Crescimento de Corymbia citriodora sob Aplicação de Boro nas Épocas Secas e
Chuvosas no Mato Grosso do Sul, Brasil
Crescimento de Corymbia citriodora sob Aplicação de Boro nas Épocas Secas e
Chuvosas no Mato Grosso do Sul, Brasil
La Croissance de Corymbia citriodora Sous l'Application du Bore Pendant les
Saisons Sèches et Humides à Mato Grosso do Sul, Brésil
Résumé
La carence en bore est largement présente dans les sols du Brésil, bien qu'elle
semble plus prononcée dans les zones de "cerrado", en particulier
dans les sols sablonneux pauvres en matière organique et avec la présence
saisonnière d'un déficit hydrique. Parmi les espèces plus sensibles c'est le
Corymbia citriodora, qui peut subir la sécheresse des pointes des branches
(dieback) et des changements de croissance. Dans le but d'évaluer l'effet de
doses du bore sur la croissance initiale quant à la hauteur et au diamètre de
plantes de Corymbia citriodora en saison sèche et pluvieuse, dans les champs à
Mato Grosso do Sul (MS), Brésil, ont été appliquées différentes doses (0; 0,2;
0,4; 0,6; 0,8 g de boro/arbre), sous le houppier desarbres, dans deux
expériences en blocs aléatoires complets installés sur Latosol Rouge
Dystrophique, dans la régionde Ponta Porã ' MS. On n'a pas trouvé de différence
significative entre les traitements pour la croissance en hauteur et pour le
diamètre à la hauteur de la poitrine (DHP) jusqu'à 29 mois quand le bore a été
appliqué en début de la saison sèche. Cependant, quand il a été appliqué au
début de la période pluvieuse, l'évaluation faite à 29 mois a affiché une
différence significative entre le témoin (zéro du bore) et la plus haute dose
(0,8 g de bore/arbre) lesquelles ont présenté les plus petites croissances.
Mots clés: Eucalyptus; "cerrado";carence nutritionnelle
Introdução
A área cultivada com eucalipto no Brasil tem apresentado um aumento
considerável, e atualmente abrange aproximadamente três milhões de hectares,
devido ao seu crescimento rápido e por apresentar boa adaptação às condições
edafoclimáticas do país. Essa cultura permite ciclo de corte relativamente
curto e alta produtividade, quando comparada com espécies florestais nativas,
apresentando assim importante função quanto aos aspetos económicos e
silviculturais (BARRETTO et al., 2007).
Do ponto de vista ambiental, essas plantações têm surtido grande efeito na
redução da exploração predatória de matas nativas (GONÇALVEZ e VALERI, 2001).
Normalmente, os povoamentos florestais no Brasil têm sido implantados em solos
de baixa fertilidade natural, como Neossolos Quartzarénicos e Latossolos
arenosos, distróficos ou álicos, onde o boro e outros nutrientes muitas vezes
ocorrem em níveis limitantes (SILVEIRA et al., 2000) para o adequado
crescimento e desenvolvimento de culturas comerciais.
A deficiência de boro ocorre de forma generalizada nos solos brasileiros,
embora se manifeste mais pronunciadamente em áreas de cerrado, ou solos
arenosos com baixo teor de matéria orgânica e com ocorrência sazonal de déficit
hídrico. Entre as espécies mais suscetíveis à deficiência, em nossas condições,
estão Eucalyptus citriodora, atualmente classificada como Corymbia citriodora
(Hook.) K.D. Hill & L.A.S. Johnson, E. maculata, E. pilularis e E. grandis.
Os sintomas dessa deficiência são: folhas novas cloróticas, encarquilhadas e
coriáceas que se tornam quebradiças, morte de gema apical (seca do ponteiro),
fendilhamento da casca e tronco, com exsudação de goma e necrose dos tecidos
(TOKESHI et al., 1976; MALAVOLTA et al., 1978).
Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito de doses de boro
sobre o crescimento inicial em altura e diâmetro de plantas de Corymbia
citriodora, nas épocas seca e chuvosa, em condições de campo no Mato Grosso do
Sul.
Material e métodos
Foram realizados dois experimentos em condições de campo, um instalado no
início da estação seca e outro no início das chuvas, em área de cultivo da
Fazenda Graça de Deus, localizada no município de Ponta Porã ' MS. O
delineamento usado, em cada experimento, foi em blocos casualizados.
