Revisão: Cultivo Protegido Em Viticultura
1.CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CULTIVO PROTEGIDO EM VITICULTURA
A produção de uvas de mesa em diversas regiões do mundo vem passando por uma
profunda mudança nas tecnologias de produção, devido ao constante aumento nos
preços dos produtos fitossanitários, a falta de mão-de-obra especializada e as
exigências dos mercados consumidores no que diz respeito à qualidade dos frutos
e à rastreabilidade da cadeia produtiva (Kishino et al., 2007; Hernandes e
Martins, 2008).
O sistema de produção de uvas sob cobertura plástica é utilizado e consolidado
em vários países, como Espanha, Itália, Holanda, França, Japão e Estados Unidos
(Sentelhas e Santos, 1995; Mota et al., 2009), visando aprimorar a qualidade
das uvas e obter maior preço de mercado. De acordo com Lulu (2005), ao se
iniciar qualquer cultivo protegido, é fundamental que seja definido o objetivo
da estrutura de proteção. Na Espanha, o uso do plástico na produção de uvas de
mesa é comum nas regiões de Almeria e Andalucia, onde é frequente a ocorrência
de ventos fortes que podem prejudicar as videiras e consequentemente, a
qualidade dos cachos ( Cantliffe e Vansickle, 2003). Além disso, Novello e
Palma (2006) descreveram que a cobertura plástica pode ser empregada no intuito
de antecipar a produção de uvas de mesa. Segundo esses autores, com a cobertura
do vinhedo antes da poda acelera-se a quebra de dormência, antecipando a
brotação das plantas, e dessa forma, a produção também será antecipada. No
entanto, a cobertura plástica também pode ser usada para atrasar a produção das
uvas, colocando-se o plástico a partir do início da maturação dos frutos e com
isso, o efeito do ambiente é reduzido e a colheita postergada. Em ambos os
casos, o cultivo protegido possibilita o escalonamento da colheita, que poderá
ser realizada no momento mais propício à venda dos frutos.
No Brasil, a adoção da cobertura plástica tem aumentado significativamente nos
últimos anos, buscando-se minimizar os efeitos do clima durante as safras (Mota
et al., 2008), sobretudo pela redução da água livre sobre folhas e cachos, o
que diminui a incidência de doenças fúngicas e a necessidade de pulverizações
com defensivos químicos (Tagliari, 2003; Lulu et al., 2005; Chavarria et al.,
2007a). Em regiões onde ocorrem duas safras anuais, os danos causados pelo
míldio são maiores na safra fora de época, colhida no mês de maio, pois
praticamente todo o ciclo produtivo da videira ocorre no período chuvoso,
quando a temperatura e a umidade relativa são mais elevadas. Nessas condições,
a videira pode ser submetida a elevados índices de incidência de doenças
fúngicas, o que implica na perda parcial ou total da safra. Desta forma, o uso
da cobertura plástica torna-se uma importante ferramenta nessa safra, período
em que aplicações diárias de fungicidas são necessárias nas fases críticas.
Genta et al. (2010), avaliando a uva BRS Clara', durante as safras regular e
fora de época, relataram que o uso da cobertura plástica pode reduzir o número
de pulverizações de fungicidas para o controle de míldio em até 75%, em relação
às videiras cultivadas sob tela plástica. Todavia, enfatizaram que o efeito da
cobertura plástica na redução das doenças fúngicas pode estar relacionado não
apenas à diminuição do molhamento foliar, pois a mesma não evita a ocorrência
de respingos decorrentes de chuvas associadas a ventos fortes, comuns no verão,
além da menor aeração no dossel vegetativo sob o plástico. Desta forma, outros
fatores podem estar envolvidos na redução da incidência da doença, como o maior
efeito residual dos fungicidas em decorrência da menor degradação ou remoção
pela chuva. De modo semelhante, Colombo (2010), em trabalho realizado na mesma
área experimental, verificou que a cobertura plástica, além de permitir a
redução de até 75% do número de aplicações de fungicidas para míldio na safra
fora de época, não alterou as principais características produtivas da videira
BRS Clara'; entretanto, o autor salienta que a cobertura por si só não é
suficiente para prevenir a ocorrência de míldio nos cachos, em condições de
umidade elevada.
