Metodologias de inspeção e ensaios para avaliação do estado de conservação de
estruturas afetadas por corrosão de armaduras
1. INTRODUÇãO
A corrosão das armaduras é o principal mecanismo de deterioração das estruturas
de betão armado e pré-esforçado. Afeta, inclusive, as estruturas reparadas mais
do que seria expetável. Um estudo, algo abrangente, promovido pela rede
CONREPNET [1] concluiu que os desempenhos das reparações analisadas são
dececionantes: 20 % falharam em 5 anos; 55 % falharam em 10 anos e 90 %
falharam em 25 anos. O seu controlo é pois essencial para a satisfação das
exigências de durabilidade, de resistência e de funcionalidade.
Logo na fase do projeto da obra é fundamental conceber a estrutura e seus
componentes, adotando uma geometria regular, de modo a favorecer boas condições
de betonagem, optando por elementos com densidade de armaduras equilibrada,
adotando espessuras adequadas de recobrimento para a proteção dos varões, etc.
[2]. Também, a escolha dos tipos e quantidades de ligante do betão deve ser
cuidadosamente observada, bem como, claramente, especificados todos os
requisitos relacionados com os restantes materiais a empregar e a sua colocação
em obra, para que a sua execução seja eficazmente controlada.
O acompanhamento da evolução da corrosão das armaduras, ao longo do tempo,
pode, também, ser previsto logo na fase de elaboração do projeto através de um
plano de monitorização onde são definidos os parâmetros chave a monitorar como,
por exemplo, o potencial elétrico e a velocidade de corrosão das armaduras, a
carbonatação do betão, o teor de cloretos, a resistividade elétrica do betão, a
temperatura e a humidade.
O projeto deverá, também, incluir o programa de manutenção/conservação da obra,
onde devem constar a periodicidade das inspeções, quer as de rotina, quer as
mais completas, os ensaios a realizar, as medidas corretivas a implementar
quando se verificarem certos parâmetros previstos, bem como os prazos para a
substituição dos diversos componentes, quer os estruturais, quer os não
estruturais.
Descrevem-se, a seguir, metodologias de inspeção e ensaios em que se articulam
diferentes técnicas de diagnóstico, umas simples, outras mais sofisticadas, que
permitem a avaliar o estado de conservação da estrutura afetada por corrosão
das armaduras, focando-se, também, a importância da qualificação dos agentes
envolvidos.
2. FACTORES QUE CONDICIONAM A CORROSÃO DAS ARMADURAS
Vários fatores influenciam a despassivação do aço das armaduras [3]. Os
principais parâmetros que influenciam a evolução da corrosão das armaduras são
a espessura de betão de recobrimento das armaduras, a profundidade de
carbonatação do betão e o teor excessivo de cloretos do betão.
2.1. Recobrimento das armaduras
A proteção das armaduras é conferida, fundamentalmente, pelo betão de
recobrimento, que depende diretamente de 2 fatores, da espessura e da qualidade
do betão, ambos definidos regulamentarmente [4-6], função do tipo de elemento
estrutural (fundação, viga, pilar, parede ou laje) e do tipo de exposição
(ambientes seco, húmido, marítimo, etc.).
A qualidade do betão é controlada, ao nível do fabrico, fundamentalmente,
através da dosagem de ligante, da relação água/cimento e da classe de
resistência. Para se alcançar maior durabilidade do elemento estrutural, para
além da espessura de recobrimento mais adequada, o betão deverá ter, também,
uma dosagem rica em ligante, uma baixa relação água/cimento (fraca
permeabilidade) e, consequentemente, elevada resistência.
2.2. Carbonatação do betão
A carbonatação, reação natural do betão, é um dos agentes principais
responsáveis pela despassivação do aço (início da propagação da corrosão) [3].
Simplificadamente, resulta da reação do dióxido de carbono atmosférico, na
presença de água, com o hidróxido de cálcio, com formação de carbonato de
cálcio. A carbonatação, que vai progredindo da superfície para o interior da
secção (Fig. 1), provoca a diminuição do pH do betão para cerca de 8,5, valor
para o qual o filme de passivação do aço deixa de ser termodinamicamente
estável.
Figura 1
Avanço da frente de propagação da carbonatação do betão ao longo do tempo
(secção parcial dum elemento estrutural).
