Resumo dos Posters
TESTE DE SUOR - EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE PEDIATRIA DO CHP-HSA
J. Magalhães1, L. Pinho1, T. Correia1, C. Rocha1, M. J. Reis2, F. Teixeira1, M.
Guedes1, M. G. Reis1
1CHPorto, HMPia
2 Serviço de Química Clínica, CHPorto
Introdução: A fibrose cística é uma doença genética multissistémica frequente em
caucasianos. Na suspeita clínica, o teste de suor com determinação da
concentração de cloretos é essencial para o diagnóstico, cumprindo exigências
técnicas definidas. A avaliação da condutância do suor pelo sistema Macroduct/
Wescor® é aceite como rastreio. No Serviço de Pediatria do Hospital de Santo
António ' Centro Hospitalar do Porto utiliza-se este sistema desde Setembro de
2003. Desde Novembro de 2006 é doseada a concentração de cloretos no
laboratório de química.
Objectivos: Avaliar resultados e fiabilidade técnica dos testes efectuados entre
Setembro de 2003 e Junho de 2010, comparando condutância e doseamento de
cloretos, e caracterizar os doentes submetidos ao teste.
Métodos: Análise da ficha de registo do teste e resultados laboratoriais.
Resultados: Realizados 399 testes a 318 indivíduos. 59,4% são do sexo
masculino. Têm idades entre 23 dias e 74,4 anos, sendo 82,4% menores de 18
anos. Em 55% dos testes de crianças, o motivo de realização foi broncospasmo,
em 1/5 associado a má evolução ponderal. O motivo foi má evolução ponderal em
15%, sendo menos frequentes bronquectasias, tosse crónica, pansinusite,
diarreia e prolapso rectal.
Em 5,26% das amostras não foi possível a avaliação da condutância, o que
diminuiu com aquisição de experiência. Esta foi determinada em 375 testes, com
valor superior a 90mmol/L em 13 testes a 9 indivíduos, tendo em 5 sido excluído
o diagnóstico pelo valor de cloretos. De acordo com o recomendado no
equipamento, considerou-se 70mmol/L o limite superior do normal, e nos
indivíduos com valores superiores foi repetido o teste e determinada a
concentração de cloretos e/ou perfil genético.
Desde Novembro de 2006 foi feito doseamento de cloretos em 180 testes. Houve 8
testes positivos de 5 indivíduos, 2 dos quais crianças, irmãos, com mutações
identificadas. Nos testes com valor acima de 40mmol/L foi feita repetição e/ ou
estudo genético.
Os valores de condutância e cloretos são significativamente diferentes, com boa
correlação linear, tal como esperado. Classificando os valores em normal,
limite ou alterado, vemos que com condutância abaixo de 50mmol/L todos os
cloretos são normais. Sendo até 70mmol/L, temos 4 doseamentos entre 40 e
60mmol/L.
Conclusão: Os resultados mostram boa fiabilidade da técnica e apoiam o uso da
condutância como método de rastreio, a confirmar por doseamento de cloretos se
superior a 50mmol/L, coincidindo com as recomendações actuais.
O INIMIGO SILENCIOSO
Joana Amorim1, Rita Jorge1, Lúcia Gomes1, Paulo Guimarães1
1 Serviço de Pediatria, CHEDVouga
Introdução: Os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) em idade pediátrica têm
aumentado, devido à utilização de métodos de neuroimagem mais sensíveis e
específicos e à maior sobrevivência de doentes de risco, com incidência actual
de 3 a 8 por 100.000 crianças por ano.
As diferenças entre os adultos e crianças dificultam muitas vezes o
reconhecimento e tratamento desta situação. Em 25% das crianças com AVC de tipo
embólico, as cardiopatias congénitas são a causa.
Caso clínico: Criança do sexo masculino com 10 anos de idade, que recorreu ao
Serviço de Urgência (SU) após episódio de vertigem, com perda de força muscular
dos membros inferiores (MI), predominantemente à esquerda, que motivou queda
para o lado homolateral, associada a afasia e posteriormente a disartria. Sem
perda de consciência ou outros sintomas.
Dos antecedentes destacam-se insuficiência mitral e tricúspide e coartação da
aorta diagnosticadas aos 6 anos de idade, com correcção cirúrgica desta última
um ano depois.
Do exame físico à admissão no SU, de referir pontuação de 15 na Escala de Coma
de Glasgow, assimetria da face, com desvio da comissura labial para a direita,
ligeira ptose da pálpebra direita, dificuldade de encerramento do olho direito
e dificuldade na coordenação. Este quadro clínico reverteu totalmente cerca de
4 horas depois.
Foram efectuadas Tomografia Computorizada (TAC) Crânio-Encefálica (sem
alterações) e Angio-RMN cerebral onde foram detectadas lesões isquémicas agudas
fronto-opercular e lenticular posterior direitas, com múltiplas lesões
isquémicas antigas.
Procedeu-se à transferência da criança para um hospital central onde se
detectaram episódios de taquicardia não sintomáticos, tendo realizado
electrocardiograma (ritmo auricular ectópico com frequentes extrassístoles
juncionais) e ecocardiograma (auriculas muito dilatadas, insuficiência mitral e
aórtica mínimas, sem trombos intracardíacos).
Iniciou tratamento anticoagulante com varfarina, estando actualmente
assintomático e sem sequelas neurológicas.
Conclusão: Com este caso clínico pretendemos salientar que apesar da enorme
extensão das lesões isquémicas, a criança recuperou espontaneamente e num curto
período de tempo. Sendo assim, alertamos para a máxima importância da história
clínica e do exame físico que nos incitaram a investigar o caso, apesar das
alterações ao exame físico terem sido transitórias e da TAC Crânio-Encefálica
não revelar alterações.
HEMORRAGIA SUPRA-RENAL BILATERAL NO RECÉM-NASCIDO -UM ACHADO OCASIONAL...
Janine Coelho1, Ana Novo1, Cecília Martins1, Clara Vieira1, Soraia Tomé1,
Isilda Fernandes1, Susana Gama de Sousa1
1 S. Pediatria, CHMA, V. N. de Famalicão
Introdução: A hemorragia supra-renal (HSR) é a uma entidade relativamente comum
no recém-nascido. Ocorre mais frequentemente à direita sendo em 10% dos casos
bilateral. Associa-se a parto traumático, hipóxia, sépsis, coagulopatia ou
tumor. A apresentação clínica varia desde o estado assintomático, sendo o
diagnóstico um achado ocasional, a quadro clínico exuberante manifestado por
choque, anemia, distensão abdominal. Mais raramente manifesta-se por
insuficiência adrenal. Na HSR não complicada o tratamento é conservador, uma
vez que esta condição é geralmente auto-limitada.
Caso clínico: Recém-nascido do sexo masculino, internado na Unidade
Neonatologia aos 3 dias de vida por suspeita de sépsis e icterícia. Gestação
sem intercorrências, parto eutócico às 39 semanas, índice de apgar 9/10 e
somatometria adequada à idade gestacional. Ao exame objectivo, a destacar
discreta hipotonia global e icterícia da pele e mucosas. Analiticamente
apresentava hemograma, glicose, função renal e ionograma normais, sedimento
urinário com 28 leucócitos/campo, PCR de 7.88 mg/ dl e bilirrubina total de
22.74 mg/dl. Por suspeita inicial de infecção urinária realizou ecografia
abdominal e renovesical onde apresentava glândula supra-renal com imagem
cística complexa de 3.6 cm à direita e imagem cística simples de 3,9 cm à
esquerda. Realizada Ressonância Magnética com contraste que confirmou tratar-se
de HSR bilateral. A hemocultura, urocultura, exame bacteriológico LCR foram
estéreis. O doseamento da ACTH, renina e aldosterona estava elevado. O cortisol
sérico, a pesquisa de catecolaminas urinárias e o estudo da coagulação foram
normais. Cumpriu 10 dias de antibioticoterapia e 3 dias de fototerapia. O
recém-nascido manteve-se sempre assintomático com evolução clínica favorável. A
ecografia abdominal após um mês da alta hospitalar revelou diminuição do tamanho
das glândulas supra-renais que apresentam aspecto heterogéneo compatível com
alterações sequelares.
