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EuPTCVAg0254-02232002000200002

EuPTCVAg0254-02232002000200002

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0254-0223
Year2002
Issue0002
Article number00002

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EFEITOS DAS LOTAGENS EM AGUARDENTES VELHAS DE LOURINHÃ∗

INTRODUÇÃO A lotagem de aguardentes velhas, ou seja a mistura de aguardentes de diferentes idades, proveniências ou tecnologia de envelhecimento, enquadra-se num processo tecnológico usual em aguardentes velhas incluindo, evidentemente, os “Cognacs” e os “Armagnacs” (Cantagrel et al., 1991). Procedimento semelhante é utilizado nos whiskies, mas por vezes com significado um pouco diferente. Isto deve-se ao facto de nos Wiskies poderem ser utilizados outros produtos como por exemplo “sherries”, “Rums”, vinhos etc. (Booth et al., 1989).

Em qualquer dos casos acima referidos, e segundo aqueles autores, os elementos comuns serão sempre a indispensabilidade da prática da lotagem para a qualidade e tipo do produto final, sendo elemento indispensável a prova organoléptica.

A lotagem ou lotação, como é chamada no vinho do Porto (Fonseca et al.

1981), é prática muito antiga e que pode tomar sentidos por vezes muito latos, como por exemplo o lote das castas logo na vindima. De qualquer forma o objectivo será sempre tentar melhorar a qualidade e conseguir atingir o tipo de produto desejado. Se em bebidas espirituosas é escassa a bibliografia, o mesmo não acontece no caso dos vinhos, onde tem havido muito trabalho que tem contemplado o estudo de diagramas de lotagem (Little e Wei-Yi Liaw, 1974) ou de modelos matemáticos (Lemaire et al., 1985; Sergent et al., 1985) e também de programas informáticos (Moore e Griffin, 1978; Datta e Nakai, 1992).

Assim, neste trabalho pretende-se avaliar o efeito das lotagens de aguardentes Lourinhã envelhecidas, pela apreciação geral da prova organoléptica e também do perfil sensorial das mesmas.

MATERIAL E MÉTODOS Aguardentes e Lotes As aguardentes utilizadas foram as do ensaio montado em 1996, na Adega Cooperativa de Lourinhã (ACL) no âmbito do projecto PAMAF- 2052 (Belchior et al., 2001) no qual foram cheias 63 quartolas (250 litros/cada), a partir de uma mesma aguardente, e cujo o delineamento experimental foi de dois factores (madeira e queima), e três repetições. As madeiras foram de Carvalho e de Castanheiro e as queimas: ligeira, média e forte. Parte dos lotes (Quadro I) foram feitos com aguardentes amostradas nos anos de 1999, 2000 e 2001, as quais permaneceram em garrafas de vidro na Estação Vitivinícola Nacional (EVN). Os outros lotes (Quadro I) foram obtidos com as aguardentes de 2002 daquele ensaio, que permaneceram em quartolas da Adega Cooperativa de Lourinhã (ACL), tendo os lotes continuado em madeira, conforme se indica no Quadro I, sendo amostrados ao fim de um mês. Os lotes de duas aguardentes foram efectuados com 50% de cada, os de três aguardentes com 33,33% de cada. O título alcoométrico das amostras foi acertado a 40% v/v, oito dias antes da sessão de prova respectiva.

-Prova organoléptica As aguardentes que deram origem aos lotes executados na EVN a partir das aguardentes engarrafadas, foram provadas nos respectivos anos. Estes lotes, os lotes da ACL e as suas aguardentes originárias foram provados em 2002.

A prova foi executada, como sempre, em prova cega, tendo as 30 aguardentes sido casualizadas, e apresentadas em cinco sessões de prova, repetindo-se ao acaso dez aguardentes, para controlo da câmara, de acordo com o procedimento descrito em Caldeira et al. (2002). As correlações obtidas para os provadores e relativas a repetições na mesma sessão variaram entre 0,71 e 0,94, enquanto as referentes a repetições entre sessões apresentaram um intervalo de 0,72 a 0,87. A ordem pela qual os copos foram apresentados aos provadores, foi diferente para cada um, de acordo com o delineamento experimental proposto por Williams (1949), por forma a eliminar os efeitos de posição e de sequência das amostras.

