Porta-enxertos afetando o crescimento e a produção de plantas de Coffea Arabica
L.
INTRODUÇÃO
A enxertia de linhagens produtivas de C. arabica sobre outras tolerantes a
algumas espécies de nematóides tem sido utilizada com bons resultados em
regiões de ocorrência generalizada desta praga, oferecendo aos cafeicultores
uma alternativa para o cultivo do cafeeiro nessas áreas. Em áreas isentas de
nematóides, deve-se considerar a possibilidade de melhoria no vigor da planta,
aumento de produção de frutos, maior aproveitamento de nutrientes, adaptação a
ambientes com precipitação pluvial mais limitada, pelo fato de alguns porta-
enxertos terem sistemas radiculares mais desenvolvidos.
Em trabalhos realizados com videiras, na cidade de Taubaté, no Estado de São
Paulo, no Brasil, verificou-se que as plantas enxertadas apresentaram maior
produção do que as não enxertadas (Pauletto et al., 2001). Para citros, com
diversos porta-enxertos utilizados na produção, encontraram-se diferenças
relacionadas com o vigor ou a velocidade de crescimento, podendo refletir,
também, em variações quanto às necessidades nutricionais (Carvalho, 1994).
No Brasil, na cultura do cafeeiro, em regiões infestadas por Meloidogyne
incognitaverificaram-se aumentos na altura, no diâmetro de copa e na produção
de plantas de café enxertadas, em relação às não enxertadas (Fazuoli et al.,
1983). A eficiência da enxertia em áreas infestadas por nematóides foi
confirmada também por Costa et al. (1991), em que a produção de café
beneficiado por hectare da cultivar Mundo Novo enxertada emC. canephora,foi 4,6
vezes superior ao da mesma sem enxertia.
Em condições isentas de nematóides, Fahl et al. (1998) observaram maior
desenvolvimento da parte aérea (altura e diâmetro de copa), e maior formação de
gemas frutíferas em plantas adultas de C. arabica enxertadas sobre progênies de
C. canephora e de C. congensis. Os mesmos concluíram que, por meio da enxertia,
se aumentou a produção de café da cultivar Catuaí.
Estudando quatro genótipos de C. arabica, envolvendo progênies de Catimor e
linhagens de Caturra, Catuaí Vermelho e Mundo Novo, Alves (1986) verificou que
o Catimor enxertado sobre Caturra, Catuaí e Mundo Novo proporcionou aumentos
significativos na taxa de crescimento da área foliar em relação às cultivares
não enxertadas.
Avaliando o crescimento de quatro genótipos de C. arabica, enxertados em três
porta-enxertos de C. canephora e um porta-enxerto de C. arabica em meio
hidropônico Tomaz et al. (2002), verificaram que a enxertia pode influenciar o
desenvolvimento dessas plantas, ocorrendo variação dos resultados conforme
combinação enxerto/porta-enxerto.
Os cafeeiros do grupo Coffea canephora, em relação aos do grupo do C. arabica,
podem apresentar sistemas radiculares mais extensos e eficientes, tanto em
termos de maior absorção de água e nutrientes, como em maior resistência a
fatores adversos do ambiente (Ramos e Lima, 1980). No entanto isso não ocorre
para todos os cafeeiros do grupo Coffea canephora (Rena e DaMatta, 2002).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de porta-enxertos diversos no
crescimento e produção de C. arabica.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na área experimental da Fazenda Jatobá,
localizada no município de Paula Cândido ' MG, nas coordenadas geográficas de
20º49'45,9"S e 42º55'5,7"O, no período de novembro de 1999 (preparo das mudas)
a junho de 2006 (colheita final).
Utilizaram-se como enxertos as variedades Catuaí Vermelho IAC 15 (Catuaí 15) e
Oeiras MG 6851 (Oeiras) e as progênies H 419-10-3-1-5 (H 419), H 514-5-5-3 (H
514) de C. arabica, sendo as três últimas resistentes a Hemileia vastatrixBerk.
