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EuPTCVHe0870-71032011000600010

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National varietyEu
Year2011
SourceScielo

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Abordagem da vida sexual feminina nos Cuidados de Saúde Primários

INTRODUÇÃO A maioria das mulheres, segundo estudos efectuados nos Estados Unidos da América (EUA), afirma ser importante ter uma vida sexual satisfatória.1 No entanto, muitas têm problemas nesta área, os quais afectam a sua auto-estima, relacionamento com os parceiros e qualidade de vida.2,3 Segundo Laumann E.O. et al.4, nos EUA, cerca de 43% mulheres entre os 18 e 59 anos apresentam disfunção sexual, sendo que apenas 20% destas procuram ajuda junto do seu médico de família.3,4,5 Este é portanto um problema pouco abordado, o que torna a disfunção sexual feminina uma patologia subdiagnosticada.3,4,6 Quando questionadas acerca da abordagem de problemas relacionados com a sua vida sexual na consulta, muitas mulheres referem ter vergonha de falar sobre o tema e receio de que o médico se sinta desconfortável e menospreze o seu problema.1,2,7 Um estudo recente refere que apenas 14% das mulheres revela espontaneamente ter problemas na sua vida sexual e que 58% o faz somente quando esta questão está incluída em questionários.2,8 Por outro lado, os médicos também têm relutância em introduzir a problemática da sexualidade na consulta por questões que se prendem com falta de tempo e também de conhecimentos e prática acerca do tema e da sua abordagem.3,4,9-10. Em Harsh V. et al.11 é referido que o tema pode nunca surgir se a responsabilidade de o introduzir na consulta for dada ao doente.11 Diferenças socioeconómicas, culturais, étnicas e etárias podem também dificultar a comunicação sobre a sexualidade.10 Ao prestarem cuidados de saúde primários, os médicos de família estão numa posição favorável para detectarem problemas relacionados com a vida sexual feminina, implementar estratégias para estabelecer um diagnóstico e iniciar terapêutica quando adequado.9,12 A consulta de Planeamento Familiar/Saúde da Mulher poderá ser um espaço privilegiado para a abordagem da sexualidade das utentes, atendendo a que se cria um ambiente de maior privacidade e onde também outros aspectos do foro íntimo são focados.

Percebendo as barreiras à comunicação sobre a sexualidade poder-se-ão criar estratégias que permitam ultrapassá-las e assim promover a detecção precoce e tratamento da disfunção sexual na mulher, melhorando a qualidade de vida das utentes.3,7,9 Com este trabalho pretendemos identificar algumas dessas barreiras e perceber a relevância do tema para as utentes da consulta de Planeamento Familiar/Saúde da Mulher da Unidade de Saúde Familiar (USF) do Castelo.

MÉTODOS Realizou-se um estudo transversal, descritivo, através do auto-preenchimento de questionários pelas mulheres com 18 ou mais anos frequentadoras das consultas de Planeamento Familiar/Saúde da Mulher da USF do Castelo, em Sesimbra. A população de utentes seguidas neste programa de saúde totalizava 1546 doentes.

A amostra foi obtida por método não aleatório, consecutivo durante dois meses, de 15 de Março a 15 de Maio de 2010. Tendo em conta o número de marcações por dia nesta consulta, esperávamos obter resposta a cerca de 200 questionários. O questionário foi desenvolvido especificamente para este estudo, contendo 15 questões do tipo pergunta fechada e com várias opções de resposta (Anexo_I). Um grupo de questões tinha como objectivo caracterizar as variáveis sócio- demográficas da amostra (idade, nacionalidade, nível de escolaridade e estado conjugal). Outro grupo incidia sobre as variáveis específicas do estudo (grau de satisfação atribuído à vida sexual, percepção da existência de problemas na vida sexual, importância atribuída à abordagem da vida sexual na consulta com o médico de família, frequência com que o médico aborda o tema e com que frequência este é introduzido na consulta pela utente, influência do género do médico na abordagem do tema, razões apontadas pelas utentes que dificultam a abordagem do tema na consulta) a partir das restantes questões. O questionário foi testado durante uma semana, tendo sido reformuladas duas perguntas.

