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EuPTCVHe0870-71032011000300003

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National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0870-7103
Year2011
Issue0003
Article number00003

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Até sempre, Professora! Até sempre, Professora!

Tiago Villanueva* *Médico de família, UCSP Alvalade, Lisboa.

tiago.villanueva@gmail.com

Quem enviar uma mensagem de correio electrónico à Profª Barbara Starfield na data em que escrevo este artigo (13 de Junho de 2011) receberá a seguinte resposta automática: «Dr. Barbara Starfield died on Friday, June 10, 2011. If you need anything from her office, please contact Normalie Barton».

Triste, mas verdade. O mundo acaba de perder uma destacada cidadã norte- americana e o mundo da Medicina Geral e Familiar (MGF) e dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) acaba de perder uma das suas figuras mais proeminentes a nível global.

Soube do sucedido no dia 11 de Junho, menos de 12 horas depois da sua morte, através de uma mensagem de correio electrónico enviada pelo Dr. Juan Gérvas, médico de Clínica Geral espanhol, muito conhecido entre nós e em todo o mundo.

O Dr. Juan Gérvas mantinha uma forte ligação profissional e de amizade com a Profª Barbara Starfield, que vinha desde os anos 80, quando tomou contacto com o seu trabalho. Mais tarde teve a oportunidade de estudar e de dar aulas como professor visitante na Johns Hopkins School of Public Health, em Baltimore, onde a Profª Starfield trabalhava.

Ouvi falar pela primeira vez da Profª Barbara Starfield no Verão de 2007, quando era interno do primeiro ano de Medicina Geral e Familiar, através de uma mensagem de correio electrónico enviada pelo Dr. Rui Nogueira, que era na altura coordenador de internato, a chamar a atenção para um texto publicado por ela que enviava como anexo. Fiquei muito impressionado com a «magia» que emanava das palavras da Profª Starfield e até comentei isso com o Dr. Rui Nogueira, que me disse que eu iria ouvir falar muito dela ao longo do meu internato e da minha carreira. Estava longe então de compreender totalmente o que ele me estava a tentar dizer, bem como de imaginar que quatro anos depois iria estar a escrever este artigo. E mal tinha reparado que, poucos meses antes, a Profª Starfield deixara a sua marca no meio académico português de MGF ao publicar um editorial para um dossier sobre co-morbilidade na edição de Março/Abril de 2007 da Revista Portuguesa de Clínica Geral (RPCG),1 republicado uns meses mais tarde numa edição especial em inglês.2 Em 2008, quando tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, de começar a colaborar e, mais tarde, em 2009, de estagiar com o Dr. Juan Gérvas, comecei a contactar de forma mais intensa com a sua obra, que inclui vários artigos escritos em autoria com o Dr. Gérvas.3-7 Acabou, portanto, por ser natural que, juntamente com o meu colega e amigo Luís Filipe Cavadas, com quem tenho desenvolvido o projecto dos Ciclos de Conferências Virtuais MGFXXI,8 tivéssemos tentado convidar a Profª Starfield para participar como convidada especial numa conferências virtual. Confesso que não foi nada fácil na altura conseguir convencer a Profª Starfield a participar mas, entre 9 e 13 de Agosto de 2010, a conferência virtual teve lugar e, das oito realizadas até hoje, foi provavelmente das melhores.9 A Profª Barbara Starfield desenvolveu uma longa carreira na instituição que a acolheu pela primeira vez em 1959, enquanto fellow de Pediatria: a prestigiada universidade americana Johns Hopkins.

Como referiu o Professor Richard Roberts, actual Presidente da WONCA, num comunicado oficial, a Profª Starfield era «pediatra de formação, investigadora sobre serviços de saúde de profissão e professora de talento natural».10 Em 1962 começou a trabalhar na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, onde concluiu o seu mestrado em Saúde Pública. Mais tarde, de 1975 a 1994, dirigiu a divisão de política de saúde no Departamento de Política de Saúde e Gestão de Serviços de Saúde da mesma instituição. Todavia, permaneceu um membro activo do corpo docente da instituição, sendo directora fundadora do Primary Care Policy Center, e em 1994 foi nomeada Distinguished University Professor dos Departamentos de Política de Saúde e Gestão de Serviços de Saúde e de Pediatria da Escola de Saúde Pública e da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, respectivamente.11 Será impossível expressar o significado do seu trabalho e da sua obra de forma tão sublime como o fazem aqueles que contactaram de perto com ela durante muito tempo, como o Dr. Michael H. Klag, director da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health que, num comunicado oficial, referiu: «A nossa escola acaba de perder um dos seus grandes líderes. A Barbara era uma gigante no campo dos CSP e da política de saúde e foi uma mentora para muitos de nós. O seu trabalho levou ao desenvolvimento de importantes ferramentas metodológicas de avaliação da carga de morbilidade diagnosticada e teve impacto mundial. Estava firmemente convicta de que um sistema de CSP de qualidade é fundamental para o futuro dos cuidados de saúde neste país e em todo o mundo e recebeu numerosos prémios pelo seu trabalho nesta importante área».11 Várias revistas médicas estão a preparar o devido tributo a Barbara Starfield e foi criada a sua entrada na Wikipedia, graças à iniciativa do Dr. Raimundo Pastor, médico de família espanhol (igualmente autor da entrada na Wikipedia sobre Juan Gérvas), que me pediu que fizesse a tradução da versão original espanhola para inglês e português.

Ao longo dos últimos dias tenho tido a oportunidade de ler testemunhos de colegas médicos de família um pouco por todo o mundo em várias redes internacionais (muitos dos quais privaram com a Profª Starfield) e sobressai a ideia de que era uma mulher incansável, com uma grande paixão pela vida e uma invulgar capacidade de trabalho. No dia 12 de Junho, recebi uma mensagem de correio electrónico escrita pela Drª Dee Mangin, uma conhecida médica de família neo-zelandesa, a explicar que a Profª Barbara Starfield morrera de forma súbita enquanto nadava na piscina da sua casa na Califórnia, aparentemente uma das suas actividades predilectas, a par de fazer caminhadas e de andar de bicicleta. A Drª Mangin acrescentou também, a propósito da capacidade de trabalho da Profª Starfield, que «nunca se ficava com a sensação, ao enviar-lhe um rascunho de um artigo para publicar a necessitar de modificações, de que o artigo ia acabar por ficar esquecido na lista de coisas pendentes. Com a Barbara, o rascunho revisto estaria de volta em 48 horas.» Surpreendentemente, por razões que desconheço, a Profª Starfield nunca chegou a obter o grau de doutorada. No entanto, isso não a impediu de publicar um acervo incomparável e incontornável de livros e artigos, muitos dos quais autênticas «bíblias» e referências internacionais a nível dos CSP, e que naturalmente têm várias centenas de citações. Destaco em particular o livro «Primary Care: Concept, Evaluation, and Policy», publicado em 1992, o livro «Primary care: Balancing Health Needs, Services, and Technology», publicado em 1998, e o artigo «Contribution of Primary Care to Health and Health Systems», publicado em 2005, na revista Millbank Quarterly.12-14 A Profª Barbara Starfield deixa o marido, Neil Holtzman, quatro filhos, oito netos, uma enorme quantidade de amigos e colegas em todo o mundo e um legado impressionante.

É nosso dever enquanto médicos dos CSP manter esse seu legado bem vivo e transmiti-lo às próximas gerações de médicos de família.

Nota: A entrada na Wikipedia de Barbara Starfield está disponível no endereço: http:/ /pt.wikipedia.org/wiki/Barbara_Starfield


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