PRODUÇÃO DE TRIGO E TRITICALE EM ROTAÇÕES DE SEQUEIRO
INTRODUÇÃO
Rotação, na definição mais usual, é a repetição de uma série ordenada de culturas num
dado terreno (Terron, 1989). Em grandes áreas
e no decurso do século XX, esta sequência
repetida de culturas foi substituída pela monocultura, provocando desequilíbrios de vária
ordem que põem em causa a sustentabilidade
das práticas agrícolas. As monoculturas conduzem, em geral, a menores produções do que
quando em rotação; o que foi constatado em
condições tão variadas como na Europa com
trigo e cevada (Johnston, 1994; Izaurralde et al.,
1995) ou milho (Odell et al. , 1984), nos Estados
Unidos com trigo, milho ou aveia (Brown, 1994),
na Austrália com trigo (Grace & Oades, 1994)
ou na Polónia com batata ou centeio (Mercik,
1994). Antes do aparecimento dos adubos, o
pousio sem cultura funcionava como restaurador
da fertilidade (Triplett, 1986), conseguindo
manter produções de cereais, em alguns solos,
ao nível das obtidas actualmente à custa de
adubos (Amir & Sinclair, 1994). O encurtamento
da duração do pousio ou o aumento do período
de cultivo podem reduzir os efeitos do sistema
tradicional (Greenland, 1994).
Nem sempre há convergência de opiniões
no que respeita aos efeitos das rotações no
comportamento das culturas. A mesma rotação
pode ter impactos diversos de acordo com as
técnicas culturais envolvidas (Fenster et al.,
1969; Camberato & Frederick, 1994), ou
mesmo as condições ambientais prevalecentes
(Heenan et al., 1994; Porter et al., 1997),
dificultando a avaliação do seu efeito. Daí que
a extrapolação, no tempo e no espaço, do efeito
das rotações se torne difícil e que a mesma
rotação possa mesmo ter efeitos antagónicos
(Azevedo, 1992). As rotações podem afectar
as características do solo, alterando a evolução
do teor de água no solo (Harris, 1963) e a estrutura (Barber, 1972), modificando a densidade
do solo (Griffith et al., 1986), afectando a erosão e armazenamento de água no solo (Shanahan et al., 1988), o valor do pH (Coventry
& Slattery, 1991) e a textura (Gantzer et al.,
1991), os teores de Ca, Mg, K e Al (Karimian,
1990; Chan & Heenan, 1993), os teores de
matéria orgânica, carbono e azoto do solo
(Alves, 1961; White et al., 1994). O efeito das
rotações na produção das culturas também é
referido com muita frequência (Shanahan et
al., 1988; Dick et al., 1991).
A prática do alqueive na rotação com cereal é vulgar em regiões de escassa precipitação, atribuindo-se-lhe uma “regeneração” da
fertilidade do solo, entretanto perdida pelo
cultivo continuado. No Nordeste Transmontano, a rotação cereal-alqueive é um dos
elementos fundamentais que Moreira (s.d.)
utiliza para a caracterização de dois dos
sistemas de agricultura da região. Orlando
Ribeiro (1991) recorre, com frequência, ao
pousio como elemento chave da caracterização
da paisagem agrária portuguesa, em particular
no Alentejo, onde a cultura cerealífera predominava e as chuvas são menos abundantes.
No que respeita ao cereal-prado de sequeiro,
justifica-se não só pelo seu efeito sobre a
fertilidade do solo, como pelo seu contributo
para a alimentação animal; dado o excesso de
cereal que hoje em dia se verifica na Europa
Comunitária, sendo o seu destino cada vez
mais a nutrição animal. A consociação forrageira de Outono-Inverno terá o mesmo destino
mas a tecnologia do seu aproveitamento e
exploração (tal como o prado) pode implicar,
por si só, diferenças no comportamento do
cereal; acresce o facto de ser sugerida a sua
adopção em alguns trabalhos (DRTM, 1982;
Moreira, 1985) e ser praticada em algumas das
explorações da região (Sousa, 1991). A inclusão da leguminosa (tremocilha) pode alterar
também os níveis de azoto a aplicar ao cereal
e proporciona uma produção, de grão proteaginoso, na qual a UE é deficitária.
