contra "inocentes interesses de cidadãos
americanos", uma vez que estes reclamavam a sua assistência23, como reclamou
contra a decisão do presidente Campos Sales de fechar o Amazonas e seus
afluentes às exportações da Bolívia e retirar do Congresso o Tratado de
Comércio e Navegação, que com ela celebrara24.
O ministro Assis Brasil saiu do Departamento de Estado bastante deprimido e
percebeu que John Hay estava sob poderosas influências, talvez do próprio
Theodore Roosevelt, que assumira a presidência dos E.U.A em virtude do
assassinato de McKinley (6 de setembro de 1901), e informou ao Itamaraty:
"Os homens de dinheiro podem muito neste país; e os do Sindicato o são; eles
conseguiram (provavelmente do presidente) que ao menos uma pressão moral fosse
exercida sobre o Brasil. A grande questão desses homens não é tanto de levar
adiante a empresa como de ganhar dinheiro"25.
A Bolívia, como Hay salientara, era pobre. Não podia pagar indenização. O
negócio, por conseguinte, consistia em extorquir do Brasil, conforme a
avaliação do ministro Assis Brasil que, inseguro quanto à promessa feita pelo
secretário de Estado de que os E.U.A não tentariam pressionar materialmente o
Brasil, advertiu o chanceler Olinto de Magalhães que "os homens respeitam tão
pouco o que dizem, quando são poderosos, que o fraco não pode fiarse,
absolutamente, da palavra deles"26. Porém, enquanto as gestões diplomáticas
prosseguiam, a luta no Acre reacendeu-se com um novo levante armado comandado
por José Plácido de Castro que, ao saber da notícia do arrendamento do Acre ao
Bolivian Syndicate, tratou de organizá-lo, com o respaldo dos proprietários de
seringais e do governo do Amazonas, e o desencadeou em 6 de agosto de agosto de
1902, com um ataque à guarnição militar da Bolívia, acantonada às margens do
rio Xapuri, um afluente do Acre. Dentro desse contexto, em que a questão do
Bolivian Syndicate atingia o clímax, foi que José Maria da Silva Paranhos,
barão do Rio Branco, assumiu em 3 de dezembro de 1902, o Ministério das
Relações Exteriores, nomeado por Francisco de Paula Rodrigues Alves, que tomara
posse na presidência do Brasil. "Patriota e nacionalista sincero", como José
Maria Bello o definiu27, "robusto de alma e de corpo, oportunista sagaz,
desdenhoso dos idealismos declamatórios", ele modificou imediatamente a
orientação até então seguida pelo Brasil. Instruiu a Legação do Brasil em
Washington para que contratasse o advogado John Basset Moore e equacionou como
diplomata e político o problema do Acre, que os antigos chanceleres ' Carlos de
Carvalho (1895), Dionísio Cerqueira (1898) e Olinto de Magalhães (1899)
trataram pelo aspecto geográfico, reconhecendo o direito da Bolívia ao
território. Rio Branco decidiu assim interpretar o Tratado de 1867, de acordo
com a letra, ao defender como fronteira a linha leste-oeste, nele estipulada e
estabelecida no paralelo 10° 20'28, e não oblíqua ao Equador, como seus
antecessores admitiram, e considerou o território do Acre litigioso, tanto com
relação ao Brasil quanto com o Peru, país com o qual a própria Bolívia acabara
de firmar um tratado para o submeter à arbitragem da Argentina. Em outras
palavras, Rio Branco passou a reivindicar aquela região para o Brasil e a
situação complicou-se.
No início de 1903, a guerra prevista desde que o Brasil vedara à Bolívia a
navegação no Amazonas, impedindo qualquer tentativa do Bolivian Syndicate de
instalar-se no Acre, afigurou-se inevitável e próxima. Contudo, o propósito de
Rio Branco fora compelir a Bolívia a negociar e, em tais circunstâncias,
ofereceu-lhe a compra do Acre pelo Brasil, que assumiria o compromisso de
entender-se com o Bolivian Syndicate, ou a permuta de territórios29. A Bolívia
rechaçou ambas as propostas. O barão N. M. Rothschild, agente financeiro do
Brasil na Grã-Bretanha, procurou então intermediar uma solução pacífica para o
dissídio e promover negociações diretas com o Bolivian Syndicate, do qual um
dos sócios era August Belmont, seu representante nos E.U.A e provavelmente seu
filho bastardo ou de algum outro membro de sua família30. Em telegrama ao
presidente Rodrigues Alves, datado de 26 de janeiro de 1903, ele propôs que o
Brasil entregasse a questão ao arbitramento da Grã Bretanha, tal como a
Argentina o fizera em seu litígio com o Chile31. Dois dias depois, Rothschild
voltou a telegrafar-lhe, transmitindo-lhe mensagem recebida dos E.U.A sobre a
intenção do Brasil de pagar indenização ao Bolivian Syndicate e que este, se
ela fosse adequada, estaria disposto a rescindir o contrato com a Bolívia e
tudo fazer para manter a paz32. Porém, ademais da informação de que o governo
da Bolívia pedira os bons ofícios dos E.U.A, a mensagem, que Rothschild
transmitira, insinuou certa ameaça, ao participar que o Bolivian Syndicate
enviara ao Acre um representante, que fazia parte do governo do presidente
Theodore Roosevelt, ressaltando que a situação poderia tornar-se delicada nos
E.U.A, se qualquer acidente lhe acontecesse ou hostilidades irrompessem contra
ele33. De fato, o governo da Bolívia solicitara a intervenção ou mediação dos
E.U.A, mas John Hay, negando-se a tomar qualquer das iniciativas, reiterou
apenas a disposição de amparar os direitos dos cidadãos norte-americanos, o que
deu ao ministro Assis Brasil a impressão de que ele (ou talvez o presidente
Theodore Roosevelt) tomara sérios compromissos com os interessados no Bolivian
Syndicate, pois, os considerava "pessoas da maior distinção" e julgava "muito
natural que os países sul-americanos partilhassem a sua soberania", como a
Bolívia o fizera34. Rio Branco, com base possivelmente nas informações de Assis
Brasil, posteriormente, telegrafou a Rothschild, para desmentir a notícia
"sobre irritação do governo americano e propósito de intervir para sustentar o
Syndicate", cujos sócios, "querendo obter de nós uma indenização que não podiam
obter da Bolívia, inventaram esse perigo de guerra com os E.U.A"35. "Washington
foi sempre o principal centro das intrigas e dos pedidos de intervenção contra
o Brasil por parte de alguns dos nossos vizinhos, rivais permanentes ou
adversários de ocasião" ' Rio Branco certa vez escreveu, acrescentando que, em
1903 e 1904, "no período agudo de nossas dissidências com a Bolívia e o Peru,
lá se andou também procurando promover intervenções e fazendo oferecimentos
tentadores"36, mas, segundo ele próprio informou a Rothschild, o governo norte-
americano recusou "peremptoriamente a intervenção" que a Legação da Bolívia e o
Syndicate lhe pediram, em janeiro de 1903, "e foi por ver que não podiam contar
com esse apoio que ambos começaram a ceder"37.