Outras vantagens da utilização da cobertura plástica referem-se à proteção das
plantas aos danos causados por granizo (Lamas Júnior, 2008), às perdas por
geadas tardias, ao maior teor de sólidos solúveis totais e menor acidez
titulável das bagas (Antonacci e Tomasi, 2001; Ferreira et al., 2004).
Resultados preliminares apontam um potencial muito grande no seu uso em alguns
pólos de produção de uva de mesa e para processamento, dentre eles, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Vale do São Francisco e Paraná, podendo inclusive ser
empregado em diversos sistemas de condução das videiras, como latada e
manjedoura (Mota et al., 2008; Chavarria et al., 2009; Genta et al., 2010).
Segundo Cardoso et al. (2008), o ambiente protegido possibilita modificações
nas variáveis do microclima, principalmente na temperatura, na radiação, nos
ventos e na presença de água livre sobre as folhas. Essas alterações podem
modificar as respostas fisiológicas da videira, sendo, em alguns casos, fator
atenuante de estresses hídricos e promotor de melhores condições para o
crescimento da planta (Chavarria et al., 2008). Entre as principais
interferências da cobertura de plástico no microclima da videira destaca-se a
restrição da radiação solar. Essas alterações podem afetar diretamente o
potencial de produção e o crescimento das plantas, pois com a redução da
radiação pode-se ter uma restrição no processo fotossintético das plantas e na
fertilidade das gemas (López-Miranda, 2002).
Dentre os vários tipos e espessuras de materiais utilizados para a cobertura de
ambientes protegidos (Lulu, 2005), o mais largamente utilizado é o polietileno
de baixa densidade. Trata-se de uma lona plástica trançada de polipropileno
translúcido, impermeabilizada com polietileno de baixa densidade, aditivada com
filtro anti-ultravioleta que se apresenta em diversas espessuras (150, 160,
170µm). Este material apresenta boa transparência à radiação solar, deixando
passar em média, 70 a 90% da radiação de onda curta incidente e até 80% da
radiação de onda longa (Ferreira, 2003). Entretanto, a utilização da cobertura
plástica implica no aumento do custo de investimento para a implantação e
manutenção do plástico (Heckler, 2009), sendo a vida útil do plástico de três a
quatro anos. Porém, videiras da cultivar Moscato Giallo conduzidas sob
cobertura plástica, necessitaram de apenas duas aplicações de fungicidas,
contra 17 aplicações na área descoberta, o que representa a redução nos gastos
com produtos fitossanitários, segundo Chavarria et al. (2007a).
Embora a utilização da cobertura plástica na viticultura brasileira ainda seja
pequena, outro material bastante difundido na proteção dos vinhedos é a tela
plástica ou sombrite, sendo mais utilizadas as de cores preta ou branca, com 15
a 20% de sombreamento. Apesar do elevado custo inicial de implantação, a
durabilidade gira em torno de 10 anos (Pires e Martins, 2003). Sua utilização
no país ocorre principalmente na região noroeste de São Paulo, na região do
Vale do São Francisco e em mais de 95% dos vinhedos no norte do Paraná.
A durabilidade destes materiais depende das características físicas, garantida
pelo fabricante, mas também de fatores ambientais, como excesso de chuvas,
tempestades, ventos fortes e granizo, que podem deteriorar o material em menor
tempo ou, dependendo da intensidade, danificar toda a estrutura de cobertura.
Além disso, a durabilidade está relacionada com fatores mecânicos, como a forma
de instalação, uma vez que a estrutura não é facilmente instalada pela
abundância de detalhes que devem ser levados em consideração, principalmente se
a cultura já estiver implantada no local.