Em Portugal já se tentou, sem sucesso prolongado, manter ensaios de campo incluindo
rotações de sequeiro (Sampaio, 1985). Regista-se como excepção os ensaios da responsabilidade de Almeida Alves (Alves, 1961;
Azevedo, 1973). O facto de se relegar para
segundo plano o estudo de rotações tem a ver
com a complexidade e demora da experimentação que versa este tema. Pretendeu-se com
o ensaio de campo, instalado a partir de 1986,
retirar dados que quantificassem os efeitos de
quatro rotações, cereal-alqueive, cereal-consociação forrageira, cereal-leguminosa e cerealprado de sequeiro. Trata-se de estudar o pressuposto de que a vegetação modifica o ambiente e este, pela sua vez, a vegetação (Powers
& Cleve, 1991). Ou seja, em que medida
diferentes rotações, instaladas nas mesmas
condições, influenciam vários parâmetros,
neste caso os relacionados com características
edáficas, por um lado, e de produção das
culturas, por outro.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi instalado na Quinta de Prados
da Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro em Vila Real, à latitude de 41° 19´ N,
longitude de 7° 44´ W e altitude de 470 m. O
campo de ensaio apresentava um ligeiro
declive, pelo que foi dividido em duas partes
que designaremos por folha 1 (parte superior)
e folha 2 (parte inferior). Trata-se de uma
encosta de declive ligeiro, situada no
complexo xisto-grauváquico, tendo sido
ocupada com olival e vinha dispersos e, a partir
de 1978, com cereais praganosos estremes ou
consociados com ervilhaca. O solo do local
de ensaio pode classificar-se como cambissolo
dístrico órtico derivado de xisto, com influência antrópica (Agroconsultores & COBA,
1991). Como principais características do solo
do ensaio saliente-se os teores baixos de
matéria orgânica (8 g kg-1) e fósforo extraível
(27 mg kg-1), altos de potássio extraível (115
mg kg-1), elevados de alumínio (1,40 cmol kg-1)
e acidez de troca (1,44 cmol kg-1) e a baixa
capacidade de troca (soma de bases de troca
2,26 cmol kg-1; grau de saturação 61,3%); os
teores elevados de areia fina (634 g kg-1) e limo
(228 g kg-1) conferem a este solo um elevado
volume de água utilizável (59,8 mm) e baixa
capacidade de arejamento.
O clima da região de implantação do
ensaio classifica-se, segundo Albuquerque
(1954), como Sub-montano - SA x MA x AM
- zona da transição entre a Terra Fria Transmontana e a Terra Quente Duriense. De acordo
com a classificação de Thorthwaite (Gonçalves, 1976/77), o clima de Vila Real é considerado como húmido, mesotérmico, com
grande deficiência de água no Verão e pequena
concentração da eficiência térmica na estação
quente.
As rotações ensaiadas neste trabalho foram
as seguintes: TC, cereal – consociação (aveia
x ervilhaca); TL, cereal - leguminosa (tremocilha); TA, cereal - alqueive; TP, cereal - pastagem de sequeiro (4 anos na folha 1 e 5 anos na
folha 2). As espécies cultivadas nestas rotações
foram: cereal, trigo (Triticum aestivum L.) cv.
“Barbela” e posteriormente triticale Presto;
leguminosa, tremocilha (Lupinus luteus L.)
população regional; consociação, aveia (Avena
sativa L.) cv. “Boa Fé” com ervilhaca (Vicia
villosa Roth.) cv. “Amoreiras”; pastagem de
sequeiro com mistura de trevo subterrâneo
(Trifolium subterraneum L.) cv. “Nungarin”,
cv. “Seaton Park”, cv. “Woogenellup”, cv.