Com efeito, a Bolívia começara a ceder. Aceitou a proposta de Rothschild no
sentido de que a questão do Acre fosse submetida ao arbitramento da Grã-
Bretanha38, mas o Brasil esquivou-se de comprometer-se com tal alternativa. Rio
Branco temia o arbitramento por prever que o Brasil, depois de 36 anos de
entendimento de que o Acre pertencia à Bolívia39, seria derrotado e por esta
razão desejava alcançar um acordo direto com o governo de La Paz, embora
oneroso, a fim de obter a cessão de todo o território ocupado por brasileiros,
inclusive uma faixa ao sul do paralelo de 10° 20'40. Ao aceitar tal diretriz, o
presidente Rodrigues Alves, sem repelir abertamente a proposta do arbitramento,
respondeu a Rothschild com uma evasiva. Agradeceu o telegrama e apenas lhe
comunicou que o Brasil e a Bolívia estavam a assentar as bases para um acordo
razoável sobre a questão das fronteiras41. Contudo, a pressão continuou para
que ele concordasse em submeter o litígio ao arbitramento da Grã-Bretanha. Ao
lamentar que sua proposta não houvesse impressionado o presidente Rodrigues
Alves, Rothschild ponderou-lhe que seria, financeira e politicamente,
prejudicial para o Brasil a continuidade dos rumores espalhados pela imprensa
de que ele desejava fazer guerra à Bolívia, a despeito de que o recurso à
arbitragem poderia dar uma solução fácil para aquela dificuldade42 e insistiu
no sentido de que ele disse que o Brasil estava preparado para aceitar a
arbitramento, caso as negociações diretas não alcançassem um resultado
satisfatório43. Em outro telegrama, após manifestar a esperança de que as
negociações bilaterais tornassem o arbitramento desnecessário, comunicou a
Rodrigues Alves que o Bolivian Syndicate reclamava uma indenização de US$ 1
milhão e que "nossos amigos americanos consideram muito importante que o
governo de Vossa Excelência acerte rapidamente este assunto com o Syndicate"44.
Ao mesmo tempo solicitou-lhe que informasse o montante que o Brasil se dispunha
a pagar e lhe desse autonomia "para fechar o negócio rapidamente, preservados
os interesses do seu país"45. Decerto, foi alguma informação sobre a
precariedade da situação em que as forças bolivianas se encontravam, cercadas
em Puerto Alonso pelos brasileiros, sob o comando de Plácido de Castro, que
determinou a pressa de Rothschild e seus "amigos americanos" em resolver a
questão o mais pronto possível, uma vez que o Bolivian Syndicate não conseguira
e não podia efetivar o empreendimento, inclusive porque o Brasil fechara o
Amazonas à navegação e perseverava em sua atitude, bloqueando o trânsito para a
Bolívia, a despeito dos protestos dos E.U.A, Grã-Bretanha, França e Alemanha .
A crise entre o Brasil e a Bolívia, entretanto, agravou-se no início de
fevereiro. O general José Manuel Pando, presidente da Bolívia, saiu de La Paz e
marchou com suas tropas para o Acre, a fim de sufocar o levante de Plácido de
Castro, qualificado pelo cônsul-geral dos E.U.A como "ato de pirataria",
dirigido pelos políticos e especuladores de Manaus e executado pela "mais vil
espécie de aventureiros e facínoras (cut-throats), com a assistência do governo
do Brasil46. Se ele invadisse o Acre e conseguisse dominar os insurgentes, um
movimento incoercível de opinião, dentro do Brasil, tornaria a guerra
inevitável. O barão de Rio Branco, que antes rejeitara a proposta de
indenização feita sem anuência por Assis Brasil a Frederick Willingford
Withridge, representante do Syndicate, aconselhou então o presidente Rodrigues
Alves a renová-la, a fim de desinteressar o Bolivian Syndicate porque, variando
de política, recomendara, naquelas circunstâncias, a ocupação militar de parte
do Acre, para ter esse trunfo nas negociações, e "desembaraçar a questão
diplomática de suas intrigas e perturbações" que poderiam através de uma
campanha da imprensa abalar a opinião nos E.U.A47. Rio Branco não desejava a
guerra, mas sabia que para a evitar, necessário seria preparar-se para fazê-la.
