Comportamento da população do concelho de Vizela no consumo de antibióticos
Segundo Betts e Reese (1990) durante toda a evolução da humanidade muitos foram
os relatos sobre as várias tentativas do uso de substâncias e materiais com a
intenção de secar lesões supurativas, curar febres, melhorar as dores, entre
outras. Contudo, os medicamentos com estrutura química conhecida revolucionaram
a saúde pública e o exercício da medicina assumindo um papel central na
terapêutica contemporânea (Nascimento, 2002). Sendo os antibióticos, depois dos
analgésicos, os medicamentos mais consumidos pelas populações (Maestre Vera,
Prieto Prieto e Urquía Grande, 2005).
O termo inicial de antibiótico, "antibiose", foi proposto por
Vuillemin em 1889 e foi empregue para classificar o processo de antagonismo dos
seres vivos. Este termo aplicava-se para designar o processo natural de
selecção pelo qual um ser vivo destrói um outro para assegurar a sua
sobrevivência. Tal processo já era conhecido desde o surgimento da era
bacteriana, com a verificação de que certos germes não cresciam na presença de
outros, conforme assinalado por Pasteur e Joubert, em 1877, nas suas
experiências com o bacilo do antrax (Waksman, 1947).
Segundo Almeida (2005), o termo antibiótico tornou-se sinónimo do termo agente
antibacteriano. Num sentido mais restrito, as substâncias antibacterianas são
classificadas como antibióticos, quimioterapêuticos ou agentes sintéticos, e
agentes semi-sintéticos, dependendo se esses agentes são subprodutos de
microrganismos (antibióticos) inteiramente sintetizados em laboratório (agentes
quimioterapêuticos ou sintéticos) e/ou um híbrido dos dois (agentes
semisintéticos).
Manuila, Lewalle e Nicoulin (2001) definem antibiótico como uma substância com
capacidade de interagir com microorganismos mono ou pluricelulares que causam
infecções no organismo. Se as primeiras substâncias descobertas eram produzidas
por fungos e bactérias, actualmente, são sintetizadas em laboratórios
farmacêuticos e têm a capacidade de impedir ou dificultar a manutenção de um
certo grupo de células vivas. Um antibiótico é uma substância que interfere com
a capacidade das bactérias funcionarem normalmente. Pode inibir o seu
crescimento (antibiótico bacteriostático) ou elimina-as (antibiótico
bactericida). Quando as bactérias desenvolvem a capacidade de se defender do
efeito de um antibiótico adquirirem resistência aos antibióticos. Ao longo dos
anos, as bactérias patogénicas (bactérias que causam doenças) tornaram-se
resistentes a muitos antibióticos convencionais devido ao seu uso abusivo ou
incorrecto. Segundo Caldeira et al. (2002) a exposição das populações aos
fármacos antimicrobianos resulta da sua larga utilização, quer ao nível da
indústria alimentar, que absorve cerca de 50% dos antimicrobianos dispensados
na maioria dos países industrializados, quer sobretudo, do seu uso na medicina
humana.
A resistência a antibióticos transformou-se num problema de saúde pública à
escala mundial (Duarte, 2005). O uso indiscriminado e exagerado destes
medicamentos, quer na comunidade, quer no meio hospitalar, tem permitido a
selecção de estirpes resistentes que, por um lado, condicionam o sucesso
terapêutico e por outro, originam custos sócio-sanitários e económicos muito
elevados (Falcão et al.,2001). Portugal não foge à regra, e é considerado um
dos países que apresenta maior taxa de resistência aos antibióticos, facto que
se justifica, sobretudo, pela utilização indevida destes medicamentos
(Portugal. Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Saúde, 2007). A prescrição de
antibacterianos em Portugal tem aumentado progressivamente durante os últimos
anos. Na prática clínica existem claras indicações de que se verifica
utilização indevida, principalmente, em infecções virais habituais (Canhota e
Mendes, 2001). De acordo com Caldeira et al. (2002) Portugal apresenta-se como
um dos países com maior utilização de antibióticos a nível da União Europeia.
