Editorial
Editorial
Ângela Gaspar
Editor da RPIA
Caros Colegas,
O presente número da RPIA começa com um artigo de revisão sobre a alergia ao
látex. A identifi cação precoce e a instituição de medidas de prevenção e
tratamento são essenciais, para assegurar a abordagem correcta do doente
alérgico ao látex, produto ubiquitário a nível dos serviços de saúde. Neste
artigo revêem-se vários aspectos relacionados com esta patologia, desde
prevalência, grupos de risco, alergénios do látex, manifestações clínicas,
reactividade cruzada e síndrome látex-frutos, à abordagem diagnóstica,
prevenção e tratamento.
Seguem-se três artigos originais bastante interessantes. O primeiro artigo
original trata -se de um estudo epidemiológico que avalia a asma e a
rinossinusite no Centro de Portugal, a que foi atribuído o Prémio SPAIC ' Bial
' Aristegui 2011 (2.º Prémio). Num período de dois anos, foram avaliados por
questionário 2200 indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os 74 anos,
dos quais 275 realizaram testes cutâneos por picada a aeroalergénios. Este
estudo epidemiológico revelou uma prevalência de asma de 16,8%, de rinite de
33,6% e de sinusite de 27%. Dos doentes com asma, 63% tinham também rinite. Dos
indivíduos estudados, 74% com asma e 70% com rinite, estavam sensibilizados a
aeroalergénios.
O segundo artigo original visa, de forma inovadora, saber se a actividade
sexual é inquirida nos doentes asmáticos pelos imunoalergologistas, na sua
prática clínica alergológica. Num questionário aplicado a 101 médicos, o autor
concluiu que apesar de serem consideradas clinicamente relevantes e
provavelmente bem aceites pelos doentes, apenas 11% dos imunoalergologistas
costuma questionar especificamente os seus doentes asmáticos adultos sobre
queixas respiratórias durante a actividade sexual.
O terceiro artigo original analisa e interpreta a polissensibilização a pólenes
à luz do método ImmunoCAP® ISAC (Immuno Solid -phase Allergen Chip). Num
trabalho que englobou 34 doentes com alergia respiratória e polissensibilização
a pólenes, documentada por testes cutâneos por picada positivos para extractos
de dois ou mais pólenes, os autores foram investigar a mais-valia obtida pelo
estudo de alergénios moleculares por tecnologia microarray. Os autores
concluíram que o ISAC dá um contributo útil para a discriminação entre
polissensibilização e reactividade cruzada em alguns destes doentes, permitindo
reformular a estratégia terapêutica.
Todos nós, nos últimos anos, temos vivenciado com entusiasmo as novidades
existentes em termos do diagnóstico por componentes, que nos permitiram entrar
na era da alergia molecular, que é hoje uma realidade na nossa prática clínica.
A utilização de alergénios recombinantes ou alergénios naturais purificados,
permite o estudo do perfil molecularde sensibilização do doente. Ou seja, para
além de sabermos que o indivíduo está sensibilizado a uma determinada fonte
alergénica, permite -nos identificar o(s) componente(s) alergénico(s), com
implicações em termos de diagnóstico e terapêutica. Os testes em microarray,
com detecção de IgE específica para múltiplos alergénios moleculares,
disponibilizam uma visão holística, permitindo: determinar o padrão de
sensibilização; efectuar o estudo de reactividade cruzada, com identificação de
panalergénios implicados; identificar marcadores de gravidade; estudar a
selecção de doentes para imunoterapia específica, nomeadamente em indivíduos
com polissensibilização, distinguindo entre sensibilização primária e
reactividade cruzada por sensibilização a panalergénios.
O caso clínico deste número é de uma doente com anafilaxia ao dióspiro mediada
por IgE. Este caso destaca-se pela causa da alergia alimentar, pouco frequente,
e pela identificação por immunoblottingde uma proteína de 40 kDa que pode
constituir um alergénio major do dióspiro.
Gostaríamos ainda de contar com a vossa atenção para a rubrica dos Artigos
comentados e para a rubrica das Notícias, com destaque para a participação de
colegas portugueses no congresso anual da Academia Europeia de Alergologia e
Imunologia Clínica, que decorreu este ano em Genebra, Suíça.
Esperando contar para breve com a vossa contribuição para a RPIA, desejo a
todos uma profícua leitura dos artigos publicados.
Ângela Gaspar