A câmara funcionou com dez provadores, formados e treinados, tendo utilizado a ficha de prova apresentada por Caldeira et al. (1999). Ficha descritiva, com 28 descritores (16 de aroma e 12 de sabor), tendo sido pedido aos provadores para pontuarem os descritores de acordo com uma escala estruturada (0 – ausência de percepção; 5 – percepção máxima). Foi solicitado também que pontuassem a apreciação geral da aguardente, numa escala de 0 a 20 valores.

Análise estatística A significância das diferenças nos resultados obtidos foi avaliada recorrendose ao teste t de Student, para comparação de médias emparelhadas (utilizando o “software” da Microsoft - Excel 2000). Compararam-se as médias da apreciação geral e, dos descritores das aguardentes individuais com as dos respectivos lotes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da apreciação geral da prova encontram-se expressos no Quadro I. A análise estatística efectuada, para comparar as notações atribuídas às aguardentes individuais e aos lotes com elas executados, começa por indicar para os ensaios na ACL, que os lotes são significativamente (á = 0,05) mais bem pontuados como se verifica no Quadro II.

No que se refere às aguardentes em vidro na EVN, a totalidade dos lotes não é significativamente superior, e é efectivamente muito pequena a diferença; a notação média é para os lotes de 14,7 e para as aguardentes individuais de 14,6. Este facto estará relacionado com a muito maior amplitude de notações das aguardentes individuais, que nestas variam entre 10,3 e 15,7, enquanto nas da ACL entre 14,0 e 15,9. Assim a lotagem parece beneficiar aguardentes com um mínimo de qualidade e também não muito afastadas. Isto acaba por se verificar nas aguardentes em vidro na EVN, mas com os lotes que tenham apreciação geral superior a 14,4, conforme se pode ver no Quadro III. Estas aguardentes individuais variam entre 12,8 e 15,7, o que aproxima de qualquer forma a notação atribuída, e torna estatisticamente significativa (α = 0,05) a diferença da média de pontuação, sendo maior de novo para os lotes, de 15,2 valores, enquanto para as aguardentes individuais é de 14,9. É de notar também que a variância dos lotes é muito inferior à das aguardentes individuais.

Estamos perante os mesmos factos que empiricamente muitos anos é aceite na região de Cognac, e noutras de certo, que a lotagem de aguardentes conduz a uma aguardente de maior qualidade, sendo portanto muito benéfica.

Como referem Cantagrel et al. (1991), a prova além de ser muito importante na lotagem, é o seu principal decisor.

Ora, a maior notação dos lotes deverá reflectir alterações do perfil sensorial das aguardentes, pelo que se procedeu à análise detalhada de descritores.

Assim, no Quadro IV, apresentam-se os descritores que se consideram mais significativos no âmbito deste tipo de ensaios. É de todo o interesse o verificarse que:

-- o aroma a madeira é significativamente menor nas aguardentes de lote em ambos os ensaios, o que revelará uma maior evolução das aguardentes dos lotes, o que se verifica no respectivo descritor que aqui apresenta uma pontuação significativamente maior que nas aguardentes individuais; - os descritores ranço e especiarias têm pontuações significativamente maiores nos lotes da ACL e, embora não estatisticamente significantes, são maiores nas aguardentes de lotes da EVN, facto semelhante se verifica com os descritores caramelo e frutos secos embora nestes casos os que são significativamente diferentes sejam os da EVN; - os descritores fumo e herbáceo, são significativamente menores nos lotes da EVN, sendo os descritores caudas, acetato de etilo e borracha, de muito menor importância pois de valores mais reduzidos, e com tendência a serem menores nas aguardentes dos lotes, o que vem enaltecer as suas qualidades dado tratar-se de descritores correspondentes a características depreciativas; - os descritores de sabor aqui estudados, apresentam-se todos com valores das suas médias mais elevados no caso das aguardentes de lotes, sendo este facto estatisticamente significativo em todos os das aguardentes dos ensaios na EVN, para o que de certo contribuirá, neste caso como em muitos outros, o número de observações, bem maior nos ensaios da EVN.

Tem-se então que os lotes são positivamente benéficos para a qualidade, tanto em termos de apreciação geral da prova, como nos seus descritores, que com aquela estão evidentemente relacionados, sobressaindo os descritores que mais podem contribuir para as excelentes características dos produtos.


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