Si vis pacem, para bellum. Na verdade, ele não queria romper as relações do
Brasil com a Bolívia e continuava disposto a negociar um "acordo honroso e
satisfatório" ' conforme, em 3 de fevereiro de 1903, instruiu o ministro
Eduardo Lisboa para que comunicasse ao governo de La Paz, mas advertindo-o de
que as tropas bolivianas, que se dirigiam para o Acre, não deviam ultrapassar o
paralelo de 10° 20'48. "O presidente Pando entendeu que é possível negociar
marchando com tropas para o Norte. Nós negociaremos também fazendo adiantar
tropas para o Sul" ' Rio Branco escreveu a Eduardo Lisboa49. Com efeito, o
presidente Rodrigues Alves ordenou aos ministros da Guerra e da Marinha a
mobilização dos seus efetivos visando à ocupação militar do Acre. Uma brigada,
constituída pelos corpos aquartelados no 1°, 2° e 3° distritos militares,
marchou pelo Norte, sob o comando do general Olímpio da Silveira, e outra
seguiu pelo Sul, sob o comando do general João César de Sampaio, com o objetivo
de ocupar a região litigiosa até o paralelo de 10° 20', defender os brasileiros
e manter a ordem50. Ao mesmo tempo, o 16° Batalhão de Infantaria da Bahia, e o
19° do Rio Grande do Sul foram despachados para reforçar a fronteira do Mato
Grosso com a Bolívia, enquanto o 27° e o 40° Batalhões de Infantaria de
Pernambuco, bem como o 33° de Alagoas, o 17°, 31° e 32° Batalhões de
Infantaria, estacionados no Rio Grande do Sul, dirigiram-se para Manaus51. No
dia 5 de fevereiro de 1903, o governo brasileiro, antes de saber que a
guarnição boliviana se rendera, em 24 de janeiro, depois de seis meses de
assédio e de nove dias de ataque pelas forças de Plácido de Castro, ordenou que
a divisão naval do Norte, composta do encouraçado Floriano, do cruzador-
torpedeiro Tupi e do caça-torpedeiro Gustavo Sampaio seguisse para Puerto
Alonso, sob o comando do contra-almirante Alexandrino de Alencar. Como o
governo de La Paz insistisse no desarmamento dos insurrectos e as discussões
prosseguissem sem qualquer resultado, ele instruiu o ministro Eduardo Lisboa
que exigisse uma solução dentro do prazo de 48 horas para as propostas
apresentadas pelo Brasil. Estes representavam, diplomaticamente, os termos de
um ultimatum, encapando a ameaça de guerra, ou seja, a ultima ratio regum. A
vitória de Plácido de Castro, porém, que fizera cerca de 300 prisioneiros e
remetera-os para Manaus, concorreu para mostrar aos E.U.A a impossibilidade de
levar adiante o arrendamento do território. O Bolivian Syndicate, que pleiteara
uma indenização de US 1 milhão, manifestou-se pronto para concordar com o
cancelamento do contrato por uma quantia menor, a fim de evitar uma disastrous
war, caso rapidamente se pudesse resolver o problema 52. O problema, em
verdade, já estava militarmente resolvido, no campo de batalha, e o general
Pando viu-se compelido a aceitar o entendimento, ao perceber que não podia
manter nenhum controle sobre o Acre e que era melhor aceitar as compensações,
que o Brasil propunha em troca da região litigiosa, do que enfrentar uma
batalha diplomática com o Peru, que também a reclamava. Diante de tal situação,
a Bolívia, disposta já até mesmo a afastar o Bolivian Syndicate, sem qualquer
indenização, sob o pretexto de que ele não organizara o empreendimento dentro
do prazo, que expirava em 6 de março de 1903, terminou por concordar com que o
Brasil ocupasse e administrasse aquela região até a solução final do litígio.
Entrementes, o Brasil deu instruções a Rothschild para que negociasse com o
Bolivian Syndicate o cancelamento do contrato, oferecendo-lhe a quantia de £
100.000 (cem mil libras esterlinas), o equivalente, na época, a US$ 500.000,
mas podendo aumentá-la para £ 125.000, ou seja, US$ 625.000, caso não pudesse
chegar ao acordo em melhores bases53. "Estamos de fato bastante satisfeitos por
ter o governo brasileiro mostrado tal espírito conciliador e conclamamos os
senhores a fazerem o possível para convencer seus amigos a serem moderados
tanto quanto possível e assim contribuírem para um acordo satisfatório e
reverter o que poderia transformar-se em uma situação mais séria e complicada"
' N. M. Rothschild recomendou a Belmont54.
