Massagem no recém-nascido pré-termo: é um cuidado de enfermagem seguro?
Introdução
Actualmente, e na maioria das unidades neonatais a tónica dos cuidados de
enfermagem científicos assenta na sua humanização e individualização. Os
enfermeiros têm ao longo dos anos evidenciado uma crescente preocupação na
qualidade dos cuidados de enfermagem que prestam e suas consequências na
qualidade de vida e têm efectuado esforços para incorporar as evidências
conducentes à segurança e optimização da sua intervenção junto aos recém-
nascidos pré-termo como também à respectiva família. Cada vez mais assiste-se
ao abandono da prestação de cuidados de rotina, onde sobressaiam realização de
tarefas conforme um planeamento prévio e de acordo com procedimentos e
protocolos estandardizados para a prestação de cuidados individualizados e de
acordo com as necessidades desenvolvimentais dos recém-nascidos pré-termo.
Resultam de uma observação prévia das necessidades dos recém-nascidos, assim
como, na análise critica da real necessidade dos cuidados estabelecidos,
tentando realizá-los no momento mais adequado para o recém-nascido pré-termo e
modulá-los de acordo com as suas reacções de organização e ou desorganização.
O feto, como ser competente e participante activo com o meio, desenvolve todas
as suas capacidades e competências sensoriais num ambiente intra-uterino, a um
ritmo próprio, sendo os últimos três meses de gestação a fase de maior
crescimento e especialização cerebral. Este ambiente proporciona-lhe estímulos
filtrados e sequenciais adequados ao nível de desenvolvimento. Com um
nascimento prematuro este ambiente altera-se, ficando o recém-nascido pré-termo
condicionado a um ambiente de alta tecnologia, onde a luta pela sobrevivência
sobressai e com repercussões para o seu desenvolvimento a curto, médio e a
longo prazo. Neste ambiente deixa de ter experiências sensoriais adequadas ao
seu desenvolvimento, com estímulos desajustados ao padrão ontogénico do
funcionamento sensorial verificando-se assim, uma discrepância entre os
estímulos evolutivamente esperados pelo sistema nervoso, que nesta fase
impregna-lhe um período de rápido crescimento, e os que são recebidos na
unidade. Os estímulos tácteis caracterizam-se muito por manuseios frequentes,
contactos maioritariamente intrusivos, desagradáveis baseados na programação de
cuidados e na conveniência da organização de trabalho das equipas, e assim não
ajustados ao estado e comportamentos fisiológicos e ou comportamentais dos
recém-nascidos. Para Gomes-Pedro 2 estes estímulos representam factores de
manutenção de stress, e nesta conformidade, estes recém-nascidos pré-termo não
ficam nas condições ideais de se organizarem e se controlarem, o que pode
influenciar outros aspectos do seu comportamento, nomeadamente, os parâmetros
interactivos.
Desta forma, o recém-nascido pré-termo perde os estímulos tácteis maternos que
são os evolutivamente ideais ao seu crescimento e desenvolvimento e ganha
estímulos desajustados ao seu nível de desenvolvimento. Associado a isto
persiste-lhe uma dificuldade de gerir a sua energia para atingir o
funcionamento e adaptação homeostático de todos os seus subsistemas do
comportamento à vida extra uterina.
É reconhecido que o contacto táctil é crucial e indispensável para um processo
de evolução afectiva equilibrada e que é preponderante em todas as etapas do
ciclo vital do ser humano, não sendo excepção no recém-nascido pré-termo 3.
Para a criança humana, o toque constitui um importante e crucial papel a vários
níveis, nomeadamente na aprendizagem precoce e na adaptabilidade 2,4,5.