Em 1997 apresentava uma utilização per capita de 28 doses diárias definidas
(DDD) por 1000 habitantes, apenas ultrapassado pela França (36 DDD//1000/
habitante/diárias) e pela Espanha (32 DDD//1000/ habitante/diárias) o
correspondente a uma utilização cerca de 38% superior à média comunitária (21
DDD//1000/habitante/diária) e superior em cerca de 321% à Holanda, que foi o
país que registou menor índice de utilização (Caldeira et al.,2002).
Devido ao elevado impacto na saúde pública, o problema das resistências
bacterianas transformou-se numa preocupação prioritária para as entidades
responsáveis, uma vez que as infecções causadas por estes microorganismos
resistentes estão, normalmente, associados à diminuição da qualidade de vida, a
uma maior mortalidade, ao aumento dos custos com a saúde e, a internamentos
hospitalares prolongados que necessitam de cuidados médicos, (Harrison e Svec,
1998), (Hart, 1998), (Richet, 2001), (Gómez et al., 2003) e (Duarte, 2005), tal
como já foi oportuno referir.
De acordo com Gómez et al. (2003) e Ruiz Brémon et al. (2000) de todos os
factores que têm influência no aparecimento de resistências bacterianas o
consumo global de antibióticos é o mais significativo. Porém, outros factores
podem contribuir para o aparecimento de resistência aos antibióticos,
designadamente, a automedicação, que leva ao uso incorrecto da dose de
antibiótico; a prescrição muitas vezes, desnecessária ou incorrecta; e a
disseminação de bactérias multiresistentes, sobretudo em ambientes hospitalares
devido, essencialmente, à deficiente higiene das mãos do pessoal de saúde, à
transferência de doentes entre hospitais com a importação de estirpes multi-
resistentes e às repetidas transferências de doentes colonizados e ou
infectados entre o hospital e os lares de acolhimento (Duarte, 2005).
Pastor Garcia, Eirós Bouza e Mayo Iscar (2002) identificaram como factores que
podem afectar o consumo de antibióticos a estrutura demográfica da população e
a sua distribuição por idades. De acordo com os autores, os indivíduos com
idade inferior ou igual a 14 anos e superior ou igual a 65 anos são,
potencialmente, maiores consumidores de antibióticos. Por outro lado, Pastor
Garcia, Eirós Bouza e Mayo Iscar (2002), e Garcia et al. (1997) defendem que o
consumo de antibióticos varia de acordo com a área geográfica. Normalmente, os
indivíduos que residem em meios rurais registam consumos de antibióticos
inferiores aos registados nas zonas urbanas. Estes resultados contariam de
alguma forma os achados de Ripoll Lozano, Jiménez Arce e Pedraza Dueñas (2007).
Estes últimos concluíram que o consumo de antibióticos é influenciado pelas
características específicas de cada região, designadamente, a população
residente, o número de habitantes por médico e o meio rural ou urbano. De
acordo com os autores, as regiões com menos população e com menor número de
habitantes por médico registam um maior consumo de antibióticos. Contudo, o
consumo nos meios rurais é mais do dobro do registado nos meios urbanos.
Infecções causadas por vírus não respondem a antibióticos, estes só têm efeitos
positivos se a doença for causada por uma infecção bacteriana. De acordo com
Duarte (2005) cerca de 80% das infecções das vias respiratórias são de origem
viral, não se justificando, por isso, terapêutica antibiótica. Contudo, o
consumo de antibióticos aumenta, consideravelmente, nos meses mais frios e
quando se verificam picos do síndroma gripal (Pastor Garcia, Eirós Bouza e Mayo
Iscar, 2002) e (Portugal. Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Saúde, 2007).