A escolha adequada de plásticos e telas de sombreamento requer conhecimento das
características e funções de cada um desses materiais. A densidade de fluxo de
radiação solar no interior da cobertura plástica é menor que a verificada
externamente, devido à reflexão e à absorção do material da cobertura. A
absorção depende da composição química do material da cobertura e a reflexão é
determinada pelas condições da superfície da cobertura (período de utilização,
deposição de poeiras e limo) e pelo ângulo de incidência da radiação solar
sobre a cobertura (posição do sol, inclinação da cobertura, forma e orientação
geográfica da estrutura) (Cunha e Escobedo, 2003). De acordo com sua coloração,
opacidade ou transparência, os filmes plásticos se comportam diferentemente
quanto à absorção, reflexão e transmissão das radiações de onda curta e longa.
Segundo Ferreira (2003), os materiais de cobertura, com o passar do tempo,
tendem a reduzir a transmissividade em até 5%, decorrente do acúmulo de poeira
e da formação de limo, atenuando a radiação solar por meio dos processos de
reflexão e absorção. A condensação do vapor de água na face interna dos
ambientes protegidos, em determinadas condições de temperatura e umidade
relativa do ar, também contribuem para a redução da transmissividade.
Vários estudos vêm sendo realizados no intuito de averiguar a eficácia do
cultivo protegido em videiras, demonstrando resultados promissores dessa
tecnologia na qualidade dos frutos, na produção da planta, no manejo de pragas
e doenças, e na barreira física a vento, granizo, geada e chuva (Lulu et al.
(2005), Detoni et al. (2007), Chavarria et al. (2007a), Chavarria et al.
(2007b), Novello e Palma (2008), Chavarria et al. (2010), Genta et al. (2010)).
2.MICROCLIMA EM CULTIVO PROTEGIDO
Para o cultivo da uva destinada ao consumo em estado fresco ou vinificação, o
clima é considerado fator preponderante na duração do ciclo, na fitossanidade,
na produtividade e na qualidade dos frutos, sendo a radiação solar, a
temperatura do ar, a precipitação pluviométrica, a umidade relativa do ar e o
vento os elementos meteorológicos de maior influência sobre estas
características (Moura et al., 2009).
2.1 Radiação solar
A radiação solar possui importância decisiva em todos os processos vitais das
plantas, tais como a fotossíntese, o fotoperiodismo, o crescimento dos tecidos,
a floração, o amadurecimento dos tecidos. A parte aérea das plantas recebe
radiação solar de vários tipos: radiação direta, radiação que sofreu
espalhamento na atmosfera, radiação difusa em dias nublados e radiação
refletida da superfície do solo (Larcher, 2000).
A videira é uma planta exigente em radiação solar e sua falta é prejudicial,
principalmente durante a floração e a maturação dos frutos. A radiação solar é
fundamental para diferenciação de gemas (Kishino e Caramori, 2007; Moura et
al., 2009), para a coloração das bagas e para o acúmulo de açúcar, sendo
necessário, para isso, que o total de horas de insolação durante o período
vegetativo esteja entre 1.200 a 1.400 horas, conforme a cultivar (Pedro Júnior
e Sentelhas, 2003).
A escolha do material de cobertura em ambientes protegidos pode alterar a
quantidade de luz transmitida no seu interior, beneficiando as plantas de
acordo com suas exigências. Segundo Sentelhas e Santos (1995), a luminosidade é
atenuada de forma diferenciada, conforme o tipo do material de cobertura.
De acordo com Cardoso et al. (2010), a disponibilidade de radiação solar no
interior de ambientes protegidos é menor em relação ao ambiente externo, devido
à reflexão e à absorção pela cobertura. Conceição e Marin (2009), ao estudarem
as condições microclimáticas sob sombrite e a céu aberto no cultivo da videira
BRS Morena', constataram que sob sombrite os valores da radiação solar foram,
em média, 20% menores que a céu aberto. Gonçalves (2007), em experimento com a
videira Niagara Rosada', observou redução na radiação solar de 42 e 60% pela
utilização de tela plástica com 30 e 70% de sombreamento, respectivamente, em
relação ao tratamento a pleno sol. Ferreira et al. (2004), em trabalho
realizado em vinhedos de Cabernet Sauvignon', observaram diminuição do nível
de radiação solar e aumento das temperaturas máximas quando utilizaram
cobertura de polietileno de baixa densidade com aditivado anti-ultravioleta, em
relação ao cultivo a céu aberto.
