Potencialidade das leguminosas forrageiras anuais como fonte de azoto em
agricultura biológica
INTRODUÇÃO
As questões ambientais têm cada vez maior relevância e surge a necessidade de,
em todas as áreas, se evitar ao máximo as agressões ao ambiente.
A agricultura não é excepção, e nas últimas décadas, o impacto das actividades
agrícolas no ambiente tem tido especial destaque (Korsaeth, 2008), pelo que se
acentua a necessidade de desenvolver práticas e formas de agricultura mais
"amigas do ambiente", nomeadamente com menor aplicação de produtos de síntese e
em que se favoreça a utilização dos recursos naturais, sem nunca esquecer a
manutenção da rentabilidade das explorações. Estas preocupações ambientais têm
estimulado a procura de fontes alternativas de N, que possibilitem a
substituição total ou parcial dos fertilizantes minerais. A agricultura
biológica é sugerida como uma alternativa para manter a fertilidade dos solos e
reduzir os impactos ambientais negativos (Bergström e Kirchmann, 2004): utiliza
os recursos naturais disponíveis, não utiliza produtos de síntese e mantém a
rentabilidade da exploração.
Um dos principais obstáculos em agricultura biológica é a limitação do uso de
fertilizantes azotados inorgânicos (Fowler et al., 2004), particularmente nas
situações em que os solos têm pouco N disponível, como frequentemente sucede
nas condições da agricultura mediterrânica.
O N é o nutriente que mais limita a produção de culturas, nomeadamente em
agricultura biológica (Askegaard e Eriksen, 2008; Kirchmann et al., 2007). Este
só pode ser fornecido através da aplicação de estrumes ou resíduos/subprodutos
de culturas compostados, de adubos orgânicos e da utilização de culturas
intercalares que disponibilizam N ao solo (Cavigelli et al., 2008; Olesen et
al., 2007), sendo a fixação biológica do N (utilização de leguminosas) a
principal fonte de N em agricultura biológica (Pietsch et al., 2007; Möller et
al., 2008), pois a utilização de estrumes é restrita (Askegaard e Eriksen,
2007) e a utilização de adubos orgânicos têm um custo elevado e uma eficiência
questionável na nutrição das culturas (Rodrigues et al., 2004)
A utilização de culturas intercalares, em agricultura biológica, é uma
ferramenta importante na gestão do N (Möller et al., 2008), pois, através das
suas capacidades de fixação biológica ou retenção de N, é considerada a
principal fonte de N (Fowler et al., 2004; Goh et al., 2001). As culturas
intercalares são culturas que entram em rotação com a cultura principal. Dentro
destas podemos ter culturas com duas finalidades diferentes: apenas revestir o
solo para diminuição da erosão, e essas serão designadas culturas de
revestimento ou de cobertura, e as culturas para melhorar os níveis de
fertilidade do solo (através da sua incorporação no solo), as designadas
culturas para sideração. Dentro das culturas para sideração ainda podemos
diferenciar a adubação verde, constituída por culturas que fixam o N
atmosférico e o disponibilizam ao solo, aumentado desta forma os níveis de N no
solo, e as culturas retentoras de N ("catch crops"), culturas que retêm o N do
solo e o transferem à cultura seguinte, minimizando desta forma as perdas de N
por lixiviação (Askegaard e Eriksen, 2007; Sainju et al., 2007, Sullivan, 2003;
Thorup-Kristensen et al., 2003). Estas culturas são reconhecidas como fonte de
N, sempre que fornecem N suficiente à cultura principal de forma sincronizada,
ou seja, a libertação de N é gradual, de forma a compensar as necessidades da
cultura principal (Bergström e Kirchmann, 2004).
Estudos efectuados por Sainju e Singh (2008) demonstraram que a introdução de
culturas para sideração, quando comparada com a vegetação espontânea, aumenta o
teor do N total do solo. Este aumento é maior com as leguminosas estremes e com
a consociação entre leguminosas e gramíneas do que com as gramíneas estremes ou
com a vegetação espontânea.