Rothschild só podia realmente estar bastante satisfeito. A questão do Acre
convertera-se em excelente negócio, pois à sua casa bancária caberia fornecer
ao Brasil os créditos necessários para toda a transação. O Bolivian Syndicate,
cuja posição se enfraquecera dado que não conseguira efetivar o empreendimento
e Plácido de Castro militarmente dominara o Acre, reduziu para metade sua
pretensão e Rio Branco aquiesceu em pagar as £ 114 000, ou seja, £ 110.000 (o
equivalente a US$ 550.000) para os sócios de Whitridge no Bolivian Syndicate, £
1.000 para o advogado, £ 3.000 para August Belmont, o intermediário das
negociações55. Todavia, Assis Brasil, que protestara contra a "escabrosidade"
de estar um primo do presidente Roosevelt prestigiando, como interessado, a
reclamação do Bolivian Syndicate56, ressentiu-se também com Rio Branco ao
descobrir que Belmont, sócio de Whitridge, era "agente dos agentes do Brasil em
Londres" e também se consultava com John Basset Moore, jurista americano,
contratado como advogado da Legação do Brasil em Washington57. "Doeume
reconhecer que o Sindicato zombava de meus esforços em favor do Brasil pelo
fato de estar nas mãos de um dos membros do mesmo Sindicato a real
representação dos nossos interesses" Assis Brasil escreveu a Rio Branco58. Com
efeito, quem negociou com o Bolivian Syndicate, por trás dos bastidores, foi
Rothschild, através de seu agente (filho bastardo, quiçá), também sócio do
mesmo Bolivian Syndicate. Em outras palavras, o verdadeiro representante do
Brasil nas negociações, Rothschild, era, ao mesmo tempo, acionista do Bolivian
Syndicate, através de August Belmont, que se encarregara dos entendimentos em
torno da indenização e tinha obviamente interesse em que ela fosse a mais alta
possível, a fim de ganhar dinheiro dos dois lados (além de sua parte na
indenização, como sócio, mais £ 3.000, como intermediário das negociações59). O
distrato, com que o Bolivian Syndicate ou, como era também conhecido, American
Syndicate, renunciou à concessão do Acre, foi assinado em 26 de fevereiro de
1903 e August Belmont mandou diretamente a Rothschild toda a documentação60.
Esse distrato apresentou sem dúvida alguma aspectos moralmente indefensáveis e
o ex-chanceler Olinto de Magalhães criticou-o, por considerar que o Brasil
comprara por mais de £ 100.000 uma concessão praticamente caduca, quando o
Bolivian Syndicate, àquela altura, já não mais tinha condições de organizar-se
no Acre até 6 de março de 1903, limite fixado no acordo firmado por Felix
Aramayo com Frederick W. Withridge61. Rio Branco talvez não tivesse
alternativa. A questão do Acre poderia tornar-se diplomaticamente complicada,
apesar de que o Bolivian Syndicate não conseguisse envolver outras potências,
como a Alemanha, a fim de dar-lhe dimensão internacional. Ela envolvia, porém,
o próprio Rothschild, agente financeiro e credor do Brasil, na Grã-Bretanha, e
o Peru que, inicialmente, apoiara a oposição do Brasil ao Bolivian Syndicate,
já se juntara à Argentina para pedir a interferência dos E.U.A. Em tais
circunstâncias, Rio Branco, empenhado em evitar de qualquer forma o recurso ao
arbitramento, preferiu naturalmente afastar, com aquela generosa recompensa, o
mais sério obstáculo a um entendimento direto com a Bolívia, que antes
rejeitara todas as suas propostas (compra do Acre, permuta por outros
territórios etc.) e já então se dispunha a negociar um modus vivendi, firmado
finalmente pelo chanceler Eliodoro Villazon, representando a Bolívia, e Eduardo
Lisboa, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Brasil, em 21 de
março de 1903, permitindo ao Brasil ocupar militarmente e administrar o
território situado a leste do rio Iaco, ao norte pela linha geodésica do marco
do Madeira à nascente do Javari, e ao sul pelo paralelo de 10° 20'62.
Juntamente com Rui Barbosa e o ministro Assis Brasil, o próprio Rio Branco
conduziu as conversações visando alcançar uma solução definitiva, mediante
acordo com a Bolívia, à qual ofereceu, em troca do território litigioso, o
montante de £ 2 milhões, em duas prestações, para a construção de vias que
facilitassem o escoamento de suas exportações pelo sistema fluvial do Amazonas
Com essa larga liberalidade Rui Barbosa não concordou e se afastou da
delegação, mas Rio Branco deste modo conseguiu quebrar a irredutibilidade dos
negociadores da Bolívia, o ministro Cláudio Pinilla e Fernando Guachalla. Em 18
de novembro de 1903, Brasil e Bolívia celebraram o Tratado de Petrópolis63,
mediante o qual o Brasil adquiriu cerca de 150.000 a 170.000 km2, permutando
por uma área de 3.100 a 3.200 km2 (cerca de 2.500 km2, excluindo a água) e £ 2
milhões, conforme o Tratado de 1867 permitia64. Tratava-se, em realidade, de
uma compra mal disfarçada. A N. M. Rothschild coube, mais uma vez, fazer um
excelente negócio, fornecendo à Bolívia, alguns meses depois, o adiantamento de
£ 1 milhão e debitando este montante na conta que o Brasil devia pagar, com os
respectivos juros65.