Em trabalho realizado sob cobertura plástica trançada de polipropileno, com
tratamentos contra raios ultravioleta, Cardoso et al. (2008) obtiveram redução
de 33% da disponibilidade de radiação fotossinteticamente ativa incidente sobre
o dossel, durante o experimento com a cultivar Moscato Giallo. Mota et al.
(2008), utilizando o mesmo tipo de cobertura plástica, concluíram que esta não
interferiu na fenologia, na qualidade das gemas vegetativas e reprodutivas, e
nas dimensões e massa fresca de cachos e bagas da cultivar Cabernet Sauvignon.
Todavia, o uso da cobertura promoveu maior crescimento vegetativo nos ramos
principais.
Mota et al. (2009), avaliando as videiras Cabernet Sauvignon' sob cobertura
plástica de polipropileno com tratamentos contra raios ultravioleta, observaram
que a redução do suprimento de radiação fotossinteticamente ativa foi de 30% e
que as videiras sob cobertura, apesar de não terem sido submetidas ao
tratamento com fungicidas, não tiveram incidência de doenças. Em contrapartida,
as plantas sem cobertura receberam 22 aplicações de fungicidas, por
apresentarem focos de ocorrência e danos por míldio.
2.2 Temperatura do ar
A temperatura do ar influencia praticamente todos os processos fisiológicos da
planta. Cada espécie vegetal tem limites ótimos de temperatura para expressar
seu potencial produtivo (Kishino e Caramori, 2007).
Cada cultivar de videira necessita de certo número de horas de frio abaixo de
7,2ºC para interromper a dormência, caso contrário a brotação se torna
deficiente e desuniforme. No outono-inverno, temperaturas abaixo de 10ºC
atrasam a brotação da gema e retardam o desenvolvimento inicial do broto, sendo
ideal temperaturas entre 10ºC e 13ºC. Temperaturas em torno de 27ºC são
propícias para o amadurecimento da uva e contribuem para o aumento do teor de
açúcares na baga (Pedro Júnior e Sentelhas, 2003; Kishino e Caramori, 2007).
A temperatura também tem grande papel na qualidade do fruto. Conforme Pedro
Júnior e Sentelhas (2003), temperaturas entre 10ºC e 16ºC proporcionam à
videira crescimento vegetativo vigoroso e frutos de ótima qualidade;
entretanto, temperaturas entre 16ºC e 21ºC promovem uma planta vigorosa, mas
com frutos de qualidade inferior. Isso é explicado pelo fato de que a amplitude
térmica e o comprimento do dia condicionam os processos de coloração,
concentração de sólidos solúveis e de acidez do fruto.
Segundo Schiedek (1996), a temperatura do ar em sistemas de cultivo protegido
com cobertura plástica, tende a ser mais elevada durante o período diurno e,
igual ou mais baixa durante o noturno. Ferreira et al. (2004) e Chavarria et
al. (2007b) estudando vinhedos de Cabernet Sauvignon' e Moscato Giallo',
observaram valores superiores de temperatura máxima conduzidos no ambiente
protegido, quando comparados ao ambiente de céu aberto. De modo semelhante,
Comiran (2009) descreveu que apesar de haver menor fluxo de radiação na
cobertura plástica, a temperatura máxima do ar foi maior nesse ambiente que em
céu aberto, no cultivo de Niágara Rosada'. Entretanto, Lulu e Pedro Júnior
(2006) estudando vinhedos de Romana' (A 1105), não observaram diferenças de
temperaturas entre os ambientes de cultivo protegido e a céu aberto.
2.3 Precipitação pluviométrica
A precipitação é qualquer deposição de água em forma líquida ou sólida
proveniente da atmosfera, incluindo chuva, granizo, neve, orvalho, entre outros
(Kishino e Caramori, 2007).
