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EuPTCVAg0871-018X2015000300011

EuPTCVAg0871-018X2015000300011

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0871-018X
Year2015
Issue0003
Article number00011

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Efeito fisiológico de fungicidas sistémicos em parâmetros agronómicos da cenoura

Introdução No cenário económico brasileiro a cenoura é a principal hortaliça raiz em valor económico e encontra-se entre as dez espécies olerícolas mais cultivadas, com consumo per capita de 5,8 kg/pessoa/ano (Luz et al., 2009).

Recentemente pesquisas têm buscado tecnologias que possibilitem aumento na produtividade das culturas, entre elas as relacionadas a aplicações de fungicidas sistémicos, como as do grupo das estrobilurinas, que demonstraram influência no desenvolvimento das plantas resultando em maior produtividade (Sirtoli et al., 2011).

As estrobilurinas têm proporcionado maior resistência a vários tipos de estresses como o hídrico e nutricional, aumento da capacidade fotossintética, redução da respiração e maior eficiência do uso da água (Costa et al., 2009).

Também têm proporcionado melhor desenvolvimento das plantas, pelo aumento da atividade da enzima nitrato redutase e nos níveis de clorofila, o que proporciona aumento da tonalidade da cor verde das folhas, atraso da senescência pela diminuição da produção de etileno, elevação na concentração de proteínas e biomassa e maior fotossíntese líquida (Sirtoli et al., 2011).

Os fungicidas pertencentes à família das carboxamidas e ao grupo químico anilidas aparentemente possuem os mesmos efeitos das estrobilurinas (Ramos et al., 2013).

Os efeitos das estrobirulinas foram relatados em pepino japonês, com maior atividade da enzima nitrato redutase, maior área foliar, massa seca e produtividade (Sirtoli et al., 2011). Em tomate, Töfoli e Domingues (2007) verificaram maior número de frutos sadios, massa fresca de frutos e produção comercial. Também em tomate, Ramos et al. (2013) obtiveram efeitos positivos na produção, devido aos efeitos promovidos pelo produto nas plantas. Em cenoura, Maringoni et al. (2012) verificaram o controle da queima das folhas e ganho de massa de raízes.

Assim, estes fungicidas sistémicos tem sido de interesse para a agricultura por promover alterações que proporcionem incremento na produção de biomassa e produtividade até mesmo em plantas não afetadas por fungos (Brachtvogel, 2010).

Pelo exposto, objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito de fungicidas sistémicos sobre parâmetros agronómicos da cenoura 'Belgrado'

Material e métodos A pesquisa foi conduzida em duas áreas comerciais com características de solo distintas. A primeira área está localizada em Pardinho-SP (área de alta fertilidade) e a segunda em Botucatu-SP (área de baixa fertilidade).

Os resultados obtidos na análise química do solo da área de alta fertilidade, segundo a metodologia de Raij et al. (2001), na camada de 0-20 cm de profundidade, antes da instalação do experimento foram: pH(CaCl2): 5,9; M.O: 34 g.dm-3; Presina: 172 mg.dm-3; H+Al: 24 mmolc.dm-3; K: 10,2 mmolc.dm-3; Ca: 92 mmolc.dm-3; Mg: 30 mmolc.dm-3; SB: 132 mmolc.dm-3; CTC: 156 mmolc.dm-3 e V: 85 %. Na área de baixa fertilidade, os resultados obtidos na análise química do solo antes da instalação do experimento foram: pH(CaCl2): 4,7; M.O: 46 g.dm-3; Presina: 47 mg.dm-3; H+Al: 65 mmolc.dm-3; K: 4,1 mmolc.dm-3; Ca: 26 mmolc.dm-3; Mg: 10 mmolc.dm-3; SB: 40 mmolc.dm-3; CTC: 106 mmolc.dm-3 e V: 38 %.

O delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram compostos por três fungicidas sendo T1: piraclostrobina (1 ml L-1do p.c.); T2: piraclostrobina+metiram (3 g L-1 do p.c.); T3: boscalida (0,3 g L-1 do p.c.) e T4: testemunha (água). Como fonte de piraclostrobina foi utilizado o produto Comet®, fungicida sistêmico pertencente ao grupo químico das estrobirulinas, contendo 250 g L-1 do p.a. O Comet®atua como inibidor do transporte de elétrons nas mitocôndrias das células dos fungos, inibindo a formação de ATP essencial nos processos metabólicos dos fungos. Também apresenta excelente ação protetiva, devido a sua atuação na inibição da germinação dos esporos, desenvolvimento e penetração dos tubos germinativos e proporciona maior atividade metabólica da planta, aumento da atividade da enzima nitrato redutase, resultando em melhor sanidade da planta. Para piraclostrobina+metiram foi utilizado o produto Cabrio Top® fungicida sistêmico do grupo químico alquilenobis (ditiocarbamato) e estrobilurina, contendo 50 g kg-1 p.a. de piraclostrobina + 550 g kg-1do p.a. de metiram. O Cabrio Top® é um produto que apresenta duplo modo de ação, atuando através do ingrediente ativo Pyraclostrobina como inibidor do transporte de elétrons nas mitocôndrias das células dos fungos, inibindo a formação de ATP, essencial nos processos metabólicos dos fungos e através do ingrediente ativo Metiram o qual se decompõe formando compostos tóxicos, que reagem inespecíficamente com enzimas sulfidrilicas, as quais estão largamente distribuídas na célula do fungo, atuando assim sobre um grande número de processos vitais, da célula do fungo, inibindo a germinação dos esporos, bem como o desenvolvimento do tubo germinativo. Cabrio Top® apresenta também excelente ação protetiva, devido a sua atuação na inibição da germinação dos esporos, desenvolvimento e penetração dos tubos germinativos. Como fonte de boscalida foi utilizado o produto Cantus® fungicida sistêmico do grupo químico da anilida contendo 500 g kg-1 do p.a. O Cantus® apresenta um modo de ação exclusivo, atuando sobre todos os estágios de desenvolvimento e reprodução do fungo, como inibição da germinação dos esporos, desenvolvimento e penetração dos tubos germinativos, crescimento micelial e esporulação. O modo de ação do Cantus® é através da inibição da respiração celular nas mitocôndrias, interferindo no transporte de elétrons no complexo bc2, inibindo a formação de ATP, essencial nos processos metabólicos dos fungos.

Foram realizadas três aplicações de cada tratamento utilizando um pulverizador costal de CO2, contendo bico XR 110 03 VS, na vazão de 600 L ha-1, sendo a primeira realizada 60 dias após a semeadura e as demais em intervalos de 15 dias a partir da primeira.

As parcelas experimentais foram constituídas de 8 linhas de 2 m de comprimento, sendo 4 linhas duplas espaçadas de 0,20 m entre elas, totalizando 2 . Foram consideradas como área útil as duas linhas duplas centrais de cada parcela experimental.

O solo foi preparado em cada área, através da aração, gradagem e enxada rodativa (encanteiradora), para erguer quatro canteiros equidistantes, com altura aproximada de 0,20 m, onde foi realizada a semeadura do híbrido Belgrado no dia 26 de agosto de 2013, utilizando uma semeadora pneumática. A irrigação foi por aspersão. A adubação foi apenas de plantio com cama de frango, sendo 5 t ha-1 na área de alta fertilidade e 2 t ha-1 na área de baixa fertilidade, de acordo com o que normalmente é utilizado pelos produtores.

Na colheita, realizada no dia 7 de dezembro de 2013, foram avaliados o número de folhas, comprimento de raiz (cm), altura de parte aérea (cm), massa da matéria fresca e seca de raiz (g planta-1), massa da matéria fresca e seca de parte aérea (g planta-1) e produtividade. Para determinar a massa da matéria seca foram pegas ao acaso duas plantas, as quais foram seccionadas separando a parte aérea da raiz. As raízes foram cortadas em rodelas com cerca de 0,5 cm de espessura para facilitar a secagem. Posteriormente, a raiz e parte aérea foram acondicionadas em sacos de papel e secas em estufas de circulação forçada de ar a 65 ºC, até atingir massa constate, sendo o valor obtido pela pesagem em balança digital.

Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade pelo programa estatístico Sisvar. Foi feita também a análise conjunta com o intuito de comparar as duas áreas.

Resultados e discussão A aplicação de boscalida, na área de alta fertilidade, resultou em raízes com maior comprimento em relação à testemunha (Quadro_1). Possivelmente a boscalida proporcionou uma maior taxa fotossintética das plantas, consequentemente uma translocação efetiva dos fotoassimilados para as raízes, o que pode ter promovido raízes de maior tamanho.

O tamanho da raiz é uma característica essencial para a determinação da produtividade e qualidade, visto que as cenouras são classificadas pelas centrais de comercialização, como a Ceagesp, de acordo com seu tamanho. Em média, as raízes produzidas estão dentro dos padrões de comercialização, sendo classificadas na classe 14, onde o comprimento varia de 14 a 18 cm (Ceagesp, 2014).

para a altura de parte aérea, massa fresca e seca de raiz e parte aérea e produtividade os tratamentos não diferiram na área de alta fertilidade (Quadro 1). Maringoni et al. (2012) constataram ganho de massa de raiz de cenoura com aplicações com piraclostrobina. Em tomate, Töfoli e Domingues (2007) verificaram maior número de frutos sadios, massa fresca de frutos e produção comercial, assim como Itako (2012) que verificou maior número total de frutos e massa fresca de tomate.

