In memoriam
In memoriam
JOSÉ FILIPE SANTOS OLIVEIRA (1937-2011)
No passado dia 15 de Janeiro faleceu o Professor Catedrático José Filipe Santos
Oliveira, membro do Conselho Científico da nossa revista, nosso colega e amigo.
Licenciou-se como Engenheiro Silvicultor, em 1960, no Instituto Superior de
Agronomia (ISA) da Universidade Técnica de Lisboa com a média final de 17
valores, tendo por isso recebido o Prémio Infante D. Henrique.
Durante a realização do Trabalho Final de Curso trabalhou na Missão de Estudos
Agronómicos Ultramarinos (MEAU) da Junta de Investigações Científicas do
Ultramar (JICU) e em colaboração com a Universidade de Coimbra dedicou-se a
aspectos ligados ao metabolismo azotado, um dos temas a que veio a dedicar boa
parte da sua actividade.
Partiu então para Paris, ingressando na École des Hautes Études da Sorbonne,
apresentando em 1969 uma dissertação com a menção "Trés Bien" na especialidade
de Bioquímica da Nutrição.
O Prof. Santos Oliveira não começou a sua vida profissional como docente
universitário. Antes de abraçar a docência, foi Eng.º de 3ª Classe na D. G. dos
Serviços Florestais e Aquícolas, depois Eng.º de 2ª Classe na Circunscrição
Florestal de Ponta Delgada, como Administrador Florestal, Eng.º Silvicultor na
MEAU, primeiro no grupo de fertilidade do solo, e posteriormente como chefe do
Laboratório de Análise de Plantas.
Então desenvolveu actividade na Estação de East Malling, e em vários organismos
Franceses (Societé de Fermentation, Instituto Pasteur, INRA, CNRS), onde
estudou aspectos relacionados com metabolismo azotado das leveduras e com
questões relacionadas com a alimentação humana, caracterizando e avaliando
produtos alimentares das regiões tropicais, nomeadamente na problemática das
proteínas (enriquecimento de produtos alimentares em proteínas). Em paralelo,
continuou a preocupar-se com temas relacionados com produtos de origem
florestal.
Publica em 1967 os seus primeiros trabalhos dedicados às questões ambientais '
"Tratamento de águas poluídas" e depois "Tratamento de águas residuais".
Deslocou-se então para Moçambique, onde leccionou durante três anos nos Estudos
Gerais Universitários, regressando a Portugal em 1970 para ingressar como
Assistente Eventual no ISA. Em 1971 concluiu as provas de doutoramento em Eng.ª
Silvícola com Distinção e Louvor por unanimidade.
Dedicou então grande parte da sua actividade a estudos de nutrição vegetal e à
utilização eficiente dos fertilizantes.
Em 1971 foi nomeado Prof. Auxiliar, tendo, entretanto, frequentado o Curso de
Ciências Pedagógicas da Fac. de Letras da Universidade de Lisboa.
Prestou, em 1973, provas de Agregação ao 2º grupo de Disciplinas ' Química
Agrícola, do ISA.
As preocupações sobre a temática ambiental já então faziam parte das suas
grandes preocupações tendo na oportunidade desenvolvido um conjunto de
experiências interessantes, procurando dar resolução a situações que o
preocupavam como por exemplo:
' Tratamento de efluentes da indústria do concentrado de tomate;
' Estudos do resultado da aplicação de fertilizantes ao solo;
' Caracterização e tratamento de águas residuais das actividades agro-
industriais e agro-pecuárias;
' Problemática da acumulação de metais pesados nas culturas, com origem em
actividades antrópicas.
Em Novembro de 1974 foi contratado como Prof. Agregado da Universidade Nova de
Lisboa (UNL) e posteriormente como Prof. Extraordinário criando o 1o Curso de
Especialização de Engenharia Sanitária, curso que teve um grande impacto e
permitiu o lançamento das raízes que deram à UNL grande projecção em termos
ambientais. Organizou então os primeiros cursos de Operadores de Estações de
Tratamento de Águas, Esgotos, e Lixos.
Em 1976, já como Prof. Catedrático, partiu para Rabat, onde colaborou com a
OMS, em regime de Comissão de Serviço para desempenhar funções docentes no
"Centre International de Génie Sanitaire" na École Mohammedia d'Ingenieurs da
Universidade Mohamed V. Também nesta Universidade regeu até 1979 o curso de
"Traitement dês Eaux, na Escola Hassan II de Agronomia e Veterinária.