& Br., agente etiológico da ferrugem do cafeeiro. Como porta-enxerto foram
empregados três genótipos de C. canephora: Apoatã LC 2258 (Apoatã), Conilon M-
1 (Conilon), coletado em Muriaé, MG, Robustão Capixaba - EMCAPA 8141 (EMCAPA) e
um genótipo de C. arabica: Mundo Novo IAC 376-4-32 (M.Novo).
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com 20 tratamentos e
quatro repetições, sendo 4 pés-francos e 16 combinações de enxertia. Utilizou-
se para analise deste, o teste "t" de Student, a 5% de probabilidade para a
comparação entre as médias. O processamento foi realizado, utilizando-se o
programa GENES ' Aplicativo Computacional em Genética e Estatística (Cruz,
2001).
A semeadura foi feita, manualmente, em sementeiras com areia fina (< 2 mm),
sendo colocadas em casa-de-vegetação até atingir o estádio "palito de fósforo",
o que ocorreu em torno de 60 dias após aquela para os enxertos e 75 dias para
os porta-enxertos de C. canephora. Depois deste período, efetuaram-se as
enxertias do tipo hipocotiledonar, conforme Moraes e Franco, (1973).
Após a enxertia, as plantas foram transplantadas para sacolas plásticas, e
mantidas em câmara de nebulização fechada por um período de 12 dias, retirando-
se então as plantas da câmara colocando-as em ambiente aberto, onde
permaneceram por 20 dias sob sombrite, com 50% de intensidade, e 40 dias no
ambiente, para aclimatação. Neste local, as mudas passaram por irrigações
periódicas. Depois de aclimatadas, as plantas foram levadas para o campo, para
montagem do experimento.
O plantio foi realizado em março de 2000 após a seleção quanto à uniformidade
de tamanho e vigor da planta. Utilizou-se quatro plantas por parcela com 6
pares de folhas, e espaçamento 3,0 x 0,80 metros. As adubações foram realizadas
de acordo com o recomendado para a cultura mediante análise previa de solo. Os
tratos culturais e fitossanitários foram efetuados de acordo com as
necessidades.
As mensurações (altura da planta, número de ramos plagiotrópicos da haste
principal, comprimento do ramo plagiotrópico mediano, diâmetro do caule e
produção) foram realizadas em junho de 2005 e 2006. O cálculo de rendimento foi
realizado pela média de 10 amostras de 1 kg de café cereja retiradas das
parcelas e secas em estufas a 70º C até atingir aproximadamente 11% de umidade.
Com o café já seco efetuou-se o beneficiamento e cálculo de rendimento,
convertendo os valores em produção média de café beneficiado por hectare.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação ' 2005
A enxertia proporcionou aumento na altura da planta nas combinações H 419/
Conilon e H419/EMCAPA quando comparadas com os respectivos pés-francos (Quadro
1). Plantas com crescimento superior em altura são desejáveis, desde que ocorra
aumento da produtividade sem comprometer o custo de produção.
Quadro_1
- Altura de planta, número de ramos plagiotrópicos da haste principal,
Comprimento do ramo plagiotrópico mediano, diâmetro do caule, produção de café
cereja por planta, estimativas de sacas beneficiadas por hectare em materiais
de café não enxertados (pé-franco) e enxertados em diversas combinações.
Fazenda Jatobá, Paula Cândido-MG, 2005.
Em relação ao número de ramos plagiotrópicos da haste principal, a combinação H
419/Apoatã foi inferior à do respectivo pé-franco, as demais combinações de
enxertia não diferiram (Quadro 1). O aumento do número de ramos plagiotrópicos
pode contribuir para um aumento das ramificações secundárias, podendo
proporcionar à planta um melhor crescimento, vigor de copa e um aumento de
produção.
Fazendo estudo da interação copa/porta-enxerto em plantas jovens de cafeeiro,
Fahl e Carelli (1985), observaram que plantas de C. arabica, enxertadas sobre
C. canephora, do grupo dos robustas, apresentavam maior crescimento em altura e
área foliar quando comparadas aos controles, o que poderia levar a aumentos na
produção, devido a um maior desenvolvimento e vigor das plantas.