O solo foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico de textura média,
não sendo realizada adubação no plantio, como tem sido comum na região.
Foram aplicados cinco tratamentos, sendo uma testemunha sem boro e mais quatro
doses (0; 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8 g/planta de boro), com quatro repetições,
utilizando como fonte o ácido bórico.
A espécie avaliada foi Corymbia citriodora. As mudas tiveram origem seminal,
cultivadas em tubetes de polipropileno e foram transplantadas para o campo em
março de 2006, em espaçamento de 3 x 2m. Em março de 2007 foi feita adubação de
cobertura com 100 g/planta da fórmula 12-15-15 (NPK granulado) aplicada em
sulco próximo ao caule. As doses de boro foram aplicadas no ano seguinte ao
plantio (FONSECA et al., 2007), manualmente a lanço na projeção da copa de cada
planta, sem incorporação.
Em cada experimento as parcelas eram constituídas de 50 plantas, sendo
consideradas úteis apenas 24, totalizando 96 plantas úteis por tratamento.
No experimento da época seca os tratamentos foram aplicados em março de 2007
quando as plantas tinham 13 meses no campo. Nesta ocasião foi realizada a
primeira avaliação, repetida ainda aos 16, 20, 24 e 29 meses de idade.
No experimento da época chuvosa os tratamentos foram aplicados em dezembro de
2007 quando as plantas tinham 9 meses no campo. Nesta ocasião foi realizada a
primeira avaliação, repetida ainda aos 21, 25 e 29 meses de idade.
Foram avaliados a altura e o DAP (diâmetro a altura do peito) e os resultados
foram submetidos à análise de variância (F≤0,05), ajustes de equações por
regressão para o modelo quadrático ou da reta, testes de identidade de modelos
(P≤0,05) e de médias por Tukey (P=0,05).
Resultados e discussão
Embora os experimentos tenham sido implantados em blocos casualizados, as
análises foram realizadas considerando-se o conjunto dos dados para a obtenção
de médias a partir de quatro repetições, aos moldes de um delineamento
inteiramente ao acaso. Esta decisão foi tomada após os cálculos para análise de
variância, onde se constatou que o teste F para blocos foi não significativo,
tanto para o período de chuvas quanto o de seca, independente das datas de
aplicação das doses de boro.
Assim, para o período seco foram geradas cinco equações, uma para cada
tratamento mais a equação comum. Para o período chuvoso não foi possível a
aplicação do teste de identidade de modelos em função de se ter realizado
apenas três medições por dificuldades de logística. Nesse caso, procedeu-se à
análise de variância para as doses, em cada uma das três medições realizadas e
o teste de médias quando aplicável.
Experimento implantado no período de seca
Testando a hipótese de que as cinco equações de regressão geradas referentes às
doses de boro aplicadas em tempos diferentes fossem iguais a um único modelo
comum que as representasse, concluiu-se que não foi significativa a diferença
(Quadro 1) segundo o teste de identidade de modelos. Aceitou-se, portanto, a
hipótese de igualdade, o que significa que os cinco modelos podem ser
representados por uma única equação, comum a todos (Quadro 2).
Quadro 1 - Análise de variância do modelo completo com redução para a variável
altura de planta (m), nas diferentes doses de boro aplicadas na época seca
Quadro 2 - Ajustes de regressão para a variável altura (m) de planta (Y) em
função do tempo (X), nas diferentes doses de boro aplicadas na época seca e
equações comuns
Na prática infere-se que não houve influência das diferentes doses de boro
sobre o crescimento em altura das plantas, nas cinco medições que ocorreram até
aos 29 meses de idade, quando os tratamentos foram aplicados no período da
seca. Observa-se, no entanto, que a equação comum(1) polinomial de segundo grau
apresentou b2 não significativo, implicando na aceitação da possibilidade de
crescimento regularmente ascendente em altura até aos 29 meses, representado
pela equação comum(2) (Quadro 2) em qualquer das doses de boro aplicadas.