“Clare”, trevo branco (Trifolium repens L.) cv.
“Huia”, azevém perene (Lolium perenne L.)
cv. “Victorian” e festuca alta (Festuca arundinacea Schreb.) cv. “Clarine”. O esquema
experimental constou de quatro tratamentos
(rotações bienais), dispostos em blocos casualizados com duas repetições (folhas 1 e 2). As
duas “culturas” de cada rotação foram instaladas, alternadamente, em talhões com 240 m2,
na folha 1 e folha 2.
Apenas em 1986, e precedendo a implantação do ensaio, aplicaram-se, a todos os
tratamentos, os seguintes fertilizantes: calcário
dolomítico agrícola (4 t.ha-1), superfosfato de
cálcio 18% (150 kg P 2O5 ha-1), cloreto de
potássio 60% (90 kg K2O ha-1) e, excepto no
alqueive e na pastagem, sulfato de amónio
20,5% (30 kg N ha-1). Todos os trabalhos foram
executados por tractor e alfaias em condições
idênticas ao trabalho em cultura extensiva.
Aplicaram-se, anualmente, à sementeira do
cereal e à consociação (de meados a fins de
Outubro) 30 kg N ha-1 usando o sulfato de amónio 20,5% N, e em cobertura (ao afilhamento,
em meados de Fevereiro) 60 kg N ha-1 de uma
diluição de nitrato de amónio com calcário
(20,5% N). A fertilização com fósforo e potássio foi efectuada de molde a compensar,
anualmente e imediatamente antes da sementeira, as exportações da cultura antecedente,
avaliadas pela produção total e análise dos
respectivos teores no grão e palha.
As sementeiras foram efectuadas na segunda quinzena de Outubro. A entrelinha utilizada foi de 0,25 m, à excepção da tremocilha
para a qual o espaçamento usado foi de 0,5 m.
As densidades de sementeira previstas foram:
160 kg ha-1 de cereal (275 plantas.m-2), 80 kg
ha-1 de tremocilha (72 plantas.m-2), 80 kg ha-1
de aveia (190 plantas.m -2), 20 kg ha -1 de
ervilhaca (42 plantas.m-2), 8 kg ha-1 da mistura
de trevos subterrâneos (88 plantas.m-2), 1 kg
ha-1 de trevo branco (155 plantas.m-2), 4 kg
ha-1 de azevém perene (222 plantas.m-2) e 4
kg ha -1 de festuca alta (160 plantas.m -2).
Amostragens efectuadas em Abril de 1990
revelaram a seguinte composição florística dos
prados, em termos de matéria seca: 40% de
trevos, 57% de gramíneas e 3% de outras
espécies, o que parece traduzir uma boa
composição do prado.
A amostragem das produções das culturas
foi efectuada através da colheita manual de 4
amostras de 1 m2, no caso da consociação e
do prado, ou de 4 m2, no caso do cereal e da
tremocilha. Após a amostragem das produções, a parte aérea das culturas anuais foi
retirada do ensaio; a pastagem foi aproveitada
por ovinos ao longo do ano, de forma a realizar
um correcto pastoreio. Todos os valores de
produção apresentados referem-se a matéria
seca. Após a colheita de amostras, estas foram
pesadas e posteriormente debulhadas determinando-se a produção total e a produção de grão
(G); por diferença obteve-se a produção de
palha (P). De cada uma das amostras retirou-se uma subamostra na qual se determinou,
após secagem em estufa a 60 °C até peso
constante, o teor de humidade, de modo a
avaliar a produção de matéria seca de grão e
palha. A produção da consociação (rotação
TC) foi amostrada procedendo à colheita de
amostras no estado de grão leitoso da aveia.
As amostras foram pesadas, secas a 60 °C e
novamente pesadas, determinando-se a
produção verde e seca total.