A progressão da frente de carbonatação depende fundamentalmente, da
permeabilidade do betão, tipo de ligante e das condições de exposição. Pode
ser, simplificadamente, traduzida pela fórmula:
em que: x - profundidade de carbonatação (mm).
k - constante (dependente da humidade e permeabilidade do betão).
t - idade do betão (anos).
2.3. Teor de cloretos no betão
Outro agente, principal, catalisador da corrosão das armaduras, inclusive com
maior severidade, é o teor elevado de cloretos ao nível dos varões. A sua
presença surge por incorporação no fabrico do cimento, normalmente, controlada,
ou externamente, por contaminação do betão, normalmente associado a ambientes
marítimos [3]. Nas estruturas marítimas as partes mais afetadas pelos cloretos
são as localizadas na zona de maré, conforme ilustra a fig. 2.
Figura 2
Severidade da corrosão influenciada por cloretos.
A velocidade da progressão da contaminação do betão por cloretos, provenientes
do exterior da secção, segue, tal como a carbonatação, uma lei função da raiz
quadrada do tempo, também, dependente duma constante.
A regulamentação nacional [6], define limites para os quais o risco de corrosão
é reduzido, sendo, em geral, de 0,4 % da massa de cimento
no caso de armaduras ordinárias e 0,2 % no caso das armaduras de pré-esforço.
2.4. Outros fatores
Referem-se outros fatores que condicionam a corrosão das armaduras, que
interligam com os atrás indicados, como por exemplo, a natureza e a resistência
do aço (aço de pré-esforço mais sensível à corrosão), o diâmetro dos varões
(menor diâmetro é mais sensível à corrosão), a qualidade do projeto e da
execução da estrutura e ausência ou inadequada manutenção/conservação.
3. AVALIAÇÃO SUMÁRIA DA CORROSÃO DAS ARMADURAS
A parte 9 da norma NP EN 1504 [7] é esclarecedora quanto à necessidade do
diagnóstico das anomalias presentes nas estruturas para a definição clara e
objetiva da estratégia de intervenção. Em particular define as etapas a
observar no processo de avaliação:
a) Inspeção visual para levantamento do estado aparente da estrutura;
b) Realização de ensaios não destrutivos para caracterização do betão e das
armaduras;
c) Análise do projeto original;
d) Caracterização do ambiente a que a estrutura está sujeita;
e) Pesquisa do historial da estrutura;
f) Caracterização dos tipos de uso;
g) Definição dos requisitos futuros.
Nesse sentido, numa primeira abordagem, a importância da corrosão das armaduras
duma dada estrutura pode ser avaliada através da confrontação de apenas 3
parâmetros: a espessura de recobrimento das armaduras (medida com o pacómetro,
fig. 3) [8], a profundidade da frente de carbonatação do betão (determinada com
uma solução alcoólica de fenolftaleína, fig. 4) [9] e o teor de cloretos no
betão a várias profundidades (recolha de amostras de pó (fig. 5) e ensaio com
elétrodo específico de cloretos) [10].
Figura 3
Zona de ensaios com as malhas de armaduras levantadas com o pacómetro. Medição
do recobrimento.
Figura 4
Aspersão da solução alcoólica de fenolftaleína para medição da profundidade de
carbonatação do betão.
Figura 5
Recolha de pó do betão a diferentes profundidades para determinação do perfil
de cloretos.
3.1. Recobrimento das armaduras
Importa referir a importância da fiabilidade das medições, assegurada através
da calibração do pacómetro, feita por pessoal qualificado.
Para uma mais completa análise dos resultados do ensaio de medição do
recobrimento das armaduras é conveniente a representação esquemática das malhas
de armaduras levantadas nas várias faces do elemento estrutural, com indicação
dos valores medidos, conforme ilustrado na fig. 6, dum ensaio dum pilar.
Figura_6
Representação esquemática da disposição das malhas de armaduras num pilar,
detetadas com o pacómetro, com indicação dos valores de recobrimento e
localização de outros ensaios.
