Promover uma cultura de segurança em cuidados de saúde primários
Introdução
O tema da segurança do doente tornou-se, nas últimas 2 décadas, uma questão
central nas agendas de muitos países da Europa e um pouco por todo o Mundo.
Reconhece-se que a mudança permanente das condições de trabalho (doentes mais
complexos, rotação de profissionais, evolução tecnológica permanente),
associada a um nível de exigência cada vez maior dos utilizadores do sistema de
saúde, pode ameaçar o funcionamento da melhor equipa e a excelência do melhor
profissional. Desta forma, os aspetos relacionados com a segurança do doente,
enquanto componente chave da qualidade dos cuidados de saúde, têm assumido uma
crescente preocupação para as organizações de saúde, para os decisores
políticos, para os profissionais de saúde, cuja principal missão consiste na
prestação de cuidados com elevado nível de efetividade, eficiência e baseados
na melhor evidência disponível, como para os utentes e suas famílias que
desejam sentir-se confiantes e seguros1.
Contudo, a investigação em segurança do doente não tem ainda, na opinião de
vários autores, a atenção merecida ou desejável. Encontra-se, de uma forma
geral, a dar os seus primeiros passos, sendo que, numa grande parte dos países,
se carateriza por ser fragmentada e pouco valorizada2-4.
Por outro lado, se a maioria das investigações realizadas se têm concentrado
nos cuidados hospitalares, a efetividade e a segurança nos cuidados de saúde
primários (CSP), onde ocorrem todos os dias milhões de atendimentos na União
Europeia (UE)5, têm recebido menos atenção6, o que torna o escasso conhecimento
científico sobre segurança do doente em CSP precioso para a definição, no
imediato, de prioridades de intervenção neste contexto.
Para a elaboração deste artigo recorreu-se à consulta e análise de uma extensa
literatura nacional e internacional sobre o tema, com o principal objetivo de
evidenciar a inevitabilidade de promover uma cultura de segurança nas
instituições de saúde em geral e nos CSP em particular.
(In)Segurança do doente: um dos principais problemas de saúde pública do século
XXI
A definição de alguns conceitos chave sobre segurança do doente torna-se um
importante requisito para uma melhor compreensão sobre o tema, principalmente
para quem se está a iniciar nesta área de conhecimento. Com alguma frequência
confundem-se ou utilizam-se como sinónimos termos como incidente, erro, evento
adverso, que na realidade assumem significados claramente diferentes.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Segurança do Doente como "a
redução do risco de danos desnecessários relacionados com os cuidados de saúde,
para um mínimo aceitável"7, pois a evidência tem-nos demonstrado que os
erros são uma constante da prática de cuidados de saúde e ocorrem em qualquer
fase do processo de cuidados. Um erro é a "falha na execução de uma ação
planeada de acordo com o desejado ou o desenvolvimento incorreto de um
plano"7. São, por definição, não intencionais e podem manifestar-se por
prática da ação errada (comissão) ou por não conseguir praticar a ação certa
(omissão), quer seja na fase de planeamento ou na fase de execução. Um erro
pode dar origem a um incidente, definido como um "evento ou circunstância
que poderia resultar, ou resultou, em dano desnecessário para o doente"7,
assumindo a designação de incidente com dano ou evento adverso, quando o doente
é lesado.
Os eventos adversos podem ser agrupados em ocorrências relacionadas com o
profissional, com os procedimentos e com o sistema. Nas ocorrências
relacionadas com o profissional encontramos, por exemplo, as quedas do doente,
a infeção hospitalar, as úlceras de pressão, os erros de administração de
medicação e utilização de equipamentos e materiais. Os exemplos de situações
relacionadas com os procedimentos podem ser os mesmos, modificando apenas a
forma como é realizada a intervenção, pois o objetivo do procedimento não é
corretamente planeado. As ocorrências relacionadas com o sistema dependem de
fatores institucionais, organizacionais e dos recursos materiais e equipamentos
disponíveis8.
Segundo Ashid9, provavelmente os eventos adversos são a maior causa de
mortalidade e morbilidade em todo o mundo.
As falhas ao nível da segurança do doente podem ter diversas implicações, entre
as quais: a perda de confiança por parte dos utentes/doentes nas organizações
de saúde e seus profissionais, com consequente degradação das relações entre
ambos; o aumento dos custos sociais e económicos, variando a sua dimensão na
razão direta dos danos causados e da casuística dos mesmos; e a redução da
possibilidade de alcançar os resultados (outcomes) esperados/desejados, com
consequências diretas na qualidade dos cuidados prestados10,11.
Destacam-se como principais custos económicos, sociais e pessoais o aumento de
dias de internamento, a redução de produtividade, o sofrimento e desgaste
emocional para o doente e família e, em última consequência, a morte, como
deram a conhecer alguns dados publicados há cerca de 12 anos pelo Institute of
Medicine, através do relatório "To err is human: building a safer health
care system". Já nessa altura estimava-se que nos Estados Unidos morriam
anualmente entre 44-98 mil americanos devido a danos decorrentes dos cuidados
de saúde e não da sua doença, implicando uma elevada percentagem de taxa de
mortalidade, comparativamente superior à atribuída ao VIH-Sida, cancro da mama
ou acidentes de viação12,13.
