Variação da actividade sísmica ao longo do ano
na
Península Ibérica
1 Introdução
O fenómeno sísmico sempre preocupou o homem quer pelo seu caracter destrutivo quer
pela sua imprevisibilidade.
Muitos estudos já feitos conseguiram identificar alguns precursores sísmicos, não se
conseguindo contudo ainda prever, com janelas temporais pequenas, a ocorrência de
abalos sísmicos.
O objectivo deste trabalho consiste em avaliar se existe variação significativa da
sismicidade ao longo do ano, isto é, se nalgumas épocas é mais provável a ocorrência de
sismos do que noutras e, no caso de se confirmar tal variação, identificar quais as épocas
com maior risco de abalos sísmicos.
Há já algum tempo que se suspeitava que, pelo menos nalgumas regiões, a
sismicidade não era constante ao longo do ano.
Com efeito, Nunes (Nunes et al., 2001) refere que, nos Açores, em particular no Rifte
da Terceira (Graciosa, Terceira, S. Miguel e zonas marítimas associadas) os sismos
destrutivos ocorrem sobretudo nos meses de Janeiro e Junho. Já anteriormente,
Machado (Machado, 1955) tinha constatado que os abalos sísmicos são mais prováveis na
vizinhança dos solstícios, ou seja, de Novembro a Janeiro e de Maio a Julho.
Se efectivamente se provar que, em certas épocas do ano, ocorrem mais sismos,
poder-se-á considerar que futuramente é mais provável a ocorrência de sismos nalgumas
épocas do ano.
A Investigação Operacional, dada a sua natureza interdisciplinar e sistémica,
constitui um precioso contributo para a averiguação da existência da referida variação.
Neste trabalho estudou-se a Península Ibérica, bem como a zona adjacente do
Oceano Atlântico, isto é, a região delimitada por Longitude 15° W - 4° E , Latitude 34,5°
N - 44° N.
Estudaram-se separadamente sismos de qualquer magnitude, fraca, média e forte
magnitude.
2 Modelo de simulação utilizado para a geração do processo
sísmico
Para a simulação do processo de ocorrências sísmicas na Península Ibérica foi utilizado o
modelo proposto por Costa (Costa, 1989), posteriormente calibrado com dados mais
recentes.
No modelo adoptado, cada ocorrência é caracterizada por três factores: Tempo,
Grandeza e Espaço.
• O factor Tempo é caracterizado pelos valores dos intervalos de tempo entre
sismos consecutivos - Dt.
Para a geração do intervalo de tempo até à próxima ocorrência, Dti, são
utilizados os dois intervalos de tempo precedentes ( Dti-2, Di-1), i. e.,
( Dti-2, Dti-1 )
→ Dti
• A Grandeza - G é caracterizada pelos valores de magnitude Richter associados às
ocorrências.
Para gerar a Grandeza da próxima ocorrência, Gi, são utilizados os valores
das grandezas dos dois sismos precedentes (Gi-2, Gi-1), bem como do valor do
intervalo de tempo entre essa ocorrência e a precedente (Dti), i. e.,
( Dti, Gi-2, Gi-1 )
→ Gi
• O Espaço - E é caracterizado pelo número da zona sísmica correspondente ao
epicentro da ocorrência. Para gerar a localização da próxima ocorrência, Ei, é
utilizado o valor da localização precedente (Ei-1) bem como da grandeza da
ocorrência (Gi) e o intervalo de tempo entre essa ocorrência e a precedente (Dti) i.
e.,
( Dti , Gi, Ei-1 ) → Ei.