Existem alguns estudos empíricos 6-22 efectuados, na área da massagem, no
recém-nascido pré-termo saudável e clinicamente estável, essencialmente a
partir da década de 80 e realizados no Touch Research Institute, que revelam
resultados de grande importância a nível de desenvolvimento e crescimento
destes recém-nascidos pré-termo, nomeadamente:
facilitação do processo de vinculação mãe-filho;
aumento de peso;
níveis menores de stress;
melhor desenvolvimento reflectido em pontuações mais elevadas na avaliação
neuro comportamental através da escala de Brazelton;
maior percentagem de tempo mais despertos e activos;
períodos de internamento mais curtos, em unidades de cuidados neonatais.
Vários autores como Ottenbacher 23, Alcolet et al. 24, Field 6-10,12,16,
Montagu 25,26, Gomes-Pedor et al.5,27,
Gomes-Pedro 4 e Harrison 28 apontam a massagem como uma ferramenta importante,
capaz de contribuir para tornar as unidades de cuidados neonatais,
essencialmente as de cuidados intensivos, mais humanizadas e não apenas
tecnicistas. Também é referida como facilitadora de aumento ponderal numa fase
inicial da vida 7,8,10,12-14.
Neste contexto a pergunta de partida deste estudo foi:
Quais os efeitos da massagem na estabilidade fisiológica do recém-nascido
pré-termo quando internado em unidade de cuidados neonatais?
O objectivo geral do estudo foi averiguar os efeitos da massagem na
estabilidade fisiológica dos recém nascidos pré-termo internados em unidade de
cuidados intermédios neonatais.
Hipóteses
As hipóteses de investigação foram:
H1 - Os recém nascidos pré-termo do grupo experimental têm alterações dos
níveis de saturação periférica de O2 durante a execução da massagem em relação
aos recém nascidos pré-termo do grupo de controlo;
H2 - Os recém nascidos pré-termo do grupo experimental têm valores de tensão
arterial superiores durante a execução da massagem em relação aos recém
nascidos pré-termo do grupo de controlo;
H3 - Os recém nascidos pré-termo do grupo experimental têm alterações de
frequência respiratória durante a execução da massagem em relação aos recém
nascidos pré-termo do grupo de controlo;
H4 - Os recém nascidos pré-termo do grupo experimental têm alterações de
frequência cardíaca durante a execução da massagem em relação aos recém
nascidos pré-termo do grupo de controlo;
H5 - Os recém nascidos pré-termo do grupo experimental têm alterações de
temperatura durante a execução da massagem em relação aos recém nascidos pré-
termo do grupo de controlo.
Material e métodos
Amostra
A amostra foi constituída por todos os recém-nascidos pré-termo (n = 32)
internados consecutivamente nas Unidades de Cuidados Intermédios Neonatais da
Maternidade Alfredo da Costa e do Hospital Santa Maria, que reuniam os
critérios de inclusão.
Critérios de inclusão
A selecção dos critérios de inclusão dos participantes para o estudo foi
baseada nos critérios de inclusão já utilizados em pesquisas do Touch Research
Institute, isto para termos o mesmo padrão de comparação de resultados.
Os critérios para a inclusão dos recém-nascidos pré-termo no estudo foram os
seguintes:
1) O tempo de gestação entre 26-36 semanas de acordo com a escala de Dubowitz;
2) Peso, comprimento e perímetro cefálico adequados à idade gestacional;
3) A receberem alimentação artificial (mesma fórmula);
4) Saudáveis;
5) Clinicamente estáveis;
6) Uma permanência na unidade de cuidados intensivos neonatais inferior a 45
dias;
7) Sem história de gestação com abuso de álcool;
8) Nacionalidade portuguesa;
9) Com permanência em incubadora durante todo o estudo.
Critérios de exclusão
Foram excluídos do estudo dois recém-nascidos que durante o decurso da
investigação agravaram o seu estado clínico e três por violação do protocolo de
intervenção estabelecido, nomeadamente saída da incubadora por razões de gestão
de vagas e necessidade de incubadoras.
Cuidados de natureza ética e legal
Todos os pais dos recém-nascidos pré-termo participantes assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido. O estudo obedeceu às directrizes e normas
reguladoras de pesquisas envolvendo seres humanos 29. Foi aprovado pela
comissão de ética das instituições onde o estudo decorreu, assim como,
autorizada a sua realização pelas direcções das Instituições.