Simultaneamente, no Reino Unido, o relatório "An organization with a
memory" revelava que no serviço nacional de saúde existiam 850.000
eventos adversos por ano, com custos de 2 biliões de dólares em dias de
internamento adicionais e que as infeções hospitalares custavam 1 bilião de
libras, sendo 15% delas preveníveis14.
Em Portugal não existem dados disponíveis em relação a esta matéria, no
entanto, se se considerar como hipótese que os nossos hospitais têm a mesma
fiabilidade dos seus congéneres americanos, seria possível estimar entre 1.300-
2.900 mortes anuais em consequência de erros cometidos pelos profissionais de
saúde15.
Por este motivo, tem-se assistido recentemente a um movimento crescente no
sentido de valorizar a investigação nesta área (patient safety research) e
também na necessidade de desenvolver e avaliar o impacto de soluções inovadoras
que possam acrescentar valor em termos de ganhos clínicos, sociais e
económicos.
De entre os temas prioritários na investigação em segurança do doente destacam-
se: o conhecimento epidemiológico (frequência, causas, tipologia e impacto) dos
eventos adversos e o desenvolvimento, implementação e avaliação de soluções
inovadoras. O objetivo subjacente a essas 2 linhas de investigação consiste em
obter conhecimento que possibilite a diminuição do risco e consequentemente
potenciar a segurança do doente e, simultaneamente, com base na transferência
desse conhecimento monitorizar ações de melhoria e apoiar as tomadas de decisão
(política e clínica) a nível local, regional, nacional e internacional.
Segundo a OMS6, a evidência sobre segurança do doente, apesar de muito
incipiente, está significativamente a contribuir para a crescente compreensão
das múltiplas formas em que os cuidados podem vir a ser comprometidos. Não
obstante, para prevenir e/ou evitar os eventos adversos é fundamental conhecê-
los, antecipá-los e, quando ocorrem, notificá-los, discuti-los, partilhá-los e
aprender com eles.
Um dos sistemas mais comuns de informação de segurança baseia-se no relato
voluntário e confidencial destas ocorrências ou de qualquer preocupação de
segurança detetada no trabalho. Este relato tem como objetivos, por um lado,
aumentar a sensibilidade aos erros e riscos inerentes ao tipo e local de
trabalho, por outro lado, através da investigação local do incidente e da
análise de vários incidentes agregados gerar informação útil para corrigir as
fragilidades identificadas16.
A implementação de um sistema deste tipo implica que as organizações de saúde
se norteiem pelos princípios de uma cultura de segurança que torne todas as
atividades de cuidado aos utentes/doentes, desde a entrada até à saída do
sistema, seguras e redutoras do risco de sofrer eventos adversos17. Uma cultura
de segurança é essencialmente uma cultura onde todos estão conscientes do seu
papel e da sua contribuição para a organização e são responsáveis pelas
consequências das suas ações.
Considerando o que refere a Health Consumer Powerhouse, a qualidade de resposta
do sistema de saúde português, na perspetiva do cidadão, está ainda longe de
alcançar um nível razoável de satisfação18, contribuindo para este facto uma
deficiente cultura de segurança nos serviços de saúde portugueses e em
particular nos CSP, onde esta temática não tem sido, até à data,
sistematicamente incluída nas prioridades de quem organiza e presta este tipo
de cuidados.
Não podemos continuar na ilusão de que os utentes/doentes deixarão de ser
lesados pelos nossos cuidados se nada fizermos por isso. A melhoria da
segurança do doente requer inevitavelmente mudança, vontade, esforço, muita
persistência, com implicações concretas na prática clínica.
Segurança do doente: a realidade hospitalar e nos cuidados primários de saúde
Os estudos desenvolvidos sobre esta temática têm sido fundamentais para o
conhecimento da dimensão, natureza e (em certa medida) do impacto dos eventos
adversos em diversos países. Apesar das especificidades destes estudos
dificultarem as comparações ou replicações em múltiplos contextos, a verdade é
que a maioria apresenta conclusões similares19.
De acordo com a Comissão das Comunidades Europeias (CCE), na UE 8-12% dos
doentes internados são vítimas de eventos adversos, 7,5-10,4% têm reações
adversas a fármacos e, destas, 28-56% são evitáveis20.
Uma recente revisão sistemática da literatura sobre a ocorrência de eventos
adversos em hospitais de países desenvolvidos4 aponta para uma taxa de
incidência que varia entre os 3,7 e os 16,6%. Os autores concluíram também que
nos doentes em que se confirmou evento adverso o período de internamento
prolongou-se, em média, 10-12 dias e que 40-70% do seu total eram preveníveis
ou evitáveis.