Assim, para se iniciar a geração do processo de ocorrências sísmicas é necessário
atribuir valores a Dti-2, Dti-1, Gi-2, Gi-1 e Ei-1, ou seja, caracterizar as condições iniciais, isto
é, o passado sísmico recente. No presente trabalho atribuíram-se às condições iniciais
valores próximos dos valores médios dos factores intervenientes, partindo-se deste modo
de um "cenário sísmico médio". Sabe-se que as condições iniciais têm influencia no
processo de ocorrências sísmicas mas apenas para horizontes temporais bem mais
pequenos do que os utilizados neste estudo. No estudo da influência das condições
iniciais, Rodrigues e Costa (Rodrigues e Costa, 1997) verificaram que a influência das
condições iniciais diminui à medida que aumenta o horizonte temporal, sendo
praticamente nula para horizontes temporais superiores a 90 dias. Como no presente
estudo se vão considerar horizontes temporais bem maiores optou-se por considerar
apenas condições iniciais correspondentes a um "cenário sísmico médio".
Para o factor Espaço, adoptou-se a definição de 21 zonas sísmicas na Península
Ibérica proposta por Costa e Oliveira (Costa, 1989), (Costa e Oliveira, 1991), que
abrangem a região delimitada por Longitude 15° W - 4° E , Latitude 34,5° N - 44° N.
Estas zonas foram reajustadas por Rodrigues e Costa (Rodrigues e Costa, 1997) por forma
a suavizar os seus contornos, relativamente às zonas sísmicas propostas por Costa
(Costa, 1989)). A figura 2 apresenta as zonas sísmicas reajustadas.
De referir ainda que o catálogo sísmico utilizado na calibração do modelo (Sousa et
al, 1992), abrange uma área ligeiramente inferior à do catálogo utilizado aquando da
definição das 21 zonas sísmicas atrás referidas, o que resulta na eliminação da zona
sísmica número 18. Embora o número das zonas sísmicas passe então a 20, decidiu-se
manter a numeração das zonas sísmicas anteriormente definida por Costa e Oliveira
(Costa, 1989), (Costa e Oliveira, 1991), pelo que, as zonas sísmicas utilizadas neste
trabalho serão referenciadas de 1 a 17 e de 19 a 21.
3 Metodologia utilizada
Para verificar se existe variação significativa da sismicidade ao longo do ano simulou-se o
processo de ocorrências sísmicas na Península Ibérica durante um longo horizonte
temporal e registou-se o número de sismos ocorridos em cada mês. Se não houver
diferença significativa do número de ocorrências ao longo do ano, a sismicidade "mensal"
deverá ter valores idênticos ao longo do ano. Contudo, como nem todos os meses têm o
mesmo número de dias, se se procedesse deste modo estar-se-ia a comparar períodos de
tempo de durações diferentes.
Ter-se-á então de dividir o ano em períodos de tempo iguais, mas antes disso
convém não esquecer que os anos têm 366 ou 365 dias, consoante sejam ou não
bissextos. Como cada ano bissexto ocorre de quatro em quatro anos, cada ano tem
efectivamente 365.25 dias.
Como o objectivo consiste um dividir o ano em períodos de tempo de igual duração a
fim de se poder comparar o número de ocorrências sísmicas em cada um desses períodos,
dividiu-se o ano, ou seja, um período de 365.25 dias por doze, obtendo-se assim períodos
de tempo de 30.4375 dias, a que chamaremos células ou, quando isso não causar
confusão meses. Desta forma, cada ano terá 12 células de igual duração.
Desde que não haja indicação contrária, neste trabalho os meses do ano
corresponderão a períodos de tempo de 30.4375 dias, em que o mês de Janeiro será o
período de tempo de 30.4375 dias com inicio no dia 1 de Janeiro do ano civil, Fevereiro o
período de tempo de 30.4375 dias após o período anterior, etc. Esta designação, embora
pouco usual não acarreta confusão, já que o objectivo consiste em avaliar a existência de
variação significativa da sismicidade em períodos de tempo de igual amplitude ao longo do
ano.
A Tabela 1 indica os períodos de tempo após 1 de Janeiro do ano civil e a
correspondência adoptada para referir cada mês.