Nem todas as espécies de leguminosas forrageiras têm o mesmo potencial de
produção de biomassa e fornecimento de N, sendo necessário identificar as
espécies com maior potencial (Snapp et al., 2005) e determinar se obtêm
melhores resultados isoladas ou em consociação com gramíneas.
A quantidade de N acumulado pelas culturas é maior nas leguminosas quando
comparado com as não leguminosas e com a consociação entre leguminosas e não
leguminosas (Fowler et al., 2004). Em estudos desenvolvidos por Fowler et al.,
(2004) na Nova Zelândia (Lincoln University) obtiveram-se valores de 100, 162 e
126 kg N ha-1 acumulado em gramíneas, leguminosas e consociação,
respectivamente.
A contribuição em N pelas leguminosas pode ser muito variável. O N
disponibilizado pelas adubações verdes com leguminosas pode variar entre os 0 e
os 159 kg N ha-1 (Oyer e Touchton, 1990; Reinbott et al., 2004).
A adaptação das leguminosas forrageiras a determinado local depende muito das
condições climáticas e tipo de solo (Nichols et al., 2007; Thiessen Martens et
al., 2001). As condições climáticas são o factor que mais limita a escolha da
espécie (Cherr et al., 2006). Até há pouco tempo, a escolha de leguminosas
forrageiras era limitada em condições mediterrânicas, sendo o Trevo subterrâneo
(Trifolium subterraneum) e as Luzernas (Medicago spp.) as espécies mais
utilizadas (Nichols, et al., 2007), podendo também encontrar-se a Tremocilha
( Lupinus luteus) e o Trevo encarnado (Trifolium incarnatum), embora em menor
utilização.
Com as mudanças nos sistemas de agricultura houve a necessidade de desenvolver
uma nova geração de leguminosas forrageiras, que viessem colmatar as
deficiências existentes. Assim, existe hoje um maior potencial de leguminosas
forrageiras melhoradas para os sistemas de agricultura mediterrânicos (Loi et
al., 2005). De entre estas novas espécies desenvolvidas, incluem-se o trevo
glandulifero ( Trifolium glanduliferum), o trevo vesiculoso (Trifolium
vesiculosum) , o trevo balansa (Trifolium michelianum) e a senra (Biserrula
pelecinus) e novas variedades de serradela vulgar (Ornithopus sativus) (Loi et
al., 2005).
A data de sementeira e de corte das culturas para sideração está sempre
dependente das respectivas datas de sementeira e de maturação da cultura
principal. Assim, as espécies utilizadas para sideração devem ter um
desenvolvimento adaptado ao período em que o solo está disponível. A
temperatura e precipitação influenciam a produção de biomassa destas culturas
(Sainju et al., 2005). Sementeiras tardias de culturas para sideração podem
produzir entre 15 a 75% menos matéria seca quando comparadas com sementeiras
mais precoces (Odhiambo e Bomke, 2001). Assim, nas nossas condições em cultivo
outonal as datas de sementeira são um factor cuja importância é necessário
esclarecer, já que em outras condições agro ' ecológicas, o atraso na data de
sementeira pode comprometer o potencial das leguminosas anuais de Inverno como
culturas para sideração (Teasdale et al., 2004).
Com a introdução desta prática, aumenta-se de forma natural o teor de N no
solo, o que acabará por melhorar a produtividade do solo e a qualidade
ambiental, reduzindo as perdas de N por lixiviação e a emissão de N2O para a
atmosfera (Sainju e Singh, 2008). Assim, é importante conhecer o efeito das
culturas para sideração na mineralização do N, para desenvolver estratégias de
gestão do N no solo (Schomberg et al., 2006a).
