De Pampilhosa au granite
INTRODUÇÃO
Quando nos referimos à actividade de Paul Choffat, associamo-la invariavelmente
aos seus trabalhos sobre o Mesozóico.
No entanto, Choffat, como geólogo plurifacetado, interessou-se, igualmente,
pelo Cenozóico e pelas rochas eruptivas nomeadamente da região de Sintra e da
Estremadura, tendo sido frequente a sua correspondência com petrólogos
estrangeiros, em especial com Lacroix.
Por outro lado, Choffat escreveu vários trabalhos sobre a geologia geral de
Portugal, como os de 1885 e 1900. Nos seus Apontamentos Inéditos, guardados
no Arquivo Histórico do LNEG/LGM encontram-se muitas páginas que seriam
destinadas a um trabalho sobre a geologia de Portugal continental. O seu
conteúdo é mais completo que o do trabalho de 1900 ' Aperçu de la Géologie du
Portugal ' o que nos leva a pensar que aquele autor continuava empenhado em
produzir uma publicação mais vasta.
Foi, talvez, com a intenção de conhecer melhor os terrenos antigos portugueses,
que aquele geólogo empreendeu uma viagem de comboio de Coimbra a Vilar Formoso,
viagem essa que repetiu passado cerca de um mês, conforme se depreende do
texto.
Essas viagens devem ter sido efectuadas em finais de Setembro e em 25 de
Outubro, em ano que não pudemos precisar, mas certamente posterior a 1904, uma
vez que ele refere, para esse ano, o recomeço do restauro da Sé da Guarda,
monumento que visitou, talvez, na sua 1.ª deslocação. Há, no entanto, que
esclarecer esse ponto. O restauro da Sé da Guarda foi retomado em 1899 e
prolongou-se até 1921 com base no proposto na Memória de Rosendo Carvalheira,
trabalho datado de 1897.
O relato dessa viagem, agora divulgado, está incluído nos Apontamentos atrás
referidos, passados à máquina pelo seu filho Jules Choffat, o qual inclui
alguns desenhos que este deve ter copiado do manuscrito de seu pai,
exceptuando, talvez, a vista panorâmica da Serra da Estrela desenhada a partir
da estação de comboio de Gouveia e que poderá ser original de Paul Choffat.
É particularmente interessante a observação sobre as consequências dos
trabalhos de C. Ribeiro na prospecção de hulha de mina de Sta. Cristina e da
sua correspondência com D. Sharpe a esse propósito e que Choffat considera
comme le point de départ de la géologie portugaise.
Embora o texto seja muito sucinto, revela o interesse de Choffat pelos aspectos
da morfologia e da paisagem em relação com a geologia, bem como por certos
aspectos da vida das populações.
De referir ainda, o interesse, também, manifestado pelas características
arquitectónicas da Guarda, nomeadamente da Sé, o que faz considerar a sua
pernoita nessa cidade, talvez para não fazer a viagem sem luz do dia.
O documento possui 11 páginas dactilografadas, a um espaço, por Jules Choffat,
com 22x17 cm de dimensão, correspondendo aos números 6043 a 6060 dos
Apontamentos Inéditos atrás referidos.
Embora mantendo a ortografia original foram introduzidas pequenas correcções em
gralhas manifestas daquela cópia.