Dessa forma, é possível verificar o grau de proteção das armaduras função do
recobrimento medido. Por exemplo, na Fig._6, as armaduras das faces A e B
têm valores de recobrimento claramente superiores aos das faces opostas C e
D, significando um deficiente posicionamento das armaduras na secção aquando
da execução do pilar. Resulta do exemplo a importância de fazer incidir o
ensaio de medição do recobrimento das armaduras em todas as faces do elemento
estrutural e, também, logo na fase da construção da estrutura para controlo da
qualidade de execução, conforme previsto na parte 10 da norma EN 1504 [7].
3.2. Recobrimento versus carbonatação
A fig. 7, ilustra a confrontação gráfica dos resultados da medição do
recobrimento das armaduras com a profundidade de carbonatação do betão, da zona
de ensaio num pilar, ilustrada na Fig.6 [11]. Através do gráfico, é possível
constatar, por um lado, que cerca de 55 % dos valores medidos do recobrimento
das armaduras são inferiores ao valor mínimo regulamentar (c min.) assumido no
projeto, refletindo inadequada proteção e, por outro lado, que cerca de 47 %
dos valores medidos do recobrimento das armaduras são inferiores ao valor médio
da profundidade de carbonatação do betão (ph2), refletindo a despassivação do
aço.
Figura_7
Representação gráfica da frequência acumulada dos valores de recobrimento,
medidos com o pacómetro, da profundidade de carbonatação e do recobrimento
mínimo.
Outro dado importante, que se pode inferir a partir do recobrimento das
armaduras e da profundidade de carbonatação dos betões, é a previsão do tempo
que falta para ocorrer a despassivação das armaduras, através da fórmula
referida no ponto 2.2. O gráfico da fig. 8 ilustra a curva de progressão de
carbonatação do betão, da zona de ensaio num pilar, ilustrada na fig._6.
Verifica-se, por exemplo, que aos 30 anos de idade da estrutura a profundidade
de carbonatação do betão atingirá, expectavelmente, os 21 mm de profundidade,
significando, através do gráfico da fig._7, que só cerca 45 % dos valores
medidos do recobrimento das armaduras corresponderão à situação do aço
passivado (fase da iniciação).
Figura 8
Representação gráfica da evolução da profundidade de carbonatação do betão.
3.3. Recobrimento versus cloretos
A despassivação do aço das armaduras devida à presença de cloretos em excesso
no betão [3, 11], pode, também, ser aferida através da sua determinação a
diferentes profundidades, conforme referido em 2.3 (perfis de cloretos, figuras
9 e 10). Feita periodicamente permite, também, prever quando ocorrerá a
despassivação, bem como validar eventuais modelos de previsão, adotados no
projeto. A fig. 9 ilustra o perfil típico dum betão corrente, sem cloretos em
excesso, com teores na massa de cimento inferiores ao teor crítico regulamentar
de armaduras ordinárias.
Figura 9
Perfil de cloretos, típico de um betão corrente, sem cloretos em excesso.
Figura 10
Perfil de cloretos típico dum betão de estrutura marítima, contaminado por
cloretos.
A fig. 10 ilustra o perfil típico dum betão corrente de estrutura marítima
contaminado por cloretos, traduzido pela diminuição dos teores da superfície
para o interior da secção. No caso, ao nível da armadura (recobrimento de 2,9
cm) o valor do teor na massa de cimento é da ordem de grandeza do teor crítico
regulamentar para armaduras ordinárias.
4. AVALIAÇÃO DO RISCO DE CORROSÃO DAS ARMADURAS
Para o aprofundamento do diagnóstico da corrosão das armaduras é habitual o
recurso a ensaios complementares, nomeadamente, a medição do potencial elétrico
das armaduras conforme ASTM C876 [12], da resistividade elétrica do betão (fig.
11) e da intensidade de corrosão, por exemplo através da técnica da resistência
de polarização (fig.12) [13].
Figura 11
Medição do potencial elétrico das armaduras e da resistividade elétrica do
betão.
Figura 12
Medição da intensidade de corrosão das armaduras através da técnica da
resistência de polarização.
Outros parâmetros que influenciam a corrosão das armaduras como a humidade do
betão e a temperatura e a humidade relativa ambiente devem ser, também,
avaliados para serem tidos em conta na análise dos resultados.
4.1. Medição do potencial elétrico das armaduras
A medição de potenciais elétricos permite avaliar a probabilidade da ocorrência
de corrosão ativa das armaduras, especialmente, em estruturas contaminadas com
cloretos [12]. No entanto, a técnica não permite avaliar quantitativamente a
intensidade da corrosão das armaduras.
