Terapêutica Biológica
JOSÉ COTTER
Serviço de Gastrenterologia, Hospital Senhora da Oliveira, Guimarães, Portugal.
Terapêutica Biológica
Lichtenstein GR, Yan S, Bala M, Blank M; Sands B E
Infliximab maintenance treatment reduces hospitalizations, surgeries, and
procedures in fistulizing Crohn's disease.
Gastroenterology 2005; 128: 862-869
As fístulas são uma complicação frequente da Doença de Crohn, podendo cerca de
metade dos doentes apresentálas ao longo do curso da sua doença, com
consequente repercussão sobre a qualidade de vida. Resultam da inflamação
penetrante do intestino para órgãos adjacentes, tecidos ou pele, obrigando a
tratamento cirúrgico em cerca de 80% dos casos e a ressecção intestinal em 20%.
A Doença de Crohn está associada a custos significativos de cuidados de saúde
sendo mais de metade destes relacionados com as hospitalizações.
A terapêutica imunomoduladora com infliximab demonstrou que a manutenção com
infusões de 8/8 semanas é superior à terapêutica de indução (0,2,6 semanas), no
que respeita à permanência do encerramento das fístulas.
O presente trabalho foi o primeiro com uma grande casuística (282 doentes)
elaborado de forma controlada, randomizada e duplamente cega, com o objectivo
de demonstrar que a terapêutica de manutenção com infliximab reduz a
necessidade de hospitalizações, cirurgias e procedimentos diagnósticos e
terapêuticos durante um período de 54 semanas, quando comparada com um grupo
placebo. Verificou-se efectivamente que naquele período de tempo, no grupo
tratado com infliximab houve uma redução das hospitalizações >50%, o numero
médio de dias de hospitalização foi reduzido em 67% e houve uma redução de
cerca de 50% em todas as cirurgias e procedimentos diagnósticos e terapêuticos.
Também um número menor de ressecções intestinais foi verificado no grupo
submetido a terapêutica com infliximab. De referir que em ambos os grupos os
doentes mantiveram terapêuticas concomitantes, nomeadamente com
imunomoduladores e aminossalicilados, o que poderá de certa forma eventualmente
provocar alguma distorção sobre os resultados finais. Mesmo assim os
encorajadores resultados ao fim de 54 semanas influenciam positivamente a
morbilidade e a qualidade de vida.
Futuros estudos de custo-eficácia, ainda não elaborados, preferencialmente ao
longo de um período maior de tempo, poderão também constituir argumento
decisório na estratégia terapêutica a estabelecer. Convém referir que algumas
limitações deste tipo de tratamento com infliximab, nomeadamente no que
respeita ao aparecimento de efeitos adversos (neste estudo com incidência
semelhante ao grupo placebo) poderão eventualmente vir a ser ultrapassadas com
a administração de outros imunomoduladores (adalimumab, certolizumab) que se
assumem para já, ainda que com experiência cientifica limitada, como válidas
alternativas.
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