∫1. Novarum Flora Lusitana Commentarii: In memoriam João do Amaral Franco (1921
- 2009)
∫1. Novarum Flora Lusitana Commentarii
In memoriamA.R. Pinto da Silva
(1912' 1992)
In memoriam João do Amaral Franco (1921 - 2009)
O Professor João do Amaral Franco colhendo plantas na Serra de Monchique em
1987 (foto: Luísa Genésio).
João Manuel António Paes do Amaral Franco o patriarca da botânica portuguesa,
autor da sua última flora, faleceu em Lisboa no dia 8 de Maio de 2009, aos 87
anos de idade. Nasceu a 25 de Junho de 1921 em Santos-o-Velho, Lisboa tendo
representado ao longo da sua vida como botânico uma linha de mais de um século
de insignes botânicos do Instituto Superior de Agronomia e da Botânica
portuguesa. Foi professor de Botânica de várias gerações de engenheiros
agrónomos e silvicultores tendo sido responsável pelas disciplinas de botânica
no Instituto Superior de Agronomia de 1950 até à sua jubilação em 1991. Foi
ainda membro de uma grande parte dos júris de doutoramento, e outros, dos
botânicos portugueses seniores da actualidade.
O seu curriculum inclui mais de 150 publicações sendo o exemplo do trabalho
profícuo de um taxónomo e sistemata. Realizou centenas de descrições,
redescrições, aperfeiçoamentos em descrições anteriores, alteração de
corologias, traduzindo nos herbários que estudou, particularmente em LISI, a
mais significativa das mais valias. O Professor João Amaral Franco iniciou a
sua actividade científica ainda como aluno e prolongou-a pelos últimos 67 anos.
O primeiro período (1940 a 1950) da sua vida científica corresponde à precoce
introdução à taxonomia vegetal sobretudo através de estudos de dendrologia de
coníferas. Durante este período inicia a sua longa carreira académica como
docente ao ser contratado como segundo assistente no Instituto Superior de
Agronomia.
Depois de 1950, e até 1960, já como Professor agregado, continua a publicação
de diversas notas sobre coníferas datando deste período um consistente
alargamento do horizonte taxonómico dos seus interesses e publicações a que não
serão alheios os períodos passados em Kew e no Museu de História Natural de
Londres. Nesta década publica diversas notas sobre a flora de Portugal, algumas
de índole biogeográfica, a par da principal linha de investigação em taxonomia
vegetal. A década de 60 fica marcada pela sua colaboração com o projecto Flora
Europaea e pelas notas publicadas em colaboração com o A. R. Pinto da Silva bem
como com a M. L. Rocha Afonso. Ainda na década de 60 foi nomeado professor
extraordinário do 1º grupo de disciplinas do Instituto Superior de Agronomia.
A partir de 1971 João Amaral Franco iniciou (por sugestão do Prof. V. Heywood e
do Prof. T.G. Tutin) a publicação da Nova Flora de Portugal, da qual publica o
primeiro volume. Ainda na década de 70 inicia a colaboração com a iniciativa
Atlas Florae Europaeae e colabora no terceiro e quarto volumes da Flora
Europaea. Datam deste período as suas principais contribuições na fitogeografia
e corologia da flora de Portugal, mantendo assinalável produção científica
taxonómica patente nas Notulae Systematicae.
Na década de 80 vê o seu curriculum científico e académico reconhecido tendo
sido nomeado professor Catedrático do 1º grupo de disciplinas do Instituto
Superior de Agronomia. Neste período alarga os seus estudos sobre
monocotiledóneas, sobretudo gramíneas, grupo sobre o qual publica diversos
artigos e notas. Publica o segundo volume da Nova Flora de Portugal e a
Distribuição de Pteridófitos e Gimnospérmicas em Portugal. Mantém a colaboração
como o Atlas Florae Europaeae datando deste período a sua colaboração com a
Med-Checklist, projecto de que foi Conselheiro Nacional, e no projecto Flora
Ibérica do qual é editado o primeiro volume
Após a sua jubilação 1991, continua a colaborar activamente no herbário e
Departamento de Protecção de Plantas e de Fitoecologia do Instituto Superior de
Agronomia, bem como nos projectos Flora Ibérica e Atlas Florae Europaeae. Em
1994 publica, em colaboração com M.L. Rocha Afonso o primeiro fascículo do
terceiro volume da Nova Flora de Portugal, bem como diversos artigos e notas
resultado da preparação do segundo fascículo dedicado às gramíneas
Nos primeiros anos do novo milénio vê a luz do dia o terceiro (e último)
fascículo do terceiro volume Nova Flora de Portugal. Nestes anos João Amaral
Franco continuou a manter intensa actividade de revisão de material herborizado
no herbário LISI, tendo revisto para nova edição o primeiro Volume da Nova
Flora de Portugal.
Foi autor de cerca de 160 novos taxa ou combinações tendo-lhe sido recentemente
dedicadas as espécies Teucrium francoi e Festuca francoi. O seu exemplo e a sua
obra na produção de revisões e monografias, na publicação de novidades
florísticas ou taxonómicas, reflecte o trabalho de uma vida na taxonomia, a sua
Flora foi, e é, uma ferramenta de excelência, primando pelo rigor da linguagem
pelas extensas descrições. A Botânica portuguesa deve-lhe muito pois a sua obra
exemplar possuiu sempre um rumo coerente, contínuo e pertinaz, características
exemplares de um curriculum que contribui para o progresso da ciência e da
taxonomia vegetal em particular.
Recordo o Professor João Amaral Franco no antigo herbário LISI debruçado sobre
algum espécimen enquanto centenas de outros esperavam o momento de serem
escrutinados, que esta imagem de labor contínuo e o resultante curriculum nos
sirvam de exemplo.
A sua obra perdurará.
M. P. S. M. S. , Funchal, 12 de Maio de 2009.
Miguel Pinto da Silva Menezes de Sequeira, Depto. Biologia, Universidade da
Madeira, Funchal, sequeira@uma.pt
Nota_dos_editores: este texto surgiu originalmente na página http://plantas-e-
pessoas.blogspot.com/2009/06/joao-manuel-antonio-paes-do-amaral.html, em 21 de
Junho de 2009 e é, republicado na Silva Lusitanapor gentil cedência do seu
autor.
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