No caso da pastagem, a produção foi
amostrada imediatamente antes da entrada dos
ovinos; as amostras foram pesadas, secas a 60
°C e novamente pesadas. O pastoreio foi feito
intensivamente logo a seguir aos cortes para
amostragem, os quais procuraram cumprir o
seguinte calendário: 1º corte (Outono, 25 a 30
de Novembro), 2º corte (Inverno, 20 a 25 de
Fevereiro), 3º corte (1º da Primavera, 15 a 20
de Abril, 4º corte (2º da Primavera, 15 a 20 de
Junho).
As amostras de grão e palha, após pesagem
e secagem, foram moídas (crivo de 1mm) e
analisadas segundo os métodos em rotina do
Laboratório de Solos e Fertilidade da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro obtendo-se os teores em nutrientes do grão (G) e
palha (P) para o azoto (GN e PN), fósforo (GP
e PP), potássio (GK e PK), cálcio (GCa e PCa),
magnésio (GMg e PMg), cobre (GCu e PCu)
e zinco (GZn e PZn).
Com vista a avaliar a evolução da fertilidade do solo, após a colheita das culturas
anuais e antes das mobilizações, colheram-se
amostras da terra de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm
de profundidade em todas as modalidades em
ensaio. Nestas amostras determinaram-se,
anualmente, as seguintes variáveis: catiões de
troca (Ca, Mg, K, Na, Al), matéria orgânica
(MO), P2O5 e K2O assimiláveis, pH em água
(pHH2O) e em cloreto de potássio (pHKCl).
Os resultados foram sujeitos a análise de
variância através dos programas informáticos
SYSTAT 5.0 e MSTAT. Quando obtidos valores significativos (p < 0,05) na análise de
variância fizeram-se comparações das médias
através do teste de Student-Newman-Keul’s.
Na análise multivariada optou-se por aplicar
o protocolo previsto por Santos et al. (2004) e
Martins et al. (2004). Deste modo sobre as
respectivas matrizes de caracterização edáfica
e de biomassa é realizada uma estandardização, que facilite a comparação de cada
uma das variáveis (Ludwig & Reynolds,
1988), a partir da qual são realizadas análises
canónicas discriminantes (CDA) forward
stepwise e ANOVAs sobre as variáveis mais
discriminantes. Tendo em consideração que a
rotação com pastagem permitiu a obtenção de
produção de cereal em apenas dois anos, os
resultados obtidos serão expostos com e sem
a inclusão deste tratamento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização edáfica
No Quadro 1 apresentam-se os valores
médios de 10 anos das rotações, incluindo a
pré-instalação.
A análise de variância dos parâmetros
relativos ao solo (profundidade até 20 cm)
evidenciou um efeito significativo das rotações
no teor de fósforo, no pH em H2O e em KCl,
bem como nos teores de cálcio de troca
(Quadro 1).
O teor em fósforo da rotação com prado,
significativamente superior ao das restantes
rotações, dever-se-á às dejecções dos ovinos
que pastorearam o prado e cujo quantitativo
não foi descontado nas exportações e
respectivas restituições com adubos.
Na profundidade de 20 a 40 cm foram
significativos os efeitos das rotações nos teores
de matéria orgânica e pH em água; o valor mais
elevado do teor em matéria orgânica (médias
de 10 anos) verificou-se na rotação com consociação (6,8 g kg-1) e o mais baixo na rotação
com leguminosa de grão (5,6 g kg-1).
A variação do teor de matéria orgânica no
solo está dependente, para além da adição de
fertilizantes orgânicos, das mobilizações
(Alves, 1986), rotações, culturas que integram
as rotações e sua duração (Kanal & Kolli,
1996), e parece estar omnipresente quando se
discute a influência das culturas e/ou rotações
sobre as características físicas do solo. Em
geral, a inclusão de prados de longa duração
(Adams et al., 1970), doses elevadas de azoto
(Morachan et al., 1972), rotações mais longas
(Bowman et al., 1990) e mobilizações
reduzidas (Dick et al., 1991) conduzem a
teores mais elevados de matéria orgânica. Os
ensaios de Rothamsted mostram que a
evolução do teor de matéria orgânica de um
solo sujeito a cultivo depende ainda do seu teor
inicial; sendo baixo esse valor, é mais facilmente mantido mesmo quando se sujeita o solo
a cultivos que noutras circunstâncias diminuiriam o teor de matéria orgânica do solo
(Carvalho & Azevedo, 1991). A duração do
prado (4 a 5 anos) e o baixo teor de matéria
orgânica do solo não terão sido suficientes para
tornar os resultados mais evidentes.