Conclusão: Os autores apresentam um caso de HSR bilateral que surge como achado
ecográfico em contexto de sépsis clínica. A insuficiência supra-renal, apesar de
rara, terá sempre de ser considerada nos casos de HSR bilateral, o que poderá
levar a um diagnóstico precoce e aumento da sobrevida. Os autores salientam a
necessidade de seguimento ecográfico, que permite o diagnóstico diferencial de
HSR com outras patologias, nomeadamente o neuroblastoma, possibilitando uma
atitude expectante.
PSIQUIÁTRICO, ADITIVO OU ORGÂNICO: UM DESAFIO NOS ADOLESCENTES
Maria Inês Monteiro1, Hans Peter Grebe2, Augusto C Ferreira2, Lúcia Gomes1,
Miguel Costa1
1 S. Pediatria, CHEDVouga, HSSebastião
2 S. Neurologia, CHEDVouga, HSSebastião
Introdução: Adolescentes com alterações do comportamento são um problema
crescente na Pediatria. Intoxicação, drogas e outros comportamentos aditivos
estão no topo de lista do diagnóstico diferencial nesta faixa etária. Poderá
isto bloquear um pensamento clínico completo? O diagnóstico diferencial é o
grande desafio, devendo manter-se o alerta para todas as hipóteses.
Caso clínico: Adolescente de 16 anos, saudável. Admitido no SU com quadro de
poucas horas de evolução de apatia, desorientação, parestesias no membro
inferior direito, trémulo dos membros superiores, noção de alteração da
personalidade, desajuste comportamental e défice de concentração. Sem história
de trauma, consumos de drogas/álcool ou intoxicação medicamentosa, referencia
apenas infecção respiratória ligeira e auto-limitada das vias aéreas
superiores, na semana anterior. No SU o exame neurológico demonstrava um doente
vigil, confuso, com aparente afasia sensitiva, que iniciou quadro alucinatório,
com desadequação comportamental, verborreia e agressividade, semelhante a
episódio psicótico, tendo sido necessária a administração de diazepam e
haloperidol. Exame motor e sensorial normal, sem sinais meníngeos, apirético,
TA e glicemia normal. Rx tórax, TAC-CE e RMN cerebral normais. O EEG na
admissão demonstrou disfunção do hemisfério esquerdo. Excluiu-se etiologia
tóxica ou psiquiátrica, e os tóxicos na urina foram ausentes. LCR com 198
células/ul, predomínio de mononucleares, proteinorraquia e glicorraquia
normais. Iniciou terapêutica empírica com aciclovir e ceftriaxone. O líquor
revelou-se amicrobiano, antigénios capsulares e virulogia negativos e PCR para
M.Pneumonia positiva. O doente melhorou e o estado confusional teve total
regressão. EEG de controlo com características normais.
Conclusão: O M. Pneumonia é um patogénio respiratório, com complicações extra-
pulmonares raras, sendo as centrais as mais frequentes. A patogénese destas
manifestações é desconhecida, o que dificulta a atitude terapêutica. O
prognóstico da doença é variável, uma vez que a encefalite é uma condição aguda
complexa potencialmente devastadora. Este caso realça a dificuldade de
avaliação/observação e de vigilância de adolescentes com desajustes
comportamentais semelhantes aos adultos na unidade de OBS/SU - Pediatria. Como
gerir estas unidades, no sentido de evitar o choque de gerações agora existente
na Pediatria, o contraste de patologias, e tão simplesmente a quebra da
tranquilidade nestes locais, é um novo desafio.
INTENSIDADES PEDIÁTRICAS ... A PROPÓSITO DO SINDROMA DE EDWARDS
Ana Filipe Almeida1, Joana Macedo1, Carla Meireles1, Cláudia Neto1, Maria José
Costeira2, Ana Luísa Lobo1
1 Serviço de Pediatria, CHAlto Ave
2 Unidade de Neonatologia, CHAlto Ave
Introdução: A trissomia 18 ou Síndroma de Edwards é a segunda trissomia mais
frequente entre os nados-vivos. Cursa com prognóstico muito reservado: 95% dos
casos são inviáveis e a sobrevida média é de 14,5 dias. Caracteriza-se por
atraso grave do crescimento e do desenvolvimento, malformações crânio-faciais,
esqueléticas, cardio-pulmonares, gastrointestinais e genitourinárias. Os
cuidados médicos são de suporte, tendo como objectivo último o bem-estar da
criança. É fundamental envolver os pais, através de informação esclarecida, nas
implicações e prognóstico da doença, neste aproximar do fim da vida.
Caso clínico: Recém-nascida de termo, fruto de gestação vigiada, com
diagnóstico pré-natal de artéria umbilical única e restrição de crescimento
intra-uterino (RCIU) às 30 semanas. Nascida por cesariana electiva, com
necessidade de oxigenação por Ambu®, por apresentar bradicardia e apneia. A
persistência do quadro clínico implicou a admissão na Unidade de Cuidados
Intensivos Neonatais com os diagnósticos de RCIU, baixo peso ao nascimento,
dismorfia facial (microftalmia, fendas oblíquas, epicanto; baixa implantação do
cabelo e das orelhas, microrrectrognatia e achatamento da base nasal),
hipotonia global, clinodactilia dos segundos dedos das mãos, polegares e hálux
em mola, pectus escavatum e fosseta sagrada. O estudo efectuado mostrou
cariótipo com 47XX, + 18. Ecocardiograma com comunicação interauricular e
interventricular, persistência do canal arterial e foramen oval, pelo que foi
instituída terapêutica diurética. Por apresentar convulsões iniciou
fenobarbital. Alimentada através de sonda nasogástrica por débil reflexo de
sucção, aguardando estabilização clínica para colocação de gastrostomia.
O quadro clínico agravou-se com insuficiência cardíaca (fracção de ejecção de
35% e hipertensão pulmonar) e descompensação da epilepsia (convulsões
frequentes e refractárias à terapêutica). Efectuada optimização terapêutica
previamente instituída, sem resposta favorável. Iniciadas então medidas de
suporte e conforto com oxigenoterapia, analgesia e aspiração secreções. Faleceu
4 horas depois, em quarto particular, junto dos pais.
Conclusão: Quadros clínicos limitadores da vida impõe-nos a reflexão sobre o
sentido da nossa intervenção terapêutica que, como aqui, pode vestir uma
intensidade paliativa, brindando a criança e a sua família com um distintivo
cuidar humano. Exercita-se a boa prática médica, denega-se a obstinação e
cumpre-se o respeito pela vida.