Dado a simplicidade e rapidez das medições, podem ser efetuados mapeamentos do
potencial elétrico das armaduras, em particular em elementos estruturais com
superfícies mais extensas, permitindo localizar e quantificar as áreas com
risco de corrosão ativa, conforme critério da Tabela 1 [12].
Tabela 1
Critério para avaliação do risco de corrosão ativa das armaduras função dos
potenciais elétricos (elétrodo de cobre/sulfato de cobre (CSE)).
4.2. Medição da resistividade elétrica do betão
A medição da resistividade elétrica do betão, normalmente feita em conjunto com
a medição do potencial elétrico permite, também, inferir sobre o estado de
corrosão das armaduras, distinguindo entre zonas ativas e passivas e avaliando
indiretamente os níveis de corrosão, conforme a Tabela 2 [13]. No entanto, é
necessário ter presente que a medição é diretamente influenciada pelo teor de
humidade do betão, pelo que esse parâmetro tem que ser devidamente controlado
durante a preparação da zona de ensaio.
Tabela 2
Critério complementar para avaliação do risco de corrosão.
4.3. Medição da intensidade de corrosão das armaduras
A quantificação da taxa de corrosão das armaduras de elementos de betão armado
pode ser estimada, por exemplo, através da técnica da resistência de
polarização [13], também utilizável em betões muito carbonatados ou com elevado
teor de cloretos, permitindo acompanhar, por monitorização, a evolução do
estado duma estrutura e avaliar o seu futuro desempenho.
Em linhas gerais, a metodologia consiste na aplicação de uma reduzida corrente
elétrica nos varões e na medição da variação do potencial em relação a um
elétrodo de referência. Sendo a resistência de polarização (Rp) a relação entre
a diferença de potencial e a corrente aplicada, a intensidade de corrosão pode
ser obtida com base na fórmula de Stern and Geary, sendo B uma constante:
Dado o equipamento possuir um sensor com um anel de proteção controlado, é
possível confinar com precisão a área de medição. Desta forma, a intensidade de
corrosão é medida não numa área indefinida mas apenas na área onde se efetua a
medição, conduzindo a resultados mais verosímeis.
Com base na experiência, obtiveram-se os valores de referência constantes no
Tabela 3 [13].
Tabela 3
Critério para a avaliação do nível de corrosão através da medição da
intensidade de corrosão.
A figura 13 ilustra a aplicação da técnica numa ponte localizada na orla
marítima no âmbito do estudo da sua reabilitação estrutural.
Figura 13
Medição da intensidade de corrosão das armaduras através da técnica da
resistência de polarização.
A fig. 15 ilustra a confrontação entre os resultados da intensidade de corrosão
e potencial elétrico das armaduras, medidos em diferentes zonas de ensaios da
estrutura da ponte. Analisando-a, é possível constatar que a avaliação da
importância da corrosão apenas com os resultados da medição do potencial
elétrico pode ser sobrevalorizada, resultando, portanto numa avaliação
incorreta.
Figura 14
Viaduto com estrutura de betão armado pré-esforçado.
Figura 15
Confrontação dos resultados da intensidade de corrosão face aos do potencial
elétrico das armaduras.
5. LEVANTAMENTO DE ANOMALIAS RELACIONADAS COM A CORROSÃO
Para se avaliar a importância e extensão das zonas visivelmente afetadas pela
corrosão das armaduras é fundamental o levantamento de anomalias. Consiste na
identificação e classificação das anomalias visíveis, a sua disposição e
extensão nos elementos da construção, através de referenciação em desenhos.
Devem ser utilizados dispositivos de inspeção, nomeadamente, a régua de
fissuras, fita métrica, paquímetro, escala decimétrica para o registo
fotográfico de pormenores e, para deteção de descontinuidades superficiais (por
amostragem), um martelo ligeiro.
Os sintomas da corrosão das armaduras, normalmente, a ter em atenção, são, por
ordem de ocorrência:
- Fissuras de delaminação, eventualmente com manchas de óxido superficiais,
fig. 16;
Figura 16
Fissuras de delaminação, coincidentes com os varões.