Procedimentos
Foi realizado um estudo experimental de desenho antes-após com a manipulação da
intervenção de enfermagem, a massagem, (variável independente), para avaliar os
seus efeitos sobre algumas variáveis dependentes, numa situação de controlo.
Delineamento e formação dos grupos
O estudo foi realizado com dois grupos de recém-nascidos pré-termo internados
nas unidades de cuidados intermédios neonatais, um experimental e outro de
controlo. Os participantes foram alocados aleatoriamente para cada um dos
grupos. Obtiveram-se dois grupos aleatórios, um grupo de controlo com 16 recém-
nascidos pré-termo recebendo o tipo de cuidados padrão da unidade e que não
foram sujeitos a massagem e, um outro grupo, o de tratamento, com o mesmo
número de recém-nascidos pré-termo recebendo o mesmo tipo de cuidadosstandard
da unidade mas com aplicação de massagem segundo o protocolo estabelecido.
Critérios de homogeneidade entre grupos
Para se garantir ao máximo possível a homogeneidade entre os grupos para além
da distribuição aleatória foi avaliada a equivalência entre os grupos pela
comparação de algumas variáveis: complicações do foro obstétrico, complicações
pós natais, tempo de gestação, duração do internamento na unidade de cuidados
intensivos, duração do internamento antes do inicio do estudo, peso,
comprimento e perímetro cefálico ao nascer, índice peso/comprimento ao nascer,
índice de Apgar ao 1º e ao 5º minutos, peso à entrada no estudo, idade da mãe,
sexo e tempo médio diário de contacto físico humano.
As complicações do foro obstétrico foram quantificadas através da Escala de
Complicações Obstétricas 30,31 no 1º dia do estudo. Esta escala é composta por
41 itens cujo conteúdo foi retirado do processo clínico da mãe e do recém-
nascido pré-termo e na ausência de algum dado foi perguntado à mãe. Os itens
foram classificados como óptimos e não óptimos. A pontuação resumida forneceu
uma indicação do número de condições óptimas presentes durante a gestação.
As complicações pós natais foram quantificadas utilizando a Escala de
Complicações Pós-Natais 31,32. Esta escala é composta por 10 itens,
classificados como óptimos e não óptimos, cuja informação foi retirada dos
processos clínicos e na ausência de algum foi perguntado à mãe. Para cada
recém-nascido pré-termo foi efectuada uma avaliação no 1º dia do estudo.
Quanto aos dados relativos ao tempo de gestação, duração do internamento na
unidade de cuidados intensivos, duração do internamento antes do início do
estudo, peso, comprimento e perímetro cefálico ao nascer, índice peso/
comprimento ao nascer, índice de Apgar ao 1º e ao 5º minutos, peso à entrada no
estudo, idade da mãe e sexo foram retirados dos processos clínicos dos recém-
nascidos pré-termo.
O tempo de contacto físico humano proporcionado aos recém-nascidos pré-termo
controlou-se através do registo em minutos e em folha própria, em ambos os
grupos nas modalidades de tocar através das portinolas, de colo e de colo para
alimentar os recém-nascidos pré-termo, isto por parte tanto dos pais/visitas
dos pré-termos como das enfermeiras prestadoras de cuidados.
Não foi possível cegar a intervenção de enfermagem massagem dada a filosofia de
cuidados de saúde das unidades enfatizar e permitir a permanência da mãe nas
unidades e, a restante equipa de saúde visualizar a aplicabilidade da massagem
nos recém-nascidos pré-termo e assim, saberem quais os recém-nascidos pré-termo
alocados para cada grupo. No entanto, as nossas colaboradoras que efectuaram os
registos não tinham conhecimento da direcção de causalidade das hipóteses a
testar eliminando assim quaisquer predisposições originadas pelas expectativas
e previsões.