SÍNDROME DE ALAGILLE: UMA CAUSA DE COLESTASE NEONATAL E CARDIOPATIA CONGÉNITA
Helena M. Silva1, Teresa Caldeira2, Teresa Andrade2, Cristina Rocha2, Ramon
Vizcaíno3, Marília Loureiro1, Ermelinda Santos Silva1
1 CHPorto, HCMPia
2 CHEDVouga, HSSebastião
3 CHPorto, HSAntónio
Introdução: A Síndrome de Alagille (SA) é uma síndrome multissistémica
complexa, rara, de transmissão AD, com penetração fenotípica variável,
envolvendo o fácies (fronte proeminente, mento triangular), fígado (colestase,
hipoplasia biliar intrahepática), coração (estenose pulmonar, tetralogia de
Fallot), olhos (embriotoxon posterior) e esqueleto (vértebras em asa de
borboleta). Tem morbilidade importante, e uma taxa de mortalidade de ~10%.
Caso clínico: Recém-nascido de sexo feminino, gestação de termo, primeira filha
de pais jovens, saudáveis, não consanguíneos. Serologias maternas negativas.
Parto eutócico hospitalar, Apgar 5´ -10, somatometria AIG. Aleitamento materno
exclusivo com boa tolerância. Internada em D2 por icterícia colestática (BD
2,65 mg/dl, GGT 612 UI/L). Fácies peculiar. Saturação O2 (aa) = 98%. Sopro
sistólico grau III/VI audível em todo o précordio. Sem organomegalias
palpáveis. Exame oftalmológico normal. Funções de síntese hepática preservadas.
Marcadores de infecção bacteriana e culturas de sangue e urina negativos. Alfa-
1-antitripsina sérica normal. Ecocardiograma: estenose infundibular e da
válvula pulmonar. Colestase de agravamento progressivo (BD 9,55 mg/dl, GGT 1131
UI/L), com acolia fecal a partir de D10. Iniciou tratamento com ácido
ursodesoxicólico e foi transferida para o Hospital Maria Pia. Na admissão: BT
12,15 mg/dl, BD 11,70 mg/dl, TGO 261 UI/L, TGP 180 UI/L, GGT 1008 UI/L.
Ecografia abdominal: fígado de dimensões normais e ecoestrutura homogénea,
vesícula biliar de dimensões reduzidas; vias biliares não dilatadas.
Ecocardiograma: tetralogia de Fallot com prováveis colaterais sistémico -
pulmonares. Em D30,e dada a persistência de acolia fecal, foi efectuada
colangiografia per-operatória que excluiu o diagnóstico de atrésia das vias
biliares extrahepáticas (AVBEH), e confirmou a presença de vesícula biliar
atrófica e hipoplasia das vias biliares intrahepáticas. A histologia hepática
não mostrou critérios de ductopenia. O estudo molecular viria a revelar -se
positivo para a mutação no gene JAG1.
Conclusão: o caso descrito apresenta actualmente três critérios clínicos major
para SA: fácies peculiar, cardiopatia, e doença hepática. Apesar de a clínica
ser muito sugestiva do diagnóstico, a acolia fecal persistente nesta faixa
etária tornou obrigatória a exclusão da AVBEH (que pode ocorrer em
concomitância com a SA). Salientamos o facto de antes dos 4-6 meses de idade a
biópsia hepática nem sempre demonstrar a ductopenia característica. O estudo
molecular permite confirmar o diagnóstico, e em 89% dos casos é positivo para a
mutação JAG1.
DROOLING EM CRIANÇAS NEUROLOGICAMENTE COMPROMETIDAS
Angélica Osório1,João Moreira-Pinto1, Joana Pereira1, Catarina Sousa1, J. A.
Ferreira de Sousa1, J. A. Cidade-Rodrigues1, Luísa Oliveira1
1 S. Cirurgia Pediátrica, CHPorto, HMPia
Objectivo: Avaliar a eficácia da Submandibulectomia Bilateral (SB) quanto ao
grau de satisfação dos pais (GSP), complicações e recorrência do drooling em
crianças neurologicamente comprometidas (NC).
Métodos: Estudo retrospectivo incluindo todas as crianças NC e drooling
submetidas a SB no nosso Serviço (Janeiro 1996 - Novembro 2008). O GSP foi
avaliado em 4 classes: A: 100-75% de satisfação / ausência de drooling -
drooling infrequente, pequena quantidade; B: 75-50% de satisfação / drooling
infrequente, pequena quantidade - drooling ocasional, intermitente todo o dia;
C: 50-25% de satisfação / drooling ocasional, intermitente todo o dia -
drooling frequente, mas não profuso; D: 25 -0% de satisfação / drooling
frequente, mas não profuso - drooling constante, sempre molhado.
Resultados: Foi realizada SB em 85 doentes (38%masc; 62%fem). Exclusão de 35
casos por ausência de dados com 3 recorrências nos restantes. GSP foi A em 26
casos (55,3%); B em 15 casos (31,9%); C em 3 casos (6,4%) e D noutros 3 casos
(6,4%). A observação médica realizou-se maioritariamente uma semana após a
cirurgia. Registaram-se complicações pós-operatórias em 4 % dos casos, as quais
foram minor.
Conclusões: Os resultados obtidos foram essencialmente subjectivos uma vez que
não foi possível quantificar exactamente o drooling pré e pós operatoriamente.
No entanto, SB revelou ser um procedimento fácil e seguro como demonstra a
baixa taxa de complicações. É ainda eficaz: apenas 3 recorrências com 87,2% dos
casos com GSP A e B significando que, no mínimo, ocorreu uma melhoria de 50% do
drooling na grande maioria dos casos.
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA NEONATAL ' CASUÍSTICA DE UM SERVIÇO DE PEDIATRIA DE UM
HOSPITAL DE NÍVEL III, DE 2007 A 2009
Liliana Franco1, Duarte Malveiro1, Mónica Marçal1, Alexandra Costa1
1 S. Pediatria, HSFXavier, CHLOcidental
Introdução:A toxicodependência é uma doença crónica que atinge cada vez mais
mulheres em idade fértil. A Síndrome de Abstinência Neonatal (SAN) define-se
como o quadro clínico que os recém-nascidos (RN) manifestam ao nascer, após
terem sido expostos in utero a diversas substâncias consumidas pela mãe e se
terem tornado dependentes.
Em Portugal, os dados sobre SAN são insuficientes. Globalmente, estima-se que a
incidência de recém-nascidos expostos a drogas ilícitas seja de 3 a 50%, com
taxas mais elevadas nos grandes centros urbanos.
Objectivos: Conhecer a prevalência de SAN num Hospital Central de Lisboa, e
avaliar: regularidade da vigilância das gestações, idade do RN aquando do
início do quadro, terapêutica utilizada e duração do internamento no Serviço de
Pediatria.
Material e métodos: Revisão casuística dos casos de RN que desenvolveram SAN,
internados no Serviço de Pediatria do referido hospital de 1 de Janeiro de 2007
a 31 de Dezembro de 2009.
Resultados:No período estudado registaram-se 13 casos de SAN, num total de
8.879 RN no mesmo período (0,15%). Quarenta e seis por cento das gestações
foram regularmente vigiadas. Associou-se a infecção pelo vírus da Hepatite B ou
C em 8 grávidas (62%). Em nenhum caso houve infecção VIH associada.
Quando as mães consumiram heroína 3 dos RN (60%) apresentaram sintomas de
privação nas primeiras 48 horas, enquanto no caso de consumo de metadona 6 dos
RN (75%) iniciaram sintomas a partir das 72 horas de vida.