Estes medicamentos não são adequados para tratamento de infecções virais e, em
muitos casos podem, segundo a DGS (2007), ser mais prejudiciais do que
benéficos. Marra et al. (2006) concluíram que a exposição a antibióticos
durante o primeiro ano de vida constitui um factor de risco para o aparecimento
e desenvolvimento de asma e de outras doenças crónicas pulmonares durante a
infância. De acordo com os autores, a propensão para sofrer de doença asmática
na infância é 2,9 vezes superior em bebés que tomaram antibióticos antes de
atingirem um ano de vida. Chung et al. (2007) concluíram que apesar do efeito
do antibiótico, para tratamento de infecções respiratórias, em cuidados
primários, a curto prazo, ser transitório na criança é suficiente para originar
um elevado nível de resistência antibiótica.
Soto-Pérez de Celis e Roa Nava (2004) levaram a cabo uma investigação sobre a
automedicação tendo como objecto de estudo a população universitária da Cidade
de Puebla. Os autores concluíram que o uso de antibióticos para o tratamento de
patologias desconhecidas e inadequadas foi excessivo. Cerca de 20% dos jovens
universitários utilizaram antibióticos para o tratamento de constipações e
gripes e cerca de 7% utilizaram estes fármacos para o tratamento de diarreias.
O consumo de antibióticos sem receita médica, geralmente aconselhado por
amigos, parentes, vizinhos, meios de comunicação e vendedores de farmácia, foi
muitas vezes potenciado por um conjunto de crenças associadas ao seu uso, sendo
considerado, por muitos, como a essência que origina curas milagrosas (Cellis e
Nava, 2004).
Um contributo importante nesta matéria foi dado por Coenen e Goossens (2007).
Se até então a maioria dos investigadores tinha provado apenas a existência de
associação entre o consumo de antibióticos e o aparecimento de bactérias
resistentes, estes autores confirmaram a existência de uma relação causal entre
estas variáveis. Na opinião dos autores, esta prova é fundamental para evitar
que os médicos façam a prescrição de medicamentos inapropriada e incontrolada.
3. Material e métodos
O objectivo deste trabalho de investigação, que tem por base a aplicação e
análise de um questionário, é avaliar o grau de conhecimento da população de
Vizela, relativamente ao uso de antibióticos. Para atingir este objectivo
começou-se por fazer uma pesquisa bibliográfica acerca da temática que permitiu
a construção de um questionário que viria, posteriormente, a ser aplicado de
forma directa aos inquiridos ao longo dos meses de Janeiro e Fevereiro do ano
de 2008. Para Gil (1999), a construção de um questionário consiste em traduzir
os objectivos da pesquisa em questões específicas. Dado o grande número de
pessoas interrogadas, e o posterior tratamento das informações, foram
valorizadas neste trabalho as perguntas do tipo fechado. O questionário foi
estruturado em três partes. A primeira, incluía perguntas do foro individual e
pessoal. A segunda parte do questionário, incluía perguntas sobre a situação
geográfica , social e económica do inquirido, nomeadamente, a localização da
residência do agregado familiar e a sua composição, a profissão, o rendimento
familiar e o nível de escolaridade do respondente. Finalmente, a terceira parte
continha perguntas sobre os antibióticos, designadamente, a definição de
antibiótico, quem os prescreve, a administração e para que efeitos se tomam
estes medicamentos.
Relativamente à dimensão da amostra, investigadores como Kotler e Armstrong
(1991) consideram que, apesar das amostras maiores proporcionarem resultados
mais credíveis uma amostra constituída por pelo menos 1% da população se
afigura como uma amostra representativa. Neste estudo a amostra é constituída
por 282 inquiridos dos 22595 habitantes que fazem parte da população de Vizela
(Portugal. Instituto Nacional de Estatística, 2001). O programa informático
utilizado para armazenar, ordenar e tratar os dados foi o SPSS 16.0
(Statistical Package for Social Sciences)pelo facto de ter uma grande
capacidade de armazenar dados e possuir uma grande variedade de testes para
concretizar os objectivos definidos neste trabalho. Assim sendo, recorreu-se à
estatística descritiva para caracterizar a amostra e à aplicação de testes
estatísticos adequados para analisar a relação entre variáveis.