Não existem referências, na literatura, à utilização de algumas leguminosas
mediterrâneas e à utilização desta técnica em Portugal, o que nos levou à
elaboração de um trabalho experimental, cujos objectivos são: (1) Quantificar a
produção de matéria seca das culturas forrageiras de estação fria em condições
mediterrânicas; (2) Quantificar o N na biomassa dessas forrageiras anuais de
estação fria; (3) Quantificar o N disponibilizado pelo cultivo de diversas
leguminosas anuais de estação fria para a cultura seguinte; (4) Comparar o
efeito dessas leguminosas com o azevém e com a vegetação espontânea; (5)
Avaliar o efeito de duas datas de sementeira.
MATERIAL E MÉTODOS
O primeiro ano do trabalho experimental decorreu entre Setembro de 2007 e Maio
de 2008 na Escola Superior Agrária, Quinta da Alagoa em Viseu (Latitude:
40º40'N; Longitude 7º55'W; Altitude 450m), Portugal.
O solo onde foi instalado o ensaio apresenta reduzido declive e, portanto,
baixo risco de perdas por erosão. O solo pode classificar-se como Fluvissolo
dístrico (FAO, 2006). Antes do inicio da realização do ensaio efectuaram-se
determinações da composição granulométrica e dos parâmetros de análise sumária,
cujos resultados se apresentam nos quadros 1 e 2.
Quadro 1 - Valores médios da análise granulométrica do solo.
Quadro 2 - Valores médios da análise de rotina do solo para as profundidades 0-
20cm e 20-40cm.
Os dados meteorológicos foram recolhidos na Estação Meteorológica de Viseu da
Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro. A precipitação média
mensal e a temperatura média mensal, ocorridas durante o período que decorreu o
trabalho experimental estão registadas na Figura 1.
Figura_1 ' Temperaturas médias mensais e Precipitação mensal em Viseu no
período experimental
Os tratamentos em ensaio consistiram em nove culturas sujeitas a duas datas de
sementeira. As espécies de plantas utilizadas foram o trevo balansa (Trifolium
michelianum Savi) Cv. Paradana, trevo glandulífero (Trifolium glanduliferum
Boiss.) Cv. Prima, trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi) Cv. Cefalu,
trevo encarnado (Trifolium incarnatum L.) Cv. Contea, serradela vulgar
(Ornithopus sativus Brot.) Cv. Cadiz e tremocilha (Lupinus luteus L.) população
regional como leguminosas estremes, o azevém (Lolium multiflorum Lam.)
westerwoldicum diplóide Cv. Liforia e uma consociação de azevém com trevo
balansa. Como tratamento testemunha foi utilizada a vegetação espontânea.
O ensaio foi delineado em talhões subdivididos ("split plot") em que os talhões
principais ou grandes talhões são as datas de sementeira e os pequenos talhões
(subtalhões) as diferentes espécies/modalidades de plantas. Foram efectuadas
quatro repetições. A dimensão de cada subtalhão foi de 3m x 5m. É importante
referir que a parcela onde se localiza o ensaio, estava já há alguns anos com
vegetação espontânea.
As culturas foram semeadas em duas datas: 22 de Setembro e 27 de Outubro de
2007, pretendendo representar uma data precoce e uma data tardia,
respectivamente. As densidades de sementeira utilizadas foram: para a serradela
20 kg ha-1; para o trevo balansa, trevo glandulífero e trevo vesiculoso 10 kg
ha-1; para o trevo encarnado 20 kg ha-1; para o azevém 30 kg ha-1 e a
tremocilha 60 sementes m-2. Na consociação utilizou-se a soma de 60% dos
valores estremes, ou seja 18 kg ha-1 de azevém mais 6 kg ha-1 de trevo balansa.
Para a preparação do terreno para a sementeira foram efectuadas inicialmente
uma mobilização profunda (lavoura) para destruir as infestantes e depois uma
passagem com a grade de discos para preparar uma boa cama de sementeira.
Aquando da lavoura foram aplicados fertilizantes de acordo com as recomendações
de análises do solo realizadas para o efeito: 2000 kg ha-1 de calcário
dolomítico; 250 kg ha-1 de sulfato de potássio.