Em 1979 retomou as suas actividades na UNL, sempre ligadas às questões
relacionados com o ambiente. Colaborou no Curso de Pós-Graduação em Engenharia
Biológica coordenando a docência do Bloco "O laboratório em depuração
biológica" em conjunto com dois Professores da Vanderbilt Univ. e da
Universidade de Nancy.
Ao longo dos 40 anos de intensa actividade docente leccionou em várias
instituições de ensino superior universitárias e politécnicas, a nível de
licenciatura e mestrado, abordando sempre os seus temas preferidos:
aproveitamento de produtos florestais, enriquecimento proteico de alimentos,
qualidade de produtos alimentares, fertilizantes e fertilização, ecologia,
aproveitamento e tratamento de resíduos provenientes das mais diversas
actividades, tratamento de águas residuais e efluentes industriais, tratamento
e gestão de águas, poluição da água, ar e solo, processos biotecnológicos,
protecção e sustentabilidade do ambiente, conservação da natureza, entre
outros.
Fruto deste modo de estar, 20 doutorandos e 18 mestres concluíram as provas sob
sua orientação.
As múltiplas facetas da protecção e sustentabilidade do ambiente reflectiram-se
no aprofundamento destas questões através da coordenação, ou colaboração, em
cerca de 30 projectos de investigação nacionais e internacionais. Fruto desta
actividade referimos a publicação de 28 livros, mais de 70 artigos em revistas
internacionais com arbitragem científica, mais de 160 apresentações de
comunicações e de "posters", em Portugal e no estrangeiro em reuniões de
carácter científico e a organização e colaboração em cerca de 40 reuniões
científicas e técnicas.
Sempre participou activamente na vida universitária, em particular na sua FCT
onde desde a primeira hora deu grandes contributos para a criação e
consolidação das estruturas relacionadas com o Ambiente. Liderou e colaborou
nas reformas e na criação de novas formações de que é bom exemplo o 1º Mestrado
em Eng.ª Sanitária e o Mestrado em Tecnologia Alimentar, o Curso de Pós
graduação em Política e Educação Ambiental e a participação na Rede de
Universidades Latino Americanas e Europeias para a Promoção de Programas de
Formação Ambiental.
Desenvolveu também notável actividade de prestação de serviços, em áreas
relacionadas com a problemática ambiental e com a qualidade dos alimentos.
Desta actividade saíram muitos relatórios técnicos, e muitas ideias para os
trabalhos de investigação e desenvolvimento.
Também o reconhecimento nacional e internacional das suas capacidades foi bem
patente. A convite, ou por delegação, participou em várias actividades de
Organismos, como a OMS, a OIT, OIN, CEE/UE, CYTED, como perito, como membro de
corpos editoriais de revistas científicas, como avaliador de projectos e
programas, como coordenador de redes, como membro de várias comissões
executivas, de grupos de trabalho e de júris de prémios, como relator, em
representação de vários organismos oficiais, ou da UNL, ou mesmo a título
pessoal, como membro fundador de várias organizações.
A Ordem dos Engenheiros atribuiu-lhe a mais alta qualificação profissional, o
Nível C1.
A Direcção da SCAP curva-se perante a sua memória e apresenta à família
enlutada as mais sentidas condolências
Raul Bruno de Sousa
Vice-Presidente da SCAP
ILÍDIO ROSÁRIO DOS SANTOS MOREIRA (1936-2011)
O Professor Catedrático Emérito Ilídio Rosário dos Santos Moreira faleceu no
dia 29 de Abril de 2011, com 75 anos, vítima de ataque cardíaco.
Ilídio Moreira frequentou o Curso de Engenheiro Agrónomo no Instituto Superior
de Agronomia (ISA) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL) entre 1953/58. O
relatório final de curso, concluído em 1961, foi desenvolvido em Moçambique, no
Posto de Culturas Regadas e na Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do
Limpopo e na África do Sul, sobre culturas tropicais de regadio nas estações
"Vaal-Hartz Agricultural Research Station" e "Tabaco Research Station -
Rustenburg".