Seja cij o valor da sismicidade – número de sismos de qualquer magnitude correspondente ao mês i no ano j.
Se se simularem N anos o número total de ocorrências em cada célula será
Si,N =
N
∑c ,
ij
i = 1, 2, ..., 12
j=1
Se não existir variação significativa da sismicidade ao longo do ano a variável
aleatória Si,N deverá ter distribuição Uniforme Discreta.
Para testar esta hipótese utilizaram-se os testes de ajustamento do Qui-Quadrado
e de Kolmogorov-Smirnov para uma amostra, sendo a hipótese de nulidade:
H0: não existe diferença significativa entre os valores de Si,N, i = 1, 2, ..., 12.
De notar que embora o teste de Kolmogorov-Smirnov seja normalmente utilizado
para distribuições contínuas, não se considerou relevante o erro resultante de o aplicar a
valores mensais - células, dado o elevado número de observações em cada uma delas.
Segundo Goodman e Kruscal (Goodman e Kruscal, 1954) quando o teste de KolmogorovSmirnov é aplicado a distribuições descontínuas o erro resultante é para o lado da
segurança, isto é, o teste é conservativo, o que significa, neste caso, que se H0 é rejeitada
com base no teste podemos ter plena confiança na decisão.
Também Conover (Conover, 1971) apresenta uma metodologia para o teste de
Kolmogorov-Smirnov que permite obter o valor crítico exacto de uma amostra
descontínua, contudo não se achou necessário utilizá-la dada a natureza conservativa do
teste.
Pode então concluir-se que se H0 for rejeitada, com base nos testes estatísticos
utilizados, existe diferença significativa nos valores da sismicidade mensal ao longo do
ano.
Como também se pretende averiguar se, no caso de haver variação significativa da
sismicidade ao longo do ano esta depende da magnitude dos sismos registados, o estudo
será dividido em:
• sismos de qualquer magnitude;
• sismos de fraca magnitude - magnitude Richter menor do que 4;
• sismos de média magnitude - magnitude Richter entre 4 e 5 (4 ≤ G < 5) e
• sismos de forte magnitude - magnitude Richter maior ou igual a 5.
Nas situações em que se detecte existir variação significativa da sismicidade ao
longo do ano, a identificação dos meses em que a sismicidade é maior será feita com base
no catálogo sísmico utilizado (Sousa et al, 1992), dado que o modelo de simulação do
processo de ocorrências sísmicas utilizado não é adequado para tal análise, conforme se
explicará na secção seguinte.
4 Variação da sismicidade ao longo do ano na Península
Ibérica
4.1 Sismos de qualquer magnitude
Simulou-se o processo de ocorrências sísmicas na Península Ibérica durante 1000 anos,
utilizando o modelo de simulação referido anteriormente e registou-se o número de
ocorrências sísmicas de qualquer magnitude.
Seja cij o número de ocorrências sísmicas de qualquer magnitude correspondente à
célula i no ano j.
Calculou-se
Si,1000 =
∑c ,
ij
i = 1 , 2 , ..., 12
j=1
Obtendo-se assim 12 valores da variável aleatória Si,1000.
Na hipótese da sismicidade não ter variação significativa ao longo do ano, os valores
de Si,1000, i = 1, 2, ..., 12 deverão ajustar-se a uma distribuição Uniforme Discreta.
Procedeu-se seguidamente ao teste da hipótese:
H0: os valores de Si,1000, ( i = 1, 2, ..., 12) têm distribuição Uniforme Discreta
usando os testes de ajustamento do Qui-Quadrado e de Kolmogorov-Smirnov para uma
amostra.
A tabela 2 apresenta os resultados dos testes estatísticos utilizados, verificando-se
que, para um nível de significância de 5%, ambos os testes indicam dever-se rejeitar a
hipótese de nulidade. Para um nível de significância de 1%, apenas o teste de
Kolmogorov-Smirnov não aconselha rejeitar H0, o que não é de estranhar, visto que como
já se disse, na situação estudada o teste é conservativo.