A metadona foi a principal substância utilizada no tratamento farmacológico da
SAN, em 7 dos RN (54%). Um dos RN não necessitou de qualquer terapêutica
farmacológica. A média de dias de terapêutica foi de 31 dias (mediana de 25
dias), com um número médio de 35 dias de internamento (mediana de 27 dias).
Conclusões: A vigilância da gravidez de mulheres toxicodependentes está ainda
muito aquém do que seria desejável, sendo frequente a associação com doenças
infecciosas, nomeadamente Hepatite B e C. Após o nascimento, é fundamental
manter o RN sob vigilância, pois a grande maioria desenvolve quadros de
abstinência nos primeiros dias de vida. Os períodos de internamento são
geralmente prolongados, com um impacto substancial na dinâmica dos Serviços.
HEPATITE COLESTÁTICA ' MANIFESTAÇÃO RARA DE UMA DOENÇA COMUM
Sofia Ferreira1, Rita Jorge1, Lúcia Gomes1, Miguel Costa1, Cristina Rocha1
1 S. Pediatria, CHEDVouga, HSSebastião
Introdução: A mononucleose infecciosa é comum em adolescentes, sendo o vírus
Epstein-Barr o agente etiológico mais frequente. O espectro clínico é vasto,
ocorrendo hepatite em até 92% dos casos. A colestase é rara, e o seu mecanismo
não está totalmente esclarecido.
Caso clínico: Adolescente de 16 anos, sexo feminino. Antecedentes pessoais e
familiares irrelevantes.
Quadro clínico com 2 semanas de evolução de febre, odinofagia, adenopatias,
posteriormente associado a astenia, rash cutâneo, icterícia, hipocolia e
colúria. Clinicamente apresentava razoável aspecto geral, icterícia, rash
cutâneo, exsudado amigdalino, adenopatias cervicais, hepatoesplenomegalia e
ascite.
O estudo analítico inicial mostrou: leucocitose com linfocitose (12% de
linfócitos atípicos), trombocitopenia, hiperbilirrubinemia com predomínio de
bilirrubina directa, elevação de AST, ALT, gama GT, fosfatase alcalina e
diminuição da albumina. PCR e VS negativas. Estudo da coagulação sem
alterações.
A Ecografia abdominal revelou hepatoesplenomegalia homogénea, ascite moderada e
múltiplas adenopatias retroperitoneais, sem alterações vesiculares.
Foi colocada como 1ª hipótese mononucleose infecciosa, tendo sido consideradas
como menos prováveis outras etiologias infecciosas, autoimune (idade e sexo),
défice de alfa-1-antitripsina (AAT) e D. Wilson.
Internada para vigilância, fluidoterapia EV e suplementação com vitaminas
lipossolúveis. Evolução clínica e analítica favorável com apirexia em D13 de
internamento; anictérica sem colestase desde D12. Alta em D14, mantendo ligeira
hepatoesplenomegalia e enzimas hepáticas em diminuição.
Os resultados analíticos confirmaram a 1ª hipótese evocada: Monoteste positivo.
Serologias EBV VCA IgM e IgG positivas, EBNA IgG negativa. CMV IgG e IgM
positivas (IgM negativo 12 dias depois). Serologias negativas para
Toxoplasmose, HAV, HBV e HCV. Estudo imunológico, ceruloplasmina e AAT normais.
Após 5 meses de seguimento mantém-se clínica e analiticamente bem.
Conclusão: O reconhecimento desta apresentação rara de uma doença comum e o
diagnóstico serológico precoce, podem evitar uma investigação mais invasiva e
dispendiosa.
BETA TALASSEMIA MINOR
Patrícia Nascimento1, Emília Costa1, Elisabete Machado1, José Barbot1
1 U. Hematologia, S. Pediatria, CHP, HMPia
Introdução: A beta talassemia é uma doença hereditária caracterizada por um
comprometimento quantitativo das cadeias beta da hemoglobina, resultando em
quadros clínicos de gravidade variável. Quando em heterozigotia - beta
talassemia minor (BTM) - a taxa de síntese das cadeias beta está apenas
levemente diminuída mas o suficiente para causar discreto grau de anemia e
sobretudo microcitose e hipocromia. Esta situação é susceptível de diagnóstico
incorrecto de anemia ferripriva, com consequentes tratamentos não adequados.
Objectivos: Avaliar a acuidade diagnóstica para a BTM.
Material e métodos: Estudo prospectivo dos casos de BTM referenciados à
consulta de hematologia pediátrica entre 1 Junho de 2003 a 30 de Junho de 2010.
Resultados: Foram incluídas 54 crianças, com idade média ao diagnóstico de 5,68
anos. Em 17 crianças (31,5%) havia história familiar de BTM. Nas restantes 37
(68,5%) tratou-se do primeiro diagnóstico na família. De referir que dentro
deste grupo em 24 casos (64,9%) existia referência a familiares com anemia cujo
diagnóstico era desconhecido. O número de crianças enviadas por médico de
família ou por pediatra assistente foi semelhante (17 e 21 respectivamente). O
intervalo médio entre o primeiro hemograma efectuado e a data do diagnóstico
foi de 2,17 anos, com um número médio de hemogramas efectuado neste período de
4,4. 27 (50%) foram submetidas a tratamento com ferro oral antes do diagnóstico
e 9 (16.7%) apresentavam um valor de ferritina superior a +2 desvios padrões
(DP) para a idade.
Conclusões: A evolução da acuidade diagnóstica para a BTM é de avaliação
difícil dado a ausência de estudos prévios. No entanto, um intervalo médio de
2,17 anos entre a primeira observação de alterações hematológicas e a
identificação de BTM parece-nos ainda reflectir algum défice de acuidade
diagnóstica. Apesar disso é nossa convicção que a BTM é, nos dias de hoje, uma
entidade cada vez mais evocada no diagnóstico diferencial de situações de
microcitose/hipocromia. O facto de 16,5% das crianças apresentarem doseamentos
de ferritina sérica superior a +2DP para a idade poderá ter algum significado.
Teoricamente será legítimo questionar se, a perpetuar-se a ausência de
diagnóstico, estas crianças poderiam correr o risco de sobrecarga iatrogénica
de ferro a longo prazo.
SABER OUVIR QUEM NÃO SABE COMUNICAR: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
Mariana Pinto1, Joana Monteiro1, Ana Luísa Pinto2, Arménia Oliveira1, Lúcia
Gomes1, Miguel Costa1, Virgínia Monteiro1, Cristina Rocha1
1S. Pediatria/Neonatologia, CHEDVouga, HSSebastião
2S. Psiquiatria, CHEDVouga, HSSebastião
Introdução: A maioria dos casos de anemia em idade pediátrica são secundários
ao défice de ferro. O regime alimentar, crescimento/desenvolvimento, doença
crónica ou perda hemorrágica são determinantes na sua etiologia. Nas crianças
portadoras de Perturbação do Espectro Autista (PEA), as alterações de
comportamento e os hábitos alimentares peculiares propiciam a sua ocorrência.
Por outro lado, as manifestações clínicas atípicas, decorrentes de alterações
no processamento sensorial e na resposta à dor podem interferir no diagnóstico.
Caso clínico: Adolescente, sexo masculino, 13 anos, trazido ao SU por cansaço,
anorexia e dor abdominal difusa com uma semana de evolução. Sem referência a
vómitos, alterações do trânsito intestinal ou perdas hemáticas visíveis. O
exame objectivo revelava palidez cutâneo-mucosa, desconforto à palpação
epigástrica/periumbilical, com restante exame normal.