A questão do Acre, contudo, não se encerrou. O Peru, que havia menos de três
décadas perdera para o Chile, na Guerra do Pacífico (1879-1883), as províncias
de Tarapacá, Tacna e Arica, não se conformara com a redução do seu território
e, a reivindicar outrossim aquela região da Amazônia, pretendera participar das
negociações com a Bolívia, a fim de que houvesse uma solução tríplice. Rio
Branco não permitira. Em 11 de agosto de 1903, o ministro do Peru no Rio de
Janeiro, Herman Velarde, propôs que as questões de limites entre Brasil, Peru e
Bolívia fossem submetidas conjuntamente à decisão. Rio Branco também não
aceitou semelhante proposta. Embora o território disputado entre esses dois
países estivesse na posse dos brasileiros66, ele não queria lutar em duas
frentes, o que poderia gerar um impasse e tornar inevitável o recurso ao
arbitramento. Assim, somente depois de liquidar a questão com o Bolivian
Syndicate e assinar o Tratado de Petrópolis, Rio Branco dispôs-se a iniciar as
conversações com o Peru cujas pretensões não se restringiam à área, que objeto
fora do Tratado de Petrópolis, por ele considerado lesivo aos seus direitos
territoriais. O Peru reclamava igualmente os territórios que a Bolívia cedera
ao Brasil, com o Tratado de 1867, e começara entre fins de 1902 e meados de
1903 a apoderar-se manu militari daquelas regiões em litígio, habitadas quase
que exclusivamente por brasileiros, por crer que tais invasões e a tomada de
posse pela violência modificariam a situação e lhe favoreceriam em caso de
recurso ao arbitramento. Seu objetivo consistiu em dominar o alto Juruá.
Primeiramente, instalou alguns pontos de apoio ao seu comércio e à extração do
caucho. Em março de 1903, uma força do exército peruano tentou reconquistar a
posição perdida na Boca do Chandless e atacou os brasileiros no barracão do
Funil e em várias outras propriedades ao longo do Purus. Prisões, saques,
violências e mortes resultaram dessa excursão que visava reconquistar o posto
de Chandless, conseguir víveres e saber o motivo pelo qual se impedia a
passagem de embarcações com gêneros e mercadorias para os caucheiros67 peruanos
do Alto-Purus68. Rio Branco recusou-se então a entender-se com o Peru enquanto
seus destacamentos militares não se retirassem do alto Juruá e do alto Purus,
por não ser tolerável que, durante o litígio levantado, autoridades peruanas
governassem populações brasileiras lá assentadas69. Diante de tal situação, em
que conflitos armados se repetiam, o presidente Rodrigues Alves ordenou que o
general Luiz Antônio de Medeiros, comandante do 1° Distrito Militar em Manaus,
organizasse dois destacamentos e os deslocasse para o Alto-Juruá e o Alto-
Purus, com o objetivo de manter a soberania brasileira sobre essas regiões. Ao
major Olímpio de Oliveira coube o comando da operação Alto-Purus, para onde os
navios Antônio Olinto e Sabiáforam despachados com cerca de 300 efetivos, em
princípio de maio, enquanto 225 soldados, de uma ala do 15° Batalhão de
Infantaria, partiam de Manaus, com armamento comum e dois canhões Krupp de
75mm, para o Alto-Juruá, sob o comando do tenente-coronel Cipriano Alcides. O
propósito do governo brasileiro era deflagrar represálias, caso o Peru não
quisesse evacuar aquelas regiões70. Por outro lado, o governo de Lima despachou
tropas para o Departamento de Loreto e novos excessos, praticados pelos
caucheiros e seus índios, ocorreram na fronteira entre os dois países. A essa
altura, depois que o general Luiz Antônio de Medeiros apreendeu carregamentos
de pólvora e espoletas no vapores ingleses Ucayalie Napo, procedentes de
Liverpool, o Brasil resolveu interditar todo o trânsito de armas e outros
petrechos de guerra, com destino ao Peru, pela via do Amazonas, e denunciou o
tratado de comércio existente entre os dois países71. As dificuldades entre o
Brasil e o Peru então recresceram e a crise assumiu, sob certos aspectos,
dimensão mais grave do que com a Bolívia. O Congresso do Peru autorizou o
governo a tomar um empréstimo de 12.000 contos para a compra de armamentos,
fato este que Rothschild comunicou ao ministro da Fazenda de Rodrigues Alves,
sugerindo outra vez que o Brasil devia solicitar a mediação da Grã-Bretanha
para acertar a questão da fronteira com aquele país, na região do Purus e
Juruá72. De fato, Rio Branco recebeu informação de Buenos Aires sobre grande
encomenda de canhões feita pelo Peru à empresa Krupp, da Alemanha, e instou o
ministro da Guerra, marechal Francisco de Paula Argollo, a tomar idêntica
medida, recomendando-lhe que concentrasse no Amazonas pelo menos 4.000 homens,
com os meios necessários para ocupar Iquitos, tomar as lanchas de guerra
peruanas e dominar Ucaiale, por onde passavam os reforços para o Alto-Juruá e o
Alto-Purus. Vários combates houve entre peruanos e brasileiros naquela região.
A guerra afigurou-se de tal modo iminente que o Brasil, além de obter a
simpatia da Bolívia e a promessa de apoio se o conflito irrompesse, negociou
secretamente um aliança com o Equador, país que também tinha com o Peru antiga
desavença por causa de uma questão de fronteiras73, firmando um pacto defensivo
em 4 de maio de 190474. Naquele mesmo tempo, a empresa de navegação Red Cross
Iquitos Steam Ship, para acautelar seus interesses, publicou nos jornais de
Liverpool um aviso, no qual anunciava que, devido à ameaça de rompimento das
hostilidades entre o Brasil e o Peru, ela se via obrigada a reter todos os
carregamentos de armas, cartuchos de pólvora, chumbo de munição e quaisquer
outras mercadorias que pudessem ser consideradas petrechos de guerra,
embarcadas no vapor Bolivar, a partir para Iquitos, em 4 de maio de maio de
190475. De fato, informe circulava de que o governo do Peru pretendia não
apenas permanecer no Alto-Purus e Alto-Juruá, mas também avançar pelo Baixo-
Juruá e ocupar várias cidades do Amazonas, inclusive Manaus76. As medidas
tomadas pelo governo brasileiro intimidaram, porém, as autoridades de Lima que,
imediatamente, instruíram o ministro Hernán Velarde no sentido de buscar uma
conciliação77 e, em 12 de julho de 1904, Brasil e Peru firmaram um modus
vivendi no Palácio do Itamaraty.