Em Portugal, a verdadeira dimensão e as consequências associadas às falhas na
segurança dos doentes está longe de ser conhecida, conforme ficou subjacente na
primeira reunião sobre investigação em segurança do doente, promovida pela OMS
em conjunto com a UE, realizada no Porto em 2007.
São vários os fatores que contribuem para esta realidade, nomeadamente a
ausência de orientações gerais e específicas que harmonizem as ações a
desenvolver no sentido de analisar as causas e consequentemente diminuir ou
eliminar as falhas que podem desencadear a ocorrência de eventos adversos; o
predomínio de uma cultura de culpabilização e ostracismo perante as falhas e as
suas potenciais consequências, em detrimento de uma cultura de análise e
aprendizagem a partir das mesmas; informação escassa, inadequada e de difícil
obtenção21, dificultando o conhecimento dos fatores subjacentes à causalidade
dos eventos adversos e em geral das falhas na segurança do doente, assim como a
subutilização do sistema nacional de notificação dos eventos adversos;
resumindo, a falta de uma estratégia nacional explícita e consistente para esta
problemática, à semelhança do que já existe em países como o Reino Unido,
Dinamarca, Suécia, Noruega, Austrália, entre outros22.
Por outro lado, a investigação nesta área, em Portugal, encontra-se também a
dar os primeiros passos. O estudo intitulado "Segurança do doente:
eventos adversos em hospitais portugueses: estudo piloto de incidência, impacto
e evitabilidade"22 é talvez um dos mais importantes neste domínio. Os
seus resultados indicam uma realidade não muito diferente da que foi descrita
em estudos similares realizados em vários países da Europa (Inglaterra, França,
Espanha, Dinamarca, Suécia e Países Baixos), nos Estados Unidos da América, na
Austrália, no Canadá, na Nova Zelândia e no Brasil. O referido estudo,
realizado em 3 hospitais públicos da região de Lisboa, teve por base a
informação contida nos processos clínicos de uma amostra de 1.669 doentes
internados durante o ano de 2009. Os resultados deste estudo apontam para uma
taxa de incidência de eventos adversos de 11,1%, com um intervalo de confiança
de 95% (9,6%; 12,6%). Relativamente ao seu impacto, constatou-se a presença de
dano, incapacidade ou disfunção permanente em 5,7% dos casos e em 10,8% ocorreu
óbito. Cerca de 53% das situações de eventos adversos foram consideradas
evitáveis e em 58,7% dos casos houve prolongamento do período de internamento,
com um valor médio de 10,7 dias22.
Contudo, se considerarmos que a investigação sobre segurança do doente,
relacionada com os cuidados de saúde hospitalares, se encontra na primeira
infância a nível internacional e a dar os primeiros passos a nível nacional, a
relacionada com os CSP é ainda menos desenvolvida na UE, encontrando-se, numa
fase inicial, em Portugal.
De uma maneira geral, parece existir a perceção de que nos CSP, pelo facto de
ser um ambiente dotado de baixa tecnologia, a segurança do doente não constitui
um problema. Na realidade trata-se de uma ideia errada, mais ainda se
considerarmos que na UE ocorrem diariamente milhões de atendimentos em CSP.
No Reino Unido, cerca de 750.000 utentes por dia recorrem ao seu médico de
família, na Alemanha realizam-se 1,5 milhões de atendimentos por dia nos CSP5 e
em Portugal realizaram-se, no ano de 2010, um total de 23.212.118 consultas de
clínica geral e familiar, o que representa uma média de 89.277 consultas por
dia e 2,3 consultas por habitante por ano, valor relativamente superior ao
número de consultas de especialidades realizadas em contexto hospitalar
(15.752.669) no mesmo período23. Estes dados, por si só, fundamentam o facto
das instituições de CSP serem, à semelhança dos hospitais, locais propícios à
ocorrência de incidentes.
Makeham et al.24 realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre estudos
publicados na área da segurança do doente em CSP. Concluíram que, nos países
desenvolvidos, existe uma prevalência de incidentes relacionados com a falta de
segurança em CSP de 4-24% e que cerca de 45-76% destes são evitáveis. Nesta
revisão, alguns dos estudos analisados avaliavam a frequência relativa dos
tipos de incidentes que ocorrem mais frequentemente em CSP, apontando para 26-
57% relacionados com erros no diagnóstico, 7-52% relacionados com o tratamento
(prescrição de medicação), 9-56% com os aspetos administrativos/organizacionais
e 5-72% com erros de comunicação (entre equipa e entre profissionais-utentes/
doentes).
Em relação às consequências destes incidentes, 70-76% representaram quase
eventos (incidente que não alcançou o doente); 13% resultaram em eventos sem
danos (incidente que chegou ao doente mas não resultou em danos discerníveis);
17-39% resultou em dano para o doente e 4% resultou em morte, o que representa
uma percentagem elevada para uma consequência tão grave. A este respeito,
alguns autores referem que os eventos adversos medicamentosos que ocorrem em
ambulatório são mais fatais do que aqueles que ocorrem no ambiente hospitalar,
porque os doentes em ambulatório não são monitorizados de perto pelos
profissionais de saúde25,26.