O solo de cada um dos pequenos talhões de ensaio foi analisado relativamente ao
N mineral imediatamente antes da instalação das culturas, aquando da 1ª data de
sementeira, da 2ª data de sementeira e do corte final das culturas, antes da
sideração. Para a amostragem de solos foram recolhidas cerca de 5 a 6 sub-
amostras às profundidades de 0 ' 20 cm e 20 ' 40 cm de cada pequeno talhão, que
se homogeneizaram de forma a obter uma única amostra de cada profundidade de
cada pequeno talhão para posterior análise. Em laboratório, as amostras foram
sujeitas a crivagem através de um crivo de malha de 2 mm para separação e
determinação das proporções de terra fina e dos elementos grosseiros. Retirou-
se uma amostra de cerca de 150 g que foi de imediato pesada e colocada na
estufa a 105 ºC até atingir peso constante. Foi de novo pesada e posteriormente
calculado o seu teor em água. Retirou-se outra amostra de cerca de 50 g que foi
ultracongelada até ao momento da realização da análise do teor de N mineral no
laboratório de solos da UTAD. Para extracção do N mineral utilizou-se KCl 1 M,
relação 1:5 e doseamento por espectrofotometria de absorção molecular. Para
análise das produções foram colhidas amostras de 0,25 m2 (0,5 x 0,5 m) em parte
pré determinada de cada pequeno talhão. Foram colocadas em sacos devidamente
etiquetados e levadas para o laboratório. Já no laboratório foram de imediato
pesadas e registado o seu peso verde. Nas amostras relativas à vegetação
espontânea e à consociação azevém x trevo balansa, fez-se a separação entre as
diferentes espécies constituintes da amostra. As amostras foram então colocadas
na estufa a 65 ºC até atingirem peso constante. Após este tempo foram de novo
pesadas. Retirou-se uma subamostra de cerca de 150 g que foi moída (crivo de
1mm de diâmetro) para posterior quantificação de N total. Esta quantificação
foi feita através de digestão por via húmida com ácido sulfúrico e o doseamento
por espectrofotometria de absorção molecular em analisador de fluxo segmentado.
Após a amostragem da produção em todos os pequenos talhões do ensaio procedeu-
se ao corte, destroçamento e incorporação da vegetação no solo dos respectivos
tratamentos, para prosseguir com nova etapa dos objectivos experimentais. Todas
as plantas de todos talhões foram cortadas no dia 07 de Maio de 2008, com
auxílio de um destroçador de mato. Posteriormente, dia 08 de Maio, procedeu-se
à incorporação das plantas no solo, através de uma mobilização do solo
utilizando uma grade de discos.
Os resultados obtidos foram tratados por análise de variância utilizando o
delineamento em talhões subdivididos ("split plot"). Para comparar as médias
dos tratamentos foi utilizado o Teste de Duncan. A significância foi
estabelecida para valores de probabilidade inferiores a 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As temperaturas e a precipitação ocorridas durante o período de desenvolvimento
das plantas (Setembro a Abril) influenciaram a germinação, o crescimento e a
produção de biomassa das plantas, tal como referem Sainju et al. (2005). A
escassa precipitação ocorrida durante o mês de Setembro e a reduzida
precipitação em Outubro (Figura_1) condicionaram a emergência das plantas
semeadas em Setembro, 1ª data de sementeira. Quando efectuada a análise de
variância nos talhões principais em relação à produção de matéria seca não
houve diferenças significativas entre as duas datas de sementeira. Esta
semelhança de valores poderá ser explicada devido às condições climáticas
anormais que ocorreram, pois devido à precipitação tardia as plantas semeadas
em Setembro emergiram apenas poucos dias antes da sementeira de Outubro.
A ausência de diferenças na produção de matéria seca entre plantas pode ser
justificada pelo facto de não haver água suficiente no solo para as plantas
germinarem prontamente e se desenvolverem, o que facilitou o desenvolvimento da
vegetação espontânea e que mascarou o efeito das diferentes plantas semeadas.