As relações entre o Brasil e o Peru, no entanto, não se normalizaram, de modo a
permitir que as negociações fluíssem, visando uma solução definitiva da
questão. Guilherme Seoane, o novo ministro plenipotenciário enviado pelo
governo de Lima, chegou ao Rio de Janeiro, com o espírito bastante prevenido
contra o Brasil, e um clima de desconfianças mútuas dificultou até mesmo a
execução do protocolo, que estabelecia o modus vivendi entre os dois países
naquela região. O propósito do Peru consistiu, na realidade, em criar uma
situação que tornasse o recurso à arbitragem inevitável e procurou o apoio
diplomático dos E.U.A. Os E.U.A até 1904 evitaram maior envolvimento nessa
controvérsia78, mas em 1905 noticiou-se que especuladores de Wall Street
procuravam formar um grupo, com o objetivo de obter do Peru concessão
semelhante à do Bolivian Syndicate. O ministro das Relações Exteriores do Peru,
Javier Prado y Ugarteche declarou que não hesitaria em fazer maiores concessões
aos E.U.A, até mesmo submeter-se ao seu protetorado, se tivesse de lutar contra
o Brasil79. Essas esperanças de que os E.U.A interviessem a seu favor
constituíram provavelmente um dos fatores que levaram o Peru a recalcitrar e as
discussões se estenderem até 1908. Sem elas, a questão de limites já estaria
resolvida desde 1904, o próprio Rio Branco admitiu, ao telegrafar a Joaquim
Nabuco, que fora designado embaixador do Brasil em Washington80, dizendo-lhe
que "o governo peruano é bem capaz de andar suplicando protetorado americano,
mas espero que o governo americano ache suficientes os protetorados de Cuba e
São Domingos"81. Rio Branco não escondeu sua irritação com os E.U.A e a Joaquim
Nabuco perguntou se, em Washington, os sentimentos de simpatia pelo Brasil,
manifestados em 1906 e 1907, ainda existiam ou se o Departamento de Estado
procurava tomar posição no Peru "para contrariar a política e os interesses das
maiores nações da América do Sul, já tratadas com tanta desconsideração"82.
Ressalvou então que o Brasil, após anexar o Acre, não ambicionava estender-se
por toda a Bacia do Amazonas, conforme o presidente Theodore Roosevelt certa
vez aconselhara, mas queria ter as mãos livres para resolver com seus vizinhos
as questões de fronteira ainda pendentes83. "Entendo que é de direito nosso
operar em política nessa parte do continente sem ter que pedir licença ou dar
explicações a esse governo (de Washington)" ' Rio Branco escreveu a Nabuco
salientando que "pelas provas tantas vezes dadas de amizade, temos o direito de
esperar que não se envolva ele para ajudar desafetos nossos nas questões em que
estejamos empenhados"84.
Os E.U.A efetivamente não se intrometeram no dissídio e o Peru, entre meados de
1907 e 1908, pareceu disposto a alcançar um entendimento, partindo para a via
de solicitar ao Brasil uma compensação financeira, tal como fora dada à
Bolívia. Rio Branco, porém, rechaçou qualquer acordo a esse preço, uma vez que,
diferentemente da Bolívia, o Peru não possuía título válido e definido e não
firmara com o Brasil nenhum tratado que lhe concedesse o mínimo direito sobre o
Acre. Apenas formulara um protesto que, segundo Euclides da Cunha, não passou
de um "murmúrio "vacilante e medroso de uma conjectura", dizendo que a Bolívia
cedera ao Brasil territórios que pueden ser de la propriedad del Peru85. "Que
pueden ser..." ' Euclides da Cunha repetiu, para ressaltar a "expressão anódina
de um interesse aleatório"86. Evidentemente, em tais condições, Rio Branco não
podia aceitar nenhum acordo que implicasse compensação financeira, e formulou
uma proposta, cedendo ao Peru uma área triangular considerável, formada pelos
rios Curanja, Santa Rosa e Purus. O governo de Lima, sob a presidência de
Augusto Legia e tendo Hernán Velarde como ministro das Relações Exteriores,
concordou com estas bases. Com data de 8 de setembro de 1909, o ministro Hernán
Velarde assinou sigilosamente com o barão do Rio Branco, no Palácio do
Itamaraty, o tratado que permitiu ao Brasil estender sua soberania sobre uma
superfície de 152.000 km2, cinco vezes maior do que a Bélgica e um pouco maior
do que a Inglaterra (com o País de Gales)87.
Notas
1 Despacho n. 40, Henry Merril Dering para Edward Grey, Petrópolis, 25.7.1906.
PRO-FO 371-13 Files 12910 ' 43099.
2 Telegrama de 30.5.1899 e ofício de 31.5.1899, Joaquim Francisco de Assis
Brasil ao ministro de Estado Olintho de Magalhães, Washington ' AHI-233/4/12.
