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EuPTCVHe0872-07542012000300002

EuPTCVHe0872-07542012000300002

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0872-0754
Year2012
Issue0003
Article number00002

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Hiperhidrose, simpaticectomia toracoscópica e satisfação dos adolescentes

INTRODUÇÃO Hiperhidrose Focal Primária (HFP) define-se como a su­dorese excessiva, em quantidades desmesuradamente maiores que as necessárias para a normal termoregulação corporal. Atin­ge principalmente as palmas das mãos, axilas, plantas dos pés e região crânio-facial.

Ao contrário do que acontece na Hiperhidrose Secundária que se deve a uma causa bem definida, seja ela infecciosa, en­dócrina ou neurológica, a etiologia da HFP ainda não se encontra totalmente esclarecida.

Em termos epidemiológicos é uma patologia mais frequen­temente descrita nos adultos, notando-se o predomínio das mu­lheres no grupo submetido a correcção cirúrgica. Ao contrário do que poderia pensar-se, tal não se deve a uma maior incidência no sexo feminino mas sim a um maior grau de insatisfação com essa condição nas mulheres e como tal maior predisposição a tratamento definitivo. A HFP é subvalorizada nas crianças e ado­lescentes e na maior parte dos casos não é reconhecida como patologia passível de correcção definitiva. Na realidade, estudos publicados em 2004 (1) reportam uma incidência de 1,6% de HFP em indivíduos com idade inferior a 18 anos. Em mais de 70% dos casos, a HFP tem início em idade escolar e em 16-20% na adolescência (2), sendo muito pouco frequente a apresentação inicial desta patologia em idade adulta. A história familiar é po­sitiva em 65% dos casos (1), sugerindo a possibilidade de uma base genética.

Trata-se de uma patologia associada a perturbações emo­cionais e sociais fortes na medida em que tem grande impacto na vida diária do doente. Tarefas simples do dia-a-dia ficam com­prometidas com a presença do excesso de sudorese: o pegar na caneta para escrever, o abrir portas, o aperto de mão para cumprimentar e a prática de alguns desportos. Pode implicar a mudança de vestuário mais que uma vez por dia, a incapacidade de usar certo tipo de calçado e a impossibilidade de estar em locais públicos, como alguns exemplos.

Se o adolescente por si se encontra numa fase da vida especialmente vulnerável, o adolescente com HFP sente-se ain­da mais incapacitado na sua esfera bio-psico-social. A HFP gera ansiedade, fobia social e até mesmo depressão no indivíduo afectado.

Também o risco aumentado de infecções cutâneas não deve ser desvalorizado. A presença de maior humidade da pele facilita o aparecimento de dermatofitoses e verrugas.

Várias opções terapêuticas têm sido descritas para tratar esta condição patológica (1). Em crianças e adolescentes, inclui­-se como modalidade de tratamento a aplicação de agentes tó­picos, antitranspirantes com o cloreto de alumínio. Estes quando usados em concentrações mais elevadas podem provocar der­matites irritativas que são de tal forma exuberantes que tornam o seu uso intolerável. Quando em concentrações mais baixas não apresentam normalmente a eficácia terapêutica desejável. A toxina botulínica tipo A em injecções intradérmicas promove a diminuição de produção local de suor. Porém, a sua eficácia é apenas transitória, desaparecendo ao final de seis a doze me­ses. Por outro lado, desenvolve-se resposta imunológica com produção de anticorpos contra a toxina, implicando a sua ine­ficácia a médio prazo. Está ainda associada a efeitos secundá­rios como fraqueza muscular generalizada e eventual dificuldade respiratória. A iontoforese está descrita como sendo aplicável na HFP palmar e plantar. No entanto, ainda não estão publicados estudos da sua utilização para este efeito em crianças e adoles­centes. A medicação sistémica com anti-colinérgicos, bloqueado­res dos canais de cálcio, clonidina e benzodiazepinas promove efectivamente a diminuição da sudorese. Para isso terão de ser administradas doses elevadas e como tal associam-se a efeitos secundários indesejados.

A simpaticectomia tem-se revelado como uma boa opção terapêutica. A sua realização por toracoscopia alia todas as vantagens inerentes a uma cirurgia minimamente invasiva a re­sultados claramente satisfatórios. Na população mais jovem, as premissas associadas à cirurgia minimamente invasiva torácica tornam- se ainda mais relevantes: melhor efeito estético, maior facilidade da técnica cirúrgica, menor probabilidade de complica­ções e menor tempo de internamento.

No entanto, a realização da simpaticectomia, quer por tora­cotomia quer por toracoscopia, associa-se ao aparecimento de sudorese compensatória (SC) noutras regiões corporais (3,4,5).

OBJECTIVO Avaliação da interferência da Hiperhidrose Axilar e Palmar (HAP) no dia-a-dia dos adolescentes, antes e após a cirurgia, avaliação da presença de sudorese compensatória e avaliação da morbilidade cirúrgica associada.

MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de um estudo prospectivo que inclui quatro doen­tes (três do sexo feminino; um do sexo masculino; idade média 17 anos) submetidos a simpaticectomia toracoscópica no nosso Serviço entre 2008 e 2010.