Na Figura 1 pode-se visualizar as diferentes medições realizadas nas plantas de
corimbia quando submetidas a diferentes doses de boro na época seca do ano,
além da linha da equação comum que as representa. Sendo esta equação a da reta,
pode-se inferir que o crescimento em altura, até aos 29 meses acompanhou
evolução aritmética. Acumulando-se esta constatação com a não diferenciação
entre as doses aplicadas, identificada pelo teste de identidade de modelos,
pode-se concluir que as plantas apresentaram tendência de crescimento no mesmo
ritmo para além do período analisado, independente da dose de boro aplicada,
quando esta operação foi feita no período seco.
Figura_1 - Altura de plantas de eucalipto em diferentes idades para diferentes
doses de boro aplicadas na época seca e a curva de regressão comum(2)
Apesar do papel fisiológico desse nutriente ainda não estar totalmente
entendido, sabe-se da sua importância na formação da parede celular, mais
especificamente na síntese dos seus componentes, como a pectina, a celulose e a
lignina (MARSCHNER, 1995; MORAES et al., 2002). Os sintomas de deficiência e de
toxidez desse nutriente estão restritos à sua mobilidade considerada baixa, ou
muito limitada no floema. Para C. citriodora, MELO e SANTOS (1990) afirmam que
é mais comum a deficiência do que a toxidez.
Para a variável DAP o teste de hipótese de que as cinco equações fossem iguais
à equação comum também concluiu que não houve diferença significativa (Quadro
3), aceitando-se a hipótese de igualdade. Assim como para a altura, não houve
influência das doses de boro sobre o crescimento em diâmetro nas cinco medições
que ocorreram até aos 29 meses de idade, quando os tratamentos foram aplicados
no período da seca.
Quadro 3 - Análise de variância do modelo completo com redução para a variável
DAP (cm), nas diferentes doses de boro aplicadas na época seca
Todos os ajustes de regressão para a variável DAP foram significativos (Quadro
4). Por ter sido aceite a hipótese de igualdade entre as equações das
diferentes doses de boro, a equação comum pode representar todos os tratamentos
aplicados.
Quadro 4 - Ajustes de regressão para a variável DAP (cm) (Y) em função do tempo
(X) nas diferentes doses de boro aplicadas na época seca do ano e equação comum
A tendência das plantas de corimbia medidas até aos 29 meses de idade para a
variável DAP é de decréscimo na velocidade de crescimento (Figura 2),
diferentemente do que ocorreu no crescimento em altura (Figura_1).
Figura 2 - DAP (cm) de plantas de eucalipto em diferentes idades para
diferentes doses de boro aplicadas na época seca e a curva de regressão comum
Depreende-se que, apesar da época seca ser considerada a mais propícia à
deficiência de boro em C. citriodora (HAAG et al., 1977), em função da redução
do fluxo de massa e da decomposição da matéria orgânica, principal fonte deste
elemento no solo, não foi detectado nesse período, influência das doses sobre o
DAP ou altura das plantas.
Cabe destacar que o boro aplicado em corimbia pode atuar não somente na redução
da deficiência aparente, que é em geral centrada nos efeitos nas partes jovens
em brotação em condições de campo, mas também no aumento da proporção de fustes
retos e sem ramificações (TOKESHI et al., 1976). Este aspecto não foi analisado
neste trabalho, mas é um fator a ser considerado em pesquisas futuras.
Experimento implantado no período das águas
Para o período das águas não foi possível realizar o teste de identidade de
modelos, pois foram feitas apenas três aplicações e medições por questões de
logística. Assim, também não foi possível afirmar que os modelos tenham sido
diferentes ou iguais uns aos outros e nem que pudessem ou não ser representados
por um modelo comum, do ponto de vista estatístico. Pelo menos mais uma medição
seria necessária para a aplicação deste teste, tanto para altura quanto para
diâmetro.
No entanto, para as duas variáveis dependentes do tempo os modelos da reta
(DAP) e polinomial (altura) testados tiveram ajustes de regressão
significativos (Quadro 5). Portanto, apesar de não ter sido possível a
aplicação do teste de identidade, ainda assim, o grau de confiança da regressão
para os modelos permite que estes sejam utilizados para representar os dados
até aos 29 meses de idade.
