O Mecenato Científico, a Salvar, Humanizar e Inovar, no Centro de Simulação
Biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
COMENTÁRIO
O Mecenato Científico, a Salvar, Humanizar e Inovar, no Centro de Simulação
Biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
João Bernardes*
*Centro de Simulação Biomédica, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Correspondência
Pouco ou nada se publica sobre mecenato científico, nomeadamente em língua
portuguesa. Pouco ou nada se encontra nas bases de dados bibliográficas
electrónicas disponíveis, quando se pesquisa mecenato científico ou
[scientific and (maecenate or patronage or sponsorship or altruism or
philantropy or fund raising)] , sendo necessário recorrer a motores de
pesquisa da Web, como o Google, ou a outras fontes, como a wikipedia, (1)
para se encontrar um pouco mais sobre o assunto, que não múltiplas referências
ao Estatuto do Mecenato Científico, publicado, em Portugal, em 2004 (2).
No entanto, o mecenato existe e faz sentido.
O mecenato científico existe, com uma designação genérica que nasce na Roma
antiga, com Caio Mecenas, conhecido protector das artes, conselheiro de Octávio
Augusto, e sobrevive ao desafio dos tempos, onde avultam personalidades e
famílias como os Barmakidas, no século IX, protectores da célebre Escola de
Bagdade, onde pontificaram Avicenas e Rahzes, e já no século XX, os Rockfeller,
os Carnegie e Alfred Nobel, sem esquecer, entre nós, Calouste Gulbenkian,
Ilídio Pinho e a família Champalimaud.
O mecenato científico existe e tem feito parte da vida do ensino médico, no
Porto, nomeadamente, desde a fundação da Régia Escola de Cirurgia do Porto,
impulsonada por Teodoro Ferreira d Aguiar, em 1825, até aos nossos dias (3).
O mecenato científico faz sentido, porque persistem (e continuarão certamente a
persistir) actividades não consideradas lucrativas ou prioritárias, que só
poderão nascer e sobreviver com o impulso da generosidade de pessoas que lhes
sejam sensíveis.
Como aceder, então, ao mecenato científico, nomeadamente em Portugal?
O mais importante para aceder ao mecenato científico será, porventura, ter a
arte e o engenho de encontrar e convencer pessoas generosas e sensíveis às
causas científicas que desejamos promover (2,4).
Depois, ajudarão, certamente, outros factores, do tipo dos contemplados no já
referido Estatuto do Mecenato Científico, previsto na legislação Portuguesa,
tais como, benefícios fiscais e possibilidades de considerável reconhecimento
público (2).
Não tendo tido sucesso na procura de um enquadramento que lhe proporcionasse a
concessão de um financiamento, pelas instituições da área da Ciência, mais
vocacionadas para esse fim, como a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT),
o Centro de Simulação Biomédica (CSB) da Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto (FMUP), criado em 2003, durante a direcção de José Amarante, arrancou
num ambiente de parceria com o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB), Porto
e o Hospital de S. João (HSJ), Porto (5,6).
Valeram-lhe alguns patrocínios, dos quais se destaca o da Medical Technology,
Inc. (METI), Florida, EUA, facilitado por Willem van Meurs, (7) mas era
necessário um outro impulso. O CSB não desistiu e com o apoio do director da
FMUP, Agostinho Marques, e o mote salvar, humanizar, inovar, exposto num
breve documento, em boa hora conseguiu sensibilizar, em 2007, Álvaro Costa
Leite, fundador do Finibanco, (8) falecido em 2009, a doar um simulador humano
de alta fidelidade iSTAN®(METI, Florida, EUA) e um equipamento pedagógico de
video-gravação (Figura_1). Salvar, com a simulação aplicada à Medicina, ao
conseguir melhores resultados no tratamento dos doentes, em situações críticas,
com o treino com simuladores (9).
Humanizar, com a simulação aplicada à Medicina, ao poupar os doentes ao
desconforto e aos riscos do treino médico repetido, com maior satisfação,
confiança e segurança dos envolvidos no treino (10). Inovar, com a simulação
aplicada à Medicina, ao criar o ambiente interdisciplinar propício ao
desenvolvimento de novos conhecimentos e de novas tecnologias (11). Graças ao
mecenato científico, o CSB está mais forte, tendo passado a conseguir gerar
fundos próprios para a sua sobrevivência, no âmbito dos múltiplos serviços
institucionais e sociais que disponibiliza, incluindo o apoio ao nascimento e
desenvolvimento de novos centros de simulação médica (6).
Aqui fica esta nota para sensibilizar os potenciais interessados no mecenato
científico.
Aqui fica o nosso tributo a Álvaro Costa Leite e ao Finibanco, pelo contributo
para ajudar o CSB a salvar, humanizar e inovar.