Após serem empregues testes estatísticos obtiveram-se grupos equivalentes quer
ao nível basal quer ao nível das condições em que o estudo decorreu.
Codificação da variável experimental
A variável experimental foi uma intervenção de enfermagem, a massagem. Foi
utilizada uma técnica de massagem de tipo sueco, utilizada nas investigações
realizadas no Touch Research Institute, na Florida, por Tiffany Field e
restante equipa de investigação, tendo-nos sido autorizada a sua utilização e
gentilmente cedida em protocolo e em suporte magnético.
O protocolo de execução da massagem consistiu de três sessões de massagens
diárias, durante cinco dias consecutivos e com três sessões diárias sendo: a
primeira, quarenta e cinco minutos após a 1ª refeição da manhã; a segunda,
quarenta e cinco minutos após a 2ª refeição da manhã e a terceira, quarenta e
cinco minutos após a 3ª refeição da manhã.
Assim, cada recém-nascido pré-termo recebeu um total de 15 massagens. Cada
sessão de massagem teve a duração total de 15 minutos e incluiu 3 fases
padronizadas de 5 minutos cada. A primeira e a terceira fases consistiram em
estimulação táctil de diversas partes do corpo e a segunda fase, a intermédia,
consistiu de estimulação cinestésica. Para a fase de estimulação táctil o
recém-nascido pré-termo foi colocado em decúbito ventral com a cabeça voltada
para o lado; foi massajado com firmeza, com as partes internas dos dedos de
ambas as mãos sem nunca perderem o contacto com a pele dos recém-nascidos pré-
termo, durante um minuto, em cada uma das regiões do corpo, com uma sequência
própria.
Durante o período de cada estimulação táctil cinestésica não foi proporcionado
outro tipo de estimulação, nomeadamente o diálogo.
A massagem foi feita sem lubrificante através das portinolas da incubadora
permanecendo o recém-nascido pré-termo durante toda a intervenção na incubadora
com temperatura controlada.
A estimulação foi administrada por 31 enfermeiras das unidades onde a pesquisa
se desenvolveu, treinadas para a execução da técnica e com fiabilidade e
validade na execução da massagem 1.
De forma a garantir que a intervenção manipulada não fosse prejudicial no curso
clínico do desenvolvimento dos recém-nascidos pré-termo, durante a sua
aplicabilidade e nos 10 minutos seguintes foram observados e listados os seus
comportamentos nos vários subsistemas de desenvolvimento: autonómico, motor,
estado e nível de atenção.
Os comportamentos de desorganização observados foram:
a nível do funcionamento do subsistema autónomo:
alterações na frequência cardíaca, na pressão arterial, na respiração (pausas
egasping) e diminuição na saturação de oxigénio;
alterações de coloração da pele, palidez, mosqueamento, pele acinzentada ou
cianótica;
respostas viscerais como soluços, náuseas ou vómitos, eructação, salivação,
evacuação ou fazer força como se estivesse a evacuar, flatulência;
tremores e sustos;
alterações de temperatura.
a nível do subsistema motor o bebé:
flacidez da face, tronco e extremidade;
hipertonicidade de extremidades ou tronco;
actividade frenética ou difusa;
afastamento de dedos (abre a mão e afasta os dedos);
caretas e testa e sobrancelhas franzidas;
projecção de língua;
manobras protectivas como mão na face, extensão do braço.
no subsistema organização de estado e nível de atenção: períodos de
inquietação, irritabilidade, choramingo ou choro;
movimentos oculares descoordenados;
transição abrupta entre estados;
activamente desviar o olhar (olhar para longe ou fechar os olhos);
baixo nível de alerta caracterizado por um olhar sem brilho, com olhos
vidrados parecendo olhar através ao invés de para o objecto ou cuidador;
hiper alerta com olhos bem abertos com uma expressão de pânico ou um olhar
preocupado;
espirrar;
bocejar.