Um outro estudo desenvolvido no Reino Unido corrobora com a maioria dos
resultados anteriormente apresentados. Este estudo sugere que naquele país
existem entre 37-600 incidentes por dia nos CSP e que a generalidade dos
incidentes pode ser classificada em 4 áreas principais: o diagnóstico, a
prescrição, a comunicação entre os profissionais e os utentes/doentes e aspetos
organizacionais. Embora a possibilidade de erro seja grande, o estudo refere
ainda que 50% não têm nenhuma consequência, 20% não são clinicamente relevantes
e 30% originam dano para o doente, sendo que um terço destes últimos resulta em
consequências graves, incluindo a morte5.
O estudo APEAS27, realizado em Espanha e que teve como objetivos melhorar o
conhecimento sobre a magnitude, impacto e transcendência dos eventos adversos
em CSP e aumentar o número de profissionais envolvidos na cultura de segurança
do doente, entre outros, revelou que, num universo de 96.047 doentes e 452
profissionais, se identificaram 18,63 ‰ (por mil) eventos adversos.
Generalizando os resultados, os autores concluíram que, por ano, 7 em cada 100
cidadãos poderiam ser afetados por um evento adverso relacionado com os
cuidados de saúde, resultado bastante significativo tendo em conta o número de
contatos que os utentes/doentes estabelecem por ano com as unidades de CSP em
todo o mundo, conforme já demonstrado.
Em Portugal, salientamos a iniciativa realizada pela Rede Médicos Sentinela, em
2005, que procedeu à notificação voluntária de eventos adversos ocorridos nos
centros de saúde. Este estudo teve como objetivos identificar o tipo e
caraterísticas de eventos adversos que ocorrem nestas unidades de saúde,
determinar a sua taxa de incidência e desenvolver instrumentos de prevenção e
redução de eventos adversos neste contexto.
Apesar de profissionais altamente motivados para a notificação, apenas 28% dos
médicos participantes notificou ao longo de um ano um ou mais eventos adversos,
num total de 208 notificações. Este estudo concluiu que mesmo em médicos
altamente motivados os eventos adversos não estão enraizados como episódios de
alerta para a melhoria da prática clínica e redução dos riscos para os doentes,
pelo que o desconhecimento da sua frequência e caraterísticas deixa-nos
fragilizados perante a sua prevenção17.
Apesar da literatura internacional e nacional consultada ser unânime ao
concluir que existe ainda um longo caminho a percorrer, quer na produção de
mais evidência quer na utilização de abordagens metodológicas (paradigmas,
métodos e técnicas) que permitam caraterizar com maior rigor e consistência
esta problemática no contexto dos CSP, bem como determinar a robustez e
validade dos resultados alcançados24, também torna evidente que as questões
relacionadas com a segurança do doente (ou a falta dela) em CSP constituem um
problema major, à semelhança do que acontece em contexto hospitalar e, como
tal, necessitando de uma adequada e urgente intervenção.
A produção gradual de conhecimento sobre esta matéria tem funcionado como
alavanca para o desenvolvimento de algumas iniciativas e políticas
internacionais e nacionais com o objetivo de contribuir para a prevenção desta
problemática.
Iniciativas e políticas de saúde internacionais e nacionais sobre segurança do
doente
A OMS mobilizou-se em relação à temática da segurança do doente em 2002, na 55ª
Assembleia Mundial da Saúde. Após este evento, iniciaram-se os trabalhos de
desenvolvimento da taxonomia internacional em segurança do doente com o
primeiro relatório em 2003 e em 2004 é criada a primeira edição da Aliança
Mundial para a Segurança do Doente, voltada para o desenvolvimento de políticas
e práticas em prol da segurança do doente para todos os países membros da EU28.
Em 2005 realizam-se várias conferências internacionais sobre segurança do
doente, das quais se destaca a Conferência Europeia "Segurança do doente
- torná-la uma realidade!", de onde surgiu uma proposta de trabalho
conjunto com a OMS no sentido de criar um banco de soluções para a UE dirigido
a esta problemática e de onde emanaram várias recomendações, como por exemplo,
divulgar boas práticas nesta área; a utilização de novas tecnologias; a
realização de registos eletrónicos de doentes; a inclusão dos aspetos da
segurança na aprendizagem (básica e pós?básica) dos profissionais de saúde e a
implementação de projetos sobre esta temática ao nível das unidades de
cuidados, para que os profissionais de forma aberta e eficiente consigam lidar
com as situações de erro e omissões29.