O procedimento cirúrgico foi realizado no Bloco Operatório sob anestesia geral com entubação selectiva com o doente po­sicionado em decúbito dorsal com tórax elevado a 60º e mem­bros superiores abduzidos a 90º. Foram colocados dois trocars de 5 mm no quarto espaço intercostal (um na linha médio-axilar e outro na linha axilar anterior). A simpaticectomia foi realizada por secção total de T2 a T4 por electrocoagulação (Figura 1). O pneumotórax é drenado no final da cirurgia, não havendo neces­sidade de se colocar dreno torácico no pós- operatório. O mesmo procedimento foi repetido bilateralmente. Excepto num caso, a alta foi dada nas primeiras 24h subsequentes à cirurgia.

Figura 1 ' Interrupção do impulso nervoso em T2 e T3 da cadeia simpá­tica torácica, por electrocoagulação toracoscópica

A informação foi colhida por entrevista pessoal e telefónica. Antes da cirurgia, os doentes foram questionados se tinham de mudar de roupa mais de duas vezes por dia por causa da HAP e se consideravam que esta interferia muito com a sua auto-estima. Também previamente à cirurgia, foi aplicada a Hyperhydrosis Disease Severity Scale(HDSS) (International Hyperhydrosis So­ciety®) (Figura 2).

Figura 2 ' HDSS (Hyperhydrosis Disease Severity Scale ' International Hyperhydrosis Society®)

Após a cirurgia, a HDSS foi novamente aplicada na primeira semana, seis meses e um ano de pós-operatório.

RESULTADOS Pré-operatoriamente, todos os doentes tinham de mudar de roupa mais de duas vezes por dia por causa da hiperhidrose e todos os doentes consideravam que esta interferia muito com a sua auto-estima. Também classificaram a sua HAP no grau máximo da HDSS (A minha sudorese é intolerável e interfere sempre com as minhas actividades diárias), correspondendo a hiperhidrose grave.

Uma semana após a cirurgia, no que diz respeito ao grau de hiperhidrose, este traduziu-se num HDSS 2 em um doente e HDSS 1 nos restantes três. Aos seis meses e um ano de pós­-operatório a classificação HDSS foi idêntica (Figura 3). De notar que imediatamente no primeiro dia de pós-operatório, os doen­tes constataram o desaparecimento da HAP.

Figura 3 ' Evolução da HDSS antes e após a simpaticectomia toracos­cópica (ST)

Quanto à SC, esta manifestou-se desde a primeira semana de pós-operatório. Em dois doentes foi apontada ao tórax, num doente aos joelhos e noutro era do tipo gustatório. Apesar de sempre presente (Figura 4), os doentes referiram que esta foi diminuindo em quantidade ao longo de todo o tempo de seguimento.

Figura 4 ' Evolução da sudorese compensatória (SC) durante o primeiro ano de pós-operatório

Não houve registos de morbilidade cirúrgica associada.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Pré-operatoriamente, todos os doentes no nosso estudo não se incluíam no grau máximo de hiperhidrose da HDSS (A minha sudorese é intolerável e interfere sempre com as mi­nhas actividades diárias) como afirmavam que tinham de mudar de roupa mais de duas vezes por dia por causa da HAP e que esta interferia muito com a sua auto-estima, traduzindo um grau elevado de insatisfação com a sua condição. De facto, e em con­cordância com o descrito na literatura, esta era uma situação dramática na vida dos adolescentes (6).

Após a cirurgia, verificou-se não a presença constante da SC como também a sua precoce manifestação durante o perí­odo de seguimento destes doentes. Não obstante esse facto, em todos houve uma melhoria acentuada no grau de hiperhidrose como revelou a classificação HDSS do pós-operatório. Em três doentes o HDSS 4 do pré-operatório alterou-se para HDSS 1 (A minha sudorese é imperceptível e nunca interfere com as mi­nhas actividades diárias) logo na primeira semana pós-cirurgia. Num doente, no pós-operatório essa classificação foi HDSS 2 (A minha sudorese é tolerável mas às vezes interfere com as minhas actividades diárias). Assim, em todos os doentes houve pelo menos uma melhoria em dois graus na HDSS o que corres­ponde a uma melhoria de pelo menos de 80% na HAP inicial. Esta melhoria não foi imediata, como se constatou na primeira semana após a ST, mas também foi mantida ao longo do primei­ro ano de seguimento.Assim e apesar da presença da SC, os adolescentes mostraram-se muito satisfeitos com a cirurgia e os seus resultados.

No entanto, o elevado grau de satisfação apresentado no pós-operatório pode ter sido condicionado pela influência negati­va de uma grande insatisfação com a condição antes da cirurgia. Independentemente dessa influência, o facto é que objectiva­mente houve melhoria da HAP. E essa mesma melhoria na HAP e da satisfação dos doentes foi imediata, acentuada e mantida ao longo do tempo.

Apesar da pequena amostra de doentes, os nossos resul­tados enfatizam o facto de que a HAP é uma condição dramática para os adolescentes. Porém é facilmente tratada com a ST e associa-se a uma SC bastante tolerável, devendo merecer mais atenção em idade pediátrica.


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