Nos antecedentes salienta-se prematuridade (32 semanas), refluxo gastro-
esofágico, anemia ferropénica nos primeiros meses de vida e diagnóstico de PEA
com défice cognitivo. Nos antecedentes sociofamiliares, era filho de mãe
adolescente com compromisso cognitivo, o que motivou institucionalização da
criança aos 4 meses e adopção em idade escolar. Posteriormente surgiu
informação de que o cansaço/adinamia teriam uma evolução mais arrastada e que
haveria uma perda de peso não quantificada nem valorizada até então.
Os exames efectuados demonstraram uma anemia (Hb 6,9g/dL) normocítica
normocrómica, ferropenia e pesquisa de sangue oculto nas fezes positivo.
Realizou endoscopia digestiva alta que revelou gastrite hemorrágica e erosões
duodenais. A biópsia gástrica confirmou a presença de lesões de gastrite
crónica superficial, associadas a microorganismos de tipo Helicobacter pylori
(Hp).
O adolescente permaneceu sempre hemodinamicamente estável. Efectuou tratamento
com ferro, inibidor da bomba de protões e antibioterapia, com evolução
favorável.
Discussão: Apesar da história natural da infecção por Hp em idade pediátrica
não estar totalmente esclarecida, a evolução para gastrite crónica activa de
predomínio antral associada a anemia ferropénica é frequente.
No adolescente em questão, a patologia pedopsiquiátrica de base pode ter sido
um agente facilitador na evolução da doença, levando a um diagnóstico mais
tardio.
As patologias do foro gastroenterológico são frequentes nas crianças com PEA,
pelo que se torna necessário dar mais atenção às suas manifestações clínicas,
muitas vezes atípicas.
AVALIAÇÃO DO CONTROLO E DA QUALIDADE DE VIDA EM ADOLESCENTES ASMÁTICOS
Gisela Silva1, Mónica Tavares1, Leonor Cunha2, Eva R. Gomes2, Helena Falcão2
1 S. Pediatria Médica, CHPorto
2 S. Imunoalergologia Pediátrica, CHPorto
Introdução: A asma é uma doença crónica em que estão preconizados diversos
instrumentos que permitem a sua avaliação e que têm em consideração não apenas
a terapêutica, mas também a percepção do próprio paciente.
Objectivo: Avaliação do grau de controlo e qualidade de vida (QV) dos
adolescentes asmáticos numa amostra de doentes seguidos na consulta de um
Hospital de Cuidados Terciários.
População e métodos: Aplicação do questionário PAQLQ (S) (Questionário de
qualidade de vida na asma pediátrica com actividades padronizadas) e CARAT 10
(Teste de controlo da asma e rinite alérgica) em adolescentes com idade
superior a 11 anos de idade com o diagnóstico de asma, seguidos na Consulta de
Imunoalergologia Pediátrica, durante o período de 1 de Agosto a 15 de Outubro
de 2010. O tratamento estatístico foi feito com aplicação do suporte
informático SPSS 16.0, considerando-se um valor com significância estatística
Þ<0,05.
Resultados: Foram preenchidos 46 questionários (52,2% do sexo masculino). A
média de idades dos doentes foi de 14,61 (12 -19 anos). A maioria dos
participantes tem formas persistentes de asma (classificação GINA -78,3%
persistente ligeira e 10,9% persistente moderada) e necessitam de medicação
crónica diária. A média total de pontuações no PAQLQ(S) foi de 6,26 com desvio
padrão (DP) de 0,98, para um valor máximo de 7. A média de pontuação no domínio
dos sintomas, actividades e emoções do PAQLQ foi de 6,28; 5,8; 6,55 e DP de
1,06; 1,26 e 0,91, respectivamente. Por aplicação do CARAT 10 verificou-se que
64,7% (n=31) dos doentes se encontravam bem controlados (=16 pontos) e em 32,6%
da amostra (n=15) o controlo da doença não estava optimizado. No grupo dos
doentes bem controlados a média no PAQLQ(S) foi de 6,54 e nos mal controlados
de 5,05, com diferença estatisticamente significativa (Þ=0,01,Teste Welsh). No
grupo de doentes com formas persistentes moderadas 4/5 estão mal controlados
(Þ=0,02,Teste Qui-Quadrado) e a média do PAQLQ(S) foi de 4,75 (Þ=0,02,Teste
One-way Anova).
Conclusões: A maioria dos doentes têm asma controlada e não parece afectar a
sua qualidade de vida. Contudo, os que têm formas persistentes moderadas
apresentam pior controlo da doença e pior qualidade de vida. Globalmente, o
domínio da QV mais afectado é o das actividades. O uso destes questionários na
avaliação de adolescentes asmáticos é muito útil e tem como vantagem a sua
rápida aplicação e interpretação.
AVALIAÇÃO DA MATURIDADE INTELECTUAL DE CRIANÇAS NUM CENTRO DE SAÚDE URBANO
Alexandre Fernandes1, Filipa Flor de Lima1, Brígida Amaral1, Carla Rocha1,
Cristiana Couto1, Joana Rebelo1, Teresa Campos1, Vanessa Mendonça1, Fátima
Pinto1
1 USACunha, URAP Pediatria, CSPOcidental
Introdução: A capacidade de perceber, abstrair e generalizar predominam na
actividade intelectual e a capacidade de desenho da figura humana relaciona-se
com o desenvolvimento cognitivo nas crianças. À medida que as competências
cognitivas evoluem, a habilidade no desenho também progride com um
aperfeiçoamento nos detalhes. O Teste do Desenho da Figura Humana (TDFH) de
Goodenough é frequentemente utilizado na avaliação cognitiva e do
desenvolvimento infantil, tornando-se importante na avaliação não verbal da
maturidade mental.
Objectivos: Avaliação da maturidade intelectual de crianças em idade pré-
escolar.
Material e métodos: Estudo transversal realizado entre Maio e Agosto de 2010
através da aplicação do TDFH de Goodenough. Foram seleccionadas aleatoriamente
crianças nascidas entre 1 de Junho de 2005 e 30 de Junho de 2006, inscritas num
Centro de Saúde urbano. Foram analisados dados sócio-económico-demográficos
(escala do Censuses and Surveys), antecedentes pessoais e familiares,
desempenho no TDFH. As crianças que apresentaram resultados inferiores à média
ou com desenhos não classificáveis foram reavaliadas com a escala Schedule of
Growing Skills II (SGS). A análise estatística foi efectuada através do
programa SPSS® v.18 (teste qui-quadrado e teste exacto de Fisher), nível de
significância 0,05.
Resultados: Foram contactadas 112 crianças e 62 (55.4%) foram incluídas no
estudo. 35 (56,5%) eram do sexo masculino, média de idades 55 meses (±4,3). O
valor de QI mediano foi de 113 (79-168). Cinco crianças (8%) obtiveram
resultado abaixo da média, 22 (35.5%) médio e 33 (53.2%) superior à média. Duas
crianças (3,3%) realizaram um desenho não identificável. O QI foi menor em
crianças que apresentaram factores de risco ambiental (p=0,032). Foram
reavaliadas com SGS 7 crianças (11,3%): 3 apresentaram uma área de desempenho
com 2 desvio-padrão (DP) abaixo do esperado para a idade, 2 apresentaram pelo
menos uma área com 1 DP abaixo do esperado para idade e 2 tiveram resultados
normativos. As áreas com pior desempenho foram a manipulação em 5 crianças
(71.4%), cognição em 3 (42.9%) e interacção social em 2 (28.6%).