Apesar de as diferenças não serem significativas, pode afirmar-se que foi a
vegetação espontânea a responsável pela maior produção de matéria seca na 1ª
data de sementeira (5428 kg MS ha-1), seguida pela tremocilha (4910 kg MS ha-
1). Na 2ª data, a espécie mais produtiva foi a serradela (7179 kg MS ha-1),
tendo a vegetação espontânea registado significativamente menor produção de
matéria seca (3804 kg MS ha-1). Nesta 2ª data de sementeira existem diferenças
na produção de matéria seca do trevo vesiculoso e da vegetação espontânea (as
produções mais baixas) quando comparados com a serradela (a produção mais
elevada).
Em todos os tratamentos, com excepção do trevo vesiculoso e da vegetação
espontânea, a produção de matéria seca foi superior na 2ª data de sementeira,
quando comparada com a 1ª data (Figura 2). Resultados opostos foram encontrados
por Odhiambo e Bomke (2001), em estudos efectuados em Vancouver, que referem as
maiores produções de biomassa para as sementeiras mais precoces. Estes
resultados por nós obtidos podem ser justificados pela deficiente emergência e
posterior desenvolvimento das plantas devido à escassez de água no solo dos
ensaios. Knight (1985) citado por Odhiambo e Bomke (2001), refere que a
humidade é um factor limitante no estabelecimento do trevo encarnado. Cherr et
al. (2006) referem a importância da altura em que ocorre a precipitação para o
desenvolvimento de culturas de sementes pequenas.
Figura 2 - Produção de matéria seca (kg ha-1) das culturas, nas duas datas de
sementeira.
A maior produção de matéria seca na 1ª data de sementeira pertenceu à vegetação
espontânea o que poderá ser explicado pela sua melhor adaptação/resistência às
condições climáticas, nomeadamente à baixa humidade no solo para ocorrer a
germinação. A produção de matéria seca na 2ª data de sementeira foi superior na
consociação, quando comparada com as espécies constituintes isoladas.
Resultados semelhantes foram encontrados por Sainju et al. (2005). Esta
diferença é justificada por Clark et al. (1994) citado por Sainju et al.
(2005), que a atribui ao facto de na consociação a densidade de sementeira ser
maior, o que levará a uma redução na competição entre espécies. Em ambas as
datas de sementeira o trevo encarnado obteve produções de matéria seca mais
baixas quando comparadas com as outras plantas. Resultados semelhantes foram
encontrados em trabalhos desenvolvidos em Vancouver (British Columbia), por
Odhiambo e Bomke (2001). São apresentados por Clark (2007) valores para a
produção de matéria seca do trevo encarnado entre 3923 kg ha-1 e 6164 kg ha-1.
Sullivan (2003) refere valores de 4755 kg ha-1. Também para o trevo balansa,
Cherr et al. (2006) apresentam valores semelhantes aos por nós obtidos:
produções de matéria seca entre os 2500 kg ha-1 e os 4500 kg ha-1.
Valores ligeiramente diferentes foram apontados por Schomberg et al. (2006b),
onde a produção de biomassa do trevo balansa variou entre os 1137 kg ha-1 e os
2477 kg ha-1. Em relação ao azevém, a produção de matéria seca obtida foi
superior à encontrada na bibliografia. Cherr et al. (2006) apontaram valores de
1300 kg ha-1 a 2500 kg ha-1, embora Stopes et al. (1996) referidos por Cherr et
al. (2006) indicassem valores de produção de matéria seca para o azevém
variando entre 700 kg ha-1 e 17500 kg ha-1. Também os valores encontrados por
Kuo e Jellum (2002) em Washington, são inferiores aos por nós obtidos, variando
entre 1240 kg ha-1 e 1540 kg ha-1.Valores semelhantes aos encontrados na
primeira data são referidos por Fowler et al. (2004), na Nova Zelândia, que não
encontraram diferenças significativas na produção de matéria seca entre
leguminosas, não leguminosas e consociação e apontaram valores de 4,23 t ha-
1 para a gramínea, 4,85 t ha-1 para a leguminosa e 4,84 t ha-1 na consociação.