3 Ofício, 31.5.1899, Assis Brasil a Magalhães. Washington ' AHI ' 233/4/12.
4 Tocantins, 1979, v. I, pp. 258-259. Meira, 1973, pp. 20-21.
5 Uti possidetis, ita possideatis: como possuís, continuais possuindo.
6 O nome Acre constitui uma corruptela da palavra erakiry (umakürü), usada
pelos indígenas ipurinãs, que assim designavam a região por eles habitadas, no
vale do Purus. Castello Branco, 1960, p. 6.
7 American Commerce, US Bureau of Statistic, Washington, 1903, p. 716.
8 Tocantins, 1979, v. I, p. 209.
9 Ofício de Olinto de Magalhães à Legação em Washington, 5.9.1900. AHI-235/2/5.
10 Ofício de Assis Brasil a Olinto de Magalhães, Washington, 1.12.1900. AHI-
234/1/1.
11 Ofício de 30.4.1902, para a Legação do Brasil em Washington. AHI-235/2/5.
Despacho de Charles Page Bryan, ministro dos E.U.A, para John Hay, secretário
de Estado, Petrópolis, 30.4.1902, in Papers relating to the Foreign Relations
of the United States ' 1902, Washington, p. 105.
12 Ofício para a Legação em Washington, 30.4.1902. AHI-235/2/5.
13 Ibid.
14 Na África, a Grã-Bretanha mantinha a National Africa Company, a British
Africa Company, a British Sozh Africa Chartered Company e a North Africa
Company, todas dotadas de direitos administrativos, funcionando como se estados
soberanos fossem.
15 Hill, 1932, p. 287. Tocantins, 1979, vol. II, pp. 24, 31-33, 39-41.
16 O Bolivian Syndicate foi formado com recursos fornecidos pela Central Trust
Co., Varmilye Co., Metropolitan Life Insurance Co., Morton Bliss & Co.,
Brown Brothers & Co., bem como por K. Twombly, S. W. Cross, Adrian Iselin
Jr., E. Emelen Roosevelt, bem como do Lord Avebury, do Banco Lubbock, e August
Belmontt, representante Casa Rothshild.
17 Bello, 1956, p. 251.
18 Jornal do Brasil, 15.7.1902.
19 Ofício de Assis Brasil a Magalhães, Washington, 19.5.1902, anexo ao ofício
n° 1, reservado, da 2ª. Seção, Legaç0Òo do Brasil em Washington, 19.5.1902.
Cópia (Registro de conferências, fl. N° 10 ' Conferência em 16.5.1902, com o
secretário de Estado, John Hay). AHI-234/1/1.
20 Ofício de Assis Brasil a Magalhães e anexo, Washington, 3.7.1902. Ibid.
21 Ofício de Assis Brasil a Magalhães, Washington, 31.7.1902. Anexo n° 1, cópia
n° 1, Conferência com John Hay em 17.7.1902.
22 Ibid.
23 Ibid.
24 Ibid.
25 Anexo n° 2 ao ofício n° 4, reservado, 2ª. Seção, Assis Brasil a Magalhães,
Washington, 31.7.1902, cópia.
26 Ibid.
27 Bello, 1956, p. 249.
28 Tocantins, 1979, vol. II, pp. 198-199.
29 Lins, 1965, pp. 279-280.
30 August Belmontt chegou aos E.U.A em 1837. Seu verdadeiro nome era August
Schönberg, que logo mudou para August Belmontt. Muito rico, mas rejeitado pela
aristocracia sefardita de Nova Iorque, aproximou-se da sociedade não-judaica,
casando-se com Carolyn Perry, filha do comodoro Matthew Perry. Havia rumores
sobre ser um bastardo de algum Rothschild, porque estes, quando viajavam com
suas amantes, usavam o Herr und Frau Schönberg. Apesar de S. Birmingham
considerar como quase certa essa filiação, não há comprovação. Birmingham,
1967, pp. 46-47; Birmingham, 1990, pp. 216-220.
31 Telegrama para o presidente do Brasil, 26.1.1903, (minuta, s/a). RAL XI/4/76
19030126.
32 Telegrama para o presidente do Brasil, 28.1.1903, (minuta, s/a). RAL XI/4/76
19030128.
33 Ibid.
34 Ofício de Assis Brasil a Rio Branco, Washington, 4.2.1903. AHI-234/1/2.
35 Telegrama de Rio Branco para Rothschild, Petrópolis, 28.2.1903. RAL XI/4/76
19030228.
36 Rio Branco, 1930, pp. 33.
37 Telegrama de Rio Branco para Rothschild, Petrópolis, 28.2.1903. RAL XI/4/76
19030228.
38 Telegrama de Rothschild para o presidente do Brasil, 2.3.1903. Anexos: cópia
da nota de Legação da Bolívia, a) F. Avelino Aramayo; telegrama de Mens Fred
Huth Co. RAL XI/4/76 19030202.
39 Carvalho, 1959, p. 226.
40 Viana Filho, 1959, pp. 339-342.
41 Cópia da carta de Fred. Huth & Co a Felix A. Aramayo, enviado
extraordinário e ministro plenipotenciários da Bolívia, Londres, 2.2.1903:
Anexos: cópias dos telegramas do presidente Rodrigues Alves a Rothschild. RAL
XI/4/76 19030202.
42 Telegrama de Rothschild para Rodrigues Alves, 4.2.1903 (minuta, s/a). RAL
XI/4/76 19030204.
43 Ibid.
44 Telegrama de Rothschild para Rodrigues Alves, 6.2.1903 (minuta, s/a). RAL
XI/4/76 19030206.
45 Telegrama de Rothschild para Rodrigues Alves, 6.2.1903. RAL XI/4/76
19030206.