Para Pauletto et al. (2001), normalmente os porta-enxertos mais vigorosos
apresentam maior capacidade de absorção e translocação de água e nutrientes, e
maior produção de substâncias estimuladoras de crescimento, o que favorece o
desenvolvimento da copa.
Analisando o comprimento do ramo plagiotrópico mediano verificou-se que não
houve diferenças entre as combinações de enxertia quando comparadas com os
respectivos pés-francos. Para o diâmetro do caule somente a combinação H419/
EMCAPA teve crescimento superior ao respectivo pé-franco. As demais combinações
não apresentaram resultados significativos (Quadro_1).
Com relação à produção de café cereja por planta e as estimativas de sacas (60
kg) beneficiadas por hectare a combinação H419/Mundo Novo apresentou redução
quando comparada com o respectivo pé-franco. As demais combinações enxerto/
porta-enxerto não apresentaram diferenças significativas quando comparadas com
as do pés-francos (Quadro_1).
Avaliação ' 2006
De acordo com as análises estatísticas não houve diferenças significativas para
as variáveis, altura de planta e comprimento do ramo plagiotrópico mediano, nas
comparações das diferentes combinações de enxerto/porta-enxerto com os
respectivos pés-francos (Quadro 2). Avaliando a altura de plantas de C.
arabicaenxertadas sobre progênies de C. canephorae C. congensis, seis anos após
a implantação, (Fahl et al., 1998), observaram que, na média de três locais
avaliados, as plantas pé franco de Catuaí e Mundo Novo não diferenciaram das
enxertadas no porta-enxerto Apoatã. Em estudo do comportamento de cultivares de
cafeeiro (C. arabica.) com e sem enxertia em materiais de C.
congensis,cultivadas no campo, no município de Selvíria Estado do Mato Grosso
do Sul, Brasil, Santos et al. (2005) observaram que após 667 dias depois do
plantio, não foram observadas diferenças entre as plantas enxertadas e os pés-
francos.
Quadro_2
- Altura de planta, número de ramos plagiotrópicos da haste principal,
Comprimento do ramo plagiotrópico mediano, diâmetro do caule, produção de café
cereja por planta, estimativas de sacas beneficiadas por hectare em materiais
de café não enxertados (pé-franco) e enxertados em diversas combinações.
Fazenda Jatobá, Paula Cândido-MG, 2006.
Com relação ao número de ramos plagiotrópicos da haste principal e diâmetro do
caule, a combinação H 419/EMCAPA suplantou o respectivo pé-franco (Quadro 2).
Avaliando o crescimento inicial de cafeeiros enxertados, em condição de campo,
no período de estiagem (março-setembro), Ferrari (2003) também encontrou um
aumento no diâmetro médio de caule para a combinação H419/EMCAPA quando
comparada com o respectivo pé-franco.
Os resultados referentes à produção média de café cereja por planta e as
estimativas de sacas (60kg) beneficiadas por hectare das combinações Catuaí 15/
Conilon, Oeiras/Apoatã, Oeiras/EMCAPA e H419/EMCAPA mostraram-se superiores aos
respectivos pés-francos (Quadro_2).
CONCLUSÕES
Foi evidente que a enxertia em cafeeiro influenciou o desenvolvimento das
plantas, quando se comparam diferentes combinações enxerto/porta-enxerto com os
respectivos pés-francos.
Em plantas de cafeeiro enxertadas de seis anos (avaliadas em 2006) as
combinações de enxertia Catuaí 15/Conilon, Oeiras/Apoatã, Oeiras/EMCAPA e H419/
EMCAPA suplantaram os respectivos pés-francos na produção de café.
Dentro destas combinações (Catuaí 15/Conilon, Oeiras/Apoatã, Oeiras/EMCAPA e
H419/EMCAPA) recomenda-se que o produtor adote a que apresenta potencial
significativo de desenvolvimento local, levando em consideração a recomendação
técnica para cada região.