Em 2009 são conhecidas as Recomendações do Conselho Europeu sobre a segurança
dos doentes, incluindo a prevenção e o controlo de infeções associadas aos
cuidados de saúde. Ainda neste ano, a Aliança Mundial para a Segurança do
Doente publica o relatório técnico final da Estrutura Concetual da
Classificação Internacional sobre Segurança do Doente, traduzido para Português
pela DGS em 2011. Esta estrutura, apesar de não ser ainda uma classificação
completa, é o ponto de partida para melhorar progressivamente uma compreensão
internacional conjunta de termos e conceitos, permitindo a descrição,
comparação, medição, monitorização, análise e interpretação da informação de
segurança do doente7.
A par destas iniciativas e um pouco por todo o mundo, foram sendo criadas
várias agências especializadas neste assunto: a National Patient Safety
Foundation, a American Society of Health Systems Pharmacists, a Australian
Patient Safety Foundation, a National Coordinating Council for Medication Error
Reporting and Prevention, entre outras. Todas estas organizações têm em vista
um objetivo comum - melhorar a segurança dos utilizadores dos serviços de
saúde e consequentemente melhorar a qualidade dos cuidados de saúde em geral.
No âmbito dos CSP, destacamos uma das mais importantes iniciativas
internacionais que visa aumentar o conhecimento sobre a segurança do doente
neste contexto. Trata-se do projeto europeu LINNEAUS, coordenado pela European
Society for Quality in Healthcare. Este projeto, em funcionamento desde 2009,
conta com a colaboração de vários países europeus, nomeadamente Inglaterra,
Dinamarca, Holanda, Alemanha, Espanha, Grécia, Áustria, Polónia e Escócia. A
sua principal finalidade é criar uma rede de profissionais e investigadores
peritos em segurança do doente dentro da UE.
Os objetivos deste grupo de trabalho consistem, essencialmente, em:
* a.desenvolver uma taxonomia de incidentes em CSP comum aos diferentes países
da Europa - foi elaborado um documento preliminar, com base numa
revisão sistemática sobre sistemas de classificação já existentes, adaptado
às caraterísticas dos CSP e submetido a um grupo de especialistas
internacionais que elaboraram recomendações sobre o seu conteúdo e
estrutura30, não tendo sido até à data publicada a sua versão final;
* b.implementar um sistema universal de relato de eventos adversos no âmbito
dos CSP, ainda em construção;
* c.promover a investigação com base em metodologias que permitam comparar
resultados;
* d.entender os aspetos relacionados com a liderança e cultura de segurança nas
instituições de CSP da Europa - neste momento um grupo de trabalho
dedica-se a avaliar os instrumentos existentes que permitam avaliar a cultura
de segurança nos CSP, para que possam ser aplicados em diferentes contextos
europeus. Um exemplo é o MaPSaFT, AHRQ Medical Office Survey on Patient
Safety, que é um instrumento que permite medir a cultura organizacional no
que diz respeito a segurança do doente em CSP, encontrando-se a ser testado
por um grupo de investigadores do projeto LINNEAUS, na Polónia;
* e.identificar métodos que permitam envolver os utentes/doentes nas
iniciativas de segurança. Na realidade o doente é o único que está presente
em todos os momentos do processo de cuidados, isto é, desde a entrada até à
saída do sistema. Parte-se do princípio que estando devidamente informado, a
sua participação pode ser vital para que o erro clínico não aconteça;
* f.identificar e divulgar boas práticas relacionadas com a aprendizagem de
erros e eventos adversos e desenvolver ferramentas para a melhoria da
segurança do doente que possam ser usadas por todos os países parceiros5;
A nível nacional, a segurança do doente também não tem sido indiferente às mais
recentes políticas de saúde. O Despacho n.° 14.223/2009 aprova a Estratégia
Nacional para a Qualidade na Saúde e determina que "Consolidadas, que
estão, a cobertura territorial e a universalidade da prestação de cuidados de
saúde, os desafios da qualidade e da segurança surgem, em primeiro plano, como
uma das principais prioridades do sistema de saúde português"31.
Em Fevereiro de 2009 é criado o Departamento da Qualidade integrado na DGS,
competindo-lhe, entre outras, a função de criar e coordenar atividades e
programas de promoção da segurança do doente, incluindo-se aqui a sua
responsabilidade pelo desenvolvimento do atual Programa Nacional de Acreditação
das instituições do Serviço Nacional de Saúde, que se trata de um processo
formal de assegurar a prestação de cuidados de saúde seguros e de elevado nível
de qualidade32.
Neste processo de busca da excelência/acreditação, as instituições de saúde
portuguesas candidatas viram-se obrigadas a uma mudança na sua cultura
organizacional, na medida em que novas preocupações surgiram, como por exemplo,
a gestão do risco, que passou a fazer parte dos objetivos da organização,
criando-se departamentos para a mesma, com equipas próprias.