- Lacunas do betão devidas a delaminação;
- Lacunas do betão, eventualmente, com exposição das armaduras
fig. 17 a 19;
Figura 17
Lacunas do betão, com exposição dos varões, cuja corrosão originou o
destacamento dos revestimentos.
Figura 18
Lacunas do betão com exposição dos varões afetados por corrosão severa, alguns
com perda total da secção (contaminação por cloretos).
Figura 19
Pormenor da fig. 18, evidenciando a redução da secção dos varões (segurança
estrutural comprometida).
- Redução significativa da secção dos varões, fig. 18 e 19.
Os sintomas de corrosão presentes em elementos estruturais com armaduras de
pré-esforço deverão ser devidamente esclarecidos dado o risco de rotura frágil,
com elevada probabilidade de colapso. As figuras 20 e 21 ilustram vigas pré-
esforçadas de tabuleiros onde, num caso, são visíveis fissuras de delaminação
coincidentes com o traçado dos cabos e, noutro caso, num estágio mais avançado,
é visível o cabo de pré-esforço. Perante tal constatação deverá ser equacionada
a necessidade de interdição da estrutura até serem implementadas medidas
corretivas efetivas.
Figura 20
Fissuras de delaminação coincidentes com cabos de pré-esforço.
Figura 21
Lacuna extensa do betão com exposição do cabo de pré-esforço (risco de rotura
frágil).
A representação gráfica das anomalias visíveis das estruturas, figuras 22 e 23,
permite avaliar a sua extensão e importância e servir de suporte para definição
e localização dos diferentes tipos de soluções de reparação, função das
características da estrutura e das anomalias.
Figura 22
Levantamento das anomalias duma asna de betão armado pré-esforçado da cobertura
dum estádio.
Figura 23
Levantamento das anomalias de parte dum alçado dum edifício, com estrutura de
betão aparente.
6. QUALIFICAÇÃO DOS AGENTES
Apesar do carácter informativo das partes 9 e 10 da norma EN 1504 [7], a
competência dos agentes envolvidos deve ser assegurada de modo que os objetivos
da intervenção sejam alcançados da forma mais eficaz e eficiente possível. A
via a seguir é o estabelecimento dum Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), de
acordo com a NP EN ISO 9001:2008 [14]. A sua implementação na atividade da
inspeção e ensaios coloca algumas questões, que a seguir se destacam.
- Os Planos Anuais de Formação envolvem todos os colaboradores e prevêem ações
internas e externas. Concretamente, as internas incidem sobre o SGQ e sobre as
Técnicas de Observação e Ensaios, incluindo o período de aprendizagem teórica e
prática e, posteriormente, o período de avaliação.
- Todo o SGQ está suportado documentalmente através do Manual da Qualidade,
Procedimentos Funcionais e Instruções Detalhadas e é divulgado através da
distribuição desta documentação e em ações de formação aos colaboradores.
- O equipamento de inspeção, medição e ensaio foi previamente identificado,
técnica a técnica, e foi definida a exatidão necessária para cumprir com as
especificações em termos de rigor das leituras obtidas (critério de aceitação).
- O Plano da Qualidade descreve como, quando, onde, o quê e quem, no
ciclo do serviço, tem de comprovar a conformidade das diferentes operações com
os requisitos aplicáveis.
7. CASO DE ESTUDO
No âmbito do presente artigo, destaca-se um caso de estudo de diagnóstico
atípico de corrosão das armaduras, levado a cabo em edifícios escolares.
7.1. Enquadramento
Antes do projeto da intervenção dos edifícios foi feito um diagnóstico
preliminar do estado das estruturas que conclui do bom estado aparente das
estruturas, não recomendando quaisquer medidas específicas. Durante a obra foi
realizado um estudo visando a caracterização estrutural de elementos
estruturais principais e, simultaneamente, do estado de corrosão das armaduras.
Posteriormente, com o decorrer da obra, quando foram removidos os materiais de
revestimento dos pavimentos, detetaram-se sinais de corrosão severa das
armaduras superiores da laje do 1º piso, que causaram alguma estranheza, pelo
que foi decido aprofundar-se o diagnóstico com a realização de trabalhos
complementares.
7.2. Ensaios
Na primeira fase do estudo foram realizados os ensaios, por amostragem, a
seguir listados, que incidiram em paredes e na face inferior de bandas maciças
da laje do 1º piso (figuras 24 e 25):
Figura 24
Zona de ensaios.