As rotações podem afectar a variação do
pH do solo, não só porque as culturas que as
integram exigem adubações azotadas diversas
(Mahler & Harder, 1984), mas também porque
diferentes plantas afectam só por si a acidez
do solo (Reeves & Ewing, 1993; McLay et
al., 1997). A acidificação do solo provocada
pelo cultivo de leguminosas é referida com
frequência pela bibliografia; dado que as partes
verdes doseiam, em geral, mais catiões (Ca,
K), a exportação apenas do grão reduz a acidificação; a diminuição do pH ocorrerá também
em profundidade, podendo ser agravado pelo
facto de a deposição de partes verdes ocorrer,
sobretudo, à superfície (McLay et al., 1997).
A exportação da totalidade da biomassa aérea
da tremocilha na rotação TL terá contribuído,
embora de forma reduzida, para a acidificação
constatada. O menor teor de cálcio verificado
em TL (e TP2) dever-se-á ao balanço de cálcio
da rotação com tremocilha, a única em que a
restituição ao solo por via do superfosfato de
cálcio foi inferior à exportação na biomassa.
Os resultados das análises multivariadas
sobre a matriz edáfica são expostos na Figura
1, onde está representada a CDA relativa a
cada um dos tratamentos, a partir da matriz
numérica edáfica.
Da observação destes resultados, e tendo
em consideração os valores de cada repetição
para a Raiz 1, verifica-se uma aparente
divergência entre o TL e o TP, ocupando o TC
e o TA uma posição intermédia entre os dois
primeiros. Para a Raiz 2 a maior diferenciação
ocorre entre TA e TP. Por esta razão, são
detectadas duas tendências de comportamento
diferencial, a existente entre TC e TL, de um
lado, e a apresentada entre TA e TP, doutro.
Os resultados numéricos desta análise
estão recolhidos no Quadro 2. De acordo com
os quais, as variáveis mais discriminantes são,
na profundidade até 20 cm, o teor de fósforo
(P2O5), teor de potássio (K2O), alumínio de
troca (Al 3+), pH em KCl (KCl) e magnésio
de troca (Mg 2+), na profundidade de 20 a 40
cm, o teor de cálcio (Ca 2+).
A variação dos valores médios das variáveis mais discriminantes (P2O5(1) e K2O(1),
resultantes da análise anterior, é representada
na Figura 2. Através da observação desta
figura é perceptível a aparente divergência no
comportamento destes parâmetros em TL e em
TP, comparativamente com TC e TA.
Em relação à variação dos valores médios
para as duas primeiras variáveis mais discriminantes, confirma-se a observação anterior,
segundo a qual é visível a divergência tendencial entre TC e TL, em contraste com TA e
TP. Contudo, TP constitui um tipo de tratamento bem diferenciado do TA, uma vez que
os valores médios das duas variáveis mais
discriminantes expõem resultados muito diferentes do tratamento com alqueive.
Com o objectivo de caracterizar o comportamento entre os tratamentos que não incluem
a introdução de pastagens, a seguir são expostos os resultados da mesma análise multivariada para TC, TL e TA. Os resultados obtidos
na análise discriminante, para a matriz edafológica sem o tratamento TP, mostram uma
clara diferenciação entre o TA e os restantes
tratamentos, sustentada especialmente em duas
variáveis, KCl(1) e Ca 2+(2) (ver Figura 3 e
Quadro 3).
A representação dos valores médios para
as duas variáveis mais discriminantes (KCl(1)
e Ca2+(2)) confirma os resultados obtidos, uma
vez que para ambas são registados os valores
médios mais altos no tratamento TA (ver
Figura 4).