Conclusões: A maioria apresentou resultados médios no TDFH e 8% apresentaram
resultados inferiores. Os autores salientam que o TDFH de Goodenough é um
instrumento útil na avaliação da maturidade intelectual das crianças que, usado
em combinação com outros testes de rastreio, permite a avaliação do
desenvolvimento cognitivo das crianças.
A CONSULTA DE GINECOLOGIA PEDIÁTRICA E DA ADOLESCÊNCIA NA MATERNIDADE JÚLIO
DINIS
Inês Vaz1, Vânia Ferreira1, Sandra V. Soares1, Eugénia Fernandes1, Teresa
Oliveira1, José Cidade Rodrigues2
1 S. Ginecologia e Obstetrícia, CHP, MJDinis
2 S. Cirurgia Pediátrica, CHPorto, HMPia
Introdução: A consulta de Ginecologia Pediátrica e da Adolescência (GPA)
iniciou-se na Maternidade de Júlio Dinis (MJD) em Abril de 2007. Foi criada com
o objectivo de desenvolver uma área dedicada ao estudo da patologia
ginecológica geral das crianças e adolescentes, bem como acompanhar crianças
com malformações genitais, alterações do desenvolvimento sexual ou doenças
sistémicas com envolvimento ginecológico. Esta é uma área médica
multidisciplinar que integra conhecimentos de diversas especialidades como a
pediatria, endocrinologia, ginecologia, cirurgia pediátrica, pedopsiquiatria,
genética, entre outras. Apresenta a particularidade de ser realizada num espaço
adaptado à idade, com tempo de consulta apropriado e apoio de outras
especialidades. Conta actualmente com a colaboração de duas médicas
especialistas e uma interna complementar de Ginecologia e Obstetrícia.
Inicialmente a consulta tinha um carácter mensal (2 períodos de consulta/mês);
actualmente tem uma periodicidade semanal (cerca de 7 períodos de consulta/
mês).
Objectivos: Reflexão sobre a actividade e casuística da Consulta de GPA na MJD.
Material e métodos: Consulta dos processos clínicos das doentes observadas na
consulta de GPA
Resultados: Desde a sua implementação, foram realizadas 426 consultas de GPA na
MJD, das quais 197 primeiras consultas. Foram observadas doentes com idades
compreendidas entre os 3 e os 26 anos. Noventa e seis (49%) foram referenciadas
por outras consultas do Centro Hospitalar do Porto, nomeadamente da Pediatria,
Endocrinologia e Cirurgia Pediátrica, 75 encaminhadas pelos Centros de Saúde e
20 orientadas pelo Serviço de Urgência da MJD. Como motivos de consulta
destacam-se as hemorragias genitais, tumefacções anexiais, vulvovaginites,
amenorreias, hiperandrogenismo, algias pélvicas, distúrbios do desenvolvimento
sexual (intersexo) e malformações genitais congénitas.
Conclusões: A GPA é uma área da ginecologia em franco desenvolvimento. Apesar
da sua implementação na MJD ser recente e ainda pouco divulgada, os casos
clínicos observados justificam por si só a sua existência. No futuro, julgase
importante divulgar, organizar reuniões de grupo, envolvendo diferentes
especialidades do Centro Hospitalar do Porto, e desenvolver competências
formativas nesta área da Ginecologia.
SÍNDROME DE TURNER - A VISÃO DO GINECOLOGISTA
Vânia Ferreira1; Inês Vaz1; Eugénia Fernandes1; Teresa Oliveira1
1 S. Ginecologia/Obstetrícia, CHP, MJDinis
Introdução: O Síndrome de Turner é a anomalia cromossómica ligada ao sexo mais
frequente. A sua incidência é de cerca de 1:2500 - 1:3000 recém-nascidos do
sexo feminino. A disgenesia gonadal é a sua manifestação cardinal, consistindo
os ovários numa massa de tecido conjuntivo (streak gonads). A insuficiência
ovárica prematura traduz-se habitualmente sob a forma de amenorreia primária ou
secundária, associada a infertilidade.
A ausência do desenvolvimento pubertário é uma das características mais comuns
e em cerca de 90% dos casos é necessário instituir terapêutica hormonal de
substituição (THS). Segundo a literatura, os regimes de THS devem ser iniciados
entre os 12-13 anos, em doses progressivamente crescentes, preferencialmente
administrados por via transdérmica, e mantidos até à menopausa. O progestativo
deverá ser iniciado um a dois anos após a introdução dos estrogénios para
minimizar o risco de hiperplasia e de carcinoma do endométrio.
Caso clínico: Doente de 19 anos, referenciada à consulta de Ginecologia
Pediátrica e da Adolescência da MJD por menorragias e sintomatologia vaso-
motora. Medicada com estroprogestativo oral desde os 13 anos (Drospirenona
3mg+Etinilestradiol 0,02mg).
Diagnóstico de Síndrome de Turner (45,XO) aos 11 anos, no contexto de estudo de
baixa estatura. Manteve vigilância no HMP em consultas de especialidade por
múltiplas patologias associadas ao síndrome.
Objectivamente, apresentava um desenvolvimento pubertário e avaliação
estatoponderal adequados à idade.
Analiticamente, ao 3º dia do ciclo, apresentava elevação da FSH (14,3 UI/L) e
diminuição do estradiol (<5 UI/L). A densitometria óssea apresentava valores no
limite inferior da normalidade. Ecograficamente: útero de pequenas dimensões,
endométrio linear; ovário direito não visualizado; ovário esquerdo sem
folículos.
Suspendeu estroprogestativo em curso e iniciou estrogenoterapia transdérmica
contínua (100mcg de 17 ß -estradiol/ dia) e progesterona micronizada
(Progesterona 100mg) 10 dias por mês.
Na consulta de reavaliação referiu melhoria sintomática.
Conclusões: O diagnóstico de Sindrome implica uma vigilância multidisciplinar
da mulher nos seus vários estádios de desenvolvimento.
Ao ginecologista compete a correcta orientação clínica desde a infância à idade
adulta, incluindo indução progressiva da puberdade, abordagem sobre a função
sexual e reprodutiva, aconselhamento pré-concepcional e acompanhamento de
eventual gravidez.
HIPERHIDROSE AXILAR E PALMAR EM ADOLESCENTES
Angélica Osório1, João Moreira -Pinto1, Joana Pereira1, Catarina Sousa1, J.A
Cidade -Rodrigues1, Fátima Carvalho1
1 S. Cirurgia Pediátrica, CHPorto, HMPia
Objectivo: A hiperhidrose axilar e palmar (HAP) corresponde à sudorese
excessiva das axilas e palmas das mãos, em quantidades desmesuradamente maiores
que as necessárias para a normal termorregulação corporal. Afecta muitos
adolescentes e a sua etiologia ainda não foi totalmente esclarecida. A
simpaticectomia toracoscópica (ST) é uma opção terapêutica com resultados
excelentes mas tem sido associada a sudorese compensatória (SC). O objectivo do
nosso estudo é a avaliação da satisfação dos adolescentes e do grau de
hiperhidrose pré e pós-operatórios, da SC e da morbilidade cirúrgica.
Material e métodos: Estudo prospectivo, incluindo 4 doentes (3?,1?;idade média
17 anos), submetidos a ST bilateral T2 -T4. A HAP foi avaliada recorrendo à
Hyperhidrosis Disease Severity Scale(HDSS-International Hyperhidrosis
Society®).