Apesar da existência desta base legal e normativa, em Portugal, o número de
instituições de saúde acreditadas está aquém do desejável e é praticamente
inexistente em CSP. Segundo dados do INE, em 2010 existiam em Portugal 127
hospitais públicos e 376 centros de saúde, com um total de 1.225 unidades/
extensões23. Dos primeiros, 15 foram acreditados até ao presente e dos segundos
apenas 3 Unidades de Saúde Familiar (USF) (USF de Valongo; USF Dafundo, em
Algés-oeiras, e USF Grão Vasco, em Viseu) foram acreditadas pelo modelo oficial
do Ministério da Saúde designado por Agencia de Calidad Sanitaria de
Andalucía33. Esta realidade demonstra a existência de uma deficiente cultura de
qualidade e consequentemente de segurança nas organizações de saúde em
Portugal.
Não obstante, a Missão para os CSP - Plano estratégico 2010-201133,
considera como objetivos primordiais a atingir: cuidados de saúde de qualidade
para todos os cidadãos; recompensa pelas boas práticas profissionais e
eficiência e sustentabilidade do sistema de saúde. Estão definidos 5 eixos que
se entendem como essenciais para a consolidação e conclusão da atual reforma
dos CSP, dos quais destacamos o Eixo II - Governação clínica e de saúde
que "abrange vários aspetos da condução de um serviço de saúde como a
efetividade clínica, a auditoria clínica, a gestão do risco, a satisfação do
utente e o desenvolvimento de competências dos profissionais", assumindo
como objetivos estratégicos a "Identificação e implementação, de forma
sistemática, de boas práticas clínicas e gestão do risco em todo o
ACES"33. Neste âmbito, assume particular importância a intervenção dos
Conselhos Clínicos e de Saúde dos ACES, recentemente atualizada pelo Decreto
Lei n.° 253/2012 de 27 de novembro, que define que este órgão deve assegurar
que todos os profissionais do ACES se orientam para a obtenção de ganhos em
saúde, garantindo a adequação, a segurança, a efetividade e a eficiência dos
cuidados de saúde prestados, bem como a satisfação dos utentes e dos
profissionais.
Apesar de esta reforma ter vindo colocar variados desafios, conduzindo a uma
introspeção e capacidade de autoanálise, autorreflexão e crítica sobre uma
cultura de segurança do doente e sobre a qualidade dos cuidados de saúde,
verifica-se ainda um longo caminho a percorrer, como também demonstra a
avaliação do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010, feita pela OMS34, que
identifica que áreas fundamentais como a questão da sustentabilidade do sistema
de saúde, os recursos humanos e a qualidade e segurança dos cuidados não foram
objeto de atenção neste PNS.
A promoção de uma cultura de segurança do doente não pode por isso ser uma
atividade paralela dos programas ministeriais, dos parágrafos estatutários das
instituições de saúde, dos organigramas dos gestores e até das bases de dados
dos responsáveis do risco, mas sim a base de trabalho para toda a prática
clínica.
O desenvolvimento de uma cultura de segurança em geral e nos CSP em particular
é sem dúvida um dos mais importantes desafios que se coloca aos profissionais
de saúde no imediato.
O desenvolvimento de uma cultura de segurança em cuidados de saúde primários: o
relato voluntário de incidentes
O conceito de cultura de segurança mais amplamente utilizado é o da Comissão de
Segurança e Saúde do Reino Unido, que define cultura de segurança como o
produto de valores, atitudes, competências e padrões de comportamento
individuais e de grupo, os quais determinam o compromisso, o estilo e a
proficiência da gestão de uma organização saudável e segura. Segundo esta
Comissão, organizações com uma cultura de segurança positiva caraterizam-se por
uma comunicação fundada na confiança mútua, através da perceção comum da
importância da segurança e do reconhecimento da eficácia das medidas
preventivas35.
O Council of Europe/committee of ministers reconhece a necessidade de promover
a segurança do doente como um princípio fundamental dos sistemas de saúde; que
os mesmos princípios de patient safety se aplicam igualmente aos cuidados
primários, secundários e terciários, tal como outros aspetos dos cuidados de
saúde, como a promoção da saúde, prevenção, tratamento, entre outros36.
Não obstante, no ranking das 20 áreas prioritárias sobre segurança do doente,
para os países desenvolvidos, destaca-se, segundo a OMS, "a cultura de
segurança do doente pouco enraizada"28,37.
Contudo, quando se fala em segurança dos utentes/doentes subentende-se que
estamos perante um conceito pragmático e bem delimitado, supostamente fácil de
identificar, analisar e propor mudanças no sentido da sua redução ou
eliminação. A realidade apresenta-nos algumas particularidades, que tornam
difícil a sua abordagem nas organizações de saúde em geral e nos CSP em
particular. Este facto deve-se, essencialmente, à complexidade das organizações
de saúde, ao caráter multifatorial das situações que estão por detrás das
falhas de segurança (ou seu desconhecimento) e, não menos importante, à
sensibilidade do tema38 ou sobre o tema.