Conclui-se assim que os valores da variável aleatória Si,1000, ( i = 1, 2, ..., 12) não se
ajustam à distribuição Uniforme, indicando que, no caso de ocorrências sísmicas de
qualquer magnitude, existe diferença significativa entre os valores da sismicidade ao
longo do ano.
Pretende-se agora identificar quais as células a que correspondem maiores valores
de sismicidade.
De notar que, com base na análise efectuada, a S1,1000 não corresponde
necessariamente o número total de ocorrências registadas no mês de Janeiro, nem a
S2,1000 corresponde o número total de ocorrências registadas no mês de Fevereiro, etc.,
dado que o modelo de simulação utilizado gera apenas os intervalos de tempo entre
ocorrências consecutivas.
Assim, dado um cenário sísmico inicial: valores de Dti-2, Dti-1, Gi-2, Gi-1 e Ei-1, o
modelo permite-nos gerar Dti, Gi e Ei, ou seja, o intervalo de tempo desde a última até à
próxima ocorrência, a Grandeza da próxima ocorrência (expressa em magnitude Richter) e
a sua localização (uma das zonas sísmicas do modelo de simulação utilizado). No entanto,
é indiferente se se iniciou a contagem do tempo no dia 1 de Janeiro ou noutra data, visto
que a sequência de valores gerados não depende do valor inicial do tempo mas sim, como
já foi dito, dos intervalos de tempo entre as duas últimas ocorrências.
Levanta-se também a questão de saber se o cenário sísmico inicial poderá
influenciar os valores de Si,1000 (i=1, 2, …, 12). No estudo efectuado por Rodrigues e Costa
(Rodrigues e Costa,1997) e (Rodrigues, 1998) prova-se que as condições iniciais exercem
influência no processo de ocorrências sísmicas mas que essa influência diminui à medida
que aumenta o horizonte temporal, sendo praticamente inexistente ao fim de 90 dias.
Como o horizonte temporal utilizado neste trabalho foi de 1000 anos não se coloca a
questão da influência das condições iniciais.
Assim, os valores gerados de Si,1000 (i=1, 2, …, 12) irão servir para avaliar a
existência de variação significativa de sismicidade ao longo do ano. No caso de se verificar
que tal variação é significativa, como aconteceu para sismos de qualquer magnitude na
Península Ibérica, a identificação dos meses em que a sismicidade é maior será feita com
base em dados reais, mais concretamente com base no catálogo sísmico já referido (Sousa
et al, 1992).
No catálogo referido consideraram-se apenas os registos sísmicos após 1 de Janeiro
de 1900, dado que os registos anteriores estavam muitas vezes incompletos. Deste modo,
nos 91 anos considerados dispõe-se de 11309 registos.
Seja di,j o número de sismos de qualquer magnitude registados na célula i do ano j,
do catálogo utilizado (i = 1, 2, …, 12 e j = 1, 2, …, 91). O catálogo permite contabilizar 91
x 12 = 1092 valores de sismicidade. Com base nesta amostra, calculou-se o intervalo de
confiança a 95% para o valor médio da sismicidade em períodos de 30.4375 dias. Seja
[li, ls] esse intervalo.
Os valores médios mensais de sismicidade são
Si =
∑d
i, j
91 ,
i = 1, 2, ..., 12,
j=1
isto é,
S1 =
∑d
1, j
91 - somatório de todos os valores de sismicidade da primeira célula de cada
j=1
ano dividido pelo número de anos considerados;
S2 =
∑d
2, j
91- somatório de todos os valores de sismicidade da segunda célula de cada
j=1
ano dividido pelo número de anos considerados;
…....
S12 =
∑d
12, j
91 - somatório de todos os valores de sismicidade da décima segunda célula
j=1
de cada ano dividido pelo número de anos considerados.