A aplicação da piraclostrobina proporcionou maior número de folhas por planta em relação à testemunha, provavelmente pela diminuição da produção de etileno e consequente atraso da senescência das folhas, conforme relatado por Sirtoli et al. (2011).

Os fungicidas sistémicos testados possivelmente também atuaram evitando o desenvolvimento de doenças como a queima das folhas que tende a ser destrutiva nas épocas mais quentes e úmidas do ano. Maringoni et al. (2012) verificaram o controle da queima das folhas em cenouras pulverizadas com piraclostrobina e piraclostrobina+metiram. Na presente pesquisa, a ocorrência da doença foi constatada apenas próximo da colheita quando as raízes estavam praticamente desenvolvidas não chegando a tornar-se um problema sério, sendo verificadas poucas folhas com sintomas, mesmo na testemunha com aplicação apenas de água.

Portanto, pode-se dizer que o efeito das estrobilurinas foi na maior longevidade foliar, e não no controle da doença, pelo maior número de folhas em relação à testemunha que também apresentou poucos sintomas de doenças.

A produtividade média obtida na área de alta fertilidade foi de 93,6 t ha-1 e pode ser considerada elevada para a cultura. Zanfirov et al. (2012) obtiveram produtividade de 96 a 104 t ha-1, em experimento com doses de potássio em cobertura. Oliveira et al. (2001), Mesquita-Filho et al. (2002) e Luz et al.

(2009) relatam produtividade máxima de 79,5, 27,5 e 37,0 t ha-1, respectivamente. A elevada produtividade obtida nesta pesquisa pode estar associada à ausência de falhas na população de plantas, aliado a utilização de híbrido que, segundo Maluf (2011), apresenta maior potencial produtivo desde que seja adaptado ao local e época de plantio.

Na área de baixa fertilidade não houve diferença estatística entre os tratamentos para todos os parâmetros agronómicos avaliados (Quadro_2). O baixo teor de alguns nutrientes na área associado à menor aplicação de fertilizantes (apenas 2 t ha-1 de cama de frango e ausência de adubo inorgânico), levou a um menor desenvolvimento das plantas e consequentemente menor produtividade. Isso indica que, apesar das estrobilurinas proporcionar maior resistência a estresse nutricional, como descrito por Sirtoli et al. (2011), numa condição de solo com deficiências nutricionais, como o da pesquisa, não é possível obter efeitos positivos dos tratamentos.

A Quadro_3 apresenta o resultado da análise conjunta das áreas de alta e baixa fertilidade. Segundo Banzatto e Kronka (2007), para realizar a análise conjunta, a relação entre os quadrados médios dos erros deve ser menor que 7, por isso, não foi feita a análise conjunta da altura de parte aérea.

Houve diferença entre as áreas de alta e baixa fertilidade para todos os parâmetros avaliados (Quadro_3). A área de alta fertilidade apresentou as maiores médias, sendo 15,80 cm; 35,28 cm; 93,64 g planta-1; 12,41 g planta-1; 9,96 g planta-1 e 96,03 t ha-1 para comprimento de raiz, massa fresca de parte aérea e raiz, massa seca de raiz e parte aérea e produtividade, respectivamente (Quadro_3). Apenas para número de folhas, a área de baixa fertilidade se sobressaiu com média 9,36 (Quadro_3).

Segundo Carvalho et al. (2004), a baixa fertilidade do solo é um dos principais fatores responsáveis pela baixa produtividade. Desse modo, é necessário o manejo adequado e planeamento da sua fertilidade, pois, não adianta fazer aplicações de produtos para melhorar o desempenho da planta, se o solo apresenta limitações de nutrientes. Assim, um solo fértil deve ser capaz de fornecer nutrientes durante todo o desenvolvimento das plantas. Esta capacidade, para não apresentar limitações, deve ser mantida através da adubação, sendo que na área de baixa fertilidade foi feita apenas adubação de plantio, limitando o desenvolvimento das plantas e menor produtividade.

Além da fertilidade do solo, também devem ser levadas em considerações a classe toxicológica dos produtos visando melhorar o desempenho das plantas e a possibilidade do aparecimento de isolados resistentes. Os produtos testados se enquadram na classe toxicológica III (Cantus® e Cabrio Top®), ou seja, mediamente tóxico e classe II (Comet®), sendo altamente tóxico. Conscientes da sua toxicidade e da possibilidade do aparecimento de isolados resistentes, os produtores têm realizado as aplicações utilizando equipamentos de proteção, fazendo alternância de princípios ativos, além da utilização dos fungicidas nas doses recomendadas e respeitando período de carência.

Conclusão Pode-se concluir que na área de alta fertilidade a aplicação de boscalida favoreceu a obtenção de raízes com maior comprimento e a piraclostrobina maior número de folhas por planta no final do ciclo e na área de baixa fertilidade a aplicação dos fungicidas não teve efeito nos parâmetros avaliados.


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