Produção
A análise de variância dos resultados não
evidenciou diferenças significativas entre os
diversos teores de elementos no grão e palha
do cereal das rotações TA, TC e TL (Quadro
4). Também a produção de grão e de palha não
diferiu significativamente entre as rotações;
No entanto, e como está exposto na Figura
5, em média dos 10 anos em estudo, as produções do cereal na rotação com leguminosa
(TL) foram de 2,68 t ha-1 (grão) e 6,75 t ha-1
(palha), superiores às das rotações com alqueive (2,35 e 5,85 t ha-1) e com consociação
(2,34 e 5,69 t ha-1).
Cereais e outras não leguminosas em geral
necessitam, para obterem a mesma produção,
de menos adubação azotada quando em
rotação com leguminosas (Lory et al., 1995),
graças à mineralização de azoto pela decomposição da biomassa de folhas, raízes e nódulos
de leguminosas, que se acentua a partir da
floração (Meyer et al., 1983; Lockhart &
Wiseman, 1988). A maior produção de uma
cultura após leguminosas chega a manifestarse num segundo ano da cultura (Papastylianou
& Samios, 1987). A produção e qualidade das
restantes culturas da rotação variam com a
leguminosa em causa; Alves (1961, 1983),
Papastylianou (1987) e López-Bellido et al.
(1996) conseguiram maiores produções de trigo
na rotação com fava e alqueive, e com grãode-bico as menores; quando contabilizados os
anos de ausência de produção da rotação com
alqueive, esta passa a ser a menos produtiva.
Também neste ensaio, a produção de biomassa
da rotação com alqueive foi bastante inferior
à das restantes rotações, dada a ausência de
produção no ano de alqueive.
As condições ambientais podem também
condicionar a influência das leguminosas;
estas, em situações de stress hídrico ou baixas
temperaturas, podem ser mais afectadas e, por
isso, produzirem menos matéria seca e fixarem
menos azoto. Nestes casos, a produção destas
pode ser ultrapassada por gramíneas cultivadas
nas mesmas condições (Papastylianou &
Samios, 1987), sem introduzirem qualquer
vantagem relativa, mesmo em relação à
monocultura de cereal (Tucker et al., 1971;
Johnston, 1994). Nos ensaios de Armstrong
et al. (1997) compararam-se tremoço, ervilha,
grão-de-bico e cevada como precedentes do
trigo; o tremoço ultrapassou sempre a cevada
e grão-de-bico e, em alguns casos, a ervilha.
Os resultados evidenciaram que, para além da
produção de biomassa ou de azoto da cultura
precedente, interessa considerar, para a
avaliação dos efeitos no sistema e na produção
da cultura seguinte, o índice de colheita;
plantas com índice de colheita elevado, ou
circunstâncias que a isso conduzem, podem
originar balanços de azoto negativos, apesar
de potencialmente poderem fixar muito azoto.
Além disso, rotações curtas podem originar
problemas de natureza fitossanitária; no
presente ensaio, o 3º e 5º anos da tremocilha
foram afectados por uma praga (curculionídeo,
género Sitona) que atacou os nódulos radiculares, diminuindo para 0,40 t ha-1 a produção
de grão, quando a média dos restantes anos
foi de 1,61 t ha-1.
O alqueive, apesar de ser considerado
pouco eficiente na conservação da água, pode
conduzir a produções mais estáveis em regiões
onde a distribuição da precipitação é irregular
(Harris, 1963) sobretudo devido à sua acção
no controlo da vegetação espontânea (Shanahan et al., 1988). A influência do alqueive
pode ainda ser confundida pela ocorrência de
anomalias na condução e colheita da cultura
principal (McEwen et al., 1989). Reddy et al.
(1986) testaram várias leguminosas para
sideração antecedendo centeio, azevém, milho
ou trigo; em qualquer dos casos a produção
foi superior na rotação com as leguminosas
do que com alqueive.