4. Resultados
Participaram neste estudo 282 indivíduos, dos quais 143 são do sexo masculino
(50,7%) e 139 são do sexo feminino (49,3%). Os inquiridos apresentam idades
superiores a 15 anos de idade predominando o intervalo de idades dos 31 aos 35
anos com cerca de 18%; seguem-se as categorias de idades igual ou superior a 50
anos e entre 36 a 40 anos de idade, com as mesmas percentagens de 15,6%. O
intervalo de idades menos representativo é o que varia entre os 41 e os 45 anos
com cerca de 6,4% dos respondentes (Figura 1).
Figura 1
Categorias etárias dos inquiridos
Em termos profissionais a maioria dos inquiridos é activo, cerca de 76,6%, ou
seja, 216 indivíduos num total de 282. Dos inquiridos que se encontram na
situação de inactividade destacam-se os estudantes e os reformados, que
representam cerca de 43,9% e 39,4% dos inactivos, respectivamente e, por fim,
numa percentagem reduzida, os desempregados ou as domésticas (16,7% dos
inactivos).
Em relação às habilitações literárias, a grande maioria possui o 3.o ciclo de
escolaridade, cerca de 29,4% dos indivíduos, segue-se o 1.o ciclo de
escolaridade com 26,6% e, com uma percentagem relativamente pequena, temos os
indivíduos que possuem habilitações a nível superior, cerca de 8,2% (Figura 2).
Figura 2
Habilitações literárias
O rendimento familiar dos inquiridos varia de valores inferiores a 500 euros a
valores superiores a 3001 euros, predominando, o intervalo de rendimento [501-
1000] euros com cerca de 34,9% dos indivíduos, seguido do intervalo de [1001-
1500] euros (Figura 3).
Figura 3
Rendimento do agregado familiar
O agregado familiar dos respondentes é composto, maioritariamente, por 3
elementos com uma percentagem de 37,1%, ou seja, do total dos 282 indivíduos
cerca de 104 tem um agregado familiar constituído por 3 elementos. De registar
a dimensão do agregado familiar constituído por 4 elementos com cerca de 32,8%
dos indivíduos. Apenas 16 dos 282 indivíduos apresentam um agregado familiar
constituído por mais de 4 elementos (Figura 4).
Figura 4
Dimensão do agregado familiar
Tendo em conta, o número de elementos menores de idade no agregado familiar,
verifica-se que 65,4% dos inquiridos apresentam, apenas, um elemento menor de
idade. Segue-se o agregado familiar com dois elementos que representa 32% do
total e, finalmente, o agregado familiar com três ou mais elementos menores de
idade, com apenas, 2,6% (Figura 5).
Figura 5
Número de elementos menores de idade no agregado familiar do inquirido
A leitura dos resultados indica que, na sua maioria, os inquiridos residem na
cidade, cerca de 73%, 26,2% vivem em aldeias pertencentes ao concelho de Vizela
e apenas 0,4% dos indivíduos vivem nas zonas limítrofes da cidade de Vizela
(Figura 6).
Figura 6
Área de residência dos inquiridos
Em relação ao uso de antibióticos, dos 282 inquiridos, 98,9% tomam ou já
tomaram antibióticos e cerca de 1,1% de indivíduos diz nunca ter consumido
estes fármacos. Para a maioria dos respondentes, cerca de 56,4%, um antibiótico
é um fármaco utilizado no tratamento simples de infecções. Dos 282 indivíduos
inquiridos 63 (22,3%), dizem não saber o que é um antibiótico, 37 dos
indivíduos (13,1%) afirmam que um antibiótico é usado para infecções provocadas
por vírus e só uma pequena percentagem, 7,9% dos inquiridos, afirmam que um
antibiótico é usado para o tratamento de infecções bacterianas.