Quando efectuada a análise de variância ao teor de N nas plantas, esta
evidencia a existência de diferenças muito significativas no teor de N nas
plantas em função da data de sementeira e no teor de N das plantas entre as
diferentes espécies/culturas. Estas diferenças entre culturas dependem da data
de sementeira, pois a interacção entre as plantas e a data de sementeira foi
significativa (P< 0,05). Quando comparadas as médias (utilizando o teste de
Duncan) do teor de N nas plantas dentro de cada data, não foram encontradas
diferenças significativas entre plantas na 1ª data de sementeira, mas foram
encontradas algumas diferenças entre plantas na 2ª data de sementeira.
Quando analisados os valores das duas datas, pode verificar-se na Figura 3, que
o teor de N nas plantas é muito superior em todos os tratamentos da 2ª data de
sementeira quando comparado com os da 1ª data de sementeira. Na 1ª data de
sementeira não existem diferenças significativas no teor de N entre as plantas.
Nesta 1ª data de sementeira, foi a tremocilha que obteve um mais elevado teor
de N (13,1 g kg-1), seguida pelo trevo vesiculoso (12,3 g kg-1). Os tratamentos
que obtiveram os resultados mais baixos foram a consociação e a vegetação
espontânea, com respectivamente 6,5 g kg-1 e 7,0 g kg-1. Para a 2ª data de
sementeira houve diferenças significativas entre tratamentos. Essa diferença
foi de 16,08 g kg-1 entre os valores extremos. O maior teor de N foi encontrado
no trevo balansa (26,8 g kg-1), seguido pela tremocilha (23,6 g kg-1).
Figura 3 -Teor de N nas plantas dos tratamentos em ensaio nas duas datas de
sementeira.
Os resultados mais baixos em relação ao teor de N, na 2ª data de sementeira,
foram encontrados no azevém (10,8 g kg-1) e no trevo glandulífero (12,0 g kg-
1). Em termos médios pode afirmar-se que o azevém e o trevo glandulífero são os
mais pobres em N, enquanto que o trevo balansa e a tremocilha são os que
possuem teor mais elevado. Foi no trevo balansa que se verificou a maior
diferença no teor de N entre a 1ª e a 2ª data de sementeira, o que
possivelmente se deve ao facto de as sementeiras da 1ª data como já referido
terem sido afectadas pela falta de água após as sementeiras e a vegetação
espontânea infestante se ter desenvolvido melhor. Valores semelhantes foram
obtidos para o azevém por Odhiambo e Bomke (2001), que encontraram valores de
10 g kg-1 e também por Kuo e Jellum (2002), para o ano de 1998 em Washington,
onde o valor foi de 10,1 g kg-1. Em todos os anos do ensaio (1994-98) estes
autores encontraram os valores mais baixos de N nas não leguminosas (azevém e
centeio) e os valores mais elevados nas leguminosas (ervilhaca). Valores
intermédios foram encontrados pelos autores citados para a consociação
(gramínea mais leguminosa). Em relação à data de sementeira, os valores
encontrados por Odhiambo e Bomke (2001) não diferem muito, ao contrário do que
aconteceu no presente trabalho. Esta diferença pode ser justificada pela
elevada percentagem de infestantes não leguminosas, que continham os talhões da
1ª data de sementeira enquanto na 2ª data de sementeira a infestante dominante
foi uma leguminosa e ainda o facto de sendo a data de corte idêntica, as
plantas da primeira data de sementeira se encontrarem em estados fenológicos
mais avançados.
Quando efectuada a análise de variância à quantidade de N nas culturas (parte
recolhível), esta evidencia a existência de diferenças significativas na
quantidade de N nas culturas em função da data de sementeira e diferenças muito
significativas na quantidade de N nas culturas entre as diferentes espécies.