Resultados: Pré-operatoriamente, todos os doentes tinham HDSS 4, todos tinham
de mudar o vestuário mais de 2 vezes/dia e todos consideraram que a HAP
interferia muito com a sua auto-estima. No 1ºdia pós-operatório, nenhum
apresentava HAP. Uma semana depois, 3 referiram SC no tórax/joelhos. Um doente
referiu SC gustatória. Na 1ª semana de pós-operatório, HDSS subiu para 2 num
doente e para 1 nos outros três.
Aos 6 meses e ao 1ºano de pós-operatório, a SC diminuiu em todos os doentes e a
HDSS manteve-se no mesmo valor que na 1ª semana de pós-operatório. Não se
registaram quaisquer complicações cirúrgicas.
Conclusões: A melhoria na HAP/satisfação dos doentes foi imediata, acentuada e
mantida ao longo do tempo. Apesar da pequena amostra de doentes, os nossos
resultados enfatizam o facto de que a HAP é uma condição dramática para os
adolescentes. Porém é facilmente tratada e associa-se a uma SC bastante
tolerável, devendo merecer mais atenção em idade pediátrica.
LUXAÇÃO CONGÉNITA DO JOELHO: UM CASO
Catarina Matos1, Sandra Pereira1, Sara Domingues1, Rui Martins2, Júlio
Marinheiro2, Renata de Luca1
1 Serviço de Pediatria, CHTâmega e Sousa
2 Serviço de Ortopedia, CHTâmega e Sousa
Introdução: A Luxação Congénita do Joelho (LCJ) é uma deformidade rara: 1 -1.7/
100 000 nascimentos. A sua incidência é de 1% da incidência da Luxação
Congénita da Anca (LCA). Surge mais frequentemente no sexo feminino (2 -3:1).
Descrita pela primeira vez por Chatelaine, em 1822, faz parte do grupo das
deformidades de hiperextensão do joelho caracterizando-se por luxação anterior
da tíbia em relação ao fémur. Em 60% dos casos associa-se a outras malformações
congénitas como LCA, pé equino varo e luxação congénita do cotovelo. A
etiologia pode ser explicada por causas intrínsecas (genéticas ou displásicas)
ou extrínsecas (mecânicas). O diagnóstico é clínico confirmado pelo exame
radiológico. O tratamento deve basear-se no grau de deformidade, na idade da
criança e na presença de outras deformidades. O tratamento é conservador e deve
ser iniciado o mais precocemente possível, logo após o nascimento, com manobras
de redução imediata ou progressiva da luxação. O tratamento cirúrgico deve ser
reservado para quando há falência do tratamento conservador ou nas deformidades
graves e irredutíveis. Deve ser efectuado antes do início da marcha.
Caso clínico: Recém-nascido, sexo feminino, parto às 38 semanas de gestação,
por cesariana, por apresentação pélvica, Apgar: 9/10, peso: 2400g, ecografias
pré-natais sem alterações, que apresentava ao nascimento joelho esquerdo em
hiperextensão com luxação anterior. Sem outras deformidades. Efectuou Rx do
joelho esquerdo que confirmou a LCJ. Realizou tratamento correctivo, logo após
o nascimento, com manipulação e imobilização do membro com tala gessada, em
flexão de 40º. Ao 2ºdia de vida constatou-se joelho estável, sem luxação
anterior da tíbia nem instabilidade em valgo, com melhor flexão 70º. Efectuou
gesso cruropodálico durante 1 mês com flexão completa após correcção. O
seguimento em consulta, inicialmente, de 2-2 semanas e depois 1x/mês até à
idade da marcha, não detectou alterações da marcha ou outras deformidades. Após
os 12 meses passou a ser observada anualmente.
Conclusão: Com este caso os autores pretendem alertar para a raridade desta
patologia e importância do seu diagnóstico e tratamento precoces. O tratamento
deve iniciar-se precocemente, sempre pelos métodos conservadores, reservando o
tratamento cirúrgico apenas para os casos graves e irredutíveis. A intervenção
precoce, idealmente logo após o nascimento, altura em que existe maior
elasticidade ligamentar, facilita o tratamento e melhora o prognóstico.
HÉRNIA DO CORDÃO UMBILICAL
Catarina Sousa1, Joana Pereira1, Angélica Osório1, João M. Pinto1, Banquart
Leitão1, Maria Luísa Oliveira1, Cidade Rodrigues1
1 Cirurgia Pediátrica, CHPorto, HMPia
Caso clínico: Apresenta-se o caso clínico de um prematuro de 36 semanas, do
sexo masculino, 1º gémeo de uma gravidez gemelar pós ICSI (bi-bi) sem
alterações morfológicas nas ecografias pré-natais. Realizada cesariana electiva
por discrepância ponderal, restrição de crescimento e apresentação pélvica.
Ao nascimento verificada malformação da parede abdominal, tratando-se de uma
hérnia do cordão umbilical com cerca de 2,5cm de diâmetro. Ao 1º dia de vida,
sob anestesia geral, foi realizada exérese da membrana contendo apenas ansas de
intestino delgado. Durante a exploração da cavidade abdominal observou-se a
presença de um divertículo de Meckel conjuntamente com uma estenose duodenal
condicionando distensão a montante, motivo pelo qual foi realizada enterectomia
segmentar com anastomose manual. Em seguida, procedeu-se ao encerramento
directo da aponevrose com plastia da região umbilical. Posteriormente foi
realizado um estudo detalhado de possíveis malformações associadas, não tendo
sido detectadas outras patologias de relevo.
A hérnia do cordão umbilical é uma entidade rara, associada a uma falha na
embriogénese às 10-12 semanas, não ocorrendo migração completa do intestino
para o interior da cavidade peritoneal. Este fica apenas coberto por uma
membrana. Habitualmente não se encontra associado a outras anomalias, tendo um
bom prognóstico. O onfalocelo é o seu principal diagnóstico diferencial.
Conclusão: A particularidade deste caso clínico é de ser uma entidade pouco
frequente dentro das malformações da parede abdominal e de habitualmente não
estar associada a outras malformações digestivas; por isso, é de realçar a
presença de um divertículo de Meckel e de uma estenose duodenal associadas a
esta hérnia do cordão umbilical.
RECORRÊNCIA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO APÓS FUNDOPLICATURA: EM QUE CRIANÇAS E
PORQUÊ?
João Moreira-Pinto1,3, Angélica Osório1, José Ferreira de Sousa1, Carlos Enes1,
Fernando Pereira2, José Cidade-Rodrigues1
1 Serviço de Cirurgia Pediátrica, CHPorto
2 S. Gastroenterologia Pediátrica, CHPorto
3 Domínio Ciências Cirúrgicas, IICSV, UMinho
Objectivo: A fundoplicatura de Nissen é o tratamento padrão da hérnia do hiato
e da doença do refluxo gastro-esofágico resistente à terapêutica médica. A sua
recorrência (rRGE) é um problema comum. O objectivo deste estudo foi perceber
em que doentes a rRGE é mais provável e porquê.
Material e métodos: Análise retrospectiva dos processos dos doentes submetidos
a fundoplicatura de Nissen entre Fevereiro 2000 e Março 2009, na nossa
Instituição. Foram critérios de inclusão no grupo rRGE: re-operação por
recorrência do RGE, RGE confirmado por endoscopia alta ou outro exame auxiliar
de diagnóstico, reinstituição de terapêutica anti-refluxo por mais de 8 semanas
após a cirurgia. Foram comparados os parâmetros: sexo, idade e percentil de
peso à data da cirurgia, presença de hérnia do hiato, outras comorbilidades,
presença de compromisso neurológico grave, história de convulsões, de medicação
pulmonar crónica, de necessidade de O2 e/ou antibióticos cronicamente no
período pré-operatório, técnica usada (aberta ou laparoscópica), colocação de
gatrostomia simultaneamente. Os resultados foram avaliados usando o teste
exacto de Fischer.