A produção de uvas é possível desde regiões onde o regime pluviométrico não
ultrapassa 200mm, até regiões mais úmidas com mais de 1.000mm anuais, variando
somente a tecnologia de produção e os níveis de produtividade (Pedro Júnior e
Sentelhas, 2003). No entanto, durante o crescimento vegetativo da videira, a
chuva contínua favorece a infecção por doenças fúngicas da parte aérea, por
aumentar o período de molhamento foliar, disseminar os patógenos e dificultar a
realização de tratos fitossanitários (Kishino e Caramori, 2007). Entretanto,
segundo Tagliari (2003), a utilização de cobertura plástica em vinhedos é uma
tecnologia que pode melhorar a qualidade das uvas, pois evita o molhamento
foliar da parte aérea da planta.
No Brasil, nas regiões onde a videira é conduzida para a obtenção de duas
safras anuais, como no Submédio do Vale do São Francisco (Moura et al., 2009) e
no norte do Paraná (Kishino e Caramori, 2007), quando a poda é realizada no
início do ano, praticamente todo o ciclo produtivo da videira ocorre no período
chuvoso, compreendendo a fase vegetativa e de maturação dos frutos. Nessas
condições a videira pode ser submetida a graves problemas, como abortamento das
flores, elevados índices de incidência de doenças fúngicas e rachadura de bagas
durante a fase de maturação, o que implica na perda parcial ou total da safra.
Na fase final de maturação, um período seco é desejável para se produzir uva
mais doce, com polpa firme, sem rachadura, sem podridão e vida de prateleira
mais longa (Kishino e Caramori, 2007).
Ressalta-se que no sistema de cobertura plástica pode haver maior tempo
residual dos defensivos químicos nas folhas e cachos, devido à ausência da ação
da água das chuvas (Chavarria et al., 2007a).
2.4 Umidade relativa do ar e duração do período de molhamento
A umidade relativa expressa o conteúdo de vapor encontrado na atmosfera. As
altas concentrações de vapor favorecem a absorção direta de umidade pelas
plantas e o aumento da taxa fotossintética (Kishino e Caramori, 2007).
Em ambiente protegido com cobertura plástica, além da temperatura, é necessário
considerar a variação na umidade relativa do ar, embora esse parâmetro
apresente menor variação na cobertura plástica em relação ao ambiente externo
(Chavarria e Santos, 2009).
De acordo com Sentelhas e Santos (1995), a umidade relativa do ar e a duração
do período de molhamento foliar por orvalho estão intimamente ligadas, sendo
que as principais doenças fúngicas ocorrem em condições de elevada umidade
relativa e na presença de um filme de água sobre as folhas e frutos,
propiciando a instalação do patógeno. Detoni et al. (2007), em trabalho com a
uva Cabernet Sauvignon', relataram que nas plantas sob cobertura plástica, não
foi observado, visualmente, o molhamento foliar nas primeiras horas do dia em
função do orvalho, nem após períodos chuvosos. O orvalho formado concentrava-se
na região inferior do plástico, sem deposição foliar. Já nas plantas sem
cobertura, verificou-se molhamento foliar por orvalho e chuva, da brotação até
a colheita dos frutos, favorecendo a incidência de antracnose e
consequentemente prejudicando a qualidade visual dos cachos e a produção.
Em viticultura, a umidade ideal está entre 62% e 68%. Umidade acima de 75%,
associada à alta temperatura durante o período vegetativo, favorece a infecção
por míldio, podridão do fruto, mancha-da-folha e ferrugem, por prolongar o
período de molhamento foliar. Este fato pode ser diminuído com o pomar bem
ventilado e evitando-se a sobreposição de folhas. A baixa umidade do ar, por
outro lado, favorece a proliferação de ácaros e oídio, e a transpiração da
planta, o que pode reduzir a taxa fotossintética e a produção da uva (Kishino e
Caramori, 2007). Conforme Chavarria et al. (2008), a cobertura plástica em
vinhedo de Moscato Giallo', não afetou o potencial da água na folha, mas
diminuiu a demanda evaporativa diária, demonstrando que esta tecnologia
apresenta-se como um atenuante para estresses hídricos, favorecendo a
condutância estomática e, consequentemente, a assimilação de carbono em
videiras.