Estas diferenças entre espécies dependem da data de sementeira, pois a
interacção entre as plantas e a data de sementeira foi significativa (P<0,05).
Quando comparadas as médias (utilizando o teste de Duncan) da quantidade de N
das culturas foram encontradas diferenças dentro de cada data entre os
tratamentos.
A quantidade de N nas culturas é superior na 2ª data de sementeira, quando
comparada com a 1ª data de sementeira, como se pode observar na Figura 4.
Figura 4 - Potencial de acumulação de N pelas culturas nas duas datas de
sementeira.
Para a 1ª data existem diferenças significativas entre os diferentes
tratamentos. Em relação à quantidade de N nas culturas, na 1ª data, foi a
tremocilha que obteve o maior valor (61,8 kg ha-1), seguida do trevo vesiculoso
com 55, 0 kg ha-1. As produções mais baixas, nesta data, foram encontradas na
consociação (29,0 kg ha-1), seguida do azevém (32,4 kg ha-1). Na 2ª data de
sementeira houve uma maior variabilidade de valores. A quantidade mais elevada
de N nas culturas obteve-se no trevo balansa (123,6 kg ha-1), logo seguido da
tremocilha (116,7 kg ha-1). Os valores mais baixos foram de 53,9 kg ha-1 no
trevo glandulífero e de 54,0 kg ha-1 no azevém.
Em termos médios poderá afirmar-se que a tremocilha (89,29 kg ha-1) e o trevo
balansa (83,74 kg ha-1) são as culturas que acumularam maior quantidade de N,
sendo o azevém (43,20 kg ha-1) como gramínea estreme a cultura que acumulou
menor quantidade de N.
A maior diferença de N nas culturas entre a 1ª data e a 2ª data de sementeira
encontra-se na consociação que obteve apenas 29 kg ha-1 de N na 1ª data e
passou para 115,08 kg ha-1 na 2ª data.
Cherr et al. (2006) citam valores de 15 a 346 kg ha-1 para o azevém, enquanto
que Hanly e Gregg (2004) apontam valores de 54 a 79 kg ha-1 e Kuo e Jellum
(2002) valores de 12,5 a 22,2 kg ha-1. Esta grande divergência de valores no
caso do azevém está com certeza relacionada com a diferente disponibilidade de
N nos solos dos diferentes ensaios e com o facto de as suas culturas serem
objecto ou não de fertilização azotada. No presente ensaio não foi realizada
qualquer fertilização azotada. Em todos os trabalhos os teores de N nas plantas
são inferiores nas não leguminosas, tal como seria de esperar, pois todo o N
que estas possuem é resultado da absorção do solo, enquanto as leguminosas
conseguem também fixar o N atmosférico (Sainju et al., 2002). A inclusão de
leguminosas nas culturas não leguminosas é uma forma de aumentar os valores de
N dessas não leguminosas (Kuo e Jellum, 2002).
CONCLUSÕES
Este estudo mostra que as plantas utilizadas para sideração desenvolvem-se em
geral com sucesso na região em estudo (Viseu, Portugal), revelando algumas das
leguminosas um bom potencial de acumulação de N. De uma forma geral, as
leguminosas foram mais eficientes na produção de matéria seca e na acumulação
de N do que as não leguminosas. Dentro das leguminosas estudadas, foi a
serradela que obteve melhores resultados para a produção de matéria seca. Na
acumulação de N foi a tremocilha e o trevo balansa que retiveram a maior
quantidade de N na média das duas datas de sementeira. Na sementeira mais
tardia todas as plantas obtiveram maior produção de matéria seca, maior teor de
N e consequentemente mais N acumulado.
Estes resultados são um bom ponto de partida para uma futura linha de
investigação onde se avaliará a quantidade de N que estas plantas sideradas
conseguem fornecer à cultura principal, e a forma como o disponibilizam, ou
seja, se a libertação do N é feita sincronizadamente com as necessidades da
cultura principal, pois as variações no teor de N da cultura principal terão
origem na diferente libertação de N pelas culturas sideradas.