Figura 25
Determinação da profundidade de carbonatação. No caso, a frente de carbonatação
encontra-se por trás dos varões (despassivação do aço).
- Deteção de armaduras e medição do seu recobrimento, incluindo a abertura de
roços de sondagem para confirmação do diâmetro das armaduras;
- Determinação da profundidade de carbonatação do betão;
- Determinação do teor de cloretos presente na massa do betão;
- Determinação da resistência à compressão do betão através de ensaios de
rotura à compressão uniaxial sobre provetes cilíndricos;
- Ensaios com esclerómetro.
As figuras 26 e 27, ilustram parte dos resultados obtidos, mais significativos.
Figura 26
Frequência acumulada dos valores de recobrimento medidos com o pacómetro e
profundidade de carbonatação do betão.
Figura 27
Perfil de cloretos do ensaio da face inferior duma banda maciça da laje.
Na segunda fase do estudo para aprofundamento do diagnóstico, foram realizados
trabalhos complementares de diagnóstico que consistiram na realização de
ensaios de determinação do teor de cloretos na face superior da laje do 1º piso
e o levantamento das zonas visivelmente afetadas e outras com delaminação do
betão superficial, detetadas através de ensaios de percussão (figuras 28 e 29).
A figura 30 ilustra o perfil típico obtido dos ensaios de determinação do teor
de cloretos da face superior da laje.
Figura 28
Extração de carotes para determinação do teor de cloretos da face superior da
laje.
Figura 29
Levantamento das anomalias visíveis da face superior da laje.
Figura 30
Perfil típico de cloretos do betão da face superior da laje, com valores muito
superiores ao teor crítico regulamentar.
7.3. Diagnóstico
As conclusões principais do aprofundamento do diagnóstico apontaram, com
elevada probabilidade, a contaminação por cloretos dos betões da laje do piso
elevado dos edifícios escolares, com origem nos materiais de revestimento da
face superior, que foram removidos na obra em curso.
Do levantamento das anomalias da laje do piso elevado, relacionadas com a
corrosão das armaduras, concluiu-se também que, em geral, a localização das
zonas mais afetadas tinham maior incidência sobre as zonas maciças da laje,
nomeadamente, as bandas maciças dos alinhamentos dos pilares e das paredes e do
bordo da laje, coincidentes com secções com maior densidade de armaduras da
face superior.
A severidade da corrosão das armaduras era tal que a segurança estrutural da
laje do 1º piso encontrava-se diminuída.
7.4. Estratégia de intervenção
Face às conclusões atrás e face à intervenção geral em curso nos edifícios da
escola, foi recomendado que a durabilidade da reparação da corrosão das
armaduras da laje do 1º piso deveria ser a máxima possível. Nesse sentido para
além da reparação das zonas visivelmente afetadas deveriam ser eliminados os
sais em excesso nos betões da laje através de tratamento eletroquímico de
dessalinização ou, em alternativa optar pela introdução de proteção catódica
das armaduras.
8. CONCLUSÕES
A deterioração das estruturas de betão armado e pré-esforçado devida a corrosão
das armaduras pode e deve ser controlada desde a fase de projeto, na execução,
até à fase de exploração. A regulamentação promove esse controlo, embora ao
nível da execução e ao nível da exploração das estruturas as práticas estejam
ainda pouco implementadas, havendo ainda muito a progredir. Por exemplo, ao
nível das competências dos técnicos e das metodologias de inspeção e ensaios
não destrutivos in-situ, do modo como se articulam entre si.
Através de técnicas simples de diagnóstico, integradas num plano de inspeção e
ensaios, é possível avaliar os principais parâmetros responsáveis pela corrosão
das armaduras, nomeadamente, a espessura de recobrimento das armaduras, a
profundidade de carbonatação do betão e o teor de cloretos no betão a várias
profundidades. Posteriormente, para uma melhor avaliação da importância,
presente e futura, do mecanismo de corrosão, poderão ser adotadas técnicas de
diagnóstico mais sofisticadas.
O caso de estudo apresentado ilustra a importância da fiabilidade e da
oportunidade do diagnóstico das anomalias de forma a atingirem-se os objetivos
da intervenção sem sobrecustos imprevistos.