Caso os recém-nascidos pré-termo apresentassem comportamentos de desorganização
dos subsistemas de desenvolvimento era feito a manobra de contenção e se
persistissem era suspensa a massagem.
Operacionalização da variável dependente: estabilidade fisiológicaEsta variável
foi operacionalizada através dos parâmetros cárdio-respiratórios de frequência
cardíaca (FC), de frequência respiratória (FR), de tensão arterial sistólica
(TAs) e diastólica (TAd) e saturação periférica de oxigénio (SpO2), assim como,
de temperatura (T). Foram avaliados com recurso a um sistema de monitorização
modular especifica para unidades de cuidados intermédios, antes e após cada
sessão de massagem e em igual período aos recém-nascidos pré-termo não sujeitos
a estimulação.
Os valores que se referem no início foram colhidos imediatamente antes da
abertura das portas da incubadora e os valores do final da intervenção foram
colhidos 10 minutos após o encerramento das portas das incubadoras. Estas
medições foram feitas durante os cinco dias de execução do protocolo de
massagem.
Antes de se iniciar a fase da colheita de dados do estudo e para garantir a
uniformização dos registos, as colaboradoras tiveram sessões de treino sobre
todos os registos a efectuar.
Os instrumentos de medição foram iguais e aplicados da mesma maneira durante
todo o estudo.
Resultados
Caracterização basal da amostra
Analisando os resultados apresentados no tabela 1, relativo ao estudo da
equivalência entre o grupo experimental e o grupo de controlo em várias
variáveis, podemos constatar que não foram encontradas quaisquer diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos em estudo ao nível das
variáveis tempo de gestação, duração do internamento na unidade de cuidados
intensivos neonatais, duração do internamento antes do início do estudo, peso
ao nascer, comprimento ao nascer, perímetro cefálico ao nascer, índice peso/
comprimento ao nascer, Apgar ao 1º e ao 5º minuto, complicações obstétricas,
complicações pósnatais, peso antes do início do estudo, idade da mãe, sexo dos
recém-nascidos pré-termo e tempo médio global de contacto.
Tabela 1
Estudo da equivalência entre o grupo experimental e o grupo de controlo
Este facto permite-nos afirmar que os recém-nascidos pré-termo dos grupos,
experimental e de controlo, tinham características semelhantes pelo que
concluímos que os grupos eram homogéneos, quer ao nível das condições basais
quer ao nível das condições em que o estudo decorreu.
Resultados
Através da aplicação de testes de Análise da Variância de dois factores com
medidas repetidas num factor pudemos comparar, ao longo do tempo, os dois
grupos e assim procurar avaliar os efeitos da massagem na estabilidade
fisiológica dos recém nascidos pré-termo internados em unidade de cuidados
intermédios neonatais.
Nas situações em que a interacção do grupo com o tempo se revelou
estatisticamente significativa aplicámos o teste Newman-Keuls como teste post-
hoc.
Temperatura
Verificou-se que, para as temperaturas antes da massagem, a interacção do grupo
com o tempo é estatisticamente significativa com p = 0,006 e que os efeitos
independentes do grupo e do tempo não são significativos.
A aplicação do teste post-hoc revelou que não são estatisticamente
significativas as diferenças observadas entre os grupos ou dentro dos grupos.
A análise do tabela 2 revela que não existe uma tendência definida em qualquer
dos grupos, situação ilustrada na figura 1. Verificou-se que, independentemente
do grupo, houve dias em que as temperaturas eram mais altas e outros em que
eram mais baixas.
Tabela 2
Temperatura média diária antes da massagem
Figura 1
Temperatura média diária antes da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
Como podemos verificar pelos resultados apresentados no tabela 3 e representado
na figura 2, idêntica situação se regista para as temperaturas após a massagem.
O efeito da interacção entre o grupo e o tempo é significativo (p = 0,027) mas
os efeitos individuais destas variáveis não o são.