De acordo com a Figura 7 a frequência com que a maioria dos indivíduos toma
antibióticos é de uma vez por ano (50,9%), 32,7% dos inquiridos tomam este
fármaco duas vezes no ano e 3,9% dos respondentes tomam antibióticos mais do
que quatro vezes no ano, ou seja, um valor relativamente pequeno, mas um pouco
preocupante na medida em que a toma de antibióticos em quantidade e variedade
pode aumentar o risco de resistência ao medicamento.
Figura 7
Frequência da toma de antibióticos/ano
As principais razões que levam os inquiridos a consumir estes fármacos são,
essencialmente, e por ordem de prioridade, para o tratamento de amigdalites
cerca de 37%, para o tratamento de gripes, inflamação nos dentes, dores de
garganta, dores musculares, por 26% dos respondentes. Este fármaco é, também,
usado para o tratamento das infecções urinárias por 18,5% dos indivíduos, para
o tratamento das otites por cerca de 11,7% e, uma pequena percentagem dos
inquiridos utiliza este fármaco no tratamento de acne, cerca de 6,8% (Figura
8).A dispensa de antibióticos é, fundamentalmente, feita por receita médica
para cerca de 96% dos inquiridos. No entanto, ocorrem casos em que os
antibióticos são dispensados sem receita médica (4%), sendo estes fornecidos
por farmacêuticos em cerca de 90,9% dos casos e por técnicos de farmácia (cerca
de 9,1%).
Figura 8
Efeitos para que toma o antibiótico
Tal como mostra a Figura 9,84% dos respondentes toma o fármaco até ao fim, um
aspecto importante, na medida em que, os antibióticos devem sempre ser tomados
a horas, na dosagem e durante o tempo que o médico aconselha. Embora, exista
uma percentagem, 16% dos indivíduos, que afirmam não tomar o antibiótico até ao
fim, o que se traduz num tratamento incorrecto que pode aumentar a
probabilidade do aparecimento de bactérias resistentes aos antibióticos.
Figura 9
Prescrição e toma do antibiótico
É fundamental que a administração deste fármaco seja feita correctamente, no
entanto, surgem alguns dados que contrariam esta teoria, uma vez que muitas das
vezes os inquiridos esquecem-se da toma destes medicamento (Figura 10).Os
comportamentos mais comuns dos inquiridos quando se esquecem de tomar o
antibiótico são, toma o fármaco logo que se lembra e continua com as tomas
seguintes (45,2%), outros simplesmente não tomam nesse dia e continuam com as
tomas seguintes (29,1%), existem casos de alguns inquiridos que tomam logo que
se lembram e alteram as tomas seguintes (18.9%), e por fim, há inquiridos que
não tomam e param definitivamente com o tratamento (7,8%).
Figura 10
Administração do antibiótico
Os resultados que constam da Figura 11 permitem concluir que dos 282
inquiridos, 253 não contribuem para a diminuição dos níveis de automedicação.
No entanto, cerca de 10% dos inquiridos guardam o fármaco quando não o tomam
até ao fim e por vezes dispensam-no a outras pessoas.
Figura 11
Comportamento do inquirido
Tal como mostra a Figura 11,dos inquiridos que tomam ou já consumiram
antibióticos cerca de 78,7% nunca sentiu efeitos secundários, 12,1% não sabem
se alguma vez sentiram efeitos secundários e 9,2% dos inquiridos já sentiram
efeitos. Para estes últimos, o procedimento habitual é deixarem de tomar o
antibiótico e consultar o médico logo que possível (74,3%). No entanto, há quem
termine o tratamento definitivamente (20,4%) (Figura 12).