Relativamente à primeira questão, é comum referir que a generalidade das
organizações de saúde se carateriza por serem sistemas de grande complexidade
devido a vários fatores, dos quais se destacam:
* i) os seus princípios de equidade, universalidade, acessibilidade;
* ii) as caraterísticas das atividades e processos que desenvolvem, tais como
um conjunto de técnicas de diagnósticos e/ou terapêutica de complexidade
tecnológica variável e realizadas em contextos com inúmeras particularidades;
* iii) o facto de estarem inseridas num mercado imperfeito onde a
imprevisibilidade da procura é uma constante;
* iv) dotadas de pouco poder de decisão, com expetativas por vezes muito
elevadas, associado a situações de fragilidade física, emocional, psicológica
e social;
* v) as caraterísticas dos seus profissionais com formação muito específica;
habituados a uma forte componente do trabalho em equipas multidisciplinares;
desenvolvendo uma atividade intensa e numa área em constante evolução técnica
e científica.
Nas instituições de CSP acresce aos fatores anteriormente apresentados a
existência de uma organização ainda mais heterogénea quando comparada com os
hospitais, onde a prestação de cuidados se desenvolve na comunidade e nos
diferentes locais de vida dos utentes, contextos muito particulares e difíceis
de controlar, como são exemplo a escola e o local de trabalho.
Esta questão tem também implicações sobre o segundo aspeto que dificulta a
abordagem da segurança dos doentes nos CSP: o caráter multifatorial das
situações que está por detrás das falhas de segurança, que associado à escassa
produção de evidência nesta área dificulta o seu conhecimento.
Em relação à terceira questão sobre a sensibilidade do e sobre o tema, importa
referir que a segurança do doente tem subjacente uma ideia de
"identificar erros para punir culpados", tornando-se por isso uma
área muito sensível e pouco atrativa à colaboração dos profissionais. Os
profissionais de saúde não são preparados na sua formação para lidar com os
erros, principalmente porque estes são associados a sentimentos de
incapacidade, culpa, vergonha e incompetência, além do medo de sanções legais,
éticas e sociais.
Por outro lado, a sensibilidade para com o tema (ou a sua falta) pode
constituir uma importante dificuldade à sua abordagem, contribuindo para isso a
falsa perceção de que o tipo de cuidados de saúde prestados nos CSP são dotados
de grande simplicidade e de pouca tecnologia e só por isso a segurança não
constitui um problema5.
Podemos assim concluir que criar uma cultura de segurança é um trabalho árduo e
não acontece automaticamente. Alguns autores referem a necessidade de existirem
3 subcomponentes fundamentais para o seu desenvolvimento, qualquer que seja o
contexto onde os cuidados são prestados. São eles:
* i) a existência de uma cultura de reporte;
* ii) a existência de uma cultura justa;
iii) a segurança fazer parte dos objetivos estratégicos da
instituição4,15,39,40.
Maamoun41 apresenta uma perspetiva interessante sobre os programas de segurança
do doente, referindo que estes são alicerçados em 4 pilares, designados pelos 4
Cs: mudança na Cultura; Colheita de dados através de um sistema de relatórios
de incidentes; Cálculo de riscos para os doentes e auditorias Clínicas. Estes
pilares estão sustentados em 3 atividades essenciais: a engenharia dos fatores
humanos, a comunicação eficaz e a educação da equipa para a segurança do
doente.
Nesta ótica, concluímos que a segurança não se pode centrar numa pessoa, num
equipamento ou num serviço. Ela emerge da interação de todos os componentes de
um sistema. Melhorar a segurança depende da compreensão e análise dessa
interação.
Uma análise cuidada dos fatores desencadeantes do erro mostra que uma série de
incidentes, mesmo numa prática segura, mas influenciados pelo ambiente de
trabalho e pela envolvente organizacional, podem produzir um mau resultado.
Desta forma o erro humano deve ser encarado de 2 modos diferentes: o do
indivíduo e o da organização.
A abordagem do sistema leva em consideração o contexto em que os erros ocorrem,
preconizando que os indivíduos são falíveis e que todas as organizações,
incluindo aquelas de excelência em segurança, irão conviver com uma certa taxa
de erros. Assim, esta abordagem defende ser preferível mudar o sistema, de
forma a torná-lo mais seguro, do que mudar as condições humanas42. A abordagem
do sistema tem sido defendida como a mais efetiva para reduzir o erro e a
ocorrência de incidentes. A sua implementação remete para a promoção de uma
cultura de fiabilidade15, que se carateriza pela gestão do inesperado, das
oscilações, dos incidentes e das relações interpessoais.
Os incidentes ocorrem de forma imprevista e perturbam o desenvolvimento normal
do sistema. A gestão destes eventos passa pela sua identificação, registo,
análise, discussão e prevenção, numa cultura de responsabilidade e não de
culpabilização.
Nas organizações com um padrão de alta fiabilidade, como deveriam ser exemplo
as organizações prestadoras de cuidados de saúde, o registo do erro com base
numa perspetiva de aprendizagem deve ser incentivado como uma atitude proativa
preventiva e sistemática de toda a equipa de saúde, pela aprendizagem que daí
advém e sobretudo pela mais-valia que a organização adquire, evitando a sua
recorrência e aumentando a credibilidade da organização e dos seus
profissionais.