Tabela 3
Temperatura média diária depois da massagem
Figura 2
Temperatura média diária depois da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
A aplicação do teste post-hoc revelou que não existem quaisquer diferenças
estatisticamente significativas entre grupos ou dentro dos grupos e não existe
uma tendência bem definida para a evolução das temperaturas corporais.
Saturação de oxigénio
Analisando o tabela 4 e visualizando a figura 3 verificamos que nenhum dos
factores ou a sua interacção apresentam efeitos estatisticamente significativos
sobre a saturação de oxigénio antes da massagem. Em ambos os grupos verifica-se
que os valores tenderam a aumentar ao longo do tempo e que a evolução é
relativamente semelhante nos bebés dos dois grupos.
Tabela 4
Saturação periférica de O2 média diária antes da massagem
Figura 3
Saturação periférica de O2 média diária antes da massagem em função da
interacção Grupo × Tempo
No que respeita à saturação de oxigénio após a massagem verificamos que nenhum
dos factores (grupo e tempo) nem a sua interacção evidenciaram efeito
estatisticamente significativo (tabela 5).
Tabela 5
Saturação periférica de O2 média diária depois da massagem
No entanto, a análise da figura 4, revela uma tendência para aumento dos
valores nos bebés do grupo experimental, enquanto nos bebés do grupo de
controlo a tendência foi pouco definida.
Figura 4
Saturação de O2 média diária depois da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
Frequência respiratória
Também para a frequência respiratória antes da massagem se constata que nenhum
dos factores ou a sua interacção têm efeito significativo (tabela 6).
Tabela 6
Frequência respiratória média antes da massagem
A análise da figura 5 revela que em ambos os grupos não existe uma evolução
definida ao longo do tempo embora pareça que os bebés do grupo experimental
apresentam frequências respiratórias mais baixas que os bebés do grupo de
controlo.
Figura 5
Frequência respiratória média antes da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
O grupo, o tempo e a sua interacção não têm efeitos significativos sobre a
frequência respiratória dos recémnascidos depois da massagem (tabela 7). Não se
registam diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos e a
figura 6 sugere-nos que a evolução dos dois grupos é relativamente semelhante.
Tabela 7
Frequência respiratória média depois da massagem
Figura 6
Frequência respiratória média depois da massagem em função da interacção Grupo
× Tempo
Frequência cardíaca
Como podemos constatar pelos resultados apresentados na tabela 8 os efeitos do
grupo, do tempo e da sua interacção sobre a frequência cardíaca antes da
massagem não são estatisticamente significativos.
Tabela 8
Frequência cardíaca média antes da massagem
Observando a figura 7 verificamos que os bebés do grupo experimental tendem a
evidenciar frequências cardíacas ligeiramente mais baixas que as do grupo de
controlo.
Figura 7
Frequência cardíaca média antes da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
Também para a frequência cardíaca média depois da massagem verificamos que
nenhum dos factores apresenta efeito estatisticamente significativo (tabela 9).
Tabela 9
Frequência cardíaca média depois da massagem
A análise da figura 8 revela que a evolução dos valores ao longo do tempo é
relativamente semelhante, principalmente a partir do 3º dia.
Figura 8
Frequência cardíaca média depois da massagem em função da interacção Grupo ×
Tempo
Tensão arterial
Relativamente à tensão arterial máxima antes da massagem, verificamos que só o
factor tempo tem um efeito significativo com p = 0,047 (tabela 10). Este efeito
deve-se principalmente aos valores registados no 2º e 3º dia no grupo de
controlo. A variação é suficientemente grande para que possa ser considerada
estatisticamente significativa. Entre os restantes valores registados para este
grupo e os valores registados para o grupo experimental não se observaram
quaisquer diferenças significativas, o mesmo ocorrendo entre os valores dos
dois grupos.
Tabela 10
Tensão arterial máxima antes da massagem
O perfil de tensões arteriais máximas é semelhante para os dois grupos
principalmente o 2º dia (fig. 9).