Para os valores de Si (i = 1, 2, ..., 12) que ultrapassem o limite superior do intervalo
de confiança para o valor médio da sismicidade em períodos de 30.4375 dias, ls,
considera-se que nesse mês a sismicidade foi elevada.
A figura 3 apresenta os valores de Si (i = 1, 2, ..., 12) bem como o valor de ls para
sismos de qualquer magnitude registados na Península Ibérica.
Verifica-se a existência de dois picos de sismicidade mais elevada, um logo após o
início do ano e outro sensivelmente a meio deste.
Conclui-se assim que a sismicidade mensal na Península Ibérica apresenta variação
significativa ao longo do ano, existindo dois picos com sismicidade mais elevada, um nos
meses de Fevereiro, Março e Abril e outro no mês de Junho.
4.2 Sismos de fraca magnitude
Tal como no estudo dos sismos de qualquer magnitude, simulou-se o processo de
ocorrências sísmicas na Península Ibérica durante 1000 anos, utilizando o modelo de
simulação referido e registando-se agora apenas os sismos de fraca magnitude, isto é os
sismos com magnitude Richter inferior a 4.
Seja cfij o número de ocorrências sísmicas de fraca magnitude correspondente à
célula i no ano j.
Calculou-se
Sfi,1000 =
∑ cf ,
ij
i = 1 , 2 , ..., 12
j=1
Obtendo-se assim 12 valores da variável aleatória Sfi,1000.
Na hipótese, do número mensal de sismos de fraca magnitude não ter variação
significativa ao longo do ano os valores de Sfi,1000, i = 1, 2, ..., 12 deverão ajustar-se a uma
distribuição Uniforme Discreta.
Procedeu-se seguidamente ao teste da hipótese:
H0: os valores de Sfi,1000, ( i = 1, 2, ..., 12) têm distribuição Uniforme Discreta
usando os testes de ajustamento do Qui-Quadrado e de Kolmogorov-Smirnov para uma
amostra.
A tabela 3 apresenta os resultados dos testes estatísticos utilizados, verificando-se a
existência de variação significativa do número mensal de sismos de fraca magnitude ao
longo do ano. Com efeito, até para um nível de significância de 1%, ambos os testes
utilizados conduzem à rejeição da hipótese em estudo.
De notar que a variação agora encontrada foi superior à detectada para sismos de
qualquer magnitude, visto que para estes últimos, o teste de Kolmogorov-Smirnov, com
nível de significância de 1% não aconselhava a rejeição de H0.
Tal como no estudo de sismos de qualquer magnitude, utilizou-se catálogo sísmico
já referido (Sousa et al, 1992), bem como a metodologia referida anteriormente.
Seja dfi,j o número de sismos de fraca magnitude registados na célula i do ano j,
(i = 1, 2, …, 12 e j = 1, 2, …, 91) do catálogo sísmico utilizado. Como já se referiu, o
catálogo permite contabilizar 91 x 12 = 1092 valores mensais do número de sismos de
fraca magnitude. Com base nesta amostra calculou-se o intervalo de confiança a 95%
para o valor médio do número de sismos de fraca magnitude em períodos de 30.4375
dias. Seja [lif, lsf] esse intervalo.
Os valores médios mensais do número de sismos de fraca magnitude são
Sfi =
∑ df
i, j
, j = 1, 2, ..., 12,
j=1
Para os valores de Sfi que ultrapassem o valor do limite superior do intervalo de
confiança para o valor médio do número de sismos de média magnitude em períodos de
30.4375 dias, lsf, considera-se que nos correspondentes meses a sismicidade foi elevada.
Verifica-se que a variação do número mensal de sismos de fraca magnitude ao longo
do ano é muito semelhante à variação do número mensal de sismos de qualquer
magnitude. Com efeito, tal como para sismos de qualquer magnitude, o número mensal
de sismos de fraca magnitude apresenta dois picos, um logo após o início do ano e outro
sensivelmente a meio deste. Ao primeiro pico correspondem os meses de Fevereiro, Março
e Abril e ao segundo pico o mês de Junho.