Resultados: 65 doentes foram submetidos a fundoplicatura de Nissen. Foram
incluídos no grupo rRGE 10 doentes (15,4%). 40% Dos rRGE eram no sexo masculino
(vs 55,6% no grupo controlo, p=0,287). À data da cirurgia, 40% dos rRGE tinham
idade inferior a 6 anos (vs 31,5%, p=0,425). 40% Dos rRGE encontravam-se abaixo
do percentil 3 (vs 66,7%, p=0,108). 50% Os doentes no grupo rRGE tinham sido
submetidos a cirurgia por hérnia do hiato (vs 44,4%, p=0,505). Quanto a
comorbilidades, 10% tinha história de atrésia do esófago (vs 5,6%, p=0,502),
nenhum tinha doença muscular ou doença cardíaca, 60% tinham compromisso
neurológico grave (vs 77,8%, p=0,209), 40% tinha história de convulsões (vs
53,7%, 0,325), 40% fazia medicação pulmonar crónica (vs 33,3%, p=0,471), apenas
1 necessitava de O2 suplementar (vs 9,3%, 0,656) e estava medicado cronicamente
com antibióticos no pré-opertório (vs 13%, p=0,635). Do grupo das rRGE, 50% das
fundoplicaturas tinham sido feitas por laparoscopia (vs 70,4%, p=0,184) e em
50% foi colocada gastrostomia prévia ou simultaneamente (vs 13%, p=0,015).
Conclusões: A rRGE foi maior nos doentes a quem foi colocada gastrostomia
prévia ou simultaneamente. Este pode ser um sinal indirecto de um compromisso
neurológico mais grave, embora não fosse encontrado significado estatístico
para os restantes parâmetros comparados.
APENDICECTOMIA LAPAROSCÓPICA ' DESCRIÇÃO DO PRIMEIRO ANO DE EXPERIÊNCIA NUM
SERVIÇO DE URGÊNCIA PEDIÁTRICO.
Joana Pereira1, João Ribeiro Castro1, João Moreira Pinto1, Angélica Osório1
1CHPorto, HMPia
Introdução: A apendicectomia laparoscópica é cada vez mais aceite como o
tratamento de escolha da apendicite aguda na criança. O objectivo deste
trabalho foi fazer a descrição do primeiro ano de experiência num serviço de
urgência pediátrico.
Métodos: Todos os doentes submetidos a apendicectomia laparoscópica foram
revistos retrospectivamente relativamente a sexo, idade, descrição intra-
operatória e anatomopatológica do apêndice, duração da cirurgia, antibioterapia
instituída, número de dias até dieta geral, número de dias de internamento e
complicações intra e pós-operatórias.
Resultados: No período estudado foram propostos 36 doentes para apendicectomia
laparoscópica, por dificuldades técnicas houve necessidade de 2 conversões. Dos
34 doentes restantes 59% eram do sexo masculino, a idade média foi de 12 anos.
68% das apendicites foram descritas como supuradas e a duração média da
cirurgia foi de 51 minutos. Excluindo os casos em que ocorreram complicações o
internamento foi em média de 4 dias. Houve necessidade de reintervenção em um
caso e em três doentes com apendicite aguda complicada ocorreram abcessos
intra-abdominais, que resolveram com medidas conservadoras.
Conclusões: A apendicectomia laparoscópica é um procedimento seguro e eficaz no
tratamento da apendicite aguda na criança. Relativamente às complicações
observadas é de esperar que com a progressão na curva de aprendizagem estas
diminuam progressivamente permitindo usufruir de todas as vantagens inerentes
às técnicas laparoscópicas.
ICTERÍCIA E PREMATURIDADE TARDIA
Joana Ramos Pereira1, Cristina Godinho1
1CHP - UMJDinis
Introdução: A prematuridade tardia (PTT) é definida como o nascimento entre as
34+0 e as 36+6 semanas de gestação. Estes recém-nascidos (RN) apresentam muitas
vezes somatometria semelhante aos RN de termo, sendo por isso muitas vezes
tratados pelos pais, cuidadores e profissionais de saúde como RN de termo,
apesar de serem fisiologicamente mais imaturos e apresentarem maior morbilidade
e mortalidade. Uma das comorbilidades mais frequentes é a hiperbilirrubinemia,
sendo mais grave e mais prolongada neste grupo específico.
Objectivo: Avaliar as características dos PTT que apresentaram
hiperbilirrubinemia com necessidade de fototerapia, tipo de alimentação,
duração do primeiro internamento e reinternamento.
Material e métodos: Estudo retrospectivo através da análise dos processos
clínicos dos PTT nascidos no ano de 2009 na Maternidade Júlio Dinis - CHP.
Resultados: Foram avaliados 190 PTT dos 196 nascidos em 2009; 82% (156)
apresentaram hiperbilirrubinemia, 67% com necessidade de fototerapia. 52% eram
do sexo masculino; 47% nasceram por cesariana. A idade média materna foi de
29±6 anos e 59% eram primíparas. A maioria (94%) dos RN apresentou peso
adequado à idade gestacional ao nascimento. Dos PTT, grandes para idade
gestacional (3,8%), 83% apresentaram critérios para fototerapia. De acordo com
a idade gestacional verificamos que realizaram fototerapia 87,5% dos PTT com 34
semanas, 72% dos de 35 semanas e 57% dos de 36 semanas. Foram identificados 2
casos de doença hemolítica por incompatibilidade ABO.
Nos primeiros dias de vida 60% apresentaram dificuldades alimentares e 40%, à
data de alta, tinha perdido 7% ou mais do peso ao nascimento. A duração média
do primeiro internamento foi de oito dias, mas 9% tiveram alta, antes das 72
horas de vida. O tratamento com fototerapia realizou-se predominantemente ao
terceiro (46%) e quarto (53%) dia de vida. Trinta e seis (28,1%) RN foram
reinternados por icterícia com necessidade de fototerapia, três deles pela
segunda vez e um pela terceira vez. Na primeira consulta, em média efectuada
aos 21,5 dias devida, 51% estavam com aleitamento materno exclusivo.
Conclusões: A prematuridade tardia é um dos factores de risco para o
desenvolvimento de hiperbilirrubinemia grave e kernicterus. Pelas
particularidades destes RN, imaturidade do seu sistema enzimático de conjugação
e dificuldades alimentares, são mais susceptíveis a desenvolverem
hiperbilirrubinemias com valores elevados. A icterícia é mais frequente nos
primeiros dias de vida embora tenha um pico mais tardio do que nos RN de termo,
pelo que está recomendado um internamento de pelo menos 48h a 72h de vida e uma
determinação de bilirrubina à data de alta; É com base neste valor que se faz a
previsão da reavalição às 24 ou 48h depois. O apoio ao aleitamento materno
durante o internamento e na primeira semana de vida, com vigilância das
competências da mãe e do RN (pega e evolução ponderal) são fundamentais para o
sucesso do aleitamento materno. Além de evitar o aparecimento de desidratações
hipernatrémicas e prevenir o aparecimento de hiperbilirrubinemias graves por
défice de aporte.