Em 1977, prestou provas de Doutoramento em Engenharia Agronómica, no ISA, UTL,
defendendo a dissertação intitulada "Aspectos da biologia de infestantes
rizomatosas Cynodon dactylon (L.) Pers. e Panicum repens L.", que concluiu com
aprovação por unanimidade, com "distinção e louvor". A carreira de investigador
iniciou-se em 1961, na Direcção-Geral dos Serviços Agrícolas. Em 1963,
ingressou no Laboratório de Fitofarmacologia, na secção de Herbicidas e,
posteriormente, na de Insecticidas, onde foi incumbido da sua organização e, em
especial, da avaliação da eficácia de diversas substâncias activas. Foi chamado
diversas vezes a prestar serviço militar, designadamente entre Agosto de 1959
até Janeiro de 1961; Agosto de 1961 até Fevereiro de 1962 e novamente de Julho
de 1969 até Junho de 1972. No último período foi colocado na Guiné (Geba,
Bafatá), no comando duma Companhia de Caçadores. Mereceu louvor, do Comandante
do Batalhão, pelo desempenho das suas funções e "pelos contactos com as
populações e estudos dos seus problemas". Em 1971, enviou uma fotografia à sua
amada esposa com o seguinte comentário "Quando ainda tinha esperança de poder
fazer algo por esta terra... Tal só será possível(?) na Paz" Em Janeiro de
1968, iniciou a carreira académica no ISA, como 2º Assistente das disciplinas
de Botânica Agrícola e Desenho Organográfico. Em 1979, iniciou o ensino da
Herbologia, sendo responsável pela matéria de biologia e ecologia de
infestantes, área científica a que se dedicou até ao último dia da sua vida.
O Prof. Moreira foi um membro activo de diversas sociedades científicas, quer
nacionais quer internacionais. Foi membro do Conselho Científico da Revista de
Ciências Agrárias e membro fundador da ALFA (Associação Lusitana de
Fitossociologia) com uma participação activa em diversas reuniões científicas.
Na EWRS (European Weed Research Society) foi eleito Presidente da Comissão
Científica, entre 1982-83; Presidente do "Executive Committee"- 1984-85; Membro
do "Executive Committee" ' 1986-1992; "Past-Presidente" - 1986-87; membro
eleito representante dos associados - 1988-92.
Coordenou o subgrupo "Entretien du sol" do grupo "Viticulture" (1990-92) da
International Organisation for Biological and Integrated Control of Noxious
Animals and Plants ' West Paleartic Regional Section (OILB).
O Prof. Moreira transferiu os seus conhecimentos com clareza e sem demoras aos
seus colegas, técnicos e agricultores. Foi um orador brilhante em eventos
científicos nacionais e internacionais. Desenvolveu uma intensa cooperação com
os PALOP's (Países Africanos de Língua Portuguesa) quer na criação de cursos de
pós-graduação, quer na investigação agrária.
Publicou mais de 30 livros, sozinho ou em colaboração, foi co-autor ou co-
author de mais de 20 capítulos de livros, de mais de 40 e 50 artigos em
revistas internacionais e nacionais, respectivamente, e cerca de 100
comunicações em conferências nacionais e internacionais. No ISA, foi um
Professor muito activo, tendo sido eleito para diversos órgãos de gestão. Da
Assembleia de Representantes foi Membro (1977 e 1978, 1999-2000); Presidente
(1981, 2001-2002), Vice-presidente (1982). Do Conselho Científico e Pedagógico
foi Membro entre 1974-1975. Ainda do Conselho Científico foi Presidente por
eleição em Abril 1992, e, por reeleição, no final desse ano, para o biénio
seguinte. Do Conselho Directivo foi Vogal (1978-1980), Presidente (1981) e
Vice-Presidente (1982).
Foi ainda Presidente do "Departamento de Botânica e Engenharia Biológica" entre
1985/1987 e do "Departamento de Protecção de Plantas e de Fitoecologia" entre
1997/1998.
Ilídio Moreira foi também Presidente da "Comissão Instaladora do Instituto
Politécnico de Santarém", entre Janeiro 1987-1989 e integrou mais tarde as
Comissões Científicas das Escolas Superior Agrárias de Coimbra, Santarém,
Castelo Branco e Bragança. Entre 1986/1987 e 1990/1998, foi Presidente do
"Centro de Botânica do Instituto de Investigação Científica Tropical".
Ana Monteiro
Secretário-Geral da SCAP