4.3 Sismos de média magnitude
Consideraram-se sismos de média magnitude aqueles cuja magnitude Richter (G) se
situou entre 4 e 5 , isto é, 4 ≤ G < 5.
Simulou-se o processo de ocorrências sísmicas na Península Ibérica durante 1000
anos, utilizando o modelo de simulação referido registando-se apenas as ocorrências de
média magnitude.
Seja cmij o número de sismos de média magnitude registados na célula i do ano j.
Calculou-se
Smi,1000 =
∑ cm
ij
,
i = 1 , 2 , ..., 12
j=1
Considere-se a hipótese:
H0: os valores de Smi,1000 , ( i = 1, 2, ..., 12) têm distribuição Uniforme Discreta
Tal como se tem vindo a fazer, utilizaram-se os testes do Qui-Quadrado e de
Kolmogorov-Smirnov para uma amostra, tendo-se obtido os resultados que se apresentam
na tabela 4.
Para um nível de significância de 5% ambos os testes indicam que se deve rejeitar a
hipótese. Para um nível de significância de 1% ambos os testes aconselham a não rejeitar
a hipótese. Comparativamente à analise efectuada para sismos de fraca magnitude, em
que ambos os testes aconselhavam a rejeição da hipótese, mesmo com um nível de
significância de 1%, identifica-se uma menor variação nos valores de Smi,1000, i = 1, 2, ...,
12. Embora continue e existir variação significativa do número mensal de sismos de
média magnitude ao longo do ano, a variação é menos notória do que para os sismos de
fraca magnitude.
Tal como anteriormente, para identificar os meses com maior número de sismos de
média magnitude utilizou-se o catálogo sísmico.
Seja dmi,j o número de sismos de média magnitude registados na célula i do ano j ,
(i = 1, 2, …, 12 e j = 1, 2, …, 91). Com base na amostra de 1092 valores mensais do
número de sismos de média magnitude extraídos do catálogo calculou-se o intervalo de
confiança a 95% para o valor médio do número de sismos de média magnitude em
períodos de 30.4375 dias. Seja [lim, lsm] esse intervalo.
Os valores médios mensais do número de sismos de média magnitude são
Smi =
∑ dm
i, j
, i = 1, 2, ..., 12,
j=1
Para os valores de Smi que ultrapassem o limite superior do intervalo de confiança
para o valor médio do número de sismos de média magnitude em períodos de 30.4375
dias, lsm, considera-se que nesse mês a sismicidade foi elevada.
A figura 5 apresenta os valores de Smi ( i = 1, 2, ..., 12) bem como o valor de lsm.
A distribuição mensal do número de sismos de média magnitude é
consideravelmente diferente do que a observada para sismos de qualquer magnitude e
fraca magnitude.
Verifica-se a existência de dois picos, o primeiro ocorre no mês de Fevereiro, onde
anteriormente também se registavam valores elevados de sismicidade, e o segundo no
mês de Outubro.
Conclui-se assim que o número mensal de sismos de média magnitude na Península
Ibérica apresenta variação significativa ao longo do ano, embora esta variação seja menos
notória do que a detectada para o número de sismos de fraca magnitude.
4.4 Sismos de forte magnitude
Simulou-se o processo de ocorrências sísmicas na Península Ibérica durante 1000 anos,
utilizando o modelo de simulação referido e registando-se apenas as ocorrências de forte
magnitude.
Seja cfrij o número de sismos de forte magnitude registados na célula i do ano j.
Calculou-se
Sfri, 1000 =
∑ cfr , i = 1 , 2 , ..., 12
ij
j=1
Tal como no caso de sismos de magnitudes anteriormente estudadas, se não existir
variação significativa do número mensal de sismos de forte magnitude ao longo do ano, os
valores de Sfri,1000, i = 1, 2, ..., 12 deverão ajustar-se a uma distribuição Uniforme
Discreta.