Figura 9
Tensão arterial máxima antes da massagem em função da interacção Grupo × Tempo
Após a massagem, a tensão arterial máxima continua a sofrer o efeito
significativo do factor tempo (p = 0,020), mas não do factor grupo ou da
interacção entre as duas variáveis. Tal como para os valores antes da massagem,
o efeito do factor tempo ocorre principalmente em consequência dos valores
registados para o grupo de controlo no 2º e 3º dia (tabela 11).
Tabela 11
Tensão arterial máxima depois da massagem
Como podemos constatar pela análise da figura 10, o perfil de tensão arterial
máxima dos bebés do grupo experimental tende a aproximar-se do perfil dos bebés
do grupo de controlo.
Figura 10
Tensão arterial máxima depois da massagem em função da interacção Grupo × Tempo
Com base na análise do tabela 12 e ilustração da figura 11 quanto à tensão
arterial mínima antes da massagem, os dados revelam algo semelhante ao
observado para a máxima, ou seja, o efeito significativo do factor tempo (p =
0,038) e os efeitos não significativos do factor grupo e da interacção. Embora
os perfis dos dois grupos se assemelhem, verificamos que os bebés do grupo
experimental tendem a evidenciar tensões mínimas mais elevadas que os do grupo
de controlo. No entanto, as diferenças observadas entre os grupos não são
estatisticamente significativas.
Tabela 12
Tensão arterial mínima antes da massagem
Figura 11
Tensão arterial mínima antes da massagem em função da interacção Grupo × Tempo
Após a massagem o perfil de tensões dos bebés do grupo experimental ao longo
dos cinco dias afasta-se do perfil dos bebés do grupo de controlo mas, tal como
podemos verificar pelos dados apresentados no tabela 13 e ilustrado na figura
12, nenhum dos factores (grupo e tempo) ou a sua interacção apresentam efeitos
significativos sobre os valores das tensões arteriais mínimas.
Tabela 13
Tensão arterial mínima depois da massagem
Figura 12
Tensão arterial mínima depois da massagem em função da interacção Grupo × Tempo
Durante a aplicação das sessões de massagem e nos 10 minutos seguintes não
foram observados nos recémnascidos comportamentos de desorganização nos vários
subsistemas de desenvolvimento: autonómico, motor, estado e nível de atenção.
Discussão
As estratégias de intervenção serão mais eficazes e eficientes quanto mais
conhecermos a sua influência nos processos neurofisiológicos e no
desenvolvimento das funções vitais do recém-nascido pré-termo33. Dado também
haver uma relação entre manipulação, cuidados de rotina nos recém-nascidos
prétermo e reacções adversas no sistema autónomo dos mesmos, apontada por
vários autores6,28,34 investigou-se quais os efeitos da massagem no
funcionamento deste sistema através da saturação de oxigénio, frequência
cardíaca e respiratória, tensão arterial e temperatura. Foram formuladas várias
hipóteses de causalidade entre a massagem e alterações nestes parâmetros
fisiológicos nos recém-nascidos pré-termo.
As descidas agudas de saturação de oxigénio têm efeitos graves levando ao
aumento do risco de distúrbios na hemodinâmica cerebral35. Assim, a hipótese nº
1 do estudo enunciava que os recém nascidos pré-termo durante a massagem
apresentavam alterações na saturação periférica de oxigénio comparativamente
aos recém-nascidos do grupo de controlo em igual período.
Ao estudarmos a causalidade da massagem nesta variável verificamos que nenhum
dos factores ou a sua interacção apresentou efeitos estatisticamente
significativos pelo que não se confirmou a hipótese formulada. Assim,
concluímos que é seguro este cuidado face à estabilidade da saturação
periférica de oxigénio. Estes resultados obtidos vão de encontro aos de Morrow
et al.36 e Alcolet et al.24 que também concluíram que a massagem nos recém-
nascidos prétermo estáveis constituiu uma intervenção de enfermagem segura sem
compromisso a nível do parâmetro de saturação periférica de oxigénio.