Após solicitada a sua participação no estudo, as utentes preencheram o questionário de forma autónoma e confidencial na sala de espera da consulta de Planeamento Familiar/Saúde da Mulher. Foram considerados para o estudo os questionários correcta e completamente preenchidos por utentes com 18 ou mais anos.

A base de dados e tratamento estatístico foram efectuados no programa Microsoft® Office Excel 2007.

RESULTADOS Dos 170 questionários preenchidos, nove foram excluídos, tendo sido analisados 161. No que se refere à caracterização desta amostra (Quadro_I), podemos observar que se distribui de forma homogénea pelos intervalos de idades considerados, sendo a média de idades de 36,6 anos, com uma idade mínima pré- estabelecida de 18 anos e máxima observada de 66 anos. A caracterização sócio- demográfica da amostra encontra-se no Quadro_I.

Quando questionadas acerca da sua vida sexual, 50,9% das inquiridas classifica- a como boa, 35,4% como satisfatória e 2,5% como . Quanto à abordagem da vida sexual na consulta, 75,8% das mulheres consideram-na importante, sendo que 19,3% dizem que o fazem frequentemente e 26,7% referem nunca o ter feito. Por sua vez, 24,2% afirmam que o médico as questiona frequentemente acerca da sua vida sexual e 48,5% dizem ser questionadas raramente (Figura_1). Referem nunca ter sido inquiridas acerca do assunto na consulta 27,3% das mulheres.

Em relação ao facto do género do médico influenciar o seu à-vontade para abordar a sexualidade na consulta, as utentes que participaram no estudo dividem-se, sendo que 50,3% afirma que não influencia e 49,1% responde que sim.

No que respeita às razões apontadas como barreiras à abordagem deste tema na consulta destacam-se a vergonha por parte das utentes (42,5%), o receio de que o médico não considere o tema importante (12,6%) e a falta de tempo na consulta, seleccionada por 10,3% das inquiridas (Figura_2). De referir que 25,3% responderam que não existem obstáculos à abordagem da sexualidade na consulta.

DISCUSSÃO Neste estudo, os problemas na vida sexual das mulheres surgem numa percentagem inferior à encontrada no estudo de Jan L Shifren,14em que 12% das mulheres referem desconforto na sua vida sexual. É também bastante inferior à prevalência de disfunção sexual feminina nos EUA descrita por Laumann et al4 (43%). Salienta-se a percentagem de mulheres que respondeu «não sei» quando confrontada com esta questão, 12,4%, um valor elevado e não considerado em outros estudos.

Muitas mulheres, 50,9%, classificam como boa a sua vida sexual, valor não muito diferente dos 44% encontrados em outro estudo.15 Em estudos publicados7-8 apenas 14% das mulheres abordam espontaneamente os problemas da sua vida sexual com o médico, valor próximo do encontrado nas utentes da USF do Castelo analisadas, em que 19,25% revelam falar frequentemente deste assunto na consulta.

As causas mais frequentemente apontadas pelas utentes como barreiras à abordagem da vida sexual na consulta são a vergonha por parte destas e o receio de que o médico não considere o assunto importante. Estas causas são também frequentemente apontadas em outros estudos.2-3,7,12-13 Marwick C.1 descreve que 68% dos doentes receia que a conversa sobre os seus problemas sexuais envergonhe o médico e 71% acreditam que o médico não dará importância ao seu problema. No nosso estudo as percentagens foram mais baixas mas são também estas as razões mais apontadas pelas utentes. A falta de tempo na consulta é outra razão apontada sendo também um dos motivos referidos em outros estudos sobre sexualidade.6,7 Como limitações deste estudo podem-se apontar: utilização de um questionário não validado e o facto de a amostra ser de conveniência e não representativa.

Seria importante averiguar, em eventuais estudos futuros, o ponto de vista dos médicos e enfermeiros que actuam nos Cuidados de Saúde Primários, a fim de apurar outros possíveis entraves à comunicação sobre a sexualidade.

A maioria das mulheres considera importante discutir os problemas da sua vida sexual nas consultas médicas. Ao analisarmos e discutirmos os resultados obtidos neste estudo identificámos as principais barreiras apontadas pelas utentes da USF do Castelo que dificultam a inserção do tema na consulta.

Concluímos então que é necessário que o médico mostre à doente que existe à- vontade, disponibilidade e necessidade de abordar este assunto nas consultas.


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