46 Despacho de Eugene Seeger para o secretário de Estado, 30.1.1903, apud Hill,
1932, p. 288.
47 Telegrama de Rio Branco a Rothschild, Petrópolis, 28.2.1903. RAL XI/4/76
19030228.
48 Viana Filho, 1959, p. 332.
49 Lins, 1965, p. 282. Viana Filho, 1959, p. 332.
50 Telegrama de Rio Branco a Assis Brasil, 24.1.1903, e ofício de 4.2.1903;
telegrama s/d, recebido em 29.1.1903, Rio Branco a Assis Brasil, e ofício de
4.2.1903. AHI-234/1/2. Lins, 1965, pp. 281-282. Tocantins, 1979, vol. II, pp.
233. Meira, 1973, p. 116. Moniz Bandeira, 1973, p. 162.
51 Lins, 1965, pp. 281-282. Tocantins, 1979, vol. II, pp. 233-234.
52 Carta de August Belmontt a N.M. Rothschild & Sons, Nova Iorque,
6.2.1903. RAL II/55 b/14 19030106.
53 Minuta de telegrama N. M. Rothschild para August Belmontt, Londres,
11.2.1903. RAL XI/4/76 19030211.
54 Ibid.
55 Correspondência de August Belmontt para N. M. Rothschild & Sons, Nova
Iorque, 13.2.1903. RAL II/55B/14 19030113.
56 Telegramas da Secretaria de Estado para a Legação em Washington, 8.2.1903 e
18.2.1903; telegrama de Assis Brasil a Rio Branco, Washington, 9.2.1903; ofício
de Assis Brasil a Rio Branco, Washington, 19.2.1903. AHI-234/1/2.
57 Carta de Assis Brasil a Rio Branco, Nova Iorque, 18.2.1903. Ibid.
58 Ibid.
59 Telegrama de Rothschild para o presidente do Brasil (minuta), Londres,
16.2.1903. RAL XI/4/76 19030216. Correspondência de August Belmont para N. M.
Rothschild & Sons, private, Nova Iorque, 20.2.1903. RAL II/55B/14 1903120.
60 Correspondência de August Belmont para N. M. Rothschild, Nova Iorque,
10.3.1903. RAL II55b/14 19030310.
61 Melo Franco, 1973, vol. I, p. 259.
62 Vide íntegra do protocolo em Tocantins, 1979, vol. II, pp. 230-231.
63 Sobre o tema vide Tocantins, 1979, pp. 253-274.
64 Id., ibid., p. 274.
65 Minutas (cópias) de telegramas para o ministro da Fazenda do Brasil,
7.6.1904 e 9.6.1904. RAL XI/8/4.
66 Carta de Estanislau Zeballos, então ministro das Relações Exteriores da
Argentina, a Roque Sáenz Peña, Buenos Aires, 15.4.1907. AGN-A, Coleção Celesia,
Arquivo Roque Sáenz Peña ' 7-22-2-14, fl. 38-40.
67 Duas espécies de borracha ' o caucho e a borracha das seringueiras ' eram
exploradas naquela região da Amazônia. A exploração do caucho devastava a
floresta, pois os caucheiros, ao cortar as árvores, inutilizavam-nas, o que
tornava seu trabalho nômade por necessidade; a exploração da goma elástica,
extraída das seringueiras, consistia em sangrar as árvores, sem prejudicá-las,
constituindo assim trabalho de populações sedentárias.
68 Tocantins, 1979, vol. II, p. 360.
69 Castello Branco, João Maria Moreira Brandão ' "Peruanos na região acreana",
in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 244, julho-
setembro 1959, p. 159.
70 Tocantins, 1979, vol. II, p. 362.
71 Castello Branco, João Maria Moreira Brandão ' "Peruanos na região acreana",
in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 244, julho-
setembro 1959, pp. 164-165.
72 Cópia do telegrama de Rothschild ao ministro da Fazenda no Rio de Janeiro,
4.5.1904. RAL XI/8/4.
73 O Peru, em 1851, firmou um Tratado de Limites e Navegação, no qual o Brasil
lhe reconhecia o direito a 503.430 km2 pertencentes ao Equador, em troca de seu
apoio à doutrina de que o tráfego de embarcações e o comércio na Bacia do
Amazonas constituíam privilégio comum e exclusivo dos países ribeirinhos.
Cunha, 1975, pp. 124-135.
74 Tocantins, 1979, vol. II, pp. 358-357.
75 Id., ibid., vol. II, p. 358.
76 Notícias divulgadas pelo Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, em
10.5.1904, apud, Tocantins, 1979, vol. II, pp. 375-376. Vide também Castello
Branco, João Maria Moreira Brandão ' "Peruanos na região acreana", in Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 244, julho-setembro 1959,
p. 208.
77 Id., ibid., vol. II, p. 362.
78 Tocantins, 1979, vol. II, pp. 369-373.
79 Despacho de Rio Branco para Alfredo de Moraes Gomes Ferreira, ministro do
Brasilem Washington, 31.1.1905. AHI-235/2/1.
80 Em 1905, Rio Branco elevou a Legação do Brasil em Washington ao nível de
embaixada e para a chefia do posto enviou Joaquim Nabuco.
81 Telegrama de Rio Branco a Joaquim Nabuco, 10.1.1908. AHI-235/4/1.
82 Ibid.
83 Ibid.
84 Ibid.
85 Cunha, 1975, p. 112.
86 Id., ibid., p. 112.
87 Carvalho, 1959, p. 233. Tocantins, 1979, vol. II, p. 438.