Segundo Martins et al.(1999), a umidade do ar no interior dos ambientes
protegidos condensa a face interna do filme plástico de cobertura e reduz a
transmitância da radiação solar, afetando negativamente a disponibilidade de
energia para as plantas. Chavarria et al. (2007b) verificaram não haver
diferença de umidade relativa entre os vinhedos sob cobertura plástica e a céu
aberto, para as uvas Romana' (A 1105) e Moscato Giallo'.
Lulu (2005), em trabalho realizado com a uva Romana (A1105)', relata que a
umidade relativa média no interior da cobertura plástica tende as ser
ligeiramente superior à do ambiente externo no período noturno, no final da
tarde e em dias nublados e com chuva. No entanto, durante o dia, principalmente
no período das 8 às 14 horas, a umidade relativa média na cobertura plástica
tende a ser ligeiramente inferior à do ambiente externo. Estes relatos estão de
acordo com os de Cardoso et al. (2008), os quais afirmaram, em estudo com a
cultivar Moscato Giallo, que em períodos diurnos a umidade relativa do ar é
inferior sob a cobertura plástica, quando comparada ao ambiente externo.
2.5 Vento
O vento pode favorecer ou prejudicar o desenvolvimento da planta conforme sua
velocidade, duração e frequência (Kishino e Caramori, 2007).
Na fase inicial de desenvolvimento do ramo (no primeiro ciclo de produção), o
vento frio, aliado à umidade alta relativa, favorece a infecção dos brotos e
cachos por antracnose. Na primavera-verão, ventos que ultrapassam a velocidade
de 80 km/h podem derrubar os sistemas de sustentação da videira e causar
grandes prejuízos. O vento forte também aumenta a transpiração, diminui a
absorção de CO2 e causa danos mecânicos em ramos, folhas e frutos. A folha
danificada apresenta deficiência fotossintética e o fruto com lesões na casca
perde o valor comercial (Kishino e Caramori, 2007).
Os ventos fracos são benéficos por acelerar o secamento da folhagem e diminuir
o período de molhamento foliar, pois quanto maior este período, maior será a
probabilidade de ocorrer infecção por fungos patogênicos ( Kishino e Caramori,
2007). Segundo Cardoso et al. (2008), em estudos com a cultivar Moscato Giallo,
a cobertura plástica impõem barreira física ao vento e reduz sua velocidade em
cerca de 90%.
Chavarria et al. (2008), em vinhedo de Moscato Giallo', obtiveram a velocidade
do vento atenuada em 90,04% junto ao dossel das plantas cultivadas sob
cobertura plástica de polipropileno com tratamento contra raios ultravioleta.
Este benefício da cobertura plástica também foram observados por Chavarria et
al. (2009), que obtiveram redução da queda de flores e favorecimento do maior
número de bagas por cacho, com a mesma cultivar.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no exposto, pode-se enfatizar que o sistema de produção de uvas sob
cobertura plástica propicia a redução da aplicação de fungicidas, sem alterar a
qualidade e a produção dos frutos, o que representa uma alternativa para a
diminuição nos custos, nos danos ao meio ambiente, nos riscos de contaminação
dos colaboradores nas áreas de cultivo e, consequentemente, no aumento da
competitividade das uvas produzidas. Além disso, por possibilitar a antecipação
da maturação das uvas em relação àquelas cultivadas sob tela plástica, o
produtor poderá escalonar a colheita, realizando-a no momento em que os preços
forem mais favoráveis à venda. No entanto, é necessário considerar que se trata
de uma nova tecnologia e alguns aspectos importantes devem ser avaliados, tendo
em vista que a sua eficácia pode variar em função da cultivar, das condições
climáticas na região de cultivo, além da relação custo/benefício, uma vez que a
durabilidade do plástico é, em média, de três anos, quando comparado à tela
plástica.