Figura 12
Comportamento do inquirido quando apresenta efeitos secundários ao medicamento
As resistências a estes fármacos têm sido uma problemática preocupante e
actual. Cerca de 45,2% dos inquiridos reconhecem a existência desta
problemática, cerca de 39,5% não sabem simplesmente o que é a resistência das
bactérias aos antibióticos e 15,3% negam a existência de resistências
bacterianas (Figura 13).
Figura 13
Resistências a antibióticos
Por fim, os resultados permitem concluir que quando o inquirido faz um
tratamento à base de antibióticos e não se sente melhor, normalmente, opta por
consultar o seu médico, cerca de 268 dos 282 indivíduos, o equivalente a 95%
dos respondentes. No entanto, uma percentagem, ainda que pequena, cerca de 2%
afirmam nada fazer, atitude negativa e com efeitos quase sempre perniciosos
para quem tem este tipo de comportamento (Figura 14).
Figura 14
Para que efeitos usa o antibiótico?
Segundo Vairinhos (1995) a análise descritiva permite emitir hipóteses acerca
do comportamento das populações de onde provêm os dados. No entanto, para
provar se a hipótese se verifica ou não é necessário desenvolver regras, que
permitam, uma vez formulada uma hipótese, decidir, correndo um determinado
risco, se essa hipótese é ou não aceitável, face à informação contida nos
dados. De acordo com Bryman e Cramer (1990), a investigação da existência de
relações entre variáveis é um passo importante na explicação de factos. De
acordo com Murteira (1997) e Mello (1973) sempre que se pretenda verificar se
existe ou não relação entre dois atributos, a hipótese a ensaiar será a
hipótese da independência ou a da não existência de associação. Sendo assim
para relacionar duas variáveis nominais recorreu-se à construção de tabelas de
contingência e à utilização do teste do Qui-quadrado (χ2). As hipóteses a
testar são as seguintes (Maroco, 2007):
H0: As variáveis são independentes.
H : As variáveis estão relacionadas.
Para um nível de confiança de 95% a regra de decisão consiste em rejeitar a
hipótese nula se p-value for inferior ao nível de significância de 5%,
concluindo-se que existe associação entre as variáveis. De acordo com Spiegel
(1977) é frequente adoptar-se o nível de significância de 0,05 ou 0,01 para
evitar erros do tipo I (rejeitar uma hipótese quando ela deveria ser aceite) ou
erros do tipo II (aceitar uma hipótese quando ela deveria ser rejeitada). Assim
a probabilidade de errar é de 5% (tem-se 95% de confiança) para níveis de
significância de 0,05.
Neste trabalho de investigação o estudo da relação de variáveis teve como
objectivo identificar variáveis que têm influência no conhecimento do uso do
antibiótico. Variáveis tais como, o género, a idade, a profissão, habilitações
literárias, rendimento do agregado familiar, dimensão do agregado familiar,
número de menores existentes no agregado familiar, local de residência e
comportamentos do utente na administração de antibióticos. Por outro lado,
pretende-se testar se a frequência da toma dos antibióticos está relacionada
com características pessoais, sociais ou económicas do indivíduo e com o
desenvolvimento de resistências.
De acordo com os resultados, apresentados no Quadro I,não existe associação
entre as variáveis de carácter, pessoal, geográfico, social e económico e o
conhecimento do uso dos antibióticos. No entanto, o procedimento que o
inquirido tem após ter sentido efeitos secundários reflecte-se no conhecimento
que o mesmo tem quanto à finalidade e administração do antibiótico (p-value=
0,009). Usualmente, aqueles que sentem efeitos secundários optam por consultar
sempre o seu médico de família.
Quadro I
Relação entre variáveis com a variável conhecimento do uso dos antibióticos
A frequência da toma de antibióticos está relacionada com as variáveis,
conhecimento e uso de antibióticos (p-value= 0,002), género (p-value= 0,037),
situação do inquirido perante o mercado de trabalho (p-value= 0,022),
escolaridade (p-value= 0,048), e o facto do inquirido estar com gripe ou
constipado (p-value= 0,000). Isto significa que estas variáveis têm influência
no número de vezes que o inquirido toma antibióticos durante o ano. Geralmente,
o género masculino, o inactivo, sobretudo, reformados e os inquiridos com menor
grau de escolaridade são aqueles que tomam antibióticos com mais frequência.