Em média dos dois anos, o cereal após
prado e adubado com azoto produziu menos
grão e palha do que o trigo após leguminosa e
praticamente o mesmo grão que após consociação (Quadro 5). A produção obtida em 1991
foi inferior à de 1992 devido, nomeadamente,
à escassez da precipitação ocorrida nos meses
de Abril a Junho.
Também Johnston et al. (1994) obtiveram
resposta à adubação azotada do trigo que se
seguiu a um prado de 4 anos; entre a modalidade sem adubação e a que recebeu 100 kg N
ha-1, a produção de grão aumentou 0,48 t ha-1,
enquanto que no nosso caso o aumento (média
dos dois anos), com 90 kg N ha-1, foi de 0,94 t
ha-1. Nas condições do ensaio parece, por isso,
justificar-se a adubação azotada ao trigo que
segue um prado.
O estudo multivariado da biomassa cerealífera por tratamento não mostrou comportamentos significativamente diferenciais para
qualquer um dos quatro tratamentos. Contudo,
a comparação de TA, TC e TL com TP deixa
ver uma diferença tendencial, especialmente
pelos valores mais extremos recolhidos para
TP (Figura 6).
Os valores numéricos resultantes desta
análise (Quadro 6) apontam às variáveis Ca
grão e palha como as mais discriminantes, mas
com valores não significativos. Observando o
comportamento dos valores médios para estas
duas variáveis (Figura 7), verifica-se um
comportamento diferencial da rotação TP em
ambos os casos.
Em qualquer caso, estes resultados não
podem ser considerados como significativos
e sim como tendenciais, tendo em consideração os resultados da análise discriminante
anterior. Na sequência do esquema metodológico proposto, foi realizada a análise de
biomassa sem o TP. Porém, a eliminação deste
tratamento não permitiu a realização da CDA,
uma vez que não foram detectadas quaisquer
variáveis discriminantes (de modo significativo ou tendencial).
Os resultados obtidos teriam beneficiado
caso se incluísse a repetição, em todos os anos,
de todas as fases das rotações. Também a
inclusão da rotação cereal-cereal beneficiaria
a análise dos resultados obtidos.
Um aspecto que se crê merecer investigação futura é o que respeita à monitorização
adequada da incorporação de resíduos nas
diferentes alternativas em estudo, nomeadamente, restolho e raízes das diversas culturas
e vegetação espontânea do ano de alqueive.
CONCLUSÕES
Nas condições deste ensaio, as diferentes
rotações testadas não influenciaram significativamente a produção de cereal. A rotação com
alqueive não origina benefícios à cultura de
cereal e conduz a produções de biomassa total
que, no longo prazo, são sensivelmente metade
das rotações alternativas em ensaio.
O trigo cultivado após prado de sequeiro
não dispensa a adubação azotada.
A rotação com tremocilha consegue manter
produções de cereal superiores às das restantes
rotações, embora a diferença não seja
estatisticamente significativa. Apesar desta
vantagem, o cultivo de tremocilha em anos
alternados no mesmo terreno levanta problemas de natureza fitossanitária que, não obstante
a solução possível, criam uma desvantagem
relativamente a outras rotações. Além disso, a
rotação com tremocilha, nas condições do
ensaio, parece ter efeitos a nível da fertilidade
do solo que, a manterem-se, exigirão uma
atenção especial. As diversas rotações influenciam a evolução de algumas características químicas do solo, nomeadamente, o valor
do pH e os teores de P2O5, matéria orgânica e
Ca de troca, que indiciam alguma desvantagem
para a rotação cereal-leguminosa de grão.
A escolha da variedade de cereal mostrou
ser um aspecto importante na condução do
ensaio e valor dos resultados obtidos. O trigo
Barbela, inicialmente semeado por ser o mais
cultivado na região, criou em alguns anos
problemas na colheita e mostrou ser um factor
limitativo para a obtenção de maiores produções e variabilidade da resposta às diferentes
condições em ensaio.