Home   |   Structure   |   Research   |   Resources   |   Members   |   Training   |   Activities   |   Contact

EN | PT

EuPTCVHe0871-97212014000300006

EuPTCVHe0871-97212014000300006

National varietyEu
Year2014
SourceScielo

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

Tatuagens temporárias: Inofensivas?

INTRODUÇÃO As tatuagens temporárias com hena são usadas tradicionalmente nos países islâmicos ou orientais, para tingir o cabelo, as unhas e a pele1‑3, como parte de costumes religiosos ou culturais. A hena é obtida a partir das folhas de Lawsonia inermise, no seu estado natural, tem a aparência de um verde que produz uma tinta vermelha uma vez dissolvido1. Na preparação pode ser misturado com vários produtos de origem natural (chá, café, sumo de limão, água de rosas), ou química (parafenilenodiamina ' PPDA). Vários tons de castanho ou até preto são obtidos através da adição de PPDA; estes são frequentemente usados em tatuagens temporárias1. A PPDA é conhecida por ser um sensibilizante potente, muitas vezes associado a elevado risco de sensibilização activa1. A verdadeira alergia a hena, causada pelo seu ingrediente activo, Lawsone, é rara4.

A popularidade das tatuagens temporárias tem vindo a aumentar nos últimos anos, sobretudo entre turistas em estâncias balneares, onde se têm tornado uma prática comum pela ausência de risco infeccioso (vírus da imunodeficiência humana, hepatite), aplicação indolor, duração limitada e baixo custo5,6. Apesar do número de reacções adversas reportadas após aplicação de hena na pele, o seu potencial para induzir reacções alérgicas ainda é largamente subestimado. As tatuagens com PPDA são a causa mais frequente de dermatite de contacto nas crianças7.

CASO CLÍNICO Adolescente do sexo feminino, 16 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, observada no serviço de urgência pediátrica por lesão eczematosa no dorso da mão com a forma de uma flor (Figuras 1 e 2), que surgiu 9 dias após aplicação de tatuagem de hena numa estância de férias. Negou, nesse momento, contacto prévio com hena ou tintas de cabelo no passado. Foi medicada com anti‑histaminico H1 (levocetirizina 5mg/dia) e corticóide tópico (mometasona 1mg/g) durante uma semana com resolução completa, sem lesão residual.

Foi referenciada à consulta de Imunoalergologia para investigação aprofundada, onde realizou testes de contacto com a bateria standarddo Grupo Português de Dermatites de Contacto, os quais foram fortemente positivos para PPDA 1%.

Verificou‑se também uma reacção mais ligeira ao sulfato de níquel 5%.

Quando novamente questionada, a mãe da doente recordou‑se da aplicação de outra tatuagem semelhante, 8 anos antes, durante as férias de verão, sem qualquer reacção.

DISCUSSÃO A frequência da dermatite de contacto alérgica devida a PPDA tem aumentado nos últimos anos. Nas crianças, as tatuagens temporárias têm sido o principal motivo7.

Estas têm maior probabilidade de induzir sensibilização do que as tintas de cabelo, dada a duração da exposição durante o procedimento, que pode durar várias horas3.

Neste contexto a PPDA é usada para estabilizar a preparação, escurecer a cor, acelerar o processo de tatuagem e produzir desenhos mais definidos8.

A PPDA habitualmente induz reacções de hipersensibilidade do tipo IV. De acordo com as leis europeias, a concentração máxima permitida nos produtos capilares é de 6% e a sua aplicação directa na pele, pestanas e sobrancelhas, é proibida6,9. No entanto, não existe legislação relativa às tatuagens temporárias e os produtos usados contêm frequentemente concentrações de PPDA mais elevadas.

No caso reportado, um primeiro contacto foi mais tarde identificado, tendo sido este provavelmente o responsável pela sensibilização primária. Contudo, pode ocorrer sensibilização activa devido à potência da PPDA, reduzindo o período de sensibilização e permitindo a ocorrência de sensibilização e reacção na mesma aplicação, sem exposição prévia10.

O termo temporário e o facto de a hena ser uma substância de origem natural induz falsa segurança. Os autores chamam a atenção para esta prática, cada vez mais frequente em crianças; as tatuagens temporárias podem não ser tão inofensivas quanto aparentam e podem induzir sensibilização permanente a uma substância que pode apresentar reactividade cruzada com produtos mais comuns, como tintas de cabelo e de têxteis.


Download text