Considere-se a hipótese:
H0: os valores de Sfr i,1000 , ( i = 1, 2, ..., 12) têm distribuição Uniforme Discreta.
Utilizaram-se os testes do Qui-Quadrado e de Kolmogorov-Smirnov para uma
amostra, tendo-se obtido os resultados que se apresentam na tabela 5.
Ambos os testes aconselham a não rejeição da hipótese, indicando assim não existir
variação significativa do número mensal de sismos de forte magnitude ocorridos na
Península Ibérica ao longo do ano.
Este resultado não é de estranhar, visto que no estudo efectuado com sismos de
média magnitude se encontrou menor diferenciação do número de ocorrências mensais ao
longo do ano do que no estudo efectuado com sismos de fraca magnitude.
5 Conclusões
O objectivo deste estudo foi o de averiguar a existência de variação significativa do
número mensal de sismos ocorridos na Península Ibérica ao longo do ano.
Estudaram-se separadamente os sismos de:
• qualquer magnitude,
• fraca magnitude (G < 4),
• média magnitude (4 ≤ G < 5) e
• forte magnitude (G ≥ 5).
Tanto para os sismos de qualquer magnitude como para os sismos de fraca
mangitude, verificou-se que existe variação significativa do número mensal de sismos ao
longo do ano, existindo dois picos com sismicidade mais elevada, um nos meses de
Fevereiro, Março e Abril e outro no mês de Junho.
Verificou-se também a existência de variação significativa do número mensal de
sismos de média magnitude ao longo do ano, embora esta variação seja menos notória do
que a detectada para o número de sismos de fraca magnitude. Neste caso, existem dois
picos em que o número de sismos de média magnitude é mais elevado, correspondendo
aos meses de Fevereiro e Outubro.
Para os sismos de forte magnitude não se detectou variação significativa do número
mensal de sismos ao longo do ano na Península Ibérica.
O quadro 6 apresenta os meses em que o número de sismos foi mais elevado na
Península Ibérica.
Conclui-se assim que, na Península Ibérica, a variação mensal do número de sismos
ao longo do ano se atenua com o aumento da magnitude considerada, verificando-se que
para magnitudes superiores ou iguais a 5 não se detecta variação significativa.
6 Limitações e desenvolvimentos
Uma limitação deste estudo consiste no facto do modelo de geração do processo sísmico
utilizado não permitir identificar quais os meses em que se registou maior número de
sismos, obrigando assim à utilização de catálogos sísmicos para contornar esta questão.
Um desenvolvimento possível deste trabalho consiste na aplicação deste tipo de
estudo a regiões mais pequenas, podendo inclusive utilizar-se a delimitação espacial
definida pelas zonas sísmicas adoptadas no modelo de simulação utilizado. Contudo, esta
diferenciação, embora permita um estudo mais detalhado, pode ser limitativa no que
respeita ao número de sismos registados, sobretudo para sismos de forte magnitude,
dado o reduzido número destes em pequenas áreas.
A abordagem seguida neste estudo poderá também ser estendida a outras regiões,
permitindo verificar se existe variação significativa da sismicidade ao longo do ano
noutras partes do globo, e em caso afirmativo, se as épocas de maior sismicidade
correspondem às encontradas na Península Ibérica.
Dado que, como se verificou, na Península Ibérica existem meses em que o número
de ocorrências sísmicas é significativamente maior de que noutros, a época do ano poderá
ser considerada um precursor sísmico, podendo incorporar um sistema de alarme
sísmico, como por exemplo, o proposto por Rodrigues (Rodrigues, 1998) e (Rodrigues,
2002) em que é possível aumentar o número de precursores sísmicos utilizados na
atribuição de um grau de alarme sísmico para uma região, durante um horizonte
temporal.