Por outro lado, a situação de doença, gripe ou constipação também tem
influência no número de vezes que o inquirido toma antibióticos ao longo do
ano. Sempre que o inquirido está com gripe ou constipado tende a consumir, com
mais frequência, antibióticos.
5. Conclusões
Estudos sociológicos demonstram que a informação não é, por si só, suficiente
para a mudança dos comportamentos e destacam uma multiplicidade de factores que
influenciam o comportamento humano sendo, a percepção do risco um elemento
determinante para a mudança de atitudes. Neste contexto, é importante alertar
as populações e o pessoal de saúde para as consequências dos comportamentos de
risco, associados à frequência do consumo de antibióticos e à sua utilização em
situações terapêuticas inadequadas e descontroladas.
A análise dos resultados permite concluir que a amostra é constituída por cerca
de 282 indivíduos. Destes, 143 são do sexo masculino e 139 são do sexo
feminino. Foram inquiridos indivíduos com idade iguais ou superiores a 15 anos,
sendo a classe etária predominante a que inclui os indivíduos com idades entre
os [31-35] anos. A maioria dos inquiridos trabalha e reside na cidade.
Em relação à temática dos antibióticos, verifica-se que a maioria utiliza estes
fármacos para qualquer tipo de infecções, ou seja, grande percentagem dos
inquiridos não sabe, exactamente, para que efeito toma os antibióticos. A
frequência da toma de antibióticos, para a maioria, é de apenas uma vez por
ano, um aspecto relevante a ter em conta, na medida em que, na opinião de
muitos investigadores, quanto maior a frequência da toma de antibióticos, maior
o risco de aparecimento de bactérias resistentes a este fármaco. A principal
razão apontada pelos inquiridos para a toma destes fármacos é, essencialmente,
para o tratamento de amigdalites. No entanto, há quem tome e associe os
antibióticos à cura de gripes ou de constipações. A dispensa de antibióticos é
feita, fundamentalmente, com receita médica. Contudo, existem casos, em que os
antibióticos são dispensados sem receita médica, pelos farmacêuticos e pelos
técnicos de farmácia. Os respondentes afirmam que, normalmente, tomam os
antibióticos até ao fim, no entanto, existe uma percentagem, ainda que
residual, que não tem este comportamento, o que leva, a que o tratamento não
seja feito de forma correcta, proporcionando condições favoráveis para o
desenvolvimento de bactérias resistentes a estes fármacos.
A análise da relação entre variáveis permitiu verificar que o comportamento do
inquirido após ter manifestado efeitos adversos ao medicamento está relacionado
com o seu conhecimento sobre o uso dos antibióticos. Por outro lado, a
frequência de consumo de antibióticos está relacionada com variáveis como o
género, a situação do inquirido perante o mercado de trabalho, a escolaridade e
o facto do inquirido estar gripado ou constipado.
Como síntese pode dizer-se que se cometem incorrecções na utilização dos
antibióticos, sobretudo pelo uso inadequado. Situação preocupante que pode e
deve ser corrigida sensibilizando utentes e profissionais de saúde para os
riscos, na medida em que, as resistências aos antibióticos tem aumentado ao
longo dos anos, levando a uma menor eficácia destes fármacos e,
consequentemente, a uma terapêutica, muitas das vezes, nociva. No entanto, os
resultados mostram que apesar dos inquiridos não terem conhecimentos
suficientes sobre os antibióticos, a grande maioria, tem em conta e segue a
rigor todas as recomendações do seu médico, minimizando desta forma os riscos
inerentes à automedicação.