Quadro 5 - Ajustes de regressão para as variáveis altura de planta (m) e DAP
(cm) em função do tempo nas diferentes doses de boro aplicadas no período das
águas
Não houve diferença significativa para a altura entre as doses de boro
aplicadas no período das águas até à idade em que as plantas foram medidas,
embora se possa observar menor crescimento em altura e DAP (Figura 3) para os
tratamentos 0 e 0,8g de boro/planta. Em condições de clima com estiagens
prolongadas, BARROS et al., (1990) apontam que plantas jovens de eucalipto
podem apresentar sintomas de deficiência de boro associada a zinco, notadamente
com redução do tamanho de folhas, seca e morte da árvore. O limite entre a
concentração adequada e o nível tóxico de boro para as plantas pode ser muito
estreito (GONÇALVES e VALERY, 2001) e a tolerância relativa das plantas à
toxidez do elemento parece depender da taxa de transferência do nutriente das
raízes para a parte aérea. Trabalhando em solos de textura arenosa, COUTINHO et
al., (1995) observaram efeito depressivo na altura de plantas de E. globulus
quando aplicaram de 4,4 a 8,8 kg/ha de boro.
Figura 3 - Altura (m) de plantas de eucalipto em diferentes idades para
diferentes doses de boro aplicadas no período das águas e a curva da equação
comum
Na impossibilidade da realização do teste de identidade para as medições no
período das águas, procedeu-se à análise de variância para altura e DAP em cada
data de coleta de dados. Além da identificação da não significância para
blocos, o mesmo foi observado para as avaliações de altura nas três ocasiões
(21, 25 e 29 meses) e para DAP nas duas primeiras.
Como somente na última medição de DAP, feita oito meses após a aplicação foi
detetada significância (F, P=0,01) entre doses de boro, implementou-se o teste
Bartlett a partir do qual admitiu-se a hipótese de igualdade entre variâncias.
Aplicou-se então o teste para médias (Tukey, P=0,05, Quadro 6). Ficou claro que
o aumento das doses de boro apresentou relação inversa com o crescimento em
DAP, embora as diferenças não tenham sido significativas até à dose 0,6 g/
planta. Entretanto, a diferença entre a dose zero e 0,8 g de boro/planta foi
significativa ao nível de probabilidade estipulado.
Quadro 6 - Médias de DAP tomadas aos 29 meses de idade de plantas de Corymbia
citriodora, oito meses após a aplicação de diferentes doses de boro
Cabe considerar a possibilidade desta tendência se transferir também para a
altura nos anos seguintes, pois já foi detetada significância para o teste F
nesta variável a 8% aos 29 meses. Não houve discussão sobre esta questão em
função de que o nível de probabilidade considerado aceitável neste trabalho foi
de 5%.
Avaliações por períodos mais longos podem esclarecer possível efeito tóxico do
boro na dose 0,8 g/planta, tanto para altura quanto para DAP, pois os teores
limites entre deficiência e toxidez deste elemento são muito próximos
(MALAVOLTA, 1988), embora o mais comum nesta espécie de eucalipto seja o
aparecimento de consequências por carência e não por excesso (MALAVOLTA, 1978).
BARROS et al. (1992) relatam que o déficit hídrico é a principal causa de
deficiência de boro em Corymbia citriodora e E. urophylla no cerrado de Minas
Gerais. Na época chuvosa um possível aumento da disponibilidade desse
nutriente, por fluxo de massa para as plantas pode ter ocasionado toxidez na
dose mais elevada, considerando que essa é maior do que a recomendada para
eucalipto pela COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
(1989), que é de 5 g/planta de bórax (0,5 g de boro) aplicados em cobertura.
Considerando que as fontes, as doses, modos e épocas de aplicação de boro,
juntamente com teores críticos no solo e nos tecidos exercem grande influência
na produção e qualidade da madeira em cultivos de eucalipto, é importante que
pesquisas sejam realizadas para estabelecerem valores adequados à produção nas
condições de Mato Grosso do Sul.
Conclusões
As doses de boro aplicadas no início do período de estiagem não produziram
diferença significativa para crescimento em altura e diâmetro de Corymbia
citriodora até aos 29 meses de idade.
Quando os tratamentos foram aplicados no início do período das águas,
aparentemente as doses de boro não apresentaram diferença significativa para
crescimento em altura e DAP de Corymbia citriodora aos 29 meses de idade,
embora tenha sido detetada tendência da testemunha (zero de boro) e a dose mais
elevada (0,8g de boro/planta) apresentarem os menores crescimentos.