A resposta cardio-respiratória no recém-nascido pré-termo pode ser entendida
como um conjunto de informações que o mesmo fornece sobre as estratégias que
desenvolve para responder ao stress provocado pelas intervenções a que é
sujeito. A informação fornecida pela resposta fisiológica do recém-nascido pré-
termo pode ser usada como um indicador da sua capacidade de organização,
determinando desta forma a quantidade e qualidade dos cuidados a que este
recém-nascido é submetido, razão pela qual a sua resposta cardio respiratória
deve ser sempre considerada.
A irregularidade da respiração, tanto o aumento como diminuição, é um sinal de
instabilidade do sistema nervoso autónomo37. O aumento da frequência cardíaca
tem sido relacionado com o gasto de energia e atraso de crescimento38.
Algumas investigações efectuadas em recém-nascidos de termo e recém-nascido
pré-termo, indicam que estes respondem as exigências do meio, como manipulação,
cuidados e interacções sociais com aumento do valor da frequência
cardíaca39,40.
Face à medição da causalidade entre a massagem e os parâmetros de tensão
arterial, frequência respiratória e cardíaca, enunciadas nas hipóteses nº 2, 3
e 4 deste estudo concluímos que o grupo, o tempo e a sua interacção não tiveram
efeitos estatisticamente significativos sobre as variáveis. Assim, não se
confirmam as hipóteses formuladas que prediziam que a massagem provocava
alterações nestes parâmetros fisiológicos pelo que constitui uma intervenção de
enfermagem de estimulação segura a nível da estabilidade das frequências
respiratória e cardíaca e tensão arterial. Os resultados obtidos relativos a
estabilidade de frequência respiratória vão de encontro aos resultados de um
estudo de Field13 em recémnascidos pré-termo com características semelhantes
mas com exposição cocaína que revelaram estabilidade neste parâmetro
fisiológico, contudo não são consistentes a nível da frequência cardíaca que
revelaram alterações significativas (p=0,002), nomeadamente 158,8 batimentos/
min no grupo experimental e 154,7 batimentos/min. no grupo de controlo.
Investigou-se também a relação entre a variável massagem e os níveis de
temperatura corporal dos recém-nascidos pré-termo.Verificou-se que no período
antes da execução da massagem a interacção do grupo com o tempo foi
estatisticamente significativa com um p=0,006 e que os efeitos independentes do
grupo e do tempo não foram significativos. Com a aplicação do teste pos-hoc
verificamos que estas diferenças não foram significativas. Situação idêntica se
verificou no período depois da massagem. Com estes resultados não se confirma a
hipótese formulada (nº 5) que predizia existir alterações na temperatura
corporal durante a massagem.
Os nossos resultados de estabilidade da temperatura corporal nos recém-nascidos
pré-termo durante a execução da massagem não são consistentes com os obtidos no
estudo de Alcolet et al.24 que detectou uma ligeira diminuição na temperatura
nos recém-nascidos pré-termo massajados. Vão de encontro aos resultados de um
estudo de Field13 em recém nascidos pré-termo com características semelhantes,
à excepção de serem filhos de mães toxicodependentes, que revelou estabilidade
neste parâmetro fisiológico.
Com base nos resultados apresentados relativos à causalidade da massagem sobre
parâmetros fisiológicos concluímos que este tipo de intervenção de enfermagem
de estimulação suplementar foi segura nos recém nascidos pré-termo saudáveis,
clinicamente estáveis e internados em unidades de cuidados intermédios
neonatais em estudo.
Pensamos que esta pesquisa apresenta validade interna pelo estudo efectuado da
equivalência entre o grupo experimental e o grupo de controlo, obtendo-se
grupos homogéneos e pelo próprio modelo seleccionado, pré/teste-pós/teste e com
grupo de controlo, garantirem deste modo todo o controlo de todas as fontes de
invalidação interna, isto segundo Sampieri, Collado e Lucio41.
Conflito de interesse
Os autores declaram não haver conflito de interesse.