Porém, a dificuldade dos profissionais em notificar associa-se principalmente
ao medo de punição39,43,44 e ao desconhecimento sobre o objetivo real da
notificação45. Desta forma, reforçar o conhecimento da equipa de saúde sobre
segurança do doente através da formação, assumindo que o erro em saúde existe e
é inerente à prestação de cuidados, compreender os tipos de incidentes, suas
causas e consequências; não punir o profissional envolvido; manter o anonimato
dos envolvidos e evitar que as informações sobre os eventos adversos sejam
utilizadas para ações criminais, torna-se essencial para a existência de uma
verdadeira cultura de segurança do doente nas organizações de saúde, onde o
desenvolvimento de um sistema de notificação de eventos adversos assume
particular importância, sobretudo ao nível da identificação e estabelecimento
de estratégias de prevenção dos eventos adversos39.
Para que um sistema de registo de incidentes funcione adequadamente é
necessário:
* desenvolver uma cultura de responsabilização e não de culpabilização;
* análise dos incidentes com ênfase no sistema e não no indivíduo;
* relato centrado na ocorrência, mantendo para fins estritos de notificação o
anonimato;
* incutir a autoparticipação de eventos nefastos e permitir sempre o retorno de
informação para estimular a correção e a melhoria prevenindo novas
ocorrências de risco - repetir erros não é construir experiência;
* simplificação do sistema de relato: "poucos itens, mas fundamentais,
simplificação do registo e transmissão, em suma, melhoria na
comunicação"46.
Uma comunicação aberta sobre os problemas relacionados com a segurança, um
trabalho de equipa eficaz/eficiente e o apoio dos líderes organizacionais no
estabelecimento da segurança como uma prioridade são importantes
características da cultura de segurança do doente. Ou seja, toda esta natureza
multidimensional sobre a cultura de segurança mostra que é necessário intervir
em diversas dimensões9.
Em Portugal, a segurança do doente e a notificação e resolução de eventos
adversos, mais do que uma necessidade, deve transformar-se numa rotina e não na
exceção. É urgente implementar mudanças que promovam esta cultura e tornem
todas as atividades de cuidado aos doentes, desde a entrada até à saída,
seguras e redutoras do risco de sofrer eventos adversos.
Ao nível dos CSP este processo é ainda mais urgente, dado que a maioria das
intervenções se tem centrado nos cuidados de saúde hospitalares.
Desejavelmente, a implementação de um sistema de monitorização e de prevenção
de eventos adversos ao nível dos ACES deveria ser considerado um indicador de
boas práticas e, provavelmente, no futuro, um fator de contratualização com os
seus clientes diretos: os cidadãos17.
Conclusão
Num período de aumento exponencial das expetativas e das exigências dos
cidadãos a margem de aceitação do insucesso é muito pequena, pelo que falhas na
segurança não são toleradas nem tão pouco compreendidas, o que aliás se
subentende se se tiver em conta que as falhas na área da saúde podem resultar
em danos graves ou até mesmo em morte, tanto em contexto hospitalar como em
CSP.
Neste último contexto, ocorrem diariamente milhões de atendimentos em toda a
UE, porém o cliente nem sempre se apresenta na condição de doente, o que não
elimina a possibilidade do mesmo ser vítima de uma situação de falta de
segurança na prestação dos cuidados de saúde, contrariando a falsa perceção de
que nos CSP, por ser um ambiente dotado de baixa tecnologia, a segurança do
doente não constitui um problema! Inevitavelmente os erros existem, quer
relacionados com os profissionais quer relacionados com o sistema. São uma
constante na prática clínica e podem ocorrer em qualquer fase do processo da
prestação de cuidados.
Desta forma, foi nosso objetivo na elaboração deste trabalho evidenciar a
inevitabilidade de promover uma cultura de segurança nas instituições de saúde
em geral e nos CSP em particular, tendo em conta que esta temática, no segundo
contexto, se encontra num nível de desenvolvimento muito inferior em relação ao
primeiro.
No âmbito da recente reforma dos CSP, realçamos a intervenção dos Concelhos
Clínicos e de Saúde dos ACES, que devem atuar como promotores de práticas e
desempenhos profissionais seguros, efetivos e de elevada qualidade, e, por
isso, incentivar e facilitar o desenvolvimento de projetos locais na área da
segurança do doente.
A ocultação do erro é por si só um evento adverso. A sua prevenção é sobretudo
um problema de mudança de atitude e de cultura5, motivo pelo qual a segurança
do doente não é uma problemática individual nem de uma categoria profissional,
mas de um processo que envolve uma transformação a nível institucional.
É esta transformação que queremos promover nas nossas instituições de saúde,
pelo que esperamos que a interpretação, análise e reflexão apresentadas neste
artigo possam ser um importante contributo para esta importante missão.