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EuPTCVHe0872-81782007000200011

EuPTCVHe0872-81782007000200011

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0872-8178
Year2007
Issue0002
Article number00011

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ABCESSO DO PSOAS: COMPLICAÇÃO CLÁSSICA MAS RARA DA DOENÇA DE CROHN

CASO CLÍNICO Doente do sexo masculino, 19 anos, raça caucasiana, estudante, com diagnóstico de Doença de Crohn ileocólica desde 2002, com comportamento penetrante (abcesso e fístula anal em 2001), em remissão clínica desde o diagnóstico, medicado com mesalazina, não submetido, até à data, a corticoterapia.

Em Março de 2004, inicia dor na coxa direita, após vários jogos de futebol, com agravamento progressivo, surgindo claudicação em Abril. Recorre, a 6 de Abril, ao Serviço de Urgência (SU) do Hospital Geral de Santo António (HGSA), onde é observado por Ortopedia. Realiza ecografia das partes moles da coxa direita e RX da articulação coxo-femural direita e sacroilíacas, consideradas normais. Sem febre nem dor abdominal ou lombar, alteração do hábito intestinal, ou sintomas gerais. Teve alta, medicado com paracetamol e AINE (SOS). Desaparecimento da dor, mantendo-se a claudicação. No fim de Abril recorre a consulta de Fisiatria e inicia sessões diárias de fisioterapia juntamente com o paracetamol e AINE (SOS). Por suspeita de necrose avascular da cabeça femural direita, realiza RMN das ancas, que foi normal. Agravamento clínico desde Junho, com reaparecimento da dor na coxa e início de dor inguinal direita, anorexia, astenia, mantendo-se a ausência de febre e hipersudorese nocturna e a regularidade do trânsito intestinal. Foi observado em consulta de Gastrenterologia do HGSA em 22 de Junho, salientando-se ao exame objectivo: palidez mucocutânea, emagrecimento (peso: 50 kg, altura: 173 cm; IMC: 23,2; peso habitual de 60 Kg), apirexia, massa dolorosa à palpação da fossa ilíaca direita e dor à palpação do músculo quadricípede direito com impossibilidade de extensão total da coxa direita. Realizou RMN abdominal em 23 de Junho que mostrou uma colecção abcedada com envolvimento difuso da totalidade do músculo psoas-ilíaco direito (Figura 1). Foi internado no Serviço de Cirurgia 1 do HGSA, e realizada drenagem percutânea guiada por ecografia, com colocação de dois cateteres pig-tail, 7 fr, ao nível do músculo ilíaco direito e na colecção da região inguinal homolateral, com saída de abundante conteúdo purulento (enviado para microbiologia).

Iniciou antibioterapia IV (de acordo com antibiograma do pus) e nutrição entérica exclusiva, com fórmula polimérica. Após a drenagem a dor desaparece e ao fim de dois dias a extensão do membro inferior direito é quase completa. A TAC realizada em 08 de Julho mostra franca redução do abcesso e presença de fístula cego-psoas (confirmada por fistulografia) (Figuras 2 e 3). Operado em 27 de Julho: "...Secção da fístula entre o cego e o músculo psoas, resseção ileo-cecal com cerca de 15 cm de íleon e anastomose ileo-cólica ao ascendente; curetagem ampla das locas musculares". Teve alta ao dia de pós-operatório, assintomático, iniciando azatioprina 2,5 mg/kg/dia, que mantêm no momento actual.

DISCUSSÃO Este caso mostra uma complicação rara da Doença de Crohn, na forma de abcesso retroperitoneal, com envolvimento do músculo psoas-ilíaco direito. O diagnóstico é com frequência tardio (1) por confusão com patologia osteoarticular ou muscular, Neste paciente a relação temporal entre a dor e o exercício físico (jogo de futebol) contribuiu para o seu atraso.

Os abcessos do músculo psoas (MP) são pouco frequentes, podem ser primários ou secundários (2), predominando estes e sendo a Doença de Crohn (DC) uma das suas principais causa (3). Os abcessos do MP secundários à DC são raros (0,4-4,3%) (4,5), surgem habitualmente durante a evolução da doença, podendo ocasionalmente ser a sua forma de apresentação (1). Os sinais/sintomas clássicos são a dor lombar, febre e dor inguinal e /ou na coxa, e estão presentes em menos de 50% dos pacientes (6). O exame de escolha na suspeita deste diagnóstico é a TAC que apresenta uma elevada sensibilidade (6), tendo a RMN um valor diagnóstico semelhante (7), contudo mais dispendiosa e menos acessível. Neste paciente a realização da RMN resultou de agendamento prévio do exame (pedido no inicio de Junho pela Fisiatra). A resseção intestinal do segmento afectado e da fístula constitui o tratamento de escolha, no entanto a melhoria prévia das condições sépticas locais com antibioterapia IV, drenagem percutânea eco ou TAC guiada, nutrição parentérica/entérica é essencial para o sucesso da cirurgia (8).


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